“EM DEFESA DA FÉ”

2013-2014 MEIBAD turma apologética“EM DEFESA DA FÉ”

A tentativa de articular cinco monografias em uma monografia de turma na disciplina de APOLOGÉTICA, no ano letivo 2013/2014, do Monte Esperança Instituto Bíblico da Convenção das Assembleias de Deus em Portugal. O título é da responsabilidade do professor. Samuel R. Pinheiro

André Simões, Eliezer Correia, Filipe Fontes, Mauro Nascimento e Nuno Ferreira (da direita para a esquerda na foto)

ÍNDICE

                      

Introdução……………………………………………………………………………………………………… 3

PARTE I……………………………………………………………………………………………………………… 4

DEUS EXISTE? DEUS DÁ-SE A CONHECER AO HOMEM………………………………………….. 4

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………… 4

Revelação Geral – Se existe, que se pode fazer dela? E é possível construir uma teologia, um conhecimento de Deus a partir da natureza?……………………………………………………………………………….. 6

Revelação pela Natureza…………………………………………………………………………………. 6

Revelação pela natureza Humana……………………………………………………………………… 8

Revelação pela História da Humanidade……………………………………………………………… 9

Revelação Especial – Como podemos conhecer a Deus pessoalmente?………………. 10

Meios da Revelação Especial…………………………………………………………………………… 11

Autoridade e Inspiração das Escrituras………………………………………………………………. 13

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 15

PARTE II…………………………………………………………………………………………………………… 16

HAVERÁ LUGAR PARA O CRISTIANISMO NA ACTUALIDADE? A VERDADE NUMA CULTURA RELATIVISTA    16

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………. 16

Na cultura pós-moderna não há verdades absolutas!………………………………………… 17

Os cristãos não têm bases para crer em verdades absolutas!…………………………….. 19

O Cristianismo é igual às outras religiões!……………………………………………………….. 20

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 23

PARTE III………………………………………………………………………………………………………….. 25

QUEM CRIOU O QUÊ? O MUNDO QUE FOI CRIADO SERÁ O QUE NÓS CONHECEMOS? EVOLUÇÃO SOCIAL E NÃO RELACIONAL……………………………………………………………………………………………………. 25

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………. 25

A inteligência humana…………………………………………………………………………………… 25

Quem criou?…………………………………………………………………………………………………. 27

Macro e Micro evolução………………………………………………………………………………… 28

Teísmo evolucionista……………………………………………………………………………………… 30

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 32

PARTE IV…………………………………………………………………………………………………………. 33

QUEM É DEUS? A REVELAÇÃO PLENA DE DEUS NA PESSOA DE JESUS CRISTO…….. 33

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………. 33

Quem é Deus e como podemos conhece-lo?…………………………………………………….. 33

O Jesus de Nazaré da História…………………………………………………………………………. 34

Evidências da morte e ressurreição de Cristo…………………………………………………… 36

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 39

PARTE V………………………………………………………………………………………………………….. 40

NA PERSPECTIVA DA EXISTÊNCIA DE UM DEUS, COMO DEVE O HOMEM VIVER PERANTE ELE? O NOVO NASCIMENTO E O NOVO PADRÃO MORAL……………………………………………………….. 40

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………. 40

A Experiência Cristã………………………………………………………………………………………. 40

O começo da experiência Cristã é marcado pelo Novo Nascimento.……………………….. 41

O bem e o mal………………………………………………………………………………………………. 44

A fonte do problema do Mal – O Pecado // A consciência do Mal…………………………… 44

A ampliação do Problema – Natureza Pecaminosa // tendência ou inclinação para o Mal47

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 50

CONCLUSÃO……………………………………………………………………………………………………. 51

BIBLIOGRAFIA………………………………………………………………………………………………….. 53

 

 

Introdução

A Apologética é a defesa racional da fé cristã. O exercício desta área da teologia aplicada baseia-se em textos bíblicos, como por exemplo I Pedro 3.15b – “estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós”- e Judas 3b – “tive por necessidade escrever-vos e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”.

O nosso propósito neste trabalho é abordar alguns dos temas essenciais da Apologética: a existência de Deus, a existência de verdades absolutas, o criacionismo, a revelação de Deus através de Jesus e a moralidade cristã. Não os tratamos em toda a sua amplitude, claro está. Pelo contrário,  a nossa abordagem introdutória e, consequentemente, mais geral, pretende sensibilizar os leitores para a importância desta área do saber. Por um lado, ela é uma ciência, e como tal deve ser estudada e aprendida. Por outro, é uma arte, e por isso exige dedicação.

A lógica que subjaz a este trabalho é a de responder a algumas das objeções que por norma são apresentadas para desacreditar o Cristianismo. Veremos que, em muitos casos, elas são aceites sem uma análise crítica. Tal é lamentável, pois muitas dessas objeções carecem de fundamentos, e outras demonstram que quem as apresenta desconhece o Cristianismo.

Cientes disto, procuramos responder, com mansidão e temor, aos que sinceramente levantam objeções à fé cristã.

 

 

PARTE I

DEUS EXISTE? DEUS DÁ-SE A CONHECER AO HOMEM

Eliezer Correia

 

 Considerações Preliminares

Revelação – Se Deus é real, como se dá a conhecer ao Homem?

            A teologia, na sua tentativa de conhecer a Deus e de torna-lo conhecido, parte do princípio de que o conhecimento a respeito do Supremo Ser já tenha sido revelado. Esta revelação é o ponto de partida para todas as afirmações e pronunciamentos teológicos. O que não foi revelado, não se pode saber[1].

O termo “revelação” tem como significado básico a exposição do que era até então desconhecido. De forma aberta, aplica-se a qualquer modo pelo qual Deus se comunica ou comunica algo sobre Si. No sentido mais restrito, é a auto-revelação de Deus a criaturas para o benefício delas, especialmente no que diz respeito à sua transformação redentora[2]. Embora a revelação ocorra em todas as áreas da vida, o termo acha-se especialmente associado à religião. As questões da fé centralizam-se no fato de que Deus fez-se conhecido aos seres humanos. O cristianismo é a religião baseada na revelação que Deus fez de si mesmo[3].

A Bíblia emprega vários termos em grego e hebraico para expressar o conceito da revelação. O verbo hebraico gãlãh significa revelar por meio do ato de descobrir ou de arrancar alguma coisa que cobre[4]. Quase sempre é usado de forma a tratar a revelação que Deus faz de si às pessoas: “Certamente, o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Am 3.7). A palavra grega apokalupsis (revelação) está associada a esta ideia: tornar conhecido o Evangelho. Paulo afirmou que não recebeu o Evangelho mediante instrução humana, mas “pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.12)[5].

As escrituras dizem: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1). O poeta Davi em seu poema revela que o próprio Deus que cria, também revela-se por intermédio da sua criação[6]. Davi ficava maravilhado e absorto, reconhecendo que a glória de Deus é vista na criação. Podemos também nas Escrituras encontrar outro texto: “A ira de Deus se revela do céu contra toda a impiedade e perversão dos homens que detém a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesta entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1.18-20). Neste texto percebemos que o eterno poder de Deus e a sua própria divindade estão estampadas na criação desde que há mundo. Sendo os seres humanos finitos, e Deus infinito, não podemos conhecer a Deus, a menos que ele se manifeste aos humanos de tal forma que estes possam conhecê-lo e ter comunhão com ele[7]. Na revelação de Deus à humanidade há duas classificações básicas de revelação. Por um lado a revelação geral, é Deus que se comunica a todas as pessoas de todos os tempos e de todos os lugares. Pelo outro lado temos a revelação especial, que abrange comunicações particulares e manifestações, a que hoje só existe acesso pela consulta a certos escritos sagrados.

            Partindo do pressuposto que Deus é transcendente e o homem é limitado, é impossível conhecer Deus, sem que Ele se revele. Se Deus não se relevasse, por causa de sua natureza infinita e majestosa jamais poderíamos ter conhecimento dele. Ainda assim, a revelação divina é uma verdade evidente por si mesma e dispensa qualquer tipo de comprovação. Trata-se de um conceito confirmado pela experiência e coerente com a razão e lógica humana. Para que o homem viesse assim a entender essa revelação, Deus concedeu-lhe um conhecimento: 1) que está impresso na sua própria constituição natural, como também 2) o conhecimento que vem através das obras da criação e da condução divina da história, e ainda 3) o conhecimento derivado da revelação especial, as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento.

            Olson adverte que isto não se trata de algo exclusivamente pessoal, pois se assim fosse seria impossível saber algo objetivo a respeito de Deus. A revelação pressupõe uma ato interpretado de Deus que tem como propósito principal comunicar a doutrina correta aos homens, para que pensem e saibam o que é certo sobre Deus[8].

 

Revelação Geral – Se existe, que se pode fazer dela? E é possível construir uma teologia, um conhecimento de Deus a partir da natureza?

A revelação geral refere-se à Auto manifestação de Deus por meio da natureza (Sl 19.1-6; Rm 1.18), da história (At 17.26-27) e da personalidade do homem (Rm 2.14-15), ao contrário da sua revelação pelas Escrituras. Em cada caso, Deus revelou algo especifico sobre si mesmo e sobre a relação que mantém com a sua criação[9]. Este conhecimento é geral em dois aspetos: sua disponibilidade universal (é acessível a todas as pessoas em todos os tempos) e o conteúdo da mensagem (é menos particularizado e detalhado que o da revelação especial)[10]. É preciso levantar alguns problemas no que diz respeito à genuinidade da revelação.

 

Revelação pela Natureza

            Deus também se revela através da natureza e do Universo. A criação, com a sua infinita variedade, beleza e ordem, reflete um Deus infinitamente sábio e poderoso. A lua e as estrelas incontáveis, nos céus, são obra dos dedos do Senhor; seu nome é majestoso em toda a terra que por Ele foi criada (Sl 8). Na natureza, os atributos invisíveis, a eternidade, a divindade, o poder, a sabedoria e a glória de Deus são revelados (Sl 29.4; Rm 1.22)[11].

            Os propagandistas do novo ateísmo dizem que o avanço científico e o progresso irão aniquilar a possibilidade na crença de um Deus, mas os fatos desmentem essas afirmações. No ano de 1998 ocorreu um debate entre William Lane Craig e o então ateu Anthony Flew. O filósofo Craig desenvolveu a seguinte linha de argumentação[12]:

 

            Premissa maior: Tudo o que começa a existir tem uma causa

            Premissa menor: O universo começou a existir

            Conclusão: Portanto, o universo tem uma causa

 

            Esta premissa menor é tão importante ou mais importante que a premissa maior, ela constitui um argumento filosófico plausível, para estabelecer como premissa para a investigação científica. Tudo o que tem um inicio, tem uma causa, logo qual a causa do universo e mundo em que existimos. Após este debate, Flew veio a abandonar o ateísmo, não sabemos se veio a tornar-se um cristão devoto, mas sabemos que antes da sua morte assumiu a existência de um Deus criador que sustém o universo[13].

            Na comunidade científica é cada vez mais notório a percepção para um universo que veio a existir e ser dotado de uma sintonia fina para que vida fosse possível.

            Diversos estudos científicos recentes dão destaque ao significado de algumas constantes cosmológicas fundamentais, cujos valores, se modificados ainda que ligeiramente, teriam implicações gravíssimas para o surgimento da existência humana. A existência da vida baseada no carbono depende de um delicado equilíbrio de forças físicas e cosmológicas, bem como de determinados parâmetros. Se estas quantidades fossem ligeiramente alteradas, a vida humana jamais teria sido possível.

            O terceiro capítulo de Eclesiastes consiste em uma longa meditação sobre nosso lugar no tempo. Ao criar a humanidade, Deus colocou “no coração humano até o sentido do tempo” ou “a percepção em sua mente de passado e futuro” (Ec 3.11). Em outras traduções é traduzido por “colocou a eternidade no coração do homem”, temos o sentido da brevidade da vida humana, bem como a intuição profunda de que a realidade é mais do que uma breve fatia de tempo e de espaço que nos foi concedida. A nossa existência efêmera neste mundo indica a possibilidade de algo maior e melhor além dele. Esta ideia de eternidade e de desejo de viver para todo o sempre foi implantado pelo próprio Deus no coração do homem[14]. O desejo de eternidade é tanto em nossa sociedade, que desenvolvemos diversos mecanismos de modo a nos eternizarmos. Nos tempos monárquicos, todos os reis queriam ter uma pintura sua, de modo a não serem esquecidos pelo tempo, mais tarde vieram as máquinas fotográficas, e hoje é tudo “praticamente” eterno. O desejo de eternidade nos nossos dias fomenta o desenvolvimento de todo um mercado de cosmética e operações para reduzir os indícios de envelhecimento, todos queremos parecer jovens e viçosos. Fomos criados para a eternidade, Deus concebeu-nos para um relacionamento eterno e duradouro, uma verdadeira pista para aqueles que desejam e querem mais da vida.

            Tudo o que nos rodeia mostra como Deus está presente e dá-se a conhecer a partir daquilo que está à nossa volta e que ele concebeu, Paulo no discurso aos atenienses no Areópago (At 17), apela aquilo que já lhes fora descoberto mediante a revelação geral – Deus é Criador e soberano sobre a sua criação. Ele é auto-suficiente, a origem de toda a vida e de tudo o mais que a raça humana necessite. Paulo, de modo bem relevante, explica a razão da auto revelação divina na natureza. Deus fez assim “para que buscassem ao Senhor, se, porventura tateando, o pudessem achar” (At 17.27), este é o alvo da revelação geral[15].

            Romanos 1.8-21 tem sido chamado do clássico trecho da revelação de Deus na natureza. A revelação geral através da natureza é universalmente outorgada e universalmente recebida, assim as qualidades invisíveis de Deus “tanto seu eterno poder como a sua divindade” tornam-se visíveis. Contudo, a fala de Deus na natureza não deve ser confundida com a noção de um cosmo falante. A Bíblia nos ensina “Ouça a Deus” e não “Escute a natureza”. Infelizmente sempre quem está longe de Deus, tenta conjeturar novas ideologias, para assim fazer calar uma revelação palpitante a respeito de Deus.

 

Revelação pela natureza Humana

            O segundo meio da revelação geral é a suprema criação terrena de Deus, ou seja o próprio homem[16]. A humanidade foi criada à imagem de Deus (Gn 1.26-27), mas a Queda levou ao rompimento na comunhão entre Deus e o homem. Não obstante, o pecado não conseguiu extinguir de todo a imagem divina nos seres humanos. Às vezes, a revelação geral de Deus é vista na estrutura física e na capacidade mental dos homens. É porém, em suas qualidades morais e espirituais que se percebe melhor o caráter de Deus[17]. Os humanos fazem julgamentos morais, ou seja, julgamentos sobre o que é certo ou errado. Isso envolve mais do que nossa preferência pessoal – gostar ou não gostar – e mais do que mero utilitarismo. É uma capacidade que revela que temos um padrão de norma e conduta, intrinsecamente temos leis gravadas no nosso coração. Valores de justiça e injustiça não são variáveis em todo o nosso mundo e diferentes culturas, ninguém gosta de estar na fila da caixa do supermercado para pagar e ser ultrapassado por um usurpador. Todo o ser humano vai sentir que foi lesado moralmente e pessoalmente[18], até um ateu se sentiria injustiçado. É evidente que o argumento da moral pode ser usado de maneira eficaz para reforçar a afirmação básica de que a fé cristã explica as coisas, ampliando as estratégias referidas anteriormente[19]. Mas ainda assim, talvez a abordagem ateísta tenha algo mais a apresentar, pode o ateísmo defender a ideia de verdades morais? O que podemos esperar de uma sociedade moral, onde não existe um identidade que define os comportamentos e as ações humanas?

            A revelação geral também é encontrada na natureza religiosa da raça humana. Em todas as culturas, tempos e lugares, os homens vêm crendo na existência de uma realidade superior de si mesmos, e até em algo superior à raça humana como um todo. A natureza exata da crença e as práticas até podem variar, mas a tendência para a adoração de algo que seja metafísico ou até físico do nosso mundo, trás à evidência uma percepção interna da deidade, a qual, embora talvez desfigurada e distorcida, ainda está presente e ativa na experiência humana[20].

             

Revelação pela História da Humanidade

            Na história, o amor, a sabedoria e a justiça de Deus são revelados (At 14.17)[21]. Deus se revelou através de sua direção providencial na história da humanidade. Ele atua na sua criação, supervisionando-a e dirigindo-a. Guia os assuntos da humanidade em direção ao cumprimento de seus propósitos, e em favor do seu povo[22]. Um exemplo muito citado de revelação de Deus na história é a preservação do povo de Israel. Essa pequena nação vem sobrevivendo ao longo de séculos, em ambientes basicamente hostis, muitas vezes em face de severa oposição[23]. O povo judeu no tempo de Davi, deleitava-se em recitar os poderosos “atos de Deus” no decurso de sua história (Sl 136). Ele é o Deus que estabelece e derruba os reis (Dn 2.21)[24].

            O estudioso da história encontra traços da atuação divina nas interações que se verificam entre as diversas nações, povos e tribos. A história tem o carácter teológico, a totalidade dela leva os sinais da atividade divina. Toda a história desdobra-se sob o propósito soberano de Deus; Ele a controla, orienta e age pessoalmente nela.

 

            Mediante uma compreensão que atinge todos os homens, individualmente cada pessoa pode claramente perceber a existência, o poder e a justiça de Deus. Entretanto, nenhuma delas louva e serve a Deus por causa do pecado que reina no coração humano. Tal como podemos observar existe um “terreno comum” que é partilhado por crentes e não crentes, todos têm em parte conhecimento de Deus. Este conhecimento, deve ser utilizado como ponte para um diálogo que leva os cristãos a partilharem a sua fé. Esta revelação transversal a todos não é suficiente para salvar porque não revela o evangelho. Mas é suficiente para condenar justamente todos os homens. É verdade que a revelação é perceptível a todos, mas por causa do pecado, que deturpa a nossa visão e entendimento, o ser humano sempre faz uma interpretação errada da revelação geral[25]. Assim a insuficiência da revelação geral, carece de uma outra forma de revelação de Deus, a revelação especial que colmata as lacunas da revelação geral.

 

Revelação Especial – Como podemos conhecer a Deus pessoalmente?

O facto que a revelação geral, não apresenta um plano divino da redenção, leva à situação de carência de uma teologia revelada mediante uma revelação especial de Deus[26]. Normas, mandamentos e proibições morais foram estabelecidas a Adão, pela revelação especial, e não geral. Mesmo antes da Queda, a revelação especial é primariamente entendida em termos de “propósito redentor”. A revelação especial é o complemento completo aquilo no qual Deus se apresenta na revelação geral, mas também é mais específico naquilo que deve ser precedido por um encontro e conhecimento de Deus. Originalmente a revelação especial pode ter sido dada oralmente ou de alguma outra maneira, mas foi mais tarde escrita e agora é encontrada apenas na palavra escrita de Deus, a Bíblia[27][28]. A Bíblia é a única fonte da revelação de Deus como Redentor, bem como de seu plano de salvação, as Escrituras são normativas.

O objetivo da revelação especial está no campo do relacionamento, este objetivo não é apenas aumentar o conhecimento superficial, mas antes ser cirúrgico no que trata ao homem se religar com Deus[29]. Por exemplo a Bíblia, não trata nada sobre a aparência de Jesus, suas características ou interesses, este conhecimento é desnecessário.

É comum pensar-se que a revelação especial é um fenómeno posterior à queda, e que foi exigido pelo pecado humano. Mas a verdade é que não podemos conhecer a qualidade do relacionamento entre Deus e a humanidade antes da queda. Adão e Eva tinham uma consciência límpida diante de Deus quando se encontravam com Ele, estavam constantemente apercebidos dele em toda a parte e tinham a compreensão da sua obra criativa em toda a criação, na sua revelação geral. Além deste facto, as instruções dadas aos homens (Gn 1.28) acerca da posição e da atividade deles na criação insinuam uma comunicação especial do Criador e da criatura, o que apresenta antes da queda a existência de uma revelação especial.

Com a entrada do pecado no mundo, a necessidade de uma revelação especial ficou mais intensa, pois a presença direta de Deus havia-se perdido. Além disso agora era necessário falar de assuntos que antes não eram de interesse, tratar os problemas do pecado, da culpa e da depravação; era preciso providenciar meios de expiação, de redenção e de reconciliação[30]. Agora também o homem não estava tão disponível para ouvir, nem atento para a revelação geral. A revelação especial tratou tanto o conhecimento humano como o relacionamento com Deus.

Normalmente defende-se que a revelação geral é inferior à revelação especial, tanto na clareza do tratamento como na amplitude dos assuntos considerados. A revelação geral exige a revelação específica, contudo, a revelação específica por conseguinte exige a revelação geral. Sem a revelação geral, não teríamos os conceitos a respeito de Deus que nos permitem conhecer e compreender o Deus da revelação específica. A relação entre elas é idêntica à que Immanuel Kant descobriu entre a categoria do entendimento e da percepção dos sentidos: “Pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas”.

 

Meios da Revelação Especial

            Pessoal[31] – O meio mais eficaz e completo da revelação é a encarnação. A vida e ministério de Jesus eram uma revelação especial de Deus[32]. Através do Cristo revelado nas Escrituras inspiradas, o homem chega a conhecer a Deus pessoalmente num relacionamento de redenção. Começando com o conhecimento de Deus (sua existência, perfeição e exigências morais), o homem adquire conhecimentos práticos do próprio Deus por intermédio da comunhão pessoal[33]. Os milagres, sua morte e a ressurreição são a história da redenção em sua forma mais condensada e concentrada. Pedro, após a pesca maravilhosa, caiu de joelhos e disse: “Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador” (Lc 5.8). Estas pessoas encontraram em Jesus uma revelação do Pai.

            Compreensível – Na revelação especial das Escrituras, Deus se revelou na forma antropomórfica, ou seja, segundo as características da linguagem humana daqueles tempos, e usou categorias humanas de pensamento e de ação[34]. Quando a Bíblia usa palavras como “amar”, “dar”, obedecer, ou confiar, significam elas para nós a mesma coisa que, basicamente, significam para Deus, embora seja o seu amor muito maior do que o nosso.

            Históricos – A Bíblia apresenta toda uma série de acontecimentos divinos pelos quais Deus se faz conhecer. Da perspetiva do povo de Israel, um evento histórico e marcante foi Abraão, foi deste homem que Deus levantou um povo para por intermédio dele se apresentar aos povos da sua geração. O livramento do Egito, a conquista da terra prometida, o primeiro Rei Saul, e tantos outros momentos históricos marcantes apresentam e revelam a natureza de Deus[35].

            Transmitida – A Bíblia ao manter de forma perene a revelação especial de Deus, é tanto o registro de Deus e dos seus caminhos, quanto a intérprete dela própria. A revelação escrita é confinada aos 66 livros do Antigo e do Novo Testamento. A totalidade de sua revelação que ele quis preservar, encontra-se armazenada na sua totalidade, na Bíblia. A revelação divina não é um vislumbre fugaz, mas um desvendamento permanente. Ele nos convida a voltarmos repetidas vezes às Escrituras para aí, aprendermos a respeito dEle. A Bíblia não somente é a revelação divina, como também a torna conhecida hoje. A Palavra divina é lavrada de forma permanente nas Escrituras, que são o veículo durável da revelação especial, e fornecem o arcabouço conceptual no qual nos encontramos, com Deus. O que Deus disse aos outros no passado, diz-nos agora através das Escrituras[36].

 

Autoridade e Inspiração das Escrituras

            Será a Bíblia a Palavra de Deus? Este é uma pergunta essencial e merece a nossa reflexão e opinião formada, de modo a não termos duvida quanto à credibilidade da revelação especial. Muitos cristãos pensam que têm de provar a veracidade da Bíblia, antes de terem de testemunhar. Contudo, esta não é a questão essencial na salvação, mas sim ter uma relação pessoal com o salvador, não a sua opinião acerca da Bíblia. Não é o facto de achar a Bíblia que é inspirada que leva a uma convicção para a salvação, mas sim obter a salvação dá-me a garantia da inspiração.

            Tudo o que precisamos fazer para confrontar qualquer pessoa com as afirmações de Cristo, é mostrar-lhes que os Evangelhos são documentos históricos fidedignos.

            Em 2ª Timóteo 3.16 lemos: “Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”. O termo “inspirada” não corresponde a uma inspiração artística, mas no termo original da língua vernácula, corresponde a ter sido “respirada por Deus”, refere-se não aos escritores, mas aquilo que foi escrito. Os escritores bíblicos não eram meras máquinas, nem entravam numa espécie de transe e nem receberam o que deviam escrever por um sussurro aos seus ouvidos. Cada escritor tinha o seu estilo próprio, Deus guiou e controlou de tal modo os homens que eles escreveram, exatamente o que Ele queria que escrevessem[37].

            Jesus durante o seu ministério utilizou diversas vezes os textos Escritos do Antigo Testamento, muitas das profecias e promessas de Deus aos homens vieram-se cumprir através de Jesus[38], Ele certa vez disse: “Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5.18).

            É legítimo procurar a origem e o caráter de uma obra escrita por meio do exame de seu conteúdo. A Bíblia fornece um testemunho interno convincente de sua autoridade incomparável como a mensagem da parte de Deus. A Bíblia revela unidade e consistência espantosas quanto ao seu conteúdo, levando-se em conta a grande diversidade havida na sua compreensão. Foi escrita durante quinze séculos por cerca de quarenta autores de classes sociais diferentes (políticos, agricultores, soldados, médicos), o lugar onde também escreveram foi muito diversificado (palácio, prisão, exílio)[39]. Os gêneros literários variam entre a alegoria, biografia e correspondência pessoal, alguns dos autores escreveram história, outros leis e poesia. Escreveram em continentes diferentes, em cerca de três idiomas e trataram centenas de temas. Ainda assim, os seus escritos combinam-se entre si para formar um todo consistente que desdobra, de modo belo a história de um relacionamento entre Deus e a humanidade.

            As profecias que falam de eventos futuros permeiam as Escrituras. A exatidão dessas predições, conforme o demonstra seus respetivos cumprimentos é realmente notável. Dezenas de profecias dizem respeito a Israel e às nações sem seu redor. Por exemplo: Jerusalém e o seu templo seriam reedificados (Is 44.28), e Judá embora tenha sido salva de cair nas mãos dos assírios, cairia nas mãos de Babilónia (Is 39.6; Jr 25.9-12)[40].

            A Bíblia também recebe um apoio externo que atesta a sua autenticidade. Há mais dum século, os críticos questionavam muitas afirmações históricas do Velho Testamento. Contudo, ainda durante todo o século passado, fizeram-se grandes descobertas que têm confirmado o registo Bíblico[41]. A vida e época de Abraão constituem um bom exemplo da ajuda que a arqueologia pode dar. Muitos críticos do séc. XIX, levantavam dúvidas quanto à historicidade de Abraão, pensavam que era um nómada muito ignorante e primitivo. Achavam que era impossível que soubesse ler ou fazer contas matemáticas e conhecer a Lei. Acreditavam que a sua mudança de Ur para Harã, fora simplesmente uma migração nómada. Sir Leonard Wooley nas suas escavações em Ur dos caldeus, demonstrou que estas ideias eram totalmente erradas. Descobriram que a cidade de Ur, na época de Abraão era altamente desenvolvida. Arqueológos desenterraram residências de tipo avançado e muitas placas de barro equivalentes a livros. Algumas delas eram recibos de transações comerciais, outras eram hinos de templos, e outras eram tabelas de matemática com fórmulas para o cálculo da raiz quadrada e cúbica. Nos armazéns dos templos encontraram-se recibos de inúmeros objetos, ovelhas, queijo, lã, minério de cobre, óleo, listas de salários de operárias, tudo muito prático e relativamente moderno.

            Tornou-se assim claro que Abraão era produto de uma cultura brilhante e altamente desenvolvida e que deve ter significado muito para ele, ter partido em fé para terras desconhecidas.

            A contribuição da arqueologia para o estudo da Bíblia tem servido para trazer mais compreensão e credibilidade à narrativa bíblica[42].

            Através de todos estes exemplos que apresentamos, a veracidade Bíblica é atestada e apontada. Desta forma a revelação específica ganha força no seu conteúdo e na sua importância, este é o meio pelo qual Deus se apresenta, não só o seu plano de salvação mas também a forma como devemos andar e viver. É verdade que Deus pode comunicar pessoalmente de outras formas, mas também é verdade que todas as outras formas têm de passar pelo crivo Bíblico.

 

Considerações Finais

 

A Bíblia é essencial para conhecer Deus e toda a sua revelação redentora para o homem, é essencial para o pensamento teológico cristão. É o único Livro infalível que temos, fala com autoridade inerrante sobre todo o assunto que aborda, quer espiritual, como científico, celestial ou terreno. Mas a Bíblia não é a única revelação de Deus há humanidade, Deus falou no mundo como na Palavra. A nossa tarefa corresponde a conjugar ambos e formar a cosmovisão que inclua a interpretação teocêntrica da ciência, da história e da arte. No entanto, sem a revelação de Deus (tanto geral como especifica) como base, essa tarefa é tão impossível quanto mover o mundo sem um ponto de apoio[43].

Na teologia, a interação entre disciplinas bíblicas e outras disciplinas deve ser sempre uma via dupla. Nenhuma delas faz monólogo para as outras, todas participam no diálogo contínuo. Apesar de a Bíblia ser infalível em tudo o que aborda, ela não fala sobre todos os assuntos. E ainda que a Bíblia seja infalível, nossas interpretações dela não são. Logo as pessoas que estudam a Bíblia devem atentar bem para outras disciplinas e dialogar com elas, para que uma visão sistemática completa e correta possa ser construída.

 

PARTE II

HAVERÁ LUGAR PARA O CRISTIANISMO NA ACTUALIDADE? A VERDADE NUMA CULTURA RELATIVISTA

Filipe Fontes

 

Considerações Preliminares

“Perguntou-lhe (a Jesus) Pilatos: Que é a verdade?”[44]. Esta pergunta, feita originalmente num contexto próprio, reflete uma postura intemporal, adotada por várias pessoas que duvidam da existência de verdades absolutas. Apesar da sua intemporalidade, devemos notar que esta é a postura mais presente na pós-modernidade. Por essa razão, a pergunta a partir do qual este capítulo é escrito baseia-se nesta postura.

Em oposição à postura pós-moderna está a postura do Cristianismo. De facto, “o teísmo cristão considera a verdade como absoluta”[45]. Cientes disto, o primeiro tópico visa combater a ideia de que “Na cultura pós-moderna não há verdades absolutas!” De seguida, voltamos o foco para a relação entre o Cristianismo e as verdades absolutas. Pretendemos mostrar a falsidade da proposição “Os cristãos não têm bases para crer em verdades absolutas!” Para finalizar, diferenciamos o Cristianismo de outras religiões, refutando a afirmação infundada de que “O Cristianismo é igual às outras religiões!”

Note-se que não queremos ser mal entendidos. O nosso objetivo final não é ter razão, nem revelar bons argumentos, mas sim mostrar a Verdade. Queremos partilhá-la, tal como a partilharam connosco. Em consonância com D.T. Niles, de Ceilão, afirmamos que “Evangelização é simplesmente um pedinte a dizer a outro pedinte onde pode encontrar alimento”[46].

Nesta atitude, esperamos que este capítulo seja proveitoso na jornada de pessoas que procuram verdades absolutas pelas quais possam nortear a sua vida. Sabemos queO Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se[47]. Esperamos que este capítulo seja lido com disponibilidade intelectual e emocional, estando cientes de que “Não é Deus quem marginaliza as pessoas; são as pessoas que marginalizam Deus”[48].

 

Na cultura pós-moderna não há verdades absolutas!

A grande maioria dos pensadores contemporâneos é unânime em afirmar que vivemos numa cultura pós-moderna. No entanto, antes de analisarmos o pós-modernismo, importa refletirmos sobre o modernismo e sobre o pré-modernismo, por duas razões. Em primeiro lugar, porque mesmo quando classificamos uma cultura não podemos ser absolutos, julgando que essa classificação explica todos os fenómenos culturais. Pelo contrário, estamos cientes de que a cultura é complexa, e que, por essa razão, mesmo numa cultura pós-moderna verificam-se manifestações modernas e pré-modernas. Em segundo lugar, porque uma boa análise da atualidade requer a adoção de uma perspetiva histórica: “Só nos será possível compreender as tendências atuais do mundo do pensamento, se visualizarmos a situação segundo sua origem histórica e, ao mesmo tempo, atentarmos minuciosamente para o desenvolvimento das formas de pensamento filosófico”[49].

Assim sendo, importa caracterizarmos o modernismo e o pré-modernismo. Os valores deste são: “tradição, família, respeito à moral, à autoridade”[50]. No que modernismo concerne, podemos afirma que nele se verifica “a tendência humanística do pensamento religioso, cujo intuito é suplementar ou suplantar antigos credos e dogmas teológicos mediante uma nova erudição científica e filosófica (…) Dessa forma, a palavra é usada como o oposto de Fundamentalismo[51].

O pós-modernismo, por sua vez, é uma cultura que “rejeita a verdade, em favor da experiência”[52]. Esta breve definição leva-nos a perguntas importantes: como pode o Cristianismo, que advoga deter verdades absolutas, sobreviver numa cultura que nega o conceito de verdade absoluta? Mais: como pode o Cristianismo possuir a verdade, quando o pós-modernismo nega a possibilidade de a conhecer? Afinal, “o conceito de verdade acessível, conhecível, objetiva, é a antítese à epistemologia pós-moderna padrão”[53].

Sintetizando, podemos afirmar que o pós-modernismo traz novas questões ao Cristianismo. Numa cultura pré-moderna, a verdade conhece-se pela tradição, enquanto numa cultura moderna essa verdade é conhecida pelo uso da Razão. No entanto, o pós-modernismo nega a existência de verdades absolutas. Aliás, vai ainda mais longe pois numa cultura pós-moderna, mesmo que existam verdades, a possibilidade de as conhecer é negada.

Para responder a este aparente impasse, vejamos uma afirmação de Craig[54]: “Ninguém é pós-moderno quando o assunto é ler a bula de um remédio em contraste com a bula de um veneno de rato. Se você está com dor de cabeça, é melhor acreditar que textos têm significado objetivo! As pessoas não são relativistas quando se trata de questões de ciência, engenharia e tecnologia; mas são relativistas e pluralistas quando se trata de questões de religião e ética. Mas isso não é pós-modernismo; isso é modernismo! Isso vem do velho positivismo e verificacionismo, que defendiam que qualquer coisa que não se pode experimentar com os cinco sentidos é simplesmente uma questão de gosto e expressão emotiva pessoal. Vivemos num ambiente cultural que continua sendo profundamente modernista.”

Esta afirmação revela, em sintonia com o que já referimos anteriormente, que rotular a cultura atual de pós-modernista é demasiado simplista e redutor. É impossível alguém adotar uma postura pós-modernista em todas as esferas da sua vida, o que demonstra que se verificam manifestações pré-modernas e modernas na cultura atual. Por essa razão, não fazemos deste capítulo um debate epistemológico sobre a existência e cognoscibilidade de verdades absolutas. Quem as negar está a ser incoerente, pois ninguém baseia a sua vida no pressuposto de que estas verdades não existem.

Ao invés, a questão na qual nos devemos debruçar é: o Cristianismo realmente advoga a posse de verdades absolutas? A resposta a esta questão colocará o nosso raciocínio numa das duas opções: ou no âmbito de verdades relativas, o que fará esta reflexão enveredar pelas preferências pessoais, e não como pelo campo ético do certo e do errado; ou no âmbito de verdades absolutas, o que fará esta reflexão enveredar pela aceitação ou rejeição das mesmas, logo pelo certo e pelo errado. Como isto em mente, abordaremos a pergunta supracitada no tópico seguinte.

 

Os cristãos não têm bases para crer em verdades absolutas!

Jesus disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”[55]. Se os cristãos são seguidores de Jesus Cristo, e se Ele afirmou ser a verdade absoluta por excelência, decorre necessariamente que eles têm de advogar crer em verdades absolutas. Esta crença é uma necessidade lógica para que o Cristianismo seja coerente. Além disso, o livro sagrado desta religião – a Bíblia – apresenta-se como o transmissor das verdades divinas absolutas: “O facto de que a Bíblia reivindica o monopólio da verdade é evidente do começo ao fim das suas páginas”[56].

Alguém pode, claro está, argumentar que não acredita que Jesus Cristo é quem o Cristianismo afirma que é, e que não reconhece a Bíblia como um livro inspirado. No entanto, essa é uma posição redutora. Importa lembrar que “Por definição, a verdade é exclusiva (…) Negar a natureza exclusiva da verdade é fazer uma afirmação que reivindica a verdade”[57]. Desta forma, a proposição segundo a qual os cristãos não têm base para crer em verdades absolutas é uma verdade absoluta, razão pela qual não pode ser sustentada por aqueles que negam verdades absolutas. Se, por outro lado, não há a negação de verdades absolutas, então não se pode rejeitar trivialmente a pessoa de Jesus Cristo e a Bíblia como fontes epistemológicas de verdades absolutas. Afinal, a noção de posse destas verdades são tão fortes nas suas palavras que o exame das mesmas deve ser sóbrio. No entanto, não queremos enveredar por esta linha de argumentação. O que pretendemos realçar é que rejeitar o Cristianismo mediante o argumento que conclui que as bases desta religião não se definem como possuidores de verdades absolutas é uma atitude de alguém desinformado.

Pelo contrário, tanto Jesus Cristo como a Bíblia são a base mediante a qual os cristãos creem em verdades absolutas. Neste sentido, estes têm, por necessidade lógica, de viver e defender a sua fé como verdade absoluta. Afinal, “as diferentes e conflituantes perspetivas sobre o significado da vida não podem estar todas simultaneamente corretas. A procura pela verdade inevitavelmente exclui outras opções”[58]. Uma vez mais, a própria natureza da verdade confirma esta perspetiva: “A verdade, pela sua própria natureza, é intolerante em relação ao erro”[59]. Desta forma, a afirmação que deu nome a este tópico está totalmente afastada da realidade do Cristianismo. Afinal, o oposto é que está em consonância com as bases do Cristianismo: só é cristão quem crê em verdades absolutas.

Na nossa perspetiva, o que dificulta a compreensão desta proposição é o facto de ao pluralismo religioso estar associada uma visão normativa. Em sentido denotativo, ele descreve a “situação caracterizada pela existência de diversas opções religiosas e perspetivas sobre religião”[60]. Efetivamente, esta é uma descrição correta da realidade contemporânea. No entanto, o sentido denotativo tem sido substituído pelo normativo: “para alguns, o termo pluralismo é tomado em sentido normativo, que implica a aceitação dessa pluralidade e a recusa de julgar uma religião mais verdadeira ou, de alguma forma, superior a outras religiões”[61]. Esta substituição tem moldado a cultura pós-moderna, levando as pessoas a defenderem que o Cristianismo não tem bases para sustentar a posse de verdades absolutas. Todavia, esta posição é que, na verdade, não tem bases, pois apoia-se numa visão normativa de um termo que é, por definição, descritivo. Por essa razão, essa posição deve ser abandonada, pois não tem bases nas quais se pode sustentar.

Podemos finalizar este tópico reforçando a sua ideia central: os cristãos têm bases para crer em verdades absolutas. Notámos que o pluralismo religioso não põe em causa este facto. Não obstante, podemos perguntar: e o que dizer das outras religiões? Não são as verdades do Cristianismo semelhantes às de outras religiões? Não possuem, todas elas, verdades absolutas? Com estas perguntas em mente, abordaremos de seguida as diferenças entre o Cristianismo em as outras religiões.

 

O Cristianismo é igual às outras religiões!

O Cristianismo não rejeita todas as proposições das outras religiões por exclusividade. Pelo contrário, “Nós (os cristãos) podemos cooperar com outra (religião) em alguns assuntos morais e sociais importantes, mesmo não partilhando as mesmas perspetivas teológicas”[62]. Porém, esta concordância pontual não abre espaço para o ecumenismo, pois a cooperação em causa é pontual e situacional, e não geral e abrangente. O Cristianismo alega que as outras religiões estão certas em alguns princípios que postulam, mas também que elas estão erradas enquanto sistemas de verdades. Isto é, o seu corpo teológico não é verdadeiro em si, razão pela qual o Cristianismo se define como uma religião exclusiva, o que nega desde logo a sua igualdade em relação às demais.

Estamos cientes de que alguns afirmarão: não aceito uma religião que seja exclusiva. Ora, esta afirmação é algo apressada, pois uma análise atenta demonstra que todas as religiões são exclusivas: “é importante perceber que o Cristianismo não é a única religião que reivindica exclusividade (da verdade). Por exemplo, os muçulmanos reivindicam, radicalmente, exclusividade – não apenas teologicamente, mas também linguisticamente”[63]. De facto, a comparação entre as religiões mostra que o Cristianismo é daquelas cuja exclusividade em nada prejudica a sociedade, pois ela não se manifesta em atos violentos[64].

Aliás, podemos ir ainda mais longe, notando que o próprio conceito de religião implica exclusividade. Se esta é “um sistema qualquer de ideias, de fé e de culto”[65], então aderir a um determinado sistema implica necessariamente rejeitar os demais. Aceitar uma concepção das relações entre o mundo natural e o metafísico inevitavelmente conduz à negação de todas as outras concepções. Uma evidência de que todas as religiões são exclusivas é a Fé Baha’I: “Mesmo o Bahaismo, que afirma ser um abraço cósmico de todas as religiões, acaba excluindo os exclusivistas”[66].

Fica assim demonstrado que a exclusividade é um facto inerente ao conceito de religião. Não obstante, seria limitado aplicar este facto às religiões. Pelo contrário, ele abrange todas as concepções religiões, o que inclui o agnosticismo e o ateísmo. Este é uma posição “filosófica que nega a realidade do Deus do TEÍSMO ou de outros seres divinos”[67]. Por sua vez, o agnosticismo “tem uma conotação até mais embaraçosa (do que o ateísmo). O alpha é a negativa, e ginosko é “saber”, “conhecer”, do grego. Agnóstico é aquele que não sabe, não conhece”[68]. Ao contrário do que é socialmente apresentado, estas duas concepções são também exclusivas. O ateísmo exclui aqueles que creem na existência de seres divinos, enquanto o agnosticismo é exclusivista em relação aos que afirmam conhecer. Pelo contrário, esta concepção religiosa prefere uma condição de ignorância.

À luz do supracitado, concluímos que todas as pessoas têm de, ou juntar-se a uma religião exclusiva, ou adotar uma concepção religiosa exclusiva. Isto é, todos somos exclusivos, de uma forma ou de outra. A própria indiferença também o é, pois está exclui aqueles que creem que uma escolha religiosa é importante.

Então, em que aspetos é que o Cristianismo se diferencia das outras religiões e concepções religiosas? Devido aos objetivos do presente capítulo, não nos podemos debruçar sobre estas concepções. Por isso, exploramos somente as diferenças em relação a outras religiões. O pressuposto que importa termos em mente é que “Crer nalguma coisa não a torna verdadeira, como também não crer na verdade não faz com que ela deixe de ser verdade. Factos são factos, independentemente das atitudes das atitudes das pessoas para com eles”[69]. A verdade deriva dos factos, e não das crenças. Isto é importante, pois as diferenças que apresentamos de seguida são factos. Estes comprovam a verdade, à qual devemos responder com fé.

Comecemos por ver as diferenças entre o Cristianismo e as outras religiões em relação aos seus ensinos. Nesta área, destacamos o facto de que “o Cristianismo é o único que oferece certeza da salvação”[70]. É verdade que o conceito de salvação difere de religião para religião. No entanto, todas elas têm um conceito de bem futuro, que corresponde à salvação cristã. No entanto, não queremos focar os conceitos de salvação, mas sim o conhecimento que se pode ter sobre o alcance desse bem futuro. Neste âmbito, as religiões não apresentam certezas futuras aos seus crentes. Estes vivem, no presente, num misto de esperança e medo, pois não sabem se alcançaram o bem futuro que a sua religião promete. Ao invés, o Cristianismo apresenta inequivocamente o modo como alguém pode ser salvo, de forma que é possível qualquer pessoa saber, à luz da Bíblia, qual vai ser o seu futuro.

Um outro ensino que estabelece uma grande diferença entre o Cristianismo e as outras religiões é que aquela apresenta um Deus que quer ajudar a Humanidade a chegar a Ele. Ao invés, estas ensinam aos seus seguidores formas e métodos para conseguir chegar a Deus. De facto, “Cristo oferece-nos o Seu poder para vivermos como devemos (…) Qualquer outro sistema religioso, todavia, é essencialmente uma proposição de «Faça Você mesmo»”[71].

Para terminar a abordagem aos ensinos, queremos ainda notar que o livro sagrado em que se baseiam os ensinos cristãos – a Bíblia – também difere, em termos de confiabilidade histórica, dos demais apresentados por outras religiões, pois “o Novo Testamento é, escancaradamente, o documento mais bem atestado da antiguidade”[72].

Seria um erro pensar que o Cristianismo só difere das outras religiões nos ensinos. Pelo contrário, podemos também notar dissemelhanças se analisarmos os fundadores das diferentes religiões. Ao fazê-lo, vemos que o fundador do Cristianismo é o único que se apresenta como Deus: “Dos grandes líderes religiosos deste mundo, só Cristo reivindica a divindade”[73]. Mas Jesus Cristo não se destaca somente pelo que disse. Aliás, cada pessoa pode afirmar o que deseja. No entanto, a questão é perceber até que ponto às ações corroboram a ousada reivindicação da divindade. Nesta perspetiva, Jesus continua a diferenciar-se dos outros fundadores de religiões, pois “Todo homem pode fazer o que Maomé fez, pois ele não fez milagre nem foi predito. Nenhum homem pode fazer o que Jesus Cristo fez”[74].

 

Considerações Finais

Apesar dos vários argumentos apresentamos neste capítulo, a nossa convicção é que o leitor não os aceitará se os analisar apenas intelectualmente. Afinal, a função dos argumentos apresentados é simplesmente conduzir à fé. Eles são o caminho, e não fim.

Esta perspetiva não desvaloriza a relevância dos argumentos. Pelo contrário, eles são importantes, e por isso nos dedicámos a eles. Acreditamos que “é importante uma apresentação do evangelho acompanhada por uma argumentação clara – não como um substituto racional para a fé, mas como uma base para a fé; não como um substituto para a obra do Espírito, mas como um meio pelo qual a verdade objetiva da Palavra de Deus se pode tornar mais clara, a fim de que os homens a considerem como o veículo do Espírito, que convence o mundo através da sua mensagem”[75].

No entanto, relembramos que o nosso apelo introdutório foi para que a disponibilidade do leitor seja, não só intelectual, mas também emocional. Segundo Pascal, “É o coração que sente Deus e não a razão”[76]. Estamos certos de que os leitores disponíveis intelectual e emocionalmente perceberão a relevância e necessidade do Cristianismo na atualidade.

O facto de a cosmovisão atual ser diametralmente oposta à cristã concorrerá para que tal ocorra. A luz produzida por uma lanterna é mais notada quando estamos num lugar mais escuro. De igual forma, a verdade absoluta do Cristianismo brilha intensamente no ambiente relativista atual: “É contra o pano de fundo desta cultura que chama o mau de “bem” e o bem de “mal” – onde o pecado é celebrado e a justiça ridicularizada – que o Cristo da Verdade brilha de modo mais resplandecente”[77].

Queremos terminar como começámos: apelando a que reflita no que leu, não só com a mente, mas também com o coração. As dúvidas fazem, muitas vezes, parte do trajeto daqueles que sinceramente procuram saber se Deus existe; se Jesus Cristo é Deus; se o Cristianismo possui a verdade absoluta; se o Cristianismo se distingue das outras religiões. Se esse é o seu caso, temos boas notícias: aqueles que buscam sinceramente a Deus encontrá-lo-ão. A esse respeito, ouça as palavras de Jesus: “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus”[78].

 

 

PARTE III

QUEM CRIOU O QUÊ? O MUNDO QUE FOI CRIADO SERÁ O QUE NÓS CONHECEMOS? EVOLUÇÃO SOCIAL E NÃO RELACIONAL

Mauro Nascimento

 

Considerações Preliminares

Muitas perguntas surgem no âmbito do ser humano e da criação do universo. Quem somos? Como é possível o corpo humano funcionar tão perfeitamente? Quem criou o que vemos? O que é a macro e a micro evolução? Devo aceitar a macro evolução? O que é o Teísmo evolucionista?

Vou, através destas perguntas e algumas outras tentar responder, não impondo a visão cristã mas, procurando demonstrar científica e pela lógica do raciocínio humano, que tudo o que a Bíblia diz é verdade. Se a teoria do Big Bang, por exemplo, fosse verdade como se explicaria a sustentabilidade do universo, sua rotação que provoca as mudanças de clima, as luas que mudam as marés? Explodiu e ficou logo sustentado, e funcionando do nada? Se a ciência provou que o cérebro humano tem vindo a regredir ao longo do tempo, como pode ser que tenhamos vindo do macaco, e tornamo-nos inteligentes?   

 

A inteligência humana

Todas as evidências mostram que não há nenhuma razão científica para aceitar alguma forma de modelo macro evolutivo. Isto nos leva ao inteligente e alternativo macro evolutivo. Isto leva-nos ao inteligente e alternativo modelo de projeto das origens.

“’Quem sou eu?’ A penetrante pergunta da autoidentificação precisa ser respondida individualmente. Nossa resposta, quer a percebamos quer não, tem uma enorme influência sobre o nosso modo de pensar e agir, nosso ponto de vista e nosso modo de viver. Nunca foi tão importante como hoje em dia para o cristão entender o que a Bíblia diz sobre o homem, para assim ter uma âncora no mar das especulações humanas.”[79]

A primeira pergunta a ser respondida é a da origem do homem. De onde veio? “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1), diz a Bíblia, e “também disse Deus. Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (vs. 26 e 27).

 As Escrituras ensinam firmemente que nem o universo nem o próprio homem são produtos de um acaso cego. O homem, especialmente, é o resultado da deliberação cuidadosa e proposital da parte dos membros da Divindade triuna.

Adão, o primeiro homem, foi criado à imagem de Deus. Adão é um nome próprio, o termo hebraico do qual se origina também tem o significado de “humanidade”. No Velho Testamento foi frequentemente usado nesse sentido. Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só” e para completá-lo fez uma mulher para ser ajudadora de Adão (Gn 2.18,22). “Pela fé entendemos que foi formado o universo pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb 11.3). Noutras palavras, Deus criou a matéria ex nihilo (do nada). Então, Ele deu forma à matéria, criando os objetos inanimados, as plantas e também animais e o homem.

Desde Sócrates, que no quarto século já dizia: “Conhece-te a ti mesmo”, inúmeros outros luminares da cultura humana têm-se debruçado sobre o problema da sua própria existência, e não poucos se têm enganado e trazido enormes prejuízos à humanidade. Para Platão, o homem é um animal que anda sobre dois pés e não tem asas, conceito também defendido por Voltaire em Cândido, onde usa a expressão “bípede sem asas”. Para Aristóteles, somos apenas um animal sociável. Para Sófocles, o homem nada mais é do que um sopro e uma sombra. Para Homero, entre as coisas que respiram e andam na terra nenhuma é mais lamentável do que o homem. Para Horácio, somos pó e sombras. Para Edward Young, a menor parte do nada. Para Molieri, não passamos de um animal vicioso. Para Otávio Augusto, somos uma ponte caída entre as margens do abismo. Para Dante Alighieri, o ser humano é um animal ridículo. E para o psicólogo Thorndike, somos uma simples máquina de reflexos. Todos esses conceitos, lamentavelmente, tem uma boa dose de verdade, pois refletem, com algumas exceções, o rosário de decepções, fracassos e frustrações da trajetória humana através dos séculos.

A Bíblia, referindo-se às outras obras da criação, afirma: “E viu Deus que isso era bom”. Mas Adão pecou, e, por causa do pecado, a criação ficou sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus (Gn 1.25; Rm 8.20,21). Nas palavras de John Stott, “o homem pode comportar-se como Deus, em cuja imagem foi feito, e ao mesmo tempo como os animais referente aos quais está chamado a ser distinto. Em um momento pode elevar-se às alturas do heroísmo e no momento seguinte submergir nas profundidades do egoísmo e da crueldade. É o inventor dos templos e universidades, hospitais e orfanatos, monumentos e museus, mas é também o inventor de bombas de hidrogénio, câmaras de tortura e campos de concentração. Que estranho paradoxo!”[80]

 

Quem criou?

Claro que o racionalista acha que o conceito de uma criação especial é insuportavelmente bisonho, e até “incrível”, ou seja, algo em que não é possível crer. Tal veredicto, porém, só tem base se a pessoa negar categoricamente a existência de um Deus onipotente. Muitas religiões antigas atribuem qualidades sobrenaturais às forças e aos corpos naturais. Algumas, por exemplo, atribuem a criação da terra ao sol, frequentemente chamado de Deus Supremo. De modo geral, as religiões antigas viam o sol como fonte sobrenatural e mantenedora da vida. A Bíblia também não contradiz as evidências científicas. Ela também rejeita a ideia de um deus-sol sobrenatural. A Bíblia reconhece a lei, a ordem e a interdependência no universo. Mas vai além da ciência e declara a fonte da lei, da ordem e da interdependência no universo.

Podemos buscar na Bíblia uma descrição clara do Criador do universo, e a maneira pela qual Ele criou todas as coisas. A Escritura não é especialmente um texto científico, mas, antes, a revelação de Deus à humanidade. Cremos que ela não erra em termos científicos. Além disso, a criação do universo é um dos poderosos atos de Deus e assim é mencionada em diversas passagens das Escrituras. O apóstolo Paulo descreveu o Criador como “o Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens. Nem tampouco é servido por mãos de homens, como necessitando de alguma coisa, porque ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração, e todas as coisas” (At 17.24-25). É assim que o Criador se descreve: “Eu sou o Senhor que faço todas as coisas, que estendo os céus, e espraio a terra por mim mesmo” (Is 44.24).

“Gênesis 1 rejeita a ideia de que o universo é eterno. Os céus e a terra (o universo) não são eternos. Eles “começaram a ser”, ou foram criados. Se alguém examinar um requesito da ciência (“a matéria não pode ser criada nem destruída”), talvez imagine falsamente que o universo é eterno.”[81]      

 

Macro e Micro evolução

“A macroevolução é uma teoria ou modelo das origens que sustenta a ideia de que todas as variedades de formas de vida provêm de uma simples célula ou ‘ancestral comum’”.[82]

A concepção macro evolucionista mais comummente sustentada é conhecida como gradualismo. Seguindo Darwin, dois famosos cientistas que sustentam essa posição, que é o entendimento clássico do darwinismo, são Stephen Hawking e Richard Dawkins. O gradualismo afirma que são necessários períodos muito longos de tempo para se completar o que é conhecido por formas de vida transicionais ou intermediárias. A macroevolução defende uma mutação de extrema complexidade, levando-a a ponto de provar que o homem veio do macaco por exemplo. Demonstram esta evolução através de uma tabela evolutiva conhecida como; árvore filogenética, onde o ancestral comum é o começo da espécie que evolui para dezenas de outras espécies de extrema diferença. Até os próprios macro evolucionistas vieram recentemente ridicularizar esta teoria, pois a árvore filogenética não é nada mais que galhos filhos (microevolução) e folhas.

As evidências observáveis confirmam que há limitações naturais à mudança genética que dá suporte à microevolução, mas não há nenhuma evidência (científica, paleontológica nem nenhuma outra) que dê suporte à declaração de que a microevolução possa ser extrapolada para o nível da macroevolução.[83] A paleontologia confirma que o aparecimento abrupto das primeiras formas de vida – os cinco mil tipos genéticos da vida marinha e anima – se deveu a uma extraordinariamente curta e rápida explosão global da vida. O macro evolucionista Stephen Gould Jay admite que: A maioria das espécies não exibe nenhuma mudança direcional durante o período delas na terra. Mostram-se no registo fóssil muito parecidas com o que eram quando desapareceram; a alteração morfológica é geralmente limitada e sem direção. Em qualquer área local, uma espécie não aparece gradualmente por transformação constante de seus ancestrais, aparece uma vez e “plenamente formada”.

Todas as evidências mostram que não há nenhuma razão científica por que devamos aceitar alguma forma de modelo macro evolutivo.

Gostaria ainda de analisar a posição teísta da macroevolução. Do ponto de vista comprobatório, não há diferença entre a macroevolução ateísta ou naturalista e a macroevolução teísta. Os teístas macros evolucionistas creem que Deus é a causa por detrás da vida e finalmente a raça humana. Essa teoria inclui Deus e foi desenvolvida por teístas que acreditavam que a macroevolução tinha algum mérito académico. Os teístas macros evolucionistas em geral se esforçam e se dedicam a alguns dos problemas mais graves associados a macroevolução inserindo o trabalho de Deus onde a evidência está gravemente ausente. Os teístas macro evolucionistas enfrentam a mesma dificuldade que os macro evolucionistas ateus ou naturalistas, isto é, a falta de evidências paleontológicas.

Adaptação, ou microevolução, refere-se a mudanças que ocorrem quando uma espécie passa por uma transformação e prospera no seu meio ambiente. Macroevolução é uma teoria que sustenta que a microevolução acontece em maior escala, fazendo com que uma espécie se transforme em um tipo inteiramente novo. A comunidade científica reconhece os dois conceitos; no entanto, cada um deles é marcado por diferenças sobre que provas podem ser observadas na prática, os materiais essenciais exigidos para que isso aconteça, o resultado final das mutações que levam a mudanças aleatórias e a liberdade com a qual isso pode ser ensinado nas escolas.[84]  

A grande diferença entre micro e a macro evolução é que, a primeira pode ser observada enquanto a segunda é apenas teórica.

Os cosmólogos e cosmógonos da escola evolucionista reconhecem o seguinte: “O posicionamento simplista sugere que o universo veio repentinamente à existência e encontrou um sistema completo de leis físicas esperando para serem obedecidas.”[85] 

Para justificar a sua tese, o criacionista utiliza a lei científica de causa-e-efeito. Esta lei que é universalmente aceita e seguida em todos os campos da ciência, relaciona todo o fenômeno como efeito de uma causa. Nenhum efeito é quantitativamente “maior”, nem qualitativamente “superior” à sua causa. O efeito pode ser inferior à sua causa, mas nunca superior. Usando um raciocínio causal, o criacionista teísta nota que:

A Causa Primeira do Espaço limitado precisa ser infinita.

A Causa Primeira do Tempo Infinito precisa ser eterna.

A Causa Primeira da Energia Ilimitada precisa ser onipotente.

A Causa Primeira das Inter-relações universais precisa ser onipresente.

A Causa Primeira da Complexidade Infinita precisa ser omnisciente.

A Causa Primeira dos Valores Morais precisa ser Moral.

A Causa primeira dos Valores Espirituais precisa ser espiritual.

A Causa primeira da Responsabilidade Humana precisa ser volitiva.

A Causa Primeira da Integridade Humana precisa ser veraz.

A Causa Primeira do Amor Humano precisa ser amorosa.

A Causa Primeira da vida precisa ser viva.[86]

 

Concluímos, com base na lei da causa-e-efeito, que a Causa Primeira de todas as coisas precisa ser um Ser infinito, eterno, onipotente, onipresente, onisciente, moral, espiritual, volitivo, veraz, amoroso e vivo! Será que estes adjetivos descrevem a Matéria?

 

Teísmo evolucionista

A evolução Teísta ou Religiosa constitui um verdadeiro problema para alguns. O raciocínio de tais pessoas é este: “já que tantos creem na evolução, para que fazer tanto barulho a esse respeito?” Elas julgam que podemos aceitar alguns princípios básicos da evolução e continuar, ao mesmo tempo, acreditando na existência de Deus e da criação; pensam que talvez Deus fez simplesmente uso da evolução como meio de colocar o homem na terra. Não somente alguns membros da Igreja pensam assim, como também alguns pregadores do Evangelho sente-se inclinado a transigir, acreditando que as evidências são esmagadoras.

Em primeiro lugar vem a criação instantânea. Deus ordena e as coisas são criadas no mesmo instante – este é o ponto de vista mantido pelos defensores da Bíblia, baseados nos relatos de Gênesis 1 e 2; uma segunda alternativa sobre a origem do mundo é crer na evolução ateísta que defenda um mundo que surgiu do nada há milhões de anos atrás; ou melhor surgiu de uma explosão cósmica que deu origem à vida. Esta teoria acredita na evolução progressiva de milhões de anos.

Outra das teorias que surgiria seria, adaptações do evolucionismo que para se adaptar às opiniões religiosas, chegaram mesmo a conceber a existência de homens e mulheres anteriores a Adão – os pré-adamistas – e a sugerir que Gênesis só se referia aos antepassados dos hebreus.[87]

Diziam também que Adão teria beneficiado de uma intervenção divina para emergir desta «pré-humanidade».

Um dos modismos teológicos que mais crescem em seminários, publicações, igrejas e púlpitos em nossos dias atende pelo nome de Teísmo Aberto.

“O Teísmo Aberto é um falso ensino que está ganhando seguidores no Brasil e no mundo de forma sutil. Isso porque se apresenta de tal forma e com argumentos sentimentais que enredam o cristão simples com facilidade. Não são poucos os que já aderiram ao Teísmo Aberto e nem notaram ainda. Alguns nem sabem aquilo em que acreditam chama-se Teísmo Aberto.”[88]

O Teísmo Aberto surgiu em meio ao debate entre duas correntes teológicas: o arminianismo e o calvinismo. Na ânsia de defender o arminianismo, alguns teólogos, líderes e pensadores evangélicos descambaram para essa teologia liberal, que não honra a Deus nem a Bíblia, e têm influenciado muitos com seu discurso. “O Teólogo liberal canadiano Clark Pinnock é o nome mais expressivo do movimento teológico denominado Openness of God (sinceridade – ou abertura – de Deus) ou Open Theism (Teísmo Aberto). No Brasil, esse pensamento é denominado Teologia da Abertura de Deus ou Teologia Relacional. Trata-se de uma vertente da Teologia Liberal. Anos atrás, Clark Pinnock era conhecido como teólogo conservador de linha calvinista, até que teve sua visão mudada, aderindo ao arminianismo. Até ai tudo bem. Alguém pode ser arminiano ou calvinista e ser coerente biblicamente, apesar das diferenças entre duas correntes na interpretação de determinadas verdades bíblicas. Do arminianismo, Pinnock partiu para o pluralismo religioso, ou seja a crença de que budistas, islâmicos e religiosos de outras vertentes podem ser salvos sem aceitar Cristo. Em seguida abraçou o universalismo, a doutrina de que no final todas as pessoas do mundo em todas as épocas serão salvas. Mais recentemente, apoiou a “bênção de Toronto”, movimento neopentecostal canadiano que teve repercussão internacional no início dos anos 90. Aquele em que as pessoas caíam no chão emitindo sons de animais e rebolam no chão tomado por uma tal “unção do riso”.

 Teísmo Aberto é uma invenção teológica subcristã que declara que o maior objetivo de Deus é entrar num relacionamento recíproco com o homem, onde o criador é afetado pelas escolhas dos homens; e Deus não conhece o futuro plenamente, nem as escolhas livres que suas criaturas ainda farão. Ou seja, nega a Onipresença, a Onisciência e a Onipotência de Deus. Seus defensores apresentam outra definição onde afirmam pretender uma reavaliação do conceito da onisciência de Deus, na qual se afirma que Deus não conhece o futuro completamente, e pode mudar de ideia conforme as circunstâncias. Afirmam também, alguns defensores, que o termo “Todo-poderoso” não pode ser extraído do contexto bíblico pois, segundo eles, a tradução original da palavra do qual é traduzida tal expressão se havia perdido ao longo dos séculos.

 

Considerações Finais 

Deus é tudo em tudo, o que significa que sem Ele nada subsiste. Parece não haver maneira possível de se evitar a conclusão de que, se afinal de contas a Bíblia e o Cristianismo são verdadeiros, as eras geológicas precisam ser completamente rejeitadas. “O grande complexo de movimentos ateístas gerados pelo poderoso e penetrante sistema de uniformitarismo evolucionista só pode voltar atrás se o seu alicerce for destruído.”[89] Claro que isto requer o estabelecimento do modelo de criação especial, com base bíblica e científica, com o verdadeiro alicerce para o conhecimento e a prática em todos os campos. Espero que este capítulo tenha proporcionado as informações necessárias para que deixa suas dúvidas de lado.

 

 

PARTE IV

QUEM É DEUS? A REVELAÇÃO PLENA DE DEUS NA PESSOA DE JESUS CRISTO

André Simões

 

 

Considerações Preliminares

Afinal quem é Deus? Ele existe mesmo? Como é que posso conhece-lo e ter a certeza de que Ele existe?

Neste capítulo procuraremos responder a estas questões, sendo que, a razão base, pela qual sabemos que Deus existe, é porque Ele se revelou de forma plena através da pessoa de Jesus Cristo. Jesus Cristo é o Deus que se tornou homem[90]. Este é o assunto principal que abordamos nas seguintes linhas.

 

Quem é Deus e como podemos conhecê-lo?

Quando nos referimos a Deus, claramente pensamos em alguém que é o criador e sustentador de todo o universo cósmico. Algumas das formas de conhecermos Deus é através da Sua revelação escrita – a Bíblia Sagrada; e através da Sua encarnação – Jesus Cristo. Nesta capítulo é feita uma abordagem apologética da revelação de Deus na pessoa de Jesus, uma vez que a revelação de Deus através da Palavra já foi desenvolvida anteriormente no capítulo I.

Mas quem é Deus? Deus é um Deus pessoal e infinito que criou os céus, a terra, e o homem à Sua própria imagem.[91] Deus contou à humanidade sobre quem Ele é, como Ele é e qual o Seu plano para o planeta Terra. Na Bíblia podemos descobrir quem Ele é efetivamente.

Como podemos conhecê-lo? A única forma de o conhecermos realmente, é através do Seu Filho, Jesus Cristo. “Se alguém quer saber quem Deus é e como Ele é, basta olhar para Jesus Cristo”[92]. Jesus afirmou: “Quem me vê a mim vê o Pai (Deus).”[93] Podemos conhecer Deus através da pessoa de Jesus Cristo. Nos próximos tópicos deste capítulo abordamos a pessoa de Jesus Cristo.

 

O Jesus de Nazaré da História    

Alguns dos documentos históricos mais importantes e de referência que relatam a vida de Jesus de Nazaré, são os evangelhos escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas como podemos confiar na veracidade destes escritos? Mateus e João foram testemunhas oculares da vida de Jesus, ao passo que Marcos terá escrito o evangelho segundo os relatos do apóstolo Pedro, e Lucas terá feito uma pesquisa junto das testemunhas oculares.[94] Além da Bíblia, existem outras fontes bem documentadas que confirmam a pessoa histórica de Jesus. O historiador judeu, Flávio Josefo (nascido em 37 d.C.) fala acerca de Jesus.[95] Muitos outros homens e documentos escritos da história universal, dão testemunho da historicidade de Jesus. Devemos ter como certo que este Jesus que a Bíblia fala não é um mito. É impossível não acreditar na historicidade da pessoa de Jesus. Como diz Augusto Cury “A personalidade de Cristo é ‘inconstrutível’ pela imaginação humana.”[96] Não seria possível inventar toda a pessoa e obra de Jesus Cristo, porque está para além do imaginável do ser humano.

Este Jesus histórico que nasceu em Belém, é o fundador do cristianismo. As ideias e crenças do cristianismo, têm a sua origem naquilo que Jesus disse e fez. Paul Little afirma que tudo o que diz respeito ao Cristianismo é determinado pela pessoa e pela obra de Jesus Cristo.[97] “O Cristianismo é Cristo do princípio ao fim.”[98] Se retirarmos Cristo do Cristianismo, é impossível este subsistir. Mas quem é este homem e o que é que ele fez de tão especial?

Josh McDowell no seu livro “Evidência que exige um veredicto”, usa a seguinte expressão acerca de Jesus: “Se Jesus não era Deus, então merecia o prêmio de melhor ator”[99]. Josh apresenta a pessoa de Jesus Cristo, e fala do Trilema, isto é, existem três hipóteses diante da Sua afirmação que era Deus: 1) Ou era um mentiroso; 2) um lunático; 3) ou então estava a falar a verdade e é realmente o Senhor.[100] Mas analisemos estas hipóteses mais pormenorizadamente.

Se Jesus era um mentiroso consciente, quando Ele ensinava as pessoas a serem honestas, Ele próprio estava a ser hipócrita porque não praticava aquilo que ensinava. Se Ele mentia ao dizer que era Deus, então era um demônio porque levava as pessoas a confiarem Nele. Jesus também seria um tolo, pois a Sua afirmação, foi o que O levou à morte[101]. É impossível que Jesus tenha sido um mentiroso compulsivo diante da pureza e dignidade moral do Seu ensino, obras e estilo de vida.[102] Ninguém está disposto a morrer por defender uma mentira consciente, a não ser que seja louco. O homem só está disposto a morrer por aquilo que acredita ser verdadeiro.

Outra hipótese do Trilema, é que Jesus podia ser um lunático, alguém fora do seu perfeito juízo, um louco. Mas é difícil aceitar que Jesus era um lunático diante dos Seus ensinos teológicos. Em todos os relatos dos evangelhos, nunca vemos alguma atitude de fanatismo ou loucura por parte de Jesus. Não vemos alucinações em Jesus. Há uma clareza e limpeza de pensamento e raciocínio que refutam esta hipótese. O retrato que os evangelhos nos dão, é o de um Jesus que estava sempre seguro de si próprio. Quando foi provocado e perseguido, sempre demonstrou autocontrolo, tranquilidade e equilíbrio mental.[103]

Por último, temos a alternativa mais óbvia e sábia que é aceitar que Jesus ao afirmar ser Deus, estava a dizer a verdade e isso faz Dele Senhor e Deus. Se formos honestos e procurarmos descortinar todas as evidências, aceitaremos como certo esta hipótese, porque é impossível que alguém que viveu, ensinou e morreu como Jesus, tenha sido um mentiroso ou lunático.

Se considerarmos que Jesus é uma personagem histórica e que as Suas alegações são verdadeiras, e é de facto Senhor e Deus, podemos então passar ao próximo passo: considerar como verdadeiro tudo aquilo que Ele disse e fez.

Já referimos anteriormente que Jesus afirmou ser o Filho de Deus. São inúmeras as passagens Bíblicas que registam este facto incontornável. Como Filho de Deus, Jesus nunca pecou, nunca houve na Sua vida qualquer falha moral. Através de vários milagres e sinais realizados por Ele, que temos conhecimento através dos evangelhos, vemos a Sua autoridade e o Seu poder sobre as forças naturais e sobre as enfermidades daqueles a quem curou. Somente o Filho de Deus teria poder para operar estes sinais, e Jesus foi, e é esse Deus feito homem.[104]

O maior milagre que atesta a divindade de Jesus é a Sua ressurreição de entre os mortos. No próximo tópico procuramos provar a morte e a ressurreição de Cristo.

 

Evidências da morte e ressurreição de Cristo

Cristo profetizou a própria morte e ressurreição ao terceiro dia[105]. Mas existem evidências históricas que comprovam estes factos?

A ressurreição de Cristo é a base genuína para a autenticidade do cristianismo.[106] O apóstolo Paulo declarou que se Cristo não ressuscitou, então o cristianismo não vale nada.[107] Podemos dizer que o cristianismo sem a ressurreição de Cristo, não permanece de pé. Uma coisa não existe sem a outra. É a ressurreição que torna evidente que Jesus era o Filho de Deus.[108] Portanto, se conseguirmos provar que Jesus não ressuscitou dos mortos, então anulamos o cristianismo. Mas, se pelo contrário, houver evidências dessa ressurreição, então o evangelho tem toda a veracidade.

A ressurreição é em si um milagre, a intervenção do sobrenatural. Se uma pessoa rejeita a ação do sobrenatural na esfera humana, então fica difícil levar alguém a crer neste veredicto. Mas precisamos fazer um exame das evidências.

A ressurreição de Cristo não pode ser provada cientificamente, porque a ciência produz um conhecimento a partir da observação contínua de testes de hipóteses e experiências.[109] Isto significa que o método científico é limitado e ineficaz. A ciência não consegue provar os factos relacionados com a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, porque estes foram um ato único.

Analisar algo que possa ter acontecido há mais de dois mil anos atrás, só pode ser feito tendo em consideração os argumentos históricos. É preciso então fazer uma pesquisa histórica.

Os relatos que temos acerca da ressurreição de Jesus, foram escritos pelos Seus seguidores. Estes sabiam distinguir os factos, de fábulas e mitos. Vários textos[110] provam que eles não eram ingênuos nem ignorantes. No primeiro século eles podiam não ter muitos conhecimentos de ciência, mas sabiam que os cegos, coxos e paralíticos, normalmente ficariam assim até morrer. Por essa razão ficaram admirados com as curas e milagres que Jesus fazia.[111] Os discípulos creram em milagres porque viram eles acontecerem.

O evangelho de João[112] relata a dúvida que dominava o coração do discípulo Tomé. Alguém que tinha andado com Jesus, que tinha visto Ele a operar milagres, estava incrédulo acerca da Sua ressurreição. Tomé apenas acreditaria se tocasse nas feridas de Jesus. Assim, a sua dúvida foi desfeita quando Jesus se revelou a ele.[113]

Precisamos examinar a ressurreição de Cristo sob o critério histórico porque esta é uma questão histórica. Como já vimos no exemplo anterior, a fé dos discípulos estava baseada em experiências de factos reais. Outra afirmação é aquela que Lucas escreve: “Aos quais também, depois de haver padecido, se apresentou vivo, com muitas provas infalíveis, aparecendo-lhes por espaço de quarenta dias, e lhes falando das coisas concernentes ao reino de Deus.”[114] Lucas era um médico e historiador que procurou evidências junto das testemunhas oculares. Lucas usa a expressão “muitas provas infalíveis” dando ênfase à questão da veracidade dos seus registos. Assim o Novo Testamento constitui a principal fonte de informação histórica da ressurreição, e as descobertas arqueológicas confirmaram a exatidão destes manuscritos.[115] Vários estudos provam que estes documentos do Novo Testamento foram escritos antes do ano 64 d.C., conferindo grande autenticidade aos seus relatos, isto porque o tempo que ocorreu entre os eventos da vida de Jesus e o registo deles, não foi o suficiente para afetar a sua exatidão. A segunda razão para confiar na integridade do Novo Testamento é que foi escrito por testemunhas que tiveram uma grande proximidade não apenas temporal, mas também geográfica dos eventos, são relatos de testemunhas oculares e não boatos que passaram de boca em boca. É mais provável que Jesus ressuscitou, do que todas as testemunhas oculares tenham cometido o mesmo erro de identificar o Cristo ressuscitado.

Outro dado a considerar é a igreja cristã ter surgido e o facto dela se referir constantemente à ressurreição de Jesus como base do Seu ensino, pregação, vida e morte. Também os primeiros cristãos, antes judeus, alteraram o dia de culto, Sabbath judaico, para o domingo, o dia em que Jesus ressuscitou, a fim de celebrarem esse acontecimento.[116]

Ao pensar na ressurreição de Cristo devemos nos focar e tentar explicar como é que o túmulo apareceu vazio no domingo de manhã. Existem várias teorias que podemos considerar, como os discípulos terem roubado o corpo de Jesus, ou o corpo ter sido escondido pelas autoridades, etc. O espanto dos discípulos ao verem o túmulo vazio prende-se com o facto dos panos de sepultamento não estarem desarrumados, mas estavam exatamente como haviam sido enrolados em volta do corpo de Jesus, apenas estavam murchos.[117] Isso só poderia acontecer de forma sobrenatural. O túmulo de Jesus também estava selado com o selo do imperador romano, e ninguém teria a ousadia de quebrar esse selo. Tambe﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽sadia de quebrar esse selo. r romano, e ninguem  sido enrolados em volta do corpo de Jesus, apenas estavam murchos.”ém os guardas romanos dificilmente deixariam de guardar o túmulo de qualquer maneira, uma vez que isso significava negligência e por consequência a morte. Certamente que algo sobrenatural fez aqueles guardas fugirem.

Mas além do túmulo vazio temos as aparições de Jesus depois da ressurreição, que não foi a um grupo restrito. Paulo escreveu que mais de 500 pessoas viram Jesus ressuscitado e que a maior parte delas ainda estavam vivas.[118] Será que 500 pessoas podiam ter tido a mesma alucinação? Ou será que 500 pessoas teriam confundido a pessoa de Jesus Cristo com outra pessoa qualquer? Não me parece razoável considerar tais teorias, pois a probabilidade disso ter acontecido é muito menor do que Deus ter ressuscitado Jesus. Por outras palavras, é mais fácil crer na ressurreição.

 

Considerações Finais

A história comprova que Cristo não é um mito, Ele é histórico. Pelos relatos que existem, não apenas religiosos, mas também seculares da sua época, percebemos que Ele não era um homem qualquer, mas o Filho de Deus. Cristo é a revelação plena de Deus à humanidade.

Ao nos debruçarmos sobre as questões relacionadas com a Sua morte e ressurreição, não temos escolha a não ser realmente negar ou aceitar aquilo que Jesus oferece. É impossível ficar na dúvida ou céptico de alguma forma, em virtude de tantas provas irrefutáveis, mas é possível optar pela aceitação ou negação porque Deus não interfere no livre-arbítrio do homem. 

Olhar para a história, e ouvir o testemunho de vidas que foram transformadas ao aceitarem Cristo como o Filho de Deus, é um fenômeno que só é possível porque Ele é realmente Deus.

 

 

PARTE V

NA PERSPECTIVA DA EXISTÊNCIA DE UM DEUS, COMO DEVE O HOMEM VIVER PERANTE ELE? O NOVO NASCIMENTO E O NOVO PADRÃO MORAL

Nuno Ferreira

 

Considerações Preliminares

O que a Bíblia diz é que Cristo: sua vida, morte e ressurreição tem que ser central na nossa fé. Se acreditarmos apenas que ele existiu, viveu e morreu como homem, não ressuscitou como Filho de Deus, que venceu a morte então a nossa a fé não passa duma fraude porque nunca vamos chegar “à medida da estatura da plenitude de Cristo.” Se ele não está vivo, como vai ser formado em nós?

Não há maior questão do que esta – da sua resposta depende toda a vida dos homens, terrena e eterna.

Então a mensagem da ressurreição é central! Trata-se um apelo é formação espiritual. Ele vive em nós! Ele dá-se a conhecer através de nós! E para isso precisa de ser formado em nós! Rejeitando a verdade sobra a morte – o salário do pecado é a morte (não a aniquilação, mas uma vida sem a Vida).

 

 A Experiência Cristã 

A experiência cristã resume-se nisto: Crer em Jesus Cristo. Sendo que essa crença envolve total entrega e confiança à verdade que Jesus reivindicou no seu ministério. Vamos analisar esta realidade na base de dois textos bíblicos:

 

“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. E para onde eu vou vós conheceis o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto. Disse-lhe Felipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. Respondeu-lhe Jesus: Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheces, Felipe? Quem me viu a mim, viu o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” João 14.1-9.

Poucas horas antes de ser crucificado Jesus começa a preparar os seus discípulos para a dolorosa separação. Mas nenhum deles estava preparado e todos ficaram em choque com estas declarações.

Percebemos pelas palavras de Tomé, que havia um clima de tensão no ar. A falta de uma resposta ‘compreensível’ estava deixá-los ansiosos e confusos.

Mas no meio da dúvida, do medo e da indefinição de Tomé, Jesus assumiu-se como o caminho para chegar a Deus. E é na medida que caminhamos em Cristo e com Cristo que vamos nos tornando pessoas mais resolvidas no que diz respeito à fé, convictas e conscientes de quem é Deus!

A resposta dada a Filipe é outra confidência: “Quem me viu a mim. Viu o Pai”. O próprio Jesus assume-se como a revelação plena de Deus.

O que adiantaria saber que Deus existe senão fosse possível ter a certeza de quem Ele é, como é, com quem é parecido, de que modo somos ou não semelhantes a Ele?

“A missão de Jesus foi a de vir a um mundo que estava em completa discordância com Deus, a fim de demonstrar como é realmente o Pai, como Ele sempre foi e sempre será. O melhor meio de conhecer a Deus é conhecer a Jesus. A vida e a morte de Cristo apresentam o mais nítido retrato da natureza de Deus.”[119]

 

Portanto, Tomé poderia estar confiante na medida em que não parasse de caminhar! O destino: O Pai, estava garantido, porque tinha sido revelado em Jesus.

Isto leva-nos a concluir que quando as pessoas não têm fé, mas querem chegar até Deus, Jesus revela-se como o caminho a seguir!

 

O começo da experiência Cristã é marcado pelo Novo Nascimento.

 

“Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” João 3.1-3

Já vimos que é a caminhada que nos transforma porque é durante esse percurso que chegamos a Deus e somos moldados à imagem de Cristo. Mas essa experiência começa com um acontecimento que a Bíblia chama de Novo Nascimento.

Um conceito que foi introduzido a Nicodemos e revolucionou o entendimento dele acerca de Jesus.

Nicodemos era alguém importante entre a classe religiosa dos Fariseus. Era também alguém importante no Sinédrio (assembleia político-religiosa dos Judeus).[120]

Para os Judeus a forma correta de viver diante de Deus era através do cumprimento rigoroso dos rituais previstos na Lei. A fé deles estava colocada nesses rituais.

 

Os rituais estavam programados “para ensinar os israelitas os princípios da santidade divina, da pecaminosidade humana, da necessidade de arrependimento e da morte expiatória como resposta à transgressão humana.”[121] Os ensinamentos de Jesus acerca da Lei estão dentro deste alinhamento. (cf. Mateus 5.17-48) O foco era a obediência motivada por um desejo profundo de agradar a Deus. Mas o que era observado inicialmente com boas intenções acabou por se perverter. O papel da Lei no seio da comunidade foi invertido porque o orgulho acabou por corromper os seus corações. O cumprimento da Lei tornou-se uma obsessão com único fim de atingir a “santidade” por mérito próprio.

Com isto percebemos que uma lei perfeita sem expiação levaria o homem à neurose.

Portanto, se Jesus Cristo fosse apenas o Mestre e o Modelo no cumprimento da Lei, a nossa situação seria insuportável mas Ele é Salvador. O Novo Nascimento é estar aberto para compreender esta dimensão do ministério de Jesus. Nicodemos foi desafiado a deixar os velhos paradigmas da interpretação humana da Lei e basear a sua fé nesta verdade.

Quando Jesus fala com Nicodemos usa como estratégia a referência “de cima”. Nicodemos reconheceu que Jesus vinha da parte de Deus, do Altíssimo, e Jesus desafiou-o a ‘nascer de novo’ ou seja, ‘nascer de cima’. Jesus referia-se há mudança no interior do homem provocada por Deus – “ mudança que vem de cima”. Significa dar espaço a uma transformação espiritual que vai fazer a pessoa largar os velhos paradigmas e basear a sua fé na verdade.

 

No decorrer do diálogo, Jesus confrontou-o com a realidade de uma Fé PESSOAL. “Quem não nascer da água e do Espírito”… Não pode ver o reino de Deus, disse-lhe Jesus. No fundo, apelou a uma decisão que seria determinante para a sua vida! A fé já não corresponde a uma expectativa coletiva na mudança na esfera política (na qual finalmente o reino de Israel seria restaurado) mas corresponde a uma dimensão pessoal que exigia uma mudança interior. Parafraseando a mensagem de Jesus: “ o reino de Deus não começa quando os Romanos forem expulsos de Israel, mas quando tu expulsares o pecado do teu coração”!

Por isso o Novo Nascimento é uma evidência insubstituível na experiência cristã.

Nicodemos como um bom conhecedor das Escrituras sabia ao que é que Jesus se estava a referir: “Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias, e de todos os vossos ídolos, vos purificarei. Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis.” Ezequiel 36.25-27

 

Este texto relembra os homens que Deus não pode ser confinado a um sistema religioso que escraviza o homem à Lei. Sempre que o homem encara a verdade de Deus na perspetiva humana perde a liberdade e a alegria da comunhão com Deus. Por isso é que a religião tende a produzir pessoas frias, duras e intolerantes. Quando o evangelho de Jesus ensina primeiro a compaixão, depois aceitação e por último, mas mais importante, a verdade.

 

O bem e o mal

A discussão do bem vs mal é muito vasta nos temas que abrange. Vamos nos focar nos dois pontos apresentados:

A fonte do problema do Mal – O Pecado // A consciência do Mal

“Primeiro, como diz J. B. Phillips: O mal é inerente ao arriscado dom do livre arbítrio. Deus podia ter-nos feito máquinas, mas para isso ter-nos-ia privado da nossa preciosa liberdade de escolha e deixaríamos de ser humanos. O exercício da livre escolha da direção do mal, no que nós denominamos por ‘queda’ do homem é a razão básica do mal e sofrimento no mundo. É responsabilidade do homem, não de Deus. Ele podia acabar com o mal, mas se o fizesse destruir-nos-ia a todos. Vale a pena notar ‘que o ponto fulcral do verdadeiro Cristianismo não está em interferir com a capacidade humana de escolher, mas em produzir uma disposição voluntária para escolher o bem em vez de o mal.”[122]

A citação feita a J. B. Phillips leva-nos a constatar que a partir do momento em que o homem desobedece a Deus e se torna conhecedor do “bem e do mal” a sua condição espiritual muda. O relacionamento com Deus é prejudicado. A “Queda” do homem introduziu-o a uma luta interior entre o bem e o mal. O homem que desconhecia o pecado, agora tem que “lutar” contra ele.

Esta realidade não é reconhecida exclusivamente pelo cristianismo, considerando que decorreu em certo sentido do Judaísmo.

Mesmo antes de Israel existir como ‘povo escolhido’ de Deus já o homem tinha consciência do transcendente e já procurava por intermédio dos sacrifícios de animais uma relação com a divindade ou pelo menos buscava o favor de Deus em detrimento da ira divina sobre o pecado (tudo aquilo que desagrada a Deus). Pearlman afirma “Uma das crenças mais profunda e firmes da antiguidade era que a imolação de uma vítima afastaria a ira divina e asseguraria o favor de Deus.”[123]

É neste contexto cultural que mais tarde Deus vai projetar o modelo de adoração genuína e da integridade moral do homem – por intermédio da Lei.

Vemos que apesar da profunda alienação espiritual do homem, Deus não se conformou com o estado de separação que havia entre Ele e a Humanidade e estabeleceu uma Aliança (Adão, Noé, Abraão, Isaque e Jacob… Israel… Humanidade) com o propósito de se revelar e reconciliar o homem consigo. Os sacrifícios carimbavam este propósito.

Neste sentido a Bíblia revela que o ato de sacrificar estava totalmente imbuído da consciência de culpa e o animal representava o objeto da ira de Deus pelos pecados do ofertante. Por isso o ritual não era de maneira nenhuma desprovido de intenção, pelo contrário, era acompanhado de uma reflexão profunda sobre o pecado, que separa o homem de Deus. O sacrifício representava também a tentativa humana de chegar ao coração de Deus. Era a forma do homem ter comunhão com Deus.

 

Então, em linha com o que encontramos antes de Cristo com a lei e os sacrifícios propiciatórios, o sacrifício surge como o meio pelo qual Deus consciencializa o homem do seu pecado e da necessidade de EXPIAÇÃO.

Cada um dos cordeiros oferecidos antes de Cristo para EXPIAÇÃO do pecado do povo prefigurava a plenitude da Salvação que se consumou em Cristo. É Ele o nosso sacrifício expiatório.

As escrituras apresentam Jesus como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29). Esta abordagem à obra de Jesus na Cruz incide diretamente no conceito que já vimos em que o cordeiro era oferecido como objeto da ira divina por causa do pecado do povo. Desta forma, quando as escrituras dizem que Cristo foi feito pecado por nós (2 Coríntios 5.21), significa que através morte substitutiva de Cristo a ira de Deus em relação ao nosso pecado é desviada para Jesus (Romanos 5.8,9).

No livro de Isaías está escrito: Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos. (Isaías 53.10 ARA)

 

Ao focarmos somente na ira de Deus corremos o risco de interpretar erradamente a justiça divina. Não podemos esquecer que ao entregar o seu próprio filho, Deus estava-se a dar a si mesmo. Há maior prova de amor que esta? Se vemos na propiciação um pretexto para idealizar Deus como um ser irado à procura de vingança, perdemos a verdade do Sacrifício de Jesus.

Segundo John Stott “é o próprio Deus que, em ira santa, necessita ser propiciado, o próprio Deus que, em santo amor, resolveu fazer a propiciação, e o próprio Deus que, na pessoa do seu Filho, morreu pela propiciação dos nossos pecados. Assim, Deus tomou a iniciativa amorosa de apaziguar sua própria ira justa levando-a em seu próprio ser no seu próprio Filho ao tomar o nosso lugar e morrer por nós. Não há nenhuma grosseria aqui que evoque o nosso ridículo sentido de justiça, apenas a profundeza do santo amor que evoca a nossa adoração.”[124]

 

Portanto quando um ateu pergunta: “Se realmente existe um Deus teísta que é completamente bom e todo-poderoso, então por que ele permite a existência do mal?”

Primeiro ele está a cair em contradição e segundo ele não está a ir à raiz do problema.

Como podemos saber o que é o Mal se não soubemos o que é o Bem? E como poderemos saber o que é o Bem se não tivermos consciência de um padrão objetivo do Bem que esteja além da nossa própria concepção? Por outras palavras, a reclamação do ateu quanto à existência do mal não põe em causa a existência de Deus, pelo contrário, o ateu mesmo sem perceber parte do pressuposto que Deus existe, o que é uma contradição ideológica. A única coisa que a pergunta sugere é que o diabo existe, mas não pode provar que Deus não existe.[125]

 

Em seguida, vemos claramente a bondade de Deus, presente em toda a iniciativa de Divina de Salvar o homem da condição em que ele mesmo se colocou. A existência do Mal na terra é responsabilidade do homem.

Deus não tinha qualquer obrigação/dever de trazer a Salvação ao Homem. Mas no evangelho de João 3:16 (“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”) percebemos que o princípio da Salvação é o amor obstinado de Deus pela humanidade. Caso contrário Ele teria eliminado o problema simplesmente destruindo toda humanidade, porque a fonte do mal foi e continua a ser o “livre arbítrio”.

“ Se Deus fosse eliminar todo mal, então teria de eliminar o nosso livre arbítrio. E se ele eliminasse o nosso livre arbítrio, não teríamos mais a capacidade de amar ou de fazer o bem. Este não seria mais um mundo moral.”[126]

 

Em Cristo Deus resolveu o problema da salvação do homem sem retirar a liberdade de escolha. E ao mostrar a nobreza do Seu amor deu-nos a possibilidade de viver uma vida nova, não mais escravizados pelo pecado.

“Para a liberdade Cristo nos libertou; permanecei, pois, firmes e não vos dobreis novamente a um jogo de escravidão. (…) Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da liberdade para dar ocasião à carne, antes pelo amor servi-vos uns aos outros. (…) Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça da carne. Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis. (…) Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia, a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as fações, as dissensões, os partidos, as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a estas, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade. A mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.” (Gálatas 5:1-26)

 

 A ampliação do Problema – Natureza Pecaminosa // tendência ou inclinação para o Mal

 

Tal como vimos anteriormente, o pecado não é apenas um problema espiritual mas um mal moral. Suportamos esta afirmação com base nesta constatação: A natureza pecaminosa do homem foi gerada pela condição pecaminosa em que Adão e Eva se encontravam depois de terem desobedecido.

 

A inclinação (ou tendência) do homem para o mal não vem pelo simples facto do homem ter a opção de pecar mas do pecado se tornar efetivamente um hábito diário e constante. A natureza pecaminosa surge quando o mal se torna mais do que uma opção, torna-se uma prática diária contínua e consciente. E esta é de responsabilidade individual e não imputada por Adão.

 

Portanto, a natureza pecaminosa é o resultado progressivo da condição do Homem pós-queda e a não um estado automaticamente adquirido através pecado de Adão.[127] Porém, a escolha que Adão fez no Éden sujeitou a humanidade à influência do mal sobre as nossas decisões do dia-a-dia, o que corrompeu toda a estrutura moral do homem.[128]

 

A natureza pecaminosa resume-se ao domínio que o pecado tem sobre o homem e a influência que exerce sobre o seu intelecto, emoções e vontade, o que provoca a corrupção do seu coração. Isso explica as “inclinações da nossa carne”. Quer isto dizer que os nossos desejos, motivações e intenções estão infetados ou contaminados com o “vírus” do pecado (Efésios  2.1-3). O pecado é portanto um mal moral![129]

 

Se Cristo ao morrer em nosso lugar levou sobre Ele toda a culpa, a qual já mais poderá nos ser imputada, uma vez que as Escrituras declaram que a morte de Cristo é o sacrifício designado por Deus para justificação dos nossos pecados (Romanos 3.25). Então é por meio da Fé no Sacrifício de Cristo que achamos o perdão dos nossos pecados. A fé n’Ele é o antídoto para o vírus do pecado!

 

Com isto a nossa tendência para o mal é contrariada: Cristo deve ser formado em nós, no nosso interior. O apóstolo Paulo disse em Gálatas 2.20 “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.”

 

O que Paulo diz é que Cristo: sua vida, morte e ressurreição tem que ser central na nossa fé. Se acreditarmos apenas que ele existiu, viveu e morreu como homem, não ressuscitou como Filho de Deus, que venceu a morte então a nossa a fé não passa duma fraude porque nunca vamos chegar “à medida da estatura da plenitude de Cristo.” (Efésios 4.10-13)

Se ele não está vivo, como vai ser formado em nós?

 

Então a mensagem do evangelho é um apelo á formação espiritual. “Ele vive em nós! Ele dá-se a conhecer através de nós! E Para isso precisa de ser formado em nós! E é aqui que a Fé na ressurreição de Jesus exerce um papel preponderante.

A sociedade está a despertar para tudo o que envolve “espiritualidade”. Basta considerar quantidade de seitas que nasceram nos últimos anos, os mestres curandeiros que se multiplicam nas sociedades ocidentais, o enorme interesse nas revistas de horóscopos, etc. Existe um despertar para o que é espiritual, mas sem a centralidade e a suficiência de Cristo e sem a verdade da sua ressurreição. Isto é a degeneração da fé!

O que acontece hoje é que, se a pessoa se sente bem com a sua fé não importa no que acredita. Se tem validade ou não. O que interessa é a pessoa estar confortável com o conceito de Deus que é pacífico ou transversal a todas as religiões.

Há um sentido relativista que anula a suficiência de Cristo.

 

A Fé em Cristo é a única que dá importância à formação espiritual. Está longe das fantasias esotéricas que muitos procuram. Deixa de ser um “mistério” e passa a ser real através da mudança de coração e na disposição dos hábitos de comportamento.

No fundo, se a “ressurreição” não fizer parte da equação da “espiritualidade”, o que vai acontecer é que essa “espiritualidade” vai ser moldada aos olhos de cada um e de manipulada acordo com os interesses de cada um.

Mas a ressurreição de Cristo não é algo possível de controlar, manipular, ou “aperfeiçoar” em favor do nosso sistema de crenças. A ressurreição não é um conceito de marketing que o homem pode trabalhar, é uma verdade que nunca vai mudar! E é a ressurreição que abre o caminho para o homem novo.

 

Nas palavras de Pascal “O cristianismo é estranho. Ordena ao homem que reconheça ser vil e abominável e determina que queira ser semelhante a Deus. Sem tal contrapeso, essa elevação o tornaria horrivelmente vão, ou esse rebaixamento o tornaria terrivelmente desprezível.”[130]

 

Considerações Finais

Concluímos que o começo, o meio e o fim de toda a experiência Cristã é crêr em Jesus Cristo! Ele marcou a história ao tornar-se humano, fez-se à nossa imagem e semelhança, sem deixar de ser Deus. Ele é Deus por nós e Deus em nós. Ele é Deus entre nós na dimensão que podemos tocar! 100% Deus – 100% Homem!

As evidências do impacto histórico da vinda de Jesus são inegáveis. O homem não teria capacidade para imaginar e materializar tal enredo, se fosse mera ficção.

 

Portanto, mesmo 2000 anos depois, resta ao homem ponderar a existência de Deus, através da sua revelação em Cristo. JESUS CRISTO é a chave hermenêutica da Bíblia! Ela é cristocêntrica. Tirar Jesus à Bíblia é ficar sem a Bíblia.

Uma vez que o homem não tem domínio total sobre a realidade que o envolve, ninguém que esteja sóbrio e que faça uso de coerência em seus raciocínios pode afirmar ser ateu. O homem não está em posição de negar o que não domina. Então se Deus existe não é lógico e coerente acreditar na única forma de o conhecer é ler a respeito do que Ele diz sobre si mesmo? Tudo o resto é conjeturas desvirtuadas pela pobreza da perspetiva humana sobre um Deus que é Divino.

 

 

CONCLUSÃO

 

Ficou claro no início do nosso trabalho que o cristianismo é uma religião baseada na revelação que Deus fez de si mesmo (através da Bíblia e da sua Criação) e não em meras experiências subjetivas do homem em busca do transcendente. Na verdade, o homem não tinha capacidade para inventar a essência de Deus revelada nos escritos sagrados do Cristianismo.

Pelo fato do homem carregar dentro de si um imperativo da revelação divina e um desejo do conhecimento pela verdade de Deus, não nos parece intelectualmente honesto desconsiderar a revelação de Deus nas Escrituras Sagradas. O poder e a influência da Bíblia são notórios mesmo para um incrédulo. É impossível negar a grandeza do seu impacto na civilização humana nos últimos 2000 anos. Regra geral, as pessoas não sabem muito acerca da Bíblia (do seu conteúdo) mas isso não as impede de reconhecer o seu alcance histórico, valor literário e importância para a sociedade ao longo dos séculos. Mesmo como obra literária, nunca nenhum outro livro assumiu tanta preponderância na vida do homem como a Bíblia. Queremos demonstrar ao leitor que a Bíblia é sem dúvida um livro singular, incomparável, inimitável e inigualável e esperamos que este trabalho o desafie a considerar a autoria Divina da Bíblia. Trata-se de uma verdade “confirmada” pela experiência do homem ao longo de séculos. Milhões de pessoas viveram o fenómeno da “Alegoria da caverna” de Platão, ao serem libertas da “cegueira espiritual” que os aprisionava através da luz da verdade da Palavra de Deus.

E neste contexto queremos ainda desafiar o leitor a analisar sem preconceitos o que a Bíblia diz acerca de Jesus. Com toda a certeza irá descobrir que há apenas um caminho para a Salvação. As afirmações de Jesus, que vimos anteriormente, não expressam meras ideias ou possibilidades. Ele afirma ser o único Caminho para chegar a Deus e Ele mesmo é a verdade, como Pessoa (vida e obra). Este exclusivismo pode ser encarado com suspeita ou desconfiança mas como diria o grande poeta Luís de Camões: “O melhor de tudo é crer em Cristo”.

O Evangelho de Jesus não pode ser moldado às exigências ou expectativas de uma sociedade, em parte pós-moderna, em que tudo é relativo. É verdade que a Graça e o Amor de Deus vai muito para além do que podemos pensar ou imaginar mas não podemos negar a grande verdade das Escrituras: Jesus é a revelação plena de Deus, do qual depende unicamente a Salvação do mundo. E todo o homem será julgado mediante o nível de revelação que tiver de Deus. Seja através da percepção interior de um Deus criador de tudo (que no inicio da história da humanidade estava bem mais apurada que nos dias de hoje) – Romanos 1.20 – seja pelas obras da lei – Romanos 2.12 – ou pelas obras da fé – Apocalipse 20.12.

A razão deste julgamento também é abordada no trabalho. Existe pecado no coração do homem e apesar das várias definições de pecado e das diferentes abordagens que foram feitas pelo homem ao longo da histórica, o pecado é tudo o que vai contra a vontade de Deus, quer esteja explicitamente ou implicitamente manifesta ao homem. De capa a capa a ideia de que o pecado é a falta de conformidade com a vontade de Deus está embutida nas escrituras. Compreender o que é o pecado e a sua relação negativa com a vontade de Deus ajuda o leitor a escapar dos efeitos do seu domínio, começando por abraçar o sacrifício que Jesus fez na Cruz por cada um de nós.

É desta forma que gostaríamos de terminar, relembrando que Deus que executou de forma progressiva um plano perfeito para livrar a humanidade da condição degredada que foi transmitida por Adão. Cabe a si decidir se quer aceitar ou rejeitar a verdade.

  

 

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[1] Horton. Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 65

[2] Junior, Jair de Almeida. (n/d). A Revelação Geral em Calvino. Pág. 6

[3] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática.  Pág. 65

[4] Isaías 47.3

[5] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 66

[6] Junior, Jair de Almeida. (n/d). A Revelação Geral em Calvino. Pág. 3

[7] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 41

[8] Junior, Jair de Almeida. (n/d). A Revelação Geral em Calvino. Pág. 7

[9] Geisler. Norman. (2002). Enciclopédia de Apologética. Pág. 782

[10] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 42

[11] Myatt, Alan. (2002). Teologia Sistemática. Pág. 25

[12] McGrath, Alister. (2013) Apologética pura e simples. Pág. 97

[13] McGrath, Alister. (2013) Apologética pura e simples, Pág. 98

[14] McGrath, Alister. (2013) Apologética pura e simples, Pág. 122

[15] Horton. Stanley (1997). Teologia Sistemática. Pág. 43

[16]Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 42

[17] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 43

[18] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 43

[19] McGrath, Alister. (2013). Apologética pura e simples. Pág. 110

[20] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 43

[21] Myatt, Alan. (2002). Teologia Sistemática.  Pág. 25

[22] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 73

[23] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 36

[24] Myatt, Alan. (2002). Teologia Sistemática. Pág. 25

[25] Myatt, Alan. (2002). Teologia Sistemática. Pág. 23

[26] Horton. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 80

[27] 2ª Timóteo  3.16,17

[28] Geisler. Norman. (2002). Enciclopédia de Apologética. Pág. 782

[29] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 56

[30] Idem, Pág. 56

[31] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 80

[32] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 62

[33] Horton. Stanley. (1997). Teologia Sistemática.  Pág. 81

[34] Idem, Pág. 81

[35] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 60

[36] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 85

[37] Little, Paul. (1985). Saiba porque crê & saiba no que crê. Pág. 82

[38] Nelson, P. C. (1991). Doutrinas Bíblicas. Pág. 16

[39] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 89

[40] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 90

[41] Little, Paul. (1985). Saiba porque crê & saiba no que crê. Pág. 103

[42] Little, Paul. (1985). Saiba porque crê & saiba no que crê. Pág. 103

[43] Geisler. Norman. (2002). Enciclopédia de Apologética. Pág. 786

[44] João 18.38.

[45]Baucham Jr., V. (2007). A Verdade e a Supremacia de Cristo em um Mund Pós-Moderno: p.55.

[46]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p.147.

[47] 2 Pedro 3.9. Grifo nosso.

[48]The Case for Christ Study Bible:  p.446.

[49]Schaeffer, F. (1974). A Morte da Razão: p.6.

[50]Leite Filho, T. G. (1997). Descubra Agora a Sedução do Novo Ocultismo: p.19.

[51]Champlin, R., & Bentes, J. (1997). Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia (volume 4): p.330.

[52]Baucham Jr., V. (2007). A Verdade e a Supremacia de Cristo em um Mund Pós-Moderno: p.56.

[53]Baucham Jr., V. (2007). A Verdade e a Supremacia de Cristo em um Mundo Pós-Moderno: p.54.

[54]Craig, W. L. (2012). Apologética Contemporânea: a Veracidade da Fé Cristã: p.18.

[55] João 14.6. Grifo nosso.

[56]The Case for Christ Study Bible: p.1716.

[57]The Case for Christ Study Bible: p.1745.

[58]The Case for Christ Study Bible: p.1716.

[59]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p.153.

[60]Evans, C. (2004). Dicionário de Apologética e Filosofia da Religião: p.109.

[61]Evans, C. (2004). Dicionário de Apologética e Filosofia da Religião: p.109.

[62]The Case for Christ Study Bible: p.446.

[63]The Case for Christ Study Bible: p.1745.

[64] É verdade que a História relata momentos em que isso aconteceu – por exemplo, as Cruzadas. No entanto, nesses casos pessoas simplesmente usaram-se da nomenclatura cristãos. Não vemos no livro Sagrado do Cristianismo – a Bíblia – apelos a que exclusividade se manifeste na violência, como sucede em escritos de outras religiões.

[65]Champlin, R., & Bentes, J. (1997). Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia: p.638.

[66]The Case for Christ Study Bible: p.1745.

[67]Evans, C. (2004). Dicionário de Apologética e Filosofia da Religião: p.19.

[68]Zacharias, R. (1997). Pode o Homem Viver sem Deus?: p.243.

[69]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: pp.147-148.

[70]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p.149.

[71]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p. 148.

[72]Bíblia Apologética de Estudo: p. 1413.

[73]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p.152.

[74]Pascal, B. (2002). Pensamentos: p. 154.

[75]Montgomery in Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p. 46.

[76]Pascal, B. (2002). Pensamentos: pp. 50-51.

[77]Baucham Jr., V. (2007). A Verdade e a Supremacia de Cristo em um Mund Pós-Moderno: pp.53-54.

[78] João 8.47a.

[79] LITLLE, Paul E. Saiba o que você crê. São Paulo: Mundo Cristão, 1970.pg.67

[80] ALMEIDA, Abraão de. Evidências de um Criador. Rio de Janeiro: CPAD, 1986.pg.117

[81] McDOWELL, Josh. Responde. São Paulo: Candeia, 2001. Pg.146

[82] GEISLER, Norman. Fundamentos Inabaláveis. São Paulo: Vida, 2003. Pg.145

[83] GEISLER, Norman. Fundamentos Inabaláveis. São Paulo: Vida, 2003. Pg.177

[84] http://www.ehow.com.br/diferenca-entre-macro-micro-evolucao-info_53421/

[85] MORRIS, Henry M. O Enigma das origens a resposta. San Diego: Origens, 1974. Pg.18

[86] MORRIS, Henry M. O Enigma das origens a resposta. San Diego: Origens, 1974. Pg.20

[87] LEPELTIER, Thomas. A Heresia de Darwin. Alfragide: Texto Editores, 2009.pg.127

[88] DANIEL, Silas. A Sedução das Novas Teologias. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. Pg.154

[89] MORRIS, Henry M. O Enigma das origens a resposta. San Diego: Origens, 1974. Pg.255

[90] João 1.14

[91] Gênesis 1

[92] McDOWELL, Josh; STEWART, Don, Resposta Àquelas Perguntas, p. 84.

[93] João 14.9.

[94] I João 1.1-3;Lucas 1.1-3;Atos 1.1-3 (“o primeiro livro” será uma referência ao Evangelho de Lucas.)

[95]“Nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio, se todavia devemos considerá-lo simplesmente como um homem, tanto suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Era o Cristo. Os mais ilustres da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome.” (Flávio Josefo, p. 418.)

[96] Augusto Cury, Análise da Inteligência de Cristo, p. 30 e 31.

[97] LITTLE, Paul E., Saiba o que você crê, p. 37.

[98] LITTLE, Paul E., Saiba o que você crê, p. 51.

[99] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 101.

[100] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 132.

[101] João 19.7 “Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.” ARC

[102] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 134.

[103] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 134 a 136.

[104] LITTLE, Paul E., Saiba Porque Crê e Saiba no que Crê, p. 67 a 70.

[105]“É preciso que o Filho do Homem sofra muito e seja rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos doutores da lei, para ser morto e ao terceiro dia ressuscitar.” Lucas 9.22 BPT

[106] McDOWELL, Josh, As Evidências da Ressurreição de Cristo, p. 29.

[107]E se Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação é inútil e a vossa fé é inútil também.” I Coríntios 15.14 BPT

[108]Esta boa nova já Deus a tinha prometido na Sagrada Escritura por meio dos seus profetas. Ela diz respeito ao seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Pelo nascimento, ele era descendente de David, mas pelo Espírito que santifica foi manifestado como Filho de Deus com poder, pela ressurreição dos mortos.” Romanos 1.2-4 BPT

[109] McDOWELL, Josh, As Evidências da Ressurreição de Cristo, p. 38 e 39.

[110] II Pedro 1.16; I Timóteo 1.4.

[111]Desde que o mundo é mundo, nunca se ouviu dizer que alguém desse a vista a um cego de nascença.” João 9.32 BPT

[112]Os outros discípulos contaram-lhe: «Vimos o Senhor!» Mas Tomé respondeu-lhes: «Se eu não vir a ferida dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo no lugar dos pregos e a minha mão na ferida do peito, não acredito.»” João 20.25 BPT

[113] João 20.24-29

[114] Atos 1.3; O texto de Atos 1.1-3 e Lucas 1.1-3 dão força a este argumento histórico.

[115] McDOWELL, Josh, As Evidências da Ressurreição de Cristo, p. 42 e 43.

[116] LITTLE, Paul E., Saiba Porque Crê e Saiba no que Crê, p. 72 e 73.

[117] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 279.

[118] I Coríntios 15.6.

[119] Josh McDowell e Norman Geisler – Como Conhecer a Deus, p. 9

[120] Para o devido enquadramento: os fariseus nasceram de um grupo de homens piedosos, determinados em fazer recuar a influência da cultura helenista na palestina. Não queriam que o povo se ‘contaminasse’ com a cultura grega e com o paganismo. Eram conhecedores das escrituras sagradas e extremamente zelosos no cumprimento da Lei.

[121] Hiil, Andrew & Walton, John – Panorama do Antigo Testamento – Editora Vida, SP, 2007 p.122

[122]Saiba Porque Crê & Saiba o que Crê, Paul Little, Núcleo, pp. 142,143.

[123] PEARLMAN, Myer – Conhecendo as Doutrinas da Bíblia – Editora Vida, 2006, p.150

[124] Stott, John – A Cruz de Cristo – São Paulo: Editora Vida, 2006. p. 76.

[125] Não tenho Fé suficiente para ser ateu, p. 286.

[126] Idem, p. 286.

[127] Segundo Strong, a expressão “por natureza” encontrada em Efésios 2.3 é traduzida da palavra “Phusis” que significa “growth (by germination or expansion), that is (by implication) natural roduction. -Stong’s Hebrew and Greek Dictionaries

[128] Não tenho fé suficiente para ser ateu pág.286

[129] Gonçalves, António – Sebenta de Antropologia/Hamartiologia – Ano lectivo 2012/2013

[130]Pensamentos de Pascal, AbbaPress, p. 167

 

“Não há vida no frio, na escuridão. Aqui no vazio, só a morte.”

RicardoRosaRicardo Rosa

A ausência de vida é todo o caos existente. Em si mesma, esta ideia pode parecer contraditória, mas assenta na premissa da ausência de vida. Não existe vida no frio, não palpita o coração no ambiente gélido e glaciar do vazio. Quando a vida está ausente, existe apenas a morte; aquilo que para uns é um final de linha declarado, mas para outros é meramente um estado de transição para uma etapa seguinte.

O vazio é dominado pela morte, não existe argumento que o detenha. Cheio de escuridão e frio, remete para o pensamento atroz da máxima pena de isolamento e solidão. Uma solidão eterna, um isolamento pleno de temor e completamente ressequido de bondade.

Quando Moisés relata todo o processo da criação divina, nos capítulos 1 e 2 de Génesis, aponta que a terra era sem forma e vazia, um nada existencial completamente desordenado e sem vida. Este é o caos primordial que se reflecte numa vida sem Deus. Uma total ausência de fôlego, um ponto na contínua recta da inação…

UMA LUZ QUE DIVIDE O ESPAÇO

Mas eis que existe então uma alteração! Perante um abismo negro que devora o homem que para ele olhe (seguindo a máxima de Nietzsche), eis que surge a luz criada a partir da ordem divina. É a voz divina que humaniza o processo da Criação. Deus, que cria e sustenta todas as coisas, ordena a criação da luz que separa da escuridão. Deus começa a criar vida com a criação da luz, usando esta passagem para a dimensão escatológica da Criação. Um dia a luz criada extinguir-se-á (Isaías 60:19) e a presença física de Deus no meio do Seu povo servirá de luminar. Mais do que a Shekinah no Templo, é Deus que se manifesta em glória eterna e em cuidado com os Seus filhos.

A luz que aquece e nutre a vegetação, que ilumina de dia e de noite é fonte de vida. Com o processo da Criação, inverte-se a tendência da morte no vazio, o próprio vazio começa lentamente a ser eliminado, povoado e delimitado. A ausência de vida esbate-se perante as palavras de um Deus que cria, que ama, que faz do melhor da Sua Criação (o ser humano) um elemento sinérgico consigo mesmo. O bara’ de Deus é apenas e só d’Ele. É o criar ex nihilo que só alguém Todo Poderoso poderia fazer. Não é uma espécie de criação darwiniana e vaga, sem interligação entre pedaços de tempo e história. É uma criação total e absoluta, formada a partir do negativo, Deus inverte as tendências da Física naquele momento e cria algo a partir do nada. Um Deus que é eterno, define um elemento vital sem o qual hoje não vivemos, mas que virá a ser substituído pela Sua presença.

Jesus é a Luz mais brilhante da Menorah da criação divina, a luz que divide espaço e tempo, fazendo-os rebentar a partir do nada. A fala de Deus é um discurso que gera, que faz crescer, que faz aparecer. Dá vida com as Suas palavras, cria com o Seu mandamento.

É Ele mesmo que forma o Homem do pó, que insufla nesse molde o espírito da vida, condenando à partida a inexistência. Deus cria o Homem à Sua imagem e semelhança, espiritual e moral, dialogante e comunitário, harmonioso e perfeito. Toda a antítese de vida cai por terra, a mesma da qual Adão foi feito, a mesma que se encontra densamente representada na química do corpo humano. Deus chama Adão para dar nome aos animais, para em conjunto com ela crescer e frutificar, multiplicando-se e dominando sobre tudo o que Deus havia criado.

Cessa a presença de um vazio profundamente (e ironicamente) cheio de morte. Brota a vida em torrente, prova-se a abastança de existência onde outrora existia frio e feiura. Um espaço desfigurado e inestético, é tornado agora habitação do Homem e local de encontro com Deus. Mais do que uma pré-figuração do Paraíso, o Éden é a antítese da Mordor de Sauron. Não existe um vazio existencial, não existe escuridão punitiva, não existe morte.

ANTÍTESE DA MORTE

Toda a obra criativa de Deus dá origem à vida, porque Deus não é uma figura morta. Não é um demiurgo impotente, um ídolo vazio, distante ou adormecido tal como Baal, que é ridicularizado por Elias no monte Carmelo (1º Reis 18:25-29) . Aos racionalistas e pós-modernistas que rapidamente secundam a ideia da morte de Deus (proclamada por Nietzsche em “Gaia Ciência”), a resposta de Deus é vida com abundância por meio de Cristo Jesus (João 10:10).

Passados vários anos da morte do filósofo alemão, o que lemos nesta declaração pode ser dividido em duas partes: Nietzsche decretou que Deus havia morrido para ele, afastando-se consequentemente para o seu abismo de morte e frio; a outra conclusão é mais simples, basta olharmos em volta e perceber que o mesmo Deus que sustenta a Sua Igreja contra o Inferno, está vido, dá vida e é vida.

A derrota da morte eterna, do vazio existência, do desespero frio e feio na escuridão é firmada por Jesus no Calvário. O Senhor da Paz esmagará ainda a oposição que se lhe afronte debaixo dos pés daqueles que foram retirados da morte para a vida (Romanos 16:20).

Poderá parecer uma ideia contraditória, a de alguém morrer para derrotar a morte e os seus dardos. A isso Cristo responde-nos claramente dizendo que dá a Sua vida para tornar a tomá-la e ser o símbolo máximo entre nós, de que existe mais do que o abismo da negação divina (João 10:17-18).Um abismo frio e penetrante, que outrora nos separava de Deus, é agora cheio de um amor mais excelente e que torna esse abismo numa planície, onde podemos correr com confiança para o Pai e ser recebidos numa morada eterna (João 14:1-3, Filipenses 3:12-14).

ABYSSOS FINITUS

De facto, onde o Sol não brilha é assumido que não exista vida. Mas Cristo sai do sepulcro e mostra-nos que ainda que o Sol não brilhe, é no abraçar divino a cada um de nós que encontramos vida. A promessa profética do apocalipse joanino (Apocalipse 21:4) é a de que Ele mesmo enxugará dos nossos olhos todas as lágrimas, não havendo mais tempo ou espaço para a morte, para o lamento, para a dor e para o choro. Maior do que o Sol Invictus é o Christus Rex, cuja existência não depende dos factores externos naturais, mas cuja vida como a conhecemos depende d’Ele para subsistir.

O frio e o vazio da ausência de ligação a Deus estão destruídos. Em Cristo temos o restabelecimento da ligação outrora amputada, da relação danificada no Éden. A morte e todo o desespero são lançados num abismo profundo, onde as geladas ondas de tristeza e solidão são também enterradas.

Existe vida na Luz de Cristo, no afecto amoroso do Pai. Aí, na Sua presença que nos inunda e preenche, temos vida. E vida em abundância…

UMA VIAGEM PARA RECORDAR

Amilcar Ribeiro

Dr. Amílcar D. Ribeiro

O comboio Alfa Pendular apareceu vindo do norte parecendo que não iria parar, mas o ruído da travagem foi sinal de que cumpria o horário para receber mais passageiros. A paragem era breve, pelo que apressadamente procuravam identificar e subir para a carruagem que lhes estava assinalada. Entrei também e acomodei-me no lugar que correspondia ao meu título de transporte. Reiniciou a sua marcha. Olhei em volta e observei os meus companheiros de viagem, entre eles jovens, aparentemente estudantes de regresso a casa nas férias da Páscoa, num ruido de conversação que se misturava com o deslizar compassado do comboio pelos carris.

Reparei que, num lugar à minha frente na fila oposta, estava uma figura feminina junto à janela, recostada de tal forma que não lhe via o rosto. Na mesa articulada pousava um caderno em que escrevia a breves espaços e na mão esquerda segurava um livro aberto que lia e que lhe suscitava a escrita. A cena prendeu-me a atenção. Apenas via duas mãos, a esquerda segurando o livro, que folheava por vezes, e a direita que escrevia. Entre a leitura e a escrita estava uma mente invisível que processava o que lia  e que dava ordens à mão que escrevia, com uma fluidez suave, elegante e decidida, o que durou todo o tempo da minha viagem. Estaria a realizar algum trabalho? Apenas a ler e a tomar notas sobre a leitura? Nunca o saberei, mas também não era o que me interessava.

Contemplando aquele cenário, dei comigo a pensar como é possível alguém acreditar que o universo e todos os astros e seres que nele existem, tenham aparecido de forma espontânea, resultando de biliões de acasos até chegarem à perfeição que eu observava.   Pessoas que assim pensam argumentam com o tempo do universo. Mais milhão menos milhão de anos, sempre será possível admitir teoricamente as tais combinações ideais de que resultaria a diversidade, a sobrevivência e o aperfeiçoamento das espécies. O que eu observava não era fruto do acaso, mas um projecto coerente, num modelo idealizado por uma mente perfeita, de infinita sapiência, arte e meios para o concretizar. Ali estava o produto acabado e harmónico de um ser espiritual, moral e físico dotado de inteligência e de autonomia para se afirmar como único, diferenciável, insubstituível na comunidade dos seus iguais, de algum modo espelhando a semelhança do seu Criador. Deus declara por intermédio do profeta Isaías: “Eu é que fiz a terra e nela criei o homem; as minhas mãos estenderam os céus e a todo o seu exército dei as minhas ordens.” (Is. 45:12 ) e o apóstolo Paulo faz eco desta declaração: ” E de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra.” ( Ac. 17:26 ). Por que razão terá Deus criado o ser humano, de alguma forma sendo um reflexo da Sua própria natureza? Ele mesmo o diz, também pelo profeta Isaías: ” a todos os que são chamados pelo meu nome e os que criei para minha glória, eu os formei, sim, eu os fiz.” (Is. 43:7 ). Identifica-se aqui um propósito, um fim: os que criou para Sua glória.

O ser humano não é insignificante, descartável, indiferente, mas foi criado para um fim nobre e elevado. Cada um é único na sua identidade e no seu valor. Pode ser débil, carecer de protecção, de valorização, de promoção dentro da comunidade, mas para o  Criador tem sempre a singularidade do seu imenso valor individual : “para minha glória o criei”. Se desvalorizarmos o nosso semelhante, estamos a  faltar ao reconhecimento da glória de quem o criou. Concretizando, o apóstolo Paulo escreve aos cristãos em Roma dizendo: ” amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.”, ideia que só no âmbito do evangelho é possível afirmar, por que socialmente impraticável.

Desde o alvor da civilização se mostrou necessário que a sociedade se estruturasse no sentido do reconhecimento comunitário de um mínimo ético de protecção da pessoa humana nas suas dimensões moral e física, o que levou muitos séculos de apuramento.

Entre nós, essa protecção está inscrita na lei das leis, a constituição da república portuguesa, no capítulo dos direitos, liberdades e garantias pessoais, designadamente quando estatui que a vida humana é inviolável e que em caso algum haverá pena de morte (art.º 24.º ) e que a integridade moral e física das pessoas é, também, inviolável (art.º 25.º, n.º 1). Estes são valores ou bens jurídicos com tal importância, que é a própria constituição a dar-lhes protecção, e que as leis comuns especificam no que respeita ao direito à vida, à integridade física, ao bom nome e reputação, à reserva da intimidade da vida privada, à protecção da vida intra-uterina, entre outros, utilizando a tutela máxima do direito penal. A ofensa daqueles valores pode resultar numa censura penal que afecte o património ou a própria liberdade do autor da ofensa e lhe impõe um sofrimento ou pena, pelo que toda a dimensão moral e física do ser humano nos deve merecer, pelo padrão mínimo, o respeito que a lei nos impõe, e pelo máximo, a que o Evangelho nos ensina.