Bíblia – verdade absoluta

O relativismo da pós-modernidade vs a inspiração e inerrância da Bíblia

Verdade só é verdade se o for, ou seja, se estiver de acordo com a realidade, com os factos, com a natureza das coisas e das pessoas, da essência e da existência, do ser e do agir. Uma verdade que é e não é, que é para uns e não é para outros, que é para uma cultura e não é para outra, que é para um tempo e deixa de ser para outro, não é verdade, mas apenas opinião. Mesmo assim a verdade de uma cultura e de um tempo da história será sempre absoluta, porque apesar de não ser verdadeira, ou seja, mesmo que seja contradita pelos factos é a realidade do que teve lugar num determinado espaço e num determinado tempo.

A nós como cristãos que queremos seguir a Jesus Cristo a despeito das nossas insuficiências e vulnerabilidades, dos nossos erros e fracassos, dos nossos defeitos e traumas, o que nos importa não é tanto a verdade filosófica, humanista, seja ela religiosa ou secularizada, científica ou tecnológica. O que nos move e impulsiona é a verdade encarnada, a verdade pessoal, a verdade do Ser, a verdade que se fez carne e habitou entre nós, o próprio Deus connosco. Jesus disse de si mesmo e nisso foi corroborado pelas testemunhas que com Ele conviveram de que Ele é a verdade. Isto muda os termos em que a verdade é colocada. Não se trata de ideologia, de pensamento, de raciocínio, de lógica, de argumento, de silogismo, do que quer que seja em termos meramente teóricos. A verdade para Jesus é Ele mesmo. Para nós a verdade é uma Pessoa. A verdade é Deus. E não fomos nós que o descobrimos. Hoje para nós isso faz todo o sentido. Sendo o Criador a verdade é Ele mesmo, a verdade do que existe reside n’Ele, a verdade a nosso respeito está n’Ele. Como pessoas fomos criados à Sua imagem e semelhança, a verdade a nosso respeito, a respeito da nossa identidade, a respeito do nosso desígnio e propósito, do nosso destino, da nossa presente condição e da possibilidade de mudarmos e sermos de outro jeito está n’Ele. Conhecer a Jesus é conhecer a verdade a respeito das origens e dos fins, do processo e dos meios, do que fomos e deixámos de ser, do que passámos a ser e do que através d’Ele podemos passar a ser.

Julgo que em todos os tempos o homem na presente condição sempre foi avesso à verdade, porque a verdade é luz que mostra as nossas mazelas, os nossos defeitos, os erros que arrastamos, as dúvidas que nos perseguem, as interrogações que nos apoquentam. A verdade mostra quem nós somos, olha por baixo das nossas máscaras. E isso é incómodo para todos nós. No entanto o desafio de Deus é para deixarmos de termos medo de enfrentarmos a verdade acerca do estado em que nos encontramos, porque Deus não nos condena, não nos acusa, não nos despreza, não nos rejeita. Jesus veio para mostrar-nos o quanto Ele nos ama, o quanto Ele nos quer bem, e o quanto Ele é capaz de fazer para demonstrar esse amor e reverter a nossa situação, o nosso presente e o nosso futuro, o tempo e a eternidade. Quando conhecemos Deus como Ele de facto é, um Deus santo e amoroso, um Deus justo e perdoador, um Deus que é nosso amigo, então deixamos de ter medo da verdade porque ela é verdade em amor.

Verdade tem a ver com vida, com felicidade, com prazer, com amor, com dignidade, com serviço, com amizade, com companheirismo, com compreensão, com crescimento, com esperança, com realização. A mentira das falsas verdades, das meias verdades e mentiras inteiras, de pontos de vista particulares. Quando começamos a conhecer Jesus, o conhecimento pessoal gera em nós, confiança, entrega, dependência, admiração, adoração, obediência, fé, compromisso.

O que é que tudo isto tem a ver com a Bíblia. Tudo. A Bíblia é o livro por excelência de Jesus Cristo e não apenas acerca de Jesus Cristo. Se tirarmos Jesus à Bíblia ficamos sem Bíblia e sem informação fidedigna acerca de Jesus. Por isso a Bíblia é a Palavra de Deus, porque ela é a Palavra de Jesus Cristo. O Espírito que presidiu à vida terrena de Jesus é o mesmo Espírito que inspirou a Bíblia, por isso ela é sagrada, por isso é absoluta, por isso é inerrante, ou seja não contém erros. Quando falamos nestes termos falamos dos textos originais, embora hoje tenhamos suficiente conhecimento que comprova o quão fiéis são as cópias e as traduções que usamos.

Jesus Cristo respaldou a Bíblia cumprindo tudo o que nela se encontrava escrito a Seu respeito e dando disso testemunho, citando-a, observando os Seus preceitos, vivendo em conformidade com os Seus princípios, confirmando as Suas predições e alargando e precisando os seus contornos e horizontes. Pensemos apenas num exemplo que ocorreu após a Sua ressurreição, quando sem ser reconhecido por eles, viajava com dois discípulos a caminho de Emaús. Leiamos o relato dos evangelhos: “Então lhes disse Jesus: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras. Quando se aproximavam da aldeia para onde iam, fez ele menção de passar adiante. Mas eles o constrangeram dizendo: Fica connosco, porque é tarde e o dia já declina. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o, e, tendo-o partido, lhes deu; então se lhes abriram os olhos e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles. E disseram um ao outro; Porventura não nos ardia o coração, quando ele pelo caminho nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” (Lucas 24:25-32).

A verdade absoluta da Bíblia é muito mais do que verdade histórica ou científica, ela é verdade metafísica e meta-histórica, ela atinge o cerne da essência e da existência de tudo e de todos. Como tal essa verdade não pode nunca por nunca ser tornar-nos arrogantes ou intolerantes, porque o Seu protagonista principal, o próprio Deus entre nós, é “manso e humilde de coração” (Mateus 11:29), o Servo por excelência, sendo Senhor de todos (Mateus 20:28; João 13:13-15). Jesus é o cerne da revelação e o fundamento da sua interpretação, significado e aplicação. Ele não é apenas a verdade, é também o caminho e a vida. Devemos viver como Ele viveu, em função do que está escrito: “Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.” (Mateus 4:4). A verdade que é Jesus não se percebe apenas pela razão, também pelo coração, mas acima de tudo espiritualmente, numa relação íntima. A pós-modernidade pode estar muito mais recetiva a esta compreensão do que podemos pensar. É vivendo a verdade que a transmitimos.

Samuel R. Pinheiro
www.samuelpinheiro.com

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