CRISTO E O SEU CRISTIANISMO NO SERMÃO DO MONTE

JTP8Encontramos nos Evangelhos Cristo nas ruas como O encontramos no seu Sermão da Montanha.
“No princípio era o Verbo” – escreve João no prólogo do seu Evangelho-  e isso nos ajuda a entender que Jesus Cristo como o Lógos é a totalidade divina encarnada: Palavra e Vida, Pensamento e Acção.
Em Cristo, o Nous( razão, inteligência, espirito) não era alheio ao Seu corpo, porque “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
O que o Filho do Homem vivia não era diverso do que pensava e de como agia na Sua divina perfeição a favor do Homem.
E isso também sublima a dimensão do Ser Humano, como criação divina.
É que se a Matéria (seguindo o mecanicismo de Spencer) fosse o mais importante na composição do Homem, como um produto mecânico, em detrimento do Espírito e da Consciência, tanto fazia um homem ou um gorila terem assinado a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ou, muito antes, Jesus Cristo ter pronunciado o Sermão da Montanha.

O Sermão da Montanha
Antes de conter dogmas para a convivência ética dos homens uns com os outros, Jesus Cristo eternizou nesse Sermão no alto da Montanha a Moral dinâmica, que conduz a uma experiência mística, de relação quotidiana do homem com Deus.
Um filósofo europeu francês do Século XX, Henri Bergson, entendeu perfeitamente isso e fez um inestimável favor ao Cristianismo condenando o materialismo e o mecanicismo da vida, porque o ser humano não é um produto mecânico da matéria.
Jesus Cristo desceu das altitudes do seu pensamento como Deus para junto dos homens com o Sermão do Monte, que é uma Carta de Princípios. Não um conjunto de dogmas/preceitos estáticos; Bergson referia que o carácter do genuíno Cristianismo era dinâmico. A perfeição evangélica está, segundo o filósofo que foi considerado místico, no “sermão sobre a montanha, com suas normas aparentemente desconcertantes que devem tornar-se realidade crescente na conduta prática do cristão”.
O início do sermão da montanha, que terá logo nesse dia e ao longo dos séculos desconcertado muita gente, “Bem-aventurados os pobres de espírito” (5,3) termina com o apelo à perfeição: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” (5,48)
O começo e o final, ou melhor, os começos e os finais do Sermão descrito nos Evangelhos de Mateus e de Lucas, reflectem as finalidades últimas e universais do discurso no monte.
A primeira dessas finalidades é que não se tratava de um sermão para a Igreja (Cristã, obviamente) porque a mesma não havia sido revelada ou fundada ainda.
A segunda, de acordo com os melhores exegetas, consistia “num esboço de princípios” para o reino messiânico, como esse reino foi rejeitado, então aplica-se todo o conteúdo ético e moral do discurso basicamente à religião Cristã, ao Cristianismo com Cristo.
Se assim não fosse, ambos os evangelistas escritores não o teriam relatado para a eternidade, teria apenas ficado na oralidade contextualizada da Judeia contemporânea de Jesus Cristo.
Perante o Sermão da Montanha seria legítimo esperar do Verbo excelentes Escritos, quando lemos nos Evangelhos “a oração sacerdotal”, “Não se turbe o vosso coração”,  “Eu sou a videira verdadeira” ou “Tenho vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis”. Ou as célebres três parábolas no Evangelho de Lucas.
A verdade é que Jesus Cristo não escreveu nada, e se eu gostasse de lugares-comuns diria que no entanto inspirou toda a Bíblia, o que se sabe da sua escrita está somente no mistério das palavras que redigiu no chão perante a mulher adúltera e seus acusadores.
O Sermão da montanha, chamado assim tardiamente por um comentário de Santo Agostinho, pronunciado perto de Cafarnaum na Galileia, deve ser tomado em pé de igualdade com a lei mosaica do Monte de Sinai, no que concerne à ética, à moral, e aos relacionamentos dos homens entre si e com Deus.

A Ética do Sermão
O Sermão do Monte teve sempre uma ética social em risco, pela condição humana e porque os homens o quiseram sempre anular ab ovo, manifestando-se tragicamente esse desejo desde o princípio do século XX.
Não há tensões entre o Evangelho que preconiza e a Ética social que estabelece. Espiritualidade e militância não se anulam.  A aplicação prática do Sermão na vivência do cristão desmente desde a sua publicação nos Evangelhos, no século I, o que Nietzsche viria a afirmar séculos depois, que “no fundo só existiu um cristão, e ele morreu na cruz.” ( in Anticristo)
O teólogo e mártir do nazismo, Dietrich Bonhoeffer considerava o Sermão da Montanha no plano da Ética como um “evento da reconciliação do mundo com Deus através de Jesus Cristo” para os chamados agirem dentro da história com responsabilidade cristã. E por isso também o considerava no plano do Discipulado. Bonhoeffer escreveu num dos seus mais famosos livros “Discipulado” que “a resposta do discípulo não é uma confissão oral da fé em Jesus, mas sim um acto de obediência”.
Os pobres de espírito aceitam a perda de todas as coisas, especialmente a perda de si, de forma que eles podem seguir o Cristo
O Sermão requer antes dos joelhos no chão, o levantar da inércia da religião e seguir incondicionalmente, sem títulos nem prebendas,  Quem chamou: Jesus Cristo, para agir na História.
Este caminho não é para entusiastas da religião cristã- como diria o autor de “Resistência e Submissão” -, mas para aqueles que sabem que o amor / ódio do mundo os fará padecer.

© João Tomaz Parreira

A SEMIÓTICA ANTECIPADA PELO APÓSTOLO PAULO

JTP7“Há sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo, nenhum deles, contudo, sem sentido.” (Paulo aos Coríntios)

Filósofos da linguagem tiveram razão ao determinar nos inícios do século passado, que seria inconcebível a vida social sem a existência de signos de comunicação. O entendimento humano não se faz sem esses sinais da linguagem, compreensivelmente simples, as palavras.
Por uma razão cultural aplicada à espiritualidade manifestada nos dons espirituais na Igreja, Paulo antecipou-se a tais estudos e escreveu aos Coríntios (14,10) uma frase cheia de sabedoria e da futura ciência linguística: “ Há sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo, nenhum deles, contudo, sem sentido.”
A tradução de O Livro (a Bíblia para Hoje) entreabre a contextualização da época em que pouco se saberia sobre as línguas e os povos: “Suponho que haverá centenas de línguas diferentes neste mundo”.  Hoje, sabe-se muito das escritas ideográficas e silábicas da Mesopotâmia, signos-palavras, escrita original e obscura, dos milénios antes de Cristo, no entanto de invenção tardia. “Uma vez que a escrita não satisfaz uma necessidade elementar da vida do homem” ( “A Escrita”, Marcel Cohen), as mensagens começaram por ser, obvia e comprovadamente, verbais.
A versão da “God News Bible”, das Sociedades Bíblicas britânica e americana, de 1976, apresenta um esclarecedor termo para ajudar a entender a metáfora “vozes”: “There are many diferente languages in the world” e nenhuma linguagem está desprovida de significado.
Curiosa versão é, de igual modo, a tradução em português moderno do “Novo Testamento”, da nossa Sociedade Bíblica”, 1978: “ Existem não sei quantas línguas no mundo e todas têm o seu significado.”
Assim confirmamos que o autor da Carta aos Coríntios tinha a certeza de que era preciso saber o sentido daquilo que se dizia, isto é, era inconcebível e infrutífero não perceber a linguagem do falante interlocutor.
E estava lançada a ideia da futura semiologia. Cada vez que há comunicação, pronuncia-se uma mensagem, na ciência da linguística cabe à semiologia descrever um a um cada aspecto estrutural e funcional da mesma.
A semiologia ou semiótica é, de um modo geral, o estudo dos signos da linguagem; o próprio grego do Novo Testamento regista este vocábulo, “semêion”, signo, sinal, com os quais há comunicação. Se os não entendermos, não compreenderemos a mensagem. Exemplo comummente conhecido? O sinal de trânsito ou signo universal “Stop”, que tem uma significação precisa: a obrigação de Parar.

Tantos géneros de vozes

[14,10] TOSAUTA EI TUKHOI GENÊ PHÔNÔN EISIN EN KOSMÔ KAI OUDEN APHÔNON [14,11] EAN OUN MÊ EIDÔ TÊN DUNAMIN TÊS PHÔNÊS ESOMAI TÔ LALOUNTI BARBAROS KAI O LALÔN EN EMOI BARBAROS. (a transliteração dos versículos da língua grega do NT)

Todo o capítulo 14, de que esta porção bíblica faz parte, é um texto epistolar teológico porque desvenda revelações de Deus para a Sua Igreja, doutrinário porque ensina a Ordem mesmo no exercício dos dons espirituais, estabelece regras para uma verdadeira comunidade pentecostal, e não deixa de aflorar, de um modo simples, a ciência da linguagem, que ainda não se chamava linguística. Só na segunda década do século XX, em Praga, se começou a fazer reflexões sobre a linguagem.
Porém o apóstolo já distinguia que os fonemas eram sinais linguísticos que estavam para lá da acústica dos sons, tinham que ter um sentido para que houvesse verdadeira comunicação e, assim, mensagem. Sempre sem perder a visão de que o aspecto pragmático da actividade linguística é a conversação.
Paulo é peremptório e claro quanto à compreensão das línguas por um “indouto”, como lhe chamava no sentido de estrangeiro que não entenderia uma língua “local”.
Com efeito, Paulo escreve aos crentes de Corinto um princípio básico da semiótica: “ Se eu pois ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e, ele, estrangeiro para mim.” (Iª. 14,11).
Não deixa de ser interessante o vocábulo grego utilizado: “dunamin”, que conhecemos espiritualmente na linguagem bíblica como “poder”, mas que quer dizer também “significação”, “sentido expressivo”, a capacidade de comunicar.
Paulo entendia e ensinava que as línguas estranhas (a glossolalia) não interagiam socialmente , na comunidade eclesial,  se não houvesse quem interpretasse.  Com base nestes versículos da Carta aos Coríntios, o ensino hoje sobre esta matéria deve ser o mesmo do Apóstolo há vinte séculos atrás.

© João Tomaz Parreira

SER É AMAR

RicardoRosa_2“Ser é amar”. Esta é uma das frases que sintetizam o pensamento de Emmanuel Mounier, filósofo cristão no séc. XX. E em conjunto com esta ideia, Mounier aponta ainda mais algumas máximas que vieram formular o Personalismo.

Em conjunto com a prática do amor, Mounier defende que é quando o Homem se descentraliza de si mesmo, que então ama verdadeiramente o próximo e se abre às necessidades do próximo. A par deste amor e interesse, surge também a comunicação com o próximo. Uma atitude que leva a que o Homem não viva num isolamento egoísta, nem numa auto-diluição.

No entanto, aquilo que Mounier formula como pensamento, é-nos apresentado pelas Escrituras, nomeadamente no livro de Actos dos Apóstolos. Após o discurso pentecostal de Pedro, podemos ler em Actos 2:42-47 a forma primordial filosófica do Personalismo.

O v.42 menciona a participação colectiva dos crentes de Jerusalém no ensino apostólico, na união fraterna, no partir do pão e nas orações. Não só aquela comunidade procurava viver do modo comprometido o ensino que Jesus delegara aos apóstolos, como também se esforçava para viver de modo a transmitir Cristo no seu viver: uma união que ia desde a intimidade da oração e da participação na celebração conjunta ao amor simples. Aplicando a citação de Mounier ao conteúdo relatado por Lucas, a igreja de Jerusalém era uma comunidade em Cristo porque amava.

Era uma comunidade exemplar (com todos os seus defeitos e virtudes), que se abria à necessidade do próximo (v.44), que amava verdadeiramente e com amor cativante (v.47b) e que se descentralizava de si mesma (v.45). Tudo isto decorre não por mérito do ser humano em si, nem por qualquer formulação filosófica fantástica, mas pelo poder de Cristo, manifesto na acção do Espírito Santo, que é pregado e anunciado através do Evangelho.

Mounier não procurava descartar o indivíduo da sua responsabilidade de amar e de ser responsabilizado (ao contrário de Sartre que afirmava que ”o Inferno são os outros”). Ele releva a pessoa, tal como Cristo o faz ao valorizar o valor da vida humana (João 5:1-18), trazendo à Filosofia do séc. XX a raiz cristã do ágape. Mas tudo isto só foi possível a Mounier por que conheceu Cristo e é na Palavra Incarnada que ele bebe a sua estruturação do pensamento.

De facto, Jesus, não tendo qualquer pretensão em ser filósofo criou um cisma no pensamento judaico da época (sem nunca deixar de valorizar as Escrituras e a Lei). É Ele quem resgata da malha ritualista intrincada o valor do amor divino, é Ele quem recupera o verdadeiro sentido de sacrifício com a Cruz do Calvário. É em Cristo que encontramos a valorização máxima da pessoa! Aquele que é uma Pessoa da Trindade, valoriza a criatura enquanto pessoa mais do que enquanto indivíduo . Cristo personaliza o Homem através do Seu sacrifício e comunica com ele com base no Seu Evangelho. Jesus é Deus Feito Homem e vem suprir a necessidade humana de restauração (João 3:16, Romanos 3:23,24), vem valorizar aquilo que o pecado outrora desvirtuara: um relacionamento com o Pai e a importância da vida de cada um de nós.

É Ele que nos resgata da dependência do materialismo e nos faz viver na dependência do que não vemos mas confiamos (Hebreus 11:1), que nos afasta do egoísmo pessoal e nos ajunta em comunidade viva e santa (como a de Actos 2:42-47).

A sociedade idealizada por Mounier é a vivência correcta do Reino. Um local de paz, justiça e alegria no Espírito Santo (Romanos 14:174), habitado por quem vive à imagem e semelhança de Deus (Colossenses 2:6, 1ª João 2:6).

É na Pessoa Incarnada que Mounier bebe influência para personalizar o Homem. Não deixemos nós de beber d’Ele, fonte de água viva, de água viva e busquemos juntar a máxima do filósofo com o mandamento de Jesus: “Se tiverem amor uns aos outros, toda a gente reconhecerá que são meus discípulos” (João 13:35, BPT)

Ricardo Jorge Mendes Rosa

MOBY DICK – A SOBERANIA SOLITÁRIA DO MAL

JTP6“Chamem-me Ismael. (Call me Ishmael)” Assim começa o grande romance “Moby Dick” de Herman Melville (1819-1891), quase em estilo bíblico- vejam-se os inícios dos livros dos profetas e as epístolas, salvaguardadas as distâncias da semântica bíblica.
Um dos mais representativos  da literatura americana e que abriu caminho ao moderno romance naquele continente, “Moby Dick” é literatura imaginativa onde pontifica a soberania de uma alma solitária. Por isto, de modo nenhum foi legítimo a obra ter sido apresentada no nosso país na primeira metade do século passado como um livro para adolescentes, inserido na literatura infanto-juvenil.
Fica aquém da profundidade psicológica desta obra-prima, a sinopse simplista segundo a qual o longo romance é “a história da busca do capitão Ahab para se vingar da baleia que lhe arrancou uma perna”.
Herman Melville logrou conceber uma  personagem  que o primeiro epíteto que a crítica na época, em 1881, lhe conferiu,  foi “uma aberração” e “um louco”. Uma obsessão pelo mar e a caça de cetáceos são antiquíssimas, mesmo em Melville, que escreve no seu romance primeiro “Taipi”: “ Seis meses no mar! Sim, leitor, aqui onde estou, tenho seis meses sem ver terra; navegando atrás da baleia do espermacete sob o sol dilacerante do Trópico”.
As leituras, teológica e outras
No entanto, o capitão Ahab propõe leituras mais profundas, sob um prisma psicológico-filosófico, e sob a lente da teologia e do irrefragável problema do Mal,  se quisermos ir para lá do mundo da aventura,  tomando até a perspectiva bíblica do livro de Jonas. Estes exemplos podem multiplicar-se em outras metáforas, como a subliminar na narrativa do encontro no oceano com outro baleeiro, o “Rachel”. A circunstância de que neste barco há o chôro do capitão Gardimer pelo desaparecimento do filho, que pertencia à tripulação: “Afogou-se ontem à noite com os outros” – dizia o velho marinheiro.
Raquel chorando os filhos… Uma metaforização de uma circunstância bíblica no enredo do romance.
Todavia, uma das leituras é, do meu ponto de vista de um cristão evangélico dado à literatura universal,  a de um anti-herói que pretendeu destruir o Mal, usando-se dele para limpar os oceanos e trazer-lhes paz.
A animalização do Mal. E tal proposta pressupõe uma luta, uma atitude agonista/agónica, que tem a sua formação, se quisermos, no Sermão célebre do padre Mapple, proferido do seu púlpito real e simbólico ao mesmo tempo.
A metáfora tirada da estrutura física do púlpito é por demais importante para ficar em segundo plano no sermão sobre a tempestade no mar de Jonas, a ira divina, ou mesmo as brisas favoráveis para a caça à Moby Dick contra a bondade da  suposta “baleia” que engole Jonas.
O púlpito é, quer na perspectiva melvilleana ou de um templo cristão, católico ou protestante, o locus de onde se dirige a nave da congregação ( das almas), de onde se fere e consola, o lugar de onde se corta cerce as vagas que queiram abater-se sobre a comunidade, com a Palavra divina.
O púlpito era o “posto avançado” contra o Mal. “Desse posto se reconhece a aproximação da ira divina(…) Sim, o mundo é um navio efémero que não conclui a sua viagem; e o púlpito é a proa desse navio”.  As primeiras arremetidas contra o Mal partem desse púlpito, no longo sermão do padre Mapple.
O próprio púlpito, depois da Reforma, toma lugar nas alturas a que deve estar o proferir a Palavra Divina no culto. O púlpito na liturgia reformada, protestante, evangélica, não eleva o pregador mas o Verbo.
Um excerto inicial, da elevação querigmática da Palavra: “Bem-amados companheiros do mar, talinguem o último versículo do capítulo primeiro do Livro de Jonas: “E Deus preparara um grande peixe para engolir Jonas”. Companheiros, este livro que contém somente quatro capítulos, é um dos fios mais pequenos que se entrelaçam para tecer o poderoso cabo das Escrituras. Contudo, como são profundos os abismos da alma que Jonas sonda!”.
Talingar, amarra, cabo, abismos,  termos marítimos que traduzem o cenário onde Jonas se confronta com Deus e Ahab com o Mal. Outros termos abrem caminho a uma exegese religiosa, diria cristã, no que concerne ao pensamento multifacetado, senão intrincado de Melville.
Em todo o caso, para o meio do volumoso romance, o autor discorre sobre os vocábulos “branco”, “brancura”, no sentido racial, mas também no adjectivo da pureza, como contraponto do “mal” branco – a baleia Moby Dick. Neste ponto, batemos numa contradição que ao parecer embelezar o Mal, a alvura, a pureza incompatíveis com o Mal, descobre a insinceridade, a mentira, com que o Mal se apresenta com frequência.
A luta de Ahab  enviesada contra o Mal, a malignidade de Moby Dick – escreve Melville, “um cachalote de rara magnitude malignidade” – radicava no desejo mórbido de vingança. A loucura de Ahab resulta do corpo mutilado e da alma ferida, é como o retrata física e psicologicamente o escritor. É a luta homérica da Odisseia, isto é, uma viagem e uma batalha do homem contra os deuses que abundam, materializados num só, a Moby Dick, na alma de Ahab.
A ubiquidade do Mal. “Moby Dick é não só ubíqua como também imortal”. O romance prova a impossibilidade da luta contra o Mal de um modo desordenado e inconsequente, ao preço do próprio desamor pelo próximo, as lutas individuais contra o Mal são próprias dos Prometeus ou dos Quixotes, se cegas nas suas causas.  O combate contra o Mal tem de estar amparado no Poder da Palavra de Deus, porque é uma pugna religiosa, melhor, é uma luta metareligiosa. Sobretudo tendo em conta o texto bíblico e de linguagem poética de Isaías 45,7.
O capitão Ahab almejava ser um deus grego; um Prometeu que se vingaria destruindo o Mal, no entanto, era um homem apoiado numa perna de pau ou de marfim. É a figura do homem que é tragado pelo Mal que jura obstinadamente combater.
Há mais de quarenta anos li “O Problema do Mal”, de J.S.Whale, e hoje ser-me-á útil um trecho desse livrinho para corolário do problema que vem desde o princípio da Criação: “ A resposta do cristão ao problema do mal está contida, em última análise, na maneira como ele enfrenta o mal na vida, como consequência do que Cristo fez com o mal na Cruz”.

© João Tomaz Parreira

“O homem no cruzamento das tradições religiosas: convergência ou dispersão”

2014nov13_UAL_srp“O homem no cruzamento das tradições religiosas: convergência ou dispersão”

Co-participação na conferência realizada pela Universidade Autónoma de Lisboa – UAL, a 13 de novembro de 2014, integrada no Ciclo de Conferências às Quintas

 

No cruzamento das tradições religiosas emerge um Homem que é muito mais do que Homem, tendo-se apresentado a Si mesmo como divino, foi sendo reconhecido assim pelos Seus seguidores e ao longo da história tem despoletado as mais diferentes reações. Convergência na dispersão e dispersão na convergência.
Parto do princípio de que o homem é na sua essência religioso, ou seja, ele não se define e se compreende nos limites de si próprio ou dos outros enquanto humanidade. Ele se transcende no eco de uma origem e de um fim que estão muito para lá dele mesmo. Deus está presente no homem como apelo qualquer que seja a forma pela qual ele o defina ou compreenda, ou não o consiga efetivamente definir ou compreender. O homem pergunta-se sobre as suas origens, sobre a Causa que está por detrás da sua pessoa, pergunta-se, tem consciência de si e da sua existência, interroga-se sobre o seu desígnio e propósito, porque existo e porque estou aqui, onde estou e para onde eu vou. É como se o homem se tivesse afastado de casa e esteja à procura e a tentar descobrir o caminho de volta. Múltiplas são as respostas que têm surgido a este propósito e na diversidade que elas nos propõem existe um ponto comum, um ponto de convergência.

Neste emaranhado de perguntas e de respostas, de suspeitas e de propostas, existe não apenas o movimento do homem em relação a si mesmo e ao que o transcende e no qual ele encontrará a sua identidade e essência, mas também o mover de Deus em direção ao homem. Este mover pode ser percebido na própria caminhada humana, nas suas dúvidas e interrogações. O sábio do Antigo Testamento já descrevia esta ideia no livro do Eclesiastes nestes termos: “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim.” (3:11). O apóstolo Paulo no areópago ateniense, perante estoicos e epicureus, instado a explicar a estranha doutrina que proclamava, pegou precisamente nesta linha de raciocínio, e servindo-se da multiplicidade de deuses que encontrou ao visitar a cidade, argumentou nestes termos: “Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos; porque passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer, é precisamente aquele que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo o mais; de um só fez toda raça humana para habitar sobre a terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração. Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata, ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem. Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos em toda parte se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dos mortos.” (Atos 17:22-31)

No cruzamento das tradições na Grécia de há dois mil anos, na dispersão visível da multiplicidade de deuses e de filosofias, o apóstolo Paulo encontrou um ponto de convergência – o Deus pessoal criador e sustentador, que se dá a conhecer através de um varão, na Sua morte e ressurreição e pelo qual haverá de julgar o mundo.

Passados que são dois mil anos as tradições religiosas continuam a sugerir um ponto convergente na sua dispersão, mas essa convergência não se confina a liturgias particulares, ou a valores e princípios éticos. Penso que é possível encontrar no cruzamento das várias tradições religiosas princípios que são essenciais à convivência e à sobrevivência do homem, num mundo global cada vez mais fragmentado, em que os conflitos mesclados por leituras e interpretações religiosas que inflamam ódios mesmo fratricidas, empurram a humanidade para a beira do abismo. Precisamos de valorizar a paz, o amor, a liberdade, os direitos do homem. Mas este objetivo tem que ser conseguido através do respeito das divergências e dispersões.

Se nas diversas tradições religiosas e em cada homem podemos vislumbrar todos esses impulsos para a transcendência, parece-nos também evidente que sem Deus o homem nunca O poderá encontrar. Afinal de contas penso que O procuramos apenas como resposta a sermos procurados. É Ele que nos procura, e só O encontramos porque Ele veio ao nosso encontro. É neste emaranhado de dispersões que emerge a figura de Jesus Cristo que se apresenta e é apresentado pelos Seus seguidores como Deus que vem ao nosso encontro e no qual nós podemos ver o rosto de Deus. Por exemplo o apóstolo João na introdução do evangelho que escreveu declara: “Ninguém jamais viu a Deus: o Deus unigénito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.” (João 1:18), e num diálogo muito sugestivo com os discípulos e em resposta a um deles o próprio Cristo declara: “Felipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim, vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (João 14:9)

Jesus é o ponto de convergência, o alfa e o ómega da linguagem da comunicação, do vocabulário e da revelação divina.

Permitam-me destacar alguns aspetos que considero hoje em dia, como o foram sempre através da história do homem, cruciais, sem escamotear a realidade de que ao longo dessa mesma história e em Seu nome foram perpetrados por muitos que se apresentaram como Seus seguidores as maiores barbaridades, embora Ele mesmo já antecipadamente tivesse avisado que tal viria a suceder.

Quando destaco Jesus Cristo isto não representa nenhuma supremacia de uma determinada tradição religiosa, a supremacia, singularidade e superioridade é d’Ele única e exclusivamente, e sendo d’Ele é feita em termos que hoje nos são imprescindíveis para lidarmos com o que nos quer destruir.

Jesus apresenta-se como mestre manso e humilde, dois atributos particularmente interessantes que agregou à natureza divina. “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:28-30)

Jesus recusa os modelos dos grandes e poderosos que tiram proveito dos menos favorecidos e que exercem um poder discricionário e discriminatório, aproveitando um momento em que dois dos seus discípulos se apresentam como candidatos aos lugares de destaque à sua direita e esquerda, perspetivando a soberania divina à semelhança do que conheciam da sua realidade cultural e possivelmente do império romano sob o qual se encontravam. Jesus não podia ter sido mais taxativo: “Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo; tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mateus 20:25-28)

Nesta mesma linha de conduta e de pensamento, em sintonia absoluta com a sua natureza e essência, na derradeira ceia antes da Sua morte, dispôs-se a um ato simbólico de profundas implicações culturais, relacionais e vivenciais, lavando os pés aos discípulos, tarefa que estava destinada aos escravos. Depois da estupefação e da reação de indisponibilidade de Pedro, ultrapassada pela argumentação do Mestre, Ele conclui neste termos: “Vós me chamais o Mestre e o Senhor, e dizeis bem; porque eu o sou. Ora se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.” (João 13:13-16)

O perdão é outra das ênfases que encontramos no ensino e na atitude de Jesus no momento mais crucial da sua existência terrena. Na oração conhecida por Pai nosso ensina a orar nestes termos: “(…) e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; (…)” (Mateus 6:12). Quando um dos discípulos procurou colocar um limite a esta atitude de perdão foi esta a resposta que recebeu: “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” (Mateus 18:22). Face à provocação insistente de um grupo de religiosos fanáticos e do modo de proceder em relação a uma mulher adúltera tendo em vista a lei de Moisés, lançou o seguinte desafio: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire pedra.” E à mulher tolhida pela vergonha, pela culpa e pelo medo, depois de todos terem abandonado o lugar reconhecendo que não estavam em condições de executar a condenação, diz: “Nem eu tão pouco te condeno; vai, e não peques mais.” (João 8:7,11) Aquando do momento da sua própria crucificação exclama: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lucas 23:34)

O amor como síntese de toda a lei e de todos os mandamentos é a questão levantada em relação a uma interrogação de um advogado da lei. “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Lucas 10:27) Em dificuldades para conseguir identificar quem seria o seu próximo, Jesus conta a célebre parábola do bom samaritano, mostrando que o próximo não é o que pertence à nossa confissão religiosa, à nossa casta, à nossa classe social, à nossa raça ou etnia, à nossa nação ou ao nosso clube privado, mas todos os de quem tomamos a iniciativa de nos aproximarmos. Usa para tal um samaritano que era o indivíduo menos considerado e mais discriminado e rejeitado, depois de referir um sacerdote e um levita que perante a vítima dos assaltantes, passam de largo. Provocador ou muito mais do que isso. Há dois mil anos. Com a mesma intensidade nos dias de hoje. Ao intérprete da lei ordena que faça como o samaritano pelo qual não deveria ter uma grande estima: “Vai, e procede tu de igual modo.” (Lucas 10:37)

Um amor que é entendido de modo prático fazendo aos outros do mesmo modo como queremos que nos façam, no sentido positivo e não negativo (Lucas 6:31), e que Jesus coloca de modo singelo em relação a Si o que fazemos com os menos favorecidos: “Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes; preso e fostes ver-me.” (Mateus 25:35,36). Alertou igualmente “Por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lucas 6:46)

Todos estes valores são parte de uma convergência necessária na convivência humana e possivelmente sintetizada pelo homem no cruzamento das várias tradições religiosas. Mas o que a mensagem de Jesus, e a própria vida de Jesus concentra vai muito para além, e não há formulação do evangelho no meu entender que a possa escamotear, e se porventura tal acontecer, nega-se a essência do mesmo.

Num encontro pessoal com um mestre religioso que apresenta uma interessante síntese pessoal sobre a figura do nazareno, este de uma forma franca, direta e frontal, afirma-lhe perentoriamente: “Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” (João 3:3). É aqui que reside no meu entender a novidade por excelência da pessoa e da mensagem de Cristo. Um nascimento da água e do Espírito, um novo começo, uma nova pessoa, um novo homem, uma nova condição, uma outra natureza, uma outra realidade vivida nas possibilidades divinas que vão além dos bisturis humanos e das regras que se possam formular. Mudados por dentro, para viver de forma diferente em todas as dimensões da vida humana.

A vida, morte, ressurreição e promessa de segunda vinda de Jesus, convergem para esta proposta. A Sua ressurreição histórica e literal, sem a qual a fé será vã, inútil no dizer do apóstolo Paulo (1º Coríntios 15:17) diz-nos que a morte não é o fim, que “os sofrimentos do tempo presente não são para compara com a glória porvir a ser revelada em nós” (Romanos 8:18), lançando uma nova luz sobre o nosso sofrimento a partir de um Deus que sabe o que é sofrer, num mistério que vai além do nosso entendimento. A Sua crucificação provando a morte com e pelo homem é a pedra de toque, é apresentada em todo o Novo Testamento como redentora, resgatadora, expiatória, justificadora e reconciliadora. Daí uma palavra singular no contexto do evangelho e que não posso deixar de aqui referir num tempo tão carenciado dela, e de um homem que dela precisa como de pão para a boca da mesma – GRAÇA! Receber de Deus não por mérito ou virtude, mas por favor que nunca seremos capazes de merecer, pagar, ou produzir por nós mesmos. No dizer do percursor João Baptista, no evangelho de João “Porque todos temos recebido da sua plenitude, e graça sobre graça. Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.” (João 1:17). A religião como comércio, como instrumento do medo e da culpa, da manipulação e da opressão, caem perante a graça divina – sem dinheiro e sem preço a realizar a profecia de Isaías entre 600 e 700 anos antes. Quando a GRAÇA é percebida, acolhida e experimentada não pode haver lugar à intolerância, à perseguição e à morte. A GRAÇA acolhe a todos mesmo que discordemos em quase tudo, no essencial ou no periférico. A GRAÇA não dissimula as convicções nem as dilui, não nega a VERDADE, mas articula-a com o AMOR.

É por isso que um dos títulos que mais me impressiona nas acusações que Lhe foram dirigidas há dois mil anos, é a de “(…) amigo de publicanos e pecadores (…)” (Mateus 11:19) E simultaneamente as suas invetivas para com os religiosos que presumiam representar o  Deus que era o Seu próprio Pai, de quem é o Filho unigénito e primogénito. De entre os vários epítetos cito esta referência: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos, e de toda imundícia.” (Mateus 23:27)

Pode ser que não vejamos muito do que encontramos em Jesus Cristo nas grandes instituições que trazem um rótulo de cristão. Costumo dizer que se Jesus voltasse hoje à terra porventura não seria cristão, e mais ainda, seria recusado pelos que a si próprios se designam de cristãos. Mas existem muitas comunidades espalhadas pelo mundo inteiro que vivem tendo como foco estes princípios e Aquele que os torna possíveis. Esta é a convergência de vida de que precisamos. Jesus chama pessoas, indivíduos que por sua vez formam grupos, que influenciam mais ou menos sociedades, estados, nações, culturas e mentalidades. Por isso é possível ser um seguidor de Jesus sem ser “cristão”, e muitos cristãos estão longe se ser seguidores de Jesus.

A descrição que o Novo Testamento apresenta da Igreja dos primórdios mostra como isso foi concretizado e pode continuar a acontecer mesmo com outras formas diferentes de manifestação e expressão: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e das orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos, e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa, e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.” (Atos 2:42-47)

A oração que mais me interpelou nos últimos dias lia no livro “O Chamado” de Os Guiness (pp. 113,114), de um judeu na Casa Branca, que foi presidente do banco central americano nos anos 70 e embaixador na Alemanha Ocidental. “Senhor, peço que leve os judeus a conhecer a Jesus Cristo. Oro para que os muçulmanos venham a conhecer Jesus Cristo. Finalmente, Senhor, peço que traga os cristãos para conhecer Jesus Cristo. Amém.” (Arthur F. Burns)

 

 

Samuel R. Pinheiro
13 de novembro 2014

 

O assunto do pluralismo religioso é bastante pertinente face à cultura vigente. Existe uma boa bibliografia em língua portuguesa que recomendamos como é o caso dos seguintes livros:
“Cristo Entre Outros Deuses”, Erwin E. Lutzer, CPAD.
“A Supremacia de Cristo em um Mundo Pós-Moderno”, John Piper & Justin Taylor, CPAD.
“A Supremacia de Cristo – conhecendo o único caminho”, Ajith Fernando, Shedd Publicações.
“Verdade Absoluta – libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural”, Nancy Pearcey, CPAD.
“O Deus Amordaçado – o cristianismo confronta o pluralismo”, D. A. Carson, Shedd Publicações.
“Quem é Jesus? – contrapondo Sua verdade à falsa espiritualidade dos dias atuais”, Ravi Zacharias, CPAD.
“Pós-modernismo – um guia para entender a filosofia do nosso tempo”, Stanley J. Grenz, Edições Vida Nova.
Uma Ortodoxia Generosa”, Brian McLaren, Editora Palavra, Brasília, 2007.
“O Jesus Que Eu Nunca Conheci”, Philip Yancey, Editora Vida.

NA ALTURA EM QUE ACONTECERAM AS DISSENSÕES EM CORINTO

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“Eu sou de Paulo, e eu de Apolos, e eu de Cefas, e eu de Cristo” – I Co 1,12

 

João Tomaz Parreira 

Os cristãos de Corinto, os membros da “igreja de Deus que está em Corinto”,  eram mulheres e homens que viviam agora separados para um propósito especial. Eram santificados em Cristo, no meio de uma cidade promíscua e depravada, de tal modo que, entre os gregos, “coríntio” significava “libertino”. Não obstante, de todas as cidades gregas que tardaram a aceitar ou rejeitaram mesmo o Cristianismo – no século III havia ainda resistências -, a Corinto cosmopolita foi a primeira e exemplar a servir e proclamar Jesus Cristo.

 

A necessária separação iria despojar os cristãos de Corinto, da natureza humana? Não. Paulo diz-lhes que não lhes pode “falar como espirituais, mas como carnais, como a meninos em Cristo”. Mais do que nos adultos, as dissensões estão no terreno da infância. Paulo trata deste assunto com um “terno apelo” – escreve um comentarista da Carta aos Coríntios, não deixa que prolifere o “espírito de facciosidade”.

 

A palavra “dissensão” é benévola na nossa língua, quando se   traduz por uma  diversidade de opiniões; na língua grega usada no Novo Testamento, porém, o vocábulo é mais possante porque acentua uma acção: ”Schismata” (do substantivo “Schisma”), que significa, rasgão, separação, mais extensivamente, dividir em partes. Palavras que traduzem a ideia de fenda na unidade. O que, segundo a lamentação, por assim dizer em forma de pergunta exortatória paulina, parece ser o caso.  

 

O quadro a que podemos aplicar a palavra “dissensão” ou cisma, que encontramos na comunidade cristã de Corinto, na altura em que aconteceram tais dissensões, revelam factos históricos concernentes a homens que tiveram ligações estreitas com a comunidade, sobretudo, Paulo e Apolo, incluindo à distância o nome de Pedro, pela dificuldade de alguns cortarem definitivamente com o judaísmo.

 

No tecido intertextual das fontes históricas sobre a Igreja Cristã no século I e o próprio texto epistolar de Paulo, todos os nomes de quem os “grupos” se reividicavam, é fácil perceber que os do “partido” de Cristo presumiam  ser os melhores crentes. Os presumidamente mais “espirituais” do que os outros irmãos.

 

O que tornava a situação menos problemática, era o facto de não haver ( Paulo não as denuncia) diferenças doutrinárias entre os “partidos”, divergências de opinião sobre líderes,  o ensino de Paulo não diferia do de Apolo. Tratar-se-ia apenas de preferências pessoais.

A questão, porém, subsiste: quem era o pastor da igreja, qual o seu nome? O que pela não referência nos dá a ideia de que não haveria nenhum apoiante nem “partido” desse hipotético pastor?

Estranho é, portanto, que Paulo não pudesse ter transmitido algum grupo do “actual” pastor, porque nada lhe disseram sobre isso?  Isto é, estranha-se que não houvesse um partido do pastor em actividade naquela altura.

 

Dos nomes Crispo, Gaio, Estéfanas ou alguém da família de Cloé, não se pode destacar um como sendo presumível pastor da igreja de Corinto.  Todavia, a probabilidade mais correcta, reside em podermos pensar que naquela altura das dissensões, a comunidade era dirigida por um presbitério/episcopado do qual fariam parte todos eles. Ou Tito Justo ? (Act  18, 7)

No que concerne a uma comunidade ser dirigida / servida por presbíteros, não seria novo nem inusual,  conhecemos a de Éfeso (Actos, 20, 17 e 28)

 

O historiador do Cristianismo Latourette considera mesmo que, em relação à comunidade cristã de Corinto e à sua estrutura eclesiástica,  Paulo nomeou “os oficiais da igreja”. (“Historia del Cristianismo”, Tomo I). O mesmo autor sugere o que parece ser a muito custo refutável,  que “a igreja de Corinto tinha vários presbíteros”. Assim, escreve: “ a igreja de Corinto não teve a superintendência de um bispo só, como tiveram as demais igrejas”.

 

Outras fontes externas à epístola paulina, como a chamada “Carta de Clemente Romano aos Coríntios”, (se este Clemente for o referenciado em Filipenses 4,3, uma vez que Eusébio de Cesareia e Jerónimo o identificam como tal) dizem-nos que houve agitadores que se amotinaram contra os presbíteros.

No capítulo 1, 1, e 6, lê-se: “Talvez estejamos a ocupar-nos com atraso dos acontecimentos que se deram entre vós, caríssimos, e daquela sedição estranha a eleitos de Deus ”, “(…) Tudo realizáveis sem acepção de pessoas, e andáveis nos preceitos de Deus, sujeitando-vos aos vossos guias, e tributando aos vossos presbíteros o respeito que lhes é devido.”

Clemente Romano escreveu que “toda revolta e todo cisma causam horror”, embora se saiba que, infelizmente, durante os primeiros três séculos alguns  cristãos promovessem cismas em torno da doutrina cristológica e da Teologia.  Noutro ponto da sua carta, deixa o recado que “Cristo pertence aos humildes e não aos que se elevam acima da grei” (16,1)Em relação aos “desordeiros” de Corinto que quiseram expulsar os pastores legítimos.

 

Seja como for, se diante da História do Cristianismo e das igrejas neo-testamentárias, nos resta leitura e suposições, diante da força e perpetuidade das Cartas de Paulo aos Coríntios, eleva-se a gratidão a Deus por tão sublime pensamento, e um silêncio, mas silêncio ensurdecedor sobre o que ensaiamos neste artigo.                                                                                       

A verdade é que gostaria de ter tido uma visão mais ampla, mas ainda assim não subi à varanda dos diversos comentadores bíblicos sobre o assunto. Penso sempre que, no que concerne a “ensaiar” um texto evangélico devem ser  as Escrituras a explicar as Escrituras.

                                                                                       – © João Tomaz Parreira

“A CULPA É DAS ESTRELAS”

A culpa é das estrelas _ apologetica_peqEscolher um filme é muitas vezes uma caixinha de surpresas. Procuro sempre ter algumas razões que justifiquem a escolha, mas algumas vezes fico com um sentido de frustração e outras vezes dou por bem empregue o dinheiro do bilhete. Neste caso não tinha nenhuma indicação prévia. A escolha foi um pouco arbitrária e o título sugeria algo de diferente. Mesmo depois de ter visto o filme ainda fiquei à volta sobre qual teria sido a razão da sua escolha, embora hoje o marketing e a publicidade tenham razões que a razão desconhece. A cultura presente está prenhe de múltiplas superstições, entre as quais a do destino escrito e determinado pelas estrelas. Outra das situações que é muito comum a todos os seres humanos é sempre procurar um culpado por detrás de cada acidente no percurso da vida. Mas voltemos ao filme.
A trama desenvolve-se em torno de dois adolescentes que enfrentam uma situação de cancro em fase mais ou menos terminal e que acabam por encontrar-se num grupo de ajuda que se reúne num templo ligado à Igreja Episcopal. O ambiente do grupo é um pouco “ridículo”, sendo que o “coração de Jesus” resume-se a uma tapeçaria tecida pelo líder do grupo que também enfrenta uma situação oncológica. Um terceiro jovem, Isaac, está no processo de perder a única vista que lhe resta, e perante a iminência a namorada rompe com ele, provocando momentos de revolta que são passados na destruição de alguns dos troféus do amigo Augustus.
Os dois jovens, Hazel e Augustus Water, acabam por apaixonar-se e no processo começam por trocar sugestões de leitura de livros. O livro sugerido pela Hazel é de um escritor que vive em Amesterdão e que ela daria tudo para contactar e visitar com algumas perguntas suscitadas no fim da obra. Acaba por ser o Augustus a conseguir o contacto primeiro por email e depois os meios financeiros para que possam visitá-lo. A visita acaba por ser em parte uma grande deceção, sendo que o célebre autor torna-se bastante rude numa abordagem ateísta evolucionista, declarando numa agressividade repulsiva que eles são apenas uma mutação errada da natureza que é paga pelos impostos de todos os cidadãos. A entrevista acaba abruptamente sendo que a secretária vem ao encontro deles já na rua para pedir-lhes desculpa pela brutalidade do escritor, e sugerindo-lhes, em compensação, uma visita à casa de Anne Frank. A dificuldade da menina em subir toda a escadaria da casa que não tem elevador, à medida em que se vão ouvindo em fundo algumas das frases da obra da jovem que morreu num campo de concentração nazi, termina em apoteose no último andar, depois de uma íngreme escada, num beijo apaixonado de celebração do amor e da vida que prevalece perante o sofrimento e a adversidade. Uma metáfora muito bem conseguida em termos cinematográficos, no meu entender. O argumento não consegue fugir à ditadura cultural de uma relação sexual na cidade conhecida pela devassidão moral.
O filme é rico em imagens e figuras como a do cigarro que o rapaz teima em alguns momentos trazer na boca sem nunca o acender, explicando perante a estupefação e indignação da menina que sofre de doença pulmonar, tratar-se de uma metáfora de ter na boca a morte sem dar-lhe o poder de o matar.
É na cidade de Amesterdão que o Augustus acaba por revelar à Hazel que a doença subitamente se agravou. Já de regresso aos Estados Unidos o jovem combina e marca num templo vazio a simulação de um elogio fúnebre, no desejo de presenciar o seu próprio funeral. No meu entender outra metáfora extremamente sugestiva de que importa não guardar para o dia do funeral dos amigos o que em vida lhes podemos dizer.
A situação de saúde do Augustos vai-se degradando cada vez mais até que acaba por falecer. No cemitério ouve-se o ministro a ler o Salmo 23. Entretanto e subitamente aparece no funeral, junto da Hazel o escritor que da profunda admiração nutrida, passou a detestar profundamente. A jovem é convidada a apresentar algumas palavras e acaba por não ler o discurso que preparara e que antes já tinha lido de viva voz ao falecido, porque, segundo confessa posteriormente, no funeral não se fala para os mortos mas para os vivos. Terminada a cerimónia o escritor tenta uma abordagem e uma conversa com ela num confronto muito agressivo, em que ela acaba por expulsá-lo do carro sem que antes ele lhe entregue um papel. Fica a saber-se que toda a amargura e rudeza do autor são devidas à morte de uma filha aos oito anos. Uma das frases que me ficou deste diálogo aceso foi “a vida vem da vida”.
O Isaac, já cego, acaba por contar à Hazel que foi o próprio Augustos que tentou convencer o escritor a visitá-la e a entregar-lhe o elogio fúnebre que ele mesmo escrevera para ela e não tinha tido oportunidade de lho ler e entregar. E o filme termina com ela a ler deitada sobre a relva com as estrelas a pontilharem o firmamento.
Outro dos aspetos que considero muito sugestivos no filme é a maneira como cada uma das famílias vive a realidade da doença, do sofrimento e da morte. Existem partes muito tocantes de confissões mútuas sendo que numa delas a Hazel acaba por dizer aos pais que espera que eles não morram para a vida com a morte dela, e que a mãe não deixe de o ser só porque ela morreu (uma expressão menos feliz dita num momento de crise em que ela quase morreu).
É um filme que suscita questões a que o evangelho de Jesus Cristo responde. A presença de Deus sente-se, mas é muito ténue. Mesmo assim é um filme que nos coloca perante a fragilidade da vida e perante a presença da morte na vida de pessoas muito jovens. Como fazem falta ali, as palavras de Jesus às irmãs de Lázaro quando este faleceu: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá, eternamente.” (João 25,26) Na realidade só Jesus pode consolidar em nós a certeza da vida eterna, a começar desde logo aqui no meio de todas as nossas vicissitudes e fragilidades. O apóstolo Paulo explode com toda esta fulgurante certeza no capítulo quinze da primeira epístola aos Coríntios, o grande capítulo da ressurreição: “E quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.” (54-57).
As questões do sentido da vida, da existência de Deus, de quem Deus é, do relacionamento entre as pessoas, do valor da família, do amor, da vida e da morte, do tempo e da eternidade, do corpo e da alma, da dimensão e natureza espiritual do homem, continuam presentes no coração e na mente dos homens, das famílias, entre os jovens e adolescentes, em cada pessoa. Eis a oportunidade de mostrar e evidenciar a diferença que Jesus é e faz. De facto só Ele é capaz de nos mostrar a essência da vida e trazer-nos de volta ao propósito de Deus. A pluralidade religiosa e filosófica em que nos movemos apresenta uma multiplicidade de sugestões alternativas, mas só Jesus nos indica como podemos viver verdadeiramente vivos e morrer na certeza da vida eterna. Jesus morreu e ressuscitou. Jesus lidou com os vivos nas suas múltiplas situações de fragilidade, de dor, de insatisfação e frustração, de incerteza e desorientação. O homem está espiritualmente morto sem Deus. Jesus veio vivificar o homem através da Sua morte e ressurreição. Jesus veio mostrar-nos que a vida é mais do que existir e sobreviver, mas é Deus em nós. Jesus não veio para dar-nos vida… Ele é a própria vida de que carecemos e sem a qual permanecemos mortos. Jesus veio para libertar-nos da culpa, tornando-se culpado em nosso lugar, assumindo a nossa culpa, carregando a nossa desobediência e morte, e para dar-nos o perdão e a liberdade de uma nova vida.

Samuel R. Pinheiro
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JUDEUS, ÁRABES E HITLER (ABOU ALI)

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© João Tomaz Parreira

A crise – para usar um termo inócuo – entre árabes e judeus, é um problema com origem numa semente apressada, não obstante os oitenta e seis anos de Abrão.
A falha começou no patriarca, ao dar ouvidos a Sarai, e colocaria em dificuldades o futuro povo de Israel. Abrão –antes ainda de ser Abraão- foi investido numa missão divina, mas ele não era a missão e ao confundir a sua humanidade com a plenitude divina,  fez nascer um problema chamado Ismael, o qual, como tudo o filho que nasce, não tem culpa nem do passado nem do presente nem do futuro.
No entanto, a misericórdia de Deus em compor estragos e restaurar vasos quebrados, manifestou-se em Hagar. “Eis que concebeste e terás um filho (…) porquanto o Senhor ouviu a tua aflição” (Gn 16,11)
As mimetizações dos planos divinos nunca se traduzem em melhores sucessos na vida do Homem ou da Igreja. Tentar copiar Deus na sua intervenção sobre a História conduz a maus resultados. “Ismael (…) será homem bravo, e a sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele” (16,12)
No que concerne a Ismael e aos seus descendentes, os ismaelitas ( não confundir com ismaelismo, doutrina religiosa),  a promessa cumpriu-se para desespero de Israel. Causas que não se extinguem, trazem efeitos imorredoiros. É assim a relação entre judeus e árabes, entre o actual Estado de Israel e a sua vizinhança palestiniana e árabe, no sentido geral e, sobretudo, no religioso.
Consultando  a “wikipédia” antes de rebuscarmos a história em papel, lemos sobre os ismaelitas a sinopse da sua postura religiosa, que não anda afastada de todo do Velho Testamento:
“À semelhança dos outros muçulmanos, os ismaelitas acreditam num único deus e no profeta Maomé como mensageiro divino. O pensamento ismaelita apresenta igualmente uma visão cíclica, desenrolando-se a história ao longo de sete eras. Cada uma destas eras é iniciada por um profeta, que traz consigo uma escritura sagrada. Cada profeta é acompanhado por um companheiro silencioso, que revela os aspectos esotéricos da escritura. Os seis primeiros ciclos estiveram associados aos profetas Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus e Maomé. O companheiro silencioso de Maomé foi Ismael, que regressará no futuro para ser o profeta do sétimo ciclo.”
Mas para desespero da humanidade e dos judeus em particular, outro “profeta” se adiantou e está registado na História Contemporânea como Adolfo Hitler.
O ABU ALI DA HISTÓRIA DO SÉCULO XX
Quando Hitler tomou o poder, apesar de tudo democraticamente, em 1933, telegramas de felicitações foram despachados das capitais árabes. Em 1937, a sinistra figura quase aristocrática da propaganda nazi, Joseph Goebbels, louvava “a racial consciência” dos árabes, fazendo notar de um modo absurdamente poético que “bandeiras nazis ondulavam na Palestina e adornavam as suas casas com a cruz suástica e retratos de Hitler”.
As águas da História, seja do que for, têm a vantagem de mostrar a sujidade das acções, apesar de todas as tentativas de branqueamento  e, não poucas  vezes,  o bebé é deitado fora com a água do banho.
Um exemplo?  A mistura “da cruz suástica  e da cruz cristã”, dos Deutsche Christen, evangélicos, anti-semitas e apoiantes do Partido Nazi, um desses casos das águas sujas do banho que podemos ler na História, e nas obras de Dietrich Bonhoeffer e Karl Barth; este pregando vigorosamente pela “Igreja Confessante”, pela pureza da Igreja Evangélica; aquele, como membro fundador da mesma Igreja “Bekennende Kirch”, é condenado à morte pela forca no Campo de Concentração de Flossenburg em 1945.
A verdade é que Hitler soube aproveitar-se do reposicionamento dos pensamentos cristãos, divididos entre servir a Cristo mesmo sob a pressão nazi e servir o regime para obter benesses. Chegou-se ao absurdo de os Deutsche Christen se apresentarem como os “SA (Tropas de Assalto) de Jesus Cristo na luta pela destruição dos males físicos, sociais e espirituais”, daí à ajuda no extermínio dos judeus e na prisão dos cristãos evangélicos fiéis à Palavra de Deus, foi o passo que se conhece na tragédia do nazismo.
Portanto, Hitler vogava bem em duas águas: a dos favores dos “cristãos alemães” e a da glorificação do mundo árabe; apesar do próprio Hitler considerar os árabes como raça também inferior.
Abu – Pai em árabe-, seguido de Ali,  no contexto histórico, era o sobrenome islamizado atribuído a Hitler, fundamentalmente pela sua liderança que se presumia mundial e pelo seu programa de dizimação dos judeus. Era um endeusamento. Uma canção popular da década de 30, nas ruas de Damasco, dizia: “Não mais Monsieur, não mais Mister. No Céu Allah, na Terra Hitler”.
Abu Ali e a sua obra fundacional, o “Mein Kampf” com as suas teorias do nacionalismo, da ditadura, da raça superior e do anti-semitismo, desde 1930 que impressionaram os estados árabes.   A primeira tentativa para traduzir a obra para o idioma arábico iniciou-se cedo, por volta daquele ano, quando começaram a aparecer excertos do livro nos jornais árabes. A tradução surgiu definitivamente no Cairo em 1937, com a significante aprovação da Alemanha Nazi.
Na Palestina, por outro lado, a literatura hebraica entre 1940 e 1944 trazia a público cerca de vinte mil volumes de poesia, romance, ensaios, que afirmavam em hebreu a existência de um povo,  enquanto na Europa Abu Ali se preparava para concluir a Solução Final, o holocausto de milhões de judeus.
Desse tempo, os anos da II Guerra e do Holocausto, a poesia de Uri Zevi Greenberg (1896-1981), para entendermos a relação ancestral do hebreu com o seu Deus : A minha boca é uma ferida aberta / Por isso, todo nu, disse ao meu Deus: duramente / Tens trabalhado sobre mim / Agora, eis aqui a noite: Tréguas! Repousemos os dois.(Versão minha)

“EM DEFESA DA FÉ”

2013-2014 MEIBAD turma apologética“EM DEFESA DA FÉ”

A tentativa de articular cinco monografias em uma monografia de turma na disciplina de APOLOGÉTICA, no ano letivo 2013/2014, do Monte Esperança Instituto Bíblico da Convenção das Assembleias de Deus em Portugal. O título é da responsabilidade do professor. Samuel R. Pinheiro

André Simões, Eliezer Correia, Filipe Fontes, Mauro Nascimento e Nuno Ferreira (da direita para a esquerda na foto)

ÍNDICE

                      

Introdução……………………………………………………………………………………………………… 3

PARTE I……………………………………………………………………………………………………………… 4

DEUS EXISTE? DEUS DÁ-SE A CONHECER AO HOMEM………………………………………….. 4

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………… 4

Revelação Geral – Se existe, que se pode fazer dela? E é possível construir uma teologia, um conhecimento de Deus a partir da natureza?……………………………………………………………………………….. 6

Revelação pela Natureza…………………………………………………………………………………. 6

Revelação pela natureza Humana……………………………………………………………………… 8

Revelação pela História da Humanidade……………………………………………………………… 9

Revelação Especial – Como podemos conhecer a Deus pessoalmente?………………. 10

Meios da Revelação Especial…………………………………………………………………………… 11

Autoridade e Inspiração das Escrituras………………………………………………………………. 13

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 15

PARTE II…………………………………………………………………………………………………………… 16

HAVERÁ LUGAR PARA O CRISTIANISMO NA ACTUALIDADE? A VERDADE NUMA CULTURA RELATIVISTA    16

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………. 16

Na cultura pós-moderna não há verdades absolutas!………………………………………… 17

Os cristãos não têm bases para crer em verdades absolutas!…………………………….. 19

O Cristianismo é igual às outras religiões!……………………………………………………….. 20

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 23

PARTE III………………………………………………………………………………………………………….. 25

QUEM CRIOU O QUÊ? O MUNDO QUE FOI CRIADO SERÁ O QUE NÓS CONHECEMOS? EVOLUÇÃO SOCIAL E NÃO RELACIONAL……………………………………………………………………………………………………. 25

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………. 25

A inteligência humana…………………………………………………………………………………… 25

Quem criou?…………………………………………………………………………………………………. 27

Macro e Micro evolução………………………………………………………………………………… 28

Teísmo evolucionista……………………………………………………………………………………… 30

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 32

PARTE IV…………………………………………………………………………………………………………. 33

QUEM É DEUS? A REVELAÇÃO PLENA DE DEUS NA PESSOA DE JESUS CRISTO…….. 33

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………. 33

Quem é Deus e como podemos conhece-lo?…………………………………………………….. 33

O Jesus de Nazaré da História…………………………………………………………………………. 34

Evidências da morte e ressurreição de Cristo…………………………………………………… 36

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 39

PARTE V………………………………………………………………………………………………………….. 40

NA PERSPECTIVA DA EXISTÊNCIA DE UM DEUS, COMO DEVE O HOMEM VIVER PERANTE ELE? O NOVO NASCIMENTO E O NOVO PADRÃO MORAL……………………………………………………….. 40

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………. 40

A Experiência Cristã………………………………………………………………………………………. 40

O começo da experiência Cristã é marcado pelo Novo Nascimento.……………………….. 41

O bem e o mal………………………………………………………………………………………………. 44

A fonte do problema do Mal – O Pecado // A consciência do Mal…………………………… 44

A ampliação do Problema – Natureza Pecaminosa // tendência ou inclinação para o Mal47

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 50

CONCLUSÃO……………………………………………………………………………………………………. 51

BIBLIOGRAFIA………………………………………………………………………………………………….. 53

 

 

Introdução

A Apologética é a defesa racional da fé cristã. O exercício desta área da teologia aplicada baseia-se em textos bíblicos, como por exemplo I Pedro 3.15b – “estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós”- e Judas 3b – “tive por necessidade escrever-vos e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”.

O nosso propósito neste trabalho é abordar alguns dos temas essenciais da Apologética: a existência de Deus, a existência de verdades absolutas, o criacionismo, a revelação de Deus através de Jesus e a moralidade cristã. Não os tratamos em toda a sua amplitude, claro está. Pelo contrário,  a nossa abordagem introdutória e, consequentemente, mais geral, pretende sensibilizar os leitores para a importância desta área do saber. Por um lado, ela é uma ciência, e como tal deve ser estudada e aprendida. Por outro, é uma arte, e por isso exige dedicação.

A lógica que subjaz a este trabalho é a de responder a algumas das objeções que por norma são apresentadas para desacreditar o Cristianismo. Veremos que, em muitos casos, elas são aceites sem uma análise crítica. Tal é lamentável, pois muitas dessas objeções carecem de fundamentos, e outras demonstram que quem as apresenta desconhece o Cristianismo.

Cientes disto, procuramos responder, com mansidão e temor, aos que sinceramente levantam objeções à fé cristã.

 

 

PARTE I

DEUS EXISTE? DEUS DÁ-SE A CONHECER AO HOMEM

Eliezer Correia

 

 Considerações Preliminares

Revelação – Se Deus é real, como se dá a conhecer ao Homem?

            A teologia, na sua tentativa de conhecer a Deus e de torna-lo conhecido, parte do princípio de que o conhecimento a respeito do Supremo Ser já tenha sido revelado. Esta revelação é o ponto de partida para todas as afirmações e pronunciamentos teológicos. O que não foi revelado, não se pode saber[1].

O termo “revelação” tem como significado básico a exposição do que era até então desconhecido. De forma aberta, aplica-se a qualquer modo pelo qual Deus se comunica ou comunica algo sobre Si. No sentido mais restrito, é a auto-revelação de Deus a criaturas para o benefício delas, especialmente no que diz respeito à sua transformação redentora[2]. Embora a revelação ocorra em todas as áreas da vida, o termo acha-se especialmente associado à religião. As questões da fé centralizam-se no fato de que Deus fez-se conhecido aos seres humanos. O cristianismo é a religião baseada na revelação que Deus fez de si mesmo[3].

A Bíblia emprega vários termos em grego e hebraico para expressar o conceito da revelação. O verbo hebraico gãlãh significa revelar por meio do ato de descobrir ou de arrancar alguma coisa que cobre[4]. Quase sempre é usado de forma a tratar a revelação que Deus faz de si às pessoas: “Certamente, o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Am 3.7). A palavra grega apokalupsis (revelação) está associada a esta ideia: tornar conhecido o Evangelho. Paulo afirmou que não recebeu o Evangelho mediante instrução humana, mas “pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.12)[5].

As escrituras dizem: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1). O poeta Davi em seu poema revela que o próprio Deus que cria, também revela-se por intermédio da sua criação[6]. Davi ficava maravilhado e absorto, reconhecendo que a glória de Deus é vista na criação. Podemos também nas Escrituras encontrar outro texto: “A ira de Deus se revela do céu contra toda a impiedade e perversão dos homens que detém a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesta entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1.18-20). Neste texto percebemos que o eterno poder de Deus e a sua própria divindade estão estampadas na criação desde que há mundo. Sendo os seres humanos finitos, e Deus infinito, não podemos conhecer a Deus, a menos que ele se manifeste aos humanos de tal forma que estes possam conhecê-lo e ter comunhão com ele[7]. Na revelação de Deus à humanidade há duas classificações básicas de revelação. Por um lado a revelação geral, é Deus que se comunica a todas as pessoas de todos os tempos e de todos os lugares. Pelo outro lado temos a revelação especial, que abrange comunicações particulares e manifestações, a que hoje só existe acesso pela consulta a certos escritos sagrados.

            Partindo do pressuposto que Deus é transcendente e o homem é limitado, é impossível conhecer Deus, sem que Ele se revele. Se Deus não se relevasse, por causa de sua natureza infinita e majestosa jamais poderíamos ter conhecimento dele. Ainda assim, a revelação divina é uma verdade evidente por si mesma e dispensa qualquer tipo de comprovação. Trata-se de um conceito confirmado pela experiência e coerente com a razão e lógica humana. Para que o homem viesse assim a entender essa revelação, Deus concedeu-lhe um conhecimento: 1) que está impresso na sua própria constituição natural, como também 2) o conhecimento que vem através das obras da criação e da condução divina da história, e ainda 3) o conhecimento derivado da revelação especial, as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento.

            Olson adverte que isto não se trata de algo exclusivamente pessoal, pois se assim fosse seria impossível saber algo objetivo a respeito de Deus. A revelação pressupõe uma ato interpretado de Deus que tem como propósito principal comunicar a doutrina correta aos homens, para que pensem e saibam o que é certo sobre Deus[8].

 

Revelação Geral – Se existe, que se pode fazer dela? E é possível construir uma teologia, um conhecimento de Deus a partir da natureza?

A revelação geral refere-se à Auto manifestação de Deus por meio da natureza (Sl 19.1-6; Rm 1.18), da história (At 17.26-27) e da personalidade do homem (Rm 2.14-15), ao contrário da sua revelação pelas Escrituras. Em cada caso, Deus revelou algo especifico sobre si mesmo e sobre a relação que mantém com a sua criação[9]. Este conhecimento é geral em dois aspetos: sua disponibilidade universal (é acessível a todas as pessoas em todos os tempos) e o conteúdo da mensagem (é menos particularizado e detalhado que o da revelação especial)[10]. É preciso levantar alguns problemas no que diz respeito à genuinidade da revelação.

 

Revelação pela Natureza

            Deus também se revela através da natureza e do Universo. A criação, com a sua infinita variedade, beleza e ordem, reflete um Deus infinitamente sábio e poderoso. A lua e as estrelas incontáveis, nos céus, são obra dos dedos do Senhor; seu nome é majestoso em toda a terra que por Ele foi criada (Sl 8). Na natureza, os atributos invisíveis, a eternidade, a divindade, o poder, a sabedoria e a glória de Deus são revelados (Sl 29.4; Rm 1.22)[11].

            Os propagandistas do novo ateísmo dizem que o avanço científico e o progresso irão aniquilar a possibilidade na crença de um Deus, mas os fatos desmentem essas afirmações. No ano de 1998 ocorreu um debate entre William Lane Craig e o então ateu Anthony Flew. O filósofo Craig desenvolveu a seguinte linha de argumentação[12]:

 

            Premissa maior: Tudo o que começa a existir tem uma causa

            Premissa menor: O universo começou a existir

            Conclusão: Portanto, o universo tem uma causa

 

            Esta premissa menor é tão importante ou mais importante que a premissa maior, ela constitui um argumento filosófico plausível, para estabelecer como premissa para a investigação científica. Tudo o que tem um inicio, tem uma causa, logo qual a causa do universo e mundo em que existimos. Após este debate, Flew veio a abandonar o ateísmo, não sabemos se veio a tornar-se um cristão devoto, mas sabemos que antes da sua morte assumiu a existência de um Deus criador que sustém o universo[13].

            Na comunidade científica é cada vez mais notório a percepção para um universo que veio a existir e ser dotado de uma sintonia fina para que vida fosse possível.

            Diversos estudos científicos recentes dão destaque ao significado de algumas constantes cosmológicas fundamentais, cujos valores, se modificados ainda que ligeiramente, teriam implicações gravíssimas para o surgimento da existência humana. A existência da vida baseada no carbono depende de um delicado equilíbrio de forças físicas e cosmológicas, bem como de determinados parâmetros. Se estas quantidades fossem ligeiramente alteradas, a vida humana jamais teria sido possível.

            O terceiro capítulo de Eclesiastes consiste em uma longa meditação sobre nosso lugar no tempo. Ao criar a humanidade, Deus colocou “no coração humano até o sentido do tempo” ou “a percepção em sua mente de passado e futuro” (Ec 3.11). Em outras traduções é traduzido por “colocou a eternidade no coração do homem”, temos o sentido da brevidade da vida humana, bem como a intuição profunda de que a realidade é mais do que uma breve fatia de tempo e de espaço que nos foi concedida. A nossa existência efêmera neste mundo indica a possibilidade de algo maior e melhor além dele. Esta ideia de eternidade e de desejo de viver para todo o sempre foi implantado pelo próprio Deus no coração do homem[14]. O desejo de eternidade é tanto em nossa sociedade, que desenvolvemos diversos mecanismos de modo a nos eternizarmos. Nos tempos monárquicos, todos os reis queriam ter uma pintura sua, de modo a não serem esquecidos pelo tempo, mais tarde vieram as máquinas fotográficas, e hoje é tudo “praticamente” eterno. O desejo de eternidade nos nossos dias fomenta o desenvolvimento de todo um mercado de cosmética e operações para reduzir os indícios de envelhecimento, todos queremos parecer jovens e viçosos. Fomos criados para a eternidade, Deus concebeu-nos para um relacionamento eterno e duradouro, uma verdadeira pista para aqueles que desejam e querem mais da vida.

            Tudo o que nos rodeia mostra como Deus está presente e dá-se a conhecer a partir daquilo que está à nossa volta e que ele concebeu, Paulo no discurso aos atenienses no Areópago (At 17), apela aquilo que já lhes fora descoberto mediante a revelação geral – Deus é Criador e soberano sobre a sua criação. Ele é auto-suficiente, a origem de toda a vida e de tudo o mais que a raça humana necessite. Paulo, de modo bem relevante, explica a razão da auto revelação divina na natureza. Deus fez assim “para que buscassem ao Senhor, se, porventura tateando, o pudessem achar” (At 17.27), este é o alvo da revelação geral[15].

            Romanos 1.8-21 tem sido chamado do clássico trecho da revelação de Deus na natureza. A revelação geral através da natureza é universalmente outorgada e universalmente recebida, assim as qualidades invisíveis de Deus “tanto seu eterno poder como a sua divindade” tornam-se visíveis. Contudo, a fala de Deus na natureza não deve ser confundida com a noção de um cosmo falante. A Bíblia nos ensina “Ouça a Deus” e não “Escute a natureza”. Infelizmente sempre quem está longe de Deus, tenta conjeturar novas ideologias, para assim fazer calar uma revelação palpitante a respeito de Deus.

 

Revelação pela natureza Humana

            O segundo meio da revelação geral é a suprema criação terrena de Deus, ou seja o próprio homem[16]. A humanidade foi criada à imagem de Deus (Gn 1.26-27), mas a Queda levou ao rompimento na comunhão entre Deus e o homem. Não obstante, o pecado não conseguiu extinguir de todo a imagem divina nos seres humanos. Às vezes, a revelação geral de Deus é vista na estrutura física e na capacidade mental dos homens. É porém, em suas qualidades morais e espirituais que se percebe melhor o caráter de Deus[17]. Os humanos fazem julgamentos morais, ou seja, julgamentos sobre o que é certo ou errado. Isso envolve mais do que nossa preferência pessoal – gostar ou não gostar – e mais do que mero utilitarismo. É uma capacidade que revela que temos um padrão de norma e conduta, intrinsecamente temos leis gravadas no nosso coração. Valores de justiça e injustiça não são variáveis em todo o nosso mundo e diferentes culturas, ninguém gosta de estar na fila da caixa do supermercado para pagar e ser ultrapassado por um usurpador. Todo o ser humano vai sentir que foi lesado moralmente e pessoalmente[18], até um ateu se sentiria injustiçado. É evidente que o argumento da moral pode ser usado de maneira eficaz para reforçar a afirmação básica de que a fé cristã explica as coisas, ampliando as estratégias referidas anteriormente[19]. Mas ainda assim, talvez a abordagem ateísta tenha algo mais a apresentar, pode o ateísmo defender a ideia de verdades morais? O que podemos esperar de uma sociedade moral, onde não existe um identidade que define os comportamentos e as ações humanas?

            A revelação geral também é encontrada na natureza religiosa da raça humana. Em todas as culturas, tempos e lugares, os homens vêm crendo na existência de uma realidade superior de si mesmos, e até em algo superior à raça humana como um todo. A natureza exata da crença e as práticas até podem variar, mas a tendência para a adoração de algo que seja metafísico ou até físico do nosso mundo, trás à evidência uma percepção interna da deidade, a qual, embora talvez desfigurada e distorcida, ainda está presente e ativa na experiência humana[20].

             

Revelação pela História da Humanidade

            Na história, o amor, a sabedoria e a justiça de Deus são revelados (At 14.17)[21]. Deus se revelou através de sua direção providencial na história da humanidade. Ele atua na sua criação, supervisionando-a e dirigindo-a. Guia os assuntos da humanidade em direção ao cumprimento de seus propósitos, e em favor do seu povo[22]. Um exemplo muito citado de revelação de Deus na história é a preservação do povo de Israel. Essa pequena nação vem sobrevivendo ao longo de séculos, em ambientes basicamente hostis, muitas vezes em face de severa oposição[23]. O povo judeu no tempo de Davi, deleitava-se em recitar os poderosos “atos de Deus” no decurso de sua história (Sl 136). Ele é o Deus que estabelece e derruba os reis (Dn 2.21)[24].

            O estudioso da história encontra traços da atuação divina nas interações que se verificam entre as diversas nações, povos e tribos. A história tem o carácter teológico, a totalidade dela leva os sinais da atividade divina. Toda a história desdobra-se sob o propósito soberano de Deus; Ele a controla, orienta e age pessoalmente nela.

 

            Mediante uma compreensão que atinge todos os homens, individualmente cada pessoa pode claramente perceber a existência, o poder e a justiça de Deus. Entretanto, nenhuma delas louva e serve a Deus por causa do pecado que reina no coração humano. Tal como podemos observar existe um “terreno comum” que é partilhado por crentes e não crentes, todos têm em parte conhecimento de Deus. Este conhecimento, deve ser utilizado como ponte para um diálogo que leva os cristãos a partilharem a sua fé. Esta revelação transversal a todos não é suficiente para salvar porque não revela o evangelho. Mas é suficiente para condenar justamente todos os homens. É verdade que a revelação é perceptível a todos, mas por causa do pecado, que deturpa a nossa visão e entendimento, o ser humano sempre faz uma interpretação errada da revelação geral[25]. Assim a insuficiência da revelação geral, carece de uma outra forma de revelação de Deus, a revelação especial que colmata as lacunas da revelação geral.

 

Revelação Especial – Como podemos conhecer a Deus pessoalmente?

O facto que a revelação geral, não apresenta um plano divino da redenção, leva à situação de carência de uma teologia revelada mediante uma revelação especial de Deus[26]. Normas, mandamentos e proibições morais foram estabelecidas a Adão, pela revelação especial, e não geral. Mesmo antes da Queda, a revelação especial é primariamente entendida em termos de “propósito redentor”. A revelação especial é o complemento completo aquilo no qual Deus se apresenta na revelação geral, mas também é mais específico naquilo que deve ser precedido por um encontro e conhecimento de Deus. Originalmente a revelação especial pode ter sido dada oralmente ou de alguma outra maneira, mas foi mais tarde escrita e agora é encontrada apenas na palavra escrita de Deus, a Bíblia[27][28]. A Bíblia é a única fonte da revelação de Deus como Redentor, bem como de seu plano de salvação, as Escrituras são normativas.

O objetivo da revelação especial está no campo do relacionamento, este objetivo não é apenas aumentar o conhecimento superficial, mas antes ser cirúrgico no que trata ao homem se religar com Deus[29]. Por exemplo a Bíblia, não trata nada sobre a aparência de Jesus, suas características ou interesses, este conhecimento é desnecessário.

É comum pensar-se que a revelação especial é um fenómeno posterior à queda, e que foi exigido pelo pecado humano. Mas a verdade é que não podemos conhecer a qualidade do relacionamento entre Deus e a humanidade antes da queda. Adão e Eva tinham uma consciência límpida diante de Deus quando se encontravam com Ele, estavam constantemente apercebidos dele em toda a parte e tinham a compreensão da sua obra criativa em toda a criação, na sua revelação geral. Além deste facto, as instruções dadas aos homens (Gn 1.28) acerca da posição e da atividade deles na criação insinuam uma comunicação especial do Criador e da criatura, o que apresenta antes da queda a existência de uma revelação especial.

Com a entrada do pecado no mundo, a necessidade de uma revelação especial ficou mais intensa, pois a presença direta de Deus havia-se perdido. Além disso agora era necessário falar de assuntos que antes não eram de interesse, tratar os problemas do pecado, da culpa e da depravação; era preciso providenciar meios de expiação, de redenção e de reconciliação[30]. Agora também o homem não estava tão disponível para ouvir, nem atento para a revelação geral. A revelação especial tratou tanto o conhecimento humano como o relacionamento com Deus.

Normalmente defende-se que a revelação geral é inferior à revelação especial, tanto na clareza do tratamento como na amplitude dos assuntos considerados. A revelação geral exige a revelação específica, contudo, a revelação específica por conseguinte exige a revelação geral. Sem a revelação geral, não teríamos os conceitos a respeito de Deus que nos permitem conhecer e compreender o Deus da revelação específica. A relação entre elas é idêntica à que Immanuel Kant descobriu entre a categoria do entendimento e da percepção dos sentidos: “Pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas”.

 

Meios da Revelação Especial

            Pessoal[31] – O meio mais eficaz e completo da revelação é a encarnação. A vida e ministério de Jesus eram uma revelação especial de Deus[32]. Através do Cristo revelado nas Escrituras inspiradas, o homem chega a conhecer a Deus pessoalmente num relacionamento de redenção. Começando com o conhecimento de Deus (sua existência, perfeição e exigências morais), o homem adquire conhecimentos práticos do próprio Deus por intermédio da comunhão pessoal[33]. Os milagres, sua morte e a ressurreição são a história da redenção em sua forma mais condensada e concentrada. Pedro, após a pesca maravilhosa, caiu de joelhos e disse: “Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador” (Lc 5.8). Estas pessoas encontraram em Jesus uma revelação do Pai.

            Compreensível – Na revelação especial das Escrituras, Deus se revelou na forma antropomórfica, ou seja, segundo as características da linguagem humana daqueles tempos, e usou categorias humanas de pensamento e de ação[34]. Quando a Bíblia usa palavras como “amar”, “dar”, obedecer, ou confiar, significam elas para nós a mesma coisa que, basicamente, significam para Deus, embora seja o seu amor muito maior do que o nosso.

            Históricos – A Bíblia apresenta toda uma série de acontecimentos divinos pelos quais Deus se faz conhecer. Da perspetiva do povo de Israel, um evento histórico e marcante foi Abraão, foi deste homem que Deus levantou um povo para por intermédio dele se apresentar aos povos da sua geração. O livramento do Egito, a conquista da terra prometida, o primeiro Rei Saul, e tantos outros momentos históricos marcantes apresentam e revelam a natureza de Deus[35].

            Transmitida – A Bíblia ao manter de forma perene a revelação especial de Deus, é tanto o registro de Deus e dos seus caminhos, quanto a intérprete dela própria. A revelação escrita é confinada aos 66 livros do Antigo e do Novo Testamento. A totalidade de sua revelação que ele quis preservar, encontra-se armazenada na sua totalidade, na Bíblia. A revelação divina não é um vislumbre fugaz, mas um desvendamento permanente. Ele nos convida a voltarmos repetidas vezes às Escrituras para aí, aprendermos a respeito dEle. A Bíblia não somente é a revelação divina, como também a torna conhecida hoje. A Palavra divina é lavrada de forma permanente nas Escrituras, que são o veículo durável da revelação especial, e fornecem o arcabouço conceptual no qual nos encontramos, com Deus. O que Deus disse aos outros no passado, diz-nos agora através das Escrituras[36].

 

Autoridade e Inspiração das Escrituras

            Será a Bíblia a Palavra de Deus? Este é uma pergunta essencial e merece a nossa reflexão e opinião formada, de modo a não termos duvida quanto à credibilidade da revelação especial. Muitos cristãos pensam que têm de provar a veracidade da Bíblia, antes de terem de testemunhar. Contudo, esta não é a questão essencial na salvação, mas sim ter uma relação pessoal com o salvador, não a sua opinião acerca da Bíblia. Não é o facto de achar a Bíblia que é inspirada que leva a uma convicção para a salvação, mas sim obter a salvação dá-me a garantia da inspiração.

            Tudo o que precisamos fazer para confrontar qualquer pessoa com as afirmações de Cristo, é mostrar-lhes que os Evangelhos são documentos históricos fidedignos.

            Em 2ª Timóteo 3.16 lemos: “Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”. O termo “inspirada” não corresponde a uma inspiração artística, mas no termo original da língua vernácula, corresponde a ter sido “respirada por Deus”, refere-se não aos escritores, mas aquilo que foi escrito. Os escritores bíblicos não eram meras máquinas, nem entravam numa espécie de transe e nem receberam o que deviam escrever por um sussurro aos seus ouvidos. Cada escritor tinha o seu estilo próprio, Deus guiou e controlou de tal modo os homens que eles escreveram, exatamente o que Ele queria que escrevessem[37].

            Jesus durante o seu ministério utilizou diversas vezes os textos Escritos do Antigo Testamento, muitas das profecias e promessas de Deus aos homens vieram-se cumprir através de Jesus[38], Ele certa vez disse: “Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5.18).

            É legítimo procurar a origem e o caráter de uma obra escrita por meio do exame de seu conteúdo. A Bíblia fornece um testemunho interno convincente de sua autoridade incomparável como a mensagem da parte de Deus. A Bíblia revela unidade e consistência espantosas quanto ao seu conteúdo, levando-se em conta a grande diversidade havida na sua compreensão. Foi escrita durante quinze séculos por cerca de quarenta autores de classes sociais diferentes (políticos, agricultores, soldados, médicos), o lugar onde também escreveram foi muito diversificado (palácio, prisão, exílio)[39]. Os gêneros literários variam entre a alegoria, biografia e correspondência pessoal, alguns dos autores escreveram história, outros leis e poesia. Escreveram em continentes diferentes, em cerca de três idiomas e trataram centenas de temas. Ainda assim, os seus escritos combinam-se entre si para formar um todo consistente que desdobra, de modo belo a história de um relacionamento entre Deus e a humanidade.

            As profecias que falam de eventos futuros permeiam as Escrituras. A exatidão dessas predições, conforme o demonstra seus respetivos cumprimentos é realmente notável. Dezenas de profecias dizem respeito a Israel e às nações sem seu redor. Por exemplo: Jerusalém e o seu templo seriam reedificados (Is 44.28), e Judá embora tenha sido salva de cair nas mãos dos assírios, cairia nas mãos de Babilónia (Is 39.6; Jr 25.9-12)[40].

            A Bíblia também recebe um apoio externo que atesta a sua autenticidade. Há mais dum século, os críticos questionavam muitas afirmações históricas do Velho Testamento. Contudo, ainda durante todo o século passado, fizeram-se grandes descobertas que têm confirmado o registo Bíblico[41]. A vida e época de Abraão constituem um bom exemplo da ajuda que a arqueologia pode dar. Muitos críticos do séc. XIX, levantavam dúvidas quanto à historicidade de Abraão, pensavam que era um nómada muito ignorante e primitivo. Achavam que era impossível que soubesse ler ou fazer contas matemáticas e conhecer a Lei. Acreditavam que a sua mudança de Ur para Harã, fora simplesmente uma migração nómada. Sir Leonard Wooley nas suas escavações em Ur dos caldeus, demonstrou que estas ideias eram totalmente erradas. Descobriram que a cidade de Ur, na época de Abraão era altamente desenvolvida. Arqueológos desenterraram residências de tipo avançado e muitas placas de barro equivalentes a livros. Algumas delas eram recibos de transações comerciais, outras eram hinos de templos, e outras eram tabelas de matemática com fórmulas para o cálculo da raiz quadrada e cúbica. Nos armazéns dos templos encontraram-se recibos de inúmeros objetos, ovelhas, queijo, lã, minério de cobre, óleo, listas de salários de operárias, tudo muito prático e relativamente moderno.

            Tornou-se assim claro que Abraão era produto de uma cultura brilhante e altamente desenvolvida e que deve ter significado muito para ele, ter partido em fé para terras desconhecidas.

            A contribuição da arqueologia para o estudo da Bíblia tem servido para trazer mais compreensão e credibilidade à narrativa bíblica[42].

            Através de todos estes exemplos que apresentamos, a veracidade Bíblica é atestada e apontada. Desta forma a revelação específica ganha força no seu conteúdo e na sua importância, este é o meio pelo qual Deus se apresenta, não só o seu plano de salvação mas também a forma como devemos andar e viver. É verdade que Deus pode comunicar pessoalmente de outras formas, mas também é verdade que todas as outras formas têm de passar pelo crivo Bíblico.

 

Considerações Finais

 

A Bíblia é essencial para conhecer Deus e toda a sua revelação redentora para o homem, é essencial para o pensamento teológico cristão. É o único Livro infalível que temos, fala com autoridade inerrante sobre todo o assunto que aborda, quer espiritual, como científico, celestial ou terreno. Mas a Bíblia não é a única revelação de Deus há humanidade, Deus falou no mundo como na Palavra. A nossa tarefa corresponde a conjugar ambos e formar a cosmovisão que inclua a interpretação teocêntrica da ciência, da história e da arte. No entanto, sem a revelação de Deus (tanto geral como especifica) como base, essa tarefa é tão impossível quanto mover o mundo sem um ponto de apoio[43].

Na teologia, a interação entre disciplinas bíblicas e outras disciplinas deve ser sempre uma via dupla. Nenhuma delas faz monólogo para as outras, todas participam no diálogo contínuo. Apesar de a Bíblia ser infalível em tudo o que aborda, ela não fala sobre todos os assuntos. E ainda que a Bíblia seja infalível, nossas interpretações dela não são. Logo as pessoas que estudam a Bíblia devem atentar bem para outras disciplinas e dialogar com elas, para que uma visão sistemática completa e correta possa ser construída.

 

PARTE II

HAVERÁ LUGAR PARA O CRISTIANISMO NA ACTUALIDADE? A VERDADE NUMA CULTURA RELATIVISTA

Filipe Fontes

 

Considerações Preliminares

“Perguntou-lhe (a Jesus) Pilatos: Que é a verdade?”[44]. Esta pergunta, feita originalmente num contexto próprio, reflete uma postura intemporal, adotada por várias pessoas que duvidam da existência de verdades absolutas. Apesar da sua intemporalidade, devemos notar que esta é a postura mais presente na pós-modernidade. Por essa razão, a pergunta a partir do qual este capítulo é escrito baseia-se nesta postura.

Em oposição à postura pós-moderna está a postura do Cristianismo. De facto, “o teísmo cristão considera a verdade como absoluta”[45]. Cientes disto, o primeiro tópico visa combater a ideia de que “Na cultura pós-moderna não há verdades absolutas!” De seguida, voltamos o foco para a relação entre o Cristianismo e as verdades absolutas. Pretendemos mostrar a falsidade da proposição “Os cristãos não têm bases para crer em verdades absolutas!” Para finalizar, diferenciamos o Cristianismo de outras religiões, refutando a afirmação infundada de que “O Cristianismo é igual às outras religiões!”

Note-se que não queremos ser mal entendidos. O nosso objetivo final não é ter razão, nem revelar bons argumentos, mas sim mostrar a Verdade. Queremos partilhá-la, tal como a partilharam connosco. Em consonância com D.T. Niles, de Ceilão, afirmamos que “Evangelização é simplesmente um pedinte a dizer a outro pedinte onde pode encontrar alimento”[46].

Nesta atitude, esperamos que este capítulo seja proveitoso na jornada de pessoas que procuram verdades absolutas pelas quais possam nortear a sua vida. Sabemos queO Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se[47]. Esperamos que este capítulo seja lido com disponibilidade intelectual e emocional, estando cientes de que “Não é Deus quem marginaliza as pessoas; são as pessoas que marginalizam Deus”[48].

 

Na cultura pós-moderna não há verdades absolutas!

A grande maioria dos pensadores contemporâneos é unânime em afirmar que vivemos numa cultura pós-moderna. No entanto, antes de analisarmos o pós-modernismo, importa refletirmos sobre o modernismo e sobre o pré-modernismo, por duas razões. Em primeiro lugar, porque mesmo quando classificamos uma cultura não podemos ser absolutos, julgando que essa classificação explica todos os fenómenos culturais. Pelo contrário, estamos cientes de que a cultura é complexa, e que, por essa razão, mesmo numa cultura pós-moderna verificam-se manifestações modernas e pré-modernas. Em segundo lugar, porque uma boa análise da atualidade requer a adoção de uma perspetiva histórica: “Só nos será possível compreender as tendências atuais do mundo do pensamento, se visualizarmos a situação segundo sua origem histórica e, ao mesmo tempo, atentarmos minuciosamente para o desenvolvimento das formas de pensamento filosófico”[49].

Assim sendo, importa caracterizarmos o modernismo e o pré-modernismo. Os valores deste são: “tradição, família, respeito à moral, à autoridade”[50]. No que modernismo concerne, podemos afirma que nele se verifica “a tendência humanística do pensamento religioso, cujo intuito é suplementar ou suplantar antigos credos e dogmas teológicos mediante uma nova erudição científica e filosófica (…) Dessa forma, a palavra é usada como o oposto de Fundamentalismo[51].

O pós-modernismo, por sua vez, é uma cultura que “rejeita a verdade, em favor da experiência”[52]. Esta breve definição leva-nos a perguntas importantes: como pode o Cristianismo, que advoga deter verdades absolutas, sobreviver numa cultura que nega o conceito de verdade absoluta? Mais: como pode o Cristianismo possuir a verdade, quando o pós-modernismo nega a possibilidade de a conhecer? Afinal, “o conceito de verdade acessível, conhecível, objetiva, é a antítese à epistemologia pós-moderna padrão”[53].

Sintetizando, podemos afirmar que o pós-modernismo traz novas questões ao Cristianismo. Numa cultura pré-moderna, a verdade conhece-se pela tradição, enquanto numa cultura moderna essa verdade é conhecida pelo uso da Razão. No entanto, o pós-modernismo nega a existência de verdades absolutas. Aliás, vai ainda mais longe pois numa cultura pós-moderna, mesmo que existam verdades, a possibilidade de as conhecer é negada.

Para responder a este aparente impasse, vejamos uma afirmação de Craig[54]: “Ninguém é pós-moderno quando o assunto é ler a bula de um remédio em contraste com a bula de um veneno de rato. Se você está com dor de cabeça, é melhor acreditar que textos têm significado objetivo! As pessoas não são relativistas quando se trata de questões de ciência, engenharia e tecnologia; mas são relativistas e pluralistas quando se trata de questões de religião e ética. Mas isso não é pós-modernismo; isso é modernismo! Isso vem do velho positivismo e verificacionismo, que defendiam que qualquer coisa que não se pode experimentar com os cinco sentidos é simplesmente uma questão de gosto e expressão emotiva pessoal. Vivemos num ambiente cultural que continua sendo profundamente modernista.”

Esta afirmação revela, em sintonia com o que já referimos anteriormente, que rotular a cultura atual de pós-modernista é demasiado simplista e redutor. É impossível alguém adotar uma postura pós-modernista em todas as esferas da sua vida, o que demonstra que se verificam manifestações pré-modernas e modernas na cultura atual. Por essa razão, não fazemos deste capítulo um debate epistemológico sobre a existência e cognoscibilidade de verdades absolutas. Quem as negar está a ser incoerente, pois ninguém baseia a sua vida no pressuposto de que estas verdades não existem.

Ao invés, a questão na qual nos devemos debruçar é: o Cristianismo realmente advoga a posse de verdades absolutas? A resposta a esta questão colocará o nosso raciocínio numa das duas opções: ou no âmbito de verdades relativas, o que fará esta reflexão enveredar pelas preferências pessoais, e não como pelo campo ético do certo e do errado; ou no âmbito de verdades absolutas, o que fará esta reflexão enveredar pela aceitação ou rejeição das mesmas, logo pelo certo e pelo errado. Como isto em mente, abordaremos a pergunta supracitada no tópico seguinte.

 

Os cristãos não têm bases para crer em verdades absolutas!

Jesus disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”[55]. Se os cristãos são seguidores de Jesus Cristo, e se Ele afirmou ser a verdade absoluta por excelência, decorre necessariamente que eles têm de advogar crer em verdades absolutas. Esta crença é uma necessidade lógica para que o Cristianismo seja coerente. Além disso, o livro sagrado desta religião – a Bíblia – apresenta-se como o transmissor das verdades divinas absolutas: “O facto de que a Bíblia reivindica o monopólio da verdade é evidente do começo ao fim das suas páginas”[56].

Alguém pode, claro está, argumentar que não acredita que Jesus Cristo é quem o Cristianismo afirma que é, e que não reconhece a Bíblia como um livro inspirado. No entanto, essa é uma posição redutora. Importa lembrar que “Por definição, a verdade é exclusiva (…) Negar a natureza exclusiva da verdade é fazer uma afirmação que reivindica a verdade”[57]. Desta forma, a proposição segundo a qual os cristãos não têm base para crer em verdades absolutas é uma verdade absoluta, razão pela qual não pode ser sustentada por aqueles que negam verdades absolutas. Se, por outro lado, não há a negação de verdades absolutas, então não se pode rejeitar trivialmente a pessoa de Jesus Cristo e a Bíblia como fontes epistemológicas de verdades absolutas. Afinal, a noção de posse destas verdades são tão fortes nas suas palavras que o exame das mesmas deve ser sóbrio. No entanto, não queremos enveredar por esta linha de argumentação. O que pretendemos realçar é que rejeitar o Cristianismo mediante o argumento que conclui que as bases desta religião não se definem como possuidores de verdades absolutas é uma atitude de alguém desinformado.

Pelo contrário, tanto Jesus Cristo como a Bíblia são a base mediante a qual os cristãos creem em verdades absolutas. Neste sentido, estes têm, por necessidade lógica, de viver e defender a sua fé como verdade absoluta. Afinal, “as diferentes e conflituantes perspetivas sobre o significado da vida não podem estar todas simultaneamente corretas. A procura pela verdade inevitavelmente exclui outras opções”[58]. Uma vez mais, a própria natureza da verdade confirma esta perspetiva: “A verdade, pela sua própria natureza, é intolerante em relação ao erro”[59]. Desta forma, a afirmação que deu nome a este tópico está totalmente afastada da realidade do Cristianismo. Afinal, o oposto é que está em consonância com as bases do Cristianismo: só é cristão quem crê em verdades absolutas.

Na nossa perspetiva, o que dificulta a compreensão desta proposição é o facto de ao pluralismo religioso estar associada uma visão normativa. Em sentido denotativo, ele descreve a “situação caracterizada pela existência de diversas opções religiosas e perspetivas sobre religião”[60]. Efetivamente, esta é uma descrição correta da realidade contemporânea. No entanto, o sentido denotativo tem sido substituído pelo normativo: “para alguns, o termo pluralismo é tomado em sentido normativo, que implica a aceitação dessa pluralidade e a recusa de julgar uma religião mais verdadeira ou, de alguma forma, superior a outras religiões”[61]. Esta substituição tem moldado a cultura pós-moderna, levando as pessoas a defenderem que o Cristianismo não tem bases para sustentar a posse de verdades absolutas. Todavia, esta posição é que, na verdade, não tem bases, pois apoia-se numa visão normativa de um termo que é, por definição, descritivo. Por essa razão, essa posição deve ser abandonada, pois não tem bases nas quais se pode sustentar.

Podemos finalizar este tópico reforçando a sua ideia central: os cristãos têm bases para crer em verdades absolutas. Notámos que o pluralismo religioso não põe em causa este facto. Não obstante, podemos perguntar: e o que dizer das outras religiões? Não são as verdades do Cristianismo semelhantes às de outras religiões? Não possuem, todas elas, verdades absolutas? Com estas perguntas em mente, abordaremos de seguida as diferenças entre o Cristianismo em as outras religiões.

 

O Cristianismo é igual às outras religiões!

O Cristianismo não rejeita todas as proposições das outras religiões por exclusividade. Pelo contrário, “Nós (os cristãos) podemos cooperar com outra (religião) em alguns assuntos morais e sociais importantes, mesmo não partilhando as mesmas perspetivas teológicas”[62]. Porém, esta concordância pontual não abre espaço para o ecumenismo, pois a cooperação em causa é pontual e situacional, e não geral e abrangente. O Cristianismo alega que as outras religiões estão certas em alguns princípios que postulam, mas também que elas estão erradas enquanto sistemas de verdades. Isto é, o seu corpo teológico não é verdadeiro em si, razão pela qual o Cristianismo se define como uma religião exclusiva, o que nega desde logo a sua igualdade em relação às demais.

Estamos cientes de que alguns afirmarão: não aceito uma religião que seja exclusiva. Ora, esta afirmação é algo apressada, pois uma análise atenta demonstra que todas as religiões são exclusivas: “é importante perceber que o Cristianismo não é a única religião que reivindica exclusividade (da verdade). Por exemplo, os muçulmanos reivindicam, radicalmente, exclusividade – não apenas teologicamente, mas também linguisticamente”[63]. De facto, a comparação entre as religiões mostra que o Cristianismo é daquelas cuja exclusividade em nada prejudica a sociedade, pois ela não se manifesta em atos violentos[64].

Aliás, podemos ir ainda mais longe, notando que o próprio conceito de religião implica exclusividade. Se esta é “um sistema qualquer de ideias, de fé e de culto”[65], então aderir a um determinado sistema implica necessariamente rejeitar os demais. Aceitar uma concepção das relações entre o mundo natural e o metafísico inevitavelmente conduz à negação de todas as outras concepções. Uma evidência de que todas as religiões são exclusivas é a Fé Baha’I: “Mesmo o Bahaismo, que afirma ser um abraço cósmico de todas as religiões, acaba excluindo os exclusivistas”[66].

Fica assim demonstrado que a exclusividade é um facto inerente ao conceito de religião. Não obstante, seria limitado aplicar este facto às religiões. Pelo contrário, ele abrange todas as concepções religiões, o que inclui o agnosticismo e o ateísmo. Este é uma posição “filosófica que nega a realidade do Deus do TEÍSMO ou de outros seres divinos”[67]. Por sua vez, o agnosticismo “tem uma conotação até mais embaraçosa (do que o ateísmo). O alpha é a negativa, e ginosko é “saber”, “conhecer”, do grego. Agnóstico é aquele que não sabe, não conhece”[68]. Ao contrário do que é socialmente apresentado, estas duas concepções são também exclusivas. O ateísmo exclui aqueles que creem na existência de seres divinos, enquanto o agnosticismo é exclusivista em relação aos que afirmam conhecer. Pelo contrário, esta concepção religiosa prefere uma condição de ignorância.

À luz do supracitado, concluímos que todas as pessoas têm de, ou juntar-se a uma religião exclusiva, ou adotar uma concepção religiosa exclusiva. Isto é, todos somos exclusivos, de uma forma ou de outra. A própria indiferença também o é, pois está exclui aqueles que creem que uma escolha religiosa é importante.

Então, em que aspetos é que o Cristianismo se diferencia das outras religiões e concepções religiosas? Devido aos objetivos do presente capítulo, não nos podemos debruçar sobre estas concepções. Por isso, exploramos somente as diferenças em relação a outras religiões. O pressuposto que importa termos em mente é que “Crer nalguma coisa não a torna verdadeira, como também não crer na verdade não faz com que ela deixe de ser verdade. Factos são factos, independentemente das atitudes das atitudes das pessoas para com eles”[69]. A verdade deriva dos factos, e não das crenças. Isto é importante, pois as diferenças que apresentamos de seguida são factos. Estes comprovam a verdade, à qual devemos responder com fé.

Comecemos por ver as diferenças entre o Cristianismo e as outras religiões em relação aos seus ensinos. Nesta área, destacamos o facto de que “o Cristianismo é o único que oferece certeza da salvação”[70]. É verdade que o conceito de salvação difere de religião para religião. No entanto, todas elas têm um conceito de bem futuro, que corresponde à salvação cristã. No entanto, não queremos focar os conceitos de salvação, mas sim o conhecimento que se pode ter sobre o alcance desse bem futuro. Neste âmbito, as religiões não apresentam certezas futuras aos seus crentes. Estes vivem, no presente, num misto de esperança e medo, pois não sabem se alcançaram o bem futuro que a sua religião promete. Ao invés, o Cristianismo apresenta inequivocamente o modo como alguém pode ser salvo, de forma que é possível qualquer pessoa saber, à luz da Bíblia, qual vai ser o seu futuro.

Um outro ensino que estabelece uma grande diferença entre o Cristianismo e as outras religiões é que aquela apresenta um Deus que quer ajudar a Humanidade a chegar a Ele. Ao invés, estas ensinam aos seus seguidores formas e métodos para conseguir chegar a Deus. De facto, “Cristo oferece-nos o Seu poder para vivermos como devemos (…) Qualquer outro sistema religioso, todavia, é essencialmente uma proposição de «Faça Você mesmo»”[71].

Para terminar a abordagem aos ensinos, queremos ainda notar que o livro sagrado em que se baseiam os ensinos cristãos – a Bíblia – também difere, em termos de confiabilidade histórica, dos demais apresentados por outras religiões, pois “o Novo Testamento é, escancaradamente, o documento mais bem atestado da antiguidade”[72].

Seria um erro pensar que o Cristianismo só difere das outras religiões nos ensinos. Pelo contrário, podemos também notar dissemelhanças se analisarmos os fundadores das diferentes religiões. Ao fazê-lo, vemos que o fundador do Cristianismo é o único que se apresenta como Deus: “Dos grandes líderes religiosos deste mundo, só Cristo reivindica a divindade”[73]. Mas Jesus Cristo não se destaca somente pelo que disse. Aliás, cada pessoa pode afirmar o que deseja. No entanto, a questão é perceber até que ponto às ações corroboram a ousada reivindicação da divindade. Nesta perspetiva, Jesus continua a diferenciar-se dos outros fundadores de religiões, pois “Todo homem pode fazer o que Maomé fez, pois ele não fez milagre nem foi predito. Nenhum homem pode fazer o que Jesus Cristo fez”[74].

 

Considerações Finais

Apesar dos vários argumentos apresentamos neste capítulo, a nossa convicção é que o leitor não os aceitará se os analisar apenas intelectualmente. Afinal, a função dos argumentos apresentados é simplesmente conduzir à fé. Eles são o caminho, e não fim.

Esta perspetiva não desvaloriza a relevância dos argumentos. Pelo contrário, eles são importantes, e por isso nos dedicámos a eles. Acreditamos que “é importante uma apresentação do evangelho acompanhada por uma argumentação clara – não como um substituto racional para a fé, mas como uma base para a fé; não como um substituto para a obra do Espírito, mas como um meio pelo qual a verdade objetiva da Palavra de Deus se pode tornar mais clara, a fim de que os homens a considerem como o veículo do Espírito, que convence o mundo através da sua mensagem”[75].

No entanto, relembramos que o nosso apelo introdutório foi para que a disponibilidade do leitor seja, não só intelectual, mas também emocional. Segundo Pascal, “É o coração que sente Deus e não a razão”[76]. Estamos certos de que os leitores disponíveis intelectual e emocionalmente perceberão a relevância e necessidade do Cristianismo na atualidade.

O facto de a cosmovisão atual ser diametralmente oposta à cristã concorrerá para que tal ocorra. A luz produzida por uma lanterna é mais notada quando estamos num lugar mais escuro. De igual forma, a verdade absoluta do Cristianismo brilha intensamente no ambiente relativista atual: “É contra o pano de fundo desta cultura que chama o mau de “bem” e o bem de “mal” – onde o pecado é celebrado e a justiça ridicularizada – que o Cristo da Verdade brilha de modo mais resplandecente”[77].

Queremos terminar como começámos: apelando a que reflita no que leu, não só com a mente, mas também com o coração. As dúvidas fazem, muitas vezes, parte do trajeto daqueles que sinceramente procuram saber se Deus existe; se Jesus Cristo é Deus; se o Cristianismo possui a verdade absoluta; se o Cristianismo se distingue das outras religiões. Se esse é o seu caso, temos boas notícias: aqueles que buscam sinceramente a Deus encontrá-lo-ão. A esse respeito, ouça as palavras de Jesus: “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus”[78].

 

 

PARTE III

QUEM CRIOU O QUÊ? O MUNDO QUE FOI CRIADO SERÁ O QUE NÓS CONHECEMOS? EVOLUÇÃO SOCIAL E NÃO RELACIONAL

Mauro Nascimento

 

Considerações Preliminares

Muitas perguntas surgem no âmbito do ser humano e da criação do universo. Quem somos? Como é possível o corpo humano funcionar tão perfeitamente? Quem criou o que vemos? O que é a macro e a micro evolução? Devo aceitar a macro evolução? O que é o Teísmo evolucionista?

Vou, através destas perguntas e algumas outras tentar responder, não impondo a visão cristã mas, procurando demonstrar científica e pela lógica do raciocínio humano, que tudo o que a Bíblia diz é verdade. Se a teoria do Big Bang, por exemplo, fosse verdade como se explicaria a sustentabilidade do universo, sua rotação que provoca as mudanças de clima, as luas que mudam as marés? Explodiu e ficou logo sustentado, e funcionando do nada? Se a ciência provou que o cérebro humano tem vindo a regredir ao longo do tempo, como pode ser que tenhamos vindo do macaco, e tornamo-nos inteligentes?   

 

A inteligência humana

Todas as evidências mostram que não há nenhuma razão científica para aceitar alguma forma de modelo macro evolutivo. Isto nos leva ao inteligente e alternativo macro evolutivo. Isto leva-nos ao inteligente e alternativo modelo de projeto das origens.

“’Quem sou eu?’ A penetrante pergunta da autoidentificação precisa ser respondida individualmente. Nossa resposta, quer a percebamos quer não, tem uma enorme influência sobre o nosso modo de pensar e agir, nosso ponto de vista e nosso modo de viver. Nunca foi tão importante como hoje em dia para o cristão entender o que a Bíblia diz sobre o homem, para assim ter uma âncora no mar das especulações humanas.”[79]

A primeira pergunta a ser respondida é a da origem do homem. De onde veio? “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1), diz a Bíblia, e “também disse Deus. Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (vs. 26 e 27).

 As Escrituras ensinam firmemente que nem o universo nem o próprio homem são produtos de um acaso cego. O homem, especialmente, é o resultado da deliberação cuidadosa e proposital da parte dos membros da Divindade triuna.

Adão, o primeiro homem, foi criado à imagem de Deus. Adão é um nome próprio, o termo hebraico do qual se origina também tem o significado de “humanidade”. No Velho Testamento foi frequentemente usado nesse sentido. Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só” e para completá-lo fez uma mulher para ser ajudadora de Adão (Gn 2.18,22). “Pela fé entendemos que foi formado o universo pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb 11.3). Noutras palavras, Deus criou a matéria ex nihilo (do nada). Então, Ele deu forma à matéria, criando os objetos inanimados, as plantas e também animais e o homem.

Desde Sócrates, que no quarto século já dizia: “Conhece-te a ti mesmo”, inúmeros outros luminares da cultura humana têm-se debruçado sobre o problema da sua própria existência, e não poucos se têm enganado e trazido enormes prejuízos à humanidade. Para Platão, o homem é um animal que anda sobre dois pés e não tem asas, conceito também defendido por Voltaire em Cândido, onde usa a expressão “bípede sem asas”. Para Aristóteles, somos apenas um animal sociável. Para Sófocles, o homem nada mais é do que um sopro e uma sombra. Para Homero, entre as coisas que respiram e andam na terra nenhuma é mais lamentável do que o homem. Para Horácio, somos pó e sombras. Para Edward Young, a menor parte do nada. Para Molieri, não passamos de um animal vicioso. Para Otávio Augusto, somos uma ponte caída entre as margens do abismo. Para Dante Alighieri, o ser humano é um animal ridículo. E para o psicólogo Thorndike, somos uma simples máquina de reflexos. Todos esses conceitos, lamentavelmente, tem uma boa dose de verdade, pois refletem, com algumas exceções, o rosário de decepções, fracassos e frustrações da trajetória humana através dos séculos.

A Bíblia, referindo-se às outras obras da criação, afirma: “E viu Deus que isso era bom”. Mas Adão pecou, e, por causa do pecado, a criação ficou sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus (Gn 1.25; Rm 8.20,21). Nas palavras de John Stott, “o homem pode comportar-se como Deus, em cuja imagem foi feito, e ao mesmo tempo como os animais referente aos quais está chamado a ser distinto. Em um momento pode elevar-se às alturas do heroísmo e no momento seguinte submergir nas profundidades do egoísmo e da crueldade. É o inventor dos templos e universidades, hospitais e orfanatos, monumentos e museus, mas é também o inventor de bombas de hidrogénio, câmaras de tortura e campos de concentração. Que estranho paradoxo!”[80]

 

Quem criou?

Claro que o racionalista acha que o conceito de uma criação especial é insuportavelmente bisonho, e até “incrível”, ou seja, algo em que não é possível crer. Tal veredicto, porém, só tem base se a pessoa negar categoricamente a existência de um Deus onipotente. Muitas religiões antigas atribuem qualidades sobrenaturais às forças e aos corpos naturais. Algumas, por exemplo, atribuem a criação da terra ao sol, frequentemente chamado de Deus Supremo. De modo geral, as religiões antigas viam o sol como fonte sobrenatural e mantenedora da vida. A Bíblia também não contradiz as evidências científicas. Ela também rejeita a ideia de um deus-sol sobrenatural. A Bíblia reconhece a lei, a ordem e a interdependência no universo. Mas vai além da ciência e declara a fonte da lei, da ordem e da interdependência no universo.

Podemos buscar na Bíblia uma descrição clara do Criador do universo, e a maneira pela qual Ele criou todas as coisas. A Escritura não é especialmente um texto científico, mas, antes, a revelação de Deus à humanidade. Cremos que ela não erra em termos científicos. Além disso, a criação do universo é um dos poderosos atos de Deus e assim é mencionada em diversas passagens das Escrituras. O apóstolo Paulo descreveu o Criador como “o Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens. Nem tampouco é servido por mãos de homens, como necessitando de alguma coisa, porque ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração, e todas as coisas” (At 17.24-25). É assim que o Criador se descreve: “Eu sou o Senhor que faço todas as coisas, que estendo os céus, e espraio a terra por mim mesmo” (Is 44.24).

“Gênesis 1 rejeita a ideia de que o universo é eterno. Os céus e a terra (o universo) não são eternos. Eles “começaram a ser”, ou foram criados. Se alguém examinar um requesito da ciência (“a matéria não pode ser criada nem destruída”), talvez imagine falsamente que o universo é eterno.”[81]      

 

Macro e Micro evolução

“A macroevolução é uma teoria ou modelo das origens que sustenta a ideia de que todas as variedades de formas de vida provêm de uma simples célula ou ‘ancestral comum’”.[82]

A concepção macro evolucionista mais comummente sustentada é conhecida como gradualismo. Seguindo Darwin, dois famosos cientistas que sustentam essa posição, que é o entendimento clássico do darwinismo, são Stephen Hawking e Richard Dawkins. O gradualismo afirma que são necessários períodos muito longos de tempo para se completar o que é conhecido por formas de vida transicionais ou intermediárias. A macroevolução defende uma mutação de extrema complexidade, levando-a a ponto de provar que o homem veio do macaco por exemplo. Demonstram esta evolução através de uma tabela evolutiva conhecida como; árvore filogenética, onde o ancestral comum é o começo da espécie que evolui para dezenas de outras espécies de extrema diferença. Até os próprios macro evolucionistas vieram recentemente ridicularizar esta teoria, pois a árvore filogenética não é nada mais que galhos filhos (microevolução) e folhas.

As evidências observáveis confirmam que há limitações naturais à mudança genética que dá suporte à microevolução, mas não há nenhuma evidência (científica, paleontológica nem nenhuma outra) que dê suporte à declaração de que a microevolução possa ser extrapolada para o nível da macroevolução.[83] A paleontologia confirma que o aparecimento abrupto das primeiras formas de vida – os cinco mil tipos genéticos da vida marinha e anima – se deveu a uma extraordinariamente curta e rápida explosão global da vida. O macro evolucionista Stephen Gould Jay admite que: A maioria das espécies não exibe nenhuma mudança direcional durante o período delas na terra. Mostram-se no registo fóssil muito parecidas com o que eram quando desapareceram; a alteração morfológica é geralmente limitada e sem direção. Em qualquer área local, uma espécie não aparece gradualmente por transformação constante de seus ancestrais, aparece uma vez e “plenamente formada”.

Todas as evidências mostram que não há nenhuma razão científica por que devamos aceitar alguma forma de modelo macro evolutivo.

Gostaria ainda de analisar a posição teísta da macroevolução. Do ponto de vista comprobatório, não há diferença entre a macroevolução ateísta ou naturalista e a macroevolução teísta. Os teístas macros evolucionistas creem que Deus é a causa por detrás da vida e finalmente a raça humana. Essa teoria inclui Deus e foi desenvolvida por teístas que acreditavam que a macroevolução tinha algum mérito académico. Os teístas macros evolucionistas em geral se esforçam e se dedicam a alguns dos problemas mais graves associados a macroevolução inserindo o trabalho de Deus onde a evidência está gravemente ausente. Os teístas macro evolucionistas enfrentam a mesma dificuldade que os macro evolucionistas ateus ou naturalistas, isto é, a falta de evidências paleontológicas.

Adaptação, ou microevolução, refere-se a mudanças que ocorrem quando uma espécie passa por uma transformação e prospera no seu meio ambiente. Macroevolução é uma teoria que sustenta que a microevolução acontece em maior escala, fazendo com que uma espécie se transforme em um tipo inteiramente novo. A comunidade científica reconhece os dois conceitos; no entanto, cada um deles é marcado por diferenças sobre que provas podem ser observadas na prática, os materiais essenciais exigidos para que isso aconteça, o resultado final das mutações que levam a mudanças aleatórias e a liberdade com a qual isso pode ser ensinado nas escolas.[84]  

A grande diferença entre micro e a macro evolução é que, a primeira pode ser observada enquanto a segunda é apenas teórica.

Os cosmólogos e cosmógonos da escola evolucionista reconhecem o seguinte: “O posicionamento simplista sugere que o universo veio repentinamente à existência e encontrou um sistema completo de leis físicas esperando para serem obedecidas.”[85] 

Para justificar a sua tese, o criacionista utiliza a lei científica de causa-e-efeito. Esta lei que é universalmente aceita e seguida em todos os campos da ciência, relaciona todo o fenômeno como efeito de uma causa. Nenhum efeito é quantitativamente “maior”, nem qualitativamente “superior” à sua causa. O efeito pode ser inferior à sua causa, mas nunca superior. Usando um raciocínio causal, o criacionista teísta nota que:

A Causa Primeira do Espaço limitado precisa ser infinita.

A Causa Primeira do Tempo Infinito precisa ser eterna.

A Causa Primeira da Energia Ilimitada precisa ser onipotente.

A Causa Primeira das Inter-relações universais precisa ser onipresente.

A Causa Primeira da Complexidade Infinita precisa ser omnisciente.

A Causa Primeira dos Valores Morais precisa ser Moral.

A Causa primeira dos Valores Espirituais precisa ser espiritual.

A Causa primeira da Responsabilidade Humana precisa ser volitiva.

A Causa Primeira da Integridade Humana precisa ser veraz.

A Causa Primeira do Amor Humano precisa ser amorosa.

A Causa Primeira da vida precisa ser viva.[86]

 

Concluímos, com base na lei da causa-e-efeito, que a Causa Primeira de todas as coisas precisa ser um Ser infinito, eterno, onipotente, onipresente, onisciente, moral, espiritual, volitivo, veraz, amoroso e vivo! Será que estes adjetivos descrevem a Matéria?

 

Teísmo evolucionista

A evolução Teísta ou Religiosa constitui um verdadeiro problema para alguns. O raciocínio de tais pessoas é este: “já que tantos creem na evolução, para que fazer tanto barulho a esse respeito?” Elas julgam que podemos aceitar alguns princípios básicos da evolução e continuar, ao mesmo tempo, acreditando na existência de Deus e da criação; pensam que talvez Deus fez simplesmente uso da evolução como meio de colocar o homem na terra. Não somente alguns membros da Igreja pensam assim, como também alguns pregadores do Evangelho sente-se inclinado a transigir, acreditando que as evidências são esmagadoras.

Em primeiro lugar vem a criação instantânea. Deus ordena e as coisas são criadas no mesmo instante – este é o ponto de vista mantido pelos defensores da Bíblia, baseados nos relatos de Gênesis 1 e 2; uma segunda alternativa sobre a origem do mundo é crer na evolução ateísta que defenda um mundo que surgiu do nada há milhões de anos atrás; ou melhor surgiu de uma explosão cósmica que deu origem à vida. Esta teoria acredita na evolução progressiva de milhões de anos.

Outra das teorias que surgiria seria, adaptações do evolucionismo que para se adaptar às opiniões religiosas, chegaram mesmo a conceber a existência de homens e mulheres anteriores a Adão – os pré-adamistas – e a sugerir que Gênesis só se referia aos antepassados dos hebreus.[87]

Diziam também que Adão teria beneficiado de uma intervenção divina para emergir desta «pré-humanidade».

Um dos modismos teológicos que mais crescem em seminários, publicações, igrejas e púlpitos em nossos dias atende pelo nome de Teísmo Aberto.

“O Teísmo Aberto é um falso ensino que está ganhando seguidores no Brasil e no mundo de forma sutil. Isso porque se apresenta de tal forma e com argumentos sentimentais que enredam o cristão simples com facilidade. Não são poucos os que já aderiram ao Teísmo Aberto e nem notaram ainda. Alguns nem sabem aquilo em que acreditam chama-se Teísmo Aberto.”[88]

O Teísmo Aberto surgiu em meio ao debate entre duas correntes teológicas: o arminianismo e o calvinismo. Na ânsia de defender o arminianismo, alguns teólogos, líderes e pensadores evangélicos descambaram para essa teologia liberal, que não honra a Deus nem a Bíblia, e têm influenciado muitos com seu discurso. “O Teólogo liberal canadiano Clark Pinnock é o nome mais expressivo do movimento teológico denominado Openness of God (sinceridade – ou abertura – de Deus) ou Open Theism (Teísmo Aberto). No Brasil, esse pensamento é denominado Teologia da Abertura de Deus ou Teologia Relacional. Trata-se de uma vertente da Teologia Liberal. Anos atrás, Clark Pinnock era conhecido como teólogo conservador de linha calvinista, até que teve sua visão mudada, aderindo ao arminianismo. Até ai tudo bem. Alguém pode ser arminiano ou calvinista e ser coerente biblicamente, apesar das diferenças entre duas correntes na interpretação de determinadas verdades bíblicas. Do arminianismo, Pinnock partiu para o pluralismo religioso, ou seja a crença de que budistas, islâmicos e religiosos de outras vertentes podem ser salvos sem aceitar Cristo. Em seguida abraçou o universalismo, a doutrina de que no final todas as pessoas do mundo em todas as épocas serão salvas. Mais recentemente, apoiou a “bênção de Toronto”, movimento neopentecostal canadiano que teve repercussão internacional no início dos anos 90. Aquele em que as pessoas caíam no chão emitindo sons de animais e rebolam no chão tomado por uma tal “unção do riso”.

 Teísmo Aberto é uma invenção teológica subcristã que declara que o maior objetivo de Deus é entrar num relacionamento recíproco com o homem, onde o criador é afetado pelas escolhas dos homens; e Deus não conhece o futuro plenamente, nem as escolhas livres que suas criaturas ainda farão. Ou seja, nega a Onipresença, a Onisciência e a Onipotência de Deus. Seus defensores apresentam outra definição onde afirmam pretender uma reavaliação do conceito da onisciência de Deus, na qual se afirma que Deus não conhece o futuro completamente, e pode mudar de ideia conforme as circunstâncias. Afirmam também, alguns defensores, que o termo “Todo-poderoso” não pode ser extraído do contexto bíblico pois, segundo eles, a tradução original da palavra do qual é traduzida tal expressão se havia perdido ao longo dos séculos.

 

Considerações Finais 

Deus é tudo em tudo, o que significa que sem Ele nada subsiste. Parece não haver maneira possível de se evitar a conclusão de que, se afinal de contas a Bíblia e o Cristianismo são verdadeiros, as eras geológicas precisam ser completamente rejeitadas. “O grande complexo de movimentos ateístas gerados pelo poderoso e penetrante sistema de uniformitarismo evolucionista só pode voltar atrás se o seu alicerce for destruído.”[89] Claro que isto requer o estabelecimento do modelo de criação especial, com base bíblica e científica, com o verdadeiro alicerce para o conhecimento e a prática em todos os campos. Espero que este capítulo tenha proporcionado as informações necessárias para que deixa suas dúvidas de lado.

 

 

PARTE IV

QUEM É DEUS? A REVELAÇÃO PLENA DE DEUS NA PESSOA DE JESUS CRISTO

André Simões

 

 

Considerações Preliminares

Afinal quem é Deus? Ele existe mesmo? Como é que posso conhece-lo e ter a certeza de que Ele existe?

Neste capítulo procuraremos responder a estas questões, sendo que, a razão base, pela qual sabemos que Deus existe, é porque Ele se revelou de forma plena através da pessoa de Jesus Cristo. Jesus Cristo é o Deus que se tornou homem[90]. Este é o assunto principal que abordamos nas seguintes linhas.

 

Quem é Deus e como podemos conhecê-lo?

Quando nos referimos a Deus, claramente pensamos em alguém que é o criador e sustentador de todo o universo cósmico. Algumas das formas de conhecermos Deus é através da Sua revelação escrita – a Bíblia Sagrada; e através da Sua encarnação – Jesus Cristo. Nesta capítulo é feita uma abordagem apologética da revelação de Deus na pessoa de Jesus, uma vez que a revelação de Deus através da Palavra já foi desenvolvida anteriormente no capítulo I.

Mas quem é Deus? Deus é um Deus pessoal e infinito que criou os céus, a terra, e o homem à Sua própria imagem.[91] Deus contou à humanidade sobre quem Ele é, como Ele é e qual o Seu plano para o planeta Terra. Na Bíblia podemos descobrir quem Ele é efetivamente.

Como podemos conhecê-lo? A única forma de o conhecermos realmente, é através do Seu Filho, Jesus Cristo. “Se alguém quer saber quem Deus é e como Ele é, basta olhar para Jesus Cristo”[92]. Jesus afirmou: “Quem me vê a mim vê o Pai (Deus).”[93] Podemos conhecer Deus através da pessoa de Jesus Cristo. Nos próximos tópicos deste capítulo abordamos a pessoa de Jesus Cristo.

 

O Jesus de Nazaré da História    

Alguns dos documentos históricos mais importantes e de referência que relatam a vida de Jesus de Nazaré, são os evangelhos escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas como podemos confiar na veracidade destes escritos? Mateus e João foram testemunhas oculares da vida de Jesus, ao passo que Marcos terá escrito o evangelho segundo os relatos do apóstolo Pedro, e Lucas terá feito uma pesquisa junto das testemunhas oculares.[94] Além da Bíblia, existem outras fontes bem documentadas que confirmam a pessoa histórica de Jesus. O historiador judeu, Flávio Josefo (nascido em 37 d.C.) fala acerca de Jesus.[95] Muitos outros homens e documentos escritos da história universal, dão testemunho da historicidade de Jesus. Devemos ter como certo que este Jesus que a Bíblia fala não é um mito. É impossível não acreditar na historicidade da pessoa de Jesus. Como diz Augusto Cury “A personalidade de Cristo é ‘inconstrutível’ pela imaginação humana.”[96] Não seria possível inventar toda a pessoa e obra de Jesus Cristo, porque está para além do imaginável do ser humano.

Este Jesus histórico que nasceu em Belém, é o fundador do cristianismo. As ideias e crenças do cristianismo, têm a sua origem naquilo que Jesus disse e fez. Paul Little afirma que tudo o que diz respeito ao Cristianismo é determinado pela pessoa e pela obra de Jesus Cristo.[97] “O Cristianismo é Cristo do princípio ao fim.”[98] Se retirarmos Cristo do Cristianismo, é impossível este subsistir. Mas quem é este homem e o que é que ele fez de tão especial?

Josh McDowell no seu livro “Evidência que exige um veredicto”, usa a seguinte expressão acerca de Jesus: “Se Jesus não era Deus, então merecia o prêmio de melhor ator”[99]. Josh apresenta a pessoa de Jesus Cristo, e fala do Trilema, isto é, existem três hipóteses diante da Sua afirmação que era Deus: 1) Ou era um mentiroso; 2) um lunático; 3) ou então estava a falar a verdade e é realmente o Senhor.[100] Mas analisemos estas hipóteses mais pormenorizadamente.

Se Jesus era um mentiroso consciente, quando Ele ensinava as pessoas a serem honestas, Ele próprio estava a ser hipócrita porque não praticava aquilo que ensinava. Se Ele mentia ao dizer que era Deus, então era um demônio porque levava as pessoas a confiarem Nele. Jesus também seria um tolo, pois a Sua afirmação, foi o que O levou à morte[101]. É impossível que Jesus tenha sido um mentiroso compulsivo diante da pureza e dignidade moral do Seu ensino, obras e estilo de vida.[102] Ninguém está disposto a morrer por defender uma mentira consciente, a não ser que seja louco. O homem só está disposto a morrer por aquilo que acredita ser verdadeiro.

Outra hipótese do Trilema, é que Jesus podia ser um lunático, alguém fora do seu perfeito juízo, um louco. Mas é difícil aceitar que Jesus era um lunático diante dos Seus ensinos teológicos. Em todos os relatos dos evangelhos, nunca vemos alguma atitude de fanatismo ou loucura por parte de Jesus. Não vemos alucinações em Jesus. Há uma clareza e limpeza de pensamento e raciocínio que refutam esta hipótese. O retrato que os evangelhos nos dão, é o de um Jesus que estava sempre seguro de si próprio. Quando foi provocado e perseguido, sempre demonstrou autocontrolo, tranquilidade e equilíbrio mental.[103]

Por último, temos a alternativa mais óbvia e sábia que é aceitar que Jesus ao afirmar ser Deus, estava a dizer a verdade e isso faz Dele Senhor e Deus. Se formos honestos e procurarmos descortinar todas as evidências, aceitaremos como certo esta hipótese, porque é impossível que alguém que viveu, ensinou e morreu como Jesus, tenha sido um mentiroso ou lunático.

Se considerarmos que Jesus é uma personagem histórica e que as Suas alegações são verdadeiras, e é de facto Senhor e Deus, podemos então passar ao próximo passo: considerar como verdadeiro tudo aquilo que Ele disse e fez.

Já referimos anteriormente que Jesus afirmou ser o Filho de Deus. São inúmeras as passagens Bíblicas que registam este facto incontornável. Como Filho de Deus, Jesus nunca pecou, nunca houve na Sua vida qualquer falha moral. Através de vários milagres e sinais realizados por Ele, que temos conhecimento através dos evangelhos, vemos a Sua autoridade e o Seu poder sobre as forças naturais e sobre as enfermidades daqueles a quem curou. Somente o Filho de Deus teria poder para operar estes sinais, e Jesus foi, e é esse Deus feito homem.[104]

O maior milagre que atesta a divindade de Jesus é a Sua ressurreição de entre os mortos. No próximo tópico procuramos provar a morte e a ressurreição de Cristo.

 

Evidências da morte e ressurreição de Cristo

Cristo profetizou a própria morte e ressurreição ao terceiro dia[105]. Mas existem evidências históricas que comprovam estes factos?

A ressurreição de Cristo é a base genuína para a autenticidade do cristianismo.[106] O apóstolo Paulo declarou que se Cristo não ressuscitou, então o cristianismo não vale nada.[107] Podemos dizer que o cristianismo sem a ressurreição de Cristo, não permanece de pé. Uma coisa não existe sem a outra. É a ressurreição que torna evidente que Jesus era o Filho de Deus.[108] Portanto, se conseguirmos provar que Jesus não ressuscitou dos mortos, então anulamos o cristianismo. Mas, se pelo contrário, houver evidências dessa ressurreição, então o evangelho tem toda a veracidade.

A ressurreição é em si um milagre, a intervenção do sobrenatural. Se uma pessoa rejeita a ação do sobrenatural na esfera humana, então fica difícil levar alguém a crer neste veredicto. Mas precisamos fazer um exame das evidências.

A ressurreição de Cristo não pode ser provada cientificamente, porque a ciência produz um conhecimento a partir da observação contínua de testes de hipóteses e experiências.[109] Isto significa que o método científico é limitado e ineficaz. A ciência não consegue provar os factos relacionados com a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, porque estes foram um ato único.

Analisar algo que possa ter acontecido há mais de dois mil anos atrás, só pode ser feito tendo em consideração os argumentos históricos. É preciso então fazer uma pesquisa histórica.

Os relatos que temos acerca da ressurreição de Jesus, foram escritos pelos Seus seguidores. Estes sabiam distinguir os factos, de fábulas e mitos. Vários textos[110] provam que eles não eram ingênuos nem ignorantes. No primeiro século eles podiam não ter muitos conhecimentos de ciência, mas sabiam que os cegos, coxos e paralíticos, normalmente ficariam assim até morrer. Por essa razão ficaram admirados com as curas e milagres que Jesus fazia.[111] Os discípulos creram em milagres porque viram eles acontecerem.

O evangelho de João[112] relata a dúvida que dominava o coração do discípulo Tomé. Alguém que tinha andado com Jesus, que tinha visto Ele a operar milagres, estava incrédulo acerca da Sua ressurreição. Tomé apenas acreditaria se tocasse nas feridas de Jesus. Assim, a sua dúvida foi desfeita quando Jesus se revelou a ele.[113]

Precisamos examinar a ressurreição de Cristo sob o critério histórico porque esta é uma questão histórica. Como já vimos no exemplo anterior, a fé dos discípulos estava baseada em experiências de factos reais. Outra afirmação é aquela que Lucas escreve: “Aos quais também, depois de haver padecido, se apresentou vivo, com muitas provas infalíveis, aparecendo-lhes por espaço de quarenta dias, e lhes falando das coisas concernentes ao reino de Deus.”[114] Lucas era um médico e historiador que procurou evidências junto das testemunhas oculares. Lucas usa a expressão “muitas provas infalíveis” dando ênfase à questão da veracidade dos seus registos. Assim o Novo Testamento constitui a principal fonte de informação histórica da ressurreição, e as descobertas arqueológicas confirmaram a exatidão destes manuscritos.[115] Vários estudos provam que estes documentos do Novo Testamento foram escritos antes do ano 64 d.C., conferindo grande autenticidade aos seus relatos, isto porque o tempo que ocorreu entre os eventos da vida de Jesus e o registo deles, não foi o suficiente para afetar a sua exatidão. A segunda razão para confiar na integridade do Novo Testamento é que foi escrito por testemunhas que tiveram uma grande proximidade não apenas temporal, mas também geográfica dos eventos, são relatos de testemunhas oculares e não boatos que passaram de boca em boca. É mais provável que Jesus ressuscitou, do que todas as testemunhas oculares tenham cometido o mesmo erro de identificar o Cristo ressuscitado.

Outro dado a considerar é a igreja cristã ter surgido e o facto dela se referir constantemente à ressurreição de Jesus como base do Seu ensino, pregação, vida e morte. Também os primeiros cristãos, antes judeus, alteraram o dia de culto, Sabbath judaico, para o domingo, o dia em que Jesus ressuscitou, a fim de celebrarem esse acontecimento.[116]

Ao pensar na ressurreição de Cristo devemos nos focar e tentar explicar como é que o túmulo apareceu vazio no domingo de manhã. Existem várias teorias que podemos considerar, como os discípulos terem roubado o corpo de Jesus, ou o corpo ter sido escondido pelas autoridades, etc. O espanto dos discípulos ao verem o túmulo vazio prende-se com o facto dos panos de sepultamento não estarem desarrumados, mas estavam exatamente como haviam sido enrolados em volta do corpo de Jesus, apenas estavam murchos.[117] Isso só poderia acontecer de forma sobrenatural. O túmulo de Jesus também estava selado com o selo do imperador romano, e ninguém teria a ousadia de quebrar esse selo. Tambe﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽sadia de quebrar esse selo. r romano, e ninguem  sido enrolados em volta do corpo de Jesus, apenas estavam murchos.”ém os guardas romanos dificilmente deixariam de guardar o túmulo de qualquer maneira, uma vez que isso significava negligência e por consequência a morte. Certamente que algo sobrenatural fez aqueles guardas fugirem.

Mas além do túmulo vazio temos as aparições de Jesus depois da ressurreição, que não foi a um grupo restrito. Paulo escreveu que mais de 500 pessoas viram Jesus ressuscitado e que a maior parte delas ainda estavam vivas.[118] Será que 500 pessoas podiam ter tido a mesma alucinação? Ou será que 500 pessoas teriam confundido a pessoa de Jesus Cristo com outra pessoa qualquer? Não me parece razoável considerar tais teorias, pois a probabilidade disso ter acontecido é muito menor do que Deus ter ressuscitado Jesus. Por outras palavras, é mais fácil crer na ressurreição.

 

Considerações Finais

A história comprova que Cristo não é um mito, Ele é histórico. Pelos relatos que existem, não apenas religiosos, mas também seculares da sua época, percebemos que Ele não era um homem qualquer, mas o Filho de Deus. Cristo é a revelação plena de Deus à humanidade.

Ao nos debruçarmos sobre as questões relacionadas com a Sua morte e ressurreição, não temos escolha a não ser realmente negar ou aceitar aquilo que Jesus oferece. É impossível ficar na dúvida ou céptico de alguma forma, em virtude de tantas provas irrefutáveis, mas é possível optar pela aceitação ou negação porque Deus não interfere no livre-arbítrio do homem. 

Olhar para a história, e ouvir o testemunho de vidas que foram transformadas ao aceitarem Cristo como o Filho de Deus, é um fenômeno que só é possível porque Ele é realmente Deus.

 

 

PARTE V

NA PERSPECTIVA DA EXISTÊNCIA DE UM DEUS, COMO DEVE O HOMEM VIVER PERANTE ELE? O NOVO NASCIMENTO E O NOVO PADRÃO MORAL

Nuno Ferreira

 

Considerações Preliminares

O que a Bíblia diz é que Cristo: sua vida, morte e ressurreição tem que ser central na nossa fé. Se acreditarmos apenas que ele existiu, viveu e morreu como homem, não ressuscitou como Filho de Deus, que venceu a morte então a nossa a fé não passa duma fraude porque nunca vamos chegar “à medida da estatura da plenitude de Cristo.” Se ele não está vivo, como vai ser formado em nós?

Não há maior questão do que esta – da sua resposta depende toda a vida dos homens, terrena e eterna.

Então a mensagem da ressurreição é central! Trata-se um apelo é formação espiritual. Ele vive em nós! Ele dá-se a conhecer através de nós! E para isso precisa de ser formado em nós! Rejeitando a verdade sobra a morte – o salário do pecado é a morte (não a aniquilação, mas uma vida sem a Vida).

 

 A Experiência Cristã 

A experiência cristã resume-se nisto: Crer em Jesus Cristo. Sendo que essa crença envolve total entrega e confiança à verdade que Jesus reivindicou no seu ministério. Vamos analisar esta realidade na base de dois textos bíblicos:

 

“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. E para onde eu vou vós conheceis o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto. Disse-lhe Felipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. Respondeu-lhe Jesus: Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheces, Felipe? Quem me viu a mim, viu o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” João 14.1-9.

Poucas horas antes de ser crucificado Jesus começa a preparar os seus discípulos para a dolorosa separação. Mas nenhum deles estava preparado e todos ficaram em choque com estas declarações.

Percebemos pelas palavras de Tomé, que havia um clima de tensão no ar. A falta de uma resposta ‘compreensível’ estava deixá-los ansiosos e confusos.

Mas no meio da dúvida, do medo e da indefinição de Tomé, Jesus assumiu-se como o caminho para chegar a Deus. E é na medida que caminhamos em Cristo e com Cristo que vamos nos tornando pessoas mais resolvidas no que diz respeito à fé, convictas e conscientes de quem é Deus!

A resposta dada a Filipe é outra confidência: “Quem me viu a mim. Viu o Pai”. O próprio Jesus assume-se como a revelação plena de Deus.

O que adiantaria saber que Deus existe senão fosse possível ter a certeza de quem Ele é, como é, com quem é parecido, de que modo somos ou não semelhantes a Ele?

“A missão de Jesus foi a de vir a um mundo que estava em completa discordância com Deus, a fim de demonstrar como é realmente o Pai, como Ele sempre foi e sempre será. O melhor meio de conhecer a Deus é conhecer a Jesus. A vida e a morte de Cristo apresentam o mais nítido retrato da natureza de Deus.”[119]

 

Portanto, Tomé poderia estar confiante na medida em que não parasse de caminhar! O destino: O Pai, estava garantido, porque tinha sido revelado em Jesus.

Isto leva-nos a concluir que quando as pessoas não têm fé, mas querem chegar até Deus, Jesus revela-se como o caminho a seguir!

 

O começo da experiência Cristã é marcado pelo Novo Nascimento.

 

“Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” João 3.1-3

Já vimos que é a caminhada que nos transforma porque é durante esse percurso que chegamos a Deus e somos moldados à imagem de Cristo. Mas essa experiência começa com um acontecimento que a Bíblia chama de Novo Nascimento.

Um conceito que foi introduzido a Nicodemos e revolucionou o entendimento dele acerca de Jesus.

Nicodemos era alguém importante entre a classe religiosa dos Fariseus. Era também alguém importante no Sinédrio (assembleia político-religiosa dos Judeus).[120]

Para os Judeus a forma correta de viver diante de Deus era através do cumprimento rigoroso dos rituais previstos na Lei. A fé deles estava colocada nesses rituais.

 

Os rituais estavam programados “para ensinar os israelitas os princípios da santidade divina, da pecaminosidade humana, da necessidade de arrependimento e da morte expiatória como resposta à transgressão humana.”[121] Os ensinamentos de Jesus acerca da Lei estão dentro deste alinhamento. (cf. Mateus 5.17-48) O foco era a obediência motivada por um desejo profundo de agradar a Deus. Mas o que era observado inicialmente com boas intenções acabou por se perverter. O papel da Lei no seio da comunidade foi invertido porque o orgulho acabou por corromper os seus corações. O cumprimento da Lei tornou-se uma obsessão com único fim de atingir a “santidade” por mérito próprio.

Com isto percebemos que uma lei perfeita sem expiação levaria o homem à neurose.

Portanto, se Jesus Cristo fosse apenas o Mestre e o Modelo no cumprimento da Lei, a nossa situação seria insuportável mas Ele é Salvador. O Novo Nascimento é estar aberto para compreender esta dimensão do ministério de Jesus. Nicodemos foi desafiado a deixar os velhos paradigmas da interpretação humana da Lei e basear a sua fé nesta verdade.

Quando Jesus fala com Nicodemos usa como estratégia a referência “de cima”. Nicodemos reconheceu que Jesus vinha da parte de Deus, do Altíssimo, e Jesus desafiou-o a ‘nascer de novo’ ou seja, ‘nascer de cima’. Jesus referia-se há mudança no interior do homem provocada por Deus – “ mudança que vem de cima”. Significa dar espaço a uma transformação espiritual que vai fazer a pessoa largar os velhos paradigmas e basear a sua fé na verdade.

 

No decorrer do diálogo, Jesus confrontou-o com a realidade de uma Fé PESSOAL. “Quem não nascer da água e do Espírito”… Não pode ver o reino de Deus, disse-lhe Jesus. No fundo, apelou a uma decisão que seria determinante para a sua vida! A fé já não corresponde a uma expectativa coletiva na mudança na esfera política (na qual finalmente o reino de Israel seria restaurado) mas corresponde a uma dimensão pessoal que exigia uma mudança interior. Parafraseando a mensagem de Jesus: “ o reino de Deus não começa quando os Romanos forem expulsos de Israel, mas quando tu expulsares o pecado do teu coração”!

Por isso o Novo Nascimento é uma evidência insubstituível na experiência cristã.

Nicodemos como um bom conhecedor das Escrituras sabia ao que é que Jesus se estava a referir: “Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias, e de todos os vossos ídolos, vos purificarei. Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis.” Ezequiel 36.25-27

 

Este texto relembra os homens que Deus não pode ser confinado a um sistema religioso que escraviza o homem à Lei. Sempre que o homem encara a verdade de Deus na perspetiva humana perde a liberdade e a alegria da comunhão com Deus. Por isso é que a religião tende a produzir pessoas frias, duras e intolerantes. Quando o evangelho de Jesus ensina primeiro a compaixão, depois aceitação e por último, mas mais importante, a verdade.

 

O bem e o mal

A discussão do bem vs mal é muito vasta nos temas que abrange. Vamos nos focar nos dois pontos apresentados:

A fonte do problema do Mal – O Pecado // A consciência do Mal

“Primeiro, como diz J. B. Phillips: O mal é inerente ao arriscado dom do livre arbítrio. Deus podia ter-nos feito máquinas, mas para isso ter-nos-ia privado da nossa preciosa liberdade de escolha e deixaríamos de ser humanos. O exercício da livre escolha da direção do mal, no que nós denominamos por ‘queda’ do homem é a razão básica do mal e sofrimento no mundo. É responsabilidade do homem, não de Deus. Ele podia acabar com o mal, mas se o fizesse destruir-nos-ia a todos. Vale a pena notar ‘que o ponto fulcral do verdadeiro Cristianismo não está em interferir com a capacidade humana de escolher, mas em produzir uma disposição voluntária para escolher o bem em vez de o mal.”[122]

A citação feita a J. B. Phillips leva-nos a constatar que a partir do momento em que o homem desobedece a Deus e se torna conhecedor do “bem e do mal” a sua condição espiritual muda. O relacionamento com Deus é prejudicado. A “Queda” do homem introduziu-o a uma luta interior entre o bem e o mal. O homem que desconhecia o pecado, agora tem que “lutar” contra ele.

Esta realidade não é reconhecida exclusivamente pelo cristianismo, considerando que decorreu em certo sentido do Judaísmo.

Mesmo antes de Israel existir como ‘povo escolhido’ de Deus já o homem tinha consciência do transcendente e já procurava por intermédio dos sacrifícios de animais uma relação com a divindade ou pelo menos buscava o favor de Deus em detrimento da ira divina sobre o pecado (tudo aquilo que desagrada a Deus). Pearlman afirma “Uma das crenças mais profunda e firmes da antiguidade era que a imolação de uma vítima afastaria a ira divina e asseguraria o favor de Deus.”[123]

É neste contexto cultural que mais tarde Deus vai projetar o modelo de adoração genuína e da integridade moral do homem – por intermédio da Lei.

Vemos que apesar da profunda alienação espiritual do homem, Deus não se conformou com o estado de separação que havia entre Ele e a Humanidade e estabeleceu uma Aliança (Adão, Noé, Abraão, Isaque e Jacob… Israel… Humanidade) com o propósito de se revelar e reconciliar o homem consigo. Os sacrifícios carimbavam este propósito.

Neste sentido a Bíblia revela que o ato de sacrificar estava totalmente imbuído da consciência de culpa e o animal representava o objeto da ira de Deus pelos pecados do ofertante. Por isso o ritual não era de maneira nenhuma desprovido de intenção, pelo contrário, era acompanhado de uma reflexão profunda sobre o pecado, que separa o homem de Deus. O sacrifício representava também a tentativa humana de chegar ao coração de Deus. Era a forma do homem ter comunhão com Deus.

 

Então, em linha com o que encontramos antes de Cristo com a lei e os sacrifícios propiciatórios, o sacrifício surge como o meio pelo qual Deus consciencializa o homem do seu pecado e da necessidade de EXPIAÇÃO.

Cada um dos cordeiros oferecidos antes de Cristo para EXPIAÇÃO do pecado do povo prefigurava a plenitude da Salvação que se consumou em Cristo. É Ele o nosso sacrifício expiatório.

As escrituras apresentam Jesus como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29). Esta abordagem à obra de Jesus na Cruz incide diretamente no conceito que já vimos em que o cordeiro era oferecido como objeto da ira divina por causa do pecado do povo. Desta forma, quando as escrituras dizem que Cristo foi feito pecado por nós (2 Coríntios 5.21), significa que através morte substitutiva de Cristo a ira de Deus em relação ao nosso pecado é desviada para Jesus (Romanos 5.8,9).

No livro de Isaías está escrito: Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos. (Isaías 53.10 ARA)

 

Ao focarmos somente na ira de Deus corremos o risco de interpretar erradamente a justiça divina. Não podemos esquecer que ao entregar o seu próprio filho, Deus estava-se a dar a si mesmo. Há maior prova de amor que esta? Se vemos na propiciação um pretexto para idealizar Deus como um ser irado à procura de vingança, perdemos a verdade do Sacrifício de Jesus.

Segundo John Stott “é o próprio Deus que, em ira santa, necessita ser propiciado, o próprio Deus que, em santo amor, resolveu fazer a propiciação, e o próprio Deus que, na pessoa do seu Filho, morreu pela propiciação dos nossos pecados. Assim, Deus tomou a iniciativa amorosa de apaziguar sua própria ira justa levando-a em seu próprio ser no seu próprio Filho ao tomar o nosso lugar e morrer por nós. Não há nenhuma grosseria aqui que evoque o nosso ridículo sentido de justiça, apenas a profundeza do santo amor que evoca a nossa adoração.”[124]

 

Portanto quando um ateu pergunta: “Se realmente existe um Deus teísta que é completamente bom e todo-poderoso, então por que ele permite a existência do mal?”

Primeiro ele está a cair em contradição e segundo ele não está a ir à raiz do problema.

Como podemos saber o que é o Mal se não soubemos o que é o Bem? E como poderemos saber o que é o Bem se não tivermos consciência de um padrão objetivo do Bem que esteja além da nossa própria concepção? Por outras palavras, a reclamação do ateu quanto à existência do mal não põe em causa a existência de Deus, pelo contrário, o ateu mesmo sem perceber parte do pressuposto que Deus existe, o que é uma contradição ideológica. A única coisa que a pergunta sugere é que o diabo existe, mas não pode provar que Deus não existe.[125]

 

Em seguida, vemos claramente a bondade de Deus, presente em toda a iniciativa de Divina de Salvar o homem da condição em que ele mesmo se colocou. A existência do Mal na terra é responsabilidade do homem.

Deus não tinha qualquer obrigação/dever de trazer a Salvação ao Homem. Mas no evangelho de João 3:16 (“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”) percebemos que o princípio da Salvação é o amor obstinado de Deus pela humanidade. Caso contrário Ele teria eliminado o problema simplesmente destruindo toda humanidade, porque a fonte do mal foi e continua a ser o “livre arbítrio”.

“ Se Deus fosse eliminar todo mal, então teria de eliminar o nosso livre arbítrio. E se ele eliminasse o nosso livre arbítrio, não teríamos mais a capacidade de amar ou de fazer o bem. Este não seria mais um mundo moral.”[126]

 

Em Cristo Deus resolveu o problema da salvação do homem sem retirar a liberdade de escolha. E ao mostrar a nobreza do Seu amor deu-nos a possibilidade de viver uma vida nova, não mais escravizados pelo pecado.

“Para a liberdade Cristo nos libertou; permanecei, pois, firmes e não vos dobreis novamente a um jogo de escravidão. (…) Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da liberdade para dar ocasião à carne, antes pelo amor servi-vos uns aos outros. (…) Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça da carne. Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis. (…) Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia, a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as fações, as dissensões, os partidos, as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a estas, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade. A mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.” (Gálatas 5:1-26)

 

 A ampliação do Problema – Natureza Pecaminosa // tendência ou inclinação para o Mal

 

Tal como vimos anteriormente, o pecado não é apenas um problema espiritual mas um mal moral. Suportamos esta afirmação com base nesta constatação: A natureza pecaminosa do homem foi gerada pela condição pecaminosa em que Adão e Eva se encontravam depois de terem desobedecido.

 

A inclinação (ou tendência) do homem para o mal não vem pelo simples facto do homem ter a opção de pecar mas do pecado se tornar efetivamente um hábito diário e constante. A natureza pecaminosa surge quando o mal se torna mais do que uma opção, torna-se uma prática diária contínua e consciente. E esta é de responsabilidade individual e não imputada por Adão.

 

Portanto, a natureza pecaminosa é o resultado progressivo da condição do Homem pós-queda e a não um estado automaticamente adquirido através pecado de Adão.[127] Porém, a escolha que Adão fez no Éden sujeitou a humanidade à influência do mal sobre as nossas decisões do dia-a-dia, o que corrompeu toda a estrutura moral do homem.[128]

 

A natureza pecaminosa resume-se ao domínio que o pecado tem sobre o homem e a influência que exerce sobre o seu intelecto, emoções e vontade, o que provoca a corrupção do seu coração. Isso explica as “inclinações da nossa carne”. Quer isto dizer que os nossos desejos, motivações e intenções estão infetados ou contaminados com o “vírus” do pecado (Efésios  2.1-3). O pecado é portanto um mal moral![129]

 

Se Cristo ao morrer em nosso lugar levou sobre Ele toda a culpa, a qual já mais poderá nos ser imputada, uma vez que as Escrituras declaram que a morte de Cristo é o sacrifício designado por Deus para justificação dos nossos pecados (Romanos 3.25). Então é por meio da Fé no Sacrifício de Cristo que achamos o perdão dos nossos pecados. A fé n’Ele é o antídoto para o vírus do pecado!

 

Com isto a nossa tendência para o mal é contrariada: Cristo deve ser formado em nós, no nosso interior. O apóstolo Paulo disse em Gálatas 2.20 “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.”

 

O que Paulo diz é que Cristo: sua vida, morte e ressurreição tem que ser central na nossa fé. Se acreditarmos apenas que ele existiu, viveu e morreu como homem, não ressuscitou como Filho de Deus, que venceu a morte então a nossa a fé não passa duma fraude porque nunca vamos chegar “à medida da estatura da plenitude de Cristo.” (Efésios 4.10-13)

Se ele não está vivo, como vai ser formado em nós?

 

Então a mensagem do evangelho é um apelo á formação espiritual. “Ele vive em nós! Ele dá-se a conhecer através de nós! E Para isso precisa de ser formado em nós! E é aqui que a Fé na ressurreição de Jesus exerce um papel preponderante.

A sociedade está a despertar para tudo o que envolve “espiritualidade”. Basta considerar quantidade de seitas que nasceram nos últimos anos, os mestres curandeiros que se multiplicam nas sociedades ocidentais, o enorme interesse nas revistas de horóscopos, etc. Existe um despertar para o que é espiritual, mas sem a centralidade e a suficiência de Cristo e sem a verdade da sua ressurreição. Isto é a degeneração da fé!

O que acontece hoje é que, se a pessoa se sente bem com a sua fé não importa no que acredita. Se tem validade ou não. O que interessa é a pessoa estar confortável com o conceito de Deus que é pacífico ou transversal a todas as religiões.

Há um sentido relativista que anula a suficiência de Cristo.

 

A Fé em Cristo é a única que dá importância à formação espiritual. Está longe das fantasias esotéricas que muitos procuram. Deixa de ser um “mistério” e passa a ser real através da mudança de coração e na disposição dos hábitos de comportamento.

No fundo, se a “ressurreição” não fizer parte da equação da “espiritualidade”, o que vai acontecer é que essa “espiritualidade” vai ser moldada aos olhos de cada um e de manipulada acordo com os interesses de cada um.

Mas a ressurreição de Cristo não é algo possível de controlar, manipular, ou “aperfeiçoar” em favor do nosso sistema de crenças. A ressurreição não é um conceito de marketing que o homem pode trabalhar, é uma verdade que nunca vai mudar! E é a ressurreição que abre o caminho para o homem novo.

 

Nas palavras de Pascal “O cristianismo é estranho. Ordena ao homem que reconheça ser vil e abominável e determina que queira ser semelhante a Deus. Sem tal contrapeso, essa elevação o tornaria horrivelmente vão, ou esse rebaixamento o tornaria terrivelmente desprezível.”[130]

 

Considerações Finais

Concluímos que o começo, o meio e o fim de toda a experiência Cristã é crêr em Jesus Cristo! Ele marcou a história ao tornar-se humano, fez-se à nossa imagem e semelhança, sem deixar de ser Deus. Ele é Deus por nós e Deus em nós. Ele é Deus entre nós na dimensão que podemos tocar! 100% Deus – 100% Homem!

As evidências do impacto histórico da vinda de Jesus são inegáveis. O homem não teria capacidade para imaginar e materializar tal enredo, se fosse mera ficção.

 

Portanto, mesmo 2000 anos depois, resta ao homem ponderar a existência de Deus, através da sua revelação em Cristo. JESUS CRISTO é a chave hermenêutica da Bíblia! Ela é cristocêntrica. Tirar Jesus à Bíblia é ficar sem a Bíblia.

Uma vez que o homem não tem domínio total sobre a realidade que o envolve, ninguém que esteja sóbrio e que faça uso de coerência em seus raciocínios pode afirmar ser ateu. O homem não está em posição de negar o que não domina. Então se Deus existe não é lógico e coerente acreditar na única forma de o conhecer é ler a respeito do que Ele diz sobre si mesmo? Tudo o resto é conjeturas desvirtuadas pela pobreza da perspetiva humana sobre um Deus que é Divino.

 

 

CONCLUSÃO

 

Ficou claro no início do nosso trabalho que o cristianismo é uma religião baseada na revelação que Deus fez de si mesmo (através da Bíblia e da sua Criação) e não em meras experiências subjetivas do homem em busca do transcendente. Na verdade, o homem não tinha capacidade para inventar a essência de Deus revelada nos escritos sagrados do Cristianismo.

Pelo fato do homem carregar dentro de si um imperativo da revelação divina e um desejo do conhecimento pela verdade de Deus, não nos parece intelectualmente honesto desconsiderar a revelação de Deus nas Escrituras Sagradas. O poder e a influência da Bíblia são notórios mesmo para um incrédulo. É impossível negar a grandeza do seu impacto na civilização humana nos últimos 2000 anos. Regra geral, as pessoas não sabem muito acerca da Bíblia (do seu conteúdo) mas isso não as impede de reconhecer o seu alcance histórico, valor literário e importância para a sociedade ao longo dos séculos. Mesmo como obra literária, nunca nenhum outro livro assumiu tanta preponderância na vida do homem como a Bíblia. Queremos demonstrar ao leitor que a Bíblia é sem dúvida um livro singular, incomparável, inimitável e inigualável e esperamos que este trabalho o desafie a considerar a autoria Divina da Bíblia. Trata-se de uma verdade “confirmada” pela experiência do homem ao longo de séculos. Milhões de pessoas viveram o fenómeno da “Alegoria da caverna” de Platão, ao serem libertas da “cegueira espiritual” que os aprisionava através da luz da verdade da Palavra de Deus.

E neste contexto queremos ainda desafiar o leitor a analisar sem preconceitos o que a Bíblia diz acerca de Jesus. Com toda a certeza irá descobrir que há apenas um caminho para a Salvação. As afirmações de Jesus, que vimos anteriormente, não expressam meras ideias ou possibilidades. Ele afirma ser o único Caminho para chegar a Deus e Ele mesmo é a verdade, como Pessoa (vida e obra). Este exclusivismo pode ser encarado com suspeita ou desconfiança mas como diria o grande poeta Luís de Camões: “O melhor de tudo é crer em Cristo”.

O Evangelho de Jesus não pode ser moldado às exigências ou expectativas de uma sociedade, em parte pós-moderna, em que tudo é relativo. É verdade que a Graça e o Amor de Deus vai muito para além do que podemos pensar ou imaginar mas não podemos negar a grande verdade das Escrituras: Jesus é a revelação plena de Deus, do qual depende unicamente a Salvação do mundo. E todo o homem será julgado mediante o nível de revelação que tiver de Deus. Seja através da percepção interior de um Deus criador de tudo (que no inicio da história da humanidade estava bem mais apurada que nos dias de hoje) – Romanos 1.20 – seja pelas obras da lei – Romanos 2.12 – ou pelas obras da fé – Apocalipse 20.12.

A razão deste julgamento também é abordada no trabalho. Existe pecado no coração do homem e apesar das várias definições de pecado e das diferentes abordagens que foram feitas pelo homem ao longo da histórica, o pecado é tudo o que vai contra a vontade de Deus, quer esteja explicitamente ou implicitamente manifesta ao homem. De capa a capa a ideia de que o pecado é a falta de conformidade com a vontade de Deus está embutida nas escrituras. Compreender o que é o pecado e a sua relação negativa com a vontade de Deus ajuda o leitor a escapar dos efeitos do seu domínio, começando por abraçar o sacrifício que Jesus fez na Cruz por cada um de nós.

É desta forma que gostaríamos de terminar, relembrando que Deus que executou de forma progressiva um plano perfeito para livrar a humanidade da condição degredada que foi transmitida por Adão. Cabe a si decidir se quer aceitar ou rejeitar a verdade.

  

 

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[1] Horton. Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 65

[2] Junior, Jair de Almeida. (n/d). A Revelação Geral em Calvino. Pág. 6

[3] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática.  Pág. 65

[4] Isaías 47.3

[5] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 66

[6] Junior, Jair de Almeida. (n/d). A Revelação Geral em Calvino. Pág. 3

[7] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 41

[8] Junior, Jair de Almeida. (n/d). A Revelação Geral em Calvino. Pág. 7

[9] Geisler. Norman. (2002). Enciclopédia de Apologética. Pág. 782

[10] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 42

[11] Myatt, Alan. (2002). Teologia Sistemática. Pág. 25

[12] McGrath, Alister. (2013) Apologética pura e simples. Pág. 97

[13] McGrath, Alister. (2013) Apologética pura e simples, Pág. 98

[14] McGrath, Alister. (2013) Apologética pura e simples, Pág. 122

[15] Horton. Stanley (1997). Teologia Sistemática. Pág. 43

[16]Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 42

[17] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 43

[18] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 43

[19] McGrath, Alister. (2013). Apologética pura e simples. Pág. 110

[20] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 43

[21] Myatt, Alan. (2002). Teologia Sistemática.  Pág. 25

[22] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 73

[23] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 36

[24] Myatt, Alan. (2002). Teologia Sistemática. Pág. 25

[25] Myatt, Alan. (2002). Teologia Sistemática. Pág. 23

[26] Horton. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 80

[27] 2ª Timóteo  3.16,17

[28] Geisler. Norman. (2002). Enciclopédia de Apologética. Pág. 782

[29] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 56

[30] Idem, Pág. 56

[31] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 80

[32] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 62

[33] Horton. Stanley. (1997). Teologia Sistemática.  Pág. 81

[34] Idem, Pág. 81

[35] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 60

[36] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 85

[37] Little, Paul. (1985). Saiba porque crê & saiba no que crê. Pág. 82

[38] Nelson, P. C. (1991). Doutrinas Bíblicas. Pág. 16

[39] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 89

[40] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 90

[41] Little, Paul. (1985). Saiba porque crê & saiba no que crê. Pág. 103

[42] Little, Paul. (1985). Saiba porque crê & saiba no que crê. Pág. 103

[43] Geisler. Norman. (2002). Enciclopédia de Apologética. Pág. 786

[44] João 18.38.

[45]Baucham Jr., V. (2007). A Verdade e a Supremacia de Cristo em um Mund Pós-Moderno: p.55.

[46]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p.147.

[47] 2 Pedro 3.9. Grifo nosso.

[48]The Case for Christ Study Bible:  p.446.

[49]Schaeffer, F. (1974). A Morte da Razão: p.6.

[50]Leite Filho, T. G. (1997). Descubra Agora a Sedução do Novo Ocultismo: p.19.

[51]Champlin, R., & Bentes, J. (1997). Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia (volume 4): p.330.

[52]Baucham Jr., V. (2007). A Verdade e a Supremacia de Cristo em um Mund Pós-Moderno: p.56.

[53]Baucham Jr., V. (2007). A Verdade e a Supremacia de Cristo em um Mundo Pós-Moderno: p.54.

[54]Craig, W. L. (2012). Apologética Contemporânea: a Veracidade da Fé Cristã: p.18.

[55] João 14.6. Grifo nosso.

[56]The Case for Christ Study Bible: p.1716.

[57]The Case for Christ Study Bible: p.1745.

[58]The Case for Christ Study Bible: p.1716.

[59]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p.153.

[60]Evans, C. (2004). Dicionário de Apologética e Filosofia da Religião: p.109.

[61]Evans, C. (2004). Dicionário de Apologética e Filosofia da Religião: p.109.

[62]The Case for Christ Study Bible: p.446.

[63]The Case for Christ Study Bible: p.1745.

[64] É verdade que a História relata momentos em que isso aconteceu – por exemplo, as Cruzadas. No entanto, nesses casos pessoas simplesmente usaram-se da nomenclatura cristãos. Não vemos no livro Sagrado do Cristianismo – a Bíblia – apelos a que exclusividade se manifeste na violência, como sucede em escritos de outras religiões.

[65]Champlin, R., & Bentes, J. (1997). Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia: p.638.

[66]The Case for Christ Study Bible: p.1745.

[67]Evans, C. (2004). Dicionário de Apologética e Filosofia da Religião: p.19.

[68]Zacharias, R. (1997). Pode o Homem Viver sem Deus?: p.243.

[69]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: pp.147-148.

[70]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p.149.

[71]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p. 148.

[72]Bíblia Apologética de Estudo: p. 1413.

[73]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p.152.

[74]Pascal, B. (2002). Pensamentos: p. 154.

[75]Montgomery in Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p. 46.

[76]Pascal, B. (2002). Pensamentos: pp. 50-51.

[77]Baucham Jr., V. (2007). A Verdade e a Supremacia de Cristo em um Mund Pós-Moderno: pp.53-54.

[78] João 8.47a.

[79] LITLLE, Paul E. Saiba o que você crê. São Paulo: Mundo Cristão, 1970.pg.67

[80] ALMEIDA, Abraão de. Evidências de um Criador. Rio de Janeiro: CPAD, 1986.pg.117

[81] McDOWELL, Josh. Responde. São Paulo: Candeia, 2001. Pg.146

[82] GEISLER, Norman. Fundamentos Inabaláveis. São Paulo: Vida, 2003. Pg.145

[83] GEISLER, Norman. Fundamentos Inabaláveis. São Paulo: Vida, 2003. Pg.177

[84] http://www.ehow.com.br/diferenca-entre-macro-micro-evolucao-info_53421/

[85] MORRIS, Henry M. O Enigma das origens a resposta. San Diego: Origens, 1974. Pg.18

[86] MORRIS, Henry M. O Enigma das origens a resposta. San Diego: Origens, 1974. Pg.20

[87] LEPELTIER, Thomas. A Heresia de Darwin. Alfragide: Texto Editores, 2009.pg.127

[88] DANIEL, Silas. A Sedução das Novas Teologias. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. Pg.154

[89] MORRIS, Henry M. O Enigma das origens a resposta. San Diego: Origens, 1974. Pg.255

[90] João 1.14

[91] Gênesis 1

[92] McDOWELL, Josh; STEWART, Don, Resposta Àquelas Perguntas, p. 84.

[93] João 14.9.

[94] I João 1.1-3;Lucas 1.1-3;Atos 1.1-3 (“o primeiro livro” será uma referência ao Evangelho de Lucas.)

[95]“Nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio, se todavia devemos considerá-lo simplesmente como um homem, tanto suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Era o Cristo. Os mais ilustres da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome.” (Flávio Josefo, p. 418.)

[96] Augusto Cury, Análise da Inteligência de Cristo, p. 30 e 31.

[97] LITTLE, Paul E., Saiba o que você crê, p. 37.

[98] LITTLE, Paul E., Saiba o que você crê, p. 51.

[99] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 101.

[100] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 132.

[101] João 19.7 “Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.” ARC

[102] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 134.

[103] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 134 a 136.

[104] LITTLE, Paul E., Saiba Porque Crê e Saiba no que Crê, p. 67 a 70.

[105]“É preciso que o Filho do Homem sofra muito e seja rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos doutores da lei, para ser morto e ao terceiro dia ressuscitar.” Lucas 9.22 BPT

[106] McDOWELL, Josh, As Evidências da Ressurreição de Cristo, p. 29.

[107]E se Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação é inútil e a vossa fé é inútil também.” I Coríntios 15.14 BPT

[108]Esta boa nova já Deus a tinha prometido na Sagrada Escritura por meio dos seus profetas. Ela diz respeito ao seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Pelo nascimento, ele era descendente de David, mas pelo Espírito que santifica foi manifestado como Filho de Deus com poder, pela ressurreição dos mortos.” Romanos 1.2-4 BPT

[109] McDOWELL, Josh, As Evidências da Ressurreição de Cristo, p. 38 e 39.

[110] II Pedro 1.16; I Timóteo 1.4.

[111]Desde que o mundo é mundo, nunca se ouviu dizer que alguém desse a vista a um cego de nascença.” João 9.32 BPT

[112]Os outros discípulos contaram-lhe: «Vimos o Senhor!» Mas Tomé respondeu-lhes: «Se eu não vir a ferida dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo no lugar dos pregos e a minha mão na ferida do peito, não acredito.»” João 20.25 BPT

[113] João 20.24-29

[114] Atos 1.3; O texto de Atos 1.1-3 e Lucas 1.1-3 dão força a este argumento histórico.

[115] McDOWELL, Josh, As Evidências da Ressurreição de Cristo, p. 42 e 43.

[116] LITTLE, Paul E., Saiba Porque Crê e Saiba no que Crê, p. 72 e 73.

[117] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 279.

[118] I Coríntios 15.6.

[119] Josh McDowell e Norman Geisler – Como Conhecer a Deus, p. 9

[120] Para o devido enquadramento: os fariseus nasceram de um grupo de homens piedosos, determinados em fazer recuar a influência da cultura helenista na palestina. Não queriam que o povo se ‘contaminasse’ com a cultura grega e com o paganismo. Eram conhecedores das escrituras sagradas e extremamente zelosos no cumprimento da Lei.

[121] Hiil, Andrew & Walton, John – Panorama do Antigo Testamento – Editora Vida, SP, 2007 p.122

[122]Saiba Porque Crê & Saiba o que Crê, Paul Little, Núcleo, pp. 142,143.

[123] PEARLMAN, Myer – Conhecendo as Doutrinas da Bíblia – Editora Vida, 2006, p.150

[124] Stott, John – A Cruz de Cristo – São Paulo: Editora Vida, 2006. p. 76.

[125] Não tenho Fé suficiente para ser ateu, p. 286.

[126] Idem, p. 286.

[127] Segundo Strong, a expressão “por natureza” encontrada em Efésios 2.3 é traduzida da palavra “Phusis” que significa “growth (by germination or expansion), that is (by implication) natural roduction. -Stong’s Hebrew and Greek Dictionaries

[128] Não tenho fé suficiente para ser ateu pág.286

[129] Gonçalves, António – Sebenta de Antropologia/Hamartiologia – Ano lectivo 2012/2013

[130]Pensamentos de Pascal, AbbaPress, p. 167

 

“Não há vida no frio, na escuridão. Aqui no vazio, só a morte.”

RicardoRosaRicardo Rosa

A ausência de vida é todo o caos existente. Em si mesma, esta ideia pode parecer contraditória, mas assenta na premissa da ausência de vida. Não existe vida no frio, não palpita o coração no ambiente gélido e glaciar do vazio. Quando a vida está ausente, existe apenas a morte; aquilo que para uns é um final de linha declarado, mas para outros é meramente um estado de transição para uma etapa seguinte.

O vazio é dominado pela morte, não existe argumento que o detenha. Cheio de escuridão e frio, remete para o pensamento atroz da máxima pena de isolamento e solidão. Uma solidão eterna, um isolamento pleno de temor e completamente ressequido de bondade.

Quando Moisés relata todo o processo da criação divina, nos capítulos 1 e 2 de Génesis, aponta que a terra era sem forma e vazia, um nada existencial completamente desordenado e sem vida. Este é o caos primordial que se reflecte numa vida sem Deus. Uma total ausência de fôlego, um ponto na contínua recta da inação…

UMA LUZ QUE DIVIDE O ESPAÇO

Mas eis que existe então uma alteração! Perante um abismo negro que devora o homem que para ele olhe (seguindo a máxima de Nietzsche), eis que surge a luz criada a partir da ordem divina. É a voz divina que humaniza o processo da Criação. Deus, que cria e sustenta todas as coisas, ordena a criação da luz que separa da escuridão. Deus começa a criar vida com a criação da luz, usando esta passagem para a dimensão escatológica da Criação. Um dia a luz criada extinguir-se-á (Isaías 60:19) e a presença física de Deus no meio do Seu povo servirá de luminar. Mais do que a Shekinah no Templo, é Deus que se manifesta em glória eterna e em cuidado com os Seus filhos.

A luz que aquece e nutre a vegetação, que ilumina de dia e de noite é fonte de vida. Com o processo da Criação, inverte-se a tendência da morte no vazio, o próprio vazio começa lentamente a ser eliminado, povoado e delimitado. A ausência de vida esbate-se perante as palavras de um Deus que cria, que ama, que faz do melhor da Sua Criação (o ser humano) um elemento sinérgico consigo mesmo. O bara’ de Deus é apenas e só d’Ele. É o criar ex nihilo que só alguém Todo Poderoso poderia fazer. Não é uma espécie de criação darwiniana e vaga, sem interligação entre pedaços de tempo e história. É uma criação total e absoluta, formada a partir do negativo, Deus inverte as tendências da Física naquele momento e cria algo a partir do nada. Um Deus que é eterno, define um elemento vital sem o qual hoje não vivemos, mas que virá a ser substituído pela Sua presença.

Jesus é a Luz mais brilhante da Menorah da criação divina, a luz que divide espaço e tempo, fazendo-os rebentar a partir do nada. A fala de Deus é um discurso que gera, que faz crescer, que faz aparecer. Dá vida com as Suas palavras, cria com o Seu mandamento.

É Ele mesmo que forma o Homem do pó, que insufla nesse molde o espírito da vida, condenando à partida a inexistência. Deus cria o Homem à Sua imagem e semelhança, espiritual e moral, dialogante e comunitário, harmonioso e perfeito. Toda a antítese de vida cai por terra, a mesma da qual Adão foi feito, a mesma que se encontra densamente representada na química do corpo humano. Deus chama Adão para dar nome aos animais, para em conjunto com ela crescer e frutificar, multiplicando-se e dominando sobre tudo o que Deus havia criado.

Cessa a presença de um vazio profundamente (e ironicamente) cheio de morte. Brota a vida em torrente, prova-se a abastança de existência onde outrora existia frio e feiura. Um espaço desfigurado e inestético, é tornado agora habitação do Homem e local de encontro com Deus. Mais do que uma pré-figuração do Paraíso, o Éden é a antítese da Mordor de Sauron. Não existe um vazio existencial, não existe escuridão punitiva, não existe morte.

ANTÍTESE DA MORTE

Toda a obra criativa de Deus dá origem à vida, porque Deus não é uma figura morta. Não é um demiurgo impotente, um ídolo vazio, distante ou adormecido tal como Baal, que é ridicularizado por Elias no monte Carmelo (1º Reis 18:25-29) . Aos racionalistas e pós-modernistas que rapidamente secundam a ideia da morte de Deus (proclamada por Nietzsche em “Gaia Ciência”), a resposta de Deus é vida com abundância por meio de Cristo Jesus (João 10:10).

Passados vários anos da morte do filósofo alemão, o que lemos nesta declaração pode ser dividido em duas partes: Nietzsche decretou que Deus havia morrido para ele, afastando-se consequentemente para o seu abismo de morte e frio; a outra conclusão é mais simples, basta olharmos em volta e perceber que o mesmo Deus que sustenta a Sua Igreja contra o Inferno, está vido, dá vida e é vida.

A derrota da morte eterna, do vazio existência, do desespero frio e feio na escuridão é firmada por Jesus no Calvário. O Senhor da Paz esmagará ainda a oposição que se lhe afronte debaixo dos pés daqueles que foram retirados da morte para a vida (Romanos 16:20).

Poderá parecer uma ideia contraditória, a de alguém morrer para derrotar a morte e os seus dardos. A isso Cristo responde-nos claramente dizendo que dá a Sua vida para tornar a tomá-la e ser o símbolo máximo entre nós, de que existe mais do que o abismo da negação divina (João 10:17-18).Um abismo frio e penetrante, que outrora nos separava de Deus, é agora cheio de um amor mais excelente e que torna esse abismo numa planície, onde podemos correr com confiança para o Pai e ser recebidos numa morada eterna (João 14:1-3, Filipenses 3:12-14).

ABYSSOS FINITUS

De facto, onde o Sol não brilha é assumido que não exista vida. Mas Cristo sai do sepulcro e mostra-nos que ainda que o Sol não brilhe, é no abraçar divino a cada um de nós que encontramos vida. A promessa profética do apocalipse joanino (Apocalipse 21:4) é a de que Ele mesmo enxugará dos nossos olhos todas as lágrimas, não havendo mais tempo ou espaço para a morte, para o lamento, para a dor e para o choro. Maior do que o Sol Invictus é o Christus Rex, cuja existência não depende dos factores externos naturais, mas cuja vida como a conhecemos depende d’Ele para subsistir.

O frio e o vazio da ausência de ligação a Deus estão destruídos. Em Cristo temos o restabelecimento da ligação outrora amputada, da relação danificada no Éden. A morte e todo o desespero são lançados num abismo profundo, onde as geladas ondas de tristeza e solidão são também enterradas.

Existe vida na Luz de Cristo, no afecto amoroso do Pai. Aí, na Sua presença que nos inunda e preenche, temos vida. E vida em abundância…