Provas da Ressurreição de Cristo

PROVAS DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

David Pinto

 

Introdução

RessurreiçãoNo âmbito da cadeira de Apologética, do 3º ano do curso em regime presencial do Monte Esperança – Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, foi proposto, aos alunos, um trabalho individual sobre um dos temas da disciplina.

O tema escolhido para esta monografia é “A ressurreição de Cristo”.

O desafio será explicar o conceito da ressurreição de Cristo; se esta, efectivamente, aconteceu; e quais as provas verosímeis de tal acontecimento. Serão expostas as teorias contra a ressurreição de Cristo e quais as implicações de crer ou não crer neste facto.

Serão usadas, como pano de fundo, citações bíblicas, assim como referências bibliográficas de livros de referência sobre a matéria.

A ressurreição de Jesus é o clímax das boas novas da salvação. É uma doutrina basilar do cristianismo. Todas as outras estão-lhe inseparavelmente ligadas.

Não existe outra doutrina que seja tão atacada e negada como a da ressurreição. E isso acontece por algum motivo. Sem Cristo vivo, não há cristianismo verdadeiro. Se Cristo, ainda hoje, estivesse no túmulo, o plano da redenção apresentado pelos cristãos não faria qualquer sentido.

O cristianismo é o único pensamento que se pode vangloriar de anunciar um autor vivo. Nenhuma religião consegue afirmar o mesmo.

 

“…se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é inútil e a vossa fé é inútil…”

I Coríntios 15.14, in “A Bíblia para todos”

 

I. As teorias contra a ressurreição

Ao longo dos séculos, foram várias as teorias que surgiram, para tentar desacreditar o acto da ressurreição de Cristo. Das mais rocambolescas às mais sérias, todas falham em algum ponto de argumentação. Abordaremos as mais relevantes e usadas, no decorrer da história.

 

Teoria do roubo

A mais antiga tentativa de descartar a ressurreição de Cristo afirmava que o corpo de Jesus fora roubado. Aliás, a própria Bíblia aborda essa teoria. Os líderes judeus subornaram os guardas romanos, para dizer que o corpo de Jesus fora levado pelos discípulos, enquanto os soldados dormiam (Mateus 28.11-15).

Ainda hoje, algumas pessoas defendem esta teoria, dividindo-a em duas hipóteses: ou os discípulos levavram o corpo, ou foram os inimigos de Cristo a fazê-lo.

Em relação à teoria de que foram os discípulos, o interessante é que a hipótese é tão incorrecta que a preocupação do relator do facto, na Bíblia (Mateus), em refutá-la é nula. Como Paul Little afirma: “que juiz lhe daria ouvidos se você dissesse que, enquanto dormia, o seu vizinho entrou em sua casa e roubou o seu aparelho de televisão? Quem sabe o que acontece enquanto se está dormindo? Um testemunho como esse seria ridicularizado em qualquer tribunal.”[1] Se os soldados estivessem, realmente, a dormir, não saberiam quem levou o corpo.

A propósito do sono dos soldados, este apresenta-se como outro contra desta teoria. O castigo para o facto de um soldado dormir, no cumprimento do dever, era a morte. Dormiriam então todos? Além disso, mesmo estando todos a dormir, não acordariam com o barulho da pedra a rolar?

Mais, a teoria do roubo faz dos discípulos mentirosos e um pouco ingénuos. Sofreriam e morreriam estes homens, dedicariam uma vida inteira, por algo que sabiam ser mentira? Craig ironiza[2], no seu livro “Em Guarda”, um possível delinear de plano dos discípulos, de todas as formas, ridículo:

Ok, eis o plano: roubamos o corpo e escondemo-lo num canto qualquer. Depois, voltamos e contamos uma história que, provavelmente, fará com que sejamos mortos. Quem alinha?

O plano teria sido tão brilhantemente orquestrado que os discípulos até inventaram aparições. Mas, como se explicam essas aparições, testemunhadas pelos discípulos, se o corpo foi roubado? Little afirma que custa mais aceitar que os discípulos eram “refinados mentirosos ou loucos iludidos”, do que crer na ressurreição[3].

Candler coloca a questão noutros termos. Se Jesus ficou morto, que motivação teriam os discípulos para empreender a missão que levaram a cabo nos anos subsequentes e que foi o alicerce da Igreja que hoje conhecemos? O autor pergunta: “Se os discípulos guardaram o corpo de Jesus até se decompor, como todos os outros, de onde teria surgido a fé (…) o valor que os animava? Como se explicaria o seu zelo? (…) Qual teria sido a fonte de poder que lhes permitiu estabelecer igrejas em Jerusalém, Antioquia, Corinto, Galácia, Macedónia (…) e Roma? Será que uma fraude consciente conseguiria dar ânimo e vigor aos discípulos, a ponto de as suas aptidões naturais se converterem em poderes quase infinitos[4]?

Craig afirma que a teoria do roubo (por parte dos discípulos, inventando que Jesus ressuscitou) é implausível, porque é vista através do espelho retrovisor da história cristã, em vez de ser vista através dos olhos de um judeu do primeiro século. Um judeu não tinha qualquer expectativa de um Messias que fosse vergonhosamente executado pelos gentios como um criminoso. Além disso, a ideia da ressurreição não fazia parte das concepção do Messias, até porque não se supunha que o Messias morresse. Mais, era impossível um discípulo orquestrar a ideia de uma ressurreição, porque a noção de ressurreição era inaceitável na época. O autor explica que, nos dias de Jesus, ressurreição não significava vida após a morte, de uma forma desencarnada, ou imortalidade da alma, numa outra dimensão. Ressurreição era a reversão da morte, a restauração do corpo para uma forma de imortalidade. Um corpo diferente, é certo, mas nunca uma alma ou um espírito. Muitos pagãos acreditavam na vida desencarnada depois da morte, mas consideravam a ressurreição impossível. Alguns judeus (não todos) esperavam a ressurreição dos justos no último dia, mas nunca antes disso[5].

Concluindo, um judeu do primeiro século que visse o seu Messias morto, tinha uma de duas hipóteses: ou ia para casa, envergonhado, ou escolhia outro Messias[6].

Outra hipótese era os próprios inimigos de Jesus terem levado o corpo. Sobre isso, Josh McDowell cita E. F. Kevan e afirma: “os inimigos de Jesus não tinham motivo para remover o corpo. Os amigos não tinham poder para fazê-lo. Seria vantajoso para as autoridades que o corpo permanecesse onde estava. A ideia de que os discípulos roubaram o corpo é impossível. O poder que removeu o corpo do Salvador da sepultura deve, portanto, ter sido divino”.

 

Teoria do desmaio

Esta teoria é de construção recente. Começou a ser enunciada no séc. XVIII, afirmando que Cristo realmente não morreu na cruz. Pareceu morto, mas apenas tinha desmaiado, em consequência da exaustão, dor e perda de sangue. Reviveu quando foi deixado na sepultura fresca. Depois de sair da sepultura, apareceu aos discipulos que erroneamente o julgaram ressuscitado dos mortos. Segundo Max Anders[7], todos os registos antigos são enfáticos acerca da morte de Jesus. Nenhum dos ataques antigos ao cristianismo duvidava do facto de Jesus ter sucumbido na cruz. A Bíblia afirma, até, que Jesus morreu antes de ser retirado da cruz. Ainda assim, para certificar-se melhor, um dos algozes enfiou-lhe uma lança no lado, de onde escorreu sangue e água, sinal claro de morte[8].

Mesmo que este algoz se tivesse enganado e Jesus tivesse sido sepultado vivo, que probabilidade teria, com todos os ferimentos a que foi sujeito (chicoteado, rasgado, espancado, pregado, com perda de sangue abundante), de suportar 36 horas numa sepultura fria, sem comer, nem beber, sem cuidados médicos, com lençóis mortuários de quase trinta quilos em cima do corpo? Como teria Ele força para se libertar dos lençóis, rolar a pedra, desfeitear soldados romanos especializados e ainda caminhar vários quilómetros? Seria mais fácil ressuscitar! David Strauss, o céptico que criou a teoria da alucinação, afirmou que era impossível a uma pessoa nestas condições afirmar ser o Príncipe da Vida.

Craig cita Josefo para afirmar que uma experiência foi feita, entre os romanos, para ver quanto tempo sobreviveria um homem crucificado, se retirado da cruz, antes de morrer. A maioria das cobaias morreu mal chegou aos braços de quem os tirou da cruz. Os restantes morreriam pouco tempo depois, mesmo com os melhores cuidados médicos possíveis da época[9].

 

Teoria da alucinação

Enunciada pelo céptico austríaco David Strauss, afirma que os discípulos sentiram tanto a falta do seu mestre, que começaram a imaginar tê-lo visto e ouvido. Ou seja, os discípulos experimentaram alucinações, visões ou ilusões, algo subjectivo, fruto das suas mentes perturbadas pela morte de Cristo.

Aceitar esta teoria seria aceitar uma alucinação colectiva de pessoas com personalidades, background e estatutos muito diferentes. Cristo apareceu a mais de 500 pessoas[10], muitas delas viveram no tempo do apóstolo Paulo e confirmaram esse facto. Como é que 500 pessoas tiveram, exactamente, a mesma alucinação?

Medicamente, as alucinações acontecem a pessoas de imaginação fértil e com problemas de nervos. Além disso, ocorrem tipicamente em momentos e lugares particulares, associados aos factos imaginados. No entanto, Cristo apareceu em lugares que nada diziam aos discípulos: Emaús, uma montanha na Galiléia, etc.

Além disso, Craig afirma que era impossível os discípulos alucinarem sobre conceitos que não tinham, porque a ressurreição não fazia parte da concepção judaica, mas sim o arrebatamento em vida[11].

John Stott, citado por Anders[12], afirma que as alucinações fariam sentido se os discípulos tivessem esperança de ver Jesus, mas nem isso acontecia. A descrença invadiu os seus corações, mesmo depois de ver Jesus ressuscitado.

Apesar de leigos, os discípulos seriam inteligentes o suficiente para não alicerçar a sua vida em alucinações, fábulas (II Pedro 1.16), mitos (I Timóteo 1.4), ou seja, algo que não fosse real e palpável, com o seu apogeu em Tomé[13]. Sobre este argumento, Candler pergunta: “Quando é que uma alucinação chega a estimular a fé, a elevar a virtude e a conquistar o mundo”?[14]

Paul Little vai mais longe, ao afirmar, em relação à teoria da alucinação, que a sua aceitação implica “ignorar-se por completo as evidências”[15] da ressurreição, o testemunho dos discípulos e as suas implicações.

 

Teoria da troca de túmulo

Existe ainda a teoria da troca de túmulo. O corpo de Jesus teria sido, inicialmente, colocado no sepulcro de José de Arimatéia, mas o nobre teria mudado de ideias e trocado o corpo de Jesus para uma vala comum. Os discipulos, não avisados do facto, ao ver o sepulcro vazio, inferiram a ressurreição do Mestre.

Craig afirma que, se tal aconteceu, porque é que ninguém corrigiu os discípulos quando estes começaram a anunciar publicamente que Jesus tinha ressuscitado? Além disso, a lei judaica não permitia a troca de sepulturas, exumação ou violação de sepulturas[16]. Esta teoria está intimamente ligada à do “Complô da Páscoa”. Segundo esta teoria, Jesus aspirava ser o Messias e arquitectou um plano para o ser. O vinho misturado com vinagre teria uma droga que adormeceu Jesus que, em conluio, com José de Arimatéia, fugiria do sepulcro[17]. No entanto, a história correu mal por causa da lança e José de Arimatéia, de iniciativa própria, retirou o corpo do sepulcro para encenar a ressurreição, com a ajuda de um anónimo que fingiu ser Jesus ressurrecto.

O filósofo agnóstico australiano Peter Slezak, citado por Craig, contrapõe esta teoria, afirmando que, se Jesus era Deus, para um Deus capaz de criar todo o universo, a ressurreição era uma coisa fácil. Não havia necessidade de orquestar um plano destes.

Para além destas teorias principais, existem ainda as teorias do túmulo errado (Jesus foi sepultado, por engano, noutro lugar ou os discípulos confundiram o túmulo); a teoria da lenda (a história da ressurreição é uma lenda, inventada anos mais tarde); e a da ressurreição espiritual (o corpo de Jesus decompôs e Ele apenas ressuscitou espiritualmente).

 

II. As evidências da ressurreição

William Lane Craig apresenta três evidências introdutórias para a ressurreição: o sepulcro vazio, as aparições (corpóreas e físicas) de Jesus e a convicção dos discípulos. Além disso, afirma que, ao contrário do que seria de esperar, esta não é uma posição conservadora ou evangélica, mas é um facto assumido pela maioria dos críticos neo-testamentários, que aceitam estas três provas, com naturalidade.[18] Estas três evidências interligam-se com os testemunhos da ressurreição, a saber, testemunho histórico, escrito e pessoal.

 

Testemunho histórico

Para começar, se o relato do sepultamento é preciso, as pessoas da época sabiam onde era o sepulcro e poderiam confirmar se as palavras dos discípulos, afirmando que Jesus ressuscitara, eram correctas ou não. O próprio facto de as autoridades preferirem perseguir os cristãos em vez de mostrar, pelo sepulcro, que Jesus estava morto, revela que o sepulcro estava vazio e que o corpo desaparecera.

O túmulo vazio, é segundo McDowell, um facto histórico documentado[19] e prova da ressurreição de Cristo. O autor afirma, ainda, que nunca encontrou algo com tantos testemunhos positivos históricos, literários e legais para sustentar a sua validade. Professores catedráticos, políticos, historiadores, juízes por todo o mundo reconhecem a validade histórica dos relatos bíblicos sobre a ressurreição.

Paul Little[20] cita o cónego Westcott para afirmar que “reunindo todas as provas, não é demais dizer que não há qualquer acontecimento histórico com melhor ou mais variado apoio do que a ressurreição de Cristo”. O autor afirma que “nada, a não ser a prévia admissão de que devia ser falsa (a ressurreição), poderia ter sugerido a ideia de insuficiência de provas que a atestam”.

 

Testemunho escrito

Seria uma saída fácil argumentar que a Bíblia não pode servir como testemunho escrito da ressurreição, por ser tendenciosa. A verdade, no entanto, é que os documentos do Novo Testamento são, de longe, os mais autênticos desde a antiguidade, no que diz respeito a números de exemplares existentes e a tempo decorrido entre as cópias mais antigas e os manuscritos originais. Max Anders, citando, Sir Frederic Kenyon, ex-director do Museu Britânico afirma que “tanto a autenticade, como a integridade, de modo geral, dos livros do Novo Testamento, podem ser consideradas definitivamente comprovadas”[21]. Josh McDowell, em “Evidência que exige um Veredicto”, era capaz de provar 14 mil manuscritos do Novo Testamento. Em “Evidências da Ressurreição de Cristo”, já era capaz de provar 24,633[22].

McDowell cita F.F.Bruce, que afirma: “a evidência dos textos do Novo Testamento é muito maior do que muitas obras de autores clássicos, cuja autenticidade ninguém sonha em questionar”. Além disso, o autor de comentários bíblicos diz que “se o Novo Testamento fosse uma colecção de escritos scculares, sua autenticidade de modo geral seria considerada fora de qualquer dúvida”.

Josh McDowell cita ainda Clark Pinnock: “Não existe outro documento no mundo antigo, assim autenticado por um grupo tão excelente de testemunhas textuais e históricas, apresentando uma colecção tão extraordinária de datas e factos, que nos permita tomar uma decisão inteligente. Uma pessoa honesta não pode recusar uma fonte desta natureza. O ceticismo, em relação às evidências históricas do cristianismo, está baseado num preconceito irracional”[23].

Sendo assim, a Bíblia afirma que havia provas suficientes para a ressurreição de Cristo. Em Atos 1.3, Lucas diz a Teófilo que Jesus se apresentou aos discípulos, com “provas incontestáveis”. De Haan afirma que esta é mais do que uma afirmação histórica. É um desafio a todos os críticos que haveriam, posteriormente, de negar o sentido literal da ressurreição corpórea de Jesus. Lucas, não um indivíduo qualquer, mas um médico culto, e conhecido por ser meticuloso, afirma que Jesus estava vivo, fora visto por um grande número de pessoas e que a ressurreição podia ser confirmada com provas incontestáveis. E Lucas di-lo, não muitos anos depois, mas quando essas mesmas testemunhas oculares ainda eram vivas e o poderiam contradizer. As palavras de Lucas não sofreram qualquer objecção entre a sociedade daquele tempo, porque ninguém conseguia negar o facto[24].

Pedro, perante os seus pares, numa grande multidão, afirmou que, ao Jesus que os judeus tinham morto, na cruz, “…Deus o ressuscitou”, sendo que ele e os demais discípulos eram “testemunhas” desse facto (Actos 2.32).

Craig afirma que, se o testemunho da ressurreição fosse uma invenção, não teriam os autores da Bíblia se preocupado em não colocar mulheres como testemunhas, visto o seu testemunho ser considerado nulo, pelas autoridades, devido ao status social das mulheres?[25]

Além disso, existem outros materiais históricos que dão apoio ao testemunho intrínseco das Escrituras. O exame cuidado da literatura criada na mesma época da Bíblia confirma a veracidade histórica das narrativas do Novo Testamento. Anders refere o testemunho do arqueólogo Sir William M. Ramsay de que “a história de Lucas é incomparável no que diz respeito à sua veracidade”. Anders também cita A.M. Sherwin-White, que afirmou sobre Actos que “qualquer tentativa de rejeitar a sua historicidade básica até mesmo em questões de detalhes deve agora parecer absurda”[26].

William Lane Craig afirma que existem fontes independentes que narram o sepultamento de Jesus, além da Bíblia[27]. O sepultamento de Jesus é um facto escrito consumado e que liga directamente à Sua ressurreição.

 

Testemunho pessoal

Frank Morrison, advogado britânico dos anos 30, considerava a ressurreição de Cristo uma fábula para criança. Decidido a desmascarar a lenda de um Jesus ressurrecto, começou a investigar. A sua investigação culminou na obra “Who Moved the Stone?”, um testemunho da sua própria conversão a Cristo, depois de chegar à conclusão que a Sua ressurreição era inegável.

Neste livro, Morrison usa[28] os exemplos de Pedro, Tiago (irmão de Jesus) e Paulo como testemunhas pessoais fundamentais acerca da ressurreição.

O autor pergunta como é que alguém a quem Jesus chamou Satanás, que o Mestre descobriu que o iria trair, um discípulo que fugiu na hora da verdade, poderia se ter tornado um dos líderes do movimento focado em Cristo, ao ponto de sofrer abundantemente por isso e inclusive, segundo a tradição, morrer executado por causa dessa fé? Teria de ser porque viu e experimentou o Cristo ressuscitado. E, mesmo aqueles que dizem que a sua personalidade intempestiva, que faz e fala antes de pensar, poderia explicar os seus actos que o levaram a sofrer por uma causa aparentemente inútil, têm de admitir que Pedro não passava de um pescador. Seria pouco inteligente, com pouca ou nenhuma capacidade de estratégia, de gestão de recursos humanos e, obviamente, nenhum poder de feitiçaria, medicina, ou algo semelhante, para realizar os sermões que realizava, operar os milagres que operou e gerir a igreja que geriu. Este Pedro, admitiu, no seu primeiro discurso, que Deus ressuscitou Jesus dos mortos e o fez Senhor e Cristo.

Quanto a Tiago, é o próprio Josefo que escreve que o irmão de Jesus foi morto à pedrada por defender a fé cristã. O mesmo Tiago que negou a divindade de Jesus, antes da Sua morte, rejeitou os Seus feitos e o ostracizou. Como é que este homem, frio e hostil perante Jesus, que parecia odeiar aquele que vinha da mesma mãe, se tornou conhecido por todos como o “irmão de Jesus”, uma das figuras principais da igreja em Jerusalém (Actos 15 e 21) e que sofreu, até à morte pela Sua causa?

Craig, citando Hans Grass, feroz crítico do Novo Testamento, afirma que a conversão de Tiago é uma das provas mais irrefutáveis da ressurreição de Cristo[29].

Diz-se que os cristãos escreveram, no seu túmulo, “este foi uma verdadeira testemunha, tanto para judeus como para gregos, que Jesus é o Cristo”. Testemunho mais imparcial do que este, só um, o de Paulo. Como é que um fanático pela religião judaica, que moveu tudo o que podia e que com todas as suas forças lutou para que a recém-criada seita cristã fosse aniquilada, ao ponto de mandar matar, sem apelo nem agravo, se tornou no maior arauto, defensor e continuador da causa do carpinteiro nazareno?

 

III. Argumentos da ressurreição

Para este ponto, usaremos os sete argumentos de De Haan a favor da ressurreição[30]: lógica, coerência, psicologia, filosofia, história, experiência, autoridade.

No primeiro, Haan afirma que a vida de Jesus (irrepreensível e exemplar) e o Seu legado mostram, logicamente, de forma conclusiva, que a morte não marcou o seu fim.

O argumento seguinte mostra que era absolutamente incoerente aceitar relatos históricos de fontes menos confiáveis e não aceitar os testemunhos oculares da ressurreição de Cristo. Além disso, se os divulgadores da informação da ressurreição de Cristo foram fidedignos no que toca a relatos de outros assuntos, sendo exactos em todos os aspectos, porque abrir uma excepção no caso da ressurreição? Provas arqueológicas mostram que os autores bíblicos foram precisos no que toca a localizações geográficas, informações históricas e aspectos culturais. Logicamente, não mentiriam no que toca a Jesus ter permanecido morto. Se admitirmos que tudo não passou de um plano maquiavélico, então necessitamos admitir que toda a História pode estar errada, caso historiadores e relatadores tomassem a mesma atitude.

Mais do que isso, o argumento psicológico, de que a verdade da ressurreição mudou vidas de milhões de pessoas, ao longo dos séculos, deve pesar e muito. Basta começar pela postura dos discípulos antes e depois de Jesus morrer. Os medrosos, incrédulos e desconfiados doze, quando Jesus estava lá, tornaram-se intrépidos, corajosos e convictos apóstolos, depois de Jesus morrer. Paulo e os irmãos de Jesus são outros exemplos da transformação operada pela verdade da ressurreição.

O argumento histórico aborda o que se passou ao longo dos seguintes 2000 anos, com o mundo, com a igreja, com as pessoas, e a influência de Jesus em todas as coisas. De Haan afirma que “seria difícil um morto” ou “um louco” ter esta influência. Mas um vivo não. Já o argumento da experiência mostra que, quem experimenta o Cristo ressuscitado, sabe que Ele ressuscitou. Paul Little aborda o mesmo assunto, apelidando-o de “prova contemporânea e pessoal da ressurreição”.

Finalmente, o argumento da autoridade. De Haan afirma que, se a Bíblia, a palavra de Deus, que Deus guardou ao longo de milhares de anos, afirma que Jesus ressuscitou, a autoridade bíblica não deve ser desprezada.

 

IV. As implicações da ressurreição

É fundamental afirmar a importância da ressurreição em todo o pensamento cristão. Ela é o clímax do cristianismo. Sem ela, o cristianismo seria mais um religião. Sem ela, o cristianismo não teria chegado aos nossos dias. Anísio Batista Dantas afirma que uma fé cristã não firmada na ressurreição de Cristo não pode ser chamada fé e muito menos cristã[31].

É no inter-relacionamento entre morte, ressurreição e segunda vinda que se manifesta a esperança do crente salvo.

Além disso, há promessas de Deus ricas para o crente que só são válidas por causa da ressurreição. A ressurreição não encerrou as promessas referentes a Cristo e aos seus. A derradeira delas é fazer dos crentes participantes dessa mesma ressurreição, no fim dos tempos. Dantas afirma que o crente espera ressuscitar e ascender aos céus, tal como Cristo fez[32].

A ressurreição de Cristo dá significado a toda a história da redenção, a todo o plano de Deus, a toda a Bíblia. Sem ressurreição, o nascimento de Cristo não teria significado, os seus esforços teriam sido inutéis, a sua morte teria sido uma derrota, uma tragédia infrutífera.

De Haan afirma que o símbolo do cristianismo não deveria ser uma cruz, mas um túmulo vazio[33], tal a importância da ressurreição no plano redentor de Deus. A morte vicária de Cristo é, aliás, apenas uma parte do plano. De Haan afirma que “a cruz, sozinha, não pode salvar ninguém”[34]. O clímax do Evangelho reside no facto de que Jesus não apenas morreu, mas ressuscitou, provando a eficação do seu sacrifício. A ressurreição é a prova que todos os pecados foram expiados na cruz. Ressuscitando, Jesus provou que a obra de Deus para salvação do Homem ficou completa e que o ser humano tinha um caminho aberto (o próprio Jesus, mediador) para se reconciliar com o seu Criador. A morte de Cristo apenas serviria para nos livrar do inferno, mas não nos levava para o Céu. É a ressurreição que possibilita a comunhão com Deus.

A origem do cristianismo, segundo Craig, depende da crença dos primeiros discípulos de que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos. Essa ressurreição reverteu a catásfrofe da crucificação e fez de Jesus o Messias profetizado nos escritos antigos, capaz de salvar e reinar.

Candler cita Bushnell para dizer que “o mundo está mudado e já não é como era, não voltou a ser o mesmo que era, desde que Jesus” subiu ao céu. “O ambiente está impregnado de aroma celestial e em suas brisas se percebe algo de outros mundos”[35].

 

Conclusão

A ressurreição de Cristo é um facto inegável da história do mundo, decisor para o futuro da humanidade, e transformador para o dia-a-dia.

Torna-se claro que os discipulos não roubaram (não arriscaram a morte por um vivo, quanto mais por um morto),  os inimigos não levaram (interessava que Jesus estivesse sepultado) e os animais não comeram (os soldados morreriam se deixassem) o corpo. A alucinação não existiu e os testemunhos são verdadeiros. Ele, de facto, morreu e ressuscitou. E a história não terminou aí.

Jesus nunca escreveu um livro. No entanto, o acervo de todos os livros por Ele inspirados, referentes à sua vida, morte e ressurreição, é maior do que todos os outros juntos. Jesus nunca fundou uma escola. No entanto, tem sido de inspiração de conquista em todos os níveis de conhecimento e na civilização. A Sua influência fez com que as nações se desenvolvessem. Jesus nunca escreveu uma canção. Mas, milhões de seres humanos criam e cantam as mais belas canções em homenagem a Ele[36].

A mensagem do cristianismo é a mensagem de um Salvador ressurrecto. Este ponto faz do cristianismo único, algo não incluído entre as religiões do mundo. O cristianismo não é uma religião, mas uma pessoa viva: Cristo.

Não somos capazes de avaliar, na totalidade, os efeitos da ressureição de Jesus, mas sabemos que a via da prova da sua ressurreição, pela experiência, está aberta a qualquer pessoa. Se Jesus ressuscitou, está vivo hoje, pronto a encher e transformar aqueles que o convidam a entrar nas suas vidas.

Em suma, a importância da ressurreição resume-se a isso mesmo. Duas palavras apenas: vidas transformadas.

“Se, com a tua boca, confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.

Romanos 10.9

 

Bibliografia

 

ANDERS, Max. Jesus em 12 lições. Editora Vida. São Paulo, 1990.

CANDLER, Warren A. Verdade ou Mito – Evidências do Cristianismo. Comissão Central de Literatura. Teresópolis, 1961.

CRAIG, William Lane. Em Guarda. Vida Nova. São Paulo, 2011.

DANTAS, Anísio Batista. A Ressurreição de Jesus Cristo. CPAD. Rio de Janeiro, 1992.

DE HAAN, M.R. O Túmulo Vazio. Imprensa Batista Regular. São Paulo, 1992.

LITTLE, Paul E. Saiba o que você crê. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 1991.

MCDOWELL, Josh. As Evidências da Ressurreição de Cristo. Editora Candeia. São Paulo, 1994.

MCDOWELL, Josh. Evidência que exige um veredicto. Editora Candeia. São Paulo, 1989.

MORRISON, Frank. Who moved the stone? Faber Editions. Londres, 1965.


[1] LITTLE, p. 73.

[2] CRAIG, p. 273.

[3] LITTLE, p. 73.

[4] CANDLER, p. 98.

[5] CRAIG, p. 244.

[6] CRAIG, p. 274.

[7] ANDERS, p. 189.

[8] João 19.33-34.

[9] CRAIG, p. 279.

[10] I Coríntios 15.6.

[11] CRAIG, p. 283.

[12] ANDERS, p. 190.

[13] “Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei”. – João 20.

[14] CANDLER, p. 99.

[15] LITTLE, p. 78.

[16] CRAIG, p. 281.

[17] MCDOWELL, p. 112.

[18] CRAIG, p. 269.

[19] MCDOWELL, p. 120.

[20] LITTLE, p. 79.

[21] ANDERS, p. 192.

[22] MCDOWELL, p. 44.

[23] MCDOWELL, p. 23.

[24] DE HAAN, p. 14.

[25] CRAIG, p. 252.

[26] ANDERS, p. 193.

[27] CRAIG, p. 246.

[28] MORRISON, p. 117.

[29] CRAIG, p. 260.

[30] DE HAAN, p. 18.

[31] DANTAS, p. 146.

[32] DANTAS, p. 148.

[33] DE HAAN, p. 8.

[34] DE HAAN, p.10.

[35] CANDLER, p. 99.

[36] DANTAS, p. 150.

Deixar uma resposta