UM PLANETA SEDENTO DE GRAÇA
A meritocracia da finança e da economia infiltrou-se nos relacionamentos e dentro do coração do homem. Porventura é daí mesmo que ela brotou. A ditadura do mérito está presente na escola, na empresa, na família e nas religiões. Talvez nem sequer tenhamos já a capacidade de conceber um mundo diferente. Mas o que se verifica nas várias dimensões da vida humana, está também agarrado à pele do homem.
Eu mereço ou eu não mereci a isto, faz parte de uma mesma realidade como uma moeda de duas faces, mas cuja essência é a mesma.
A essência do evangelho que Jesus nos veio trazer, está resumida na palavra GRAÇA. A graça significa que eu não tenho que merecer, nem sequer alguma vez vou conseguir merecer. Não é por aí que eu tenho de ir. Preciso fazer uma inversão de marcha, mudar de rumo, seguir na direção oposta. Encontrar em Deus o meu suporte e a minha segurança. O texto da Bíblia é bem explícito. Esta é uma diferença radical entre todas as religiões e o evangelho. As religiões dizem “faça” e o evangelho diz “feito”. E o que a religião manda fazer nunca é suficiente o bastante para dar ao homem a segurança da vida eterna, e de ser aceite já nesta terra.
O evangelho dá-nos a conhecer o plano incrível de Deus de vir ao nosso encontro para fazer por nós o que nós nunca poderíamos fazer por nós próprios. Por isso o homem estava irremediavelmente perdido.
Se repararmos a vida que recebemos é um ato da graça. Existimos não porque merecemos, mas porque fomos desejados por Deus. A nossa vida pode não ser o que desejávamos por inúmeros fatores, mas a realidade é que viemos à existência pela graça. E Deus nos convida a continuarmos a viver no desenvolvimento dessa graça que tem o seu clímax em Jesus Cristo. Se existimos pela graça, só podíamos ser reconciliados com o plano de Deus que é vida plena e abundante, pela graça.
O problema do homem não reside na realidade de existir, mas de ter rompido com os desígnios e a vontade de Deus. Deus nos criou para vivermos num jardim e vivermos a cada dia desfrutando da Sua amável presença. O problema também não está apenas na decisão dos nossos primeiros pais que desobedeceram ao mandamento divino de não comer da árvore da ciência do bem e do mal. O problema consiste no que cada um de nós hoje faz diante do amor de Deus expresso na pessoa de Jesus. Deus fez tudo para que sejamos salvos.
O Deus da Bíblia, o Deus que se nos deu a conhecer em Jesus Cristo, não negoceia connosco seja o que for. A religião pode virar, e geralmente vira negócio. Mas o evangelho não! Nada podemos pagar pela nossa vida, e nada podemos pagar pela nossa salvação.
O estranho, ou talvez não, é que a meritocracia, está de tal modo arreigada no coração do homem, que este lida mal com a generosidade divina. Muitas pessoas ao ouvirem falar da graça de Deus, consideram que isso é mais do que podemos esperar. E em certa medida têm razão. Mas o que não esperávamos, e o que não podíamos exigir, foi o que Deus fez, porque Deus é mesmo assim. Nós somos diferentes porque a nossa natureza e condição originais foram corrompidos. Deus foi muito para lá da nossa imaginação. Ele surpreendeu-nos. O Seu amor é imenso.
Muitas pessoas quando ouvem falar de Deus pensam imediatamente em mandamentos, em regras, em ética e moral. Mas se formos honestos connosco mesmo temos de reconhecer que estamos moralmente falidos. Mesmo que vivamos segundo os ditames da mais exigente ética, isso não é suficiente.
Jesus encontrou-se com um religioso que seguia com todo o rigor os padrões éticos do judaísmo. Jesus de rompante disse-lhe que ele precisava nascer de novo e que só dessa maneira ele podia ver o reino de Deus. O homem ficou estupefacto e apesar de toda a sua cultura religiosa, não conseguia atingir como tal poderia ser possível. Talvez a sua religião fosse precisamente a razão pela qual ele não conseguia descortinar como tal podia ser possível, apesar de ter declarado que Jesus não podia fazer o que fazia se Deus não fosse com Ele. Na realidade Deus é o Deus do impossível. Ele pode mudar o ser humano por dentro, fazer-nos nascer de Deus, e sermos feitos Seus filhos. É aí que recuperamos a nossa imagem e semelhança perdidas. (João 3:1-21)
O mesmo aconteceu com o apóstolo Paulo criado na mais estrita e rígida observância religiosa. Depois do seu encontro com Jesus e por revelação divina escreveu aos cristãos em Éfeso e a todos nós o que é a base sólida do plano divino:
“Porque pela sua graça é que somos salvos, por meio da fé que temos em Cristo. Portanto, a salvação não é algo que se possa adquirir pelos nossos próprios meios: é uma dádiva de Deus. Não é uma recompensa pelas nossas boas obras. Ninguém pode reclamar mérito algum nisso. Somos a obra-prima de Deus. Ele criou-nos de novo em Cristo Jesus, para que possamos realizar todas as boas obras que planeou para nós.” (Efésios 2:8-10 – O Livro)
O amor de Deus é incondicional. Todos somos amados porque Deus é amor. O que é que vamos fazer com esse amor? Do que fizermos depende o nosso presente e o nosso futuro eterno.
No amor divino concretizado por Jesus na cruz encontramos uma nova identidade como filhos de Deus, um novo sentido e propósito na glória divina, perdão e completa libertação da culpa. É a vida eterna que recebemos, uma vida que permanece para sempre!
Samuel R. Pinheiro