Existência de Deus – argumento ontológico

EXISTÊNCIA DE DEUS

ARGUMENTO ONTOLÓGICO

Santo Anselmo esforçou-se por provar, através da razão, a existência de Deus. Começando por adoptar a máxima de Stº Agostinho “Credo ut Inteligent” (creio para entender) desenvolveu um determinado raciocínio. Assim, na sua obra “Proslogion” ele expõe a prova da existência de Deus designada por ontológica.

Usando a Razão ao serviço da Fé, Anselmo afirmava: “Deus é o maior que se pode conceber. Este Ser infinitamente grande, não pode estar na inteligência, isto é, não pode simplesmente ser concebido e pensado. Se assim fosse caberia pensar noutro ser tão grande como Ele”. Em conclusão, Santo Anselmo descreve Deus como “Aquilo que é maior do que qualquer coisa que se pode pensar”.

No seguimento do raciocínio de Anselmo podemos considerar o Senhor Nosso Deus como o Infinito ou Linha Recta, sem princípio nem fim. Em Matemática trabalhamos com números finitos e de vez em quando entramos com o Infinito, embora não saibamos exactamente o que isso é. Estipulamos que qualquer número a dividir por zero dá infinito, mas não sabemos o que estamos a fazer. Pasteur dizia que aqueles que admitiam a existência do Infinito demonstravam mais fé do que os crentes de todas as religiões do mundo!

Aceitamos o infinito em Matemática por fé ou conveniência? Como será uma recta, sem princípio nem fim? Como poderemos entender a recta e a semi-recta se nós apenas entendemos e representamos segmentos de recta?

Somos finitos, mortais e raciocinamos em termos finitos. Vemos nascer e morrer plantas, animais e pessoas. Como entenderíamos a recta?

Pegando no segmento de recta, que somos nós, e levando aos limites… chegaríamos à Recta, que é Deus, na Grande Geometria da Vida! Sem princípio nem fim, Deus representa a Recta também em santidade e justiça, poder, amor e todas as boas características que possamos imaginar.

Será lógico usarmos a Razão para explicar a fé? Eu creio que temos, pelo menos, tanto direito de usar a Razão para defender a Fé, como os ditos ateus a usam para atacar a existência de Deus, a Sua Palavra e o Seu Bendito Filho, Senhor Jesus Cristo. Porém, para encontrar Deus e aceitar Jesus como único e suficiente Salvador é apenas com o coração. Dizia Alfred Montapert: “É com o coração e não com o intelecto que encontramos Deus. O homem é espiritual. Nenhuma corrente de pensamento poderá alterar os factos ou abolir as leis do universo espiritual”.

 

ARGUMENTOS DE TOMÁS DE AQUINO

É natural que o argumento de Stº Anselmo tenha provocado várias críticas e refutações. Isto de imaginar um Ser maior do que se possa imaginar… acaba por ser inimaginável!

Em resposta ao argumento de Anselmo, o monge francês Gaunilo de Marmoutiers argumentou que poderia imaginar as ilhas mais perfeitas, mas isso não significaria que elas existissem. A existência não é uma qualidade que um objecto possa possuir ou não. G. E. Moore ressaltou este facto através de duas frases: “Alguns tigres mansos não rugem” e “alguns tigres mansos não existem”, apesar de esta última frase constituir um contra censo. Neste caso estava a admitir-se a não existência de tigres mansos! Por isso nem nos surpreendia (absolutamente nada) que eles não rugissem!

O argumento de Anselmo foi refutado por Aquino e reformulado por Kant e Leibnitz de modo a adaptar-se às suas próprias filosofias. Karl Barth argumentou que a intenção de Anselmo não era provar a existência de Deus somente através da razão, sem qualquer apelo à experiência e à revelação cristã. O seu argumento pretendia demonstrar que não podemos negar a existência de Deus se soubermos quem Ele é, ou seja, o Ser mais perfeito.

S. Tomás de Aquino criticou o argumento ontológico de santo Anselmo, encontrando outra maneira de provar racionalmente a existência de Deus, partindo dos seres criados para o Criador.

Primeira Prova (Cosmológica ou do movimento): Tudo o que se move tem algo que o mova, que o impulsione. Este primeiro motor não movido por nenhum outro é Deus. O princípio apontado por Aquino é quase o mesmo de Aristóteles, só que este pressupunha a existência de um Deus diferente do Deus dos cristãos.

Segunda Prova (Pela casualidade): Tudo o que existe tem necessariamente uma causa. Na série de causas há que reconhecer uma causa primeira, simultaneamente incausada e explicativa de todas as outras causas – é Deus.

Terceira Prova (pela relação entre o possível e o necessário): Os seres existentes não têm em si mesmos a razão da sua existência. É outro ser que lhes confere essa existência e necessidade. Esse outro Ser terá que ser necessário por Si mesmo – é Deus.

Quarta Prova (Pelos graus de perfeição): A perfeição neste mundo é relativa. O absoluto de perfeição está para além das coisas existentes e é causa da perfeição que as coisas parcelarmente manifestam. Deus é a Suma Perfeição.

Quinta Prova (Pelo governo do mundo): Todas as coisas, embora privadas de autonomia, estão orientadas para esse fim. Essa orientação é-lhes imprimida por um Ser dotado de inteligência absoluta, organizador da ordem do mundo – esse Ser é Deus (1).

Ao contrário de santo Anselmo e S. Tomás de Aquino, há filósofos que não aceitam qualquer espécie de justificação racional para o campo de fé. Por exemplo, o filósofo dinamarquês Kierkegaard (1813-1855) era hostil à Teologia dos sábios. Dizia ele: “A fé não tem necessidade de prova e deve olhá-la como sua inimiga” (1).

Para Kierkegaard a eternidade e a infinidade de Deus eram reais e incompreensíveis. Por isso não se podia falar de Deus, formulando uma Teologia. A Teologia seria uma objectivação de Deus, utilizando a mesma linguagem que o homem emprega para as coisas. O que se impõe não é a razão, mas a prece e a súplica.

Com o devido respeito por todos os filósofos, acredito que é somente com o coração que se poderá encontrar Deus. Mas também aceito que possamos dizer algo baseado na Razão, que seja razoável e entendível para ajudar e reforçar a nossa fé, principalmente para a despertar!

Tendendo para a conclusão deste capítulo, apresentamos uma afirmação de Alfred Montapert: “O Universo está centrado em Deus. O Seu cuidado infinito está demonstrado no esquema causa-efeito, acção-reacção, que faz parte intrínseca do Universo. A Natureza não é mais que o nome de um efeito cuja causa é Deus” (2).

Deus, sendo um Ser Perfeito, basta-Se a Si mesmo para existir. Descartes afirmou: “Ao concebermos uma coisa que exista de tal modo que não precisa senão de si mesmo para existir; propriamente falando, só Deus assim é” (3).

(1)           – Conceição Pinto da Rocha e João Baptista Magalhães, Filosofia, Contraponto Edições, Porto, 1988, pgs. 278 e 279.

(2)           – Alfred Montapert, A Suprema Filosofia do Homem, Brasília Editora, Porto, 1973, pg. 69

(3)           –Descartes, in Princípios da Filosofia.

 

Agostinho Soares dos Santos

 

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