UMA IGREJA REFORMADA SEMPRE EM REFORMA

UMA IGREJA REFORMADA SEMPRE EM REFORMA

2017out14 SRP Nazaré

O desvio da são doutrina espreita desde sempre o seguidor de Jesus e a Sua Igreja. É uma ameaça permanente que requer da parte do discípulo de Cristo uma atenção constante ao ensino que a Bíblia encerra.

Os perigos surgem pela parte de fora e por dentro, tanto da influência que o meio envolvente e as suas ideologias procura infiltrar, como pela apetência humana para os absorver e do descuido em considerar as palavras que o Espírito Santo revelou.

Já no próprio percurso de Jesus entre nós verificamos essa condição que está patente na ocasião em que Pedro declara a identidade do Mestre e, logo de seguida, contraria a Sua disposição de avançar para a cruz (Mateus 16:13-23).

Nas cartas apostólicas inspiradas pelo Espírito Santo encontramos alertas e denúncias das tentativas, umas frustradas e outras mais ou menos conseguidas, de contaminar e corroer o Evangelho de Jesus Cristo. A carta escrita aos Gálatas, por exemplo, tem como objetivo chamar a atenção dos cristãos da Galácia para o abandono da fé e da graça, e do retorno à lei. O apóstolo Paulo enquanto escritor da mesma logo na abertura chega ao ponto de declarar: “Admiro-me muito que estejam a abandonar tão depressa aquele que vos chamou pela graça de Cristo e que estejam a seguir um evangelho diferente. Não é que exista outro evangelho, mas a verdade é que há umas certas pessoas que vos causam confusão e que querem modificar o evangelho de Cristo. Que seja maldito quem vos ensinar um evangelho diferente daquele que vos anunciámos. Ainda que fôssemos nós próprios ou mesmo um anjo do Céu! Repito o que acabo de dizer: se alguém vos anunciar um evangelho diferente daquele que receberam seja maldito!” (Gálatas 1:6-9, BPT). Quando Judas se dispõe a escrever a sua carta refere: “Queridos amigos, tenho sentido grande desejo de vos escrever acerca da salvação de todos nós, mas agora achei que era mais necessário fazê-lo para vos pedir que lutem pela fé confiada aos santos de uma vez para sempre. Com efeito, algumas pessoas sem fé intrometeram-se entre os nossos e andam a mudar a mensagem de amor do nosso Deus, transformando-a em libertinagem; e renegam Jesus Cristo, que é nosso Mestre e Senhor. De há muito que a Sagrada Escritura condena este seu crime.” (Judas 3,4, BPT). E depois passa a referir casos semelhantes do Antigo Testamento numa demonstração de que esta situação já então se verificava.

No tempo da igreja primitiva as pressões decorriam tanto do lado dos judaizantes, como dos gnósticos, os primeiros procurando implantar o cumprimento da lei como meio de salvação e os segundos apelando ao misticismo e ao liberalismo moral. Com o constantinismo, o fim da perseguição da igreja e desta como religião de estado, o processo de afastamento das verdades bíblicas foi incrementado. A tradição, as ideologias vigentes na cultura e até as práticas religiosas pagãs, fizeram tantos estragos que a igreja tornou-se irreconhecível face ao ensino bíblico. Sempre em cada momento se manifestaram vozes que denunciavam a situação e clamavam por um retorno à mensagem do Evangelho, até que a reforma protestante eclodiu com as 95 teses afixadas por Martinho Lutero em Witemberg, há precisamente 500 anos e cuja efeméride queremos recordar ao longo das próximas edições. Sempre estas demandas foram impulsionadas pelo conhecimento e divulgação da Bíblia, daí que a marca por excelência da reforma e dos reformadores é a Bíblia na língua e nas mãos do povo.

Esta situação acaba por ter lugar na própria dinâmica da reforma entre o que se veio a designar por reforma magisterial e a radical, sendo que a primeira manteve por exemplo a igreja depende do estado e a prática do batismo infantil, e a segunda defendendo a separação da igreja do estado, e o batismo em consciência como testemunho público da adesão à fé, em arrependimento e conversão, e compromisso com Cristo na salvação pela graça por meio da fé. O confronto e a perseguição aconteceram no seio do protestantismo e muitos anabatistas foram afogados tanto por protestantes como por católicos romanos. No início do século XX, depois de um processo contínuo de reconhecimento e vivência do ensino das Escrituras, surge o movimento pentecostal assumindo a contemporaneidade do Pentecostes e do falar em línguas como evidência do batismo no Espírito Santo.

Na realidade a igreja é chamada a um permanente acerto com a Palavra de Deus, numa renovação permanente da mente para que conheça cada vez mais e melhor a boa, perfeita e agradável vontade de Deus: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:2, ARA).
Samuel R. Pinheiro
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CONTRA A USURA: A BÍBLIA, A POESIA E “O CAPITAL”

CONTRA A USURA: A BÍBLIA, A POESIA E “O CAPITAL”

JTP24
©  João Tomaz Parreira

A usura nada cria, no dizer do poeta americano Ezra Pound (1885-1972), mas é um modo de produção exploratório, escrevia Karl Marx em “O Capital”.
Por seu lado, antes de todas as afirmações reprobatórias, a lei de Moisés contida no Pentateuco, no livro bíblico de Deuteronómio, determinava que “se emprestarem alguma coisa a outra pessoa, não poderão entrar-lhe na casa para se apoderarem de um penhor ou reaverem o que emprestaram (…) se o homem for pobre e não puder dar-vos mais do que o próprio cobertor com que se cobre, vocês não podem dormir sob ele.”(O Livro- A Bíblia para Hoje)
No que possa concernir à usura, nem sequer pensar. A usura não podia jamais estar ao serviço da grande caridade, no Velho Testamento, muito menos no serviço cristão. O uso da usura acaba por ser um pecado contra a Moral bíblica e filosófica. E contra a Virtude.
Já no século passado o filósofo francês Merleau-Ponty (1908-1961) escrevia que  a filosofia é um esforço para reaprender como ver o mundo, mas no que concerne à usura o mundo não aprendeu nada nem com a filosofia e nem infelizmente com as leis divinas.
De facto, o próprio Aristóteles, escreveu no decorrer do ano 300 a.C, em um dos seus oito livros sobre a Política ( Πολιτικά ), estas sábias palavras:  “O que há de mais odioso, sobretudo, do que o tráfico de dinheiro, que consiste em dar para ter mais e com isso desvia a moeda de sua destinação primitiva? Ela foi inventada para facilitar as trocas; a usura, pelo contrario, faz com que o dinheiro sirva para aumentar-se a si mesmo”

A LEI MOSAICA (A BÍBLIA)
Qual a razão subjectiva que levou ao que significa o vocábulo “usura”
( nawshak) no hebraico, isto é, “mordida”, por extensão simbólica, uma boca de serpente venenosa que morde?
“Se emprestarem dinheiro a um vosso irmão hebreu necessitado, não o farão com interesse usurário” (Êx,22:25, O Livro).
“A teu irmão não emprestarás à usura; nem à usura de dinheiro, nem  à usura de comida, nem à usura de qualquer cousa que se empreste à usura.” (Deuteronômio 23: 19-20).
O povo hebreu, no contexto da sua saída do Egipto e peregrinação para a Terra Prometida, e no futuro como Pátria da Bíblia, não poderia dar o seu dinheiro a juros, nem fazer caridade com seus víveres para obter lucro – dizia o livro de Levítico.
E, no entanto, na Idade Média, os judeus cobravam por empréstimo uma taxa ao ano de 20%.
Podemos agora legitimamente intuir, que, no século XVIII, o próprio Karl Marx leu estes parágrafos legais da Torah. A sua obra clássica, “Das Kapital”, tão detestada como incompreendida sustenta uma luta também contra a usura, a rondar a terminologia bíblica.

O CAPITAL
Do ponto de vista económico, Marx é peremptório e indesmentível: “A usura explora um dado modo de produção: não o cria”, isto é, cria riqueza sem trabalho e apenas em um sentido, o do próprio emprestador. Marx continua: “A usura atingiu nesta época uma tal amplidão, que já não quer ser vício, nem pecado, nem vergonha, mas quer fazer-se passar por grande virtude e bela honra, como se fizesse grande caridade às pessoas” (O Capital – Marx, Karl;  Delfos, 1975-529 )

A POESIA
Na poesia bíblica, designadamente no Livro dos Salmos, há uma composição considerada didática, o Salmo 15, que introduz uma pergunta inicial à consciência daquele que procura temer a Deus e viver em santidade. Todo o contexto deste Salmo, seja qual for a sua versão, vai no sentido dos que temem ao Senhor e desejam encontrar refúgio na Sua casa ( “Senhor, quem pode achar refúgio na tua casa, / e ficar contigo no teu santo monte? – O Livro).
“Aquele que / não empresta seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente. Quem assim conduz sua vida caminhará seguro e em paz.” (Bíblia King James Actualizada)
Na poesia não religiosa, ou dita secular, a usura é invectivada duramente,  ainda que em discurso poético por um poeta que tinha uma ideia sui generis sobre a economia, Ezra Pound. A sua demonização da usura exprime vergonha por uma realidade social. O seu código verbal não deixa margem para quaisquer dúvidas.
Trata-se de um dos cantos do poeta americano, um libelo em forma de ode, que faz parte da obra-prima “Os Cantos” que ocupam lugar fundamental da Literatura Universal do século XX.  Numa auto visão da obra, que o próprio poeta considerou épica, Pound ao condenar a Usura, reuniu história e economia, e disse: “ Não há história, sobretudo na nossa época, sem economia.” É o tema principal dos Cantos 31 a 51, entre os quais está o 45, repetindo o poeta a mesma ideia no 51:   Escreve o poeta estado-uninense em ambos os Cantos: “ Com usura nenhum homem tem casa de boa pedra / (…) Com usura / nenhum homem tem um paraíso / pintado na parede de sua igreja / ou onde a virgem receba a mensagem / Com usura / a lã não chega ao mercado / a ovelha não dá lucro com a usura / A usura é uma praga / Usura mata a criança no ventre” (Os Cantos, Antologia Poética, Tradução de Augusto de Campos, Editora Ulisseia, 196? e  Os Cantos, Tradução de José Lino Grünewald, Editora Nova Fronteira,1986)
Afirmações que não são nem gerais nem abstractas, que seguem, de resto, a lição de Ezra Pound quanto ao não uso de linguagem supérflua: “o adjectivo quando não dá vida, mata” – disse ele.  #

“Crer é também pensar”

“Crer é também pensar”

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Desde muito cedo, ainda adolescente, numa fase da vida em que todas as perguntas e dúvidas se agitam dentro de nós, que comecei a assumir que a Bíblia é a Palavra de Deus e que ela não teme as nossas perguntas, e que é possível crer com a nossa razão e também com o nosso coração, de corpo, alma e espírito inteiros. Apesar da fé ir muito para lá da nossa razão, e o coração ter razões que a razão desconhece, nunca admiti que a fé fosse não inteligente ou um salto no escuro, muito menos o cultivo do obscurantismo. Não havia dinheiro para muitos livros embora em casa sempre eles tiverem um lugar privilegiado. Ainda assim socorria-me da biblioteca do liceu, e procurava ler o que lá havia sobre a matéria da fé e da razão. Nas aulas de educação moral e religiosa católica romana a que era por lei obrigado a assistir, tinha “orgulho” em ser considerado um exemplo de uma fé lúcida e instruída. Os meus pais apoiavam-me. A igreja das assembleias de Deus de que era membro em Coimbra, cidade dos estudantes, impulsionava o princípio bíblico de uma fé esclarecida e fundamentada na Bíblia. A Palavra de Deus é ela própria um estímulo à reflexão e ao questionamento. De entre os pastores que me ajudaram destaco os nomes de José Pessoa e António Costa Barata. Tive também o privilégio de pertencer a uma geração de pessoas que pensavam pela sua cabeça observando a Bíblia como regra de fé. Fui para a faculdade e apesar de alguns verem ali um perigo para a minha fé, nunca me passou pela cabeça, que a Bíblia pudesse ser abalada pelos argumentos do ceticismo.

Retirei o título deste texto de um pequeno livro no tamanho, mas grande no conteúdo e nas suas implicações, de John Stott. Paul Little tem um livro que fundamenta as minhas convicções – “Saiba o que Crê & Saiba Porque Crê”. Sonho com uma nova geração em Portugal que seja guiada e impulsionada por estes valores intrinsecamente bíblicos, devidamente preparada para apresentar a razão da esperança que tem, porque Jesus é a razão da nossa esperança que não se confina ao tempo, mas se projeta por toda a eternidade. Como Paulo podemos dizer “sei em quem tenho crido”! Outros autores de referência que não devem perder: C. S. Lewis, Josh McDowell, Norman Geisler, Ravi Zacharias, Lee Strobel, Timothy Keller, Alister McGrath, Augusto Cury, …

Hoje, já feitos os 60 anos, continuo a pensar do mesmo jeito com muitas mais provas da minha própria experiência pessoal. Tenho uma biblioteca muito mais vasta, dezenas de livros de apologética, autores contemporâneos e do passado, mas o livro por excelência é e sempre será a Bíblia. O argumento, a prova viva por excelência é a pessoa de Jesus. Não acredito que a natureza tenha criado uma inteligência do nada, apenas para chegarmos à conclusão de que não existe nenhuma inteligência, sentido, propósito e desígnio na nossa vida. Mas Jesus é a Pessoa absolutamente convincente. Modelo, Senhor e Salvador. Ele chega-me. Se quero saber se Deus existe e quem é, como lida com o sofrimento e o mal, o presente e o futuro eterno, como se relaciona connosco, quem somos e para onde vamos, etc. há um sentido sempre prioritário: JESUS (Ele não tem – é a resposta!).

 

Samuel R. Pinheiro

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A PROBABILIDADE DE SER POEMA

A PROBABILIDADE DE SER POEMA

JTP23© João Tomaz Parreira

1Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος, καὶ ὁ λόγος ἦν πρὸς τὸν θεόν, καὶ θεὸς ἦν ὁ λόγος.”

Após séculos de discussão sobre o chamado problema da autoria do Quarto Evangelho, era moda na Alta Crítica dizer que o Jesus de João era o produto de um processo teológico oriundo da própria Igreja Primitiva, querendo negar assim a autenticidade histórica do autor João e do seu acompanhamento do Mestre, como um dos Doze.
A era da crítica acadêmica foi aberta com os trabalhos de K.G. Bretschneider
( 1776-1848) no que concerne a autoria de Evangelho. Bretschneider questionou na sua obra sobre o Evangelho de João a probabilidade autoral (in “Probabilia”).
Um paradoxo para chamar a atenção da própria a autoria apóstólica desse Evangelho, argumentando, pelo menos, sobre a topografia do autor que ele não poderia ter vindo da Palestina. Seguindo Hegel, houve também quem no século XVIII considerasse o Quarto Evangelho como um trabalho de síntese, isto é, do género de tese e antítese. O Evangelho de João foi chamado de “Evangelho Espiritual”, mas nunca um evangelho filosófico, ainda que iniciando-se de um modo que agradaria aos gregos.
Tais discussões sobre a autenticidade autoral estão agora mais serenas. Ainda bem porque podem abrir outros caminhos mais interessantes, deslocando-se para o que parece ser um poema inicial o Prólogo joanino.
É dado como historicamente certo que o Prólogo tenha sido uma necessidade para dar resposta às grandes questões do espírito no que concerne ao Cristianismo versus Filosofias gnósticas do Século I.
Estruturalmente,  ele surge como um prefácio, mas as raízes de um certo lirismo, senão na forma pelo menos na fonética e no ritmo, estão lá.
No início do comentário ao Evangelho Segundo João, o tradutor de “Bíblia – Novo Testamento” e dos “Quatro Evangelhos”, Frederico Lourenço afirma que “o texto grego (o Prólogo) não é um poema”.
De facto, a poesia em língua grega do Século I era, entre outros requisitos da poética,  reconhecida pelas unidades rítmicas, o que não é o caso do 1º verso, mas o nosso ouvido – também afirma FL- reconhece uma certa musicalidade, um certo ritmo pela combinação de algumas palavras. Lido o versículo em causa, quer na língua grega, quer na nossa própria língua, há um ritmo inegável.
No que diz respeito ao texto grego, aprecie-se o primeiro grupo (Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος) que é combinatório com a última expressão (καὶ θεὸς ἦν ὁ λόγος)  Esta última linha completa a primeira, à qual regressa.
“No princípio era o Lógos / (…) / E era Deus o Lógos”.  Expressão nossa para não fugir à melopeia e à quase poética pelo ritmo. Existe aqui uma unidade rítmica e melódica, uma linha de poema. No fundo o verso (versu, vertere), na sua concepção milenar, acaba por ser uma tautologia, algo que começa e retorna ao ponto inicial, porque verso designa um movimento de regresso.
Contudo, quer este verso inicial quer todo  o conjunto do Prólogo joanino não é, como se chegou a pensar, um poema para agradar ao Gnosticismo. Nem visto apenas à superfície do texto, nem atomisticamente.
Uma quantidade imensa de material riquíssimo é o que encontramos nos primeiros 18 versículos do Prólogo de João.
A “Encyclopedia Americana resume, no que concerne ao Prólogo, várias páginas de douta e vasta bibliografia sobre o tema, e afirma a influência grega que o Evangelista teve, tornando-se evidente que “os primeiros versos são obviamente um poema à maneira dos Estóicos”. É, contudo, uma conclusão que, do ponto de vista da Poética seja ela de Aristóteles ou, posteriormente, de Horácio, não resiste a uma análise, como vimos, dos constituintes do poema. Mais certo será afirmar que o Prólogo se apresenta sob a forma de “um hino cantado na comunidade joanina (em Éfeso?), antes de ter sido colocado como início do Evangelho”.  A beleza e a estética dos primeiros cinco versos (1-5 inclusivé), estão lá, porque abrem as portas da Eternidade para dar passagem ao Verbo ou Lógos que vem até ao Homem, até a pungência do Tempo.

© João Tomaz Parreira

O “CONSOLADOR” NA VIAGEM DO PEREGRINO

O “CONSOLADOR” NA VIAGEM DO PEREGRINO

JTP22

© João Tomaz Parreira

Uma grande obra viva da imaginação, é assim que pode ser tratada a alegoria «O Peregrino» de João Bunyan, justamente considerado o maior ficcionista inglês do século XVII e que utilizou para a sua prosa um único modelo – a Bíblia, por isso lhe chamaram mais «Bispo Bunyan» que romancista.
Com tradição literária desde os poetas latinos a Dante, por exemplo, a alegoria tomou nesta obra-prima da literatura cristã do século XVII um lugar especial, de realismo quase moderno- como alguém escreveu-, o da realidade moral e espiritual da vida progressiva do cristão, do seu trajecto para a Cidade de Deus.
Estudos feitos sobre essa obra, no âmbito da história da literatura inglesa, dão conta de que se trata, com efeito, de «uma história realista, contemporânea e autêntica», não obstante a sua vasta formulação espiritual.
É nesse desenvolvimento do seu conteúdo espiritual que as principais personagens simbólicas de «O Peregrino» ganham o significado teológico que a Bíblia Sagrada lhes confere. Uma dessas personagens, por assim dizer, do romance alegórico de Bunyan, com o seu significado simbólico e a sua realidade bíblica, é, sem dúvida, o Intérprete. (Págs. 37-47, Edições NA, 1977)
Foi este tratado ao longo dos últimos três séculos por diversas entidades académicas e personalidades evangélicas como uma das figuras tipológicas mais influenciadoras do sucesso da viagem do Cristão, constituindo uma das etapas fundamentais da sua viagem sonhada, quando cheio de ânimo deveria parar na «residência do Intérprete» e ali «ouvir coisas muito úteis e excelentes». Por aproximação que deixa entrever através dos véus literários da sugestão, do mistério, da alegoria, e das citações bíblicas, a sua condição de guia, é tratado também como sendo a figura do Consolador.
Separando o simbólico do teológico, não é difícil entender qual é o papel neotestamentário do Espírito Santo na vida dos crentes.
Os detalhes existem no decorrer do diálogo entre o Intérprete e o Cristão. O trajecto cristão é feito de lutas mas de poder para vencer as mesmas. E esse poder só pode ser o poder do Pentecostes, do Consolador, do Guia que é, também na acepção do livro de Bunyan, a Terceira Pessoa da Trindade. Jesus Cristo ensinou que uma das funções do Espírito Santo é ser o intérprete e guia a toda a verdade, «porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão-de vir.» (1)
O pormenor de uma das falas do Intérprete, dirigindo-se ao Cristão, que flutua entre a esperança e o temor, é um bálsamo desta alegoria sobre a presença indispensável do Espírito Santo na nossa vida: «Parte, pois, e que te acompanhe o Consolador, sendo sempre teu guia até à cidade (celestial) » (pág. 47)
São importantes também para a pedagogia que Bunyan coloca objectivamente neste capítulo, os actos simbólicos encenados para ilustrar realidades espirituais.
A renovação pentecostal do crente («o azeite deitado no fogo por Cristo», pág.42), o perigo mortal da blasfémia contra o Espírito Santo, o não causar tristeza a essa Divina Pessoa, o Dia do Juízo Final ou uma referência ao novo filho pródigo, que é aquele que quer apenas os bens terrenos, actuais, e não se preocupa com as coisas mais excelentes, os bens futuros, celestiais. Indubitavelmente um retrato antecipado do homem «materialista religioso» pós-moderno.
Finalmente, nesse romance que o próprio autor certamente não chamaria assim, existe a honestidade de afirmar várias vezes que se trata de «um sonho».
«Em breve adormeci e tive um sonho». No início da obra, o escritor introduz o leitor num ambiente que, apesar de tudo, tem pouco de onírico e bastante realista.
A intenção de Bunyan não foi fazer uma nova doutrina sobre a carreira cristã, mas ao mesmo tempo que pregava, no seu livro, o Evangelho, foi estabelecendo com as vicissitudes pelas quais passou a personagem principal, passo a passo a caminhada da vitória. É com um sentimento de honestidade que a meio do livro (pág.97) reafirma- «Vi, então, no meu sonho ».
No fim do mesmo, torna a escrever «E nisto… acordei, e vi que tudo fora um sonho».
Com efeito, é uma meditação religiosa e ao mesmo tempo a narratividade da história realista do cristão, e hoje como há três séculos, o leitor avisado e crente sincero despe as alegorias da fantasia natural para as vestir com os trajes da realidade do quotidiano.
O cristão, filho de Deus, nascido de novo, na sua vivência diária, já não vive hoje na figuração da realidade através de alegorias, mas na realidade ela mesma de que foi chamado pelo Pai para «a comunhão de seu Filho Jesus Cristo», sabendo que se lhe aplica uma benção trinitária: a graça de Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo, com qual sempre terminamos nossas reuniões religiosas.
Embora não exista nenhuma igreja denominacional explícita em «O Peregrino», há, sim, um compromisso, para além de tudo o mais, do cristão que avança, vitorioso, mesmo confrontado com situações-limite até à cidade celestial. O cristão que, simultaneamente personagem e pessoa real, nesta história «conhecia e praticava a difícil arte de ser paciente na tribulação e de transformar os obstáculos em trampolim para o sucesso».(2)
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(1)-João 16, 13
(2)- João Bunyan, Ensaio Biogáfico, de Carlos Dubois, Juerp, 1968

“Bem-aventurada aquela que te concebeu e os seios que te amamentaram!”

“Bem-aventurada aquela que te concebeu e os seios que te amamentaram!”

SamuelPinheiro 2017abril11

Palavras de uma mulher dirigidas a Jesus, a respeito da sua mãe Maria.
Jesus de uma forma surpreendente, mas sem deixar de ser cortês e amável, alargou esta declaração e bem-aventurança a todos os que ouvem a palavra de Deus e a guardam: “Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam!” (Lucas 11:27,28 – JFA).
Numa outra ocasião alguém avisa Jesus que Sua mãe e Seus irmãos estavam do lado de fora, procurando falar-lhe. Jesus responde com uma pergunta e com uma declaração com o mesmo sentido: “Quem é minha mãe e meus irmãos? E, estendendo a mão para os discípulos, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe.” (Mateus 12:46-50 – JFA).
Numa das suas últimas conversas com os discípulos Jesus diz-lhes e a nós também: “Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando.” (João 15:14 – JFA). E o que é que Ele manda: “O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.” (Mateus 15:12 – JFA). “Isto vos mando, que vos ameis uns aos outros.” (João 15:17 – JFA).
O mandamento síntese de toda a lei, e a essência da natureza divina na qual fomos formados à Sua imagem e semelhança e da qual nos apartámos em rebeldia que ainda hoje permanece e entra pelos olhos dentro, é o amor.
Não é o amor que nos salva. Mas é Deus que é amor, em Jesus Cristo – Deus entre nós também como Homem, que nos salva mediante a expressão suprema desse amor que é a Sua morte em nosso lugar na cruz. Nenhum outro morreu por nós ou podia sequer morrer. A nossa morte não poderia ser redentora porque todos, sem exceção, pecamos. Só Aquele que nunca pecou e em que o amor é uma constante absoluta e santa, sem qualquer contaminação, nos podia salvar e nos salvou. Em Jesus somos salvos para amar.
Um intérprete da lei interpelou Jesus acerca de qual é o grande mandamento da lei. A esta pertinente questão Jesus respondeu: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento, e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Diante desta resposta o teólogo que sabia muitíssimo menos do que Jesus, mas sabia o suficiente da lei para perceber que o Mestre estava certo, assumiu: “Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que ele é o único, e não há outro senão ele; e que amar a Deus de todo o coração, de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrifícios.” Na narrativa deste evangelho a conversa acaba de um modo muito significativo mas não totalmente satisfatório. Jesus declara ao religioso: “Não estás longe do reino de Deus.” (Marcos 12:28-34 – JFA). Estava perto, mas não fazia parte. Conhecia a letra da lei, mas não conhecia o coração de Deus. O que faltava era determinante: o amor de Deus manifesto a Seu favor quando Jesus morresse na cruz também a Seu favor. Só Jesus nos pode salvar. Jesus na cruz é o holocausto e o sacrifício perfeitos e definitivos. Somos amados para poder amar de verdade e em verdade! Nada mais é preciso!
Se amamos a Deus desta forma cumpriremos os primeiros três mandamentos da lei: “Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura (…). Não as adorarás, nem lhes darás culto (…). Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão (…).” (Êxodo 20:1-7 – JFA). Se amamos o próximo como a nós mesmos cumpriremos os restantes sete mandamentos: “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar (…). Honra a teu e a tua mãe (…). Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás (…).” (Êxodo 20:8-17 – JFA). Amando a Deus só a Ele adoraremos e louvaremos. Só a Ele teremos como Senhor e como Salvador. E esta é a parte decisiva para entrarmos no Seu reino: recebermos da Sua parte o perdão de todos os nossos pecados, porque todos ficamos aquém da Sua vontade e não temos como em nós próprios de regressar à condição com que fomos criados, e mais do que isso a sermos filhos de Deus. Tudo isso só é possível em e por JESUS CRISTO! Tudo isto para vivermos em amor como o nosso Criador e Pai.

Samuel R. Pinheiro
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NO EVANGELHO DE LUCAS, 24, 5-6 – POESIA E MEMÓRIA

NO EVANGELHO DE LUCAS, 24, 5-6 – POESIA E MEMÓRIA

JTP21
© João Tomaz Parreira

 

Why seek ye the living among the dead?
He is not here, but is risen – Estrutura de linguagem poética

Remember how he spake unto you when he was yet in Galilee, Saying, The Son of man must be delivered into the hands of sinful men, and be crucified, and the third day rise again. - Memória
(Versão King James):
Poesia e memória, seguindo os estudos  linguísticos de  Saussure e Hjelmslev no que concerne à poética,  é o que encontramos nesta afirmação cheia de significantes e de conteúdo da linguagem dos anjos,  tornada humana na sua discursividade. Porque segundo o Evangelho, o significado já não estava no sepulcro e assim só nos sobram as palavras.

Poesia e memória, isto é, uma estrutura poética na forma de se expressarem os seres angelicais no sepulcro vazio; e um avivar da memória das mulheres que foram, no domingo de manhã, ao túmulo onde puseram Jesus Cristo.
O modo expressivo como os “dois homens em traje resplandecente” falaram às mulheres, grafado sobretudo na estrutura linguística da versão inglesa da Bíblia King James, exibe uma linguagem poética com ritmo, com ideias, com acento poético, diríamos poesia pura. Sabemos desde o século XVIII, pelo menos, que o verso branco, falta de rima,  não significa que não é poema.

Why seek ye
The living among the dead
He is not here,
But is risen

Não há nestes “versos” nenhum esquema rimático, mas existe uma melopeia. Há uma métrica subliminar, também explícita, em que planam as palavras. Estão aqui, num tempo em que não havia fotos, toda a verdade, a história e o retrato completo da Ressurreição de Jesus Cristo.

A versão em português de A Bíblia para Todos (BPT), exara assim as palavras dos “dois homens, vestidos com roupas brilhantes”:

“ Por que procuram entre os mortos
aquele que está vivo?”

Dois versos de uma musicalidade de redondilha maior (no primeiro), secundado com a afirmação da história do Cristianismo no que concerne à Ressurreição.

“Não está aqui porque ressuscitou”, quase um decassílabo.

A memória, para além da poesia, insere-se na memorabilia que os anjos usaram para recordar às mulheres, que foram ao tumulo, as próprias palavras de Cristo.

“Não se lembram do que ele vos disse, quando ainda estava na Galileia, que é preciso que o Filho do Homem seja entregue ao poder dos maus, que seja pregado numa cruz e que ao terceiro dia ressuscite? Elas então lembraram-se daquelas palavras.” ©

A MARSELHESA DO PROTESTANTISMO

A MARSELHESA DO PROTESTANTISMO

© João Tomaz Parreira

JTP20Martinho Lutero, provavelmente antes de 1529, usou um processo linguístico a que chamaríamos linguagem figurada, no seu poema/hino “Castelo Forte” para designar Deus e a Sua actividade em relação aos crentes cristãos e fê-lo inserir na lírica religiosa do seu tempo. Com certeza compondo-o no seu saltério. Não se esperaria menos do doutor que renovou catecismos, cantos eclesiásticos, livros devocionais para falarem a língua do povo.
Podemos achar na leitura de “Castelo Forte” que existem hipérboles em demasia, mas a hyperbolê (no grego, “transporte para cima”), relacionando-a com a Divindade, não é um exagero.
“O Castelo Forte” é, se quisermos, um monólogo interior, cantável obviamente, hino congregacional, no qual tomamos consciência de nós próprios, de quão frágeis somos, e em que a alma humana se posiciona resguardada no Criador e louvando-O como fortaleza segura, ciente de que a sua força humana é débil sem Deus.
Há também, ao estilo da imagem medieval, o Cristo como guerreiro invencível, numa espécie de teomaquia (theomakhia, luta de deuses) alegórica para o ensino dos cristãos.
Existem no poema de Lutero várias combinações de signos, conforme com a actual semiologia, que, entrecruzando-se vão do temporal ao eterno, do humano ao divino. Longe de haver, de todo, uma materialização do divino (um castelo), digamos assim, entendemos melhor a fortaleza de Deus na qual o crente habita.  No alemão de Lutero é assim:
“Eine feste burg ist unser Gott,
Eine gute wehr und waffen”
“Castelo forte”, Deus como um refúgio inexpugnável, um lugar de tranquilidade onde se repousa porque há Quem lute por nós, daí a “espada e o bom escudo? Todavia estes versos apresentam também um referencial que nos incita a lutar, a não sermos passivos, escondidos em Deus mas de peito aberto na luta contra o Mal e o diabo.  Na versão em português:
“Se nos quisessem devorar Demónios não contados,
Não nos podiam assustar, nem somos derrotados”
Desde logo, a mais simples associação que o Reformador faz entre um castelo forte e o nosso Deus e a nossa luta sob o comando do Cristo Invencível, na linguagem alegórica medieval.
A motivação de Martinho foi a Fé, mas também a razão da História, da sua história de vida, em bom rigor, Lutero não descreve o Castelo, que poderia ser a imagem do castelo de Wartburg onde traduziu a Bíblia, ele exprime o Castelo, sobretudo Quem é e o que representa. É que na Poética a expressão é mais importante que a descrição, isto seguindo o ensino de Roland Barthes e Ferdinand Saussure.
Começando a leitura do texto poético “Castelo Forte”, podemos perceber que se trata também, e sobretudo, de um intertexto que parte de um Salmo. A intertextualidade com o salmo 46, de que se desconhece o autor, sabendo nós apenas que é um cântico dos Filhos de Coré, é evidente.  O poema luterano supõe outro poema, o salmo referido, e assim por diante poderia e pode ser objecto de estudo linguístico.
“Deus é o nosso refúgio e a nossa força;
é a nossa ajuda nos momentos de angústia.
Por isso, não temos medo,
Mesmo que a terra se ponha a tremer”
(Salmo 46, O Livro dos Salmos, tradução em português moderno)
Como poema pertence à lírica religiosa do Século XVI. Este e outros trabalhos de Martinho Lutero, escritos polémicos, colecções de poesia religiosa e, sobretudo, a tradução da Bíblia entre 1522 e 1534, são factores decisivos para a unidade da língua alemã, no plano cultural, social, literário e político. No plano religioso, o mais importante porque fundacional, foi a sua obra teológica que lutou e luta ainda contra a autoridade de Roma.  É o exemplo mais célebre da hínica religiosa luterana. Diz-se que depois se transformou na “Marselhesa do Protestantismo ou da Reforma”.
Com alguma reserva por causa da incerteza das datas, o poeta germânico Heinrich Heine (1797-1856), um autor devotado à Reforma, cristão luterano convertido do judaísmo, escreveu que o hino terá sido cantado por Lutero e seus companheiros quando entraram para a Dieta de Worms, em 1521.
Com certeza porque Lutero fora convocado para a Dieta de Worms pelo imperador Carlos V que havia ordenado a destruição dos escritos do reformador e pairava no ar a ameaça da fogueira para o “herege”. Ao édito do imperador, Lutero responde “visa atemorizar-me; mas Cristo está vivo, e eu irei a Worms, não obstante todas as portas do inferno”. Mesmo que se apoderassem da sua pessoa, como afirmou, “deixemos a cousa entregue a Deus. (…) Não fugirei, ainda menos revogarei, porque não poderei fazer uma cousa nem outra sem pôr em perigo a salvação de muitas almas”.
Como na letra do poema/hino “Castelo Forte”, Lutero escreveria “Ainda que fizessem uma fogueira que subisse até ao céu entre Wittemberga e Worms, eu iria lá… e confessaria Jesus Cristo” (“Lutero- Ensaio Biográfico”, Sinodal, 1969- 98-99).
De certo modo, por esta e outras razões históricas, este hino poderia ser facilmente transformado em passado, isto é, em história, se ao longo destes cinco séculos milhões e milhões de crentes cristãos evangélicos o não tivessem entoado, congregacionalmente, com fé e coragem. Deram-lhe outra dimensão, saiu da cronologia para viver na temporalidade, dentro do culto ao Eterno Deus, o “Castelo Forte” na criatividade inspirada de Martinho Lutero. ©

A PRIMEIRA DÚVIDA DA MULHER SAMARITANA

A PRIMEIRA DÚVIDA DA MULHER SAMARITANA

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A leitura superficial que fizermos, sem olhar a circunstâncias senão as da própria diegese (narrativa pura e simples), diz-nos que a primeira pergunta da mulher de Samaria junto ao poço de Jacob, foi por uma questão de espanto por uma linha divisória quebrada.
Contudo, com uma simples petição (dá-me de beber), Jesus  declarou que a separação entre os povos em geral, e judeus e samaritanos em particular, tinha os dias contados. A pergunta da Samaritana reflectiu inconscientemente o espanto desse sucesso, isto é, que uma parede estava derrubada onde o evangelho se faz presente (cf. Gl 3.28; Ef 2.14).
Todavia, a primeira dúvida da mulher, reveste-se de uma forma que carece uma análise hermenêutica mais profunda, teologicamente, mas também literária, do ponto de vista do que esconde a linguística, com o estilo da pergunta, com ironia e lógica, desconhecimento e espanto.
“Disse-lhe a mulher: “Nem sequer tens um balde (ἄντλημα) e o poço é fundo! Donde é que tiras a água viva?” ( Edição Comum BPT, 2015-555)
A SEMIÓTICA DA ÁGUA
O manancial arquetípico da água perpassa pela narrativa joanina, desde o princípio do capítulo 4 do Evangelho. Inicia-se com a tipologia e a semiótica para além do simples acto do baptismo (águas): “Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele(…) baptizava mais discípulos do que João”.
A água do poço de Jacob, acima do seu referencial histórico, era água de manancial, de acordo com o comentário da conhecida Bíblia de Jerusalém ( Desclee de Brouwer, NT, 1976-128), simbolizava a vida dada por Deus, de grande importância no Oriente.
Quando na literatura ocidental, o poeta T.S.Eliot (1888-1965) deixa escrita uma das grandes poéticas das primeiras décadas do século XX,  a obra “A Terra sem Vida”, como uma profecia da Europa que será um  “amontoado de pedras” nas décadas de 30 e 40, deixa o grito da necessidade da “água nascente”, “se houvesse água parávamos e bebíamos”, “se houvesse água e não rocha”, mas numa explícita referência  a Jeremias, 2,13, afirma que há “cisternas vazias” e “poços sem água”.

A DÚVIDA DA SAMARITANA RECOMPENSADA
Cristo revela a sua identidade, não apenas a uma mulher, mas a alguém samaritano.  A mulher, entre os judeus, não era senão um objeto pertencente ao marido, pertencia ao lote do seus imóveis, dos seus servos, numa posse legal que o Evangelho e as Cartas paulinas vieram abolir.
O pedido de Jesus, defendem exegetas e sociólogos da educação,  foi no sentido não apenas da sua necessidade fisiológica, mas tendo em vista o seu método para mover os ouvintes para revelarem atitudes e acções. Diz-se que usou métodos andragógicos (método de ensino para os adultos) em seu ministério de ensino e pregação: lições práticas (e referem João 4.1-42)  Aqui, Jesus Cristo utilizou a simbologia da “água” para ajudar a mulher a perceber o que é a “água viva”, teologicamente.
Na continuação da sua lição e auto-testemunho sobre a água, para além do seu sentido “líquido”, isto é, volúvel, transitório, efémero, Jesus indica usando uma alocução kerygmática ( como se pregasse): “Se tu conhecesses o que Deus tem para te dar, e quem é aquele que está a pedir água, tu lhe pedirias e ele dava-te água viva” (BPT).
A esta afirmação, a mulher samaritana responde com a lógica do que apenas vê,  dos limites da realidade, o que está diante dos seus olhos, existe mesmo ainda que velada, uma tentativa de ironizar, “nem sequer tens um balde” ou “donde é que tiras a água viva” (NT A Boa Nova Para Toda a Gente, Sociedade Bíblica, 1979)
A POÉTICA DA NARRATIVA
Rosanna Eleanor Leprohon, que foi poeta e novelista canadiana, escreveu um extenso poema nos finais do século XIX, que as águas de que Jesus falou continuam “puras e brilhantes”, “águas vivas que fluem”.  E referiu-se à samaritana como “Filha de Samaria” cujo testemunho perdura pelos séculos fora. Que devemos esquecer “pensamentos de orgulho terreno e vãs esperanças na ganancia do mundo, / Basta-nos beber uma vez dessa água, nunca tornaremos a ter sede”

© João Tomaz Parreira

O SILÊNCIO de Martin Scorsese

O SILÊNCIO

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                O silêncio de Deus só acontece até que abramos a nossa Bíblia. Quando abrimos a Bíblia o silêncio de Deus é interrompido. Deus fala-nos sempre que O ouvimos e Ele sempre nos fala pela Palavra que nos deixou. O filme “O SILÊNCIO” não é o silêncio de Deus mas da mordaça que o autor pretende colocar-Lhe tentando encontrar um ponto de apoio na narrativa do Getsémani quando o próprio Filho de Deus levanta a Sua voz diante do Pai e nenhuma resposta parece ouvir-se. Mas o silêncio é apenas aparente. Jesus esteve sempre com o Pai. Ele conhece como mais ninguém a Palavra que o Espírito Santo inspirou. Muitas vezes Ele a citou e explicou, muitas vezes identificou a Sua concretização na Sua própria pessoa. Jesus mesmo é chamado de a Palavra, o Logos divino, o Verbo. Jesus falou da Palavra como sendo a verdade. Jesus declarou aos religiosos que eles se equivocavam por desconheciam o poder e a Palavra de Deus, que buscavam estudar a Palavra e era ela que dava testemunho a Seu respeito.  Jesus declarou que os céus e a terra passariam mas as suas palavras não, atribuindo-lhes essência divina – palavra de Deus! Foi no seio da Trindade que o plano de resgate da humanidade foi determinado e decretado. A vontade do Pai e do Espírito Santo também era a Sua. O texto não mostra qualquer relutância, mas o reforço no momento decisivo que não havia outra opção para que fôssemos salvos. Falta-nos a perceção real da condição em que nos encontramos e o que Jesus tornou possível. Entre o céu e o inferno, o amor e o perdão, a santidade e a justiça, a misericórdia e a liberdade de uma natureza totalmente entretecida pela natureza divina em imagem e semelhança e como Seus filhos; e o inferno de ódio e rebeldia, onde não cabe um pingo de amor.

                A pergunta de Jesus no Getsémani há muito que tinha uma resposta. A pergunta é colocada mais por causa de nós, do que por Sua causa. Jesus sabe que não há um plano B. Mas nós não sabemos e temos muitas dúvidas. O nosso principal pecado, ou o pecado genético reside em julgarmos que a nossa situação não é assim tão grave que tenha exigido a morte expiatória do próprio Filho Deus. Embora não tenhamos sido nós que a exigimos nem o príncipe das potestades do mal – o próprio Diabo. É Deus quem requer que assim seja. A situação só podia ser resolvida daquela forma, precisamente no ponto absoluto e radicalmente oposto que gerou a nossa rebelião e morte. O Filho de Deus em amor absoluto e radical dá a Sua vida em obediência. A vida de Deus pelas vidas de todos os homens, para que os homens tenham de volta a vida de Deus.

                O autor impõe ao cristianismo retratado um silêncio profundo da palavra do próprio Cristo. Não se ouve a citação dos evangelhos, os ensinos de Jesus, as Suas palavras são silenciadas. A Reforma ainda não tinha trazido ao Japão a Palavra de Deus e os jesuítas haveriam de ser o braço da Contra-Reforma com os seus próprios inquisidores, tendo levado muitos ao martírio. O que encontramos no filme é um cristianismo em que sobressaem as práticas do batismo, da eucaristia e de alguns símbolos muito rudimentares. A abjuração da fé é demonstrada por pisar um baixo-relevo de pequenas dimensões com uma figura tosca crucificada que é colocado no chão, e numa outra ocasião por cuspir num crucifixo.

                Recuso qualquer leitura crítica ou qualquer juízo sobre a fé dos que morrem ou dos que renegam a fé. Só Deus conhece e sabe tudo a respeito do coração. Não sei sequer se o filme merece credibilidade do ponto de vista histórico do modo como a fé era vivida naquele tempo. Partindo do princípio que sim, a única coisa que posso adiantar é que a fé evangélica não é o que ali se apresenta na sua verdadeira essência. E não posso deixar de notar a ausência da Bíblia como a Palavra de Deus.

                O filme narra a viagem de dois padres portugueses, Rodrigues e Garrpe, ao Japão convictos de que não podia ser verdade que o seu professor e confessor tivesse renegado a fé como constava. Depois de um contacto com comunidades que viviam a sua fé de forma clandestina acabam às mãos dos homens do inquisidor. Este estrategicamente conduz a perseguição usando todos os meios para que os padres abandonem a fé, e alcança êxito fazendo-os assistir ao martírio dos que mesmo tendo já renunciado, só serão poupados se eles fizerem o mesmo. O padre Garrpe atirasse à água para morrer juntamente com um grupo que é morto por afogamento. E é Rodrigues que resistindo a todas as investidas é finalmente colocado diante do padre Ferreira, seu mentor. Aí este tenta convencer o seu discípulo a desistir com vários argumentos que hoje encaixam que nem uma luva na cultura pós-moderna. Afinal de contas cada um tem a sua forma de compreender e entender a Deus, o Cristo pelo qual morrem os cristãos é outro Cristo, até por Francisco Xavier levou-os a entender o Filho de Deus como o Sol que nasce todos os dias, ao contrário de Cristo que ressuscitou passado três. O inquisidor-mor também não lhe fica atrás defendendo que existe uma árvore para cada solo e outras subtilezas que põem em causa a existência da VERDADE e da grande comissão que Jesus deixou à Sua Igreja. A parte final adensasse num debate subtil e por vezes irónico, em que o relativismo e o pluralismo são dirimidos sob as sombras da intolerância, do terror, da tortura mais cruel. Não é muito notório um argumento que tem um certo peso e que consiste na ideia de que o que movia a chamada “evangelização” era mais um colonialismo cultural e económico, embora me parece que ele aparece de uma forma disfarçada e diluída na referência a Espanha, Portugal e Holanda, em que a Europa procura dominar aquelas paragens e daí retirar os seus lucros.

Como não poderia deixar de ser não podia faltar a esta tentativa de persuasão que acaba por parecer lograr êxito, a ideia de que Deus é o mesmo em todas as confissões religiosas, até mesmo quando uns defendem que Deus é a coisa criada e se confunde com a natureza (panteísmo) e os que afirmam com a Bíblia que Deus é uma pessoa em que a criação e o Criador nãos e confundem e do que Jesus é o expoente máximo e inultrapassável de evidência. Na verdade não é possível colocar tudo dentro do mesmo saco. Há uma diferença intransponível entre as conceções humanas de Deus e a revelação divina na pessoa de Jesus Cristo, e que está de forma sublime apresentada na Bíblia e o Espírito Santo torna real e vivida perante a nossa mente, coração e em nosso espírito.

Aparece igualmente ao longo do filme uma personagem que constantemente volta para se confessar, atormentado pelas seus constantes recuos quando os outros sofrem o martírio e a morte por crucificação dentro de água, até que com o subir da maré acabam por morrer afogados, os que são afogados amarrados numa esteira, os que são queimados vivos e, talvez o mais infame de todos os martírios os que são colocados de cabeça para baixo, pendurados pelos pés e com a cabeça dentro de um esgoto e aos quais fizeram um pequeno lenho na cabeça para que gota a gota de sangue se vão esvaindo. Já vi algumas exposições de meios de tortura, mesmo as que a inquisição perpetrada pela igreja dominante infligiu aos chamados apóstatas, à revelia do ensino bíblico; e sempre fico estupefacto pela crueldade da natureza humana mesmo quando advoga que o faz em nome de Deus, o que é de todas a maior blasfémia. No entanto ateus e agnósticos, não foram em muitos momentos da história menos sanguinários e sádicos.

Jesus de um modo muito claro sempre se opôs a esta inclinação malévola do uso da força, mesmo quando Ele, o Filho de Deus, o Criador na forma da criatura, estava em causa e sofreu como nenhum outro, porque o Seu sofrimento não foi apenas físico, mas espiritual ao tomar sobre Si a iniquidade de todos nós. Lembremos o ensino de Jesus no evangelho de Lucas: “João disse a Jesus: ‘Mestre, vimos um homem a expulsar espíritos maus em teu nome e proibimo-lo, porque não é dos nossos.” Mas Jesus corrigiu-os: ‘Não proíbam isso, porque quem não é contra nós é um dos nossos.’ Como já estava a chegar à altura em que havia de ser levado deste mundo, Jesus tomou a decisão de ir a Jerusalém. Mandou à frente alguns mensageiros e eles foram a uma aldeia dos samaritanos para prepararem a chegada de Jesus. Mas como os da aldeia perceberam que ele ia para Jerusalém, não o receberam. Então os discípulos Tiago e João, ao verem aquilo, disseram: ‘Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os destruir?’ Mas Jesus voltou-se para eles e repreendeu-os. E foram para outra aldeia.” (Lucas 9:49-56 – BPT). E como não podia deixar de ser o ensino de Jesus no chamado Sermão do Monte e que é de uma clareza total: “Ouviram o que foi dito: Amarás o teu próximo e desprezarás o teu inimigo. Mas eu digo-vos: Tenham amor aos vossos inimigos e peçam a Deus por aqueles que vos perseguem. É deste modo que se tornarão filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz brilhar o Sol tanto sobre os bons como sobre os maus, e faz cair a chuva tanto para os justos como para os injustos. Se amarem apenas aqueles que vos amam que recompensa poderão esperar? Não fazem também isso os cobradores de impostos? E se saudarem apenas os vossos amigos, que há nisso de extraordinário? Qualquer pagão faz o mesmo! Portanto, sejam perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito.” (Mateus 5:43-48 – BPT).

Para quem conhece a Bíblia não é novidade que os seus nomes venham a ser mudados e sejam dados como maridos de mulheres cujos esposos morreram, adotando igualmente os seus filhos. Quando Rodrigues morre fica-se com a impressão de que terá sido a sua “companheira” que, sem verter uma lágrima, terá colocado um dos toscos crucifixos entre as suas mãos escondido, sendo que o corpo há-de ser queimado e as suas cinzas lançadas às aguas, para que nenhum dos seus membros venha a tornar-se uma relíquia e a ser venerado.

                Não tenho a certeza mas julgo que o mentor apóstata chega a afirmar que o próprio Cristo recuaria na Sua morte se soubesse que ela implicaria a morte dos Seus seguidores. Quanta ignorância a respeito das palavras de Jesus no próprio evangelho falando aos Seus discípulos acerca do que os esperava.

                Não concordamos com quem defende que “O filme de Scorsese dava um tratado teológico” (revista VISÃO, 19 janeiro 2017, p. 122) porque o filme desenvolve-se de costas voltadas para o texto de onde a teologia deve brotar. Esquecer a Bíblia é negar o cristianismo. Só existe fé cristã no solo sagrado da Escritura. É isto precisamente que a Reforma vem reivindicar a partir do próprio texto. É isto que a Contra-Reforma católica romana vem por meios igualmente violentos, colocar em causa. No ano de 2017 celebram-se os 500 anos da reforma protestante. Não é por acaso certamente que este filme agora surge. Mas a história é o que é. E a Bíblia hoje está traduzida amplamente e está disponível para que cada um possa ler e crer de forma consciente e não ignorante. Quem conhece o texto bíblico consegue rapidamente encontrar as diferenças entre a igreja neotestamentária, a igreja primitiva, a igreja dos primeiros anos, os que foram martirizados e o que encontramos em o SILÊNCIO.

                O filme é profundamente atual, porque hoje, por meios ainda mais subtis pretende-se diluir a fé cristã. Muitos dos que se apresentam enquanto tal manifestam uma profunda ignorância das palavras e dos ensinos de Jesus. Existem igrejas que se apresentam como evangélicas e, portanto, herdeiras do movimento da reforma e que superaram em muito a superstição, as tradições pagãs, o comércio das almas, o negócio da religião, o fausto dos líderes num escândalo grotesco, que suscitaram o movimento reformador. O magico-sacramentalismo chega a atingir foros verdadeiramente absurdos, chocantes e ridículos.

                500 anos depois da reforma precisamos levar a sério um dos seus lemas que consiste numa igreja reformada sempre em reforma, sempre vigilante para se pautar pelo ensino da Bíblia Sagrada. Hoje necessitamos de vincar as várias “solas” que a reforma enunciou de acordo com o texto bíblico – sola scriptura, sola gracia, sola fide, solo Cristo, Soli Deo Glória.

                Nos dias que correm de comodismo, apatia, indiferença, e sem chama e compromisso, é escandaloso que alguém esteja disposto a morrer pela sua fé, muito menos que morra por causa de crer em Deus, de reconhecer Jesus como único SENHOR e SALVADOR. Hoje é intolerável que se assuma que Jesus Cristo é único, singular e supremo. Mas na verdade é o próprio Jesus que o diz acerca de Si mesmo e outra coisa não pode ser se é efetivamente quem Ele diz que é – o EU SOU entre nós. Com tudo isto vai na enxurrada a condição humana decaída, o pecado e a corrução geral de toda a humanidade, a necessidade da morte de Jesus para expiação, redenção, justificação, resgate e reconciliação de todos os homens com Deus mediante o arrependimento e a conversão, para um nova vida. Só por Jesus a morte vale a pena, porque ela é vida e glória eternas. Não se procura o martírio, não se pode usar de linguagem desabrida ou de actos provocatórios, porque não foi assim que aprendemos de Jesus a fé. Hoje, como no passados, milhares de cristãos expõem as suas vidas por causa de Cristo única e exclusivamente. Não têm fitos políticos, nem de domínio cultural, muito menos de proveitos económicos. Apenas querem viver a sua fé na relação pessoal com JESUS, e terem a liberdade de O partilharem. Porque na verdade em Jesus temos vida eterna, relação pessoal com Deus, amor que se recebe e dá, e sem sombra de dúvida, este JESUS eu desperta em nós esta fé, conduz-nos a uma sociedade melhor. Aqui poderão existir momentos de perseguição, mas a glória porvir não é para comparar com os sofrimentos presentes. Oremos pelos são perseguidos, e saibamos nós aproveitar a liberdade não deixando que ela descaracterize ou dilua a nossa fé e compromisso com Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida – JESUS CRISTO!

 

                Fiquemos com algumas das palavras de Jesus no evangelho de Mateus:

                “Felizes serão quando vos insultarem, perseguirem e caluniarem, por serem meus discípulos! Alegrem-se e encham-se de satisfação porque é grande a recompensa que vos espera no céu. Pois assim também foram tratados os profetas que vos precederam.” (Mateus 5:10-12 – BPT).

 

                “Eu vos envio como ovelhas para o meio dos lobos. Portanto, sejam cautelosos como as serpentes e simples como as pombas. Tenham muito cuidado! Haverá homens que vos levarão aos tribunais e vos hão-de espancar nas suas sinagogas. Vão ter que comparecer diante de governadores e de reis, por minha causa. Aí darão testemunho de mim, a eles e aos pagãos. Quando vos entregarem às autoridades não se preocupem como hão-de falar, nem com o que hão-de dizer. Nessa altura, Deus vos dará as palavras, pois não serão vocês a falar, mas sim o espírito de Deus, vosso Pai, que falará por vosso intermédio.

                Haverá irmãos que hão-de entregar os seus próprios irmãos à morte, e pais que hão-de entregar os próprio filhos. E haverá filhos que se hão-de revoltar contra os pais e os hão-de matar. Serão odiados por toda a gente por minha causa, mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo.

                Quando vos perseguirem numa cidade, fujam para outra. Garanto-vos que o Filho do Homem há-de vir antes de terem ido a todas as cidades de Israel.

“Nenhum discípulo está acima do seu mestre, nem um servo acima do seu senhor. Basta ao discípulo que venha a ser como o seu mestre e ao servo como o seu senhor. Ora se ao dono da casa já chamaram Belzebu, que nomes hão-de chamar aos outros membros da família!”

                Não tenham medo deles! Não há nada encoberto que não venha a descobrir-se, nem há nada escondido que não venha a saber-se. O que eu vos digo em segredo, digam-no à luz do dia, e aquilo que vos é dito ao ouvido, apregoem-no em cima nos telhados. Também não devem ter medo dos que matam o corpo mas não podem matar a alma. Temam antes a Deus que pode fazer perder tanto o corpo como a lama no inferno. Não se vendem dois pássaros por uma moeda? No entanto, nem um só deles cai ao chão sem o vosso Pai querer. Até os cabelos da vossa cabeça estão contados! Não tenham medo! Vocês valem mais do que muitos pássaros.”

                “Todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu farei o mesmo por ele diante do meu Pai que está nos céus. Mas àquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus.”

                “Não pensem que vim trazer a paz à Terra. Não vim trazer a paz, mas a guerra. Vim, de facto, trazer a divisão entre filho e pai, filha e mãe, nora e sogra: os inimigos de uma pessoa serão os da sua própria família”.

                Aquele que amar o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim; e o que amar o filho ou a filha mais do que a mim, não é digno de mim. Aquele que não pegar na sua cruz e não me seguir, não é digno de mim. Aquele que pensa que tem a sua vida segura, perde-a, mas aquele que perder a sua vida por minha causa é que a tem segura.”

(Mateus 10:16-39 – BPT)

 

                “Ai de vós, doutores da lei e fariseus fingidos! Constroem os túmulos dos profetas e fazem belos monumentos aos mártires, e declaram: ‘Se tivéssemos vivido nos tempos dos nossos antepassados, não os teríamos juntado a eles para matar os profetas!’ Desse modo confessam que são descendentes daqueles que assassinaram os profetas. Acabem então o que os vossos antepassados começaram!

                Serpentes! Raças de víboras! Como é que hão-de escapar à condenação do interno? Por isso eu vos mandarei profetas, sábios e mestres; mas vocês hão-de matar alguns e crucificar outros, espancar alguns nas sinagogas, perseguindo-os de cidade em cidade. Portanto,, é sobre vocês que há-de cair o castigo pela morte de todos os inocentes, desde Abel, o justo, até Zacarias, filho de Baraquias, que vocês assassinaram entre o tempo e o altar. Fiquem sabendo que é sobre esta geração que vai cair o castigo por tudo isto!”

                Jesus continuou: ‘Oh, Jerusalém, Jerusalém! Matas os profetas e apedrejas os mensageiros que Deus te envia! Quantas vezes eu quis juntar os teus habitantes como a galinha junta os pintainhos debaixo das asas! Mas tu não quiseste. Agora, a tua casa vai ficar abandonada! E digo-vos que não voltarão a ver-me até à altura em que disserem: ‘Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor!’” (Mateus 23:29-38 – BPT) 

 

Samuel R. Pinheiro

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