UMA VIAGEM PARA RECORDAR

Amilcar Ribeiro

Dr. Amílcar D. Ribeiro

O comboio Alfa Pendular apareceu vindo do norte parecendo que não iria parar, mas o ruído da travagem foi sinal de que cumpria o horário para receber mais passageiros. A paragem era breve, pelo que apressadamente procuravam identificar e subir para a carruagem que lhes estava assinalada. Entrei também e acomodei-me no lugar que correspondia ao meu título de transporte. Reiniciou a sua marcha. Olhei em volta e observei os meus companheiros de viagem, entre eles jovens, aparentemente estudantes de regresso a casa nas férias da Páscoa, num ruido de conversação que se misturava com o deslizar compassado do comboio pelos carris.

Reparei que, num lugar à minha frente na fila oposta, estava uma figura feminina junto à janela, recostada de tal forma que não lhe via o rosto. Na mesa articulada pousava um caderno em que escrevia a breves espaços e na mão esquerda segurava um livro aberto que lia e que lhe suscitava a escrita. A cena prendeu-me a atenção. Apenas via duas mãos, a esquerda segurando o livro, que folheava por vezes, e a direita que escrevia. Entre a leitura e a escrita estava uma mente invisível que processava o que lia  e que dava ordens à mão que escrevia, com uma fluidez suave, elegante e decidida, o que durou todo o tempo da minha viagem. Estaria a realizar algum trabalho? Apenas a ler e a tomar notas sobre a leitura? Nunca o saberei, mas também não era o que me interessava.

Contemplando aquele cenário, dei comigo a pensar como é possível alguém acreditar que o universo e todos os astros e seres que nele existem, tenham aparecido de forma espontânea, resultando de biliões de acasos até chegarem à perfeição que eu observava.   Pessoas que assim pensam argumentam com o tempo do universo. Mais milhão menos milhão de anos, sempre será possível admitir teoricamente as tais combinações ideais de que resultaria a diversidade, a sobrevivência e o aperfeiçoamento das espécies. O que eu observava não era fruto do acaso, mas um projecto coerente, num modelo idealizado por uma mente perfeita, de infinita sapiência, arte e meios para o concretizar. Ali estava o produto acabado e harmónico de um ser espiritual, moral e físico dotado de inteligência e de autonomia para se afirmar como único, diferenciável, insubstituível na comunidade dos seus iguais, de algum modo espelhando a semelhança do seu Criador. Deus declara por intermédio do profeta Isaías: “Eu é que fiz a terra e nela criei o homem; as minhas mãos estenderam os céus e a todo o seu exército dei as minhas ordens.” (Is. 45:12 ) e o apóstolo Paulo faz eco desta declaração: ” E de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra.” ( Ac. 17:26 ). Por que razão terá Deus criado o ser humano, de alguma forma sendo um reflexo da Sua própria natureza? Ele mesmo o diz, também pelo profeta Isaías: ” a todos os que são chamados pelo meu nome e os que criei para minha glória, eu os formei, sim, eu os fiz.” (Is. 43:7 ). Identifica-se aqui um propósito, um fim: os que criou para Sua glória.

O ser humano não é insignificante, descartável, indiferente, mas foi criado para um fim nobre e elevado. Cada um é único na sua identidade e no seu valor. Pode ser débil, carecer de protecção, de valorização, de promoção dentro da comunidade, mas para o  Criador tem sempre a singularidade do seu imenso valor individual : “para minha glória o criei”. Se desvalorizarmos o nosso semelhante, estamos a  faltar ao reconhecimento da glória de quem o criou. Concretizando, o apóstolo Paulo escreve aos cristãos em Roma dizendo: ” amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.”, ideia que só no âmbito do evangelho é possível afirmar, por que socialmente impraticável.

Desde o alvor da civilização se mostrou necessário que a sociedade se estruturasse no sentido do reconhecimento comunitário de um mínimo ético de protecção da pessoa humana nas suas dimensões moral e física, o que levou muitos séculos de apuramento.

Entre nós, essa protecção está inscrita na lei das leis, a constituição da república portuguesa, no capítulo dos direitos, liberdades e garantias pessoais, designadamente quando estatui que a vida humana é inviolável e que em caso algum haverá pena de morte (art.º 24.º ) e que a integridade moral e física das pessoas é, também, inviolável (art.º 25.º, n.º 1). Estes são valores ou bens jurídicos com tal importância, que é a própria constituição a dar-lhes protecção, e que as leis comuns especificam no que respeita ao direito à vida, à integridade física, ao bom nome e reputação, à reserva da intimidade da vida privada, à protecção da vida intra-uterina, entre outros, utilizando a tutela máxima do direito penal. A ofensa daqueles valores pode resultar numa censura penal que afecte o património ou a própria liberdade do autor da ofensa e lhe impõe um sofrimento ou pena, pelo que toda a dimensão moral e física do ser humano nos deve merecer, pelo padrão mínimo, o respeito que a lei nos impõe, e pelo máximo, a que o Evangelho nos ensina.

NOVO NASCIMENTO

Dantas JúniorNovo Nascimento

Valdino Júnior

INDÍCE

INTRODUÇÃO.. 2

I. ANALISANDO AS PALAVRAS DE JESUS. 3

II. ANALISANDO ONDE JESUS QUERIA LEVAR NICODEMOS. 3

III. MOSTRANDO NAS ESCRITURAS. 6

IV. USANDO LIÇÕES OBJECTOS E FORMAS PRÁTICAS. 11

CONCLUSÃO.. 14

BIBLIOGRAFIA.. 15

 

INTRODUÇÃO

Neste trabalho, quero poder levar-vos a olhar de perto o quadro do diálogo de Jesus com Nicodemos. Perceber em qual nível Jesus estava a falar com Nicodemos.

Jesus veio ao mundo para apresentar o reino de Deus, para trazer salvação e fazer-nos entender como alcança-la.

Para além disso, Jesus veio nos ensinar tudo que estava escrito nas Escrituras. Elas nos leva ao Novo Concerto, a Nova Aliança. Tudo que estava escrito no Antigo Testamento era apenas uma sombra do que viria. A lei era apenas um tutor (aio), os sacrifícios eram provisórios e apontavam para o sacrifício perfeito que viria através do próprio Jesus.

 

 I. ANALISANDO AS PALAVRAS DE JESUS

João 3:3 “Em resposta, Jesus declarou: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo”. (Nova Versão Internacional)

“João 3:5.Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.”[1]

João 3:5, “Respondeu Jesus: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito.” “. (Nova Versão Internacional)

João 3:3 “Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus.” (Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

João 3:5,Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. ” (Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

Depois da leitura destes dois versículos isolados vou enquadrá-los no contexto de João 3:1-21. De seguida vou, propositadamente, levar-vos à uma visão dos mesmos com óculos especialmente voltados para as Escrituras, ou seja, em tudo que vem escrito como “sombra” da obra que Cristo veio fazer.

 

II. ANALISANDO ONDE JESUS QUERIA LEVAR NICODEMOS

“João, ao escrever o seu evangelho, assegurou-se de que soubessemos que Nicodemos era um fariseu e um dos principais dos judeus. Os fariseus eram os religiosos mais rigorosos de todos os grupos de judeus e foi com um deles que Jesus, naquele momento falou”.[2] “João 3:3 “Em resposta, Jesus declarou: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo”. (Nova Versão Internacional).” Pois Jesus sabendo quem era e qual o seu entendimento da Escritura, falou em uma linguagem que ele entenderia. Jesus não precisava mostrar mais religiosidade a Nicodemos pois ele sendo fariseu já era religioso o suficiente. Jesus teria que mostrar nas Escrituras o que tinha escrito sobre o novo nascimento, pois Nicodemos precisava nascer de novo. Nicodemos precisava de vida e Jesus fala com ele dentro do que ele conhecia. Nicodemos tinha a obrigação de saber o que era o novo nascimento, pois estava nas escrituras. Ele teria de tê-la interpretado da melhor maneira uma vez que essa era a sua função. Era mestre, alguém responsável pela leitura, interpretação e ensino.

Vejamos que em altura Jesus faz a seguinte pergunta: “(V.10) Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?” “Jesus estava supostamente a dizer para Nicodemos: isto está no Antigo Testamento!”[3] Ele tem a obrigação de saber! Como tu, sendo mestre, não sabes? É interessante o fato de que Jesus, a maior parte das vezes em que se vê confrontado com um fariseu usava as Escrituras, muitas das vezes com a pergunta: “ não leste nas Escrituras?” Como já vimos, Nicodemos era um mestre judeu, religioso e, por ser preso a religiosidade, respondeu da forma que ele entendia, isso vemos no (v.4). Nicodemos estava com uma visão terrestre da situação. “Os judeus criam que pelo fato de serem filhos de Abraão, isto é, da Aliança, e pelo fato de pertencerem àquela organização religiosa que era reputada como de origem divina, já haviam cumprido quaisquer exigências de natureza religiosa que lhes fosse solicitada quanto às questões espirituais. A teologia rabínica tinha um conceito extremamente superficial da regeneração, e o confinava essencialmente a uma modificação da posição social externa, de um gentio para um prosélito do judaísmo. Assim sendo, podemos entender a ignorância de Nicodemos sobre o ponto. No entanto, a igreja cristã de hoje ainda tem no seu meio elementos fortemente representativos dessa posição institucional. Para muitos, ser filho de Deus é a mesma coisa que pertencer a certa denominação, ou ser baptizado com o seu baptismo. Quer tenha havido ou não contacto com qualquer presença ou princípio divino, e quer tenha havido ou não qualquer transformação espiritual verdadeira no indivíduo.”[4] Jesus conhecendo que os fariseus usavam seus próprios óculos, ou seja, liam e tentavam compreender baseados no seu próprio ponto de vista. Jesus porém confrontava-os com a verdadeira interpretação das escrituras. Vou destacar alguns momentos.

Jesus vinha ensinar estas coisas, ele foi bem claro quando disse que “não veio ab-rogar a lei mais veio cumpri-la”. Jesus veio para que todos fossem salvos (Jo3:17), Jesus fez isso por amor, (Jo3.16).

Jesus não veio para complicar a Palavra, pelo contrario, ele veio esclarecer o que as pessoas não entendiam. Partes das Escrituras que estavam a ser mal interpretadas Jesus esclarecia (Marcos 12:24; Lucas 2:46-47; Mateus 22:29). O Sumo Mestre ensinava corretamente e quase todas as suas questões ou confrontos com os fariseus e doutores da lei, ele fazia questão de responder usando as Escrituras. Jesus, como um bom judeu que, cumpriu a lei de Moisés pois ela ainda estava em vigor naquela época. Isto foi-lhe ensinado desde a sua infância. Foi apresentado ao oitavo dia, sacrificaram um par de rolas e dois pombinhos, (Lucas 2:21-24; Levítico 12:3-6). Ele cumpriu a Lei que Deus deu a Moisés. Praticava-a e ensinava-a. Em nenhum momento Jesus veio revoga-la (Mateus 5:17-18). Jesus veio para simplificar as escrituras, colocar e aplicar de uma forma em que o povo entendesse, desde o mais sábio ao mais leigo. Ele confrontava os sábios e os religiosos com as Escrituras, sempre que era questionado ou ensinava alguém era baseado nas Escrituras.

No caminho de Emaús (Lucas 24:13-35) Jesus explicou-os tudo o que continha na Escritura a seu respeito, começando por Moisés e decorrendo pelos Profetas assim, Jesus ensinava, usava sempre tudo o que estava nas Escrituras ao seu respeito e toda a obra que ele iria fazer. Do mesmo modo procedeu com Nicodemos. Jesus explicava usando tudo o que se referia à sua pessoa nas Escrituras. Outras formas de Jesus ensinar é através dos confrontos com os doutores da Lei. Jesus usa sempre as Escrituras para responder as questões. Fazendo uma boa exegese e interpretação dos textos, trazendo à luz verdades que sempre estiveram lá porém os mestres, sozinhos, não se aperceberam. Jesus respondia suas questões e dúvidas sempre com as Escrituras. Muitas das vezes Jesus “virava o bico ao prego”, desta forma, ao invés de responder as questões, levava-os ao raciocínio, muitas vezes com interrogações: “não lestes e ou não tendes lido?” Pois quase toda vez que isto acontecia Jesus citava o texto da Escritura correspondente ao assunto a ser tratado. (Mateus 12:1-8; 12:9-21) Jesus cumpriu o que estava escrito em Isaías (Isaías 42:1-4); Mateus 19:3-10; 21:14-17, 33-46; 22:23-33; Marcos 2:23-28; 12:1-12,26; Lucas 6:1-5). Repare bem de perto a abordagem de Jesus em (Mateus 19: 4-5) Jesus pergunta-os antes de responder a pergunta, “ não tendes lido”? 

“Tratando-se do novo nascimento, Jesus ao usar este termo (João 3:5), “nascer de novo” que em grego “novo” termo que pode significar aqui uma dentre duas coisas, a saber: 1. Novamente, isto é, nascer «novamente», nascer do alto. Ambas são traduções possíveis, e ambas têm sido defendidas pelos eruditos. Tais significados, como «do alto» (quando se refere a questões espaciais), se encontram no vs. 31 deste mesmo capítulo, onde se lê: «Quem vem das alturas certamente está acima de todos…,(Ver também os trechos de João 19:11; Tia. 1:17 e 3:15,17). Espacialmente falando, pode significar do topo, conforme vemos nas passagens de Mat. 27:51; Mare. 15:38 e João 19:23, Contudo, também pode significar «do principio», conforme vemos em Luc. 1:3 e Atos 26:5. Novamente, pois, é tradução definidamente correta, no trecho de Gál. 4:9. Essencialmente, nesta passagem, os sentidos podem ser estreitados a apenas dois: 1. «novamente»; 2. «do alto».”[5]

Pela tradição, os fariseus havia lido com certeza as Escrituras, porém não deveriam ter compreendido ou feito a correcta interpretação. Olhando desta forma, fica fácil perceber onde Jesus estava levando Nicodemos. Na dimensão em que ele falava não será difícil perceber que Jesus estava falando e apontando para a Escritura. Algo que ele deveria saber pois conhecia ao ponto de ensinar, Nicodemos era mestre.  

 Logo iremos ver que Jesus estava  a falar com Nicodemos, dentro de uma forma que ele entenderia. Jesus não queria fazer uma charada para que Nicodemos ficasse perdido, pelo contrário, Jesus falou dentro do conhecimento que ele tinha. Fê-lo caminhar por caminhos que sempre andou. Fez aplicações a partir de lições objeto com base naquilo que Nicodemos conhecia e poderia perceber rapidamente.

 

III. MOSTRANDO NAS ESCRITURAS

“Já vimos que Jesus estava trazendo Nicodemos para um ponto no qual ele conhecia, então o que Jesus queria mostrar a Nicodemos que ele não conseguia perceber? “ tu és mestre em Israel e não compreende estas coisas?” (João 3:10).

Sem entrar muito em pormenores, pois o intuito é mostrar o que Jesus queria explicar a Nicodemos, vemos porque (João3:5), não se tratava de água do baptismo. “Milhões de pessoas têm recebido o ensino de que o seu batismo faz com que elas nasçam de novo. Se esse ensino sobre o baptismo não é verdade, ele é uma tragédia enorme e mundial. Não creio que seja verdade. Então, o que Jesus quis dizer com as palavras: “Quem não nascer da água e do Espírito”? Há várias razoes pelas quais penso que a referência à água, neste versículo, não diz respeito ao baptismo cristão.

Em primeiro lugar, se fosse uma referência ao baptismo cristão e se fosse tão essencial ao novo nascimento, como alguns o dizem, pareceria estranha a sua ausência no restante do capítulo, quando Jesus nos ensina como ter a vida eterna: “Para que todo o que nele crê tenha a vida eterna” (v. 15); “Para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (v. 16); “Quem nele crê não é julgado” (v. 18). Se o baptismo fosse tão essencial, seria estranho não ser mencionado juntamente com a fé no restante do capítulo.

Em segundo, a analogia do vento, no versículo 8, pareceria estranha se o novo nascimento estivesse tão firmemente ligado ao baptismo com água. Jesus disse: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito”. Isso parece dizer-nos que, ao produzir a Regeneração, Deus é tão livre quanto o vento. Mas, se isso acontecesse toda vez que um bebe tivesse a cabeça molhada, essa liberdade não existiria. Nesse caso, o vento seria limitado pelo sacramento. Esse texto não transmite a ideia de que Jesus estava pensando em termos de sacramento ou baptismo.”[6]

Então onde Jesus queria realmente chegar? (v.10) “tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas?” Jesus estava falando de Regeneração. Esta acção é atribuída a Deus (João1:13). “Ele, que não foi gerado nem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus.”[7] “Isto é proveniente do alto, (João 3:3,7), efectuada pelo Espírito Santo (João 3:,8). Há outras referências que deixam subentendidas essas verdades, como (Efésios 2:4,5; 1 João 2:29 e 4:7; Tito3:5). A passagem de (João3:8) adverte-nos de que há muitos elementos inescrutáveis nesse assunto, pelo menos para nosso estado presente de conhecimento.

Podemos definir a regeneração como uma actuação drástica do Espírito Santo, sobre a natureza humana caída no pecado, que conduz o indivíduo, não somente à uma nova perspectiva e à uma nova natureza psicológica, mas, finalmente, à santidade perfeita, à participação na natureza divina, conforme Cristo participa dessa natureza. O regenerado, final e perfeitamente, nasce de novo nos lugares celestiais e recebe assim a natureza metafísica real de Cristo e dessa maneira um filho é conduzido à glória, totalmente transformado em um novo tipo de ser, extremamente exaltado.

John Gill (in loc.) diz: «…nascido de novo, regenerado ou revivificado pelo Espírito de Deus; renovado no espírito de sua mente; tem Cristo formado no seu coração; tornar-se participante da natureza divina. Em tudo foi feito uma nova criatura; foi dotado de outro coração, em princípio na prática e na sua conduta, nascida do alto (conforme a palavra é traduzida no vs. 31), isto é, mediante um poder sobrenatural, tendo sido impresso com a imagem celestial; e tendo sido chamado com a vocação celestial, com a alta chamada de Deus, em Cristo Jesus».

Adam Clarke (in loc): «O novo nascimento, que é aqui referido, compreende não somente aquilo que se chama de justificação ou perdão, mas também aquilo que se chama de santificação e consagração. Portanto, o pecado deve ter sido perdoado, e a impureza desse coração deve ter sido lavada, antes que a alma possa entrar no reino de Deus. Posto que o novo nascimento subentende a renovação da alma inteira, em retidão e santidade autêntica, não se trata de uma questão que possamos desprezar facilmente: o céu é um lugar de santidade, e nada que lhe seja diferente poderá jamais entrar ali»”[8].

Jesus mostra esta santidade durante o tempo em que anda pregando e ensinando. Ele mostra muito mais quando foi ao Calvário. É esta santidade, é esta Regeneração que Ele quer mostrar a Nicodemos, a Regeneração do coração do homem e na vida daqueles a quem Ele salva. Isso acontece no mundo diante dos olhos dos gentios, que podem ver a transformação que ocorre na vida dos crentes, como também ocorria na vida dos judeus que entendiam o real sentido do nascer de novo. Este conceito de novo nascimento, estava explicito nas Escrituras. A Regeneração estava o tempo todo presente. O que Jesus fez foi traze-la para o contexto e aplica-la a Nicodemos. Textos como (Ezequiel 36:22-32) falam deste assunto no Antigo Testamento.O versículo v.24: “Vou levá-lo de entre os pagãos” queria dizer que “O instrumento que leva o povo de Deus dentre as nações é o Evangelho, que torna crentes pessoas de toda tribo, povo, nação e língua. Este mesmo versículo faz menção de que o povo de Israel seria levado novamente à sua terra. Esta é a terra de que Jesus ao falar com Nicodemos disse que é necessário nascer de novo para entrar nela (Mt 24:31).

O versículo 25 diz o seguinte: “Então aspergirei Água Pura sobre Vos, e ficareis purificados; de Todas como vossas imundícias, e de Todos os Vossos ídolos, vos purificarei.” Estes versículos estão relacionados com as palavras do Senhor a Nicodemos em João 3:3-8. É uma passagem que ele deveria saber. Desta forma entendeu o significado das palavras do Senhor para ele (João 3:10). Explica o significado da água em João 3:5. Aqueles que acreditam nas doutrinas pagãs de regeneração baptismal não têm sido lentos para explorar a passagem dos Evangelhos em favor do seu ensino. Nem sempre vimos como interpretar a água em João 3:5. Tivemos a estranha teoria de que ele se refere ao parto natural, água parada para o sémen, enquanto o Espírito refere-se à regeneração, ou ao nascimento espiritual. Tal ideia é tensa, absurda, fora de harmonia com o contexto e não é obtida comparando Escritura com Escritura pois é completamente ausente de João 3:5.”[9]

A água é um símbolo da acção do Espírito Santo que viria fazer a mudança, sendo assim ela pode alcançar vasta interpretação simbólica, desde o batismo de João, o rito judaico ao baptismo de hoje, incluindo a Palavra ( as Escrituras). O mais importante é que quando Jesus falou com Nicodemos falou de algo que Nicodemos poderia entender como ação regeneradora, algo que se encontrava nas Escrituras. Desta forma faz sentido o que Jesus falou depois. Isto levou Nicodemos a rever tudo o que estava escrito com outros óculos (Números 8:6-7; Êxodo 19:10; Salmos 51:2,7). “A água é apresentada com frequência na literatura joanina, cerca de vinte vezes no Evangelho. Duas vezes na sua primeira Epístola e dezassete vezes em Apocalipse. Nesta passagem poderá salientar a acção directa da Palavra de Deus na vida do homem. Tal como a água, a Palavra é um agente purificador e libertador da vida humana. A água é vital para a existência do homem (Ex 23.25). É através dela que o sacerdote do Antigo Testamento efectuava o rito da limpeza das mãos e dos pés (Ex 30.17-21). Foi através dela que Jesus deixou um exemplo de humildade e de purificação (Jo 13.1-20)”[10].Embora tenha citados estes textos e outros que fazem referência a água e o Espírito, Jesus estava apontando para o texto que se referia uma Nova Aliança. Não a Abraâmica ou a do Monte Sinai, mas sim a Aliança feita no seu próprio sangue a qual viria pela crucificação e expiação que seria feita por Ele. Isto pode ser percebido após a apresentação de Jesus (João 3:14).

“O texto que mais exemplifica é (Ezequiel 36:22-32), creio ser esta a passagem que dá origem às palavras de Jesus: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus”. Para quem Deus falou: “Vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus” (v. 28)? Resposta: para aqueles aos quais Ele disse: “Aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei” (v. 25). bem como para aqueles aos quais Ele disse: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo (v. 26). Em outras palavras, entrarão no reino aqueles que têm uma novidade que envolve a purificação do velho e a criação do novo.

Assim, o modo correto de pensar sobre o seu novo coração, novo espírito e nova natureza é que eles ainda são você e precisam ser perdoados e purificados este é o objectivo da referência à água. Minha culpa precisa ser lavada. A purificação com água é uma figura disso. Jeremias 33.8 afirma-o nestes termos: “Purificá-los-ei de toda a sua iniquidade com que pecaram contra mim; e perdoarei todas as suas iniquidades com que pecaram e transgrediram contra mim”. Portanto, a pessoa que somos continua a existir, ela apenas necessita de ser perdoada, e lavada da sua culpa”[11]

“E assim que entendo esses versículos: (Ex 36,26-27). O coração de pedra significa o coração morto que era insensível e indiferente à realidade espiritual o coração que você tinha antes do novo nascimento. Ele podia reagir com paixão e desejo a muitas coisas, mas estava endurecido em relação à verdade espiritual, à beleza de Jesus Cristo, à glória de Deus e ao caminho da santidade. E isso que precisa ser mudado para que vejamos o reino de Deus.

No novo nascimento, Deus remove o coração de pedra e dá-nos um coração de carne. A palavra carne não significa “meramente humano” como em (João 3:6 “O que é nascido da carne é carne). Significa vivo, correspondente e sensível, ao invés de uma pedra inanimada. No novo nascimento, o tédio inerte e inflexível que sentimos para com Cristo é substituído por um coração que sente o valor d’Ele.

Quando Ezequiel disse: “Porei dentro de vós espírito novo, porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos” (vv. 26-27), penso que ele pretendia dizer que no novo nascimento Deus coloca no nosso coração uma vida ativa, sobrenatural e espiritual. Esta é a nova vida, este é o novo espírito. Uma obra do próprio Espírito Santo, dando forma e carácter ao nosso novo coração”[12].

“O espírito é o impulso que o dirige e regula seus desejos, seus pensamentos, e sua conduta. Os dois serão substituídos e renovados; o coração que é teimoso, rebelde e insensível (o coração de pedra) por um que é macio, impressionável e responsivo {coração de carne). Nada há na palavra hebraica para “carne” que sugira a tendência corrompedora do Grego sarx, conforme é usado no Novo Testamento e especialmente pelo apóstolo Paulo em Romanos 8. O resultado deste transplante psicológico é que Israel passará por uma verdadeira mudança de sentimentos e se tomará, pela iniciativa graciosa de Deus, o tipo de povo que, no passado, deixara de ser de modo tão marcante. A implantação do Espírito de Deus dentro deles transformará seus motivos e lhes capacitará a viver de acordo com os estatutos e os juízos de Deus (27). Jeremias, em passagem semelhante da sua profecia, sobre a qual Ezequiel parece estar baseado (Jr 31:31-34), não faz referência ao dom do Espírito, mas a sua referência é a de que Deus vai imprimir “as suas leis” na nossa mente, inscrevê-las “no coração” claramente produz os mesmos resultados. O revestimento do Espírito era um sinal da era Messiânica (cf. Is 42:1; 44:3; 59:21; Jl 2:28-29). Ezequiel tinha consciência disto e o mencionou em ocasiões posteriores (37:14; 39:29). Para ele, portanto, a restauração de Israel era o início dos últimos dias, a era do Messias. Em harmonia com aquela ideia, o relacionamento da Aliança entre Deus e Israel seria renovado (vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus, 28), e além da purificação das imundícias do passado, haveria a perspectiva de uma Canaã com superabundância de prosperidade natural (29)”[13].

 

IV. USANDO LIÇÕES OBJECTOS E FORMAS PRÁTICAS

Jesus, a partir de (João 3:10-21): “Começando pelo (v.11) torna-se um monólogo entre Jesus e Nicodemos onde Jesus toma a frente e evolui de maneira quase imperceptível.”[14]

“Nicodemos acreditava que o Messias, na sua vinda, seria “levantado” ou exaltado num trono para salvar Israel da total derrota política. Jesus, no entanto, ensinou que em primeiro lugar, o Messias teria que ser levantado de modo bem diferente: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” O Messias teria de ser levantado numa Cruz para salvar a nação do perecimento espiritual.

Qual a conexão entre a crucificação do Filho do homem e a regeneração dos filhos dos homens? Quando Deus criou o homem e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, transmitiu a este não somente a vida mental e física, como também o Espírito Santo. Adão foi criado perfeito, e certamente deve ter recebido o Espírito Santo, pois sem ele a personalidade humana é incompleta diante de Deus. Quando os nossos primeiros pais pecaram, iniciou-se a morte espiritual e deixou de habitar neles o Espírito Santo. Quando, portanto, veio o Redentor, a sua missão era restaurar à humanidade a presença do Espírito. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro. Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito” (Gl 3.13,14). Cristo morreu na cruz a fim de remover o obstáculo que não permitia que a vida humana recebesse a presença de Deus. Este obstáculo era o pecado.”[15]

Em (João 3:13) Jesus faz uma referência ao título de Filho do Homem pois este é a grande designação para pessoa de Jesus. Este é o único que Jesus aplica a si mesmo, é uma expressão hebraica, o que quer dizer, “ben Adam”. Esta expressão é judaica mais os Pagãos usavam. Repare na expressão que foi usada quando Sadraque e seus amigos foram jogados na fornalha: um pagão diz que ver um filho dos deuses o paganismo já tinham um conceito do Filho do Homem.

O Velho Testamento trata a ideia de um Filho do Homem Escatológico bem lá a frente porém, Jesus vem no sinóptico dizendo que é agora (Lucas 4:18). Estêvão, quando vê Jesus vê Jesus de Daniel 7:13. Quando nós tentamos encontrar o Deus que não existe não encontramos o que existe. A designação de Filho do Homem não fazia muito sentido se Jesus tivesse aparecido como Filho do Homem quando apareceu terreno. Uma vez que eles aguardavam pelo Filho do Homem de Daniel 7:13, uma figura escatológica que viria restaurar o Reino. O que estava em frente deles era o Filho do Homem de Isaías 53, o Servo Sofredor. Existia a ideia de que o Filho do Homem seria o Segundo Adão e resolveria o problema do Primeiro. Quando Jesus fala com Nicodemos ele está com a ideia de Daniel 7:13. Isso percebe-se no diálogo de João 3:2 com a ideia do Filho do Homem que vem nas nuvens. Mas Jesus trá-lo para a realidade de Isaías 53 e explica isso com uma lição objecto a partir de João 3:14 onde mostra exatamente como seria nascer de novo através da Nova Aliança eterna que se concretizava na expiação. “No vs.14 encontramos uma ilustração simbólica desse ‘levantar’ de Cristo na narrativa de Moisés e da serpente de metal (ver Núm. 21:9). Os israelitas, uma vez mordidos pelas serpentes, eram curados mediante a obediência à ordem de olharem para a serpente de metal, que havia sido pendurada num poste. Assim também, a vida, a vida eterna, nos vem mediante a contemplação (no sentido de aceitação), ou fé no Filho do homem, na sua morte expiatória e na sua subsequente ressurreição.

O tema que Nicodemos viera debater com Jesus era o reino de Deus, o que o mesmo significa e como alguém pode tornar-se participante do mesmo. Mas Jesus apontou para o reino celestial, mostrando como Nicodemos e todos os homens podem ser admitidos nesse reino, tornando-se participantes dele. Jesus esclareceu, portanto que o novo nascimento é essencial; e aqui ele dá início à explicação sobre como o novo nascimento ocorre, bem e como sobre quais princípios espirituais tem ele o seu alicerce. Uma das grandes pedras fundamentais do novo nascimento é a cruz de Cristo. A fé em Cristo e no que ele fez na cruz, avança para o primeiro plano. É necessária a cura da alma, tão certamente como os israelitas precisavam da cura do corpo devido às mordidas das serpentes venenosas. Usualmente, a serpente serve de símbolo do mal, representando o próprio Satanás. Essa circunstância se torna bom símbolo da condição de perdição dos homens, cujas almas, por estarem alienadas de Deus, estão enfermas até à morte. As mordidas da serpente permeiam, como seu veneno, o arcabouço inteiro de suas vítimas, e outro tanto sucede no caso do pecado, que entremeia a personalidade humana.

No tempo de Moisés, a serpente de metal foi dependurada em um poste a fim de mostrar aos israelitas que, embora o pecado houvesse atraído o julgamento, todavia lhes era oferecida a cura, cura essa verdadeiramente eficaz. Na cruz, embora não houvesse iniquidade alguma em Cristo, Jesus se fez pecado por nós e, no madeiro, foi ele que derrotou o inimigo e fez dele um espetáculo público pelo que lemos no trecho de Col 2:14,15.”[16]

No monólogo, Jesus explica detalhadamente o que acontece quando se entende a Expiação. É através dela que é dado o novo nascimento. Durante todo o diálogo de Jesus com Nicodemos estava baseado nas Escrituras, tudo o que havia escrito sobre Ele nas Escrituras e como iria acontecer a Nova Aliança, qual seria o papel de Jesus, e como Nicodemos faria para fazer parte do reino.

 

 CONCLUSÃO

O novo nascimento é fundamental na vida de um ser humano, o tempo todo o Antigo Testamento, nos dá sombra sobre tudo que iria vir acontecer, percebemos com o diálogo de Nicodemos e Jesus, que tudo o qual Jesus estava a falar com Nicodemos já vinham sendo apresentado como sombra no Antigo Testamento, através do Pentateuco e dos Profetas.

Jesus traz a luz tudo que estava escrito e acontecendo, no qual o que Ele era, (João 8:12) o cordeiro de Deus que foi morto desde a fundação do mundo, o que ele é (Apocalipse 13:8) o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e o que há de vir (João 1:29;Apocalipse 5: 6,8,12) o cordeiro em apocalipse.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      

Através deste diálogo de Jesus e Nicodemos, nos faz ver a real necessidade de Cristo para nascer de novo, pois se não nascermos não veremos o reino de Deus.

Cristo, nos mostra claramente que somente a teologia não salva. Mesmo sendo o maior teólogo ou sábio do mundo, não conseguiria chegar lá com sua sapiência. Somente através de Cristo pois Nicodemos sabia tudo que estava escrito porém não conseguia compreender, pois ele teria que ter fé, por quanto a causa e a porta para o reino estava diante dele.

Não basta só conhecer Jesus e saber quem ele é, não basta só crer em Jesus, pois os demónios crêem e temem, não basta só ter fé nós temos que ter e aceitar a obra redentora de Cristo na cruz e tudo isto, pois o nascer de novo é viver em conformidade com saber quem ele é, crer, ter fé, aceitar a obra redentora e viver dia após dia de acordo com isto, buscando a santificação.

“William MacDonald descreve em seu livro, que o episódio da conversa com Jesus e Nicodemos desde (João 3:1-16) esta nos mostrando a forma que Jesus empregou esse episódio para mostrar a Nicodemos que Cristo teria de ser levantado (crucificado) para conceder vida eterna a quem olhasse para ele pela fé.”[17]. Este é um ponto alto da explicação de Cristo, pois ele o tempo todo estava a falar com Nicodemos através das escrituras.

 

BIBLIOGRAFIA

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ATKINSON, Basil F. C., M.A, Ph.D. (1971). The Atkinson Commentary of the Bible. London: Revival Literature.

CULLMANN, Oscar (2008). Cristologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos.

PIPER, John (2009). Finalmente Vivos – O que acontece quando nascemos de novo? São Paulo: Fiel.

GIRAUDO, Tiago (Direção editorial) (1973). A Biblia de Jerusalém. São Paulo, São Paulo: Edições Paulinas.

PEARLMAN, Myer (1995). João o Evangelho do Filho de Deus. Rio de Janeiro: CPAD.

FIGUEIREDO, Pedro (2008). A Questão do Aóyoç e os Discursos de Jesus no Evangelho de S. João. Lisboa: Universitária Lusófonas .

MACDONALD, William (2011). Comentário Bíblico Popular Antigo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão.



[1]BEERS, Ronald A. (Editor Geral) (2003). Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, Revista e Corrigida. Pág. 1420.

[2]PIPER, John. Finalmente Vivos – O que acontece quando nascemos de novo? Pág. 29.

[3]PIPER, John. Finalmente Vivos – O que acontece quando nascemos de novo?Pág. 39.

[4]CHAMPLIN, Norman. R. (1997). Enciclopédia De Biblia Teologia e Filosofia(3ª Edição., Vol. 4). Pág. 527.

[5]CHAMPLIN, Norman. R.. O Novo Testamento Interpletado Versículo Por Versículo. Pág. 304.

[6]PIPER, John. Finalmente Vivos – O que acontece quando nascemos de novo? Pág. 38.

[7]GIRAUDO, Tiago (Direção editorial) (1973). A Biblia de Jerusalém.. Pág. 1986.

[8]CHAMPLIN, Norman. R. (1997). Enciclopédia De Biblia Teologia e Filosofia,3ª Edição., Vol. 4. Pág. 529.

[9]ATKINSON, Basil F. C., M.A, Ph.D.. The Atkinson Commentary of the Bible. Pág. 99.

[10]FIGUEIREDO, Pedro. A Questão do Aóyoç e os Discursos de Jesus no Evangelho de S. João. Pág. 96.

[11]PIPER, John. Finalmente Vivos – O que acontece quando nascemos de novo? Pág. 40.

[12]PIPER, John. Finalmente Vivos – O que acontece quando nascemos de novo? Pág. 41.

[13]TAYLOR, John B., M.A. Ezequiel Introdução e comentário. Pág. 208.

[14]BRUCE, F. F..João introdução e comentário. Pág. 83.

[15]PEARLMAN, Myer. João o Evangelho do Filho de Deus. Pág. 45.

[16]CHAMPLIN, Norman. R. O Novo Testamento Interpletado Versículo Por Versículo. Pág. 310.

[17]MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular Antigo Testamento. Pág. 125.

 

A MORTE VOLUNTÁRIA

A MORTE VOLUNTÁRIA

“Então, Saul tomou a espada e se lançou sobre ela.” I Samuel,31:4.

SJTP3aul não foi um herói paradigmático, embora trágico, por isso a sua morte é sem louvor bíblico. Embora David tenha feito uma elegia para o Livro dos Justos, mas essa morte entra no acto deplorável e não recomendável do suicídio. E um suicídio levou a outro.

Algumas culturas muito posteriores iriam ver este acto de Saul e do seu escudeiro como uma maneira honrosa de escapar a uma situação de derrota e de vergonha.

Em todo o caso, a Bíblia Sagrada, sem julgar moralmente os suicidas, refere apenas quatro declarados actos de aplicação da morte a si próprio, sendo três de personagens marcantes: Saul, Aitofel e Judas Iscariotes.

O vocábulo não é remoto, embora no latim se dissesse sui caedere. O termo foi criado ou usado pela primeira vez em 1737 por um historiador e jornalista, o abade francês Pierre Desfontaines, contemporâneo e antagonista de Voltaire, e baseia-se na junção das palavras sui (si mesmo) e caederes (acção de matar).

Remoto é, contudo, o acto em si. E no Velho Testamento o suicídio de Aitofel, apesar de antigo, dir-se-ia que já possui em si mesmo os contornos de um suicídio moderno.

Aitofel chega a casa, pondera sobre as impossibilidades de Absalão sair vencedor, arruma os seus papéis, guarda a sua componente de traição a David e enforca-se. Deixou uma nota de suicídio? Desconhece-se, embora as razões do seu acto limite estejam divulgadas em pormenor no livro bíblico de Samuel (II, 17,23).

 

UM TERMO SOCIAL QUE NÃO SE DESVINCULA DA FILOSOFIA

 

Se há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio.Julgar se a vida merece ou não ser vivida”  -escreveu Albert Camus, in “O Mito de Sísifo”

 O suicídio é sempre um atentado contra o Ser. O filósofo Nietzsche chamou-lhe “morte voluntária”.  Com um significado de desespero e como uma linha de fronteira, entre o ser e a sua essência.

Certo poeta e dramaturgo marselhês, do século XX, recomendou mais a si próprio do que aos outros: «antes de me suicidar exijo que me assegurem a respeito do ser, eu gostaria de estar seguro a respeito da morte»  Esse escritor surrealista, Antonin Artaud, teve a coragem de escrever um livro invulgar em que acusa a sociedade de ter “suicidado” Van Gogh. Mesmo este, ao suicidar-se com 37 anos, escreveu uma mensagem (nota de suicídio) em que dizia: «A tristeza nunca vai embora».

Afigura-se sempre, do lado do observador social, que o suicida é aquele que procura uma saída. O primeiro rei israelita procurou-a. Tal foi também o caso-estudo da história da Literatura anglo-saxónica, no âmbito dos poetas-depressivos, com o suicídio de Sylvia Plath aos 30 anos, em 1963.

 

“Morrer

É uma arte, como outra coisa qualquer.

E eu executo-a excepcionalmente bem.”

(Sylvia Plath, no poema “Lady Lazarus”)

 

O grande mártir da teologia protestante Dietrich Bonhoeffer escreveu no seu livro «Tentação» que o «suicídio é o último acto do drama da tristeza» e apontou o «pecado da tristeza» como um desespero/ desesperatio.

 

 

SEM SAÍDA OU O “HUIS CLOS” DE SARTRE

Em qualquer caso de suicídio, que implique sempre a tomada de consciência do acto na linha de fronteira do desespero, que é «o desejo de nos desembaraçarmos do nosso eu», uma espécie de anseio por um repouso sem conflito, existe sempre a ideia de que se está a fugir da existência, salvo nos casos de suicidas com gravíssimas patologias mentais.

Tanto pensadores cristãos como Paul Tillich ou ateus como Jean-Paul Sartre falam da impossibilidade de fuga a nós próprios ou fugir de algo ou de «um quarto» sem saída. Deste último a conhecida peça «Huis Clos»( «Portas Fechadas»), agnóstica e existencialista, trata do sentimento do ser humano fechado com a sua culpa e a dos outros, numa espécie de quarto que é o «inferno» de Sartre, sem saída. As três personagens estão «mortas» e têm que suportar a convivência e a sua culpa, concluindo para si que o inferno são os outros. É uma peça literária da desesperança. No momento em que uma das personagens tenta matar a outra, é-lhe dito:«O que estás tu a fazer? Tu sabes muito bem que estamos mortas. Nada nos poderá voltar a matar, facas, veneno, cordas. Estamos mortas para sempre.» Naquele mundo / inferno fechado nem o suicídio seria possível.

 

O CONFLITO COM O PRÓPRIO SER, SEGUNDO TILLICH

Num acto suicida estão implícitas questões como: vida x morte, presença x ausência, e elas fazem do acto perpetrado um enigma. A morte natural, mesmo a por doença, não pode ser considerada um enigma, face à causa bíblica e ontológica da morte (o Pecado), ainda que se possa pensar que se morre sempre demasiado cedo ou demasiado tarde.

Mas o suicídio é uma pretensa fuga. Como uma forma de o homem se livrar de si mesmo, considera o teólogo protestante Paul Tillich, de resto como uma total impossibilidade. Porque é também uma auto-negação da vida. De acordo com Tillich é a Fé que dá coragem para existir apesar das aflições, problemas e tragédias que se abatam sobre o Ser, a coragem é essencial ao Ser.

Por isso mesmo o atentado do ser humano à sua existência entra na dimensão teológica e bíblica. Com esta perspectiva, as reacções ao suicídio, ao longo dos séculos, têm variado de cultura para cultura. Em muitas religiões, o acto é considerado pecado. Tratando-se de uma interpretação correcta, não é de estranhar que Agostinho de Hipona tenha hiperbolizado a exegese ao afirmar que os cristãos não podem cometer suicídio, pois este está também compreendido no mandamento «Não matarás» (Ex 20,13).

Porém, tal disputa em torno do suicídio é quase sempre relegada para o terreno do social e das patologias mentais.

Mas se a previsibilidade social deste atentado nem sempre está patente, existem hoje, sobretudo hoje numa sociedade mergulhada em depressões e falta de esperança, alegadamente sem saídas, alguns indicadores de risco:

Tentativa anterior ou fantasias de suicídio. Disponibilidade de meios para o suicídio. Ideia de suicídio abertamente falada. Preparação de um testamento. Luto pela perda de alguém próximo. História de suicídio na família. Pessimismo ou falta de esperança. Jovens suicidas.

E, sobretudo, é preciso que se atente para um fenómeno cada vez mais pressionante do homem e da mulher modernos, o que os especialistas consideram como Borderline. A Perturbação de Personalidade Limite (PPL) que produz um equívoco perigoso, a instabilidade estável, que leva a estados de auto-mutilação diversos que podem culminar com a concretização máxima do suicídio.

Normalmente é apresentada no humor, nos relacionamentos com os outros, na imagem que se tem de si mesmo, nos comportamentos mais diversos na vida familiar e profissional.

Apesar de uma Associação Internacional de Prevenção do Suicídio, que estuda e previne o mesmo, os números no mundo continuam assustadores – mais de 3000 por dia -, e, com certeza, desconhecidos os números daqueles que praticam a «deliberate self harm»( o que designa a intenção de suicídio, ou auto-lesão intencionada).

Dramaticamente entre os jovens ( dos 15 aos 24 anos) o suicídio é a terceira causa de morte, atrás dos acidentes, homicídios ou mesmo guerras. Segundo o INE, que há quase uma década já mostrava números preocupantes, 910 casos.

Face a estes e outros números que as estatísticas hoje evidenciem, finalmente, a tautologia da enfermidade humana: desespero desesperado pela incapacidade de ser, tem no Evangelho de Jesus Cristo o antídoto – o Amor de Deus pelo homem.

Mesmo no desespero contínua hoje válido o que afirmou Kierkegaard: «Quem desespera não pode morrer», isto é, desenvencilhar-se do Eu, mas levá-lo aos pés do Salvador Jesus Cristo.

                                                                                      

 © João Tomaz Parreira

UMA CERTA PARÁBOLA SOCIAL, TEOLÓGICA, COM ESCATOLOGIA

JTP2UMA CERTA PARÁBOLA SOCIAL, TEOLÓGICA, COM ESCATOLOGIA

“Ora, havia certo homem rico, (…) Havia também certo mendigo”  

Evangelho de Lucas

A parábola do “Rico e Lázaro” tem uma linguagem figurativa e, também, sobre uma dolorosa realidade social.

Uma leitura que resolva apenas circunscrever-se à letra, pode induzir-nos mesmo a pensar num princípio de luta de classes. Não é o espírito da parábola, mas, do ponto de vista humano, também não anda longe, porque o que o Senhor Jesus Cristo quis sublinhar e repreender foi a cobiça dos homens e a indiferença dos ricos pelo sofrimento dos pobres.

Usando duas personagens, nomeando uma e deixando incógnita outra (para não ferir identidades conhecidas?), a parábola resolve várias questões do pensamento humano social, teológico e, já agora, da própria escatologia que a parábola contém. E quando Jesus sobre a morte de Lázaro usa a expressão “ser levado pelos anjos”, revestiu poeticamente de beleza a indigência de Lázaro, os seus vestidos rôtos, o seu corpo, coberto na morte pelas mãos dos anjos, como o não foi em vida pelos homens.

No plano social

Na primeira parte da diégese (Lc 16:19-21), o essencial foi a ênfase que Cristo deu ao aspecto social, às relações humanas.

Lucas ao “transcrever”, na narrativa que surge depois de outra sobre assunto totalmente diverso, mas ainda assim no âmbito das críticas aos fariseus, usa uma literariedade para organizar a linguagem da diferença social entre um homem que vivia opulentamente e um pobre, coberto de chagas, que vivia à sua porta, no desprezo do lado de fora da escala social.

A profundidade da acusação de Cristo contra esse rico, e que Lucas deixa nas entrelinhas, é que o auxílio que essa mansão rica concedia ao pobre Lázaro seria apenas a impessoalidade das migalhas, migalhas sem rosto, mais nada. “E desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico”. A caridade sem face.

O nosso conhecimento dos fariseus, permite-nos situá-los como grupo ou seita que floresceu a partir do século II a.C., no tempo dos Macabeus. Muitos séculos antes, a Torah já regulamentava as boas relações humanas, a protecção para os fracos, o que os fariseus deveriam conhecer. Eram tão importantes as boas práticas sociais que até entre os primitivos cristãos a Didaqué (Instrução)  prescrevia: “Não serás cobiçoso nem rapace, nem hipócrita, nem soberbo.” (2,6)

O próprio evangelista Lucas, escreveu que os fariseus “eram avarentos” (16:14)

No plano teológico e escatológico

Jesus Cristo sabia que esta parábola faria silêncios profundos, ainda que não admitidos pelos ouvintes. Mesmo com linguagem figurativa, a teologia não deixaria de abalar os fariseus. Confrontou-os com o devido amor ao próximo, independentemente da sua condição social, agora confrontá-los-ia com Abraão, com o seio de Abraão e com o inferno.

Ora, qualquer fariseu dizia-se descendente de Abraão, reivindicava uma relação de mais de um milénio que, apesar do tempo, autorizava qualquer fariseu a chamar pai ao homem de Ur da Caldeia, o homem a quem Deus chamou Amigo ( Isaías, 41:8).

Colocar o rico no Hades é teologia pura, no que concerne aos resultados do Pecado e da relação do homem com Deus, até na pessoa do próximo, seja-se rico ou pobre. Jesus Cristo afirmou, deitando borda fora toda a pretensa caridadezinha social, com o seu ranço institucional: “Amarás o próximo como a ti mesmo” (Mt 22:39)

Num simples volume de teologia sistemática, como o antigo de Myer Pearlman e.g., a morte é uma consequência estudada no capítulo dos Acontecimentos Finais, e o inferno como lugar de extremo sofrimento, de recordações, remorsos e desejos insatisfeitos. De tudo isso, falou Jesus Cristo nesta parábola, usando a narrativa e a dialogia.

É do conhecimento geral do leitor estudioso da Bíblia, que Lucas tinha cultura linguística e apetência literária no modo como narrava, a estrutura da sua linguagem era composta de elementos literários. Na enunciação do que Jesus Cristo disse, o estilo do discurso relatado – como se chama em linguística-, a situação dos protagonistas é emotiva. A chamada dialogia é perfeita e emocional na parte do diálogo com que Jesus Cristo traz ao temporal o conflito meta-histórico, que ocorre na eternidade, entre o rico e Abraão.

Com efeito, a parábola do Rico e Lázaro é das mais profundamente didácticas e poéticas, no sentido da beleza trágica, que possuímos no Novo Testamento.

Por alguma profunda razão da sensibilidade estética de Lucas, esta parábola só a encontramos no seu evangelho.

Esta belíssima parábola é um compêndio de didáctica, é um quadro, é um poema, que em meia dúzia de linhas expressionistas, embeleza o pobre Lázaro. Aquele que tinha o corpo coberto de chagas, mas foi levado pelas mãos dos anjos.

                                                                                         © João Tomaz Parreira

A EXPIAÇÃO

SamuelPiresA Expiação

 

Samuel David de Jesus Pires

MONTE ESPERANÇA INSTITUTO BÍBLICO
Convenção das Assembleias de Deus em Portugal

 

Trabalho para a disciplina de

Metodologia do Trabalho Científico

do Professor Arq. Samuel Pinheiro

FANHÕES

2013

 

           

ÍNDICE

INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………………………………………. 2

I. A EXPIAÇÃO, SEU SIGNIFICADO………………………………………………………………………. 3

1. O sentido linguístico do termo…………………………………………………………………….. 3

2. O sentido etimológico do termo………………………………………………………………….. 3

3. O sentido teológico do termo……………………………………………………………………… 3

II.  NECESSIDADE DE EXPIAÇÃO…………………………………………………………………………. 5

1. A pecabilidade do homem………………………………………………………………………….. 5

2. A santidade de Deus………………………………………………………………………………….. 6

III.  a causa da expiação…………………………………………………………………………………. 8

1. A justiça de Deus………………………………………………………………………………………. 8

2. O amor de Deus………………………………………………………………………………………… 9

IV. A EXPIAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO……………………………………………………… 10

1. O efeito substitutivo dos sacrifícios do Antigo Testamento…………………………… 10

2. A expiação ao longo do Antigo Testamento………………………………………………… 11

V. A EXPIAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO…………………………………………………………… 16

1. Cristo como substituto……………………………………………………………………………… 16

2. A obediência de Cristo…………………………………………………………………………….. 17

3. O poder da cruz………………………………………………………………………………………. 17

VI. RESULTADO DA EXPIAÇÃO………………………………………………………………………….. 20

1. Propiciação……………………………………………………………………………………………… 20

2. Substituição…………………………………………………………………………………………….. 21

3. Redenção……………………………………………………………………………………………….. 21

4. Reconciliação………………………………………………………………………………………….. 21

CONCLUSÃO…………………………………………………………………………………………………………. 23

BIBLIOGRAFIA……………………………………………………………………………………………………… 24

ABREVIATURAS…………………………………………………………………………………………………… 25

 

INTRODUÇÃO

Esta monografia surge no âmbito da disciplina de Metodologia do Trabalho Cientifico,  lecionada pelo professor Arq. Samuel Pinheiro, tendo sido proposto aos discente Samuel Pires que fosse feita uma análise á doutrina da Expiação.

A expiação é uma das doutrinas transversais da Bíblia, ela estende-se desde o Génesis ao Apocalipse. A expiação é a doutrina em que assenta toda a Escrituras, Deus, em sua eterna misericórdia, estabeleceu um plano que expiasse o pecado da Humanidade.

A expiação surge como resposta de Deus à condição espiritual em que o Homem se encontra. Deus delineia o plano e por toda a Bíblia, Ele demonstra como esse plano se desenvolve, até concluir com o sacrifício de Cristo na cruz. Este trabalho procurará ver esses passos para a expiação do Homem.

Neste trabalho irá ser analisado o que significa a expiação, e como ela se desenvolve desde no Velho Testamento. Será efetuada uma investigação de como o conceito de expiação surge em outras culturas ou religiões. Outro aspeto a investigar é a expiação da Humanidade através do sangue de Cristo. Será analisado ainda, os resultados da expiação, tais como a propiciação, redenção, regeneração, justificação, reconciliação e santificação.

A metodologia utilizada será uma metodologia centrada na Bíblia, aplicando-se o método sistemático. Procurar-se-á analisar os textos chave acerca da expiação e como estes têm sido interpretados e aplicados.

O âmbito da investigação será com base em enciclopédias, dicionários, comentários bíblicos, teologias sistemáticas, onde se analisará a forma como cada autor explica, analisa e valoriza a obra da expiação.

I. A EXPIAÇÃO, SEU SIGNIFICADO

            1. O sentido linguístico do termo

Em termos da língua portuguesa, o Dicionário da Língua Portuguesa define expiação como sendo um “s. f. acto ou efeito de expiar; cumprimento de pena ou castigo; penitência; pl. preces para aplacar a cólera celete.”[1].

            2. O sentido etimológico do termo

Em termos etimológicos, a Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, refere que Expiação “vem do latim, ex (completamente) + piare, significando, aplacar. “[2] A Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã indica que “‘expiação’ interpreta corretamente a ação do verbo heb. ﬧפּﬤ, a raiz significando ‘cobrir’”[3]. O Novo Dicionário da Bíblia indica que a “palavra ocorre no AT para traduzir palavras do grupo kpr, e é encontrada uma vez no NT para traduzir o vocábulo katallage (vocábulo este, que é mais apropriadamente traduzido por ‘reconciliação’)”[4].

            3. O sentido teológico do termo

A expiação, segundo o Novo Dicionário da Bíblia, “é empregado em teologia para denotar a obra de Cristo ao tratar do problema do pecado apresentado pelo pecado humano, levando os pecadores à relação correta com Deus”[5]. A Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã refere que Expiação refere que:

A palavra expiação significa um relacionamento harmonioso ou aquilo que promove tal relacionamento harmonioso ou aquilo que promove tal relacionamento, isto é, a reconciliação. É usada principalmente em referencia à reconciliação entre Deus e o homem efetuada pela obra de Cristo. A necessidade desta reconciliação entre é a brecha no relacionamento original entre o Criador e a criatura, ocasionada pela rebelião pecaminosa do homem.[6]

 

Grudem define expiação como “a obra que Cristo realizou em sua vida e morte para obter nossa salvação”[7]. Pearlman define o ato de expiar o pecado como “ocultar o pecado de Deus de modo que o pecador perca o seu poder de provocar a ira divina”[8].  Expiação é a “tradução da palavra hebraica Kippur, uma forma intensiva que significa ‘cobrir com um preço’”[9].

Podemos concluir que expiação se refere ao sacrifício perfeito de Cristo na cruz, o qual aplacou a ira de Deus, resultante do pecado da humanidade, sendo que o Seu sangue cobriu as transgressões do homem permitindo agora à humanidade, por meio de Cristo, ser reconciliada com Deus.

 

 

                       

II.  NECESSIDADE DE EXPIAÇÃO

A expiação é necessária devido a “dois fatos: santidade de Deus e a pecabilidade do homem”[10].

            1. A pecabilidade do homem

O pecado do homem, colocou-o numa posição de separação e inimizade para com Deus. O homem não consegue fazer nada por si mesmo para conseguir alterar esta situação. A expiação, como veremos de seguida, é necessária devido a três espetos: “a universalidade do pecado, a seriedade do pecado, e a incapacidade do homem resolver o problema do pecado”[11].

 

            a) A universalidade do pecado

Deus criou Adão, coloca-o no jardim e dá-lhe uma simples ordem “da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás” (Génesis 2:17 ARC). Myer Pearlman expica que Deus ao permitir-lhe escolher estava a:

(…) prover um teste pelo qual o homem pudesse, amorosa e livremente, escolher servir a Deus e dessa maneira desenvolver o seu caráter. Sem vontade própria o homem teria sido meramente uma máquina.[12]

 

Deus queria que o homem livremente o amasse e servisse. No entanto, Adão desobedece (Génesis 3), e conforme Deus lhe tinha dito antes, ele ficou condenado à morte (Génesis 2.17).

A desobediência de Adão não tem apenas como consequência a sua expulsão do jardim do Éden ou a sua própria morte, mas a sua desobediência altera a condição de toda a humanidade perante Deus, pois “quando Adão pecou, Deus considerou todos os que descenderiam de Adão pecadores”[13].

Paulo explica que, por um só homem, Adão, e pela sua transgressão, toda a humanidade está sujeita ao pecado (Romanos 5:12-21 ), pois “Deus entendeu que todos nós pecamos quando Adão desobedeceu”[14]. Deste modo, fica claro que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23 ARC).

 

            b) A seriedade do pecado

O pecado não é algo que devemos considerar de uma forma leviana, pelo contrário, ele é demasiado grave para Deus, que qualquer desobediência a Deus é abominável aos seus olhos, pois Deus é tão puro, que não pode ver o mal (Habacuque 1:13), que pelo nosso pecado, antes de termos sido reconciliados com Deus, éramos seus inimigos (Colossenses 1:21). A condição de pecador do homem fá-lo esperar um juízo de Deus para com os seus adversários (Hebreus 10:27).

           

            c) Incapacidade do homem de resolver o problema do pecado

O homem não consegue em momento algum purificar-se a si mesmo  (Salmos 20:9), “nenhuma obra da lei será capaz de tornar o homem justificável idóneo para com Deus (Rm 3.20; Cl 2.16). Se tiver de depender se si mesmo, o homem nunca será salvo”[15].

 

            2. A santidade de Deus

Deus é santo, logo Ele é “justo em caráter e conduta”[16]. No âmbito da sua relação com o homem, Ele estabeleceu leis que “são a transcrição da natureza divina”[17], e que “unem o homem ao seu Criador pelos laços de relação pessoal e constituem a base da responsabilidade humana”[18].

A relação de intimidade que existia entre Deus e homem “foi perturbada pelo pecado que é um distúrbio da relação pessoal entre Deus e o homem”[19]. O pecado impede que Deus e o homem possam relacionar-se, pois é “um ataque contra a honra e santidade de Deus”[20].

Como vimos, o pecado é uma afronta direta a Deus. Deus não o suporta, como é claro em Isaías 59:2. A santidade de Deus e o pecado do homem são incompatíveis. A sua santidade está estritamente ligada à sua justiça. A afronta à santidade de Deus exige a sua justiça. Myer Pearlman refere que:

(…) se Deus permitisse que sua honra fosse atacada então ele deixaria de ser Deus. Sua honra pede a destruição daquele que lhe resiste; sua justiça exige a satisfação da lei violada; e sua santidade reage contra o pecado sendo essa reação reconhecida como manifestação da ira.[21]

 

Segundo a Enciclopédia Bíblia Cultura Cristã, “o pecado é rebelião contra Deus, e ele inevitavelmente deve reagir com ira. o pecado de fato cria uma terrível responsabilidade e a inexorável exigência da justiça divina deve ser satisfeita”[22]. Paulo escreve que “do céu se manifesta a ira de Deus sobre a impiedade e injustiça dos homens (Romanos 1:18 ARC).

A Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, relativamente à ira de Deus, refere que:

(…) não foi castigo que Cristo sofreu na cruz, e sim a ira. A punição é algo contra o ofensor; mas a ira que foi descarregada contra Cristo foi contra a ofensa, o pecado. Cristo suportou aquela ira que o ser e a natureza de Deus sempre e eternamente sentirão contra o pecado. o pecador não pode aproximar-se de Deus, mas deve morrer, deve perecer em sua presença santa – não porque Deus lhe vote ódio, mas porque Deus é santo. Por essa razão essa razão é que Cristo morreu – e foi abandonado à ira de Deus, porque tomou sobre si mesmo os nossos pecados, sobre seu próprio corpo no madeiro.[23]

 

 

 

 

III.  a causa da expiação

A expiação era necessária pois, como vimos anteriormente, o homem estava em pecado e o seu pecado é incompatível com a santidade de Deus, impossibilitando o relacionamento entre Deus e o homem.

Wayne Grudem refere que “o amor e a justiça, foram a causa última da expiação”. Nem uma, nem a outra são mais importantes, porque sem amor Deus não teria tomado a decisão de nos resgatar e sem a sua justiça, a exigência que existia no pagamento da pena pelo pecado, e que só poderia ser cumprida em Cristo, nunca teria acontecido[24].

 

            1. A justiça de Deus

A justiça de Deus “clamou pelo castigo pelo pecador, mas sua graça proveu um plano para o perdão. Ao mesmo tempo ele faz justiça a seu caráter como Deus Justo e reto”[25].

A justiça de Deus “requeria que Deus encontrasse o meio para que a penalidade que nos era devida por causa de nossos pecados fosse paga”[26]. Romanos 3:25 refere que Deus, o Pai, “propôs [a Jesus] para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados” (ARC).

Paulo escreve em 2 Coríntios 5:21 que “aquele [Jesus] que não conheceu pecado, [Deus] o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (ARC). A Enciclopédia Bíblica Cultura Cristã refere, relativamente a este texto que:

(…) Cristo não foi feito pecador no sentido de ser poluído interiormente. Em vez disso foi considerado pecador; o pecado do homem lhe foi imputado, assim como sua justiça foi imputada aos homens. Ele levou sobre si a condenação do pecado, de maneira que agora não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus (Rm.8:1). Ele foi feito “maldição por nós”, a fim de que nele fôssemos feitos justiça de Deus (Gl 3.13).[27]

Com esta ação Deus, não abdicou nem da sua santidade, nem da sua justiça, pelo contrário, demonstra-as, assim como ao seu imenso amor, deste modo “o castigo do pecado foi pago no Cálvário, e a lei divina foi honrada; dessa maneira Deus pôde ser benévolo sem ser injusto, e justo sem ser inclemente”[28].

 

            2. O amor de Deus

A expiação é a maior expressão de amor alguma vez feita. Deus “amou o mundo de tal maneira deu seu Filho unigénito, para que todo aquele que crê não pereça mas tenha a vida eterna” (João 3:16 ARC). A Enciclopédia Bíblica Cultura Cristã explica que:

(…) a expiação encontra sua explicação definitiva num desejo insondável de Deus em relação às suas criaturas pecaminosas e alienadas. ele se agradou, por razões que só ele conhece, em demosntrar seu amor àqueles que são indignos. O Senhor amou os homens com amor eterno (Jr 31.3), e no tempo devido demonstrou este amor no fato de que Cristo morreu por eles quando ainda eram pecadores (Rm 5.8). Essa, é a razão final para a expiação.[29]

 

Na obra da expiação é que compreendemos o amor de Deus, mesmo nós não amando a Deus, Deus envia seu Filho para que por ele fosse feita propiciação pelos nossos pecados (1 João 4:10). Nunca ninguém vai descobrir nela própria “nenhum valor ou dignidade que justifique o amor divino, ainda assim Deus as ama porque ele é amor”[30].

IV. A EXPIAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

O uso de sacrifícios existem em várias culturas desde os séculos, pois “apesar de serem perversões do modelo original, os sacrifícios pagãos baseiam-se em duas ideias fundamentais: adoração e expiação”[31]. O modelo original é o que é explicado por todo o Antigo Testamento, o qual passaremos a explicar.

No Antigo Testamento, os sacrifícios, segundo a Enciclopédia Bíblica Cultura Cristã:

(…) dão testemunho da rutura na comunhão entre Deus e o homem pecador, reconhecem a justiça de juízo divino sobre o homem como pecador e, finalmente, constituem a provisão para o pecador e, finalmente, constituem a provisão para o perdão do homem e a sua reconciliação com Deus, o que foi divinamente apontado.[32]

 

Millard Erickson refere que “antes da morte sacrificial de Cristo, era necessário oferecer sacrifícios regularmente, para compensar os pecados cometidos”[33]. Os sacrifícios do Antigo Testamento “tiveram o seu cumprimento na morte de Cristo”[34].

 

            1. O efeito substitutivo dos sacrifícios do Antigo Testamento

Os sacrifícios tinham efeito substitutivo, pois a vitima estava em lugar do pecador, conforme indica Millard Erickson, estes: “foram livrados da punição pela imposição de algo entre o pecado deles e Deus. Deus, portanto via o sacrifício expiatório em lugar do pecado.[35]” Para poder verificar-se este efeito substitutivo, era ainda precisos que fossem cumpridos outros requisitos.[36] A vitima a sacrificar “sempre tinha que ser sem defeito, o que indica a necessidade de perfeição”[37]. A vítima a sacrificar “não era barata, pois o pecado nunca deve ser considerado coisa banal”[38].

A vitima em si, não tinha valor expiatório, pois, conforme indica o Novo Dicionário Bíblico, “a expiação era obtida não por qualquer valor inerente na própria vitima oferecida, mas sim porque o sacrifício é o meio divinamente apontado para fazer explanação.”[39]

Estando estes aspetos cumpridos, Millard Erikson refere que:

(…) a pessoa por quem a expiação estava sendo feita devia apresentar o animal e colocar as mãos sobre ele (Lv 1.3,4). A imposição de mãos sobre o animal simbolizava uma transferência da culpa do pecador para a vítima. Depois, a oferta ou sacrifício era aceite pelo sacerdote.[40]

 

Em todo este processo de expiação a “morte da vitima era a parte mais importante”[41] pois era nesse momento que, a vitima, através do derramamento de sangue espiava os pecados do pecador.

Apesar de ser necessário que sangue fosse derramando para cobrir os pecados o seu efeito só aconteceria se o pecador se aproximasse de Deus com fé e arrependimento, situação que fica clara em Hebreus 11, pois todos os heróis descritos, foram justificados pela fé. Todos os que são descritos com maior pormenor, são todos aqueles que viveram no período anterior à lei.

Davi no Salmo 51, quando arrependido do seu pecado, refere nos versículos 16 a 18 que:

(…) te não comprazes em sacrifícios, senão os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus… Então te agradarás de sacrifícios de justiça dos holocaustos e das ofertas queimadas; então, se oferecerão novilhos sobre o teu altar.[42]

 

Davi compreendeu o significado dos sacrifícios, pois, como refere F. B. Meyer relativo a este Salmo:

Não há sacrifício mais agradável a Deus do que um coração contrito, nem oferta mais preciosa que um espírito quebrantado.[43]

 

 

            2. A expiação ao longo do Antigo Testamento

 Veremos de seguida como a expiação é surge em todo o Antigo Testamento.

 

            a) A expiação no Éden

No Jardim do Éden, após a queda de Adão, Deus “ofereceu um vislumbre da solução que viria por meio de seu único Filho (cf. Gn 3.15)”[44].  O Novo Comentário Bíblico AT, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos, refere que:

Gênesis 3.15 é chamado por muitos teólogos de proto evangelho, porque neste texto Deus promete o vindouro Salvador, o nosso Senhor Jesus Cristo, que destruiria Satanás de seu poder e desfaria sua má obra, assim como um homem ao esmagar a cabeça de uma serpente debaixo de seus pés. o Senhor estava mostrando misericórdia mesmo quando Ele julgava (Gn 4.15).[45]

 

Deus cobriu Adão e Eva de vestes feitas de peles de animais (Génesis 3:20). Deus veste-os pois com a sua queda, pois, como refere Myer Pearlman:

(…) se tornaram conscientes da nudez física – o que era uma indicação exterior da nudez da consciência. Seus esforços em se cobrirem exteriormente com folhas e interiormente com desculpas foram em vão.[46]

 

Franklin Ferreira indica que “o princípio de se ter sacrifícios para apagar os efeitos do pecado é estabelecido logo em seguida pela morte de animais, com o intuito de providenciar a vestimenta do primeiro casal (Gn 3:21).[47]

 

Segundo o Novo Comentário Bíblico AT, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos, Génesis 3:21:

(…) é a primeira vez que é mencionada na Bíblia a matança de animais para o uso humano. O derramamento de sangue destes animais foi, de certa forma, percursor do sistema de sacrifícios de inúmeros animais, conforme a Lei revelada no Sinai a Moisés. e todos os sacrifícios que aparecem no Antigo Testamento já apontavam para o fato de que um dia haveria o maior sacrifício de todos: a morte vicária de Jesus, para o perdão de todos os nossos pecados e a nossa libertação do jugo de Satanás.[48]

 

Como podemos concluir, o primeiro sacrifício é instituído por Deus, e executado por Ele, mas o último e derradeiro é o Seu próprio Filho a ser sacrificado por toda a humanidade, trazendo expiação aos pecados de todo o homem.

 

            b) Os sacrifícios nos patriarcas

Após a instituição dos sacrifício pelo próprio Deus no Éden, essa prática é verificável em todo o Génesis, até à sua regulamentação quando Deus dá a lei a Moisés.

O sacrifício que Abel apresentou a Deus, descrito em Génesis 4:4, foi aceite por Deus. O sacrifício de animais apresentado foi aceite, porque esse tinha sido o método indicado por Deus.

Algumas linhas de interpretação indicam que o referido sacrifício, apenas foi um sacrifício de adoração[49]. No entanto, Hebreus 11:4, o capítulo que explica a justificação pela fé, refere que “Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo que alcançou testemunho de que era justo” (ARC). F. B. Meyer esclarece que:

Abel, profundamente consciente de pecado, sentia que era necessário um sacrifício; portanto, sua fé o salvou; por ela, ele se acha ligados a todos os que crêem. (Ver Hebreus 11.4).[50]

 

Outro grande exemplo de sacrifício, verificamos em Génesis 22:1-19, quando Deus pediu a Abraão para sacrificar Isaac, o filho da promessa. Este foi um sacrifício estranho, pedir a um homem para sacrificar o seu filho, mas em ato de fé e obediência, Abraão estava disposto a fazê-lo, e isso era apenas o que Deus queria que ele fizesse.

Deus nunca quis que Abraão sacrificasse seu filho, pois para Deus retirar a vida a alguém é algo para Deus abominável. Deus demonstra em Génesis 4:8-16 quão terrível é a condenação por homicídio, quando ao questionar Caim da morte do seu irmão, castigou-o, e determina que aqueles que o matasse seriam ainda mais severamente castigados. Também outros textos, revelam que Deus abomina o sacrifício humano, tais como Levítico 18:21, Levítico 20:2, Deuterenómio 12:31 e Salmos 106:35-38.

Deus nunca aceitaria sacrifício humano, pois este nunca, como vimos antes, seria impuro, imperfeito. Dai sempre era necessário um substituto. Os comentários da Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal referem para termos atenção ao:

(…) paralelo entre o sacrifício oferecido no altar, como substituto de Isaque, e Cristo oferecido na cruz como nosso substituto. Embora Deus tenha impedido Abraão de sacrificar o seu filho, Ele não poupou seu próprio Filho, Jesus, da morte de cruz. Se Jesus não tivesse vivido, toda a humanidade morreria. Deus enviou seu único Filho para morrer por nós a fim de que pudéssemos ser poupados da morte eterna merecida e ganhar a vida eterna (Jo 3.16).[51]

 

Outro episódio importante para a compreensão dos sacrifícios, e que é descrito em Éxodo 12, é a instituição da primeira Páscoa. Os hebreus estavam oprimidos no Egito, e Deus envia Moisés para os libertar.

Deus ordena ao povo para sacrificar um cordeiro ou cabrito sem mácula, e espargir as ombreiras das portas, e assim quando o anjo da morte passasse, eles fossem salvos. Os comentários da Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal indicam que:

Ao mataram o cordeiro, os israelitas estariam derramando sangue inocente, e o animal sacrificado servia de substituto do primogénito que seria morto naquela casa. Desse ponto em diante, o povo hebreu entenderia com clareza que, para ser poupado da morte, uma vida inocente deveria ser sacrificada em seu lugar.[52]

 

            b) Os sacrifícios na lei

O capítulo 16 de Levítico explica como tinham que ser efetuados os sacrifícios expiatórios. Percebemos neste capítulo que, não bastava apenas efetuar um sacrifício pelos pecados, era necessário fazer confissão dos mesmos.

A Enciclopédia Bíblica Cultura Cristã explica da seguinte forma como se desenrolava o Dia da Expiação:

A cerimónia envolvia muitos detalhes, alguns dos quais não são bem compreendidos, embora fique totalmente claro que naquele dia havia o mais elevado exercício da função mediadora do sumo sacerdote. Sendo ele próprio um pecador e representante de um povo pecaminoso, despia suas vestes sacerdotais, banhava-se e se vestia com roupas destituídas de qualquer tipo de ornamento, apropriadas para alguém que suplicava por perdão. Essa roupa era totalmente branca, simbolizando a pureza requerida daqueles que entrariam na presença do Santo de Israel. Assim preparado e vestido, o sumo sacerdote oferecia os sacrifícios que eram o climax de todo o sistema de purificação de Levítico. por meio desses sacrifícios, que envolviam a confissão do pecado (o sacerdote impunha suas mãos sobre a cabeça do bode expiatório, confessava as transgressões de Israel, colocando-as sobre a cabeça do bode, Lv 16.21), e a aspersão do sangue sete vezes no propiciatório, onde habitava a presença de Deus, o sacerdote fazia a expiação dos pecados do povo. Assim, por meio de um ato cerimonial no santuário central, a paz e a comunhão com o Deus da aliança eram restauradas. Simbolicamente, operava-se a total remoção da causa da alienação de Deus, pela entrega da vida de um animal e pelo envio de outro animal para o deserto.[53]

 

Estes sacrifícios envolviam sempre sangue, pois segundo Levítico 17:11, era por meio de sangue que se fazia expiação de pecados. F. B. Meyer explica que “quando o sangue produz expiação, aprendemos que ele assim opera porque representa a vida do animal imolado. Uma vida dada por outra vida, uma alma dada por outra.”[54]

 

            b) A Expiação nos Profetas

O capítulo 53 de Isaías, é em termos do Antigo Testamento, o capítulo chave acerca da expiação. Este capítulo refere que o Messias iria tomar sobre si as nossas transgressões, que Ele seria ferido e quebrantado pelas nossas transgressões, pois Ele estava assumindo sobre Ele o castigo que nos daria a reconciliação com Deus.

Uma expressão difícil de entender surge no versículo 10. “… ao SENHOR agradou o moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação…” (ARC). Este versículo demonstra claramente, a forma como a ira  de Deus contra o pecado da humanidade tinha que ser satisfeita. Earl Radmacher explica da seguinte forma este versículo:

Ao pai agradou que o Filho morresse, porque esse ato encobrirá os pecados de muitos e os reconciliará com Deus (v. 11) a expiação e representada na oferta de expiação, o sacrifício de um cordeiro para garantir o perdão divino (Lv 5.6,7,15; 7.1; 14.12; 19.21). Aqui o profeta Isaías descreve o Servo do Senhor como uma oferta de expiação.[55]

 

Este texto demonstra como seria a obra do Messias prometido, e da sua entrega expiatória pelos pecados, tendo-se cumprido na sua integridade com o sacrifício de Cristo na cruz.

V. A EXPIAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO

Todo o Antigo Testamento estava a preparar o caminho para a chegada do Messias, o Ungido tão esperado. No entanto, os planos de Deus eram muito diferentes dos estabelecidos pelos judeus para o Messias prometido.

Deus tinha estabelecido que o Messias viria para fazer expiação pelos pecados, não apenas fazer sacrifícios, mas antes, ser Ele próprio o sacrifício.

Hebreus 10:5-18 é sem dúvida o texto chave da expiação. Este texto demonstra que nenhum sacrifício de animais era suficiente para Deus. Estes nunca poderiam tirar os pecados. Deus esperava o maior de todos os sacrifícios, o qual tinha sido preparado desde sempre. O sacrifício de Cristo foi o sacrifício perfeito. Matthew Henry explica desta forma este texto:

Com base na prontidão e disposição que Cristo manifestou para se engajar nessa obra, quando nenhum outro sacrifício seria aceito (vv. 7-9). Quando nenhum sacrifício menor seria apropriado a justiça de Deus do que o do próprio Cristo, então Cristo voluntariamente veio: “Eis aqui venho, para fazer, o Deus, a tua vontade. Que a tua maldição caia sobre mim, mas deixa que estes sigam o seu caminho. Pai, deleito-me em cumprir os teus planos, e minha aliança contigo por eles; deleito-me em realizar todas as tuas promessas, em cumprir todas as tuas profecias.[56]

 

 

            1. Cristo como substituto

No Antigo Testamento eram usados animais como substitutos em lugar do homem. Jesus Cristo surge como substituto de toda a humanidade, pois tal como disse João Batista, Ele é o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29 ARC). Myer Pearlman explica que “Cristo, na cruz, fez por nós o que não podíamos fazer por nós mesmos, e qualquer que seja a nossa necessidade, somos aceitos ‘por sua causa’”[57].

Cristo ocupou o lugar do homem na cruz, pois só alguém perfeito poderia ocupar essa posição de substituto. Wayne Grudem, ao definir expiação refere que esta “é a obra que Cristo realizou em sua vida e morte para obter nossa salvação”[58]. A ação substitutiva de Cristo só é possível pois toda a sua vida foi perfeita. Se Cristo alguma vez tivesse pecado, ele estaria a morrer pelos seus próprios pecados, e desse modo a sua morte não possuiria qualquer ação expiatória.

 

            2. A obediência de Cristo

Cristo em tudo demonstrou obediência ao Pai. Mesmo sendo Deus, pela obediência ao Pai, abandona a glória em prol da humanidade que antes tinha desobedecido a Deus. Jesus, humilha-se, assumindo a forma da criatura, a humanidade, para obedecer ao Pai, morrendo por ela.

A humanidade procura ser igual a Deus, elevando-se em soberba, desobedece a Deus e caí. Jesus, vem em humilhação, obedece ao Pai, sofrendo a maior de todas as humilhações, padecendo na cruz, mas por suas obras gloriosas, o Pai o exalta acima de todas as coisas, e Nele são levantados todos os que estavam caídos (Filipenses 2:5-8). F. B. Meyer explica que neste texto o apóstolo Paulo:

(…) nos pede para avaliar a dimensão da descida do Filho de Deus quando veio até nós para socorrer-nos. Observemos os sete degraus: ele tinha a forma de Deus, isto é, na mesma medida em que foi servo, ele era Deus; “subsistindo em forma de Deus… assumindo a forma de servo”. Com toda a certeza ele era servo e igualmente Deus. Mas não tentou agarrar-se á sua condição divina, porque essa já lhe pertencia. Ele se esvaziou, isto é, recusou-se a tirar proveito dos seus atributos divinos, para que pudesse ensinar-nos o significado de sermos totalmente dependentes do Pai. Como servo, ele obedeceu às leis que ele próprio tinha criado. Ele se tornou homem – um homem humilde, que morreu na cruz. E foi sepultado. Mas os significado de sua descida foi o de sua ascensão, e, a todos os seus nome ilustres, está agora acrescentado o de “Jesus-Salvador”.[59]

 

 

            3. O poder da cruz

Em 1 Coríntios 1:8 refere que “a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” Todos os que não crêem em Deus não compreendem o poder transformador da cruz.

A cruz era o destino de Cristo desde a fundação do mundo. Jesus, desde o início do seu ministério aqui na terra, até ao momento da sua crucificação, sempre ensinou, que a sua vinda só tinha um objetivo, a cruz (cf. Mateus 16:21; 20:17-18; Marcos 8:31; 9:31; Lucas 9:22).

Todo o processo depois da última ceia até à crucificação é muito doloroso. Jesus é sujeito a violência extrema, e a escárnio e rejeição constante.

O momento que marca o início da caminhada final para a cruz, é quando Jesus ora no Getsemani. A dor de Jesus é tão agonizante que soa gotas de sangue. O sofrimento é tanto que pede “Pai, se queres, passa de mim este cálice” (Lucas 22:42 ARC).

O cálice que Jesus se refere, não tem haver com qualquer medo de morrer, mas sim algo pior que isso, algo que ele nunca havia experimentado em toda a eternidade, “a separação total do Pai, que o Filho teria de experimentar, ao tomar sobre si na cruz os pecados da humanidade”[60]. Jesus iria experimentar o sabor amargo e venenoso do pecado, algo que, sendo Ele perfeito, nunca conheceu, mas que, para resgate da humanidade, teve que conhecer, ao assumir sobre si o pecado de todos os homens.

Quando Jesus é pregado à cruz, naqueles momentos de desespero, Ele clama ao Pai: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46 ARC). A separação entre Deus, o Pai e Deus, o Filho, nunca tinha antes acontecido. Uma eternidade de comunhão entre ambas as pessoas da trindade, tinha sido interrompida nesse momento. Essa separação acontece porque Jesus estava a sentir toda a ira de Deus pelo pecado, “a agonia física era terrível, mas pior era o período de separação espiritual de Deus. Jesus sofreu tanto para que nunca tivéssemos de experimentar a separação eterna de Deus”[61].

Quando Jesus está prestes a expirar, Ele declara “Está consumado” (João 19:30 ARC). Com esta expressão Jesus está a cumprir “toda a vontade do Pai e toda profecia das Escrituras, Jesus morreu voluntariamente. Seu brado não foi de exaustão, mas de missão cumprida. Jesus fez o que tinha que fazer.”[62] Tudo estava cumprido, a salvação estava agora disponível a toda a humanidade.

No momento da sua morte, como é descrito em Marcos 15:38, o véu do Templo rasga-se de alto abaixo. Os comentários da Bíblia de Estudo de Aplicação Pessoal esclarecem que:

No Tempo, uma pesada cortina separava o Lugar Santo do Lugar Santíssimo, reservado para o próprio Deus. Simbolicamente, essa cortina separava o deus santo do povo pecador. Esse lugar só podia ser visitado uma vez por ano, no Dia da Expiação, quando o sumo sacerdote oferecia sacrifícios para obter o perdão dos pecados de todo o povo. Quando Jesus Morreu, a cortina se rasgou ao meio, de a baixo, para indicar que a morte expiatória de Jesus abriu o caminho para nos aproximarmos de nosso Deus santo. A cortina completamente rasgada mostra que Deus mesmo foi quem abriu esse caminho de acesso direto a Ele.[63]

 

Com a morte de Cristo, todos os sacrifícios de animais deixaram de ser necessários, pois o sacrifício de Jesus é agora mais que suficiente para expiar os pecados de toda a humanidade (Hebreus 9:23-28).

Tudo o que é referido, em termos do Antigo Testamento, relativamente à expiação é cumprido com o sacrifício de Cristo na cruz. Ele é o sacrifício que foi imolado na cruz. O seu sangue derramado substitui o sangue dos animais, que antes eram sacrificados. O seu sangue foi derramado para propiciação (Hebreus 10:5-8).

O sangue de Cristo derramado na cruz torna-se o preço que foi pago para resgate de toda a humanidade (1 Pedro 1:18-19), pois “Deus nos resgatou da tirania do pecado, não com dinheiro mas com o precioso sangue de seu próprio Filho”[64].

 

           

 

VI. RESULTADO DA EXPIAÇÃO

A obra da cruz é poderosa para salvar todo o que crê (1 Coríntios 1:18), pois “para os que se curvam humildemente com fé, ela se torna o poder capaz de arrebatá-los da morte e dar-lhes a vida eterna”[65].

Wayne Grudem, relativamente aos efeitos que a expiação tem, ele refere que

(…) a morte de Cristo satisfez quatro necessidades que temos como pecadores:

  1. Nós merecemos morrer como penalidade pelo pecado.

  2. Nós merecemos suportar a ira de Deus contra o pecado.

  3. Nós estamos separados de Deus por causa dos nossos pecados.

  4. Nós éramos em escravos do pecado e do reino de Satanás.[66]

 

Vamos analisar de seguida, as necessidades que a expiação satisfez no homem, para tal vamos analisar a doutrina da propiciação, substituição, redenção e reconciliação.

 

            1. Propiciação

Propiciação, segundo Myer Pearlman, pode ser definida como “juntar, tornar favorável ou efetuar reconciliação”[67].

O mesmo autor refere que “um sacrifício de propiciação traz o homem para perto de Deus, reconcilia-o com Deus, fazendo expiação por suas transgressões, ganhando graça e o favor divinos.” Myer Pearlman explica ainda que “propiciar é aplacar a ira de Deus santo pela oferenda dum sacrifício expiatório. Cristo é descrito como sendo essa propiciação.”[68]

Compreendemos que já não estamos debaixo da ira, mas agora somos abrangidos pelo amor de Deus (Efésios 2:3-5).

A propiciação é explicada nas sagradas Escrituras em 1 João 2:4 e 4:10, assim como em Romanos 3:25.

 

 

 

            2. Substituição

Como vimos antes, o sacrifício de Cristo foi substituto, Ele ocupou o lugar que nos era destinado. Millard Erickson refere que “Jesus levou os nossos pecados -os pecados foram colocados sobre ele ou transferidos de nós para ele.”[69]

Esta doutrina é explicada em João 1:29; 1 Pedro 2:24.

 

            3. Redenção

Redimir tem o seguinte significado “tornar a comprar por um preço”[70]. Como expõe Wayne Grudem, “como pecadores estamos em escravidão ao pecado e a Satanás, necessitamos de alguém para proporcionar redenção”[71].

Relativamente à redenção, surge a questão de a quem seria pago esse resgate, o referido autor desenvolve o assunto da seguinte forma:

Embora estivéssemos em escravidão ao pecado e a Satanás, não havia nenhum “resgate” pago seja ao “pecado” seja ao próprio Satanás, porque eles não têm poder de exigir tal pagamento, tampouco Satanás teve sua santidade ofendida pelo pecado e exigiu a penalidade a ser paga pelo pecado. (…) a penalidade foi paga por Cristo e aceite por Deus.[72]

 

O homem pelo sacrifício de Cristo encontra-se agora livre da escravidão do pecado em que ser encontrava.

Esta doutrina surge explicada nas Escrituras em 1 Pedro 1:18-19, Romanos 3:24-25.

 

            4. Reconciliação

Deus, Ele que era quem foi ofendido pela desobediência do homem. O pecado do homem tornou-o inimigo de Deus, mas é o próprio de Deus que prepara o caminho para a reconciliação através da obra expiatória de Jesus Cristo na cruz (2 Coríntios 5:18-19). Myer Pearlman refere que:

Através das Escritura vemos que é Deus, a parte ofendida, quem toma a iniciativa em prover expiação pelo homem. (…) Esse ato de reconciliação é uma obra consumada; é uma obra realizada em beneficio dos homens, de maneira que, à vista de Deus, o mundo inteiro está reconciliado. Resta somente que o evangelista a proclame e que o indivíduo a receba. a  morte de Cristo tornou possível a reconciliação de todo o gênero humano com Deus; cada indivíduo deve torná-la real.[73]

 

Podemos ver esta doutrina explicada na Bíblia em Colossenses 1: 20-21.

 

           

 

CONCLUSÃO

Com a análise à doutrina da expiação efetuada nesta monografia, podemos compreender quanto o homem estava longe de Deus, e como era necessário expiação pelos seus pecados para poder ter novamente relacionamento com Deus.

Podemos, nesta monografia, compreender como a expiação referida no Antigo Testamento era uma sombra da obra que Jesus viria a fazer na cruz em resgate da humanidade.

Procurou-se abrangir todos os objetivos inicialmente propostos para a análise à doutrina da expiação.

No entanto, devido à limitada extensão da monografia, não foi efetuado inquérito acerca do conhecimento do termo da expiação, quer por cristãos evangélicos, quer por pessoas de outras crenças. Também, pelas mesmas limitações, possibilidade de analisar as diferentes correntes teológicas acerca da doutrina da expiação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

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ERICKSON, MILLARD J. (1997). Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova.

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DOUGLAS, J. D. (2006). O Novo dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova.

MEYER, F. B. (2002). Comentário Bíblico Devocional, Velho Testamento. Belo Horizonte: Editora Betânia.

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RADMACHER, EARL D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores) (2010). O Novo Comentário Bíblico, Antigo Testamento, com recursos adicionais – A Palavra de Deus ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Editora Central Gospel.

RADMACHER, EARL D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores) (2010). O Novo Comentário Bíblico, Novo Testamento, com recursos adicionais – A Palavra de Deus ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Editora Central Gospel.

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TENNEY, Merrill C. (Editor) (2008). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. São Paulo: Cultura Cristã.

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BEERS, Ronald A. (Editor) (2003). Biblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD.

 

ABREVIATURAS

ARC – João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida

s.f. – Sujeito feminino.

v. . Versículo.

vv. – Versículos.

cf. – Conferir.

Pág. – Página.

Gn – Génesis.

Lv – Levítico.

Jr – Jeremias.

Jo – João.

Rm – Romanos.

Gl – Gálatas.

Cl – Colossences.

 


[1] COSTA, J. Almeida & MELO, A. Sampaio e Melo (Editores). Dicionário da Língua Portuguesa. Pág. 794.

[2] CHAMPLIN, R. N., Ph.D. (Editor). Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Volume 3. Pág.  683.

[3] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 705.

[4] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481.

[5] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481.

[6] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 709.

[7] GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Pág. 271.

[8] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 132.

[9] MENZIES, William W. & HORTON, Stanley M.. Doutrinas Bíblicas: Uma Perspectiva Pentecostal. Pág. 103.

[10] PEARLMAN, Myer, Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 130.

[11] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481.

[12] PEARLMAN, Myer, Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 87.

[13] GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Pág. 231.

[14] Idem. Pág. 231.

[15] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481.

[16] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 130.

[17] ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 328.

[18] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 130.

[19] Idem. Pág. 130.

[20] Ibidem. Pág. 130.

[21] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 130.

[22] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 712.

[23] CHAMPLIN, R. N., Ph.D. (Editor). Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Volume 3. Pág.  683.

[24] GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Pág. 272.

[25] Idem. Pág. 272.

[26] Ibidem. Pág. 272.

[27] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 712.

[28] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 132.

[29] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 711.

[30] Idem. Pág. 711.

[31] PEARLMAN, Myer Pearlman. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 124.

[32] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 709.

[33] ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 328.

[34] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 709.

[35] ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 330.

[36] Idem. Pág. 330.

[37] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481.

[38] Idem. Pág. 481.

[39] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481.

[40] ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 330.

[41] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 482.

[42] Salmos 51:16-17,19 (ARC).

[43] MEYER, F. B.. Comentário Bíblico Devocional, Velho Testamento. Pág. 288.

[44] FERREIRA, Franklin & MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto actual. Pág. 596.

[45] RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores). Novo Comentário Bíblico AntigoTestamento, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos. Pág. 18.

[46] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 124.

[47] FERREIRA, Franklin & MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto actual. Pág. 596.

[48] RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores). Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos. Pág. 20.

[49] RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores). Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos. Pág. 22.

[50] MEYER, F. B.. Comentário Bíblico Devocional, Velho Testamento. Pág. 15.

[51] BEERS, Ronald A. (Editor). Biblia de Estudo Aplicação Pessoal (Comentários). Pág. 38.

[52] Idem. Pág. 99.

[53] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 710.

[54] MEYER, F. B.. Comentário Bíblico Devocional, Novo Testamento. Pág. 216.

[55] RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores). Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos. Pág. 1093.

[56] HENRY, Mattew. Comentário Bíblico Matthew Henry, Novo Testamento, Atos a Apocalipse. Pág. 793.

[57] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 134.

[58] GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Pág. 271.

[59] MEYER, F. B.. Comentário Bíblico Devocional, Novo Testamento. Pág. 216.

[60] BEERS, Ronald A. (Editor). Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal (Comentários). Pág. 1400.

[61] Idem. Pág. 1281.

[62] RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores). Novo Comentário Bíblico Novo Testamento, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos. Pág. 278.

[63] BEERS, Ronald A. (Editor). Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal (Comentários). Pág. 1333.

[64] Idem. Pág. 1765.

[65] RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores). Novo Comentário Bíblico Novo Testamento, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos. Pág. 412.

[66] GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Pág. 279.

[67] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 123.

[68] Idem. Pág. 123.

[69] ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 330.

[70] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 135.

[71] GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Pág. 279.

[72] Idem. Pág. 279.

[73] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 136.

ABA PAI

SamuelPinheiroABA PAI  

“E, porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.” (Gálatas 4:6)

                O Deus cristão, o Deus da Bíblia é Pai, Filho e Espírito Santo. Três pessoas distintas e um só Deus. A triunidade contém um valor relacional marcante na própria essência da divindade e que Jesus Cristo manifesta de forma indelével. Pai e Espírito Santo estão presentes de um modo permanente e absolutos na Sua existência terrena. Apenas no momento dramático da cruz Jesus exclama: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46), para logo mais, em alta voz, depositar nas mãos do Pai o seu espírito: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.” (João 23:46) A relação das três pessoas divinas da trindade é igualmente trazida para o seio da humanidade no sentido de que seja vivida na comunhão de todos os santos, remidos pelo sangue de Jesus. Jesus morre para trazer-nos de volta à relação pessoal com Deus, e a um relacionamento fraternal uns com os outros na igreja – corpo de Cristo. Esta fraternidade deriva da filiação divina. Filhos de Deus e irmãos uns dos outros. Este é um novo patamar da relação entre Deus e os homens. De criaturas que todos somos de Deus, para a situação de filhos que apenas é possível através de Jesus Cristo. Todos somos criaturas, mas filhos apenas são os que recebem a Jesus como Salvador e Senhor. O Filho ao morrer deu-nos a possibilidade de sermos feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu nome. De Deus como Criador para Deus enquanto Pai. Por Jesus vamos ao Pai.

                Jesus, o Filho de Deus, veio até nós tomando a nossa própria constituição, para nos dar a conhecer pessoalmente o Pai sendo que o Espírito Santo domina toda a sua vida. A ideia de um Deus longínquo, de costas voltadas para o homem e com o qual não possível ter intimidade e conhecer pessoalmente, é totalmente arrasado pela pessoa de Jesus Cristo.

                Em primeiro lugar na vida de Jesus Cristo, como Filho de Deus entre nós, fica patente a relação de absoluta intimidade com o Pai. Uma relação de total dependência e radical confiança. Muitas e variadas são as declarações de Jesus que atestam este relacionamento ímpar, que é totalmente demonstrado pela Sua vida. Será preferível dizer que a vida de Jesus é traduzida por palavras que apenas afirmam o que é vivido intensa e genuinamente. Quando Jesus ressuscita a Lázaro dá a entender que as palavras apenas são necessárias para que as pessoas à sua volta se apercebam do que para Ele é um fato, a realidade permanente que atravessa toda a eternidade e que o tempo não enfraqueceu: “Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu me enviaste.” (João 11:41,42).

                Inúmeras são as passagens que traduzem esta singular relação que nos orienta para a arquitetura espiritual que se move do Deus Criador a toda a criação, que o pecado destruiu mas que Jesus veio repor. Eis algumas citações que no evangelho por João a exprimem:

“Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz. Porque o Pai ama ao Filho e lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis. Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer. E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo o julgamento, a fim de que todos honrem o Filho, do modo por que honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão. Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do homem.” (João 5:19-27)

“Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.” (João 5:18)

“Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim. Não que alguém tenha visto ao Pai, salvo aquele que vem de Deus; este o tem visto. Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê, tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. (…) Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai; também quem de mim se alimenta, por mim viverá.” (João 6:45-48,57)

“Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida. (…) Eu testifico de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também testifica de mim. Então eles lhe perguntaram: Onde está teu Pai? Respondeu Jesus: Não me conheceis a mim nem a meu Pai; se conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai.” (João 8:12,18,19)

“Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então haverá um rebanho e um pastor. Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai.” (João 10:14-18)

                “Eu e o Pai somos um.” (João 10:30)

                A oração de Jesus Cristo inscrita no capítulo dezassete deste evangelho é uma inigualável demonstração da Sua relação pessoal com o Pai, e termina na enunciação do fim da História da salvação em que a unidade do Pai com o Filho é o modelo da unidade de Jesus com os Seus discípulos: “Não rogo apenas por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste, e os amaste como também amaste a mim. Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo o mundo não te conheceu; eu, porém, te conheci, e também estes compreenderam, que tu me enviaste. Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles esteja.” (João 17:20-26)

                Como carecemos hoje em dia de conhecer a Deus como o nosso Pai. A relação que podemos apreciar na pessoa de Jesus com o Pai e com o Espírito Santo, é a mesma que temos à nossa disposição. Para enfrentarmos os dias difíceis que temos pela frente, é imprescindível ter a certeza do cuidado do Pai para com todos os Seus filhos, e pelo Espírito Santo, segundo a eterna e infalível Palavra de Deus, em Jesus Cristo ermos a certeza inequívoca e inabalável de que somos filhos.

                É incontornável neste tema a parábola das parábolas de Jesus conhecida como do filho pródigo (Lucas 15:11-32), mas que acaba por falar de dois filhos, um que sai de casa e outro que continua nela, mas em que nenhum deles conhece efetivamente o pai. E no fim da história é o que abandonou a casa e desperdiçou a herança exigida e recebida sem qualquer direito, que no esterco de uma vida miserável se lembra do lar e dos criados que têm uma qualidade de vida que ele perdeu, e toma a resolução de voltar. “Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou.” (20) História multiplicada em milhões de seres humanos que arrependidos voltaram aos braços do Pai por Jesus o Salvador.

                Para mim é extraordinário que não podendo escolher os nossos pais naturais, e creio que alguns teriam alguma dificuldade em escolhê-los por diversas razões, Deus não se impõe como Pai a quem quer que seja, mas se dá a escolher como Pai a todos os que recebem a Jesus Cristo. E todos os restantes que como eu tiveram a felicidade de terem uns pais amorosos, ainda mais os apreciam tendo a Deus como Pai. Ainda é extraordinário que sendo filhos de Deus e vivendo tendo Deus como Pai, aprendemos a ser melhores pais, e a confiarmos no Pai celestial em todas as situações, e sei por experiência própria que são mesmo muitas, em que só Ele pode fazer o que nós não podemos e desfazer o que erradamente fizemos e já não conseguimos alterar.

                Não há melhor maneira de vivermos do que nos braços do Pai, mesmo quando Ele nos corrige e nos disciplina para nosso próprio bem. “Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita a todo o filho a quem recebe.” (Hebreus 12:5,6 – ler todo o texto de 4 a 13). Num tempo em que toda a correção cheira a maus tratos, é difícil de aceitar um texto escrito nestes termos, mas na realidade infelizes são os que não conhecem o amor na dimensão da correção que nada tem a ver com a violência física ou emocional. O escritor neste texto está a fazer alusão à perseguição resultante de seguir a Jesus como Senhor, sendo que Ele mesmo se tornou num modelo de perseverança, dependência e confiança.

 

Samuel R. Pinheiro

UMA ÉTICA PRÉ-CRISTÃ EM PÍNDARO

JTPUma ética pré-cristã em Píndaro

João Tomaz Parreira

Píndaro, o maior poeta lírico da Grécia no séc. V a.C., representa o lirismo que impõe valores éticos na poesia, a fim de serem seguidos em excelência pelos homens.

A sua lírica coral perorava poeticamente sobre o que o poeta considerava excelência dos vencedores dos jogos pan-helénicos, celebrava com odes triunfais, não só quem vencia, mas os valores que se traduziam a partir das vitórias, que eram cantados e se espalhavam dos seus poemas para a música.

Na Grécia clássica celebrava-se a luta (àgonía / ἀγωνία) individual. Não havia jogos coletivos, nem vitórias em equipa. A honra ou desonra era individual, mas os pensamentos do lirismo de Píndaro ajustavam-se, sobretudo, à humanidade, ao coletivo dos homens.

Da sua obra poética, chegaram, passando pelas primaveras e pelos outonos das várias civilizações até à contemporaneidade, apenas quatro livros: 14 Odes Olímpicas, 12 Odes Píticas, 11 Odes Nemeias e 8 Odes Ístmicas de Corinto.

Em alguns dos versos das suas odes píticas – dedicadas aos heróis dos jogos em Delfos, onde se premiavam os vencedores com uma coroa de louro –, isolados do contexto que lhes é próprio e que lhes deu origem, e subtraindo os que eram dedicados a Apolo, antevemos essa excelência que, mais tarde, o cristianismo tornou universal e, muito antes, alguns livros sapienciais do Velho Testamento também universalizaram.

Píndaro, no conceito sobre o sagrado que os gregos possuíam, foi um poeta “próximo” dos deuses. Do poeta se dizia, no seu tempo e após a sua morte, que os sacerdotes, todas as noites, à hora do jantar, mandavam um arauto dizer: “Píndaro vem hoje jantar com os deuses”. Havia sempre uma mesa posta para o lírico, tal a excelência da sua poética de valores.

Antecipados assim de cinco séculos, em relação aos valores cristãos, o que lemos hoje é algo que, pela sua importância dos valores pronunciados, é transversal a religiões e a ideologias, porque estão no propósito divino da moral e da ética.

 

Um bom e inteligente governo em prol do povo

1ª Ode para Hierão de Etna: “Possa o homem que tem a chefia ordenar ao seu filho que, depois de recompensar o povo, o faça voltar à tranquilidade da concórdia” (4ª Antiestrofe); “Guia com leme justo a multidão.” (5ª Estrofe)

2º Livro de Crónicas, 10:7: “ Eles (os conselheiros do rei Roboão) disseram: Se te fizeres benigno para com este povo e lhes agradares e lhes falares boas palavras, eles se farão teus servos para sempre”.

 

O valor substantivo da verdade

5ª Estrofe: “Forja a língua na bigorna infalível da verdade”.

Salmo 91:4: “A sua verdade é escudo e broquel”.

Isaías 11:5: “(do Messias) a verdade será o cinto dos seus rins”.

 

O valor essencial da honestidade

5ª Estrofe: “Não te deixes enganar, amigo, com ganhos lucrativos mas de proveniência vergonhosa”;

Provérbios 3:35: “Os sábios herdarão honra”. 

Eclesiastes 6:2: “O homem a quem Deus conferiu riquezas, bens e honra”.

I Pedro 2:12: “Tendo o vosso viver honesto entre os gentios”.

 

Condenação da luxúria

2ª Ode, 2ª Antistrofe: “O leito da luxúria atira-nos vezes sem conta para a miséria”.

            Oseias 4:12: “porque o espírito de luxúria os engana”.

Hebreus 13:4: “Venerado seja entre todos o matrimónio e o leito sem mácula”.

 

Condenação da maledicência

3ª Estrofe: “É necessário que eu fuja à forte dentada da maledicência”.

4ª Estrofe: “As insinuações caluniosas são um mal inexpugnável para ambos os lados, semelhantes em tudo ao carácter de uma raposa”.

Provérbios 12:19: “A língua mentirosa dura só um momento”.

Provérbios 20:19: “O que anda maldizendo descobre o segredo” (isto é, descobre-se o seu carácter de mexeriqueiro).

Tiago 3:8: “Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal”.

 

Condenação da inveja

Epodo 4: “O invejoso põe a bitola alto de mais, e inflige ao seu próprio coração uma ferida dolorosa”.

Provérbios 14:30: “A inveja é a podridão dos ossos”.

Tiago 3:14: “Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.”

 

As boas convivências

Epodo 4: “Oxalá possa eu conviver com homens de bem”.

Salmo 1: “Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios.”

 

O perigo das meias verdades

4ª Ode, Estrofe 5: “De que ventre venerável de entre os humanos, nascidos na terra, vieste? Não manches a tua origem com mentiras odiosas e diz-me quem são os teus.”

Génesis 12:13-19: “ Dize pois que és minha irmã (…) Disse Faraó a Abrão: Que é isso que me fizeste, por que não me disseste que era ela tua mulher? E me disseste ser tua irmã?”

Na tradição destes hinos de Píndaro está a celebração do herói, a relação deste com o cântico não é o homem, mas os seus feitos. Estes são, pela sua própria natureza, temporais: um feito suplanta outro feito.

As referências à Sabedoria de Deus ao nosso dispor, essas são eternas e condicionam a vida do Homem.

Nestas Odes há a imitação da vida, porque se trata de arte. A prática dos valores éticos, segundo a Bíblia Sagrada, é vida. As lições éticas das Escrituras Sagradas mudam os costumes do homem, a Musa não.

A “HISTÓRIA” DE DEUS E O DEUS DA HISTÓRIA NA HISTÓRIA DO HOMEM

A “HISTÓRIA” DE DEUS e O DEUS DA HISTÓRIA

NA HISTÓRIA DO HOMEM

 estrelas           É nossa convicção que o homem por si nunca poderá alcançar Deus e conhecê-lO através da sua mente, pela sua intuição, pelo seu pensamento e imaginação, pela sua filosofia ou pela sua ciência. Tudo o que o homem por si próprio possa dizer acerca de Deus não é digno de confiança. O homem não tem como saber acerca de Deus se este não se revelar a Si mesmo.

Foi isto que Deus fez através das coisas criadas, através da Palavra inspirada, pelo Seu Filho unigénito entre nós, e pelo Espírito Santo que se move na história dos homens e habita em todos os que confessam a Jesus Cristo como Salvador e Senhor.

Pela história de todas as religiões o máximo que nós podemos ter é o anseio do ser humano em todos os tempos e em todas as latitudes e longitudes, em todas as culturas, pelo transcendente, pelo divino, pelo sobrenatural, pela espiritualidade. Ao mesmo tempo temos aí muita da rebeldia do homem em não querer aceitar as evidências da existência do Deus pessoal substituindo-o pelas coisas criadas, pelas forças e energias cósmicas, pela natureza, pelos objectos, pelos ídolos fabricados pela imaginação e engenho humano, pelas ideais e conceitos religiosos e filosóficos, enfim tantas vezes até pelo próprio homem mesmo quando nega Deus (ateísmo) ou dúvida de que seja possível saber alguma coisa acerca Dele (agnosticismo).

Consideramos que apesar de podermos encontrar em todas as culturas sinais que possivelmente Deus permitiu ao homem discernir ou que o próprio Deus aí inseminou, quem é que poderia ou poderá distinguir e articular o que são os factores divinos, os lampejos da verdade e o que é ilusão e falsidade resultado das limitações e insuficiências humanas?

Como já dissemos anteriormente estamos convictos de que Deus falou e continua a falar-nos através das coisas criadas, da Bíblia Sagrada, de Jesus Cristo e do Espírito Santo. Essa revelação é suficiente embora não seja absoluta. Não sabemos tudo acerca de Deus, mas sabemos o suficiente.

Especialmente em Jesus Cristo nós temos Deus entre nós na dimensão que nós podemos captar, entender, tocar, contemplar, conhecer, acompanhar, seguir. Diante de Jesus Cristo não temos qualquer dúvida acerca da existência de Deus.

Convém abrir aqui um parêntesis para confessarmos que se a ciência não pode provar nem negar que Deus existe porque Ele não se confunde nem está confinado, aprisionado, limitado, contido pela matéria e pela natureza, não é de admirar que racionalistas, intimistas, materialistas e naturalistas não o divisem. Deus não se prova, não se demonstra, não se explica. Deus é Deus – pessoal, triuno, Criador, Sustentador, Redentor, Restaurador e Consumador. Para nós Ele é auto-evidente. Por isso nem a Bíblia nem Jesus Cristo gastam tempo a provar o que está aí diante do nosso nariz e dos nossos olhos. Para quem é crente Deus é visível em tudo o que existe como obra das Suas mãos, a nossa existência não faz sentido sem a Sua existência.

Ele não existe porque nós existimos, mas nós existindo sabemos que Ele existe (de outra forma não o saberíamos). Da mesma forma que não precisamos que ninguém nos prove que existimos, também não necessitamos de nenhuma prova de que Ele existe e, no entanto, existindo temos todas as provas.

Esperamos pelo momento em que aqueles que O negam ou duvidam, estejam finalmente diante Dele para então sabermos o que Lhe dirão face a face, ou o que Dele ouvirão se é que será necessário dizer o que quer que seja. Ou seja será que diante Dele, não tendo como não aceitar a Sua existência ou duvidar dela, continuarão a não crer porque crer é muito mais do que admitir a existência, é confiar, é depender, é abandonar-se, é aceitar, é confessar, é adorar, é louvar, é gratidão… crer! Eu creio!!! O resto é pecado – errar o alvo da vida, querer ser deus sem Deus e contra Deus, acima de Deus – loucura.

Alguns perguntarão pelos que tendo apenas a criação e não tendo conhecimento da Bíblia como Palavra de Deus e de Jesus Cristo como Deus entre nós. Não temos qualquer dúvida que Deus sabe como lidar com cada um desses casos em conformidade absoluta com a sua natureza santa, amorosa, graciosa e justa. Não nos preocupa tanto os que não sabem mas o que sabendo rejeitam esse conhecimento, evitam com mil e uma desculpas e justificações a sua incredulidade. Cabe-nos como crentes a suprema tarefa de vivermos de tal forma que através de nós o conhecimento de Deus, do Seu amor, da Sua graça, da Sua santidade, da Sua perfeição, da Sua justiça chegue ao maior número possível de pessoas através de todos os meios porque só em Deus o homem verdadeira se encontra e é verdadeiramente humano.

Na Bíblia temos a “História” de Deus na história dos homens, temos o Deus da História na Sua soberania e na liberdade do ser humano. Nela não se confunde a palavra do homem com a Palavra de Deus, toda ela é Palavra de Deus porque toda ela foi escrita pela inspiração do Espírito Santo, pelo querer de Deus, ela mesmo distingue o que é palavra de homens, de loucos, até de demónios e as declarações do Altíssimo. Por isso a Bíblia não contém a Palavra de Deus misturada com as palavras humanas, mas é a Palavra de Deus. A palavra divina usando as palavras dos homens para que saibamos o quanto Ele nos ama e que só Nele encontramos o sentido, o desígnio, o propósito, a essência, a verdade.

A nossa história só ganha sentido e plenitude na História de Deus. Fomos criados por Ele e para Ele, só nos encontramos n’Ele. Ele é o Deus da História e da nossa história individual.

 

Samuel R.Pinheiro

www.samuelpinheiro.com

DUAS LINGUAGENS EM RISCO DE VIDA

Duas Linguagens em Risco de Vida

João Tomaz Parreira

Cruz_ LuisPaçoA linguagem do insulto perante a crucificação de Jesus Cristo, antes de mais revelou a inconsistência, a visão errática e o desespero de grupos definidos da multidão.

Sim, desespero, porque os homens e as mulheres de Jerusalém estavam diante da falta de respostas quer da sua religião, quer da política vigentes. Estavam sob um protectorado, que não alimentava o orgulho exclusivista da Judeia. O seu último morto histórico por causa do judaísmo, dos costumes e da moral, havia sido João o Baptista.

Diria que a linguagem foi a do insulto dos impotentes, que não obstante se assumiram como psêudo “heróis” em matilha – como quase sempre sucede-, em conflito consigo mesmos. O poeta argentino Jorge Luís Borges escreveu, num excelente poema (”Cristo na Cruz”): “Não o alcança a mofa da plebe / que viu a sua agonia tantas vezes”.

 Os Evangelhos narram esses insultos, que no fundo ultrapassaram a própria cordialidade e humanidade com que a ancestral lei mosaica tratava os condenados até pela justiça divina. Perante momento tão solene e profético, as atitudes deveriam conter o espírito de tolerância que presidiu no passado longínquo à edificação das “cidades de refúgio”, deveriam manter-se no registo do “bater com a mão no peito” ou no menear a cabeça. Nunca no verbo injurioso.

Mateus e Marcos têm uma diegese pormenorizada com as falas que não deixam de exibir o histerismo da multidão diante do sangue que iluminava a cruz central. Dialogias de blasfémia e de ironia religiosas, a roçarem o ódio, a ignorância e o absurdo:

“Ó tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas!”

“Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se”,

“Desça da cruz, e creremos nele”,

“Confiou em Deus; pois que venha livrá-lo agora”. (Dos Evangelhos)

Os próprios malfeitores que foram crucificados com Jesus, não resistiram ao impropério generalizado da multidão, não obstante a tragicidade do seu estado, e juntaram as suas vozes para blasfemar também. Os dois primeiros evangelhos sinópticos não branqueiam o facto, referem mesmo que o alegado “ladrão arrependido” também blasfemou.

Os discursos dos malfeitores

Desconhecemos quais foram as palavras pronunciadas pelo chamado “ladrão arrependido” – sintagma usado como título dos versículos de Lucas  -, as mesmas teriam o idêntico registo injurioso dos demais?  Impropérios, segundo Mateus (Bíblia Anotada de Scofield), insultos, diz-nos Marcos. Afinal também era – como o referido poeta argentino lhe chama – “un bandolero que Judea / clava a una cruz”, mas que pôde saber da clemência divina apesar da sua condição (1). Porque soube fazer uma escolha, deixar de lado o “politicamente correcto”, isto é, o facilitismo de seguir a multidão dominante; quis antes fazer uma escolha, voluntariamente.

Uma escolha contextualizada na Fé e no Arrependimento. O seu anti-discurso prova-o: “Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós na verdade com justiça, porque recebemos o que os nossos actos merecem; mas este nenhum mal fez.” (Lc 23, 40-41)

Mas aquele que a tradição apócrifa e a literatura costumam classificar como o “ladrão impenitente” (2) ou  mau ladrão vociferava palavras não tanto de ódio, mas de egoísmo e de comiseração por si próprio e por Cristo: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também.” (Lc 23,39)

Nestas brevíssimas frases, a dúvida  anulava o que poderia ser entendido como uma pequena fé, e quereriam dizer : “Afinal se fosses o Cristo, como dizem, salvavas-te a ti e a nós”. Gritava o ladrão impenitente, no seu desespero, era o grito da incapacidade humana de se salvar.

 As suas palavras se não fossem trágicas, poderiam pretender uma ironia.

Outro escritor, o francês Henri Michaux ao chamar-lhe num texto poético “o ladrão não arrependido”, traçou-lhe o destino no século XX, o destino da Tragédia a um passo da Salvação, que poderia ter acontecido de uma cruz a outra cruz.

 

                                                                                         © João Tomaz Parreira

  1. Poema “Lucas, XXIII”, Antologia Poética, J.L.Borges, Alianza, Madrid, 1983
  2. Longfellow, Henry Wadsworth; The Golden Legend, que refere ambos

    os ladrões Penitente e o Impenitente. E sugere-lhes nomes.

O Último Verso do Salmo 23

O ÚLTIMO VERSO DO SALMO 23

João Tomaz Parreira

“E habitarei na casa do Senhor por longos dias” , 23,6

Salmo23Este verso, ao contrário do que pode parecer, não remete exclusivamente para a eternidade, ou o post mortem do crente, revela-se e amplifica-se no seu sentido maior, que cada momento da nossa vida será preenchido com  as mais ricas bençãos de Deus.

Os versos da poesia bíblica, designadamente nos Salmos, não têm que ter apenas uma leitura submetida a uma única contextualização e uma aplicação literal fechada, tão pouco uma leitura exclusivamente alegórica, neles existe história ( a história de Israel e a do homem como criatura de Deus) como existe teologia, louvor e adoração; por vezes até o Eu poético, num registo intimista, amargurado e arrependido diante do Senhor ( vd o 51).

Particularmente o último verso do Salmo do Pastor, podemos lê-lo de dois modos e dar-lhe a dimensão da eternidade a partir do tempo. Podemos ler o que está lá e o que não está, numa metalinguagem divina. De um modo ou de outro, lê-lo é também um exercício semântico que não dispensa a leitura contextual do verso anterior (vs 5).

 

O parágrafo que separa ambos os versos 5 e 6, como uma divisão apenas tipográfica que une duas frases num texto, completa todo o sentido de um lugar habitável em que o anfitrião prepara a mesa, proporciona abundância de bens metaforizada no “cálice que transborda”, dá hospitalidade e unge segundo as normas orientais. E nessa habitação não há lugar para os inimigos dos convidados.

Nestes dois versos temos a figura da casa, como habitação onde somos hóspedes de Deus, e sobretudo a narrativa poética da comunhão com Deus na graça e na bondade divinas todos os dias.  A partir deste ponto, podemos ler com uma perspectiva mais alargada, o derradeiro verso com que o salmo termina.

Dividindo assim o verso em elementos, do ponto de vista linguístico observamos o que a frase nos transmite.

“E habitarei” - é em si mesma, literalmente, uma expressão que fala de permanência. No grego da Septuaginta ( a Versão dos 70), no Salmo 23 encontramos o termo katoikein, que significa “lugar onde se vive” e contêm o substantivo “casa” ( oikos).

“na casa do Senhor” - A casa do Senhor poderia ser exclusivamente uma metáfora do Céu, mas parece-nos que o contexto não é isso que nos diz, razão pela qual alguns comentaristas tendem a estender o significado. Mas stricto sensu quer significar quase sempre, como sabemos, o Templo e não o Céu.

A verdade é que tanto no Velho como no Novo Testamento, no grego, quando os autores sagrados  falam do Céu ou Céus, fazem-no de um modo literal para falar de firmamento ou da habitação de Deus.

Os termos usados em dois salmos significativos são comuns e idênticos na tradução grega do Velho Testamento já citado. Salmos 8, 3 e 73,25.

Neles a palavra  “Ouranos”  é também metáfora perceptiva para falar do divino, da divindade do lugar. No grego da literatura clássica tinha também um significado merecedor de nota, era “aquilo que é apropriado para um deus”, isto é, um lugar divino.

Deste modo e seguindo a linguagem poética salmódica, o que o autor sagrado (David ou o autor desconhecido de um dos Cânticos dos Degraus, no Salmo 122 ) quer dizer qundo escreve “casa do Senhor”, é perceptível como sendo o lugar onde Deus está eclesialmente, o templo,  a casa de oração, o lugar onde os crentes se reunem para louvar, adorar e aprender as Escrituras Sagradas, onde estiverem “dois ou três reunidos em meu nome” – disse Jesus Cristo.

Com efeito, na linguagem grega esta figura perceptiva é clara: “oikõ kuriou”.

“para todo o sempre” ou “ao longo dos dias”

A versão da chamada Bíblia dos Capuchinhos exara deste modo o  final do salmo: “A minha morada será a casa do Senhor ao longo dos dias.”

No VT as alianças de Deus com o Seu povo referiam-se ao tempo, aos dias (Ecl 12,1), mas dado o carácter da lógica da aliança divina, que não tinha falhas nem fim, dirigiam-se também para a eternidade.

A expressão na Septuaginta é, deste ponto de vista, clara: makroteta émerõn; indica uma longa distância de dias, o que vai no sentido da conhecida frase coloquial “aquela pessoa teve uma longa vida”.             

A longevidade dos dias neste precioso quanto simples salmo, já chamado “canção da fé” e “de beleza tranquila”, alongam-se para a eternidade. No tempo, porém, vai colocando ao dispôr da ovelha ( metáfora perceptiva) um acervo de bençãos. “A maior das bençãos será uma comunhão íntima com Deus através da continua adoração” (1) na vida e na comunidade do crente.

No decurso de milénios, desde a data em que foi composto, este poema bíblico de várias metáforas extensivas, de fácil percepção, que começa com uma metáfora tomada da vida pastoril e bucólica,  tem dado serenidade e confiança ao crente com a presença divina, mesmo no vale da sombra da morte. Porque além desta está a eternidade.

Finalmente, o sentido prático do derradeiro verso do Salmo 23 foi bem interpretado no livro “Formosa Herança” do saudoso pastor e amigo Alfredo R. Machado: “ Estas palavras além de fazerem referência à eterna habitação de Deus, também se aplicam ao nosso desejo de regularmente estarmos presentes nos cultos da Casa de Oração, juntamente com todos os santos”. (2)

 

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(1)  Comentário Bíblico Moody, Vol 2, Josué a Cantares,  pág. 377, Pfeiffer e Harrison, IBR

(2)  Pág. 67, CPAD e CAPU, 2006

 

©  João Tomaz Parreira

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