“Ser é amar”. Esta é uma das frases que sintetizam o pensamento de Emmanuel Mounier, filósofo cristão no séc. XX. E em conjunto com esta ideia, Mounier aponta ainda mais algumas máximas que vieram formular o Personalismo.
Em conjunto com a prática do amor, Mounier defende que é quando o Homem se descentraliza de si mesmo, que então ama verdadeiramente o próximo e se abre às necessidades do próximo. A par deste amor e interesse, surge também a comunicação com o próximo. Uma atitude que leva a que o Homem não viva num isolamento egoísta, nem numa auto-diluição.
No entanto, aquilo que Mounier formula como pensamento, é-nos apresentado pelas Escrituras, nomeadamente no livro de Actos dos Apóstolos. Após o discurso pentecostal de Pedro, podemos ler em Actos 2:42-47 a forma primordial filosófica do Personalismo.
O v.42 menciona a participação colectiva dos crentes de Jerusalém no ensino apostólico, na união fraterna, no partir do pão e nas orações. Não só aquela comunidade procurava viver do modo comprometido o ensino que Jesus delegara aos apóstolos, como também se esforçava para viver de modo a transmitir Cristo no seu viver: uma união que ia desde a intimidade da oração e da participação na celebração conjunta ao amor simples. Aplicando a citação de Mounier ao conteúdo relatado por Lucas, a igreja de Jerusalém era uma comunidade em Cristo porque amava.
Era uma comunidade exemplar (com todos os seus defeitos e virtudes), que se abria à necessidade do próximo (v.44), que amava verdadeiramente e com amor cativante (v.47b) e que se descentralizava de si mesma (v.45). Tudo isto decorre não por mérito do ser humano em si, nem por qualquer formulação filosófica fantástica, mas pelo poder de Cristo, manifesto na acção do Espírito Santo, que é pregado e anunciado através do Evangelho.
Mounier não procurava descartar o indivíduo da sua responsabilidade de amar e de ser responsabilizado (ao contrário de Sartre que afirmava que ”o Inferno são os outros”). Ele releva a pessoa, tal como Cristo o faz ao valorizar o valor da vida humana (João 5:1-18), trazendo à Filosofia do séc. XX a raiz cristã do ágape. Mas tudo isto só foi possível a Mounier por que conheceu Cristo e é na Palavra Incarnada que ele bebe a sua estruturação do pensamento.
De facto, Jesus, não tendo qualquer pretensão em ser filósofo criou um cisma no pensamento judaico da época (sem nunca deixar de valorizar as Escrituras e a Lei). É Ele quem resgata da malha ritualista intrincada o valor do amor divino, é Ele quem recupera o verdadeiro sentido de sacrifício com a Cruz do Calvário. É em Cristo que encontramos a valorização máxima da pessoa! Aquele que é uma Pessoa da Trindade, valoriza a criatura enquanto pessoa mais do que enquanto indivíduo . Cristo personaliza o Homem através do Seu sacrifício e comunica com ele com base no Seu Evangelho. Jesus é Deus Feito Homem e vem suprir a necessidade humana de restauração (João 3:16, Romanos 3:23,24), vem valorizar aquilo que o pecado outrora desvirtuara: um relacionamento com o Pai e a importância da vida de cada um de nós.
É Ele que nos resgata da dependência do materialismo e nos faz viver na dependência do que não vemos mas confiamos (Hebreus 11:1), que nos afasta do egoísmo pessoal e nos ajunta em comunidade viva e santa (como a de Actos 2:42-47).
A sociedade idealizada por Mounier é a vivência correcta do Reino. Um local de paz, justiça e alegria no Espírito Santo (Romanos 14:174), habitado por quem vive à imagem e semelhança de Deus (Colossenses 2:6, 1ª João 2:6).
É na Pessoa Incarnada que Mounier bebe influência para personalizar o Homem. Não deixemos nós de beber d’Ele, fonte de água viva, de água viva e busquemos juntar a máxima do filósofo com o mandamento de Jesus: “Se tiverem amor uns aos outros, toda a gente reconhecerá que são meus discípulos” (João 13:35, BPT)