2. A Bíblia é a Palavra de Deus?

A BÍBLIA É A PALAVRA DE DEUS?

Por Fernando Paiva

 

Bíblia_4pontos      INTRODUÇÃO

 

            Este trabalho tem  por finalidade  abordar  o  tema “ A Bíblia é a Palavra de Deus?”.

Muitos nos dias de hoje, têm considerado as questões relacionadas com a fé, como uma brincadeira, e a Bíblia Sagrada como mais um livro. Talvez daí, a proliferação e multiplicidade de religiões sem qualquer fundamento sólido, levando as pessoas a que  melhor se adapta a si e aos seus interesses, sem considerarem seguir O modelo. Mas, a verdade é que após algum tempo acabam por se sentir sós, vazios e abandonados, sem encontrarem resposta às perguntas fundamentais da vida, pois sem O exemplo o homem se sujeita a criar as suas próprias regras.

O mundo ainda tem a resposta e O exemplo a ser seguido, e esse é de facto o Jesus da Bíblia.

Se há uma Boa Nova, essa deverá surgir dos cristãos que sabem em que crêem e porque crêem. Apenas a fé vigorosa nas Escrituras, trás a verdadeira vitória às mais difíceis perguntas da vida.

  1. I.       A Arqueologia Bíblica

Ao dar início ao tema proposto, será importante dar ao algum tempo à questão relacionada com a arqueologia bíblica.

A palavra arqueologia provém de dois termos gregos, archaios e logos, que segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea[1] refere que arqueologia é a ciência que estuda os testemunhos materiais deixados pelo homem no decurso do devir histórico. No que concerne à arqueologia Bíblica, esta poderá ser definida como um exame de artefactos antigos, outrora perdidos e hoje recuperados, os quais se relacionam ao estudo das Escrituras e à caracterização da vida nos tempos bíblicos.

Charles C. Ryrie[2], considera que a arqueologia ajuda-nos a compreender a Bíblia. Ela revela a vida nos tempos bíblicos, o significado real de passagens bíblicas obscuras e também a forma de entender as narrativas históricas assim como os contextos bíblicos.

Certamente, que em algumas áreas nem mesmo a arqueologia conseguiu desmontar questões complexas, mas será certo que com toda a segurança as respostas surgiram com o tempo. Pode afirmar-se que até aos dias de hoje não houve um caso sequer em que a arqueologia tenha chegado á conclusão que a Bíblia estava errada. Charles C. Ryrie[3] refere que os arqueólogos demonstram que o grego do NT não era uma língua inventada pelos seus autores como se pensava. Pelo contrário, era de modo geral a língua usada pelo povo dos primeiros seculos da era cristã. Alude ainda, que menos de cinquenta palavras em todo o NT foram cunhadas pelos apóstolos. Os papiros revelaram que a gramatica do NT era de boa qualidade, julgando-a pelos padrões gramaticais do primeiro século e não pelo período clássico da língua grega. Segundo o autor, até à pouco tempo atrás a passagem hebraica manuscrita mais antiga, era datada aproximadamente do ano 900 da era cristã e o AT completo, era cerca de um século mais recente.

 

  1. II.    O Que a Bíblia diz sobre si mesma?

Sobre esta questão poderíamos começar por citar o versículo bíblico em 2 Timóteo 3:16:

Toda a Escrituraé inspirada por Deuseútilparao ensino,paraa repreensão,paraa correcção,paraa educaçãonajustiça,”, a partir deste ponto pode dizer-se que isto significa que Deus, que é verdadeiro, “soprou” a verdade. Charles C. Ryrie[4] lança a pergunta: mas não teria o homem corrompido a verdade enquanto a registava? Ele responde dizendo que não, pois a Bíblia também testifica que os homens que a escreveram foram “movidos (lit., carregados) pelo Espírito Santo”. O texto de 2 Pedro 1:21 diz: ​“porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.”. O Espírito foi o co-autor de todos os livros da Bíblia.

Charles C. Ryrie[5], diz que sem dúvida a Bíblia afirma ser inerrante. Aponta ainda sobre de que maneira se poderia explicar o facto de Cristo ter reivindicado para as próprias letras que formam as palavras da Escritura um caracter permanente: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra”(Mt 5:18). Diz que o “ i ” é a letra hebraica yod, a menor do alfabeto hebraico. O “til” era um pequenino traço que servia para distinguir certas letras hebraicas de outras. Este era usado em alguns livros, e seria menor que um milímetro! O autor refere que por outras palavras, o Senhor estava afirmar que cada letra ou palavra é importante, e que o AT seria cumprido exactamente como fora escrito em todos os seus detalhes, ou seja, letra por letra, palavra por palavra.

  1. III.      A Inspiração da Bíblia

A característica mais importante da Bíblia não é a sua estrutura e forma, mas o fato de ter sido inspirada por Deus. Não se deve interpretar de modo erróneo a declaração da própria Bíblia a favor dessa inspiração. Quando falamos de inspiração, não se trata de inspiração poética, mas sim de Autoridade Divina. A Bíblia é singular; ela foi literalmente “soprada por Deus“.

Foi já abordado o texto bíblico de 2 Tm 3:16, mas Erwin Lutzer[6] em seu livro 7 Razões Para Confiar na Bíblia, diz que esta é uma das declarações mais explicitas e mais conhecidas das Escrituras sobre a própria origem. Refere ainda que a palavra inspiração com o prefixo “in”, dá a impressão que depois dos vários livros da Bíblia terem sido escritos, Deus terá soprado neles, tornando-os livros “ inspirados”. A palavra grega significa que Deus “soprou”, e o resultado disso foram as Escrituras. Ou seja, a Bíblia metaforicamente falando, é o sopro de Deus.

Podemos assim, confirmar por Ela mesma, que a Bíblia é a Palavra de Deus divinamente inspirada.

Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (Jo 17:17)

Fiel é esta palavra e digna de inteira aceitação.” (1 Tm 4:9)

Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas.” (Hb 4:12-13)

Para Norman Geisler[7] em seu livro A Inerrância da Bíblia, diz que os autores humanos não eram autómatos. Eles dependiam de Deus. Os autores da Escritura não agiam no vácuo, eles viviam e se moviam e tinham seu coração em Deus, a exemplo de todas as demais pessoas conforme Atos 17:28 “…porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos;”. Refere que muitas das pessoas expressaram sua percepção da presença de Deus, do chamado Divino, de sua santidade, protecção, e de como ele as instava a falar e a escrever a Sua Palavra. Eles sabiam que dependiam de Deus e que tinham por obrigação conhece-lo, ama-lo e servi-lo. Geisler argumenta que O Deus dos autores bíblicos, embora estivesse activamente envolvido com eles, existia por si próprio, era eterno e imutável. Os autores eram dependentes; Deus era independente. Geisler[8] diz que os autores tinham a supervisão especial do Espirito como portadores que eram da palavra profética e apostólica que lhes foi dada no decorrer da composição e da redacção dos livros da Bíblia. O autor lança a pergunta[9]: “Como poderiam os seres humanos, ao escrever com base em sua experiencia pessoal, dispor de critérios para determinação das influências efectivamente provenientes de Deus?” O autor responde dizendo que os autores humanos das Escrituras estavam equipados para a sua missão extraordinária não somente graças aos ministérios comuns do Espirito, mas também em consequência de seus dons especiais como profetas e apóstolos e pelo milagre da inspiração. Graças a esses meios, Deus capacitou os autores humanos a escrever com autoridade.

 

  1. IV.      A Confiabilidade e Infalibilidade da Bíblia

Sobre a confiabilidade e infalibilidade das Escrituras, poderíamos dizer que uma coisa é afirmar que a Bíblia constitui uma fonte basicamente confiável de história e instrução religiosa; outra é sustentar que a mesma é inspirada, exacta e falível.

R.C.Sproul em seu livro Razão para Crer[10], diz que podemos apresentar alguns argumentos a favor da infalibilidade das Escrituras. Segundo o autor esses argumentos poderão ser os seguintes:

- A Bíblico é um documento basicamente confiável e seguro;

- Apoiados neste documento confiável, temos evidência suficiente para acreditar com segurança que Jesus Cristo é o filho de Deus;

- Por ser o filho de Deus, Jesus Cristo é uma autoridade infalível;

- Jesus Cristo ensina que a Bíblia é mais do que geralmente digna de confiança; ela é a própria Palavra de Deus;

- A Palavra, por ter origem em Deus, é absolutamente confiável, desde que Deus é absolutamente digno de confiança;

Em conclusão aos argumentos, com base na autoridade infalível de Jesus Cristo, a igreja crê que a Bíblia seja digna de toda a confiança e infalível.

 

  1. V.         Autenticidade da Bíblia – Jesus Cristo

Erwin Lutzer[11] refere que Cristo confirmou que o tema da Bíblia era a Sua própria vinda. Na controvérsia com os judeus, disse: “ Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (Jo 5:39). Frequentemente Jesus se referia às Escrituras apontando para Ele mesmo. O autor refere Lutero quando este disse: “Cristo está contido nas Escrituras como o corpo nas roupas”.

Os apóstolos viam Cristo como o centro das Escrituras. Erwin[12] diz que da primeira expressão do evangelho em Gn 3:15 “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” até ao “Vem, Senhor Jesus!” de Apocalipse 22:20, a Bíblia tem uma sequência histórica integrada.

Erwin[13] lança uma pergunta:”Podemos provar que a Bíblia é a Palavra de Deus?” Diz que certamente é possível apresentar diversas razões para aceitar a Bíblia como a Palavra de Deus. O autor diz que talvez um céptico espere um tipo de “prova” impossível de obter.

É verdade que dúvidas sobre a credibilidade das testemunhas, a exactidão de suas declarações, a veracidade dos copistas e dos manuscritos podem sempre ser levantadas. Erwin[14] diz que no caso da Bíblia, a questão da “prova” se torna ainda mais intrigante. Diz ser um livro que não apenas fala de assuntos de história e moral, mas também revela enfaticamente as sutis decepções do coração humano. Remata dizendo, “por isso, a razão mais complente porque creio que a Bíblia é a Palavra de Deus é aquela que está disponível apenas para os que têm o desejo de se submeter à autoridade dela”. Cita Jo 7:17 “​Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo”. Sem esse desejo não pode haver o conhecimento. Diz[15] que ficamos convencidos de que a Bíblia é a Palavra de Deus não por meio de pressentimentos subjectivos, mas pela destruição de nossos pressentimentos subjectivos quando nos humilhamos na presença de Deus revelada nas páginas da Bíblia. Revela que finalmente compreendemos que este Livro conta com a dolorosa verdade a respeito de nós mesmos e de nossos relacionamentos com o mundo. As peças da vida subitamente se juntam e somo levados a dizer: “Eu era cego e agora vejo!”.

Podemos afirmar, que a razão porque cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus é a autoridade de Cristo. Erwin Lutzer[16] reforça ainda que muita gente descarta a narrativa do Diluvio, mas Cristo disse: “ Pois como foi dito nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos; assim será também a vinda do Filho do homem.” (Mt 24:37-39). Diz ser interessante que Jesus tenha proferido essa afirmação sobre Noé e o dilúvio com as palavras: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão.” (Mt 24:35). Diante disto estamos perante uma decisão e lança a pergunta:  “Cremos nesses críticos que não conseguem aceitar a confiabilidade dos relatos bíblicos, ou cremos em Cristo?” Erwin menciona o livro Cristo e a Bíblia de John Wenham[17] quando refere: “ O futuro Juiz está enunciando palavras de solene advertência aos que no futuro comparecerão como réus no seu tribunal. […] E ainda assim vamos supor que esteja dizendo que uma pessoa imaginaria em uma pregação imaginária de um profeta imaginário arrependeu-se na imaginação, e que ele [o Juiz] vai-se levantar nesse dia para condenar a impenitência real de seus ouvintes reais”. Cristo cria na história de Noé e do diluvio. Deixa a pergunta: Sabemos mais do que Ele?

O autor John Drane[18] em seu livro A Bíblia Facto ou Ficção?, depois de um explanar de ideias relacionadas com Jesus nos evangelhos, aborda a questão da prova da ressurreição e diz que a ressurreição de Jesus foi o que convenceu os primeiros cristãos da verdade de tudo isto. Paulo afirma em 1 Co 15:17 “ E, se Cristo não foi ressuscitado, é vã a vossa fé, e ainda estais nos vossos pecados.” A ideia de que Jesus ressuscitou da morte é certamente o aspecto mais extraordinário de todas as histórias a seu respeito, mencionadas na Sua Palavra.

John Drane[19] refere o erudito judeu Gez Vermes, ao escrever em seu livro “ O Judeu Jesus”: “ Quando todo argumento tiver sido considerado e pesado, a única conclusão aceitável para o historiador deve ser…que as mulheres que foram prestar a ultima homenagem a Jesus, para sua consternação, não encontraram um corpo, mas um túmulo vazio.”

Diante de tais factos reais expressos na Sua Palavra, o homem nada é diante de um Deus soberano.

Termino citando o profeta Habacuque: “Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” (Hc 2:20)

CONCLUSÃO

            Em conclusão, ninguém que defenda a inerrância nega que a Bíblia use figuras de linguagem comuns (ex: “os quatro cantos da terra”, Ap7:1). Também não me oponho a que os autores por vezes pesquisaram os factos sobre os quais escreveram. “Visto que muitos têm empreendido fazer uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, segundo no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também a mim, depois de haver investido tudo cuidadosamente desde o começo, pareceu-me bem, ó excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração em ordem. Para que conheças plenamente a verdade das coisas em que foste instruído.” (Lc 1:1-4).

Creio, que o produto foi guardado do erro pelo trabalho e supervisão do Espírito.

Também não nego que haja eventualmente problemas com o texto que usamos hoje, no entanto, problemas são diferentes de erros. Na verdade, considerando as declarações que a Bíblia faz a seu favor em termos de inspiração e inerrância, o mais razoável quando confrontados com os problemas, é colocar nossa fé nas Escrituras que se têm demonstrado confiáveis ao longo dos séculos, em vez de confiarmos em alguma opinião humana e falível. O conhecimento humano de muitos desses problemas é limitado e em algumas ocasiões comprovadamente errado.

Sem dúvida, que o tempo continuará a revelar que só a Palavra de Deus não falha.

Deus escreve com uma pena que nunca suja, fala com uma língua que nunca erra, age com uma mão que nunca falha”.

C. H. Spurgeon.

BIBLIOGRAFIA

DRANE, John. A Bíblia Facto ou Fantasia? Editora Bom Pastor, SP, Maio 1994, Tradução Neyd Siqueira

ERWIN, Lutzer – 7 Razões Para Confiar na Bíblia, Editora Vida, SP, 2001, Tradução Yolanda Krienvin

GEISLER, Norman – A Inerrância da Bíblia, Editora Vida, 2003, SP, Tradução Antivan Guimarães Mendes

SPROUL, R.C. Razão Para Crer – Editora Mundo Cristão, SP, Maio 1986, Tradução Neyd Siqueira

RYRIE, Charles C. – a Bíblia Anotada Expandida, Editora Mundo Cristão, SP, 2006, Tradução Susana Klassen



[1] Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, p.343

[2] RYRIE, Charles C., A Bíblia Anotada – Expandida, p. 1306

[3] Ibidem, p. 1307

[4] RYRIE, Charles C., A Bíblia Anotada – Expandida, p. 1298

[5] Ibidem, p. 1299

[6] LUTZER, Erwin, p. 33

[7] GEISLER, Norman, p.288

[8] p. 304

[9] p. 308

[10] SPROUL, R. C., p.23

[11] p.42

[12] p.43

[13] p.47

[14] p.49

[15] p.50

[16] p. 107

[17] p. 107

[18] p. 151

[19] p. 153

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