ABA PAI

SamuelPinheiroABA PAI  

“E, porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.” (Gálatas 4:6)

 

                O Deus cristão, o Deus da Bíblia é Pai, Filho e Espírito Santo. Três pessoas distintas e um só Deus. A triunidade contém um valor relacional marcante na própria essência da divindade e que Jesus Cristo manifesta de forma indelével. Pai e Espírito Santo estão presentes de um modo permanente e absolutos na Sua existência terrena. Apenas no momento dramático da cruz Jesus exclama: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46), para logo mais, em alta voz, depositar nas mãos do Pai o seu espírito: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.” (João 23:46) A relação das três pessoas divinas da trindade é igualmente trazida para o seio da humanidade no sentido de que seja vivida na comunhão de todos os santos, remidos pelo sangue de Jesus. Jesus morre para trazer-nos de volta à relação pessoal com Deus, e a um relacionamento fraternal uns com os outros na igreja – corpo de Cristo. Esta fraternidade deriva da filiação divina. Filhos de Deus e irmãos uns dos outros. Este é um novo patamar da relação entre Deus e os homens. De criaturas que todos somos de Deus, para a situação de filhos que apenas é possível através de Jesus Cristo. Todos somos criaturas, mas filhos apenas são os que recebem a Jesus como Salvador e Senhor. O Filho ao morrer deu-nos a possibilidade de sermos feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu nome. De Deus como Criador para Deus enquanto Pai. Por Jesus vamos ao Pai.

                Jesus, o Filho de Deus, veio até nós tomando a nossa própria constituição, para nos dar a conhecer pessoalmente o Pai sendo que o Espírito Santo domina toda a sua vida. A ideia de um Deus longínquo, de costas voltadas para o homem e com o qual não possível ter intimidade e conhecer pessoalmente, é totalmente arrasado pela pessoa de Jesus Cristo.

                Em primeiro lugar na vida de Jesus Cristo, como Filho de Deus entre nós, fica patente a relação de absoluta intimidade com o Pai. Uma relação de total dependência e radical confiança. Muitas e variadas são as declarações de Jesus que atestam este relacionamento ímpar, que é totalmente demonstrado pela Sua vida. Será preferível dizer que a vida de Jesus é traduzida por palavras que apenas afirmam o que é vivido intensa e genuinamente. Quando Jesus ressuscita a Lázaro dá a entender que as palavras apenas são necessárias para que as pessoas à sua volta se apercebam do que para Ele é um fato, a realidade permanente que atravessa toda a eternidade e que o tempo não enfraqueceu: “Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu me enviaste.” (João 11:41,42).

                Inúmeras são as passagens que traduzem esta singular relação que nos orienta para a arquitetura espiritual que se move do Deus Criador a toda a criação, que o pecado destruiu mas que Jesus veio repor. Eis algumas citações que no evangelho por João a exprimem:

“Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz. Porque o Pai ama ao Filho e lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis. Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer. E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo o julgamento, a fim de que todos honrem o Filho, do modo por que honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão. Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do homem.” (João 5:19-27)

“Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.” (João 5:18)

“Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim. Não que alguém tenha visto ao Pai, salvo aquele que vem de Deus; este o tem visto. Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê, tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. (…) Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai; também quem de mim se alimenta, por mim viverá.” (João 6:45-48,57)

“Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida. (…) Eu testifico de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também testifica de mim. Então eles lhe perguntaram: Onde está teu Pai? Respondeu Jesus: Não me conheceis a mim nem a meu Pai; se conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai.” (João 8:12,18,19)

“Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então haverá um rebanho e um pastor. Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai.” (João 10:14-18)

                “Eu e o Pai somos um.” (João 10:30)

                A oração de Jesus Cristo inscrita no capítulo dezassete deste evangelho é uma inigualável demonstração da Sua relação pessoal com o Pai, e termina na enunciação do fim da História da salvação em que a unidade do Pai com o Filho é o modelo da unidade de Jesus com os Seus discípulos: “Não rogo apenas por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste, e os amaste como também amaste a mim. Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo o mundo não te conheceu; eu, porém, te conheci, e também estes compreenderam, que tu me enviaste. Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles esteja.” (João 17:20-26)

                Como carecemos hoje em dia de conhecer a Deus como o nosso Pai. A relação que podemos apreciar na pessoa de Jesus com o Pai e com o Espírito Santo, é a mesma que temos à nossa disposição. Para enfrentarmos os dias difíceis que temos pela frente, é imprescindível ter a certeza do cuidado do Pai para com todos os Seus filhos, e pelo Espírito Santo, segundo a eterna e infalível Palavra de Deus, em Jesus Cristo ermos a certeza inequívoca e inabalável de que somos filhos.

                É incontornável neste tema a parábola das parábolas de Jesus conhecida como do filho pródigo (Lucas 15:11-32), mas que acaba por falar de dois filhos, um que sai de casa e outro que continua nela, mas em que nenhum deles conhece efetivamente o pai. E no fim da história é o que abandonou a casa e desperdiçou a herança exigida e recebida sem qualquer direito, que no esterco de uma vida miserável se lembra do lar e dos criados que têm uma qualidade de vida que ele perdeu, e toma a resolução de voltar. “Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou.” (20) História multiplicada em milhões de seres humanos que arrependidos voltaram aos braços do Pai por Jesus o Salvador.

                Para mim é extraordinário que não podendo escolher os nossos pais naturais, e creio que alguns teriam alguma dificuldade em escolhê-los por diversas razões, Deus não se impõe como Pai a quem quer que seja, mas se dá a escolher como Pai a todos os que recebem a Jesus Cristo. E todos os restantes que como eu tiveram a felicidade de terem uns pais amorosos, ainda mais os apreciam tendo a Deus como Pai. Ainda é extraordinário que sendo filhos de Deus e vivendo tendo Deus como Pai, aprendemos a ser melhores pais, e a confiarmos no Pai celestial em todas as situações, e sei por experiência própria que são mesmo muitas, em que só Ele pode fazer o que nós não podemos e desfazer o que erradamente fizemos e já não conseguimos alterar.

                Não há melhor maneira de vivermos do que nos braços do Pai, mesmo quando Ele nos corrige e nos disciplina para nosso próprio bem. “Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita a todo o filho a quem recebe.” (Hebreus 12:5,6 – ler todo o texto de 4 a 13). Num tempo em que toda a correção cheira a maus tratos, é difícil de aceitar um texto escrito nestes termos, mas na realidade infelizes são os que não conhecem o amor na dimensão da correção que nada tem a ver com a violência física ou emocional. O escritor neste texto está a fazer alusão à perseguição resultante de seguir a Jesus como Senhor, sendo que Ele mesmo se tornou num modelo de perseverança, dependência e confiança.

Samuel R. Pinheiro