O Problema do Sofrimento

O PROBLEMA DO SOFRIMENTO

Ângela Paiva

 

INTRODUÇÃO

Sofrimento“Agora me regozijo no meio dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo, por amor do seu corpo, que é a igreja; da qual eu fui constituído ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, a fim de cumprir a palavra de Deus, o mistério que esteve oculto dos séculos, e das gerações; mas agora foi manifesto aos seus santos, a quem Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, admoestando a todo homem, e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para isso também trabalho, lutando segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente.” – Cl 1: 24-29

A Bíblia frequentemente descreve o sofrimento como um aspeto essencial da vida cristã. Portanto, este é um tema que também deveria estar presente com frequência no nosso pensamento e comunicação. Contudo, devido à riqueza e ao avanço tecnológico do século XXI, muita gente vê o conforto e a comodidade como direitos humanos essenciais. Assim, a mensagem bíblica sobre a essencialidade da cruz tem-se transformado em algo culturalmente incompatível com o modo de pensar de muitas pessoas nos dias de hoje.

A necessidade de uma reflexão mais profunda sobre esta questão tem-se tornado mais premente pelo facto de alguns líderes cristãos bastante populares pregarem que não é vontade de Deus que os cristãos sofram. Alguns dizem isso, afirmando que nós não devemos suportar mais este aspeto da “maldição”, isto é o sofrimento, pois Cristo já suportou a maldição no nosso lugar. Esta forma de pensar parece sugerir   que há alguma coisa errada nas nossas vidas, se estivermos a atravessar um período de sofrimento.

Com este trabalho pretendo assim demonstrar que a Bíblia não vê o sofrimento como algo negativo, mas pelo contrário, a atitude predominante da Bíblia em relação à dor e ao sofrimento na vida do cristão é positiva.

Partindo desta premissa, este trabalho será dividido em três pontos principais. O primeiro responderá à questão “Porque sofremos?”. No segundo ponto, mostrarei como é que as várias religiões veem o sofrimento. No terceiro e ´último ponto, falarei um pouco sobre a solução para o sofrimento.

 

I. PORQUE SOFREMOS?

            Esta é uma das mais prementes questões do nosso tempo. Mais importante que a questão dos milagres ou da ciência e da Bíblia, é o problema da razão porque sofrem as pessoas inocentes, porque é que os bebés nascem cegos ou porque é que uma vida promissora desaparece quando está em franca ascensão. Porque é que existem guerras em que milhares de pessoas inocentes morrem, crianças queimadas ao ponto de ficarem irreconhecíveis e muitos mutilados para toda a vida?[1]

Na apresentação clássica do problema, ou Deus é todo-poderoso mas não todo-bom, e por conseguinte, não elimina o mal, ou então é todo-bom, mas incapaz de acabar com o mal. E, neste caso, não é todo-poderoso. A tendência generalizada é culpar Deus pelo mal e sofrimento e atribuir-lhe (a Deus) toda a responsabilidade.[2]

Mas será mesmo assim? Penso que a melhor maneira de falar sobre este assunto é começar por entender o conceito de sofrimento.

 

   A. O conceito de sofrimento

            Segundo a Infopédia,[3] sofrimento é o ato ou efeito de sofrer, o qual se pode traduzir numa dor física ou moral, em mágoa, em tristeza, ou em infelicidade. O sofrimento pode resultar de uma experiência extremamente desagradável, de um grande mal, ou de uma desgraça. Segundo esta enciclopédia, o resultado do sofrimento pode ter duas vertentes: a paciência e a resignação.

 

   B. A origem do sofrimento

            Quando Deus criou o homem, criou-o perfeito. O homem não foi criado mau. Contudo, como ser humano, tinha a capacidade de obedecer ou desobedecer a Deus. Se o homem tivesse obedecido a Deus, nunca teria havido qualquer problema. Ele teria vivido uma vida sem fim de comunhão com Deus. No entanto, o homem foi desobediente e rebelou-se contra Deus, como diz em Rm 5: 12 “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram.” Portanto, o sofrimento é consequência do pecado, o qual por sua vez, é consequência da desobediência e rebeldia do homem.[4]

 

   C. As causas do sofrimento

            Sobre o problema do sofrimento, Paul Litte põe a hipótese deste ter como principais causas o seguinte:

  • Em primeiro lugar, o sofrimento é resultado da má escolha (livre arbítrio) do homem, ou seja, o homem quando escolheu desobedecer a Deus, rebelou-se contra Ele e pecou. O sofrimento é uma das consequências dessa má escolha.[5]
  • Em segundo lugar, o sofrimento é um castigo de Deus, e o resultado de uma anterior prática do mal (conceito de recompensa exata). Como exemplo desta situação, Little, apresenta a forma de pensar dos amigos de Jó. No entanto, este autor[6], diz também que pelo ensino do Velho e do Novo Testamento, torna-se claro que o sofrimento pode ser o julgamento de Deus, mas que há muitos casos em que não tem a menor relação com uma má conduta da pessoa, pelo que uma suposição automática da culpa e consequente castigo é absolutamente injustificada. Como exemplo, temos o cego de nascença de Jo 9: 1-3. É pois evidente, que nos precipitamos quando assumimos que a explicação de qualquer tragédia ou sofrimento resulta do castigo de Deus
  • Em terceiro lugar, o sofrimento é resultado de julgamento divino. No entanto, esse julgamento nunca acontece sem anteriormente serem feitas algumas advertências por parte de Deus. Por exemplo, através do Velho Testamento vemos os repetidos apelos de Deus e os avisos de julgamento. Só depois dos avisos terem sido aparentemente ignorados e rejeitados, é que vem o julgamento. Encontramos um exemplo desta situação em Ez 33: 11. O mesmo tema continua no Novo Testamento, como é o caso de Mt 23: 37 e 2 Pd 3: 9.[7]
  • Em quarto lugar, o sofrimento tem como causa a ação de satanás (Jó, e Mt 13: 25). A verdade é que satanás tem muito prazer em arruinar a criação de Deus e causar miséria e sofrimento. Deus permite-lhe um poder limitado, mas ele não pode tocar naquele que está em íntima comunhão com Deus (cf. Tg 4: 7).[8]
  • Em quinto lugar, o sofrimento tem como causa a negligência humana.[9]

 

   D. A finalidade do sofrimento

            Há coisas para as quais não temos explicação, nem sabemos porque têm que ser assim. Um exemplo disso é apresentar argumentos que justifiquem os propósitos que o mal e o sofrimento possam ter na vida de um individuo. No entanto, mesmo não conhecendo todos os bons propósitos que Deus tem para a dor e para o sofrimento, não significa que não haja bons propósitos.

Sobre este assunto, Norman Geisler e Peter Bocchino[10] dizem algo muito curioso. Segundo estes escritores, alguma dor física é necessária para o desenvolvimento do caracter. Por exemplo, a compaixão não se atinge sem a miséria, nem a paciência sem a tribulação. Não se adquire coragem sem o temor, e a persistência é provocada pela privação. Em resumo, algumas virtudes seriam totalmente ausentes sem o mal físico. Geisler e Bocchino chegam mesmo a citar Helen Keller, a qual sobre este assunto diz: “O caracter não pode ser desenvolvido na comodidade e na quietude. Somente através da provação e do sofrimento a lama pode ser fortalecida, a visão clareada, a ambição inspirada e o sucesso alcançado.”[11]

Geisler e Bocchino defendem também que um pouco de dor física é necessário para ensinar aos indivíduos que certos tipos de conduta são errados e têm consequências morais e físicas. A decisão habitual de preferir vícios, o orgulho, a ira, o ciúme, a avareza, a glutonaria, a luxúria, e a preguiça, são manifestações da recusa de dominar os impulsos físicos e psicológicos. Deixar de aprender a desenvolver e usar o domínio próprio resultará na redução do interesse pela virtude e desejo de cultivar uma boa personalidade.

Um pouco de dor também é necessário para nos advertir de um perigo maior e iminente.

Um pouco de dor também é necessário para nos ajudar a evitar um sofrimento maior. Por exemplo, quando alguém ignora as suas necessidades de saúde (descanso, dieta, exercício, etc.), é bom que o corpo reaja de maneira dolorida para que esse individuo saiba que algo está errado antes que a situação piore.

Por fim, um pouco de dor é usado por Deus para obter a nossa atenção moral. Da mesma forma que um pai ama o filho e a disciplina para o chamar à atenção, Deus também age dessa forma para connosco. Sobre este assunto, Geisler e Bocchino citam C. S. Lewis, o qual diz: “Deus cochicha connosco nos prazeres, fala-nos à consciência, mas grita connosco nas dores: a dor é o Seu megafone para acordar um mundo moralmente surdo (…) Enquanto o homem mau não encontra o mal inconfundivelmente presente na sua própria existência, na forma de dor, ele permanece enclausurado na ilusão (…) Sem dúvida, a dor como megafone de Deus é um instrumento terrível, pode levar a uma rebelião final e sem volta. Mas dá a única oportunidade que um homem mau pode ter para se emendar. Remove o véu, e planta a bandeira da verdade dentro da fortaleza de uma alma rebelde.”[12]

 

II. O QUE DIZEM AS VÁRIAS RELIGIÕES SOBRE O SOFRIMENTO?

   A. O Deísmo[13]

O Deísmo surge como um reflexo do iluminismo no campo religioso. Em síntese, e segundo esta conceção do século XVIII, Deus abandonou a Sua criação à sua própria sorte para servir de campo de treino para o caráter humano.

Para os que sofrem, pouco ou nenhum consolo encontrarão nos braços dos deístas, pois negam qualquer possibilidade de imanência de Deus, bem como a Trindade, a encarnação de Jesus, a autoridade divina da Bíblia, a expiação, os milagres, qualquer povo especificamente eleito como Israel, e qualquer ato redentor sobrenatural na história. Portanto, o Deísmo é a crença num Deus que fez o mundo, mas que nunca interrompe as operações deste, com eventos sobrenaturais.

Segundo esta conceção, Deus não interfere na Sua criação. Pelo contrário criou-a para ser independente dele mediante leis naturais imutáveis. O Deísmo clássico tenta afastar Deus do mal ao enfatizar que Deus não é imanente no mundo.

 

   B. O Hedonismo[14]

Do grego hçdonç que significa prazer, o Hedonismo consiste nas teorias éticas que identificam o alvo moral como a felicidade, e o prazer. O Hedonismo afirma ser o prazer, o supremo bem da vida humana. Os simpatizantes do Hedonismo procuram fundamentar-se numa conceção mais ampla de prazer, entendida como felicidade para o maior número de pessoas, entendendo que é a tendência moral que defende a maximização do prazer e a minimização do sofrimento na existência humana. A ideia básica que está por trás do Hedonismo formatada pelos epicureus, é que todas as ações podem ser medidas em relação ao prazer e à dor que produzem.

No formato epicureu, o Hedonismo é a filosofia mais popular do mundo hoje. Os hedonistas modernos pensam que a felicidade é o fim último da vida. Propagam que o homem foi criado para ser feliz e nada deve se interpor no caminho dessa felicidade.

Muitos crentes entram em crise quando pensam num cristão a passar por sofrimento. Muitos perguntam: por que é que um cristão sofre? Estará em pecado? Deus está a castigá-lo? Será que não tem fé? Será que é porque desconhece os seus direitos como filho de Deus?

Dificilmente alguém que esteja a enfrentar os piores dias da sua vida, encontra no Hedonismo alívio para a sua dor, pois esta conceção reduz a moralidade ao sentimento, omite os seus aspetos racionais, éticos e sociais, não fornece nenhum critério para distinguir os prazeres superiores e inferiores, dignos ou indignos, animais e espirituais ou de uma pessoa, e os de outra. Além disso, sendo que o prazer é altamente individualista, como alguém que está a sofrer pode encontrar alívio numa conceção que ridiculariza a dor?

Não há no Hedonismo lugar para o autossacrifício, para a abnegação ou para o dever. Quando a obrigação é absolvida no desejo, a moralidade desce à experiência, à procura daquilo que é mais confortável. Se a busca do prazer é constante, então há sempre uma insatisfação, uma procura de novos prazeres, e um certo desencanto perante os velhos prazeres.

O Hedonismo conduz-nos a um estado de egoísmo em que podemos perfeitamente sacrificar o outro se esse sacrifício implicar um novo prazer.

   C. O Estoicismo[15]

O Estoicismo deriva de uma seita de filósofos. Alguns desses filósofos disputaram com o apóstolo Paulo em Atenas, conforme a narrativa bíblica de At 17: 18. A seita teve como fundador um certo Zenom. A sua doutrina era essencialmente panteísta.

Segundo o Estoicismo, o sofrimento decorre de reações despertadas no ser humano por quatro classes de emoções: a dor, o medo, o desejo e o prazer. O ideal do estoico é alcançar a natural aceitação dos acontecimentos, uma atitude passiva diante da dor e do prazer, a abolição das reações emotivas, a ausência de paixões de qualquer natureza.

Uma atitude passiva diante do sofrimento como assevera o Estoicismo, em nada pode contribuir para superar a dor. A maneira como o Estoicismo lida com o sofrimento pode ser resumida em duas objeções:

  • Uma moral sem qualquer espécie de emoção é contrária à própria natureza humana. Viver segundo a natureza é também deixar-se guiar por emoções, visto que elas são muitas vezes a nossa mais humana forma de nos relacionar e apesar de causarem sofrimento também podem causar felicidade.
  • A virtude como sabedoria faz da moral estoica algo acessível às elites intelectuais não estando, portanto, ao alcance do homem comum, de uma escolaridade mínima. O alcance da virtude, a que só o sábio tem acesso, torna a moral elitista e, portanto, algo que não está ao alcance de todos. Contudo, o sofrimento é inerente a todos.

O Estoicismo grego entendia que o sofrimento fazia parte da “razão” ou da “lógica” do universo. A virtude, para os estoicos, consistia em descobrir a direção do destino (ou da natureza) e ajustar a vida com ela. Era importante não sentir paixões ou não se submeter às emoções, mas harmonizar-se com o fatalismo dos acontecimentos fora do controle do homem. Ter uma atitude de indiferença diante do sofrimento, era a melhor resposta que o filósofo Zeno e os seus seguidores ofereciam. Esta era a atitude correta no entendimento estoico de se lidar com o sofrimento e armar-se intimamente contra ele. Harmonizar-se com o fatalismo e ficar refém do sofrimento não ameniza a dor, antes conduz ao desespero. O Estoicismo em nada ajuda aquele que sofre.

 

   D. O Panteísmo[16]

Esta palavra vem do grego, pan e Theós, significa “tudo é Deus” e foi cunhada por John Toland em 1705, para se referir aos sistemas filosóficos que tendem a identificar Deus com o mundo. O Panteísmo apregoa que o finito e o infinito tornam-se uma e a mesma coisa, embora diferentes expressões de uma mesma coisa. O universo passa a ser autoexistente, sem começo, embora sujeito a modificações. De acordo com o Panteísmo, todos os seres e toda a existência de Deus, são concebidos como um todo.

Segundo Zacarias Aguiar, o panteísta diz “que tudo é Deus e nada é mau na sua essência, as coisas apenas parecem más ao nosso entendimento não iluminado.” Tratar o sofrimento como uma ilusão parece ser uma ilusão.

Do ponto de vista bíblico, o Panteísmo é deficiente em maior ou menor grau por causa de duas considerações. A primeira é que o Panteísmo geralmente nega a transcendência de Deus e defende a sua imanência radical. A Bíblia apresenta um equilíbrio. Deus está ativo na história e na sua criação, mas não é idêntico a elas, em menor ou maior grau. A segunda é que, por causa da tendência de identificar Deus com o mundo material, surge outra vez uma negação menor ou maior do caráter pessoal de Deus. Nas Escrituras, Deus não somente possui os atributos de uma pessoa, como também, na encarnação, Ele assume um corpo e torna-se O Deus-homem. Deus é retratado supremamente como uma pessoa. O Panteísmo afirma que Deus é idêntico ao universo criado. A máxima panteísta diz: “Deus é tudo e tudo é Deus.” O Panteísmo tem muitas vertentes e muitos tipos, no entanto, seja qual for a vertente, Deus não é pessoal. Nenhum movimento moderno assumiu tanto as premissas panteístas como a Nova Era. Shirley MacLaine, um arauto do movimento, declarou em Denver nos Estados Unidos “que ela e todas as outras pessoas formam Deus”.

Para o panteísta a história não existe ou é simplesmente relegada ao mundo das aparências, pois ela é cíclica e repete-se infinitamente. O objetivo da alma é abandonar o corpo e tornar-se um com Deus, nem que seja necessário um grande número de reencarnações para alcançar tal objetivo. Para o panteísta que diz: “eu sou Deus e Deus sou eu,” há sérias implicações, pois Deus é o absoluto Imutável, e o homem é um ser transitório e mutável. Como pode então o homem ser Deus se ele muda e Deus não muda? A dor para o panteísta é apenas um fragmento da sua imaginação.

O Panteísmo também não consegue responder ao problema do mal de uma forma adequada. Dizer que a dor e o sofrimento são uma ilusão pode até filosoficamente ser possível, mas é inaceitável para quem está a ser visitado pela dor. Acreditamos que até mesmo os panteístas gritam de dor quando um membro do corpo deles é amputado sem anestesia. O fato de que o bem e o mal são ilusórios e não se distinguem, também é inadequado. Por que é então que os criminosos vão para a prisão se o conceito de bem e mal não existe? Aqueles que estão a viver dias difíceis, não encontrarão consolo no berço dos panteístas, pois as suas dores estão longe de ser apenas uma ilusão.

   E. O Budismo[17]

Ao passo que o Hinduísmo é uma multiplicidade de religiões politeístas e filosofias panteístas, o Budismo é basicamente uma filosofia sem Deus. O Budismo surgiu na Índia cerca de quinhentos anos antes do nascimento de Cristo. Diferente do Hinduísmo, o Budismo pode ser identificado com um fundador específico: Siddhartha Gautama. Buda é um título que significa “iluminado”. Seu fundador desenvolveu a partir de um movimento de reforma dentro do Hinduísmo uma religião essencialmente ateísta. Segundo Norman Geisler, as crenças básicas do Budismo são resumidas em quatro verdades:

  • A vida é sofrimento
  • O sofrimento é causado pelo desejo de prazer e prosperidade
  • O sofrimento pode ser superado pela eliminação do desejo
  • O desejo pode ser eliminado pela Trilha Óctupla

Não há no Budismo esperança em Deus ou no céu, pois não há Deus no ensinamento Gautama. O que buscam é o nirvana, a eliminação de todo sofrimento, desejo e ilusão de autoexistência. Diz-se que, fundamental e inexoravelmente, viver é sofrer. Desse ponto de partida a filosofia budista começou a elaborar a solução do problema para o sofrimento.

Segundo o Budismo, o que dá poder para continuar no ciclo de renascimentos é o desejo, pois dos desejos provêm as ações e estas mantêm o ciclo enfadonho de nascimento e renascimento em que se colhem os seus frutos. Enquanto houver ações haverá o resultado delas, eis a lei do Karma. Esta assevera que é necessário renascer a fim de completar o excedente da recompensa ou do castigo. Para o budista estamos reféns do acaso, isto é, não há um comando divino.

O principal objetivo do Budismo é levar o homem a libertar-se desta vida, tornar-se um com o universo, e assim atingir o nirvana, o nada. Somente assim, disse Gautama, é que seremos livres das aflições desta vida. Há consolo numa filosofia religiosa que não crê que exista um Deus pessoal, que se interessa por nós e apregoa que viver é sofrer?

Para o budista todos os 84.000 ensinamentos de Buda visam unicamente isto: libertar do sofrimento. Buda ensinou a iluminação interior, não obstante, morreu a em busca de mais luz. Nunca afirmou: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.”[18]

 

   F. Hinduísmo[19]

Para o Hinduísmo, o seu ser supremo é indefinível, indiferente e impessoal. No Hinduísmo não há nenhum pecado contra um Deus santo. O mal pode ser superado pelo esforço humano. A única forma do hindu encontrar alívio para o sofrimento, é quando o indivíduo expande o seu ser e consciência a um nível infinito e percebe que o seu eu, é o mesmo que Brahman (o ser absoluto do qual toda a multiplicidade se origina).

O hindu mantém uma atitude semelhante à do budista, pois ele também, ao analisar o problema do sofrimento, estabelece uma prévia conceção de que o seu nascimento originou todos os sofrimentos e desigualdades. Os sofrimentos não provêm realmente do relacionamento rompido com Deus, nem de satanás, do meio ambiente degradado pelo homem, nem ainda dos nossos semelhantes, mas, diz ele, da nossa própria escolha, num nascimento prévio.

O hindu baseia o sofrimento em dois fatos: o renascimento, que explica as desigualdades e os sofrimentos desta vida, e o senso de separação do ser divino. No Hinduísmo, as pessoas sofredoras devem ser abandonadas ao estado de sofrimento, porque esse é o seu destino determinado pelo karma.

O Hinduísmo também apresenta uma possível explicação para o sofrimento e o mal no mundo. De acordo com o Hinduísmo, o sofrimento que qualquer um experimenta, seja enfermidade, fome ou um desastre, é devido às próprias ações maléficas que a pessoa realizou, normalmente em vidas passadas. A alma é a única coisa que importa, pois um dia será livre do ciclo da reencarnação e descansará.

Para os hinduístas e budistas está fora de qualquer questionamento a máxima: a vida sempre está ligada ao sofrimento. A própria condição passageira em si é sofrimento. O único alento para os que creem no Budismo e Hinduísmo quanto ao sofrimento, é que este pode ser visto como uma chance e como purificação de um karma infeliz.

 

   G. O Islamismo[20]

Maomé o fundador do Islamismo nasceu em 570 d.C. na cidade de Meca, na Arábia. O seu pai morreu antes do seu nascimento, e a sua mãe morreu quando ele tinha seis anos, sendo criado primeiramente pelo avô e depois pelo tio.

A palavra Islão é um substantivo formado a partir do verbo árabe que significa “submeter-se, resignar-se ou sujeitar-se”. Islão quer dizer submissão ou resignação, e a sua derivação traz a ideia de ação, e não a de uma simples imobilidade. O próprio ato da resignação obediente está no coração do Islão, mais do que uma aceitação e sujeição passivas à doutrina. Muçulmanos, outra forma substantivada do mesmo verbo, significa: “aquele que se submete”. O ensinamento de Maomé o fundador do Islamismo pode ser resumido em cinco doutrinas:

  • Alá é o único Deus
  • Alá enviou muitos profetas, inclusive Moisés e Jesus, porém Maomé, o último deles, é o maior
  • O Alcorão é o supremo livro religioso, tendo prioridade sobre a Lei, os Salmos e o Injil (Evangelhos) de Jesus
  • Existem muitos seres intermediários (anjos) entre Deus e nós, alguns deles sendo bons e outros maus
  • As obras de cada ser humano serão pesadas, a fim de se determinar quem irá para o céu ou para o inferno, na ressurreição

O Islamismo talvez seja a conceção religiosa mais simplória de ver o sofrimento. O muçulmano impressiona-se com a soberania de Deus. Tudo o que acontece é da Sua vontade. Ele predeterminou e predestinou tudo o que acontece. Tanto o bem como o mal que nos advêm são da Sua vontade. A atitude do fiel é submeter-se a ela.

Muitas crenças muçulmanas vêm da Bíblia, contudo, apesar da influência e semelhanças, as diferenças são notáveis. O Islamismo não crê num Deus pessoal e exclui completamente a Trindade, conforme esta é ensinada na Bíblia. No Islamismo, Deus está divorciado da Sua criação. A Sua transcendência impede-o de ser pessoal. No Islão, a pessoa e a obra de Cristo não têm significado nenhum em termos de fundamentos da fé, pois não acreditam que Cristo é o Filho de Deus, nem que ressuscitou dentre os mortos. No Islamismo o sofrimento não possui nenhum valor religioso.

Que acréscimo, uma religião que nega as principais balizas do cristianismo pode representar na hora da dor? A Trindade, a divindade de Cristo, a ressurreição, a natureza pecadora do homem, e a salvação pela Graça são negadas. É certo o que alguém já disse: “ o Islamismo foi criado por um profeta que morreu; o cristianismo, por um Salvador ressurreto”. A maior fonte de superação da dor vem daquele que o Islamismo nega, Jesus. O fiel ao Islamismo não pode ser consolado com essas palavras: “Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.”[21] Maomé falou que ele e as suas tribos eram os descendentes de Abraão através de Ismael, outro dos filhos de Abraão. Mas não declarou: “Antes que Abraão existisse eu sou.”[22]

H. O Judaísmo[23]

Não se pode considerar a Bíblia como revelação divina sem também reconhecer o lugar dado ao Judaísmo histórico. Enquanto o Cristianismo reconhece que a promessa de um salvador pessoal e espiritual é o ápice da revelação bíblica, o Judaísmo mesmo com as suas ramificações ortodoxas, conservadoras e reformadas tem-se confundido quanto ao seu conceito de messiado. Apesar de haver diferenças marcantes em muitas áreas da crença e da prática entre o Judaísmo e o Cristianismo, existe uma herança comum partilhada:

  • A crença num só Deus, nosso Pai;
  • É Deus que nos salva;
  • A ignorância sobre os Seus caminhos;
  • A humildade diante da Sua onipotência;
  • O conhecimento de que nós pertencemos a Ele, e Ele a nós;
  • O amor a reverência que lhe devemos;
  • A dúvida sobre a nossa fidelidade inconstante;
  • O paradoxo de que nós somos pó, mas ainda assim imagem de Deus;
  • A consciência de que Ele nos quer como companheiros na santificação do mundo;
  • A condenação do chauvinismo religioso arrogante;
  • A convicção de que o amor a Deus é inútil sem o amor ao próximo;

No que diz respeito ao sofrimento, o Judaísmo afirma que ele existe, não apenas por causa da submissão à vontade insondável de Deus, mas igualmente pela circunstância de que se acreditava que Deus era O causador soberano tanto do mal quando do bem. O sofrimento dos justos, e a felicidade dos ímpios tinham de ser percebidos como uma  tribulação para a fé judaica, porque ambos pareciam incompatíveis com a justiça de Deus.

Ainda, segundo Pannenberg, a conceção judaica sobre este assunto, defende que uma vez que Deus consideraria com graça o Seu povo, livrá-lo-ia de todas as suas tribulações, não permitiria chegar à tenda do justo nenhuma “enfermidade”, compensaria em dobro todas as suas perdas, e dar-lhe-ia abundância de dias e prosperidade. No entanto, com as constantes derrotas que culminaram com o cativeiro essa conceção teve que ser remetida para uma visão escatológica que se desenvolveu no judaísmo pós-exílio. Aqui estava outra conceção mais elevada, destruindo a crença superficial de que o justo prosperaria, teria vida longa e que seus olhos veriam somente as tribulações sobrevirem aos outros.

Diante do exposto, podemos perguntar: em qual conceção se encaixa melhor na convicção de que Deus se encontra presente e ativo em relação ao sofrimento no mundo? Temos sérias restrições quanto à complementaridade dessas conceções, visto que todas excluem a pessoa bendita de Jesus como resposta ao problema do sofrimento.

Quanto ao Cristianismo nas palavras de Gustaf Aulén, é bom que se diga que este não é uma religião que tem no bolso do colete, uma explicação imediata para tudo o que acontece. Pelo contrário, o Cristianismo recusa-se a propor uma cosmovisão racional ou, em outras palavras,  transformar a fé num sistema monista de pensamento capaz de resolver todos os enigmas.

O mesmo Gustaf ao explicar a relação da fé com o problema do mal, diz que “se o mal fosse invencível, a fé em Deus estaria morta”, pois segundo ele, “os olhos da fé veem não só o mal em toda a sua fidelidade, mas também, e acima de tudo, o Deus vitorioso”. É claro que essas cosmovisões acerca das causas do sofrimento sugeridas por variados segmentos religiosos, não satisfazem plenamente as indagações causadas pelas perdas e dores e diferentemente do que entende MacGrath pouco se complementam, antes, chocam-se.

 

III. A SOLUÇÃO PARA O SOFRIMENTO

   A. A eliminação do sofrimento

            Mesmo que nos pareça que este problema do sofrimento não tem solução, a verdade é que devemos ter em mente que Deus tem agido a nosso favor, a fim de livrar o mundo do sofrimento. O que nos deixa mais admirados é o facto d’Ele ter feito isso, passando Ele mesmo, pelo sofrimento.

Deus é o Pai que foi testemunha da tortura e da morte do Seu próprio Filho. O Deus, que ama o Seu Filho, permitiu que Ele sofresse, a fim de que nós pudéssemos ficar livres do sofrimento. Devido à paixão e morte de Cristo, aqueles que O têm aceitado como seu Salvador ficam livres do mais intenso sofrimento que se pode imaginar, ou seja, ficarem eternamente separados de Deus. É no próprio sofrimento de Deus que vemos o Seu grande amor.[24]

Deus tem um plano cujo alvo é a eliminação do sofrimento. Mas então porque é que não o faz? Se Deus erradicasse todo o mal que domina o nosso planeta, Ele também teria que erradicar todos os homens maus. E nesse caso, ninguém ficaria isento (cf. Rm 3: 23). Por isso, Deus prefere transformar os homens, em vez de os erradicar. Se Deus removesse todo o mal que existe no mundo, a essência (livre-arbítrio) da humanidade seria destruída, pelo que o homem tornar-se-ia um autómato sem sentimentos nem capacidade de amar. O amor está alicerçado sobre o direito que o individuo tem de escolher .[25]

Eliminar o mal e o sofrimento não é solução para o problema. Na verdade, é o amor de Deus pelo homem que O impede de remover o mal e o sofrimento que há no mundo, por meio de uma exibição do Seu poder. Por esta razão, o plano de Deus consiste na remoção do mal mediante a exibição do Seu amor, ou seja, o amor que Ele demonstrou no calvário. É no amor de Deus que encontramos a chave para a solução definitiva do problema do sofrimento.[26]

 

   B. Cristo, O supremo sofredor

Quando sofremos, olhamos para nós mesmos, para as nossas provações, para os nossos problemas? Vivemos sujeitos às circunstâncias externas, em vez de vivermos acima delas? Ou olhamos para Aquele que experimentou um sofrimento maior que aquele que somos capazes de conceber?[27]

Existem vários detalhes na vida de Jesus que revelam o Seu papel de Messias e de “Servo sofredor”. Por exemplo, a vida terrena de Cristo começou no meio de perseguições e perigos (matança dos inocentes decretada por Herodes). O Filho de Deus assumiu também um papel de profunda humilhação nascendo numa família pobre e adquirindo a nossa natureza humana, com todas as debilidades e fraquezas, bem como a capacidade de sofrer. Embora fosse o tão esperado Messias, Jesus foi desprezado e rejeitado pelo Seu próprio povo. A pessoa de Jesus esteve também constantemente exposta à violência, como no caso de Lc 4: 29. Jesus esteve também, constantemente debaixo de perseguição e conspiração por parte das autoridades político-religiosas judaicas, o que levou à Sua prisão, julgamento e condenação à morte por crucificação. Os sofrimentos de Jesus também incluíram ferozes tentações por parte do diabo (cf. Mt 4: 1).[28]

Jesus, O supremo sofredor, veio a este mundo com o objetivo de sofrer pelos nossos pecados. Como consequência dos Seus sofrimentos, a nossa redenção ficou assegurada. A única coisa que Ele requer de nós é a nossa fé, o nosso amor, o nosso louvor, os nossos corações e a consagração total das nossas vidas.[29]

Quando Cristo vem viver em nós, isso capacita-nos a viver acima das circunstâncias externas por mais dolorosas que elas sejam. Que possamos dizer como Paulo, lá em Rm 8: 35-37: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição. Ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas porem, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.”[30]

 

CONCLUSÃO

            Esta pesquisa permitiu-me chegar à conclusão que talvez o maior teste da fé para o cristão atual, seja o de crer que Deus é bom. Há muita coisa que considerada isoladamente sugere o contrário. É como um tecido vivo visto através duma lupa, o qual se apresenta nítido no meio e baço à volta. Embora não entendamos o que estamos a ver, sabemos que essa zona periférica é nítida pelo que vemos no meio. A vida é como um tecido vivo. Há muitas zonas que se apresentam enevoadas, muitos acontecimentos e circunstâncias que não compreendemos. Contudo, eles devem ser interpretados pela claridade que vemos no centro – a cruz de Cristo. Não precisamos de fazer suposições acerca da vontade de Deus a partir de dados isolados. Ele revelou claramente o Seu caracter e demonstrou-o de forma dramática na cruz (Rm 8: 32).

Deus não nos pede que entendamos tudo, mas que confiemos n´Ele da mesma maneira que pedimos a um filho nosso que confie no nosso amor.

Temos paz, quando reconhecemos conscientemente que por nós só conseguimos ver alguns fios do grande tapete da vida e da vontade de Deus, e não o quadro completo. Então podemos afirmar calma e alegremente, o que Paulo disse aos romanos em Rm 8: 25: “…que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus e daqueles que são chamados pelo seu decreto.”

Mais do que o sofrimento em si, é a nossa reação ao sofrimento, que determina se a experiência vai ser uma bênção ou uma maldição.

Quando, pela Graça de Deus, podemos ver toda a vida através da lente da fé no amor de Deus, podemos afirmar como Habacuque em Hc 3: 17, 18: “Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide, o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento, as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia eu me alegrarei no Senhor, e exultarei no Deus da minha salvação.”

 

BIBLIOGRAFIA

LITTLE, Paul. Explicando e expondo a fé. 1ª ed. Editora Núcleo, 1985

GEISLER, Norman & Peter Bocchino. Fundamentos inabaláveis. Editora Vida, 2003

GRIFFIN, William & Ruth Graham Dienert. O cristão fiel. 1ª ed. Editora proclamação, 1996

 

WEBGRAFIA

http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/sofrimento

http://tede.est.edu.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=228


[1] LITTLE, Paul. Explicando e expondo a fé. 1ª ed. Editora Núcleo, 1985, p. 135

[2] Ibidem, pp. 135, 136

[4] LITTLE, Paul. Explicando e expondo a fé. 1ª ed. Editora Núcleo, 1985, p. 136

[5] Idem

[6] Ibidem, p. 138

[7] Ibidem, pp. 140, 141

[8] Idem

[9] LITTLE, Paul. Explicando e expondo a fé. 1ª ed. Editora Núcleo, 1985, p. 141

[10] GEISLER, Norman & Peter Bocchino. Fundamentos inabaláveis. Editora Vida, 2003, pp. 256-258

[11] Ibidem, p. 256

[12] GEISLER, Norman & Peter Bocchino. Fundamentos inabaláveis. Editora Vida, 2003, p. 258

[18] Jo 8: 12

[21] Jo 16: 33

[22] Jo 8: 58

[24] GRIFFIN, William & Ruth Graham Dienert. O cristão fiel. 1ª ed. Editora proclamação, 1996, pp. 230, 231

[25]  Ibidem, pp. 230-232

[26] GRIFFIN, William & Ruth Graham Dienert. O cristão fiel. 1ª ed. Editora proclamação, 1996, pp. 230-232

[27] Ibidem, pp. 233, 234

[28] Ibidem, p. 234

[29] Idem

[30] GRIFFIN, William & Ruth Graham Dienert. O cristão fiel. 1ª ed. Editora proclamação, 1996, pp. 234, 235

Evidências da Divindade de Cristo

EVIDÊNCIAS DA DIVINDADE DE CRISTO

Daniel Camargo Moreira

INTRODUÇÃO

JesusNo âmbito da cadeira de Apologética, do 3º ano do curso de Teologia e Bíblia em regime presencial do Monte Esperança – Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, foi proposto aos alunos um trabalho cujo tema estivesse relacionado com os conteúdos da disciplina.

“As Evidencias da Divindade de Cristo” foi o tema escolhido para a monografia.

O desafio será apresentar como Deus veio na pessoa de Jesus entrar fisicamente no nosso mundo. Um Deus infinito veio viver num mundo finito. Aquele que sabia exactamente como as coisas deveriam ser, veio a um lugar em que as coisas obviamente não eram assim. Em Jesus Cristo foi, e para sempre será, totalmente Deus e totalmente homem em uma pessoa. E essa pessoa mudou o curso da história para sempre.

Jesus Cristo não foi apenas um grande professor e um bom homem. Ele era (e é) Deus encarnado em carne humana. A Palavra viva de Deus. Como um abordagem deste facto tremendo, devemos examinar brevemente Suas reivindicações únicas, de nascimento original, a vida única e exclusividade da sua morte, e a maior evidência da sua divindade que é a ressurreição. Vamos examiná-la sob várias categorias.

Serão usadas como pano de fundo para o trabalho, citações Bíblicas, para além de outros livros de literatura de referência.

“…porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Colossensses 2.9)

 

       I.            DEFINIÇÃO DE DIVINDADE

Divindade é, geralmente, uma referência a um ser que está no estado de ser Deus. Ao dizer que um ser é “divino”, está-se dizendo que este ser possui a natureza de Deus, ou está no estado de ser Deus. Na Bíblia, Theos, Deus, refere-se “ao ser supremo sobrenatural como criador e mantenedor do universo: Deus”.[1] A Bíblia se refere a Deus como aquele que “fez o mundo e tudo o que nele existe” (Actos 17:24). Palavras derivadas de theos, como theotes, se referem à “natureza ou estado de ser Deus”.[2] Ezequias Soares acrescenta que a dife­rença é que a palavra usada em Romanos 1.20 tem o sentido de atributo de Deus, sua natureza e propriedades divinas. E em Colossenses 2.9, a pala­vra indica a essência divina da Deidade, a personalidade de Deus, pois afirma com referência a Jesus “nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. O apóstolo diz que se trata de “toda a plenitude da divindade”, e não alguns lampejos, ou um raio de luz, ou mesmo uma iluminação acima de outros homens. A divindade de Jesus é plena e absoluta.[3]

   II.            AS REIVINDICAÇÕES DE CRISTO

Para todas as aparências humanas, o Senhor Jesus Cristo era apenas um pregador itinerante bastante obscuro, sem educação formal, ministrou apenas 3 anos e meio na pequena província Romana da Palestina, com um grupo heterogéneo de discípulos, e, finalmente, executado como um criminoso.[4]

Ele ainda fez declarações surpreendentes sobre si mesmo, reivindicações que, se não é verdade, teria marcado o rapidamente como sendo um louco ou um charlatão. Sua reivindicação de ser o Filho de Deus, de facto, levou à sua prisão e execução.

Surpreendentemente, no entanto, essas mesmas reivindicações provaram-se por mais de 2.000 anos para ser incrivelmente profecias cumpridas. Consideramos algumas destas implicações:

A.     Jesus afirmou ser o “Eu Sou”

O Evangelho de João tem várias feições especiais que fortalecem a apresentação do seu tema principal. As reivindicações de Jesus de sua deidade são realçadas por sete princípios “Eu Sou” no Evangelho de João. Jesus disse: “Eu Sou o pão da vida” (Jo 6.35, 41, 48 e 51), “Eu Sou A Luz do Mundo” (Jo 8.12, 9.5), “Eu Sou a Porta” (Jo 10.7,9), “Eu Sou o Bom Pastor” (Jo 10.11,14), “Eu Sou a Ressurreição e a Vida” (Jo 11.25), “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14.6), “Eu Sou a Videira Verdadeira” (Jo 15.1-5).

B.     Jesus afirmou a sua Pré-Existencia

“Antes de Abraão nascer, eu sou!” (Jo 8.58)

Talvez seja a reivindicação mais forte que Jesus tenha feito de ser Javé. Essa afirmação reivindica não só existência antes de Abraão, mas igualdade com o “Eu Sou” de Êxodo 3.14. Os judeus à sua volta entenderam claramente seu significado e pegaram pedras para matá-lo por blasfémia (v. Jo 8.58; 10.31-33). A mesma afirmação é feita em Marcos 14.62 e João 18.5,6.[5] Adrian Rogers sublinha:

O grande EU SOU: na sarça-ardente, quando Moisés perguntou a Deus qual era o seu nome, a fim de instruir o povo de Israel, Deus respondeu: “EU SOU QUEM SOU. E disse ainda: Você dirá o seguinte: EU SOU enviou-me a vocês.” (Êxodo 3:13,14). Este é o significado de Jeová, o nome santo de Deus, traduzido do hebraico. No passado, Deus era EU SOU. Hoje, ele é EU SOU. Amanhã, será EU SOU. Jesus estava dizendo aos discípulos: “O Deus Eterno, EU SOU, está com vocês. Não tenham medo.” “EU SOU” é uma declaração de poder, uma confirmação de presença, um anúncio de fartura. Jesus é o EU SOU no meio de sua tempestade. [6]

C.     Jesus afirmou que as Suas Palavras são Eternas

“Minhas palavras não passarão” (Mt 24:35).

Embora Cristo nunca ter escrito um livro ou mesmo um sermão, Seus ensinamentos e suas palavras são os mais lidos em toda a literatura do mundo, universalmente reconhecido como a maior, e mais memoráveis, palavras mais edificantes já faladas. Ele é universalmente reconhecido como o maior Mestre que já viveu.[7]

D.    Jesus afirmou atrair todos a Ele

“Se eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim” (Jo 12:32)

Sua morte como um criminoso condenado, levantou-se e empalado numa cruz, era horrível e brutal, mas a história deste facto, atraiu homens de todas as nações e idade à acreditar em Jesus como seu Salvador e Senhor expiatório. Sua cruz tem sido uma inspiração para todas as classes e tipos de homens, mulheres e crianças.[8]

E.      Jesus afirmou que a  Igreja é d’Ele

“As portas do inferno não prevalecerão contra (minha igreja) “ (Mt 16:18).

A “igreja” fundada por Cristo, as diversas congregações de todos os que crêem nEle como o Filho de Deus e Salvador redentor, tem sofrido intensa perseguição através dos tempos, e ainda continua a fazer conversões em todas as terras e em todos os tempos, mesmo apesar da apostasia eclesiástica entre os seus membros.[9]

F.      Jesus afirmou Sua Unidade e Harmonia com o Pai

“Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30-38)

Jesus afirma que Ele e o Pai são um, ou seja nele há unidade e harmonia com o Pai. Vemos que Deus Pai, Deus Filho e o Espírito Santo possuem personalidades próprias, tendo unidade de natureza, Grudem afirma que essa unidade é exactamente a pedra fundamental da doutrina da Trindade.[10] O Deus triúno possui uma só essência, mas três pessoas distintas. Contudo McDowell salienta que a submissão de Jesus não nega a sua igualdade com o Pai e o Espírito santo. O Filho de Deus deve ter a mesma natureza que seu Pai.[11]

G.    Jesus afirmou Possuir a Mesma Glória que o Pai

“Glorifica-me tu, ó Pai … com aquela glória que eu tinha contigo…” (Jo 17.5)

Jesus reivindica glória, além de declarar que já existia e que esta existência se dava junto ao Pai vemos isto em João 1.1. Isso implica em que, 1) Jesus é Deus, pois possui a mesma glória que o Pai; 2) Implica novamente na exposição da Trindade; 3) Demonstra um atributo divino na pessoa de Jesus: a eternidade. Portanto, ao contrário do que os críticos têm defendido, Jesus afirmou de maneira clara que é Deus. Isso demonstra que os críticos carecem de boa interpretação das claras e objectivas declarações de Jesus. Segundo Mcdowell e Stewart:

“Buda não reivindicou ser Deus; Moisés nunca disse ser Jeová; Maomé não se identificou como Alá; e em nenhum lugar encontramos Zoroastro reivindicando ser Ahura Mazda. Mas Jesus, o carpinteiro de Nazaré, disse que quem visse a Ele (Jesus) via o Pai (João 14.9) ”. [12]

H.    Jesus afirmou Seu Poder de erdoar pecados

“… Perdoados estão os teus pecados” (Mc 2.5-12)

Jesus perdoou os pecados daquele homem. Quem mais pode perdoar pecados senão Deus? Esta pergunta que ecoa de forma surpreendente foi a mesma que os escribas fizeram a Jesus (v. 7). Sem dúvidas, esta é uma das grandes declarações de Cristo quanto à sua divindade. E Ele foi além, pois perdoou os pecados (v.5), exortou os escribas (v. 8-10) e curou o homem de sua enfermidade (v. 11), o que foi motivo de grande glorificação (v. 12).

Lee Strobel, em um de seus livros, entrevistou Donald A. Carson, doutor em NT, especialista em diversas áreas teológicas, incluindo o estudo do Jesus histórico. Para Carson, uma das grandes evidências da divindade de Cristo é o perdão de pecados:

“De todas as coisas que Ele fez, a que mais me surpreende é o perdão de pecados (…). Se você faz alguma coisa contra mim, tenho o direito de perdoá-lo. Todavia, se você faz algo contra mim e aí vem uma pessoa e diz ‘eu lhe perdoo’, que ousadia é essa? A única pessoa capaz de pronunciar genuinamente essas palavras é Jesus, porque o pecado, mesmo se cometidas contra outras pessoas, é, antes de tudo e principalmente, um desafio a Deus e às suas leis (…). Aparece então Jesus e diz aos pecadores: ‘os seus pecados estão perdoados’. Os judeus imediatamente viram nisso uma blasfémia. Eles reagiram dizendo: ‘quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?’”[13]

Norman Geisler e Peter Bochino descreve que:

“Todos nós podemos entender que um homem perdoe as ofensas que recebe. Pisam em meu pé e eu perdoo, roubam meu dinheiro e eu perdoo. Mas o que pensaríamos de alguém que, não tendo sido roubado nem pisado, anunciasse que nos perdoa por termos pisado nos pés dos outros e roubado o dinheiro dos outros? O mínimo que poderíamos fazer seria chamar de petulância obtusa a conduta de quem assim procedesse. Entretanto, foi isso que Jesus fez.”[14]

I.       Jesus afirmou Seu Poder de ressuscitar os mortos

“Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer. Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão [...] e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados.” (Jo 5. 21, 25, 29).

Os judeus do tempo de Jesus (com excepção da pequena seita dos saduceus) acreditavam na ressurreição e na vida depois da morte. Por esta razão Marta pôde dizer a Jesus de seu falecido irmão Lázaro: “Eu sei… que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia” (João 11.24). Como todos os judeus, ela tinha aprendido esta doutrina desde a infância. Mas os judeus acreditavam que somente Deus podia ressuscitar os mortos. Nesta passagem, Jesus alega que Ele é quem ressuscita os mortos.[15]

III.            AS AFIRMAÇÕES DOS DISCÍPULOS

Os registos que os discípulos fizeram sobre as palavras, as obras e quem Cristo era, deixam muito claro que o Senhor é verdadeiramente o Deus Salvador. O contexto religioso em que os discípulos viviam poderia ser uma barreira aos mesmos, afinal, aceitar as palavras de um homem que afirmou ser Deus, na cultura e concepção de quem Deus é para os judeus, seria impossível, se Jesus realmente não fosse quem Ele disse ser.

Segundo Little, Jesus Fez da sua identidade o ponto fulcral do seu ensino. A grande e importante questão que punha aos que o seguiam era: “Vós, quem dizeis que eu sou?” Quando Pedro respondeu e disse, “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mt. 16.15,16), Ele não se mostrou chocado, não repreendeu Pedro. Pelo contrário, elogiou-o![16]  Em todo NT, podemos verificar as afirmações que os discípulos fizeram sobre Cristo:

  • João Batista – Eis o Cordeiro de Deus”! (Jo 1:29);
  • Natanael -“Tu és Rei de Israel!” (Jo 1:49).
  • João -“Ele é o Verbo de Deus!” (Ap 19:13); Primeiro e último: Ap 1.17; 2.8; 22.13, A verdadeira luz: Jo 1.19, Salvador do mundo: Jo 4.42, Esposo (Ap 21.2), Redentor (Ap 5.9)
  • Pedro - Rocha ou pedra (1 Pe 2.6-8), “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mt. 16.15,16), Supremo pastor (1 Pe 5.4), Perdoador de pecados (At 5.31)
  • Paulo – Rocha ou pedra (1 Co 10.4), Esposo: Ef 5.28-33, Redentor (Tt 2.13), Juiz dos vivos e mortos (2 Tm 4.1), Perdoador de pecados (Cl 3.13)
  • Os discípulos de Emaús“Jesus, o Nazareno – poderoso profeta em palavras e obras!” (Lc 24:19).
  • O escritor de Hebreus – Grande pastor (Hb 13.20)

Os discípulos chamaram Jesus de Deus: Tomé, ao ver as marcas de Jesus (Jo 20.28), Paulo afirma com toda veemencia “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divinda­de” (Cl 2.9), tambem afirma como grande Deus e Salvador (Tt 2.13), Cristo como Deus, antes da encarnação (Fp 2.5-8) e o autor de Hebreus (Hb 1.3,8), João, em sua afirmação quanto ao Verbo (Jo 1.1), Felipe, pregando ao Eunuco (At 8.35-38), Estevão, na sua grande defesa (At 7), Pedro e João nas epístolas (1 e 2 Pd; 1, 2 e 3 Jo), e Judas (Jd 4).

A declaração de Tomé quanto a quem é Jesus “Senhor meu, e Deus meu”! Demonstra com muita evidência que Jesus disse ser Deus e os Seus discípulos o confessaram, Ele foi prometido no AT, realizou actos divinos, possui títulos divinos e foi adorado como Deus. Segundo Norman Geisler:

“Todas essas pessoas adoraram a Jesus sem uma palavra de repreensão por parte Dele. Jesus não apenas aceitou essa adoração, como até mesmo elogiou aqueles que reconheceram sua divindade (Jo 20.29; Mt 16.17). Isso só poderia ser feito por uma pessoa que considerava seriamente ser Deus.”[17]

McDowell nos diz que:

“A maioria dos seguidores de Jesus eram judeus de profundas convicções religiosas, que acreditavam em apenas um Deus verdadeiro. Eram monoteístas até o fundo da alma, e, no entanto, reconheceram-no como o Deus encarnado. Devido à sua profunda formação rabínica, Paulo ainda teria menos probabilidade de atribuir divindade a Jesus, adorar um homem de Nazaré e chamá-lo Senhor. Mas foi exactamente o que ele fez. Reconheceu o cordeiro de Deus (Jesus) como sendo Deus.”[18]

Paul Little sublinha:

“Entre aqueles que reconhecem uma divindade faz uma grande diferença se o divino é representado meramente pelo conceito de Deus – o objecto da especulação filosófica – ou pelo Deus vivo ao qual os homens adoram em todos os actos de piedade que integram os rituais da religião.”[19]

Alister MacGrath em seu livro da teologia cristã escreve que Arthur Michael Ramsey, destacado escritor teológico inglês, defendeu a mesma teologia de Barth:

“A importância da confissão de que Jesus é o Senhor não está apenas no facto de que Jesus seja divino, mas também de que Deus seja semelhante a Cristo.”[20]

 IV.            OS ATRIBUTOS DA DIVINDADE EM CRISTO

A.     Jesus é Omnipotente

A Bíblia descreve Jesus como omnipotente: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18). Ele já tinha esse poder antes de vir ao mundo, basta uma lida em Filipenses 2.6-11 para se confirmar essa verdade. Veja ainda Apocalipse 1.8; 3.7. Isso também se diz do Espírito Santo: “não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos” (Zc 4.6), e ainda: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há-de nascer, será chamado Filho de Deus”.[21]

B.     Jesus é Omnisciente

A omnisciência é outro atributo que só Deus possui e, no entanto, Jesus revelou esta omnisciência durante o seu ministério. Em João 1.47,48, por exemplo, quando disse que viu Natanael debaixo da figueira. Sabia que no mar havia um peixe com uma moeda e que Pedro ao lançar o anzol o pescaria e com o dinheiro pagaria o imposto, tanto por ele como por Cristo (Mt 17.27). Em João 2.24,25 está escrito que não havia necessidade de ninguém falar algo sobre o que há no interior do homem, porque Jesus já sabe de tudo. A Bíblia diz que só Deus conhece o coração dos homens (1 Rs 8.39), então Jesus é não só omnisciente, mas também é Deus. Ele sabia que a mulher samaritana já havia possuído cinco maridos e que o actual não era o seu marido (João 4.17,18). Encontramos em João 16.30; 21.17, que Jesus sabe tudo, e Colossensses 2.2,3 nos diz que em Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência”. Não há nada no universo que Jesus não saiba, tudo porque Ele é omnisciente e é Deus.[22]

C.     Jesus é Omnipresente

O Filho também É omnipresente. Jesus é ilimitado pelo tempo e pelo espaço. Ele disse: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18.20), e mais: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mt 28.20). Essas duas passagens mostram que Jesus está presente em qualquer parte do globo terrestre porque ele é omnipresente. A Bíblia diz que o Espírito Santo está em toda a parte: “Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face?” (Sl 139.7).

D.    Jesus é Eterno

As Escrituras Sagradas ensinam que o Filho é eterno. A pré-existência de Cristo é eterna: “…e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5.2). Isto revela que o Filho já existia antes dos tempos dos séculos, antes de todas as coisas. O profeta Isaías anuncia o aparecimento do Messias dando-lhe cinco nomes a saber: “…e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6).[23]

E.      Jesus é Santo

O atributo da santidade está também presente em Jesus, e da mesma forma o atributo da justiça. Jesus é santo e justo: “Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homem homicida” (At 3.14); “Ministrando o evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espirito Santo” (Rm 15.16).[24]

    V.            O TRILEMA DA IDENTIDADE DE JESUS CRISTO

Quando Jesus foi levado a julgamento perante o Sinédrio, o sumo-sacerdote judeu perguntou: “Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?” Para essa pergunta Cristo respondeu simplesmente: “Eu sou” (Marcos 14:62). Tendo em vista a natureza exaltada de tal afirmação, e os seus resultados finais definitivos, não são apenas três pontos de vista possíveis pode-se entreter em referência à afirmação de Cristo de ser divindade: (1) Ele era um mentiroso e vigarista, (2) Ele era um louco, ou (3) Ele era exactamente quem ele disse que era.

Em seu livro, Evidência que Exige um Veredicto, José McDowell intitulou um capítulo: “o Trilema – Senhor, Mentiroso ou Lunático” Seu objectivo era destacar que, considerando a natureza grandiosa das reivindicações de Cristo, Ele era um mentiroso, um lunático, ou o Senhor. McDowell apresenta neste capítulo sobre a divindade de Cristo com uma citação do apologista britânico famoso da Universidade de Cambridge, CS Lewis, que escreveu:

Estou tentando aqui para impedir que alguém diga a grande tolice que muitas vezes as pessoas dizem sobre ele: “Estou pronto a aceitar Jesus como um grande mestre moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus.” Essa é a uma coisa que não devemos dizer. Um homem que era somente um homem e dissesse o tipo de coisas que Jesus disse não seria um grande professor de moral. Ele seria ou um lunático, no mesmo nível que o homem que diz que é um ovo cozido ou então ele seria o Diabo do Inferno. Você deve fazer a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou é um louco ou algo pior. Você pode calá-lo por um tolo, pode cuspir nele e matá-lo como um demónio, ou você pode cair a seus pés e chamá-lo Senhor e Deus. Mas não vamos vir com algum disparate sobre ele ser um grande mestre humano. Ele não deixou que se abrem para nós. Ele não tinha a intenção de.[25]

 VI.            O NASCIMENTO DE CRISTO

O nascimento de Jesus Cristo foi absolutamente único entre todos os nascimentos da história humana. O nascimento em si foi um nascimento humano normal, mas sua concepção foi por uma obra miraculosa do Espírito Santo, sem pai humano, como uma criação especial de Deus no ventre de uma virgem pura.[26] Como o corpo do primeiro Adão, vemos que “o último Adão…o Senhor do céu” (1 Co 15.45,47) foi directamente formado por Deus e plantado como uma única “Semente” divina no ventre de Maria, livre de uma inerente natureza pecaminosa e de quaisquer defeitos transmissíveis mutacionais”, “como de um cordeiro sem defeito e sem mácula” (1 Pe 1.19).Seu nascimento foi exclusivamente o foco de muitas profecias antigas, todas cumpridas Nele.[27]

  • Semente da mulher (Gn 3,15; Ap 12,1-17).
  • Coisa nova sobre a terra (Jr 31,22; Gl 4,4).
  • O corpo divinamente preparado (Sl 22,9; Ele 10,5).
  • Nascido de uma virgem (Is 7.14; Mt 1,22-23).
  • Reconciliação da linhagem de Davi (Jr 22,28-30; 23,5-6; 33,15-17).
  • Linhagem de Jeconias (Salomão) (legal) por intermédio de Joseph (Mt 1.6, 12-13).
  • Linhagem de Natã (biológico) por meio de Maria Lc 3. 3.23, 31).

Além das profecias, evidências de seu cumprimento no nascimento virginal são os registos históricos directos de Mateus e Lucas (Mt 1,20-25; Lc 1,30-35). Está implícito em outros livros (Mc 1,1; Jo 1,1-15; Gl 4,4).

VII.            A VIDA MILAGROSA DE CRISTO

A vida e os ensinamentos de Jesus Cristo têm influenciado o mundo mais do que os de qualquer outro homem que já viveu. Eles são inexplicáveis ​​se Ele era apenas um homem como os outros homens. Embora verdadeiramente humano, Deus tornou-se homem, ele também era Deus, o homem-Deus. Tim La Haye diz que:

“As opiniões populares sobre Jesus podem ser reduzidas a apenas duas: ou Ele foi Deus em forma humana ou foi simplesmente um homem bom. Uma delas não pode ser verdadeira. É impossível vê-lo como um homem bom, se Ele não for o Filho de Deus, pois foi isso precisamente que Ele alegou ser. Se Ele não era Deus, mas alegou ser, então não pode ser bom; Ele seria ou louco ou um grande mentiroso.” [28]

A.     Os Milagres de Cristo

Seu poder sobrenatural foi demonstrado frequentemente em milagres que só o Criador poderia fazer (por exemplo, transformar água em vinho, ressuscitar os mortos). Eles nunca foram milagres carnais ou caprichos (note Mt 12,39 e Lc 23,8-9, por exemplo), mas sempre foram utilizados para atender alguma necessidade imediata e específica do ser humano (Mt 4,24).

Seus milagres também foram usados ​​para autenticar suas reivindicações e para gerar fé (note Jo 2.11,23). No final de escrever o Evangelho, o apóstolo João seleccionou sete milagres que Cristo tinha realizado (por exemplo, alimentando uma multidão com apenas alguns pães e peixes), a fim de provar a seus leitores que “Jesus era o Cristo, o Filho de Deus” (Jo 20,31).Morris descreve que:

“Houve outros milagreiros ao longo da história, mas nenhum como Jesus Cristo.”[29]

Little atesta ainda que:

“Cristo demonstrou um poder sobre as forças naturais que só podia pertencer a Deus, o Autor dessas forças.”[30]

B.     Os Ensinamentos de Cristo

Da mesma forma, o mundo já conheceu muitos grandes mestres, mas nenhum cujos ensinamentos tiveram o impacto eterno que os de Cristo tiveram. Eles sempre foram dados com autoridade, sem qualquer dúvida ou reserva (Mt 7.28-29; Lc 4,32), mas são sempre gracioso na expressão (Lc 4,22; Jo 7,46), excepto quando a hipocrisia era tão flagrante a exigir a condenação judicial. William Craig nos diz que:

“Evidentemente, Jesus de nazaré não andou pela Palestina se apresentando como Deus. Os Evangelhos não o retractam de tal forma, nem é isso consistente com a doutrina cristã da encarnação, que declara que Jesus como Homem tinha uma consciência humana extraordinária, mesmo que ela era informada sobrenaturalmente. Em vez disso, a Auto-compreensão divina de Jesus se torna evidente explicitamente por meio do seu ensino e comportamento.”[31]

Seu equipamento aparente para o ensino era mínimo (ensino, pesquisa, viagens), mas suas palavras eram exactamente sempre apropriadas para a ocasião. Ninguém pode pensar como poderia ter sido melhor, e Ele nunca teve que se retractar ou se desculpar por nada do que Ele disse. Segudo Ajith Fernando:

“O que Jesus diz: deve ser levado a sério, pois quando ele fala, Deus fala. Suas palavras autenticam as suas reivindicações à divindade. O valor autenticador das palavras de Jesus acha-se em duas áreas. Primeiro: sua relevância e introspecção penetrante sugerem que quem está falando, não é uma pessoa comum, e que nela se acha a resposta de Deus aos problemas da vida. Existe atracção espantosa nos seus ensinos. Segundo: suas reivindicações a respeito de si mesmo nos deixam com a conclusão inescapável de que ele se considerava igual a Deus.[32]

Morris afirma que:

“A maioria dos homens, mesmo aqueles que rejeitam a Sua divindade, reconhece-o como o maior Mestre de todos os tempos.” [33]

VIII.            A IMPECABILIDADE DE CRISTO

Todos os homens – mesmo os grandes e os chamados homens santos – são pecadores (Rm 3.23), em algum grau, e admitem isso a menos que sejam loucos, para não o fazer. Mas o Senhor Jesus, único entre todos os homens que já viveu, nunca pecou, ​​seja por acção ou omissão, sempre fez exactamente o que era certo.

Isso foi reconhecido até mesmo por seus inimigos, os que traíram e O crucificaram (Mt 27.4; Lc 23.4). Geisler descreve que:

“Alguns dos inimigos de Cristo trouxeram falsas acusações contra ele, mas o veredicto de Pilatos foi o veredicto da história: “Não encontro motivo para acusar este homem” (Lc 23.4). Um soldado no Calvário concordou, dizendo: “Certamente este homem era justo” (Lc 23.47), e o ladrão na cruz ao lado de Jesus disse: “Mas este homem não cometeu nenhum mal” (Lc 23.41). Mas o verdadeiro teste e o que as pessoas mais próximas de Jesus disseram sobre seu carácter.”[34]

Seus amigos mais próximos, aqueles que o conheceram intimamente e observaram de perto suas acções, também reconheceram sua impecabilidade (At 10,38; 1 Pd 2.22; 1 Jo 2.2; 3.5). Geisler diz ainda que:

“Seus discípulos viveram e trabalharam bem próximos dele durante três anos, mas suas opiniões sobre ele não se tornaram negativas. Pedro chamou-o “cordeiro sem mancha e sem defeito” (l Pe 1.19) e acrescentou: “e nenhum engano foi encontrado em sua boca” (2.22). João chamou-o de “Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2.1; cf. 3.7). Paulo expressou a crença unanime da igreja primitiva de que Cristo “não tinha pecado” (2C0 5.21), e o autor de Hebreus diz que foi tentado como um homem, “porem sem pecado” (4.15).”[35]

Além disso, o próprio Cristo afirmou ser sem pecado (Lc 5,20-21, Jo 8,29, 46). Isso não era orgulho piedoso, mas simplesmente uma expressão da realidade. Ele exemplificou a pureza da vida (cf. Ef 5,1-4), o controlo perfeito de Suas palavras (Col 4,6), e o fruto do Espírito (Gálatas 5,22-23). Grudem sublinha que:

“Embora o NT afirme com clareza que Jesus era plenamente homem exactamente como nós somos, também afirma que ele era diferente em um aspecto importante: Jesus era sem pecado, e nunca pecou durante toda a sua vida.”[36]

Little nos diz que é também impressionante ver que João, Paulo e Pedro, todos ensinados desde a mais tenra infância a crerem na universalidade do pecado falaram sobre a inculpabilidade de Cristo: “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1 Pd. 2.22); “Nele não há pecado” (1 Jo 3.5); Jesus “não conheceu pecado” (2 Co 5.21).[37]

A união única do “Deus pleno” e homem perfeito em Jesus Cristo foi chamado por teólogos hipostática (união “substantiva”, o mistério é difícil de entender, excepto pela fé, mas os Seus milagres, os Seus ensinamentos, Sua vida, Sua morte, e Sua ressurreição são impossíveis de explicar de outra maneira.[38]

 IX.            A NOTÁVEL MORTE DE CRISTO

Todos os homens morrem, mas ninguém pode simplesmente volitivamente morrer e “entregar o espírito” (uma frase usada por todos os escritores dos quatro Evangelhos), como Jesus fez, quando todas as profecias bíblicas referentes Sua morte tinham sido finalmente cumprido (Jo 19,28-30), Sua cruz e sua morte foram intensamente cruel e hediondo, ainda que tenha sido incrivelmente magnético, atraindo homens e mulheres de todos os tempos, lugares e tipos para si mesmo, assim como Ele havia profetizado (Jo 12,32-33; Gl 6,14).[39]

O facto de Seu sepultamento também ter sido necessária uma forte autenticação, a fim de documentar que a sua morte foi uma morte física e Sua ressurreição fora uma ressurreição corporal. Preparações foram feitas de antemão por José de Arimateia e Nicodemos, com um sepulcro novo e jardim arranjado perto do local da crucificação, e com todas as roupas do enterro necessárias em mãos, para que Ele pudesse ser enterrado por mãos amorosas, logo que ele estava morto. Depois disso, as autoridades só controlava o acesso ao seu túmulo, enquanto Seu corpo estava lá. Consequentemente, ambos os Seus amigos e seus inimigos sabiam que Ele tinha de facto morrido e fora sepultado, para que pudessem mais tarde verificar sua ressurreição corporal.[40]

    X.            A RESSURREIÇÃO DE CRISTO

O nascimento, a morte e a ressurreição de Jesus foram os acontecimentos mais importantes da história da humanidade: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15.3,4). Tudo isso já estava previsto nas Escrituras pelos profetas. A morte de Jesus foi expiatória e seu sangue, Deus propôs para expiação de nossos pecados: “sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para a propiciação pela fé no seu sangue” (Rm 3.21,22). Isso significa que a morte de Jesus foi diferente, pois ele morreu em nosso lugar, pagando a nossa dívida para com Deus.[41] Little diz que:

“A suprema credencial de Jesus para autenticar a Sua pretensão à divindade foi o facto de ter ressuscitado dentre os mortos.”[42]

“Se a ressurreição aconteceu, não há dificuldade alguma com qualquer dos outros milagres.”[43]

Tim La Haye nos diz que:

Hoje, quase no vigésimo primeiro século da era cristã, nós temos uma decisão a tomar. A qual relato devemos dar crédito – ao das quinhentas testemunhas oculares que viveram naqueles dias, ou ao dos cépticos “eruditos” que viveram mil e setecentos anos depois dos acontecimentos? Se nossa decisão baseia-se na evidência e não meramente na aversão pelo sobrenatural, há somente uma escolha: Jesus de facto ressuscitou dentre os mortos[44].

Jesus mandou que na pregação do evangelho fosse anunciada a sua morte e ressurreição: “Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse e, ao terceiro dia, ressuscitasse dos mortos; e, em seu nome, se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24.46,47). Negar, pois, essa verdade é continuar no mesmo estado de pecado e miséria, e além disso, o Cristianismo não teria sentido: “E, se Cristo não ressuscitou é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos” (1 Co 15.17,18).[45]

Essa ressurreição é a vitória esmagadora sobre Satanás, o pecado, a morte e o inferno: “…fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1.18). Veja ainda 1 Coríntios 15.54-56. Ele ressuscitou para a nossa justificação, pois sem essa ressurreição não poderíamos ser justificados diante de Deus e assim estaríamos condenados: “o qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para a nossa justificação” (Rm 4.25). A ressurreição corporal de Jesus é um facto insofismável, foi o tema da pregação dos apóstolos e é a base da nossa salvação.[46]

 

CONCLUSÃO

Em conclusão vemos que Jesus não foi um mero líder revolucionário ou um simples fundador de uma nova religião. Ele não tinha nenhum treinamento formal rabínico (João 7:15). Ele possuía nenhuma riqueza material (Lucas 9:58, 2 Coríntios 8:9). No entanto, Jesus fez afirmações que só um Deus poderia dizer, seus discípulos afirmaram que Jesus era Deus. O nascimento de Jesus foi sem igual, seus milagres provaram a sua divindade. Por meio de seus ensinamentos, ele virou o mundo de cabeça para baixo (Actos 17:6). Claramente Jesus não cometeu pecado algum. Ele viveu e morreu, para redimir a humanidade caída. Ele deu a si mesmo em resgate (Mateus 20:28), como os documentos de prova, ele foi, e é, tanto o Filho do Homem e Filho de Deus. Ele é Deus, que antecede, e vai durar mais, o próprio tempo (Filipenses 2:5-11).

O resto do Novo Testamento retracta Jesus como divino. Ainda que a Bíblia ensine que Jesus era um ser humano, ela ensina que ele era muito mais do que isso. Ela atribui a ele a natureza essencial e carácter de divindade. Ela não ensina que ele deixou sua divindade quando veio à terra. Antes, ela ensina que Jesus tomou a natureza essencial de servidão; seu maior acto de serviço foi a dádiva de sua vida.

É isso que faz Jesus diferente, sua plena divindade. Nas demais religiões o que importa são os ensinos e não o mestre. No cristianismo o centro de tudo é a pessoa de Jesus Cristo.

A questão sobre a identidade de Jesus não terminará tão cedo. Questões recentes sobre Jesus têm renovado muito da discussão. Seja qual for a posição com que se termine, ela será aceite através de algum processo de “fé”. Isto é inevitável. A questão permanece, contudo, sobre qual “é” a mais razoável. Baseado em considerações bíblicas, históricas e outras, eu escolhi crer que Jesus foi, e ainda é, Deus. Ele nunca pode ser menos do que isso.

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

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[1] LOUW e NIDA. Greek-English Lexicon of the New Testament Based on Semantic Domains, p. 137

[2] Ibid, p. 140

[3] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, p. 91

[4] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2116

[5] GEISLER, Norman. Enciclopédia de apologética, p. 203

[6] ROGERS, Adrian. Creia em Milagres, mas Confie em Jesus, p. 124

[7] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2114

[8] Ibid, p. 2115

[9] Ibid, p. 2115

[10] GRUDEM, Wayne. Manual de Doutrinas Cristãs, pp. 109-110

[11] MCDOWELL e LARSON. JESUS: Uma defesa Bíblica da sua divindade, p. 64

[12] MCDOWELL e STEWART. Respostas àquelas perguntas, p.55

[13] STROBEL, Lee. Em defesa de Cristo, pp. 210-211

[14] GEISLER, Norman e BOCHINO, Peter. Fundamentos Inabaláveis, pp. 331,332

[15] LA HAYE, Tim. Um Homem Chamado Jesus, pp. 90-91

[16] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, p. 64

[17] GEISLER & TUREK. Não tenho fé suficiente para ser ateu, p. 354.

[18] MCDOWELL, Josh. Mais que um carpinteiro, p. 14.

[19] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, pp. 53,54

[20] MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica, p. 405

[21] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, pp. 73-77

[22] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, pp. 73-77

[23] Ibid, p. 73-77

[24] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, pp, 73-77

[25] MCDOWELL, Josh., Evidência que Exige um Veredicto, p. 131

[26] GRUDEM, Wayne. Manual de Doutrinas Cristã, p. 249

[27] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2116

[28] LA HAYE, Tim. Um Homem Chamado Jesus, p. 71

[29] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2116

[30] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, p. 68

[31] CRAIG, William Lane. Apologética contemporânea, p. 287

[32] FERNANDO, Ajith. A Supremacia de Cristo, p. 37

[33] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2116

[34] GEISLER, Norman. Enciclopédia de apologética, p. 208

[35] Ibid, p. 208

[36] GRUDEM, Wayne. Manual de Doutrinas Cristãs, p. 252

[37] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, pp. 67,68

[38] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible, p. 2116

[39] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible, p. 2116

[40] Ibid, p. 2116

[41] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, p. 92

[42] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, p. 69

[43] Ibid, p. 69

[44] LA HAYE, Tim. Um Homem Chamado Jesus, p. 295

[45]SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, pp. 92-93

[46] Ibid, pp. 92-93

Provas da Ressurreição de Cristo

PROVAS DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

David Pinto

 

Introdução

RessurreiçãoNo âmbito da cadeira de Apologética, do 3º ano do curso em regime presencial do Monte Esperança – Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, foi proposto, aos alunos, um trabalho individual sobre um dos temas da disciplina.

O tema escolhido para esta monografia é “A ressurreição de Cristo”.

O desafio será explicar o conceito da ressurreição de Cristo; se esta, efectivamente, aconteceu; e quais as provas verosímeis de tal acontecimento. Serão expostas as teorias contra a ressurreição de Cristo e quais as implicações de crer ou não crer neste facto.

Serão usadas, como pano de fundo, citações bíblicas, assim como referências bibliográficas de livros de referência sobre a matéria.

A ressurreição de Jesus é o clímax das boas novas da salvação. É uma doutrina basilar do cristianismo. Todas as outras estão-lhe inseparavelmente ligadas.

Não existe outra doutrina que seja tão atacada e negada como a da ressurreição. E isso acontece por algum motivo. Sem Cristo vivo, não há cristianismo verdadeiro. Se Cristo, ainda hoje, estivesse no túmulo, o plano da redenção apresentado pelos cristãos não faria qualquer sentido.

O cristianismo é o único pensamento que se pode vangloriar de anunciar um autor vivo. Nenhuma religião consegue afirmar o mesmo.

 

“…se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é inútil e a vossa fé é inútil…”

I Coríntios 15.14, in “A Bíblia para todos”

 

I. As teorias contra a ressurreição

Ao longo dos séculos, foram várias as teorias que surgiram, para tentar desacreditar o acto da ressurreição de Cristo. Das mais rocambolescas às mais sérias, todas falham em algum ponto de argumentação. Abordaremos as mais relevantes e usadas, no decorrer da história.

 

Teoria do roubo

A mais antiga tentativa de descartar a ressurreição de Cristo afirmava que o corpo de Jesus fora roubado. Aliás, a própria Bíblia aborda essa teoria. Os líderes judeus subornaram os guardas romanos, para dizer que o corpo de Jesus fora levado pelos discípulos, enquanto os soldados dormiam (Mateus 28.11-15).

Ainda hoje, algumas pessoas defendem esta teoria, dividindo-a em duas hipóteses: ou os discípulos levavram o corpo, ou foram os inimigos de Cristo a fazê-lo.

Em relação à teoria de que foram os discípulos, o interessante é que a hipótese é tão incorrecta que a preocupação do relator do facto, na Bíblia (Mateus), em refutá-la é nula. Como Paul Little afirma: “que juiz lhe daria ouvidos se você dissesse que, enquanto dormia, o seu vizinho entrou em sua casa e roubou o seu aparelho de televisão? Quem sabe o que acontece enquanto se está dormindo? Um testemunho como esse seria ridicularizado em qualquer tribunal.”[1] Se os soldados estivessem, realmente, a dormir, não saberiam quem levou o corpo.

A propósito do sono dos soldados, este apresenta-se como outro contra desta teoria. O castigo para o facto de um soldado dormir, no cumprimento do dever, era a morte. Dormiriam então todos? Além disso, mesmo estando todos a dormir, não acordariam com o barulho da pedra a rolar?

Mais, a teoria do roubo faz dos discípulos mentirosos e um pouco ingénuos. Sofreriam e morreriam estes homens, dedicariam uma vida inteira, por algo que sabiam ser mentira? Craig ironiza[2], no seu livro “Em Guarda”, um possível delinear de plano dos discípulos, de todas as formas, ridículo:

Ok, eis o plano: roubamos o corpo e escondemo-lo num canto qualquer. Depois, voltamos e contamos uma história que, provavelmente, fará com que sejamos mortos. Quem alinha?

O plano teria sido tão brilhantemente orquestrado que os discípulos até inventaram aparições. Mas, como se explicam essas aparições, testemunhadas pelos discípulos, se o corpo foi roubado? Little afirma que custa mais aceitar que os discípulos eram “refinados mentirosos ou loucos iludidos”, do que crer na ressurreição[3].

Candler coloca a questão noutros termos. Se Jesus ficou morto, que motivação teriam os discípulos para empreender a missão que levaram a cabo nos anos subsequentes e que foi o alicerce da Igreja que hoje conhecemos? O autor pergunta: “Se os discípulos guardaram o corpo de Jesus até se decompor, como todos os outros, de onde teria surgido a fé (…) o valor que os animava? Como se explicaria o seu zelo? (…) Qual teria sido a fonte de poder que lhes permitiu estabelecer igrejas em Jerusalém, Antioquia, Corinto, Galácia, Macedónia (…) e Roma? Será que uma fraude consciente conseguiria dar ânimo e vigor aos discípulos, a ponto de as suas aptidões naturais se converterem em poderes quase infinitos[4]?

Craig afirma que a teoria do roubo (por parte dos discípulos, inventando que Jesus ressuscitou) é implausível, porque é vista através do espelho retrovisor da história cristã, em vez de ser vista através dos olhos de um judeu do primeiro século. Um judeu não tinha qualquer expectativa de um Messias que fosse vergonhosamente executado pelos gentios como um criminoso. Além disso, a ideia da ressurreição não fazia parte das concepção do Messias, até porque não se supunha que o Messias morresse. Mais, era impossível um discípulo orquestrar a ideia de uma ressurreição, porque a noção de ressurreição era inaceitável na época. O autor explica que, nos dias de Jesus, ressurreição não significava vida após a morte, de uma forma desencarnada, ou imortalidade da alma, numa outra dimensão. Ressurreição era a reversão da morte, a restauração do corpo para uma forma de imortalidade. Um corpo diferente, é certo, mas nunca uma alma ou um espírito. Muitos pagãos acreditavam na vida desencarnada depois da morte, mas consideravam a ressurreição impossível. Alguns judeus (não todos) esperavam a ressurreição dos justos no último dia, mas nunca antes disso[5].

Concluindo, um judeu do primeiro século que visse o seu Messias morto, tinha uma de duas hipóteses: ou ia para casa, envergonhado, ou escolhia outro Messias[6].

Outra hipótese era os próprios inimigos de Jesus terem levado o corpo. Sobre isso, Josh McDowell cita E. F. Kevan e afirma: “os inimigos de Jesus não tinham motivo para remover o corpo. Os amigos não tinham poder para fazê-lo. Seria vantajoso para as autoridades que o corpo permanecesse onde estava. A ideia de que os discípulos roubaram o corpo é impossível. O poder que removeu o corpo do Salvador da sepultura deve, portanto, ter sido divino”.

 

Teoria do desmaio

Esta teoria é de construção recente. Começou a ser enunciada no séc. XVIII, afirmando que Cristo realmente não morreu na cruz. Pareceu morto, mas apenas tinha desmaiado, em consequência da exaustão, dor e perda de sangue. Reviveu quando foi deixado na sepultura fresca. Depois de sair da sepultura, apareceu aos discipulos que erroneamente o julgaram ressuscitado dos mortos. Segundo Max Anders[7], todos os registos antigos são enfáticos acerca da morte de Jesus. Nenhum dos ataques antigos ao cristianismo duvidava do facto de Jesus ter sucumbido na cruz. A Bíblia afirma, até, que Jesus morreu antes de ser retirado da cruz. Ainda assim, para certificar-se melhor, um dos algozes enfiou-lhe uma lança no lado, de onde escorreu sangue e água, sinal claro de morte[8].

Mesmo que este algoz se tivesse enganado e Jesus tivesse sido sepultado vivo, que probabilidade teria, com todos os ferimentos a que foi sujeito (chicoteado, rasgado, espancado, pregado, com perda de sangue abundante), de suportar 36 horas numa sepultura fria, sem comer, nem beber, sem cuidados médicos, com lençóis mortuários de quase trinta quilos em cima do corpo? Como teria Ele força para se libertar dos lençóis, rolar a pedra, desfeitear soldados romanos especializados e ainda caminhar vários quilómetros? Seria mais fácil ressuscitar! David Strauss, o céptico que criou a teoria da alucinação, afirmou que era impossível a uma pessoa nestas condições afirmar ser o Príncipe da Vida.

Craig cita Josefo para afirmar que uma experiência foi feita, entre os romanos, para ver quanto tempo sobreviveria um homem crucificado, se retirado da cruz, antes de morrer. A maioria das cobaias morreu mal chegou aos braços de quem os tirou da cruz. Os restantes morreriam pouco tempo depois, mesmo com os melhores cuidados médicos possíveis da época[9].

 

Teoria da alucinação

Enunciada pelo céptico austríaco David Strauss, afirma que os discípulos sentiram tanto a falta do seu mestre, que começaram a imaginar tê-lo visto e ouvido. Ou seja, os discípulos experimentaram alucinações, visões ou ilusões, algo subjectivo, fruto das suas mentes perturbadas pela morte de Cristo.

Aceitar esta teoria seria aceitar uma alucinação colectiva de pessoas com personalidades, background e estatutos muito diferentes. Cristo apareceu a mais de 500 pessoas[10], muitas delas viveram no tempo do apóstolo Paulo e confirmaram esse facto. Como é que 500 pessoas tiveram, exactamente, a mesma alucinação?

Medicamente, as alucinações acontecem a pessoas de imaginação fértil e com problemas de nervos. Além disso, ocorrem tipicamente em momentos e lugares particulares, associados aos factos imaginados. No entanto, Cristo apareceu em lugares que nada diziam aos discípulos: Emaús, uma montanha na Galiléia, etc.

Além disso, Craig afirma que era impossível os discípulos alucinarem sobre conceitos que não tinham, porque a ressurreição não fazia parte da concepção judaica, mas sim o arrebatamento em vida[11].

John Stott, citado por Anders[12], afirma que as alucinações fariam sentido se os discípulos tivessem esperança de ver Jesus, mas nem isso acontecia. A descrença invadiu os seus corações, mesmo depois de ver Jesus ressuscitado.

Apesar de leigos, os discípulos seriam inteligentes o suficiente para não alicerçar a sua vida em alucinações, fábulas (II Pedro 1.16), mitos (I Timóteo 1.4), ou seja, algo que não fosse real e palpável, com o seu apogeu em Tomé[13]. Sobre este argumento, Candler pergunta: “Quando é que uma alucinação chega a estimular a fé, a elevar a virtude e a conquistar o mundo”?[14]

Paul Little vai mais longe, ao afirmar, em relação à teoria da alucinação, que a sua aceitação implica “ignorar-se por completo as evidências”[15] da ressurreição, o testemunho dos discípulos e as suas implicações.

 

Teoria da troca de túmulo

Existe ainda a teoria da troca de túmulo. O corpo de Jesus teria sido, inicialmente, colocado no sepulcro de José de Arimatéia, mas o nobre teria mudado de ideias e trocado o corpo de Jesus para uma vala comum. Os discipulos, não avisados do facto, ao ver o sepulcro vazio, inferiram a ressurreição do Mestre.

Craig afirma que, se tal aconteceu, porque é que ninguém corrigiu os discípulos quando estes começaram a anunciar publicamente que Jesus tinha ressuscitado? Além disso, a lei judaica não permitia a troca de sepulturas, exumação ou violação de sepulturas[16]. Esta teoria está intimamente ligada à do “Complô da Páscoa”. Segundo esta teoria, Jesus aspirava ser o Messias e arquitectou um plano para o ser. O vinho misturado com vinagre teria uma droga que adormeceu Jesus que, em conluio, com José de Arimatéia, fugiria do sepulcro[17]. No entanto, a história correu mal por causa da lança e José de Arimatéia, de iniciativa própria, retirou o corpo do sepulcro para encenar a ressurreição, com a ajuda de um anónimo que fingiu ser Jesus ressurrecto.

O filósofo agnóstico australiano Peter Slezak, citado por Craig, contrapõe esta teoria, afirmando que, se Jesus era Deus, para um Deus capaz de criar todo o universo, a ressurreição era uma coisa fácil. Não havia necessidade de orquestar um plano destes.

Para além destas teorias principais, existem ainda as teorias do túmulo errado (Jesus foi sepultado, por engano, noutro lugar ou os discípulos confundiram o túmulo); a teoria da lenda (a história da ressurreição é uma lenda, inventada anos mais tarde); e a da ressurreição espiritual (o corpo de Jesus decompôs e Ele apenas ressuscitou espiritualmente).

 

II. As evidências da ressurreição

William Lane Craig apresenta três evidências introdutórias para a ressurreição: o sepulcro vazio, as aparições (corpóreas e físicas) de Jesus e a convicção dos discípulos. Além disso, afirma que, ao contrário do que seria de esperar, esta não é uma posição conservadora ou evangélica, mas é um facto assumido pela maioria dos críticos neo-testamentários, que aceitam estas três provas, com naturalidade.[18] Estas três evidências interligam-se com os testemunhos da ressurreição, a saber, testemunho histórico, escrito e pessoal.

 

Testemunho histórico

Para começar, se o relato do sepultamento é preciso, as pessoas da época sabiam onde era o sepulcro e poderiam confirmar se as palavras dos discípulos, afirmando que Jesus ressuscitara, eram correctas ou não. O próprio facto de as autoridades preferirem perseguir os cristãos em vez de mostrar, pelo sepulcro, que Jesus estava morto, revela que o sepulcro estava vazio e que o corpo desaparecera.

O túmulo vazio, é segundo McDowell, um facto histórico documentado[19] e prova da ressurreição de Cristo. O autor afirma, ainda, que nunca encontrou algo com tantos testemunhos positivos históricos, literários e legais para sustentar a sua validade. Professores catedráticos, políticos, historiadores, juízes por todo o mundo reconhecem a validade histórica dos relatos bíblicos sobre a ressurreição.

Paul Little[20] cita o cónego Westcott para afirmar que “reunindo todas as provas, não é demais dizer que não há qualquer acontecimento histórico com melhor ou mais variado apoio do que a ressurreição de Cristo”. O autor afirma que “nada, a não ser a prévia admissão de que devia ser falsa (a ressurreição), poderia ter sugerido a ideia de insuficiência de provas que a atestam”.

 

Testemunho escrito

Seria uma saída fácil argumentar que a Bíblia não pode servir como testemunho escrito da ressurreição, por ser tendenciosa. A verdade, no entanto, é que os documentos do Novo Testamento são, de longe, os mais autênticos desde a antiguidade, no que diz respeito a números de exemplares existentes e a tempo decorrido entre as cópias mais antigas e os manuscritos originais. Max Anders, citando, Sir Frederic Kenyon, ex-director do Museu Britânico afirma que “tanto a autenticade, como a integridade, de modo geral, dos livros do Novo Testamento, podem ser consideradas definitivamente comprovadas”[21]. Josh McDowell, em “Evidência que exige um Veredicto”, era capaz de provar 14 mil manuscritos do Novo Testamento. Em “Evidências da Ressurreição de Cristo”, já era capaz de provar 24,633[22].

McDowell cita F.F.Bruce, que afirma: “a evidência dos textos do Novo Testamento é muito maior do que muitas obras de autores clássicos, cuja autenticidade ninguém sonha em questionar”. Além disso, o autor de comentários bíblicos diz que “se o Novo Testamento fosse uma colecção de escritos scculares, sua autenticidade de modo geral seria considerada fora de qualquer dúvida”.

Josh McDowell cita ainda Clark Pinnock: “Não existe outro documento no mundo antigo, assim autenticado por um grupo tão excelente de testemunhas textuais e históricas, apresentando uma colecção tão extraordinária de datas e factos, que nos permita tomar uma decisão inteligente. Uma pessoa honesta não pode recusar uma fonte desta natureza. O ceticismo, em relação às evidências históricas do cristianismo, está baseado num preconceito irracional”[23].

Sendo assim, a Bíblia afirma que havia provas suficientes para a ressurreição de Cristo. Em Atos 1.3, Lucas diz a Teófilo que Jesus se apresentou aos discípulos, com “provas incontestáveis”. De Haan afirma que esta é mais do que uma afirmação histórica. É um desafio a todos os críticos que haveriam, posteriormente, de negar o sentido literal da ressurreição corpórea de Jesus. Lucas, não um indivíduo qualquer, mas um médico culto, e conhecido por ser meticuloso, afirma que Jesus estava vivo, fora visto por um grande número de pessoas e que a ressurreição podia ser confirmada com provas incontestáveis. E Lucas di-lo, não muitos anos depois, mas quando essas mesmas testemunhas oculares ainda eram vivas e o poderiam contradizer. As palavras de Lucas não sofreram qualquer objecção entre a sociedade daquele tempo, porque ninguém conseguia negar o facto[24].

Pedro, perante os seus pares, numa grande multidão, afirmou que, ao Jesus que os judeus tinham morto, na cruz, “…Deus o ressuscitou”, sendo que ele e os demais discípulos eram “testemunhas” desse facto (Actos 2.32).

Craig afirma que, se o testemunho da ressurreição fosse uma invenção, não teriam os autores da Bíblia se preocupado em não colocar mulheres como testemunhas, visto o seu testemunho ser considerado nulo, pelas autoridades, devido ao status social das mulheres?[25]

Além disso, existem outros materiais históricos que dão apoio ao testemunho intrínseco das Escrituras. O exame cuidado da literatura criada na mesma época da Bíblia confirma a veracidade histórica das narrativas do Novo Testamento. Anders refere o testemunho do arqueólogo Sir William M. Ramsay de que “a história de Lucas é incomparável no que diz respeito à sua veracidade”. Anders também cita A.M. Sherwin-White, que afirmou sobre Actos que “qualquer tentativa de rejeitar a sua historicidade básica até mesmo em questões de detalhes deve agora parecer absurda”[26].

William Lane Craig afirma que existem fontes independentes que narram o sepultamento de Jesus, além da Bíblia[27]. O sepultamento de Jesus é um facto escrito consumado e que liga directamente à Sua ressurreição.

 

Testemunho pessoal

Frank Morrison, advogado britânico dos anos 30, considerava a ressurreição de Cristo uma fábula para criança. Decidido a desmascarar a lenda de um Jesus ressurrecto, começou a investigar. A sua investigação culminou na obra “Who Moved the Stone?”, um testemunho da sua própria conversão a Cristo, depois de chegar à conclusão que a Sua ressurreição era inegável.

Neste livro, Morrison usa[28] os exemplos de Pedro, Tiago (irmão de Jesus) e Paulo como testemunhas pessoais fundamentais acerca da ressurreição.

O autor pergunta como é que alguém a quem Jesus chamou Satanás, que o Mestre descobriu que o iria trair, um discípulo que fugiu na hora da verdade, poderia se ter tornado um dos líderes do movimento focado em Cristo, ao ponto de sofrer abundantemente por isso e inclusive, segundo a tradição, morrer executado por causa dessa fé? Teria de ser porque viu e experimentou o Cristo ressuscitado. E, mesmo aqueles que dizem que a sua personalidade intempestiva, que faz e fala antes de pensar, poderia explicar os seus actos que o levaram a sofrer por uma causa aparentemente inútil, têm de admitir que Pedro não passava de um pescador. Seria pouco inteligente, com pouca ou nenhuma capacidade de estratégia, de gestão de recursos humanos e, obviamente, nenhum poder de feitiçaria, medicina, ou algo semelhante, para realizar os sermões que realizava, operar os milagres que operou e gerir a igreja que geriu. Este Pedro, admitiu, no seu primeiro discurso, que Deus ressuscitou Jesus dos mortos e o fez Senhor e Cristo.

Quanto a Tiago, é o próprio Josefo que escreve que o irmão de Jesus foi morto à pedrada por defender a fé cristã. O mesmo Tiago que negou a divindade de Jesus, antes da Sua morte, rejeitou os Seus feitos e o ostracizou. Como é que este homem, frio e hostil perante Jesus, que parecia odeiar aquele que vinha da mesma mãe, se tornou conhecido por todos como o “irmão de Jesus”, uma das figuras principais da igreja em Jerusalém (Actos 15 e 21) e que sofreu, até à morte pela Sua causa?

Craig, citando Hans Grass, feroz crítico do Novo Testamento, afirma que a conversão de Tiago é uma das provas mais irrefutáveis da ressurreição de Cristo[29].

Diz-se que os cristãos escreveram, no seu túmulo, “este foi uma verdadeira testemunha, tanto para judeus como para gregos, que Jesus é o Cristo”. Testemunho mais imparcial do que este, só um, o de Paulo. Como é que um fanático pela religião judaica, que moveu tudo o que podia e que com todas as suas forças lutou para que a recém-criada seita cristã fosse aniquilada, ao ponto de mandar matar, sem apelo nem agravo, se tornou no maior arauto, defensor e continuador da causa do carpinteiro nazareno?

 

III. Argumentos da ressurreição

Para este ponto, usaremos os sete argumentos de De Haan a favor da ressurreição[30]: lógica, coerência, psicologia, filosofia, história, experiência, autoridade.

No primeiro, Haan afirma que a vida de Jesus (irrepreensível e exemplar) e o Seu legado mostram, logicamente, de forma conclusiva, que a morte não marcou o seu fim.

O argumento seguinte mostra que era absolutamente incoerente aceitar relatos históricos de fontes menos confiáveis e não aceitar os testemunhos oculares da ressurreição de Cristo. Além disso, se os divulgadores da informação da ressurreição de Cristo foram fidedignos no que toca a relatos de outros assuntos, sendo exactos em todos os aspectos, porque abrir uma excepção no caso da ressurreição? Provas arqueológicas mostram que os autores bíblicos foram precisos no que toca a localizações geográficas, informações históricas e aspectos culturais. Logicamente, não mentiriam no que toca a Jesus ter permanecido morto. Se admitirmos que tudo não passou de um plano maquiavélico, então necessitamos admitir que toda a História pode estar errada, caso historiadores e relatadores tomassem a mesma atitude.

Mais do que isso, o argumento psicológico, de que a verdade da ressurreição mudou vidas de milhões de pessoas, ao longo dos séculos, deve pesar e muito. Basta começar pela postura dos discípulos antes e depois de Jesus morrer. Os medrosos, incrédulos e desconfiados doze, quando Jesus estava lá, tornaram-se intrépidos, corajosos e convictos apóstolos, depois de Jesus morrer. Paulo e os irmãos de Jesus são outros exemplos da transformação operada pela verdade da ressurreição.

O argumento histórico aborda o que se passou ao longo dos seguintes 2000 anos, com o mundo, com a igreja, com as pessoas, e a influência de Jesus em todas as coisas. De Haan afirma que “seria difícil um morto” ou “um louco” ter esta influência. Mas um vivo não. Já o argumento da experiência mostra que, quem experimenta o Cristo ressuscitado, sabe que Ele ressuscitou. Paul Little aborda o mesmo assunto, apelidando-o de “prova contemporânea e pessoal da ressurreição”.

Finalmente, o argumento da autoridade. De Haan afirma que, se a Bíblia, a palavra de Deus, que Deus guardou ao longo de milhares de anos, afirma que Jesus ressuscitou, a autoridade bíblica não deve ser desprezada.

 

IV. As implicações da ressurreição

É fundamental afirmar a importância da ressurreição em todo o pensamento cristão. Ela é o clímax do cristianismo. Sem ela, o cristianismo seria mais um religião. Sem ela, o cristianismo não teria chegado aos nossos dias. Anísio Batista Dantas afirma que uma fé cristã não firmada na ressurreição de Cristo não pode ser chamada fé e muito menos cristã[31].

É no inter-relacionamento entre morte, ressurreição e segunda vinda que se manifesta a esperança do crente salvo.

Além disso, há promessas de Deus ricas para o crente que só são válidas por causa da ressurreição. A ressurreição não encerrou as promessas referentes a Cristo e aos seus. A derradeira delas é fazer dos crentes participantes dessa mesma ressurreição, no fim dos tempos. Dantas afirma que o crente espera ressuscitar e ascender aos céus, tal como Cristo fez[32].

A ressurreição de Cristo dá significado a toda a história da redenção, a todo o plano de Deus, a toda a Bíblia. Sem ressurreição, o nascimento de Cristo não teria significado, os seus esforços teriam sido inutéis, a sua morte teria sido uma derrota, uma tragédia infrutífera.

De Haan afirma que o símbolo do cristianismo não deveria ser uma cruz, mas um túmulo vazio[33], tal a importância da ressurreição no plano redentor de Deus. A morte vicária de Cristo é, aliás, apenas uma parte do plano. De Haan afirma que “a cruz, sozinha, não pode salvar ninguém”[34]. O clímax do Evangelho reside no facto de que Jesus não apenas morreu, mas ressuscitou, provando a eficação do seu sacrifício. A ressurreição é a prova que todos os pecados foram expiados na cruz. Ressuscitando, Jesus provou que a obra de Deus para salvação do Homem ficou completa e que o ser humano tinha um caminho aberto (o próprio Jesus, mediador) para se reconciliar com o seu Criador. A morte de Cristo apenas serviria para nos livrar do inferno, mas não nos levava para o Céu. É a ressurreição que possibilita a comunhão com Deus.

A origem do cristianismo, segundo Craig, depende da crença dos primeiros discípulos de que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos. Essa ressurreição reverteu a catásfrofe da crucificação e fez de Jesus o Messias profetizado nos escritos antigos, capaz de salvar e reinar.

Candler cita Bushnell para dizer que “o mundo está mudado e já não é como era, não voltou a ser o mesmo que era, desde que Jesus” subiu ao céu. “O ambiente está impregnado de aroma celestial e em suas brisas se percebe algo de outros mundos”[35].

 

Conclusão

A ressurreição de Cristo é um facto inegável da história do mundo, decisor para o futuro da humanidade, e transformador para o dia-a-dia.

Torna-se claro que os discipulos não roubaram (não arriscaram a morte por um vivo, quanto mais por um morto),  os inimigos não levaram (interessava que Jesus estivesse sepultado) e os animais não comeram (os soldados morreriam se deixassem) o corpo. A alucinação não existiu e os testemunhos são verdadeiros. Ele, de facto, morreu e ressuscitou. E a história não terminou aí.

Jesus nunca escreveu um livro. No entanto, o acervo de todos os livros por Ele inspirados, referentes à sua vida, morte e ressurreição, é maior do que todos os outros juntos. Jesus nunca fundou uma escola. No entanto, tem sido de inspiração de conquista em todos os níveis de conhecimento e na civilização. A Sua influência fez com que as nações se desenvolvessem. Jesus nunca escreveu uma canção. Mas, milhões de seres humanos criam e cantam as mais belas canções em homenagem a Ele[36].

A mensagem do cristianismo é a mensagem de um Salvador ressurrecto. Este ponto faz do cristianismo único, algo não incluído entre as religiões do mundo. O cristianismo não é uma religião, mas uma pessoa viva: Cristo.

Não somos capazes de avaliar, na totalidade, os efeitos da ressureição de Jesus, mas sabemos que a via da prova da sua ressurreição, pela experiência, está aberta a qualquer pessoa. Se Jesus ressuscitou, está vivo hoje, pronto a encher e transformar aqueles que o convidam a entrar nas suas vidas.

Em suma, a importância da ressurreição resume-se a isso mesmo. Duas palavras apenas: vidas transformadas.

“Se, com a tua boca, confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.

Romanos 10.9

 

Bibliografia

 

ANDERS, Max. Jesus em 12 lições. Editora Vida. São Paulo, 1990.

CANDLER, Warren A. Verdade ou Mito – Evidências do Cristianismo. Comissão Central de Literatura. Teresópolis, 1961.

CRAIG, William Lane. Em Guarda. Vida Nova. São Paulo, 2011.

DANTAS, Anísio Batista. A Ressurreição de Jesus Cristo. CPAD. Rio de Janeiro, 1992.

DE HAAN, M.R. O Túmulo Vazio. Imprensa Batista Regular. São Paulo, 1992.

LITTLE, Paul E. Saiba o que você crê. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 1991.

MCDOWELL, Josh. As Evidências da Ressurreição de Cristo. Editora Candeia. São Paulo, 1994.

MCDOWELL, Josh. Evidência que exige um veredicto. Editora Candeia. São Paulo, 1989.

MORRISON, Frank. Who moved the stone? Faber Editions. Londres, 1965.


[1] LITTLE, p. 73.

[2] CRAIG, p. 273.

[3] LITTLE, p. 73.

[4] CANDLER, p. 98.

[5] CRAIG, p. 244.

[6] CRAIG, p. 274.

[7] ANDERS, p. 189.

[8] João 19.33-34.

[9] CRAIG, p. 279.

[10] I Coríntios 15.6.

[11] CRAIG, p. 283.

[12] ANDERS, p. 190.

[13] “Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei”. – João 20.

[14] CANDLER, p. 99.

[15] LITTLE, p. 78.

[16] CRAIG, p. 281.

[17] MCDOWELL, p. 112.

[18] CRAIG, p. 269.

[19] MCDOWELL, p. 120.

[20] LITTLE, p. 79.

[21] ANDERS, p. 192.

[22] MCDOWELL, p. 44.

[23] MCDOWELL, p. 23.

[24] DE HAAN, p. 14.

[25] CRAIG, p. 252.

[26] ANDERS, p. 193.

[27] CRAIG, p. 246.

[28] MORRISON, p. 117.

[29] CRAIG, p. 260.

[30] DE HAAN, p. 18.

[31] DANTAS, p. 146.

[32] DANTAS, p. 148.

[33] DE HAAN, p. 8.

[34] DE HAAN, p.10.

[35] CANDLER, p. 99.

[36] DANTAS, p. 150.

O Evangelho do “coitadinho” não é o Evangelho de Jesus Cristo

O EVANGELHO DO “COITADINHO” NÃO É O EVANGELHO DE JESUS CRISTO 

ADbenfica cruz         Alguém que se confronta hoje consigo mesmo na evidência da necessidade profunda de conhecer Jesus Cristo, busca na sua Igreja a fonte para as respostas as suas múltiplas perguntas e procura ali perceber como acudir a esse premente anelo. Encara porém com uma pregação que apela à satisfação da necessidade imediata, do socorro pela angústia do tempo de hoje, sem o mais pequeno vislumbre da eternidade.

Ouvimos pregar um pobre evangelho que faz apelo à necessidade de saúde física, em Jesus encontrará a cura; um evangelho que faz apelo à necessidade material, em Jesus encontrará ajuda para receber emprego ou a resolução “mais ou menos mágica” para os seus problemas financeiros; ouvimos até um evangelho que faz apelo à necessidade de libertação das drogas ou de outro vício, em Jesus encontrará a libertação dessa prisão.

A Igreja ouve o Cristo que clama “Vinde a mim todos vós que estais cansados e oprimidos” e a esse prega, mas não ouve, e parece mesmo não conhecer, o Cristo que grita “arrependei-vos”. Não se prega mais o arrependimento e o perdão de pecados. Não se prega mais a miséria da condição espiritual do homem. Não se prega mais que o inferno é o destino real das vidas sem Cristo.

A Cruz de Cristo parece confundir até a própria Igreja: vê na cruz o Cristo de braços abertos, mas parece não reparar que esses braços estão presos à cruz por trespassantes pregos. O Cristo da cruz está sacrificado, não está abraçando. O Cristo da cruz está pagando, não está recebendo.

O pior de tudo é que a pregação do “evangelho do coitadinho” produz muitos crentes, mas infelizmente não produz discípulos. Esses só nascem da pregação do Evangelho de Jesus, o evangelho que chama ao arrependimento, à percepção de que o mal maior da humanidade é a realidade do pecado, da desobediência, do afastamento propositado de Deus.

Este fenómeno revela uma Igreja rendida aos pés do hedonismo, secularizada, onde a necessidade humana, tantas vezes a simples necessidade, mais até do que o prazer, emana com gritante veemência, pulsando como porta evidente para a pregação do Evangelho. Porém de porta a Igreja tem tornado, essa mesma necessidade, na essência do Evangelho. Surpreende alguém que hoje em dia cada vez menos crentes saibam porque crêem em Deus e porque necessitam de salvação?!

Embora seja uma expressão triste e que realmente me incomoda um pouco, porque ao afirmá-la muitos lerão que se faz uma defesa do regresso a uma cultura antiga e desadequada – para além de profundamente não bíblica – de Igreja, a verdade é que a Igreja necessita voltar aos fundamentos antigos do Evangelho pregado pela primitiva Ecclesia.

A comunidade cristã vivia em comunhão, em união, percebendo a sua perseguição e rejeição, entenderam que só sobreviveriam em conjunto, daí o insistente ensino de Jesus, comparando os filhos de Deus a ovelhas, um animal de rebanho, porque só se consegue manter no Caminho quem faz parte do rebanho. Essa mesma primitiva Igreja não acenava ao mundo com a promessa de curas, de realizações financeiras, de conquistas impressionantes. Pobres cristãos primitivos nas mãos das novas teologias e deste novo evangelho do “coitadinho”: eram pobres, perseguidos, mortos e torturados pela sua crença, pela sua fé, pela sua confiança. Seriam cristãos “pequeninos”! A sua pregação soaria a ridícula se eles dissessem pelas ruas que em Jesus, o povo, e cada um, encontraria a solução dos seus problemas; se aclamassem pelas cidades, vilas e aldeias que se alguém fosse a Jesus teria cura e a resolução de problemas pessoais, de família, etc., quando depois pelas ruas bem se sabia das perseguições e atentados contra a vida dos crentes. Qual seria então a pregação da Igreja primitiva, que tantas pessoas alcançou, que a tantos atraiu, apesar das perseguições e das dificuldades que trazia o facto de alguém se tornar cristão? A Igreja pregava o arrependimento, clamava:

Arrependei-vos, crede em Jesus, aquele que foi morto mas ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, buscai o Espírito Santo, vivei em amor e segui a santificação.

E esta é a essência do evangelho: o homem é culpado, cada um de nós é culpado de destronar Deus do centro das nossas vidas e de nos termos colocado a nós mesmos aí. Assim sendo essa culpa nos afasta irremediavelmente de Deus. Por muita bondade que de nós emane, que muita doçura escorra das nossas palavras e por muito bálsamo refrescante que sejam os nossos gestos, a realidade é que sempre estamos no centro das motivações do que de nós se levanta. Por isso, até aquilo que parece belo, perante Deus – que é puro e santo -, isso mesmo é sujo, é como um imundo e porco trapo. Nada nos resta, estamos mortos, separados da Vida.

Mas a ressurreição é possível, pelo arrependimento percebemos que estamos errados e nesse momento despimo-nos de nós mesmos, chutamos o eu para fora do trono da nossa vida e celebramos a entronização de um novo Rei em nós: Jesus Cristo, o Filho de Deus. E a vida ressurge, a ressurreição acontece.

Arrependimento, seguido de Fé em Jesus, entregando a vida, deixando-se e tomando a sua cruz, aí o homem encontra a salvação, encontra Deus, e este é o verdadeiro evangelho.

 

Sérgio Bernardo