Eu também sou ateu

EU TAMBÉM SOU ATEU 

            Escolhi este título intencionalmente para despertar o interesse do leitor sobre um assunto que muitas vezes é escamoteado no seu verdadeiro significado e complexidade.

Nós, os crentes, somos, algumas vezes, rápidos demais a julgar (Mateus 7:1) um ateu, (o mesmo acontecendo em relação aos ateus para com os crentes), antes de, invertendo a marcha arrogante e de autossuficiência (também uma falta de amor), procurarmos indagar quais são os verdadeiros motivos e as autênticas razões que se anicham na origem dessa definição e opção ateia. Portanto, se você é um ateu, ou um indiferente agnóstico, acompanhe-me neste texto que tem a única pretensão de abordar alguns pontos nebulosos de um possível e frutífero diálogo entre crentes e não crentes (Atos 28:30).

            De facto “eu também sou ateu”. Concretizando, posso dizer que sou um ateu em relação a qualquer deus feito e concebido à imagem e semelhança do homem, quer ele seja a divinização de uma força da natureza, de um valor social ou moral, a deificação de um homem ou mulher, ou apenas, um conceito ou imagem de anseios e projetos. Que os há! Há muitos deuses adorados e servidos ao longo da História da humanidade que sendo autênticos embustes (1) apenas serviram para amarrar o homem a superstições e sacrifícios inúteis (Atos 17:29). Isto não significa que muitos dos seus adeptos não tenham sido pessoas verdadeiramente sinceras, embora outros, renitentes apóstatas ou obcecados rejeitadores de esclarecimento. Deuses fabricados pelo artifício e imaginação dos homens e dos quais, esses homens, foram as principais vítimas.

Enumerar essa vasta multidão de deuses é trabalho difícil e fastidioso, e todos eles obedecem a determinadas linhas e características gerais que os aproximam e irmanam.

No antigo Egipto Osíris – deus da vegetação e da vida; Ísis – a força sempre renascente da vegetação e das sementes, esposo e irmão da mágica Ísis; Set – o vento quente do deserto; Hórus – filho de Ísis; Rá – (o sol) criador de todos os deuses; Ámon – o deus supremo para os faraós de Tebas; o gato, que afugentava os escorpiões e caçava os ratos prejudiciais às searas, foi adorado com fervor por todo o Egípto; o cão e o macaco, que guardavam e protegiam as casas, bem como o crocodilo, que dominava nas águas do Nilo, atraíram também, durante séculos, os favores da crença popular. Perto de Tebas erguia-se a antiga Crocodilópolis (cidade do crocodilo) onde se adorava Sobeque, o crocodilo sagrado a quem por vezes as mães chegavam a oferecer os próprios filhos em refeição. Ser devorado por tais animais representava para os Egípcios, um alto favor celeste.

Na Mesopotâmia Anu – deus do céu; Shamash – deus do sol e da justiça; Sin – deus da lua; Ea – deus das águas; Isthar – deusa do amor e da guerra; Marduc – deus da Babilónia, foi considerado deus nacional tal como Assur, deus de Nínive.

Os cretenses adoravam a fecundidade da terra sob a forma de uma figura feminina – a deusa mãe – ‘rainha dos animais selvagens’.

Muito mais poderíamos escrever sobre as civilizações Fenícia, Pérsica, Grega, Romana e no que toca às religiões orientais então era um não mais acabar. (2)

Todos estes deuses têm em comum a sua relação com as formas da natureza ou com os valores humanos, seus temores e fantasmas, suas aspirações e sonhos. São o resultado da impotência do homem perante as forças da natureza ou uma ténue ‘evidência’ da consciência individual e coletiva da imortalidade, da eternidade e de uma força criadora e sustentadora do universo. (3)

Mas também no nosso século, nos nossos dias, na nossa civilização, na nossa cultura e no nosso país, mesmo adentro das portas de um cristianismo (pelo menos assim se apresenta, autodesigna e é conhecido), existem conceções, ideias e práticas que tornam praticamente impossível aceitar o ‘Deus’ que se invoca e se coloca como alicerce e inspiração.

Cabe aqui perguntar qual q pessoa de formação são e inteligente que pode aderir de ânimo leve a um ‘deus’ que apadrinha (ou é chamado a apadrinhar) as peregrinações a Fátima com todo o seu vasto leque de sacrifícios que os próprios, na sua sinceridade e boa fé, julgam que agradam a ‘Deus’, aplacam a sua ira ou suscitam as suas bênçãos? (4)

Ou ainda como aceitar um ‘deus’ que legitima o poder, a autoridade, a sumptuosidade e a infabilidade de um líder religioso e de uma hierarquia que compete com os ‘poderes seculares e temporais’ a maior parte das vezes não para se constituir em defensora da verdade, da justiça e da integridade humana onde quer que eles sejam postos em causa, sejam aviltados e quebrados, mas para se tornar, ela mesma, no próprio braço desse poder, a própria ‘fossa’ da corrupção ou o primeiro beneficiário desse estado de coisas? Que chama à pobreza e vive na opulência! Que apela à humildade e se apresenta envolta de glória e majestade! Que convida à ‘pureza’ e vive em licenciosidade! (Isto quer se trate do Catolicismo Romano, Ortodoxo ou Protestante).

Ou ainda como aceitar um ‘deus’ que se faz propalador da intolerância, da opressão, do medo – que obriga o homem a converter-se porque se não terá de suportar as chamas da Inquisição, perder privilégios e oportunidades sociais, ser diminuído nos seus direitos de cidadão de pleno direito, etc.?

Como aceitar a ideia de um ‘deus’ que apenas tem como sugestão a resignação, o deixa andar porque nada podemos fazer?

Como suportar a ideia de um ‘deus’ que apenas tem a oferecer o adiamento sine dia das aspirações e do sonho humano de um homem novo e de um reino de justiça, solidariedade, paz e amor?

Como aceitar a ideia de um ‘deus’ que deixa ficar tudo na mesma? Um ‘deus’ que só serve para cunhar moedas? Que protege interesses particulares de minorias e elites? Que é apenas rótulo de receitas duvidosas? Como?

É realmente impossível!!! Eu também sou ateu em relação a estes deuses, (ou caricaturas de Deus) que se erguem não para libertar o homem, não para promover e dignificar o homem, não para o erguer acima da bestialidade, não para o ‘nivelar’ por cima – pelo superior; mas para fazer dele um objeto de interesses mesquinhos, ridículos e demolidores. (5)

Como aceitar de igual modo o ‘deus’ do Alcorão (hoje em franco progresso no nosso país trazido pelas condutas do petróleo), tão bem ‘materializado’ na república iraniana. Um ‘deus’ carregado de intolerância, de sede de sangue, de obscurantismo, de perseguição, de repressão, de terror, que do homem o bicho do homem, etc. Não é possível!

Algo está errado. Algo não bate certo! E de facto não.

Deuses de fabricação humana que não são mais do que divinizações de homens, classes e civilizações. Deuses enfermos da própria enfermidade do homem porque dele saíram. Deuses que não podem fazer nada porque são a divinização da impotência do próprio homem, divinizações do nada! Deuses que são, inclusive, a negação do próprio homem como ser inteligente e moral, dominador da natureza, respeitador da sua integridade e da integridade do seu semelhante!!!

Mas não será que este vasto reportório de deuses é apenas a negação encapuçada do Deus autêntico, único, verdadeiro? Não será que estes deuses são ‘os ateus’ do Deus real? Tenho a certeza que sim! estes deuses que são a negação e a derrota do homem digno desse nome (note-se deuses feitos à imagem e semelhança do homem desvalorizado que são a negação do homem valorizado como imagem e semelhança do Deus único e verdadeiro!).

Penso que não estamos muito afastados nesta questão dos dias do apóstolo Paulo quando falou no areópago de Atenas há quase 2000 anos a propósito do ‘Deus desconhecido’. Também ‘nós’, mesmo para um grande número de cristãos, e apesar desses 2000 anos de cristianismo, falamos do Deus-Desconhecido, (Atos 17:23). É triste, mas é uma realidade nua e crua. Deus é ainda o Grande-Desconhecido dos nossos dias. Quão longe se está de O conhecer.

Meu caro amigo ateu ‘se’ Deus existe então não está certamente dependente das opiniões particulares dos religiosos, mesmo dos cristãos. Esse Deus tem certamente um outro meio mais exato e objetivo para se revelar ao homem. E tem-o! A Bíblia no que toca à palavra e Jesus Cristo no que respeita à vida, (Hebreus 1:1). Deus não deixou por mãos alheias a Sua revelação ao homem! Ele mesmo veio tomando a forma da matéria e disse – estou aqui convosco (Mateus 1:23). (6)

Não estamos já condenados a opiniões particulares e aproveitamentos corruptos e mal intencionados.

E como Cristo é diferente de tanto cristianismo, que é simples superstição. O Deus, único e verdadeiro, da revelação viva em Cristo Jesus não cria atritos à inteligência e ao sonho de realização da humanidade. Antes pelo contrário, fornece-lhe os meios necessários e imprescindíveis para que se torne numa realidade palpável e progressiva! Amigo ateu confronte-se com Cristo. Analise-o e estude-o de perto. Conviva com Ele. Procure a sua presença e comunhão. Envolva-se com Ele. Aprenda Dele. (Mateus 11:28). E vai verificar que

Deus existe!!!

(Atos 17:30). Eu creio em Deus – que se revela plena e concretamente em Cristo!

Se tem outra opinião, se lhe ficam algumas dúvidas – contacte-me! Talvez possamos aprender juntos mais alguma coisa!

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(1)       Salvaguardo o facto de que, apesar de se tratar de um embuste, não significa que os seus proponentes e ‘fieis’ seguidores não fossem sinceros e estivessem sinceramente errados.

(2)       É a própria Bíblia que denuncia este estado de coisas – Salmo 115:4-7; Romanos 1:23 (e muitos outros textos).

(3)       Mas, acima de tudo todos eles são o resultado da ignorância (Atos 17:30), sobre a existência de Deus que é Criador e que nós vemos tão nítido na multimilenar civilização hebraica, ou então, produtos da recusa desse mesmo Deus. Lucrécio (cerca de 98-55 a.C.) escreveu que: ‘O medo criou os deuses’. Mas o que não soube ou não quiz explicar foi a razão, a causa, a origem do medo que, certamente, tmbém deve existir. E o homem começou a ter medo, de si próprio, dos outros, da natureza e até de Deus e dos seus deuses, quando se afastou de Deus (o que ainda hoje acontece). Diz a Bíblia que Deus é amor e verifica, corretamente, que o amor lança fora o medo. O homem que teme não conhece verdadeiramente o Deus revelado em Jesus Cristo – porque Ele é amor (I João 4:16,18).

(4)       Esta realidade faz-me lembrar o encontro de Elias com os profetas de Baal. Será bastante eloquente e explicativo este texto para aqueles que se confundem, com razão, perante um certo número de práticas que repugnam a sensibilidade humana e que são falsamente apresentadas como do agrado de Deus. Leia-se I Reis 18:22-39.

(5)       E havia aqui ainda muito para escrever sobre os que têm uma visão irreal, deturpada de Deus. Como: O Polícia Imanente; O Fantasma Paterno; Aquele Velho e Respeitável Senhor; Manso e Meigo; Perfeição Absoluta; O Seio Divinal; O Deus da Igrejinha; O Director Geral; O Deus em Segunda Mão; Ofensa Perene; O Pálido Galileu; Imagem Projectad. Um conjunto de representações mentais que desvirtua a verdadeira essência divina. A este respeito aconselhamos o livro: ‘Deuses aos Pontapés’ de J. B. Phillips; Núcleo.

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