UMA VISÃO POÉTICA DO PENTECOSTES CRISTÃO EM T.S.ELIOT

JTP9Passadas quatro décadas da primeira leitura do longo poema “Quatro Quartetos”(1), cujo início das considerações poéticas sobre o tempo está aqui

“O tempo presente e o tempo passado / Estão ambos presentes no tempo futuro”,  do poeta anglo-americano T.S.Eliot (1888-1965), tive necessidade de o reler. Logo um conjunto de versos sobre os quais passei em 1974, eclodiu em revelação estética sobre uma maneira de ver e de relacionar, literariamente, a beleza do Fogo do Pentecostes.

Na estrofe primeira da parte 4 do poema, que começa com a invocação da primavera a nascer no meio ainda do inverno, isto é, do degelo, quando os dias são brilhantes pela luz do sol a reflectir no gelo ainda, o Poeta escreve nos  versos 9º e 10º:

 

 “ E um clarão mais intenso que a chama do ramo ou do braseiro

Agita o mudo espírito: não vento, mas fogo de Pentecostes”

 

Nestes dois versos, que podem parecer estranhos, exemplifica-se o esplendor do sol a aparentar ouro e fogo no brilho sobre os ramos dos arbustos, através da neve ainda prevalecente.

Numa crítica e análise literária académica, alguém escreveu em 1997, que  “o gelo e a neve brilham com a luz no início da tarde. A possibilidade é de o “fogo pentecostal” ser aqui uma renovação que não está aliada às coisas temporais.”

Numa outra leitura, podemos ler no “mudo espírito” o ambiente silencioso do Cenáculo, os apóstolos e discípulos mudos sob a pressão exterior das circunstâncias, mas, também, sob o silêncio da espera da Promessa, que agita o lugar e os homens, sem vento, senão o “vento impetuoso” transportador das línguas de fogo.

 

Na literatura judaica e cristã (grega), sendo certo que “Pentekoste” significa estritamente “o quinquagésimo dia”, semanticamente estende-se, no plano histórico-teológico, a uma festa e ao que ela representava então, cinquenta dias depois da Páscoa, igualmente a celebração das colheitas como algo novo, as primícias, que Deus dava ao Seu povo e, sobremaneira, uma renovação das bênçãos divinas.

Depois, com o Cristianismo e a Igreja desenvolveu-se uma significação final. Com efeito, a Narrativa do Pentecoste passou a ser teológica. “O Pentecoste significa, primeiramente, o derramamento do Espírito que Deus prometeu para os tempos do fim” ( 2 ),  como descrito no profeta Joel, no Velho Testamento, de um modo escatológico. 

Mas para entendermos o alcance do poema objecto deste artigo, temos de recorrer a alguns elementos do mesmo, desde logo o título que corresponde à 4ª e última parte acima referida.    

 

 

“Little Ridding”

O poeta americano Thomas Stearns Eliot, converteu-se ao anglicanismo quando se “expatriou” na Inglaterra, em 1927, e muitos dos seus poemas utilizam uma linguagem cristã valorizada por uma dicção poética distante dos “regionalismos”, um discurso poético que foi considerado “cosmopolita” pelos críticos do modernismo das primeira e segunda décadas do século XX.

 

T.S.Eliot inspirou-se no legado histórico e religioso da pequena aldeia inglesa Little Gidding, incorporando elementos e símbolos da mesma e da sua comunidade religiosa do século XVII  no seu longo poema.

Um elemento para a percepção do texto poético, está aqui. É talvez desde o século XVII que se realiza uma peregrinação de cinco quilómetros até ao centro da aldeia Little Gidding, no verão,  durante a qual se vai meditando e fazendo orações até atingir o túmulo de Nicholas Ferrar.

A verdade é que Ferrar fundou aí, sobretudo, uma comunidade religiosa de oração, em 1626, sob a palavra divina do apóstolo Paulo aos Tessalonicenses: “ Orai sem cessar” (I, 5,17).

 

Este clérigo anglicano é assim central na metáfora do fogo do Pentecostes, do renovar das disposições para a vida no espírito, o ouro antigo que o fogo transforma em novidade,  que o poeta anglo-americano usa no poema.

Durante a sua vida, depois de ter sido ordenado diácono anglicano, ele e sua família e alguns amigos aposentados radicaram-se em Little Gidding, Huntingdonshire, Inglaterra, a fim de se dedicarem a uma vida de oração, jejum e esmola, baseando-se nas palavras de Jesus descritas em Mateus 6: 2,5,16. 

A comunidade restaurou o imóvel da igreja abandonada. Passou a ensinar, não só dominicalmente,  as crianças da vizinhança, cuidava da saúde e bem-estar do povo do distrito. Levou os camponeses à leitura diária do Livro de Oração Comum (The Book of Common Prayer), leitura que incluía o Saltério completo.

Sabe-se, por registos históricos da época, que havia dia e noite, pelo menos um membro da comunidade ajoelhado em oração diante do altar, para que pudessem manter aquele imperativo epistolográfico para a Igreja em Tessalónica.

 

Finalmente, à medida que foi desenvolvendo o poema, Eliot foi sempre manifestando a metáfora do fogo e das línguas do mesmo, fosse com que sentido fosse. Resta-nos a beleza final desses três versos com que termina o livro, até porque se lê e interpreta hoje no “nó de fogo” uma referência simbólica à Santíssima Trindade num Único Deus:

 

“Quando as línguas de fogo estiverem abraçadas

No coroado nó de fogo

E o fogo e a rosa forem um só”

 

 

  1. “Quatro Quartetos”, Edições Ática, 1970; “Poesia de T.S.Eliot”, Editora Nova Fronteira, Rio, 1981. 
  2. “Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento” , Vol. III, Edições Vida Nova, São Paulo, 1985.

     

                                                                                

    © João Tomaz Parreira

SEM DERRAMAMENTO DE SANGUE

SamuelPinheiro 2Uma declaração crua e dura de Deus através da Sua Palavra e que é muito difícil para o nosso orgulho e para a banalidade com que lidamos e tratamos com o nosso próprio pecado, se é que pura e simplesmente o negamos. Aceitar o pecado, falar em pecado, enunciar pecados é careta, absurdo, patético, idiota. As personagens dos filmes, das telenovelas ou dos programas de entretenimento que fazem referências ao pecado são apresentadas de forma bizarra, anedótica, ridícula. Quem fala em pecado é visto de soslaio e porventura necessitado de tratamento psiquiátrico. Em boa verdade a religião e os beatos têm dado do pecado uma perspetiva pouco consistente. Pecado é muito mais do que os pecados, mas a condição humana do homem separado de Deus e que decidiu viver a partir da ciência do bem e do mal, em vez de viver na intimidade com Deus, no Seu amor e santidade. O homem não foi criado para viver a partir e em função de regras. Leis acabam por surgir da parte de Deus para orientar o homem na vontade de Deus e se desviar do erro, da mentira e do pecado. Mas a lei e o seu cumprimento não resolvem a situação humana, sendo que todos os homens sem exceção são pecadores e pecam.
Só que o Deus da Bíblia, que não é um deus fabricado pela imaginação e engenho do homem, que não é fruto de um determinado contexto cultural e religioso, mas o Deus único e verdadeiro, criador dos céus e da terra, e que se deu a conhecer pessoalmente vindo ao nosso encontro na pessoa de Jesus Cristo. Jesus Cristo é Deus entre nós. E Ele veio precisamente para dar cumprimento a essa determinação da própria essência e natureza de Deus. Não se trata de uma extravagância ou um rigor exagerado. Essa exigência não podia ser cumprida por qualquer criatura. Deus não o requereu de nenhum ser criado, de nenhum querubim, arcanjo ou anjo, de nenhum homem. Só o próprio Deus podia satisfazer essa exigência de Si mesmo. Aí se encontra concentrada toda a graça divina. Deus requer o que só Ele pode satisfazer, e Deus cumpre na plenitude essa exigência na cruz de Jesus Cristo.
Na nossa naturalidade, pela nossa própria cabeça, nos nossos conceitos e não cabe a exigência de Deus do derramamento de sangue para que o pecado seja removido. Aqui reside todo o escândalo e loucura do evangelho: “sem derramamento de sangue não há remissão.” (Hebreus 9:22). O pecado gera a morte que a morte substitutiva de Jesus e a Sua ressurreição venceram definitivamente para todos os que n’Ele creem.
Jesus não morre na cruz por causa da hipocrisia religiosa, da cobardia política dos romanos, da maldade da turba manipulada e porventura dececionada com um líder que não satisfaz os seus desejos de pão e de milagres, sem beliscar a sua maneira de ser e de estar. Jesus morre de livre e espontânea vontade, sujeitando-se à vontade do pai, que é a vontade da trindade divina desde antes da fundação do mundo e da criação do próprio homem, na omnisciência de Deus que cria o homem sabendo qual será a sua rebeldia futura.
Deus não trata o nosso pecado de forma frívola ou superficial. Não se trata de colocar um remendo na nossa natureza, de dar uma cobertura de verniz na nossa autoestima, de esconder as nossas mazelas e corrupção com alguns embutidos de boas obras. Deus não quer ser um polícia cósmico que exige a nossa obediência, o Legislador que determina o modo como devemos agir e determina as consequências das nossas asneiras, da maldade e da barbárie humana. Sabemos muito pouco do pecado que grassa no mundo. Morreríamos de repulsa perante as barbaridades que são cometidas contra bebés, crianças, mulheres e idosos. O sofrimento que atravessa toda a história é inenarrável. Ele está diante dos nossos olhos na medida suficiente para que tenhamos consciência da sua gravidade e do que significa o decreto divino consumado na cruz. Mas o problema do pecado não é o problema dos outros é o nosso próprio problema. Eu tenho de lidar com o meu próprio pecado e só em Jesus posso ser reconciliado com Deus e recuperar a minha identidade arruinada.
A Páscoa é precisamente a realização divina dessa decisão. Na cruz Jesus resolveu a questão do pecado, mostrou toda a malignidade que ele representa e triunfou sobre ele ressuscitando dos mortos. Só quando captamos esta dimensão da Páscoa é que estamos aptos para celebrar a vida que a ressurreição significa. Vida eterna, vida com abundância é o que temos em JESUS! Celebremos a vida eterna ainda do lado de cá da eternidade!

Samuel R. Pinheiro
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