HOUSE, O PACIENTE DE DEUS

House, o paciente de Deus 

Ricardo Rosa

House_MD_S06_by_Aleks10Sou um fã confesso de séries de televisão e por vezes de séries opostas em termos de género. Não consigo deixar de me rir com personagens como Niles Crane (Frasier) ou Sheldon Cooper (The Big Bang Theory) onde o pretensiosismo, a cultura e o centralismo dão as mãos.

Talvez por isso, não deixe de simpatizar com o célebre dr. Gregory House (House MD). Não porque me faça rir ou porque tenha tiradas satíricas memoráveis. Na verdade, o que me intriga em relação a este médico que vive nos limites da sensibilidade e do egoísmo, acaba por ser o modo lógico como tende a analisar tudo (tal como Niles Crane) e o sentimento de que ele é o Sol no movimento heliocêntrico da vida de todas as outras pessoas (à imagem e semelhança de Sheldon Cooper).

A lógica e a ciência são as verdadeiras bengalas em que a personagem interpretada por Hugh Laurie se sustenta. O próprio define-se como ateu, na melhor de todas as hipóteses um agnóstico severo (sem sentido de denegrir o quem quer que seja) para quem a hipótese Deus é meramente alucinogénia ou patológica. A sua definição de fé é baseada na ausência lógica e na falta de qualquer experiência[1]. E essa ausência de um elemento teoricamente improvável, leva-o a viver uma vida em que opta por tentar encaixar teorias, leis, probabilidades, métodos e dados de modo satisfatório. Segundo o que aprendemos com este médico, a humanidade é simultaneamente uma doença e uma cura. É o homem pelo Homem, no final de contas, após o último impulso eléctrico ter cessado no corpo humano, tudo o que nos espera é o vazio e o conceito filosófico do nada.

A própria negação da fé de House leva-o a experimentar uma visualização do pós-vida. Numa tentativa de perceber o que existe para além do último fôlego, House electrocuta-se servindo de cientista, cobaia e experiência em simultâneo[2]. O resultado acaba por lhe desagradar e “força-o” a concluir que não existe pós-morte, muito menos o conceito de um deus, seja ele qual for.

É aqui que percebo que esta é uma dúvida que ocorre demasiado, talvez pelo medo do desconhecido, talvez pela falta de uma certeza, talvez porque simplesmente não queiramos aceitar algo que nos recusamos a admitir. House pode ser um médico com resultados clínicos brilhantes (socialmente e humanamente duvidosos no entanto), mas não deixa de ser um paciente para Deus. A sua busca lógica, estruturada e orientada pede não uma prova, mas uma série de evidências inabaláveis que o conduzam a um resultado final.

O mesmo aconteceu aos ouvintes de Paulo no Areópago[3], queriam um raciocínio lógico e irrefutável, algo que Paulo lhes concedeu. Até ao momento em que abrevia pelo atalho falando da ressurreição dos mortos[4]. E mais uma vez, a medicina de Deus proveu pela Graça que a condição do ser humano fosse mudada nas vidas de Dionísio, Dâmaris e outras pessoas[5].

Tudo o que Deus nos dá e faz é por meio da Sua Graça, sendo um pouco como o médico que trata doentes sem seguro. A diferença na medicina de House e de Deus está no facto de que o primeiro é finito e não pode reverter a morte, é-lhe impossível contrariar as leis da natureza em que ele próprio se baseia. Já Deus tem o prazer de baralhar as cartas e tornar a dar, dando vista aos cegos[6], dando voz a mudos[7], restituindo partes do corpo a amputados[8] e anulando a acção da morte ao trazer à vida um amigo[9].

Em tudo isto, o especialista em doenças infecto-contagiosas e nefrologia não consegue deixar de ser um paciente necessitado de uma cura. O vício que mais o transtorna não é o dos analgésicos para uma perna estilhaçada. É o da incerteza sobre quem é o totalitário dono da vida: se o Homem, se Deus… Em comparação com House, todos os efeitos que nega pela lógica, Deus prova-os pela prática e assina o atestado de existência e capacidade. No fundo, o problema de House com Deus não é que não consiga acreditar n’Ele, é o de não querer aceitar que o divino cria as leis e os processos pelos quais nos regemos logicamente e isso dá-lhe sempre uma vantagem, seja em que situação for. E esse é um reflexo do ser humano, não do moderno ou pós-moderno, mas simplesmente do Homem tal e qual como o conhecemos. A ética darwiniana da evolução e adaptação não consegue dar uma resposta a tamanho dilema. Podemos tentar retardar a morte, mas nunca a conseguiremos aniquilar por nós mesmos.

O pecado é uma doença infecto-contagiosa, que acaba por levar a melhor sobre o nosso corpo[10], mas que não deve assenhorar-se da nossa alma. Por essa razão, o anseio furioso de House não é mais do que o Homem à procura da resposta que naturalmente o deveria levar a Deus[11].

Mas porque o pecado continua a sua obra destrutiva em cada um de nós[12], precisamos de perceber que a cura está ao alcance do ser humano e que Yhwh é o nosso médico pessoal…

Ricardo Rosa

 

[1] - http://www.patheos.com/blogs/friendlyatheist/2008/09/16/house-md-and-atheism/

[2] - http://en.wikipedia.org/wiki/Gregory_House#cite_note-58

[3] - Actos 17:16-33

[4] - Actos 17:32

[5] - Actos 17:33

[6] - Mateus 9:27-31; Marcos 8:22-26; João 9:1-12

[7] - Mateus 9:32-34

[8] - Lucas 22:50,51

[9] - João 11:1-45

[10] - Salmo 89:48

[11] - Romanos 1:20

[12] - Eclesiastes 7:20; Romanos 3:23, 5:12; 1ª Coríntios 15:21

OS SETE MOMENTOS DA PÁSCOA

Os Sete Momentos da Páscoa

Jorge Pinheiro

Cruz

Pela fé, Moisés sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado, tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egipto, porque tinha em vista a recompensa.

Pela fé, deixou o Egipto, não temendo a ira do rei; porque ficou firme como vendo o invisível.

Pela fé, celebrou a Páscoa e a aspersão do sangue para que o destruidor dos primogénitos lhes não tocasse.

Pela fé, passaram o Mar Vermelho como por terra seca, o que intentando os Egípcios pereceram

(Hebreus 11:24-29)

 

Introdução

Estamos na época da Páscoa. Mas, afinal, o que é a Páscoa? Qual a sua história? Qual o seu significado? Qual o seu valor? Qual a sua importância para os nossos dias? Qual a sua relevância para o homem nosso contemporâneo?

A Páscoa que comummente se procura recordar nesta época é a Páscoa ocorrida por altura da morte de Cristo. Ou melhor dizendo, procura-se recordar os acontecimentos ocorridos por altura da morte de Cristo. Porque aquilo que se procura recordar não é a Páscoa mas sim os acontecimentos que envolveram a vida daqueles treze homens. Note-se que insisto no “procura-se recordar” e não no “recorda-se” porque realmente o que acontece de um modo geral nesta altura não é bem o recordar, o reviver desses acontecimentos, mas antes uma tentativa que termina falhada porque o drama então ocorrido, a profundidade espiritual daqueles acontecimentos, o significado e a implicação pessoal das comemorações pascais, enfim, o valor dos valores aí envolvidos escapam-se total e completamente aos peregrinos do nosso tempo porque, afinal, aquilo que é evocado e que é retido não passa de elementos folclóricos de uma herança cultural colectiva.

Mas a Páscoa é mais do que isso. A Páscoa é mais do que folclore. A Páscoa é mais do que uma data comemorativa do calendário.

Para lá das circunstâncias do momento, com a dieta alimentar habitual modificada e melhorada, com os presentes que se trocam e as amêndoas que se oferecem para adoçar o amargor da vida, a Páscoa permanece intacta, esperando que os homens toquem, provem e vivam o seu significado.

A Páscoa que queria relembrar não é apenas a Páscoa vivida por Cristo mas sim a Páscoa, a ideia divina da Páscoa. Porque afinal ― ainda que seja paradoxal e possa parecer estranho a ouvidos desprevenidos ― nós, como Cristãos, não temos de nos preocupar em recriar ou reviver a Páscoa de Cristo, ou seja, a Páscoa vivida por Cristo. E porquê? É que sendo Cristo a nossa Páscoa, então temos de viver pessoal e individualmente a pessoa de Jesus Cristo porque só vivendo-O estaremos a comemorar condignamente a ideia divina da Páscoa.

A Páscoa de Jesus Cristo foi a Páscoa d’Ele, vivida por Ele. É um acontecimento de profundos significados e implicações teológicas mas não deixa de ser um acontecimento histórico. É um marco da nossa vida, é verdade, mas é um facto passado que só revive como todos os factos passados, como todas as datas históricas importantes que são relembradas.

A Páscoa de Jesus Cristo foi d’Ele. Ainda que sejamos participantes das Suas bênçãos e ainda que seremos participantes da Sua glória vindoura, a Páscoa de Jesus foi d’Ele, não é nossa, porque foi vivida por Ele, sofrida por Ele. Nós não estivemos lá.

Então, na nossa Páscoa, não vamos incluir Jesus? Então, que Páscoa nos resta? Que Páscoa vamos recordar?

É que o equívoco está precisamente aqui. Nós não temos de recordar a Páscoa. Nós temos é de viver a Páscoa. Porque a vida cristã não vive de recordações. A vida cristã vive da presença viva e actuante de um Cristo vivo e glorioso. As únicas recordações de que a vida cristã deve viver são as recordações futuras, porque é para lá que caminhamos.

Na nossa Páscoa, não temos de incluir Cristo. Cristo já está na nossa Páscoa. Se ainda temos de incluir Cristo na nossa Páscoa, isso significa que a nossa Páscoa ainda não é a Páscoa divina, isso significa que ainda não entrámos no calendário divino.

Porque se a nossa Páscoa consiste apenas e só em relembrar os acontecimentos ocorridos na Páscoa em que Cristo morreu, então a nossa Páscoa é oca e sem valor.

Mas se na nossa Páscoa contínua e perpétua que é, afinal, a vida cristã, recordarmos não apenas uma vez ao ano, mas sempre, a Páscoa em que Jesus morreu, então essa Páscoa não nos é estranha, deixa de ser um facto histórico, um drama do passado, um acontecimento a nós alheio e estranho e passará a ser não apenas recordada mas vivida na sua plenitude e significado, deixará de ser uma Páscoa onde nós não estivemos para passar a ser uma Páscoa onde todos nós nos encontrámos e nos encontrávamos presentes, crucificando com os nossos pecados o Salvador, aguardando com ansiedade o desfecho da luta entre o Messias e Satanás no Reino do Hades e gritando de alegria a vitória alcançada no Domingo da Ressurreição: CRISTO VIVE! Ressuscitou! É Senhor! Aleluia! A morte foi vencida. Os pecados estão perdoados. O caminho para Deus está aberto. Fomos libertos, Cristo é rei! É Senhor! Aleluia! Aleluia! Aleluia!

Mas em que consiste, afinal, a ideia divina da Páscoa? Fala-se de Páscoa dos Judeus e da Páscoa dos Cristãos. Fala-se dessas Páscoas como se fossem dois acontecimentos estranhos um ao outro. Mas Páscoa só há uma: a Páscoa de Deus! A Páscoa judaica e a Páscoa cristã são, no fundo, uma só. Elas não passam de dois momentos distintos de um mesmo acontecimento. Mas Páscoa é uma só, ainda que com diversos momentos da sua vida: é a Páscoa de Deus!

É que as ideias divinas lutam sempre com uma grande dificuldade: a sua calendarização no tempo humano. Por isso, uma mesma ideia que é una e inseparável e imutável surge repartida aos nossos olhos pelos diversos tempos do nosso viver colectivo histórico.

Nesta Páscoa divina, podemos distinguir sete momentos. Ou dizendo de outra forma, podemos detectar 7 Páscoas no calendário divino. E falamos nós de apenas duas: a de Moisés e a de Cristo!

Quais são esses 7 momentos ou 7 Páscoas?

Antes, convém definirmos o que entendemos por Páscoa. A palavra Páscoa vem do Hebraico Pesah, que significa “passar por cima”, no sentido de “poupar”, como se depreende de Êxodo 12:13:

E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue passarei por cima e não haverá entre vós praga de mortandade quando eu ferir a terra do Egipto.

A Páscoa aponta para a situação e os meios que permitem fazer-nos escapar à ira e ao castigo divino, levando-nos a entrar num estado de beneficiários do favor divino. A Páscoa indica o meio que Deus coloca à nossa disposição, permitindo-nos gozar da Sua protecção, restabelecendo a comunhão perdida com Ele.

Quais são, então, esses 7 momentos de que falávamos?

 

1. A Páscoa da Eternidade Passada

A Páscoa teve a sua origem em Deus e teve o seu início na eternidade antes da fundação do mundo.

Em João 17:24, Jesus reconhece esse facto quando ora ao Pai, lembrando o amor com que Deus O havia amado antes da fundação do mundo: Porque Tu me hás amado antes da fundação do mundo.

E Apocalipse 13:8, referindo-se a Jesus, declara: E adoraram-na (à Besta que subiu do mar) todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.

A ideia da Páscoa não é humana ― é divina. Deus concebeu-a quando o mundo ainda não tinha sido falado à existência. Isto dá-nos a garantia de qualidade e qualidade divina, porque a única forma que nos pode garantir a comunhão e a graça de Deus é através da própria graça de Deus.

 

2. A Páscoa Adâmica

Quando Adão pecou, rompeu-se a comunhão com Deus e a ligação tornou-se impossível. A Humanidade caíra, ficando sujeita à punição do castigo divino. Mas Deus preparou um escape e ali no momento da queda, revelou o meio que Lhe agradava para que o Homem voltasse a obter os Seus favores.

E fez o Senhor Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu (Génesis 3:21). Para as túnicas de peles, houve necessidade de verter sangue inocente, a fim de que a ira de Deus passasse por cima de Adão e Eva, poupando-lhes a vida. Através daquele sangue vertido, refloria a esperança no coração da Humanidade ― Deus não estava longe e o Homem podia ter a certeza de que o caminho para Deus estava aberto. No início da Humanidade, a presença de Deus na vida dos seres humanos, dizendo-lhes que não estavam sozinhos, abandonados aos caprichos de um destino cego e cruel mas antes que Deus amava a Sua criatura e desejava o melhor para ela.

 

3. A Páscoa de Abel

O terceiro momento da concretização da ideia divina da Páscoa vamos encontrá-lo no sacrifício de Abel.

E Abel também trouxe dos primogénitos das suas ovelhas e da sua gordura e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta (Génesis 4:4).

Abel aprendera bem a lição que seus pais lhe transmitiram. Abel sabia que o único meio de obter os favores de Deus era não só reconhecê-Lo como Senhor e Deus mas também reconhecer e sujeitar-se à vontade de Deus e ao meio que o Senhor instituíra para ter comunhão com a Sua criatura.

É que não basta o reconhecimento de que Deus é Deus ― é necessário estarmos dispostos a sujeitarmo-nos ao Seu querer. E se para tanto se torna necessário render-Lhe o nosso querer e os nossos bens, então façamo-lo. Esta foi a atitude de Abel ― trouxe dos primogénitos das suas ovelhas. E ao avançar esse passo de fé, exemplo de todos os fiéis que se lhe seguiriam, Abel alcançou o favor de Deus ― o Senhor não atentou apenas para a sua oferta: atentou também para ele: e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta.

 

4. A Páscoa Moisaica

O quarto momento é a Páscoa que Deus instituiu através de Moisés.

Uma vez mais, na cerimónia do Pesah, a Páscoa judaica, está presente a ideia central da Páscoa, ideia divina ― Deus ama a Sua criatura e quer ter comunhão com ela. Esta comunhão é possível apenas e só por um único caminho: a obediência ao Senhor, a submissão da nossa vontade ao Seu querer. Esta comunhão só é possível com a receita divina. Nenhum outro meio nos restabelece a ligação perdida.

E tomarão do sangue do cordeiro e pô-lo-ão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem; e aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por cima de vós e não haverá entre vós praga de mortandade. (Êxodo 12:7, 13).

E uma vez mais, a presença do sangue de uma vítima inocente a pagar o preço do resgate. Uma vez mais, a certeza de que a comunhão com Deus e o favor do Senhor são possíveis. Mas que nos traz de novo esta Páscoa? Muita coisa ― porque momento após momento, Deus vai desenrolando o rolo do plano da Sua ideia…

Agora, a Páscoa não se circunscreve a um punhado de homens e de mulheres que vão transmitindo a lembrança de um sacrifício.

Agora, a Páscoa estende-se a cada família de toda uma nação. A Páscoa judaica tem significado porque ela é o elo comum a todas as famílias que compõem a nação.

Mas ela lembra também a libertação da servidão de uma terra rica de bens materiais e culturais. Ela lembra que a sorte do povo não está naquilo que o mundo pode oferecer mas na entrega incondicional à promessa divina. A Páscoa judaica lembra a caminhada para uma terra prometida por Deus, onde o povo iria ter a oportunidade de ver o que Deus pode fazer quando alguém está disposto a render-se à visão de Deus.

Moisés recusou o título de honra de ser filho da filha de Faraó. Faraó era divino, era filho de Ra, o Deus Sol. Por isso, se chamava Fa-ra-ó. Ou, por outras palavras, Moisés recusou ser filho de um deus, mas de um deus menor e preferiu ser escravo do Deus Altíssimo, o Todo-Poderoso.

E na Páscoa judaica, Deus Jeová nos diz que não basta submeter-nos ao meio estipulado por Deus mas que temos de estar dispostos a voltar as costas às certezas deste mundo para nos entregarmos plenamente às ilusões e aos sonhos divinos. Porque para os Egípcios, Moisés corria atrás de uma miragem, mas a miragem que Moisés perseguia era uma miragem divina ― permaneceu firme como vendo o invisível.

 

5. A Páscoa de Cristo

O quinto momento da realização desta ideia divina da Páscoa encontramo-lo há cerca de dois mil anos, na Páscoa vivida por Cristo.

Sabendo que não foi com coisas corruptíveis como prata ou ouro que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes de vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado. (1 Pedro 1:18-19).

Pedro sabia do que estava a falar. Sabia que a morte de Cristo na cruz introduzia na história humana este quinto momento da ideia divina da Páscoa. Ele sabia que a morte de Cristo tinha um valor expiatório, substitutivo.

E uma vez mais, o sangue está presente. E uma vez mais, uma vítima inocente. E uma vez mais, um sacrifício instituído por Deus e que agradava totalmente ao Senhor Altíssimo. Uma vez mais, a confirmação de que a comunhão com Deus não só é desejável como possível. E possível porque foi ordenada e instituída pelo próprio Deus.

Mas que novidade nos traz esta Páscoa? Agora, a Páscoa não é exclusiva nem limitada a uma só nação. Ela é extensiva a todo o indivíduo que pessoal e individualmente se queira aproximar de Deus.

Agora, esta Páscoa diz-nos que não temos de estar dependentes da nossa provisão, indo buscar um cordeiro ao nosso rebanho, mas estamos antes dependentes da provisão de Deus que forneceu Ele mesmo o cordeiro necessário, suficiente e agradável.

Agora, esta Páscoa diz-nos que não basta estarmos dispostos a voltar as costas às certezas deste mundo para nos entregarmos plenamente às ilusões e sonhos divinos. É necessário agora que essa entrega seja fruto de um acto de amor. Porque é o amor que deve reger a nossa vida: “Um novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros”. “Nisto conhecerão que sois meus discípulos ― se vos amardes uns aos outros”. Porque o amor foi a motivação e a base da entrega pessoal de Jesus.

Agora, esta Páscoa diz-nos que, embora o centro da nossa Páscoa deva ser sempre o Senhor Deus, esse centro estará incompleto se na Páscoa não tivermos presente também o ser humano. Agora, cada ser humano não me é mais estranho ― é meu irmão! Em Cristo, não há judeu, não há gentio, não há rico, não há pobre, mas Cristo é tudo em todos. (Colossenses 3:11).

Agora, esta Páscoa diz-nos que, mais do que nunca, o Homem deixou de estar sozinho, porque Jesus é Emanuel, porque Deus Se identificou connosco na nossa pobreza e no nosso sofrer.

Agora, a Páscoa não tem significado se o amor que dizemos ter a Deus não se revelar um amor convertido em acções práticas, direccionadas para o nosso semelhante.

 

6. A Nossa Páscoa Presente e Individual

O sexto momento da concretização da ideia divina da Páscoa é a nossa Páscoa presente e individual que cada um de nós vive, é a Páscoa do Pacto da Graça, em que vivemos.

Que dizer desta Páscoa? É a Páscoa vivida na base da resposta que cada um de nós deve dar à mais importante de todas as perguntas: quem é Cristo para mim?

Se para mim, Ele é o Cristo, o Filho do Deus vivo, não apenas numa resposta remota e passada, de circunstância talvez, mas no reconhecimento diário e constante, momento após momento, então poderei dizer que estou a deixar Deus realizar em mim este Seu sexto momento da Sua ideia da Páscoa.

É que a Páscoa que cada um de nós deve viver é aquela em que Cristo e não nós, é o centro dos nossos interesses e motivações, em que procuramos viver a certeza de caminhar em direcção à estatura de varão perfeito em Cristo Jesus.

Se isto se verificar, então podemos dizer que esta Páscoa traz algo de novo. É que ela é uma Páscoa que se realiza momento após momento, dia após dia.

Então, esta Páscoa diz-nos que a Páscoa é extensiva a toda a Humanidade porque em cada esquina, em cada ocasião, estará sempre à mão do desesperado sem Cristo, uma possibilidade de salvação através do sacrifício voluntário de todo e qualquer seguidor de Cristo.

Rogo-vos, pois, irmãos, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional (Romanos 12:1-2).

Então, esta Páscoa diz-nos que não basta que a nossa entrega a Deus seja fruto de um acto de amor. É necessário que cada um de nós esteja disposto a ser um sacrifício vivo, à semelhança do Cristo Cordeiro de Deus dado em resgate de nós.

Páscoa, sem entrega e sacrifício não é Páscoa. Nesta Páscoa da Graça divina, estejamos dispostos a entregar-nos como sacrifício de expiação para salvação do homem, nosso semelhante, ainda que à custa daquilo que mais prezamos. O caminho da cruz não é fácil ― Jesus nunca disse que seria.

Porque só quando entrarmos por esse caminho, podemos ter a certeza de que estaremos também presentes no sétimo momento da ideia divina da Páscoa.

 

7. A Páscoa da Eternidade Futura

E esse sétimo momento é na eternidade vindoura, quando se realizarem as Bodas do Cordeiro e em que estaremos para sempre com o Senhor.

Aí, não haverá dor, nem pranto, nem doença, nem morte. Aí, Deus irá concluir todo este processo iniciado ainda antes da fundação do mundo.

Essa é a nossa meta. É para lá que Deus aponta. Mas enquanto não chegamos, temos de viver a Páscoa que é nossa ― a Páscoa da Graça de Deus.

Que esta estação pascal deste ano (e refiro-me a todo o ano corrente e não apenas à semana pascal) seja vivida, momento após momento, com a manifestação do Cristo vivo e ressurrecto, Páscoa nossa, na nossa vida.

Porque não é apenas hoje, mas em todos os dias que deve soar o nosso grito triunfante: Cristo vive! Cristo vive! O Senhor ressuscitou! Ele ressuscitou no meu coração! Ressuscitou verdadeiramente o Senhor!

 

“Tempos Difíceis”: Um Libelo Contra o Materialismo

“TEMPOS DIFÍCEIS”: UM LIBELO CONTRA O MATERIALISMO

Agora, o que eu quero é, Factosolidariedades. Não ensinar a estes meninos e meninas outra coisa senão Factos.”1 Thomas Gradgrind, a personagem central do romance Hard Times de Charles Dickens definia assim, desde o princípio, o tipo de educação materialista que as crianças iriam ter na Inglaterra do século XIX.

Thomas Gradgrind é um educador que crê somente nos factos que podem ser demonstrados. Leva os seus dois filhos, Thomas e Louisa por uma atmosfera sombria materialista que vai afectar para sempre as suas vidas. Faz mesmo casar a filha com um homem muito mais velho, mas rico.

O romance clássico de Dickens, Tempos Difíceis, é uma acusação contra a falta valores éticos, sociais, que estruturaram também, negativamente, a Revolução Industrial no século XIX. Dickens procurou defender valores cristãos com este romance profundamente preocupado com a infância e a vida familiar, a exploração do trabalho infantil e os baixos salários e a miséria.

No pano de fundo da Inglaterra de então, na era da industrialização, passou também a subversão da religião cristã, limitando-a a uma estrutura dirigida para os ganhos materialistas, como hoje. É o retrato do homem sem escrúpulos que faz do lucro um instrumento cego para destruir o próximo e sobre as ruínas deste erguer impérios financeiros.

O autor inglês fala também de Economia sob o ponto de vista do lucro e da injustiça, do enriquecimento de uns poucos contra a pobreza de milhares.

Embora seja um romance que, segundo a crítica literária, esteja acima de rótulos, escolas e catalogações, diria que é um libelo cristão, com o melhor do cristianismo na área social: o “amai-vos uns aos outros”.

Para fazer prevalecer este dogma necessário, apresenta-nos e enfatiza os efeitos da sociedade dominada pelos deuses da produtividade e dos lucros.

Uma das personagens pergunta, dramaticamente a outra: “Have you a heart?” (Tu tens coração?)

Alguém escreveu, como sinopse deste romance libelo, o seguinte: “Hard Times retrata Coketown, um vermelho-tijolo da cidade industrial típica do norte. Nas suas escolas e fábricas, crianças e adultos estão enjaulados e escravizados, sem liberdade pessoal, até seu espírito está quebrado.”

O empobrecimento colectivo para fazer crescer a economia de poucos, é um dos factos com que construiu (destruiu, afinal) a vida, a família, o personagem- chave do romance, Thomas Gradgrind.

No dia em que está sentado no seu escritório, e o barulho da chuva a bater nos vidros lá fora não conseguia abstraí-lo, Louisa entra e interrompe o fio dos seus pensamentos para o questionar com o que ele lhe fez: “Onde estão os sentimentos do meu coração? O que o senhor me fez, ó pai, o que o senhor me fez, com o jardim que deveria ter florescido no meu coração onde há agora um grande deserto!” 2

O pai estava a escrever sobre o Bom Samaritano que foi um Mau Economista. E esta ideia errada da personagem sobre a parábola bíblica é a justificação para defender que a caridade e o amor ao próximo não conferem lucros nem são boa política económica. A caridade não faz crescer a economia.

A história dos textos económicos enfatiza sempre que todas as facetas da sociedade humana se regem pelo interesse individual, o individualismo do homem e a maximização dos lucros continuam a prevalecer. E os investimentos no que é pertença do interesse próprio de cada um.

Quando Gradgrind está a escrever sobre o bom samaritano ter sido um mau economista, está a propor que, de acordo com as teorias económicas e a sua, sobretudo, o altruísmo é uma anomalia.

É a subversão da Bíblia do senhor Gradgrind com uma leitura enviesada e que faz parte de um fenómeno cultural – como lhe chamaram – do pensamento utilitarista. E a resposta de Charles Dickens é o romance Hard Times referindo a parábola do Bom Samaritano como programa necessário para repôr a fraternidade, o auxílio aos pobres, para a sua época, contra o interesse utilitário e os mercados que já estavam a impor as suas regras. Por exemplo, manter em baixa os preços dos cereais para não se aumentar o salário aos trabalhadores.

“GOOD SAMARITAN WAS A BAD ECONOMIST”3

É um princípio apenas proclamatório, mas gera uma crítica à atitude do bom samaritano e coloca em causa a fraternidade cristã.

O bom samaritano fez um investimento que, segundo o conceito individualista do lucro, não lhe renderia quaisquer dividendos. Pior, era um “desinvestimento” a longo prazo. Era uma perda.

O denário (danarius), moeda romana, pagava um dia de salário. Dois denarii (no texto grego de Lucas: denária) era uma quantia considerável. Há uma referência bíblica para os tempos da fome no livro de Apocalipse (6:6) que lhe marca a importância como um preço exorbitante: “Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário”

Os argumentos arrolados pelos críticos da ação do Bom Samaritano da parábola ética de Jesus, não seriam produto de nenhuma lógica mas do individualismo e falta de caridade. O Bom Samaritano, que ia de viagem, usou primeiro da sua caridade e do seu despojamento pessoal ao não recear tocar com suas mãos no homem moribundo, depois usou dos meios que possuía presentemente – o animal que transportou o ferido, só depois usou bens financeiros: o dinheiro que entregou ao hospedeiro para, nos dias futuros, o homem que salvou da morte certa poder ser bem tratado e recuperar para a vida. E deixou lavrado o que terá feito dele “mau economista”: o que for gasto, “eu pagarei quando voltar”.

Não pensou em custos, não pensou em rendimentos, não impôs juros ao pobre homem encontrado, à beira da morte, no caminho.

As leis do Bom Samaritano4

Tal atitude fez história, não apenas no Evangelho de Lucas, mas universalmente nas legislações em benefício do próximo e no âmbito das organizações não governamentais.

Com efeito, as chamadas leis do Bom Samaritano oferecem não apenas proteção legal aqueles que dão assistência a feridos, doentes, incapacitados, como encorajam as pessoas a oferecer a sua assistência. Enquadrando-se nas leis civis de qualquer Estado de Direito, têm também o efeito legal de exigir o dever do socorro ao próximo.

 

João Tomaz Parreira

Colaborador

Aveiro

 

Publicado na revista “Novas de Alegria”, setembro 2013

 

1 Hard Times, Charles Dickens, Penguin Classics, pág.9; 2 Op.cit, pág. 215; 3 Bom Samaritano que um Mau Economista (tradução livre); 4 Good Samaritan Laws

JUSTIÇA HUMANA versus JUSTIÇA DIVINA

JUSTIÇA HUMANA VERSUS JUSTIÇA DIVINA

Amílcar Ribeiro

MarteloNa segunda carta que o apóstolo Paulo escreve a Timóteo (2:15), recomenda-lhe que se apresente a Deus como trabalhador da palavra da verdade, a fim de a utilizar correctamente para si e para os outros. Daqui resulta a exigência do seu estudo dedicado, que decorre da ideia de obreiro, e a da sua devida interpretação e aplicação, a que não pode, obviamente, ser indiferente a sua revelação pelo Espírito de Deus.

Esta ideia implica a de comunicação com alguém por via da palavra, e que todo aquele que tem por utensilagem de trabalho a comunicação verbal ou escrita, necessita de a transmitir de modo a que seja compreendida pelo seu interlocutor com o mesmo sentido com que foi emitida. A não ser assim, poderá o leitor ou ouvinte entender a mensagem de modo diverso da pretendida pelo seu autor e, assim, perder-se a comunicação. Um dos obstáculos suscitados na comunicação consiste na inevitável utilização de conceitos indeterminados, vocábulos de uso corrente que aparentemente se consideram de apreensão imediata, mas que, na verdade, carecem de preenchimento para que emissor e receptor os entendam do mesmo modo.

O título da presente reflexão é um bom exemplo do que fica dito, pois, parecendo que não necessita de qualquer explicitação prévia, demanda que o seu objecto seja delimitado, para que saibamos do que estamos a tratar.

O que se deve entender por justiça? Parecendo a resposta intuitiva e simples, contudo, muitos pensadores têm empreendido ao longo dos séculos a tarefa de alcançar uma definição que sirva o objectivo de um entendimento comum e pacífico do conceito, mas sem o terem logrado.

Agostinho, bispo de Hipona nos séc. IV e V d.C., escreveu na sua conhecida obra Confissões acerca do tempo: “Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem, quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.”

O mesmo se pode dizer a respeito do conceito justiça. Todos pretendemos saber o que é, mas se nos perguntarem o que é, já não sabemos explicar. Diremos, de forma simplificada e não rigorosa, apoiando-nos no entendimento de Aristóteles, que justiça consiste em tratar igual o que é igual e diferente o que é diferente, na medida da diferença. Mesmo este conceito não está isento de críticas. A esta ideia poderá adicionar-se a clássica que entende a Justiça como: atribuir a cada um aquilo que é seu (de direito).

Sob o ponto de vista da sociedade humana, a justiça é um ideal absoluto para que tende o direito, mas que não alcançará, porquanto é produto de homens e mulheres limitados e imperfeitos e o sistema jurídico que constroem reflecte essas deficiências.

Justiça humana? Que civilização consideramos? Ora, mesmo os ordenamentos jurídicos das sociedades ocidentais na actualidade contêm diferenças entre si, que podem ser profundas em relação a valores vigentes em nações orientais. E a justiça humana compreende campos de aplicação de direito muito diversificados dentro do mesmo ordenamento.

E quanto ao conceito de justiça divina, constatamos que a ideia de Deus varia consoante os povos e as latitudes. Uma é a ideia de matriz judaico-cristã, outra é a de matriz islâmica.

Assim, para delimitarmos o nosso objecto, consideraremos a justiça no sentido exposto, sociedade humana a actual e ocidental, divina a de matriz judaico-cristã.

A justiça não se confunde com a lei nem com o direito. Aquela é o ideal para que tendem o direito e a lei, sem o alcançarem. O direito é servido por um sistema de normas escritas, mas também por princípios não escritos, que se destinam a ordenar uma certa sociedade segundo um determinado modelo. Este modelo poderá tender para a justiça, como conceito ideal, mas também poderá ser produzido para servir outros fins e, assim, a lei pode não reflectir nem o direito, nem a justiça.

De fins não serventuários da justiça resultam leis injustas. A respeito destas, poderemos recordar, a título de exemplo, as leis nacional-socialistas. Se o fim da justiça é a pacificação da sociedade e a resolução dos litígios, devemos ter sempre como objecto o homem em sociedade para a sua realização. Contudo, frequentemente os mais poderosos conseguem impor os seus interesses particulares em prejuízo dos gerais, por meio de leis produzidas para alcançar os fins que lhes interessam.

Todo o indivíduo tem uma noção empírica e pessoal do que é a justiça, o que tem dado origem à procura da sua fonte última. A noção de justiça confunde-se com a de direito positivo. É este um mero produto da razão humana ou tem uma origem transcendental? Há quem defenda que o direito não é mais do que aquilo que os homens querem que ele seja. Outros, que a justiça é um bem de origem divina, que vem inscrito já no espírito do homem desde o seu nascimento e que este se limita a descobrir, não alcançando, contudo, a sua completude, para depois o positivar.

Do exposto, resulta que a justiça humana é inelutavelmente imperfeita, quer na produção e sistematização das normas que constituem o sistema jurídico a que qualquer cidadão está obrigado a obedecer, quer na sua interpretação e aplicação pelas instâncias jurisdicionais. É recorrente os tribunais proferirem decisões consideradas injustas pelo comum das pessoas por excessivas ou por demasiado benevolentes ou mesmo decisões de primeira instância que são modificadas em sede de recurso. E, no entanto, nada disto deve ser considerado estranho à aplicação e interpretação das normas, porquanto os diferentes julgadores podem ter delas entendimentos diversos na procura da melhor solução jurídica. Continuará de igual modo a acontecer que pessoas sejam condenadas de forma injusta, outras indevidamente absolvidas por insuficiência de prova produzida para a condenação, testemunhas que alteram de modo consciente a verdade dos factos, continuará a haver uma justiça para os mais poderosos ou mais ricos e uma justiça para os socialmente mais débeis.

Em sentido contrário, a justiça de Deus é perfeita, porque é um dos Seus atributos, transmitidos na Sua revelação, a Bíblia. Nela, Deus é “o que faz justiça, o juiz de toda a terra” – Gn. 18:25, “é justo e recto” – Dt. 32:4, “a morada da justiça” – Jr. 50:7, “justiça e juízo são a base do teu trono” – Sl. 89:14.

Concordamos com Calvino, quando declara que a vontade de Deus constitui o padrão da Sua justiça. Este é o seu fundamento, pois não encontraremos outro acima dele. Os homens têm procurado encontrar qual o prius de onde deriva a ideia de justiça, sem o terem encontrado inequivocamente, mas a vontade perfeita de Deus é essa fonte última.

Por natureza, nada lhe pode ser ocultado. Se ao juiz humano não é possível fazer prova de tudo o que está no segredo daquele que está a julgar, porque este nada declara, não o podendo condenar se não existir qualquer prova complementar, do juiz de toda a terra tudo é conhecido. A sua natureza é a perfeição. Como a imperfeição não pode coexistir com a perfeição, todos os membros da comunidade humana são culpados. Se à justiça dos homens está vedado condenar um culpado em substituição de um inocente, na Sua sabedoria infinita Deus estabeleceu uma forma de justiça de substituição, para que houvesse a possibilidade de o culpado arrependido ser perdoado. Esta justiça substitutiva é Jesus Cristo, o inculpável, que leva a condenação daquele que, estando já julgado, espera o cumprimento da pena de separação definitiva da graça de Deus. Uma coisa apenas é necessária: aceitar essa substituição. Ela é eficaz e suficiente perante a perfeita justiça divina.

MAIS QUE TUDO

Jesus2 Jesus é único, singular, exclusivo e superior. Não tem comparação. Não é o maior, é inigualável. Como escreveu Augusto Cury, Ele é inconstrutível pela inteligência humana, ou seja, não poderia ter sido inventado se não existisse. Ele é parte da nossa História – diria mais – Ele é o centro da História e a razão dessa História. Ninguém como Ele foi e continua a ser tão controverso, provocando tanto reboliço e reações tão veementes. Alguns dos principais dos religiosos do Seu tempo acusaram-no de ser o demónio em pessoa, mas, pelo contrário, muitos outros adoraram-nO como Deus, como Senhor e Salvador, muito mais do que um Mestre ou um líder. Mas nunca disse nem poderá dizer mais e melhor sobre Ele do que o que Ele mesmo falou. Jesus apresentou-se como Deus entre nós, tendo colocado o âmago da Sua existência e da Sua presença entre nós, precisamente na evidência da Sua identidade.

A diferença de Jesus começa em quem Ele é, na Sua natureza, na Sua identidade. O resto é apenas decorrente de Quem Ele é. Não é possível em coerência estar disposto a aceitá-lO como um grande Mestre, um exemplo, um modelo, um líder espiritual, e não aceitá-lO como Senhor, como o Filho do Deus Criador – o único Deus verdadeiro.

Jesus distingue-se de todos os restantes porque falou como nenhum outro, porque a exigência moral que nos apresenta é inexcedível, nada mais, nada menos do que a perfeita santidade, sendo que Ele mesmo viveu em conformidade com esse padrão. Numa sociedade religiosa fundamentalista em termos morais e éticos, detentora e portadora dos dez mandamentos, diante do tribunal mais exigente possível entre os homens, desafiou os Seus detratores a apresentarem alguma falha no Seu carácter, nas Suas atitudes, no Seu comportamento.

Mas Jesus não se limitou a viver e a dizer como devemos viver, Ele dispôs-se a morrer por todos os que fracassam, sendo que perante Ele não há um justo nem um sequer. Não morreu para absolver-nos porque isso seria pouco, não deixaríamos de ser quem somos e perante o tribunal divino estaríamos sempre em falta. Ele veio para redimir, para expiar, para salvar, para ser o nosso substituto, para se apresentar em nosso lugar diante de Deus. Mas a Sua morte vicária também significa a possibilidade de uma transformação no íntimo que a religião, a educação, a filosofia ou a política, a ciência ou a tecnologia, nunca poderão alcançar. Jesus chamou-a de novo nascimento, nascermos de Deus e assim sermos feitos Seus filhos – isso é o que somos em Jesus Cristo. De Filho único tornou-se o primeiro, sem nunca perder a Sua singularidade, de uma multidão incontável de filhos do Pai. “Ele veio para seu povo, mas eles não o quiseram. Mas houve os que o quiseram de verdade, que acreditaram que ele era o que afirmava ser e que fez o que disse ter feito. Ele fez seu povo, os filhos de Deus. Filhos nascidos de Deus, não nascidos do sangue, não nascidos da carne, não nascidos do sexo.” (João 1:10-13 – paráfrase “A Mensagem”)

A vida de Jesus entre nós é diferente de todas as demais desde o Seu nascimento, à Sua morte, ressurreição, ascensão aos céus e promessa de segunda vinda em glória para dar início à plenitude do que veio concretizar, em novos céus e nova terra. A Sua existência é um permanente milagre. Jesus viveu na estrita dependência do Pai e no poder do Espírito Santo. Todos os milagres fazem parte da Sua essência e são sinais, evidências da Sua identidade divina e do Seu propósito salvador. Jesus não apenas nos ensinou a viver, mas é a própria vida que somos chamados a viver. Viver por Ele e para Ele. A Sua exigência é absoluta, radical, mas nenhum como Ele nos dá a mão quando fracassamos, quando falhamos. Não há lugar à frustração nem à condescendência.

A crise que vivemos é essencialmente de ordem espiritual. Para sair dela, cada um de nós precisa de ver a vida como Jesus a apresentou, amando, perdoando, servindo, recusando o suborno, a corrução, a mentira, a ganância, o egoísmo, a injustiça. Tudo começa com a salvação, a reconciliação com Deus. Por isso somos chamados a viver como embaixadores da parte de Deus recomendando a todos os homens que se reconciliem com Deus e abandonem os seus pecados. Sem Jesus tudo é nada… Jesus é mais que tudo!

 

Samuel R. Pinheiro
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A Bíblia é a Palavra de Deus?

A BÍBLIA É A PALAVRA DE DEUS?

Por Fernando Paiva

 

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INTRODUÇÃO

            Este trabalho tem  por finalidade  abordar  o  tema “ A Bíblia é a Palavra de Deus?”.

Muitos nos dias de hoje, têm considerado as questões relacionadas com a fé, como uma brincadeira, e a Bíblia Sagrada como mais um livro. Talvez daí, a proliferação e multiplicidade de religiões sem qualquer fundamento sólido, levando as pessoas a que  melhor se adapta a si e aos seus interesses, sem considerarem seguir O modelo. Mas, a verdade é que após algum tempo acabam por se sentir sós, vazios e abandonados, sem encontrarem resposta às perguntas fundamentais da vida, pois sem O exemplo o homem se sujeita a criar as suas próprias regras.

O mundo ainda tem a resposta e O exemplo a ser seguido, e esse é de facto o Jesus da Bíblia.

Se há uma Boa Nova, essa deverá surgir dos cristãos que sabem em que crêem e porque crêem. Apenas a fé vigorosa nas Escrituras, trás a verdadeira vitória às mais difíceis perguntas da vida.

 

  1. I.       A Arqueologia Bíblica

Ao dar início ao tema proposto, será importante dar ao algum tempo à questão relacionada com a arqueologia bíblica.

A palavra arqueologia provém de dois termos gregos, archaios e logos, que segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea[1] refere que arqueologia é a ciência que estuda os testemunhos materiais deixados pelo homem no decurso do devir histórico. No que concerne à arqueologia Bíblica, esta poderá ser definida como um exame de artefactos antigos, outrora perdidos e hoje recuperados, os quais se relacionam ao estudo das Escrituras e à caracterização da vida nos tempos bíblicos.

Charles C. Ryrie[2], considera que a arqueologia ajuda-nos a compreender a Bíblia. Ela revela a vida nos tempos bíblicos, o significado real de passagens bíblicas obscuras e também a forma de entender as narrativas históricas assim como os contextos bíblicos.

Certamente, que em algumas áreas nem mesmo a arqueologia conseguiu desmontar questões complexas, mas será certo que com toda a segurança as respostas surgiram com o tempo. Pode afirmar-se que até aos dias de hoje não houve um caso sequer em que a arqueologia tenha chegado á conclusão que a Bíblia estava errada. Charles C. Ryrie[3] refere que os arqueólogos demonstram que o grego do NT não era uma língua inventada pelos seus autores como se pensava. Pelo contrário, era de modo geral a língua usada pelo povo dos primeiros seculos da era cristã. Alude ainda, que menos de cinquenta palavras em todo o NT foram cunhadas pelos apóstolos. Os papiros revelaram que a gramatica do NT era de boa qualidade, julgando-a pelos padrões gramaticais do primeiro século e não pelo período clássico da língua grega. Segundo o autor, até à pouco tempo atrás a passagem hebraica manuscrita mais antiga, era datada aproximadamente do ano 900 da era cristã e o AT completo, era cerca de um século mais recente.

 

  1. II.    O Que a Bíblia diz sobre si mesma?

Sobre esta questão poderíamos começar por citar o versículo bíblico em 2 Timóteo 3:16:

Toda a Escrituraé inspirada por Deuseútilparao ensino,paraa repreensão,paraa correcção,paraa educaçãonajustiça,”, a partir deste ponto pode dizer-se que isto significa que Deus, que é verdadeiro, “soprou” a verdade. Charles C. Ryrie[4] lança a pergunta: mas não teria o homem corrompido a verdade enquanto a registava? Ele responde dizendo que não, pois a Bíblia também testifica que os homens que a escreveram foram “movidos (lit., carregados) pelo Espírito Santo”. O texto de 2 Pedro 1:21 diz: ​“porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.”. O Espírito foi o co-autor de todos os livros da Bíblia.

Charles C. Ryrie[5], diz que sem dúvida a Bíblia afirma ser inerrante. Aponta ainda sobre de que maneira se poderia explicar o facto de Cristo ter reivindicado para as próprias letras que formam as palavras da Escritura um caracter permanente: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra”(Mt 5:18). Diz que o “ i ” é a letra hebraica yod, a menor do alfabeto hebraico. O “til” era um pequenino traço que servia para distinguir certas letras hebraicas de outras. Este era usado em alguns livros, e seria menor que um milímetro! O autor refere que por outras palavras, o Senhor estava afirmar que cada letra ou palavra é importante, e que o AT seria cumprido exactamente como fora escrito em todos os seus detalhes, ou seja, letra por letra, palavra por palavra.

  1. III.      A Inspiração da Bíblia

A característica mais importante da Bíblia não é a sua estrutura e forma, mas o fato de ter sido inspirada por Deus. Não se deve interpretar de modo erróneo a declaração da própria Bíblia a favor dessa inspiração. Quando falamos de inspiração, não se trata de inspiração poética, mas sim de Autoridade Divina. A Bíblia é singular; ela foi literalmente “soprada por Deus“.

Foi já abordado o texto bíblico de 2 Tm 3:16, mas Erwin Lutzer[6] em seu livro 7 Razões Para Confiar na Bíblia, diz que esta é uma das declarações mais explicitas e mais conhecidas das Escrituras sobre a própria origem. Refere ainda que a palavra inspiração com o prefixo “in”, dá a impressão que depois dos vários livros da Bíblia terem sido escritos, Deus terá soprado neles, tornando-os livros “ inspirados”. A palavra grega significa que Deus “soprou”, e o resultado disso foram as Escrituras. Ou seja, a Bíblia metaforicamente falando, é o sopro de Deus.

Podemos assim, confirmar por Ela mesma, que a Bíblia é a Palavra de Deus divinamente inspirada.

Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (Jo 17:17)

Fiel é esta palavra e digna de inteira aceitação.” (1 Tm 4:9)

Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas.” (Hb 4:12-13)

Para Norman Geisler[7] em seu livro A Inerrância da Bíblia, diz que os autores humanos não eram autómatos. Eles dependiam de Deus. Os autores da Escritura não agiam no vácuo, eles viviam e se moviam e tinham seu coração em Deus, a exemplo de todas as demais pessoas conforme Atos 17:28 “…porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos;”. Refere que muitas das pessoas expressaram sua percepção da presença de Deus, do chamado Divino, de sua santidade, protecção, e de como ele as instava a falar e a escrever a Sua Palavra. Eles sabiam que dependiam de Deus e que tinham por obrigação conhece-lo, ama-lo e servi-lo. Geisler argumenta que O Deus dos autores bíblicos, embora estivesse activamente envolvido com eles, existia por si próprio, era eterno e imutável. Os autores eram dependentes; Deus era independente. Geisler[8] diz que os autores tinham a supervisão especial do Espirito como portadores que eram da palavra profética e apostólica que lhes foi dada no decorrer da composição e da redacção dos livros da Bíblia. O autor lança a pergunta[9]: “Como poderiam os seres humanos, ao escrever com base em sua experiencia pessoal, dispor de critérios para determinação das influências efectivamente provenientes de Deus?” O autor responde dizendo que os autores humanos das Escrituras estavam equipados para a sua missão extraordinária não somente graças aos ministérios comuns do Espirito, mas também em consequência de seus dons especiais como profetas e apóstolos e pelo milagre da inspiração. Graças a esses meios, Deus capacitou os autores humanos a escrever com autoridade.

 

  1. IV.      A Confiabilidade e Infalibilidade da Bíblia

Sobre a confiabilidade e infalibilidade das Escrituras, poderíamos dizer que uma coisa é afirmar que a Bíblia constitui uma fonte basicamente confiável de história e instrução religiosa; outra é sustentar que a mesma é inspirada, exacta e falível.

R.C.Sproul em seu livro Razão para Crer[10], diz que podemos apresentar alguns argumentos a favor da infalibilidade das Escrituras. Segundo o autor esses argumentos poderão ser os seguintes:

- A Bíblico é um documento basicamente confiável e seguro;

- Apoiados neste documento confiável, temos evidência suficiente para acreditar com segurança que Jesus Cristo é o filho de Deus;

- Por ser o filho de Deus, Jesus Cristo é uma autoridade infalível;

- Jesus Cristo ensina que a Bíblia é mais do que geralmente digna de confiança; ela é a própria Palavra de Deus;

- A Palavra, por ter origem em Deus, é absolutamente confiável, desde que Deus é absolutamente digno de confiança;

Em conclusão aos argumentos, com base na autoridade infalível de Jesus Cristo, a igreja crê que a Bíblia seja digna de toda a confiança e infalível.

 

  1. V.         Autenticidade da Bíblia – Jesus Cristo

Erwin Lutzer[11] refere que Cristo confirmou que o tema da Bíblia era a Sua própria vinda. Na controvérsia com os judeus, disse: “ Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (Jo 5:39). Frequentemente Jesus se referia às Escrituras apontando para Ele mesmo. O autor refere Lutero quando este disse: “Cristo está contido nas Escrituras como o corpo nas roupas”.

Os apóstolos viam Cristo como o centro das Escrituras. Erwin[12] diz que da primeira expressão do evangelho em Gn 3:15 “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” até ao “Vem, Senhor Jesus!” de Apocalipse 22:20, a Bíblia tem uma sequência histórica integrada.

Erwin[13] lança uma pergunta:”Podemos provar que a Bíblia é a Palavra de Deus?” Diz que certamente é possível apresentar diversas razões para aceitar a Bíblia como a Palavra de Deus. O autor diz que talvez um céptico espere um tipo de “prova” impossível de obter.

É verdade que dúvidas sobre a credibilidade das testemunhas, a exactidão de suas declarações, a veracidade dos copistas e dos manuscritos podem sempre ser levantadas. Erwin[14] diz que no caso da Bíblia, a questão da “prova” se torna ainda mais intrigante. Diz ser um livro que não apenas fala de assuntos de história e moral, mas também revela enfaticamente as sutis decepções do coração humano. Remata dizendo, “por isso, a razão mais complente porque creio que a Bíblia é a Palavra de Deus é aquela que está disponível apenas para os que têm o desejo de se submeter à autoridade dela”. Cita Jo 7:17 “​Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo”. Sem esse desejo não pode haver o conhecimento. Diz[15] que ficamos convencidos de que a Bíblia é a Palavra de Deus não por meio de pressentimentos subjectivos, mas pela destruição de nossos pressentimentos subjectivos quando nos humilhamos na presença de Deus revelada nas páginas da Bíblia. Revela que finalmente compreendemos que este Livro conta com a dolorosa verdade a respeito de nós mesmos e de nossos relacionamentos com o mundo. As peças da vida subitamente se juntam e somo levados a dizer: “Eu era cego e agora vejo!”.

Podemos afirmar, que a razão porque cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus é a autoridade de Cristo. Erwin Lutzer[16] reforça ainda que muita gente descarta a narrativa do Diluvio, mas Cristo disse: “ Pois como foi dito nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos; assim será também a vinda do Filho do homem.” (Mt 24:37-39). Diz ser interessante que Jesus tenha proferido essa afirmação sobre Noé e o dilúvio com as palavras: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão.” (Mt 24:35). Diante disto estamos perante uma decisão e lança a pergunta:  “Cremos nesses críticos que não conseguem aceitar a confiabilidade dos relatos bíblicos, ou cremos em Cristo?” Erwin menciona o livro Cristo e a Bíblia de John Wenham[17] quando refere: “ O futuro Juiz está enunciando palavras de solene advertência aos que no futuro comparecerão como réus no seu tribunal. […] E ainda assim vamos supor que esteja dizendo que uma pessoa imaginaria em uma pregação imaginária de um profeta imaginário arrependeu-se na imaginação, e que ele [o Juiz] vai-se levantar nesse dia para condenar a impenitência real de seus ouvintes reais”. Cristo cria na história de Noé e do diluvio. Deixa a pergunta: Sabemos mais do que Ele?

O autor John Drane[18] em seu livro A Bíblia Facto ou Ficção?, depois de um explanar de ideias relacionadas com Jesus nos evangelhos, aborda a questão da prova da ressurreição e diz que a ressurreição de Jesus foi o que convenceu os primeiros cristãos da verdade de tudo isto. Paulo afirma em 1 Co 15:17 “ E, se Cristo não foi ressuscitado, é vã a vossa fé, e ainda estais nos vossos pecados.” A ideia de que Jesus ressuscitou da morte é certamente o aspecto mais extraordinário de todas as histórias a seu respeito, mencionadas na Sua Palavra.

John Drane[19] refere o erudito judeu Gez Vermes, ao escrever em seu livro “ O Judeu Jesus”: “ Quando todo argumento tiver sido considerado e pesado, a única conclusão aceitável para o historiador deve ser…que as mulheres que foram prestar a ultima homenagem a Jesus, para sua consternação, não encontraram um corpo, mas um túmulo vazio.”

Diante de tais factos reais expressos na Sua Palavra, o homem nada é diante de um Deus soberano.

Termino citando o profeta Habacuque: “Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” (Hc 2:20)

CONCLUSÃO

            Em conclusão, ninguém que defenda a inerrância nega que a Bíblia use figuras de linguagem comuns (ex: “os quatro cantos da terra”, Ap7:1). Também não me oponho a que os autores por vezes pesquisaram os factos sobre os quais escreveram. “Visto que muitos têm empreendido fazer uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, segundo no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também a mim, depois de haver investido tudo cuidadosamente desde o começo, pareceu-me bem, ó excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração em ordem. Para que conheças plenamente a verdade das coisas em que foste instruído.” (Lc 1:1-4).

Creio, que o produto foi guardado do erro pelo trabalho e supervisão do Espírito.

Também não nego que haja eventualmente problemas com o texto que usamos hoje, no entanto, problemas são diferentes de erros. Na verdade, considerando as declarações que a Bíblia faz a seu favor em termos de inspiração e inerrância, o mais razoável quando confrontados com os problemas, é colocar nossa fé nas Escrituras que se têm demonstrado confiáveis ao longo dos séculos, em vez de confiarmos em alguma opinião humana e falível. O conhecimento humano de muitos desses problemas é limitado e em algumas ocasiões comprovadamente errado.

Sem dúvida, que o tempo continuará a revelar que só a Palavra de Deus não falha.

 

Deus escreve com uma pena que nunca suja, fala com uma língua que nunca erra, age com uma mão que nunca falha”.

C. H. Spurgeon.

BIBLIOGRAFIA

 

DRANE, John. A Bíblia Facto ou Fantasia? Editora Bom Pastor, SP, Maio 1994, Tradução Neyd Siqueira

ERWIN, Lutzer – 7 Razões Para Confiar na Bíblia, Editora Vida, SP, 2001, Tradução Yolanda Krienvin

GEISLER, Norman – A Inerrância da Bíblia, Editora Vida, 2003, SP, Tradução Antivan Guimarães Mendes

SPROUL, R.C. Razão Para Crer – Editora Mundo Cristão, SP, Maio 1986, Tradução Neyd Siqueira

RYRIE, Charles C. – a Bíblia Anotada Expandida, Editora Mundo Cristão, SP, 2006, Tradução Susana Klassen



[1] Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, p.343

[2] RYRIE, Charles C., A Bíblia Anotada – Expandida, p. 1306

[3] Ibidem, p. 1307

[4] RYRIE, Charles C., A Bíblia Anotada – Expandida, p. 1298

[5] Ibidem, p. 1299

[6] LUTZER, Erwin, p. 33

[7] GEISLER, Norman, p.288

[8] p. 304

[9] p. 308

[10] SPROUL, R. C., p.23

[11] p.42

[12] p.43

[13] p.47

[14] p.49

[15] p.50

[16] p. 107

[17] p. 107

[18] p. 151

[19] p. 153

A Bíblia é a Palavra de Deus?

A BÍBLIA É A PALAVRA DE DEUS?

por Cândido Carrusca

                                         I.            Introdução.

BíbliaRios de tinta têm corrido nas gráficas. Milhares de horas têm sido gastas em estudos e pesquisas, nas áreas da ciência mais remotas e desconhecidas. Vidas inteiras têm sido dedicadas, à contradição, à afirmação, à contestação. Inúmeros comentários têm sido proferidos por milhares de pessoas leigas ou estudiosas. Mas qual a razão de tanto alarido e alarmismo desde sempre?

De facto, constata-se que em toda a História da humanidade houve, há e haverá espaço para o contraditório no que diz respeito ao mais sublime dos compêndios literários. A Bíblia.

É acerca dela que este pequeno trabalho incidirá. Apresentarei provas inequívocas da sua autenticidade, expondo ideias dos mais famosos escritores da atualidade e não só. No entanto, no fim a decisão caberá a cada um deixar Deus operar na sua vida, através do Espírito Santo que atua na e pela Palavra de Deus.

 

                                      II.            O que a Bíblia diz de si mesma.

Devemos considerar a amplitude da escrita da Bíblia, para ver a importância que as menções proferidas na própria Bíblia têm. Quero com isto afirmar que os escritores do texto Sagrado fizeram afirmações posteriores, citando o próprio texto escrito muitos anos antes, como sendo inequivocamente sagrado.

Mencionaremos alguns escritores que atestam as características mais enfáticas que a Bíblia diz de si mesma. Porém, a característica maior e mais preponderante, encontra-se na vida dos que a aplicam ao seu viver. Desde Norman Geisler a William Nix, passando por Paul Little e Josh Mcdowell muitos apresentam factos impressionantes que fazem ressaltar a autenticidade da Bíblia, e deixam qualquer leitor sem margem para dúvidas de que a Bíblia só pode ter tido origem numa entidade superior ao ser humano. (A Bíblia afirma que essa entidade é Deus)[1]

A Bíblia faz inúmeras referências a ela mesma. O próprio Jesus, em várias ocasiões, aponta para o que nas Escrituras estava escrito a respeito Dele. Mateus 21:42 é uma alusão a vários textos no Antigo Testamento acerca de Jesus.[2]

Depois da ressurreição, (outro facto inquestionável da autenticidade da mensagem da Bíblia) Jesus faz uma descrição completa na viagem para Emaús acerca Dele mesmo, com referências ao que já estava escrito. Em Lucas 24:25-27 Ele não deixa dúvidas que a autenticidade da Sua proveniência estava bem fundamentada nas Escrituras.[3]

O mestre da Galileia declara, em cerca de 92 ocasiões, que o suporte das afirmações por Ele proferidas estavam assentes “nas Escrituras”.[4] Em todas essas ocasiões, fica bem frisado que o ministério do próprio Cristo, não estava suportado sobre uma qualquer ideologia ou filosofia da época, mas sobre o que sobre Ele já tinha sido escrito á anos atrás.

a.      A Bíblia e os outros livros “sagrados”.

Não existe dúvida da autoridade e procedência do livro Sagrado chamado Bíblia (como comprovaremos no decorrer deste trabalho). Essa autoridade é vista nas declarações proferidas nela e acerca dela. Mas só o facto, que a própria Bíblia afirma ser a palavra de Deus, não significaria por si só que o é. Porém, quando os Seus Escritos são confrontados com outros de índole teísta conhecidos, reconhecemos neles o cunho Divino. Eles manifestam, sem qualquer margem para equívocos, a autoridade e procedência deste maravilhoso livro; que é em si mesmo a Santa e Bendita Palavra de Quem o autorizou e mandou redigir, Deus.

Foram muitos os personagens que na Bíblia e por ela, apoiaram as suas declarações em circunstâncias adversas e obtiveram respostas. Mas o personagem mais expressivo contido no relato sagrado é o próprio Jesus.

A este ponto surge a pergunta. Será que é só na Bíblia que encontramos a resposta para a dúvida da humanidade, ou existem noutros registos “sagrados” a forma de chegar a Deus? (notar que a dúvida da humanidade reside no facto de saber como chegar a Deus)

Por incrível que possa parecer, a Bíblia não é o único livro a apontar na direção de Deus através de Jesus. Livros de índole religiosa, tidos como “sagrados”, tais como o Corão, livro sagrado dos islâmicos, atesta de certa forma a veracidade do que está explícito na Bíblia.

“Ó fiéis, quereis que vos indique uma troca que vos livre de um castigo doloroso?

É que creiais em Deus e em Seu Mensageiro, e que sacrifiqueis os vossos bens e pessoas pela Sua causa. Isso é o melhor, para vós, se quereis saber.”[5]

Devemos, no entanto, compreender que a perceção do que para os islâmicos representa Deus, é completamente diferente da mensagem que a Bíblia nos transmite. Também o destino eterno para os islâmicos, é completamente contrário ao apresentado na Bíblia. Se assim não fosse, poderíamos considerar o Corão como mais um dos livros de inspiração divina, o que não sucede. Todos os escritos de inspiração divina, levam-nos Ao Deus do amor total, Ao Deus da cruz, Ao Deus da restauração humana. Sabemos que nenhum destes factos se consegue perceber no Corão.

Por outro lado o alcorão não apresenta a descrição de nenhum facto milagroso, que tenha sido atestado por testemunhas oculares, e que seja autentificado pela ciência hoje; enquanto no tocante à Bíblia, o avançar da ciência em descobertas, testes e provas factuais, cada vez mais confirma os factos milagrosos descritos na Bíblia.

“Embora os mártires actuais do islamismo sejam certamente sinceros com relação ao islão, não têm provas miraculosas de testemunhas oculares de que o islão seja verdadeiro. Não são testemunhas oculares de qualquer coisa miraculosa.”[6]

A Bíblia, no evangelho, apresenta um único propósito para a vinda de Jesus.[7]Ela afirma sem qualquer sombra de dúvida a inequívoca exclusividade que reserva Jesus como O único meio de chegar a Deus. Outras crenças apontam em várias direções, tornando-se difusas nas suas conceções e tendem em ser “politicamente corretas” para não ferir mentalidades que achem nelas algum ponto discordante.

“O hinduísmo acredita em 300 000 deuses. A maioria dos devotos venera ou adora alguns favoritos, mas respeita todos. (…) O hinduísmo não se preocupa com contradições, por conseguinte há muitos caminhos contraditórios para a mesma realidade suprema. (…) Como as outras religiões orientais, o hinduísmo é melhor descrito como uma árvore com muitos ramos diferentes e contraditórios. Considerando que absorveu muitas ideias pagãs, não tem um corpo de doutrinas claramente definido.”[8]

A Bíblia não se preocupa em provocar uma reação agradável nos seus leitores, nem os que fizeram parte interveniente na história nela relatada, escapam à integridade e frontalidade com que o relato Bíblico é exposto. Se bem que o seu propósito é ser em alguns casos contundente nos assuntos abordados, não tendo em vista salvaguardar os personagens intervenientes; mas passar sempre para o lado do leitor, a vontade de Deus que a mandou redigir.

“A inerrância de autores finitos, decaídos e humanos deve ser entendida no contexto das doutrinas ortodoxas referentes a Deus, (…) a vida, o mover deles estava nas mãos do Senhor de todas as coisas, que tudo sabe. Nele depositavam o seu ser.”[9]

A Bíblia é um livro que transmite certezas. Devido à sua objetividade e clareza, sabemos o futuro do género humano. Assim como a História transmite factos reais e inequivocamente irrefutáveis, devido às inúmeras provas neles contidos; a Bíblia transmite certezas para aqueles que nela confiam a fundamentação da sua vida. É incrível ver como ao longo de toda a Bíblia, Deus inspira o relato que nos leva a saber o futuro que Ele tem reservado para nós, sobre a certeza inabalada que o passado pela História nos transmite.[10]

“No islamismo, a salvação vem pelo fazer a vontade de alá, o que está decifrado em “cinco pilares”. No dia do julgamento alguns serão consignados para o inferno e outros para um paraíso repleto de delícias sensuais. Os adoradores de outros deuses (que não sejam de alá) irão sem dúvida para o inferno; mas ninguém, nem mesmo um muçulmano dedicado, pode saber com certeza qual o seu destino eterno. A pessoa só pode esperar que no dia do julgamento o bem venha a exceder em valor ao mal.”[11]

Pela verdade Bíblica torna-se sabido que a salvação vem pelo crer na boa nova, de que Jesus morreu e ressuscitou.[12]Pela Bíblia, ficamos a saber sem sombra de dúvida como deveremos manter a nossa vida, de modo a preencher os requisitos de Deus, tendo assim a certeza da vida eterna com Ele. Pela Bíblia, já hoje podemos ter a certeza de como será a nossa eternidade.

b.      A afirmação inequívoca da veracidade Bíblica.

A certeza inequívoca da inspiração da Bíblia por Deus é um dado assente em pilares inquebráveis. Muitos foram ao longo da História as tentativas de destruir estes pilares e descredibilizar este compêndio divino.

“No ano de 303 A.D, Dioclécio ordenou que todos os exemplares da Bíblia fossem queimados. (…) Durante os dois séculos em que o papado teve poder absoluto na Europa Ocidental (1073-1294), os líderes nacionais começaram a colocar o credo acima da Bíblia. Essa não foi uma tentativa de destruir a Bíblia, mas apenas de rebaixá-la a uma importância menor, subjugando-a a um poder maior. (…) Um dos últimos grupos que desejam destruir a bíblia são os ateus. Através de Lenine, Stálin, Hitler, Mao Tsé Tung, Pol Pot e tantos outros, o ateísmo continua a perseguir a bíblia e os cristãos em vários países como a China, Vietname, Coreia do Norte, Cuba”[13]

No entanto, todas as tentativas de destruir a Bíblia goraram. De facto estas tentativas que visavam destruir a sua mensagem central, Cristo; foram vaporizadas pelo tempo e a inercia que a temporalidade de quem as proferiu lhes confere. Lembramo-nos por exemplo de Voltaire.

Quando o famoso francês Voltaire morreu, em 1778, predisse que no prazo de 100 anos a partir de sua época, o cristianismo estaria extinto. Ao invés disso, apenas vinte e cinco anos após sua morte, a Sociedade Bíblica Inglesa e Estrangeira foi fundada, e as mesmas impressoras que haviam imprimido a literatura infiel de Voltaire tem sido usadas desde então para imprimir a Bíblia.[14]

Mas a mensagem da Bíblia permanece, não só pela mensagem em si, mas também porque Quem proferiu essa mensagem, vive para a preservar.[15]

“A característica mais importante da Bíblia não é a sua estrutura e a sua forma, mas o facto de ter sido inspirada por Deus. Não se deve interpretar de modo errado a declaração da própria Bíblia a favor dessa inspiração.”[16]

A Bíblia é verdadeira. Não podemos ter receio de a confrontar com o que quer que seja. Toda a afirmação verdadeira é suportável por si mesma, daí quanto mais a Bíblia for confrontada com as dúvidas existentes, mais verdadeira e coerente se apresenta àquele que se debruça sobre ela. Contamos com os nossos sentidos para colocar à prova a veracidade da Bíblia.

“A afirmação verdadeira pode ser verificada empiricamente por meio de um ou mais dos cinco sentidos.”[17]

Com a legitimidade que a minha vida confere, afirmo com toda a força dos meus pulmões, para todos os que quiserem ouvir, que a prova máxima da autenticidade da Bíblia sou eu mesmo. É o testemunho que a minha vida projeta que autentifica o que nela é encontrado da Bíblia. A vida de cada leitor da Bíblia deve tornar-se em si, uma outra Bíblia, a qual todos podem ver e ler.

É por meio dos sentidos que tomamos conhecimento de Deus e da Sua Palavra, e é também por meio dos sentidos que atestamos a experiência pessoal com Ele; e isso nada nem ninguém nos pode tirar.

O cepticismo, à volta da veracidade da Bíblia, reside no facto de que pessoas que não pretendem deixar que a Palavra de Deus, e O Deus da Palavra, interaja com eles; se vejam confrontadas com o que para eles é desconhecido. O Desafio fica em jeito de orientação judicial; provem a Sua inexistência, visto que a existência está por demais provada. No entanto, a Bíblia está cheia de evidências que demonstram a sua autenticidade.

                                   III.            As evidências da Bíblia.

Quando se fala em evidências, seja da Bíblia ou de outra coisa qualquer, existe a necessidade de suportar com provas factuais essas mesmas evidências. Por outras palavras, o que a evidência faz é proclamar, empiricamente, as provas reveladas acerca do assunto sobre as quais as mesmas foram analisadas.

David Hume faz uma declaração inquietante ao concluir a sua obra Inquiry Concerning Human Understanding (inquérito sobre a compreensão humana) acerca da veracidade da Bíblia, que pode demonstrar como a sociedade olha e analisa este compêndio divino.

Se tivermos em nossa mão, qualquer um livro — de divindade ou metafísica, por exemplo, devemos perguntar: “ele contém algum raciocínio abstrato; relativo a quantidade ou números?”. Não. “Ele contém algum raciocínio experimental relativo à matéria e à existência?”. Não. Então, jogue-o no fogo, pois contém apenas sofismas e ilusões.”[18]

Acerca deste comentário do senhor Hume, que muitos têm usado como pretexto para “queimar” a Bíblia, podemos afirmar duas coisas:

1)      Quem afirma que a revelação acerca dos números na Bíblia é abstrata, deverá ter em consideração as imensas afirmações que a mesma faz usando números com firmeza e coerência.[19]

2)      No que diz respeito ao raciocínio experimental, é importante que nos fixemos no alvo primordial que a Bíblia revela para o género humano. A experiência com Deus. Tudo o que Deus quer dar aos que O aceitam como tal, seja nesta vida ou no porvir, é experiência de Quem Ele é.[20]

O que o senhor Hume especula, não deveria produzir nenhum tipo de inquietação na sociedade leiga nem na científica. Sabemos, pela Bíblia e não só, que O autor deste que é o Livro Sagrado por excelência é o criador do universo, e tudo o que ele contém, logo, quem honestamente se debruça sobre os factos verdadeiros, encontrará no fim Deus, visto Ele ser o criador de todas as coisas.

“Se Deus é o autor dos dados científicos e também da revelação comunicada pela Escritura Sagrada, não se pode falar em colocar a ciência verdadeira “acima” da Bíblia.”[21]

As evidências que encontramos, acerca da Bíblia, não estão confinadas a um espaço fechado e hermeticamente intocável, com o risco de se estragar alguma delas, ou de quem as vê não saber interpreta-las. É Deus quem nos manda colocar as Escrituras à prova,[22]e ver que seja dentro ou fora delas, encontramos provas mais que suficientes da Sua veracidade e autenticidade.

a.      Evidência interna.

Devemos, ter em consideração algumas particularidades, que atestam a singularidade da Bíblia, antes de passar às considerações dentro do próprio texto.

“ 1 – Escrito durante um período de mais de 1500 anos.

2 – Escrito durante mais de 40 gerações.

3 – Escrito por mais de 40 autores, envolvidos nas mais diferentes atividades, inclusive reis, camponeses, filósofos, pescadores, poetas, estadistas, estudiosos, etc.:

Moisés, um líder político, que estudou nas universidades do Egipto; Pedro, um pescador; Amós, um boiadeiro; Josué, um general; Neemias, um copeiro; Daniel, um primeiro-ministro; Lucas um médico; Salomão, um rei; Mateus, um coletor de impostos; Paulo, um rabino.

4 – Escrito em diferentes lugares: Moisés, no deserto; Jeremias, numa masmorra; Daniel, numa colina e num palácio; Paulo, dentro de uma prisão; Lucas enquanto viajava; João na ilha de Patmos; Outros nos rigores de uma campanha militar.

5 – Escrito em diferentes condições: Davi, em tempos de guerra; Salomão em tempos de paz.

6 – Escrito sob diferentes circunstâncias: Alguns escreveram enquanto experimentavam o auge da alegria, enquanto outros escreviam numa profunda tristeza e desespero.

7 – Escrito em três continentes: Ásia, Africa e Europa.

8 – Escrito em três idiomas: Hebraico, a língua do Antigo Testamento. Em II Reis 18:26-28 essa língua é chamada “judaica”. Em Isaías 19:18, de “ língua de Canaã”.

Aramaico: a “língua franca” do Oriente próximo até a época de Alexandre o Grande (Séc. VI a.C. – Séc. IV a.C.).

Grego: a língua do Novo Testamento. Foi o idioma de uso internacional à época de Cristo.

9 – A Bíblia trata de centenas de temas controversos. (…) Com harmonia e coerência de Génesis a Apocalipse. Há uma única História que se vai revelando: “A redenção do homem por parte de Deus””[23]

Estes são números que demonstram a realidade incrível como de dentro da própria Bíblia surgem provas estrondosas da sua autenticidade; poderiam servir de resposta ao senhor Hume, mas que aqui são apresentados no intuito de clarificar as evidências internas da autenticidade da Bíblia como relato Sagrado. Nenhum outro compêndio de livros poderia ser tão exatamente comprovado pela história, como a Bíblia.

Uma das evidências internas da veracidade da Bíblia é a falta de uma ciência da atualidade que está muito em voga; a “achologia”. Passo a explicar. Normalmente quando lemos outro tipo de literatura, é frequente encontrarmos a opinião de quem a redige, e palavras como “talvez, penso que, nesse sentido a minha opinião é que …” proliferam no texto, relatando assim pensamentos de quem o escreve com relação a determinado assunto.

No entanto, a Bíblia é isenta dessa “ciência” chamada “achologia”, porque nela não estão as opiniões de quem a escreveu, mas a certeza que o Seu autor é Deus e a verdade que Ele nos transmite através da mesma. A Bíblia faz afirmações com um nível de autoridade, que mais nenhum outro livro faz. A sua autoridade é inquestionável.

“As palavras das Escrituras não precisam ser defendidas; precisam apenas ser ouvidas, para que se saiba que são a palavra de Deus.”[24]

Mas do interior da Bíblia, não quero somente referir a sua autoridade como prova. Daí poderia resultar uma resposta cética, de que a prepotência e o autoritarismo, não poderiam provar, que a Bíblia é a Palavra de Deus. (se bem que na Bíblia não encontramos autoritarismo, nem prepotência, apesar de que alguns poderiam argumentar que sim).

O Espírito de Deus ativo na vida dos que a leem a Bíblia é por si só prova da sua autenticidade. Alguns poderão contestar dizendo que outros livros, de autoajuda ou de carater religioso, também “transformam” vidas. Contudo, a esse respeito observamos duas coisas: primeiro, as mudanças com base nesses meios, nunca são altruístas, ou seja não têm em vista as necessidades alheias; o que é uma grande diferença com o cristianismo verdadeiro promovido com a leitura da Bíblia, que transforma vidas, para que estas sejam usadas para transformar outras vidas. Segundo, as mudanças não aproximam o leitor da entidade alegadamente “divina” que inspira esses escritos. A Bíblia, é o único livro a fazê-lo com genuinidade. Quem lê a Bíblia, aproxima-se definitivamente do seu autor que é Deus.

“A palavra de Deus confirma-se perante os filhos de Deus pelo Espírito de Deus. O testemunho íntimo de Deus no coração do crente, à medida que este vai lendo a Bíblia, é evidência da origem divina da Bíblia. O Espírito Santo não só dá testemunho ao crente de que este é filho de Deus (Rm.8:16), mas também afirma que a Bíblia á a palavra de Deus (IIPd.1:20,21)”[25]

As mudanças que quem lê a Bíblia “sofre”, já eram temidas na antiguidade. Muitas vezes ouvi dizer que quem lê a Bíblia fica louco. O surpreendente desta afirmação é que ela é verdadeira, pois aos olhos da sociedade comum, somos tidos como loucos, tal é o poder transformador desta Bendita palavra.[26]

“A palavra de Deus tem o poder, o dinamismo transformador de Deus”[27]

Sem qualquer margem para dúvida, é por esse poder que Deus trabalha na vida dos que se dispõe a saber acerca de Deus lendo a Bíblia. Esta é a evidência interna mais marcante que o ser humano poderia experimentar. A verdadeira e genuína mudança de vida.

b.      Evidência Externa.

Os céticos poderiam afirmar que o tópico anterior, acerca da evidência da Bíblia ser a Palavra de Deus pela sua prova interna, é definitivamente insuficiente visto que um argumento pode estar logicamente correto, mas mesmo assim não ser verdadeiro em si mesmo, daí precisarmos de provas externas à veracidade da Bíblia.

“Em outras palavras, um argumento pode ser logicamente correto, mas ainda assim ser falso, porque as premissas do argumento não correspondem à realidade.”[28]

Como esta afirmação é verdadeira, a Bíblia “precisa” de estar assente em evidências externas a Ela mesma. De facto, o que não faltam são provas evidenciadas pela ciência de que a Bíblia é a Palavra de Deus.

Uma das evidências externas acerca da confiabilidade da Bíblia pode-se encontrar na arqueologia. Através da qual podemos ter a certeza de que o que a Bíblia afirma de si mesma, e não só (relatos de civilizações, culturas, pessoas acontecimentos, calamidades etc.) é verdade e está provado. Não estamos a apelar à fé para credibilizar a Bíblia, mas ao raciocínio.

“O Dr. W. F. Albrigth, um dos grandes arqueólogos do mundo disse: “Não restam dúvidas de que a arqueologia tem confirmado a substancial historicidade da tradição do velho testamento””[29]

Tida pela maioria como “a descoberta do Séc. XX” os achados do mar morto são uma das provas da arqueologia moderna sobre a autenticidade das Escrituras. Ali, naquelas cavernas nas encostas de Qumran perto do mar morto, Deus preservou intacta a sua palavra, para que hoje, em pleno “reinado” do ceticismo, pudessem haver provas palpáveis de que a Bíblia é de facto a Palavra Dele.

“Os Manuscritos e fragmentos de Manuscritos recuperados nos arredores de Qumran representam um corpo volumoso de documentos judeus, uma verdadeira ” biblioteca “, datando do terceiro século Antes de Cristo para 68 d.C. Sem questionamento, a ” biblioteca” que é o maior achado arqueológico do século vinte demonstra a atividade literária rica do período depois de Cristo.”[30]

Hoje a arqueologia pode satisfazer as mentes dos mais ceticos perguntadores acerca da veracidade da Bíblia. Esta ciência tem estado “ao serviço” da fundamentação lógica e provada da Bíblia.

A transmissão do texto bíblico pode ser rastreada com certa clareza a partir de fins do século II e início do III até os tempos modernos por meio dos grandes manuscritos.[31]

Os arqueólogos não só vieram confirmar a palavra escrita na Bíblia, como vieram trazer uma “nova luz” para que possamos compreender com fundamentos, muitas coisas que tínhamos como dados adquiridos e aceitávamos somente pela fé, mas que agora a ciência mostra que de facto existem provas que tal assim é.

“Graças à pá dos arqueólogos estamos começando a entender o pano de fundo de muita coisa que lemos na Bíblia.”[32]

Poderia encher este trabalho com trechos do que tenho encontrado de provas arqueológicas das evidências dos relatos Bíblicos, no entanto não é esse o meu objectivo, sendo que não nos podemos esquecer que o facto da arqueologia ainda não ter provado tudo o que na Bíblia se descreve como verdadeiro, não significa que de facto não o seja. Posso inferir, que as provas existentes chegam e sobram para fundamentar com firmeza o que a Palavra de Deus afirma.[33]

Também não nos podemos esquecer que todos os dias aparecem novos achados, e que em várias partes se fazem esforços para que esses mesmos achados venham à luz do dia. O que hoje é desconhecido, amanhã poderá sair debaixo do manto da ignorância humana, revelando um pouco mais da credibilidade Bíblica.

“… seria uma tolice congelar os pontos de conflito e concluir que a Bíblia está errada. A Bíblia não mudou em 2000 anos, enquanto que, somos somo obrigados a admitir, a ciência é um comboio em movimento. Se se tivesse reconciliado a Bíblia com os pontos de vista científicos em voga há um século, ela ter-se-ia tornado completamente obsoleta nos nossos dias! É muito melhor admitir um aparente conflito e aguardar que apareçam mais evidências.”[34]

É exatamente isto que o crente faz. Delicia-se com as provas existentes, e aplica a sua fé e confiança no que ainda falta aparecer, sabendo que se todas as provas da confiabilidade da Bíblia fossem conhecidas, não haveria lugar para a descrença ou para a fé.

                                   IV.            A objetividade da Bíblia

A Bíblia não tem como objetivo demonstrar a sua própria veracidade. Podemos até afirmar que, nós os que a lemos, é que temos necessidade de fazer a apologia da mesma, visto que, apesar nela se encontrar como vimos provas irrefutáveis da sua veracidade, a mesma não tem como objetivo, afirmar ou comprovar a sua veracidade.

Mas qual o objetivo da Bíblia?

Afinal, um compêndio sobre o qual se tem escrito tanto e que tem movido ao longo dos tempos tantas mentalidades e feito correr tanta tinta, deverá ter em si mesmo um objetivo bastante claro e forte.

A resposta para a pergunta acima formulada dá-se com uma única palavra. VIDAS. A Bíblia foi-nos entregue por Deus para mudarmos a nossa vida e sermos instrumentos nas mãos Dele para que com Ela e por Ela mudemos outras vidas.

Uma mudança de vida, sempre começa, seja em que circunstância for, com uma decisão. É isso que a Bíblia faz, leva o seu leitor a um ponto em que, com a revelação que o leitor alcança com a leitura da mesma, tenha que tomar uma decisão. Crer[35] ou não crer, é a grande questão.[36]

“Se a Bíblia é verdadeira, então Deus concedeu a cada um de nós a oportunidade de fazer uma escolha eterna no sentido de aceitá-lo ou rejeitá-lo. Com o objetivo de assegurar que a nossa escolha é totalmente livre, ele nos colocou num ambiente repleto de provas de sua existência, mas sem a sua presença direta.”[37]

a.      Jesus a evidência máxima da Bíblia.

Desde o livro de Génesis até ao enigmático livro de Apocalipse, a Bíblia apresenta uma figura central e preponderante a toda a Escritura. Jesus Cristo.

Polémico nas suas declarações,[38]Jesus colocou-se acima da lei,[39]Deu novos mandamentos,[40]no entanto, é em torno Dele que todo o texto foi escrito.

As incertezas que muitos querem ver no relato Sagrado, não clarificam, nem dignificam a fiabilidade da Bíblia. Esquecendo-se de todo o rol de evidências, (já mencionadas neste trabalho) colocam as questões meramente racionais e lógicas, sobre a autenticidade de todo o texto Bíblico, e da firmeza que o mesmo transmite ao colocar Jesus como centro de toda a declaração Sagrada.

“Muitos dizem que aceitariam de bom grado o que Jesus ensina sobre a Bíblia, se ao menos soubessem o que Ele de facto ensinou. Contudo, dizem que o acúmulo de erros de tradução, de distorções introduzidas pela tradição oral e pelos escribas não lhes permite saber com certeza o que Jesus realmente disse. Refugiando-se nessa crença, deixam de lidar com as provas oferecidas pelos evangelhos e sentem-se livres para construir a sua teologia dando um tratamento diferente às Escrituras daquele que a investigação Histórica tradicional acredita e ensina. No entanto, por mais que desprezem os detalhes dos registos evangélicos, recorrendo à crítica, só poderão distorcer tudo o que lhes foi apresentado, se rejeitarem praticamente todas as provas.”[41]

Não distorcendo as provas, Manuel Rainho afirma categoricamente a autoridade de Jesus ao colocar-se ao mesmo nível da lei, com o Seu novo discurso. No início do Seu ministério terreno, Jesus não deixa dúvidas acerca do que o movia, nem do que O fundamentava. Não se trata somente de a Bíblia apresentar Jesus que cumpre a própria Bíblia; mas o facto de que Ele contraria a tendência do mundo de então, apresentando uma lei superior aquela que já estava escrita. Notamos nesta “ousadia” de Jesus, a exposição da intenção pela qual a lei (Bíblia) foi dada aos que a leem. O próprio autor explica, revela melhor dizendo, a Sua intenção clarificada para que não possa haver, depois Dele, equívocos acerca da lei já escrita.

“O sermão vai assim mais longe e apresenta-nos uma ética nova, radical no seu pacifismo e contraria à forma natural do ser humano reagir. A lógica do mais forte, típica do mundo clássico, é invertida e os valores mais elevados passam a ser precisamente aqueles que os romanos mais desprezavam. (…) Jesus comete a ousadia de colocar a Sua palavra ao nível da Torah.”[42]

O que não foi compreendido na altura de Jesus, corre o risco de também não o ser nos dias de hoje. Devemos olhar para a lei do Antigo Testamento como a “maquete” que apresenta a “construção” final, com a sua plenitude nos evangelhos que expõe inequivocamente Quem é Jesus. Para acharmos a beleza de todo o compêndio a que chamamos Bíblia; devemos analisar com rigor a vida e mensagem do Seu Autor descrita nos evangelhos.

Jesus que não precisava das escrituras para fundamentar a Sua mensagem, visto que Ele é a mensagem em si mesmo. Não desvirtuando nenhuma característica contida na mesma; Ele coloca-se a si mesmo como “Aquele que é a Palavra”[43]

“… percebemos que o reino de Deus estava fundamentado acima de tudo, na mensagem de Jesus, mensagem que não carecia de qualquer suporte a não ser a autoridade do mensageiro…”[44]

Podemos afirmar com a autoridade que as evidências Históricas conferem, que O Jesus “problemático, controverso, enigmático, etc…”que mudou o rumo e a contagem da História; é em Si mesmo o que hoje é conhecido como a Bíblia. É Nele, que compreendemos a totalidade da essência do texto Sagrado. Podemos afirmar que a Bíblia é Jesus e Este é a Palavra revelada na sua plenitude.

b.      Reação humana à evidência chamada Bíblia.

Este trabalho poderia ter a amplitude e a dimensão de todas as obras literárias de qualquer biblioteca nacional, ou internacional; que diante do ceticismo do descrente, nunca passaria de uma montagem literária, ou especulação filosófica no tocante a este livro magnífico que chamamos Bíblia. Porém, a conclusão é por demais evidente para quem a quer ver. É ensurdecedoramente gritante, para quem a quer ouvir.

Algumas vezes, considerando acerca da defesa da Bíblia e mesmo da fé em Jesus Cristo, afirmo que Deus não se revela de tal forma à humanidade, que seja óbvio demais o facto da Sua existência e consequentemente da Sua aceitação. Mas por outro lado, também não se afasta de forma que não possamos razoavelmente saber que Ele existe, e que interage no nosso viver. Daí o equilíbrio resultante entre Deus e cada ser humano deste planeta, ao qual Deus se revela de forma a deixar “espaço” para uma fé verdadeira e pessoal Nele, e no Seu meio de revelação ao homem (Bíblia).

Para aqueles que olham para as Escrituras deixando esse “espaço”, a conclusão a que todos chegam é óbvia. A Bíblia de facto é a Palavra de Deus. Esta conclusão só é atingida, quando nesse “espaço”, concedido na vida de cada um, o Espírito Santo de Deus trabalha pelas Escrituras.

“Com base em tantas evidências, só se pode chegar a uma conclusão: a Escritura na sua totalidade, o que compreende tanto o Antigo, como o Novo Testamento, é produto divino, embora tenha contado com a mediação humana. É a palavra de Deus e, portanto, dispõe de autoridade total e amplamente funcional para todos os seus propósitos”[45]

Quando o trabalhar do Espírito de Deus começa a produzir os seus resultados na vida de quem lhe concedeu permissão para agir; gera-se, cada vez mais, uma vontade e um testemunho de tal forma evidente e inequívoco, que deixam de ser necessárias as evidências “externas” iniciais que começaram todo o processo.

Podemos assim concluir que o trabalho de qualquer fundamentação apologética, é como o motor de arranque de qualquer carro; uma vez a andar, não faz mais falta no mesmo. A não ser que este pare, e seja necessário, com o tal motor de arranque (apologética), fazê-lo colocar em movimento novamente.

“O testemunho interior não propõe nenhum argumento ou conteúdo novo à evidência encontrada objetivamente na escritura; contudo, opera de tal forma em nosso coração que nos impele a nos submeter àquilo que já se encontra lá”[46]

Este mesmo carro, até poderia fazer uns bons quilómetros só pela força do movimento provocado por esse pequeno motor de arranque. No entanto, o movimentar do carro só existiria enquanto houvesse bateria para alimentar o dito motor de arranque.

Vemos nas evidências, a energia exterior à Bíblia capaz de colocar em movimento, qualquer vida que se chegue a Deus. Contudo torna-se imperativo que o Espírito Santo inflame a Palavra de Deus (Bíblia) e que através Dela, a pessoa se chegue mais a Deus, com uma “energia” produzida dentro de si, através dessa mesma Palavra inflamada Pelo Espírito Santo.

“Há, pois, muitos fragmentos de evidência sobre os quais a pessoa pode basear razoavelmente a sua crença de que a bíblia é a Palavra de Deus. Embora estas evidências sejam úteis, o testemunho do Espírito Santo é que, em última análise, leva a pessoa a crer que a Bíblia é a Palavra de Deus.”[47]

Deus não nos deixou a Bíblia com um conjunto de pistas muito bem esclarecidas, para que não houvesse possibilidade de negação da mesma. Se assim fosse, estaria colocada em causa a capacidade que todo o ser humano tem de escolher Deus, ou não. Mesmo o próprio Deus tornar-se-ia num manipulador que não respeitaria a vontade individual de O aceitar ou não.

A Bíblia é a palavra de Deus. Não importa a forma como a veem, as criticas que fazem Dela, ou a subjetividade a que a mesma possa ser relegada. Antes de qualquer forma de vida neste planeta, já existia a Palavra.[48]

“A Bíblia é a Palavra de Deus, independentemente do que a pessoa pense acerca dela,”[49]

O que se torna importante, não é saber se a Bíblia em si é verdadeira, mas a forma como se reage a Ela, mediante a revelação que a mesma nos faz de Deus.

Conclusão.

Este é o fim que se expunha no princípio deste trabalho. E aqui, na conclusão como na introdução; as palavras são as mesmas. A decisão de aceitar a Bíblia como a inequívoca Palavra de Deus cabe a cada um que a lê. As evidências, internas ou externas; só o serão, se da parte do interlocutor, que se presta a saber o que está escrito na Santa e Bendita Palavra de Deus; se deixar trabalhar pela mesma. De outra forma este livro não terá virtude alguma.

Conheço pessoas que dormem com a Bíblia na mesa-de-cabeceira, para terem um bom sono, outras andam com Ela no carro, enquanto viajam, para não terem acidentes; no entanto desconhecem que este livro não é de forma alguma um amuleto, mas sim a Palavra de Deus. Não é somente para ser lido, mas acima de tudo é para ser vivido.

Na Bíblia está o poder de Deus que transforma vidas. Se houver predisposição a deixar Deus transformar a vida pelo poder contido na Sua Bendita Palavra; haverá sem Dúvidas ou incertezas a convicção de que este maravilhoso livro é a Palavra de Deus.

 

Bibliografia e Web-grafia

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Eduard, Reese & Frank Klassen. Bíblia em ordem   cronológica. São Paulo: Editora Vida, 2003.

Geiseler,   Norman (organizador). A Inerrância da Bíblia. Traduzido por Antivan   Mendes. São Paulo: Editora Vida, 2007.

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[1] João 1:1 Bíblia, Sagrada. Edição   João Ferreira D’Almeida Nova Tradução Linguagem de Hoje E-Sword. Rick   Meyers. 2009. “Antes de ser criado o   mundo, aquele que é a Palavra já existia. Ele estava com Deus e era Deus.”

Idem   João 14:23 “Jesus afirma ser a mensagem   que quando aceite e obedecida, levará o amor de Deus até aquele que assim   faz”

[2] Jesus cita: O Salmo 118:22 e Isaías 28:16

[3] Jesus cita: Génesis 3:15; Génesis 22:18; Génesis   26:4; Génesis 49:10; Deuteronómio 18:15; Salmo 132:11; Isaías 7:14; Isaías 40:10;   Jeremias 23:5; Jeremias 33:14; Ezequiel 24:33; Ezequiel   37:25; Miqueias 7:20 entre   muitas outras referências que poderiam ser citadas, estas de facto revelam   que Jesus citou a Escritura para falar de si mesmo. Atestando assim a   veracidade da mesma

[4]   Geisler, Noman, & Frank Turek. Não Tenho Fé   Sufuciente Para Ser Ateu. Traduzido por Emirson Justino. São Paulo:   Editora vida, 2010. P.366

[5] Alcorão. Surata 61   – 5156. P.267 (fonte em pdf)

[6] Geisler, Noman & Frank Turek. Não Tenho Fé   Sufuciente Para Ser Ateu. Traduzido por Emirson Justino. São Paulo:   Editora vida, 2010. P.302

[7] João 20:31 Bíblia, Sagrada. Edição   Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009. “Muitos outros sinais miraculosos realizou   ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste   livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias,   o Filho de Deus, e, acreditando, terdes a vida nele.”

[8]   E.   Lutzer, Erwin. Cristo Entre   Outros deuses. São Paulo: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2000.   P.52

[9] Geisler, Norman (organizador). A Inerrância da Bíblia. Traduzido   por Antivan Mendes. São Paulo: Editora Vida, 2007. P.271

[10] Mateus 24:37 Bíblia,   Sagrada. Edição Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009.

Idem   Lucas 17:26; II Pedro 2:5

[11]   E. Lutzer, Erwin. Cristo   Entre Outros deuses. São Paulo: Casa Publicadora das Assembleias de Deus,   2000. P.54

[12] Romanos 1:16 Bíblia, Sagrada. Edição   João Ferreira D’Almeida Nova Tradução Linguagem de Hoje E-Sword. Rick   Meyers. 2009.Eu não me envergonho do evangelho, pois ele é o poder de Deus   para salvar todos os que crêem, primeiro os judeus e também os não-judeus.

[13] http://blog.invsc.org.br/?p=205. Acedido em 19-04-2012 ás   17:25

[14]   http://blog.invsc.org.br/?p=205. Acedido em 19-04-2012 ás   17:25

[15] Marcos 13:31 Bíblia, Sagrada. Edição   João Ferreira D’Almeida Nova Tradução Linguagem de Hoje E-Sword. Rick   Meyers. 2009.”O céu e a terra   desaparecerão, mas as minhas palavras ficarão para sempre.”

[16] Geisler, Norman &   William Nix. Introdução Bíblica Como a Bíblia chegou até nós. São   Paulo: Editora Vida, 1997. P.9

[17] Geisler, Noman & Frank, Turek. Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu. Traduzido por Emirson   Justino. São Paulo: Editora vida, 2010. P.57

[18]   Geisler,   Noman & Frank, Turek, Não Tenho Fé Suficiente   Para Ser Ateu. Traduzido por Emirson Justino. São Paulo: Editora vida,   2010.

[19] Este espaço seria pequeno para   colocar só no livro de Números as cerca de 31 referências diretas à aplicação   de números, ou contagem direta de pessoas bens ou animais. No entanto ficam   aqui alguns exemplos.

Números   1:32, 34, 36, 38, 40, 42; 3:22, 28, 34, 40, 43; 14:34; 15:12; 23:10; 26:53;   29:18, 21, 24, 27, 30, 33, 37; 31:36 Bíblia, Sagrada. Edição Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009.   (Foi somente mencionado o livro que a Bíblia dedica aos números e contagens,   o que revela a importância que a mesma dá ao assunto)

[20] Romanos 12:2 Bíblia, Sagrada. Edição   Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009.

[21] Geisler, Norman (organizador). A Inerrância da Bíblia.   Traduzido por Antivan Mendes. São Paulo: Editora Vida, 2007. P.88

[22] Salmo 34:8 Bíblia, Sagrada. Edição   Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009. “Provai, e vede que o SENHOR é bom;   bem-aventurado o homem que nele confia”

[23] Macdowell, Josh. Evidências   que exigem um veredito. Traduzido por João Marques Bentes. Vol. II. II   vols. São Paulo: Editora Candeia, 1997. PP. 20,21 (foi tomada a liberdade de   organização do texto)

[24] Geisler, Norman & Nix,
William. Introdução Bíblica Como a Bíblia chegou até nós. São   Paulo: Editora Vida, 1997. P.54

[25] Romanos 8:16 e II Pedro 1:20,21Bíblia, Sagrada. Edição João Ferreira D’Almeida Nova   Tradução Linguagem de Hoje E-Sword.   Rick Meyers. 2009.

[26] ICo.1:18-25 Bíblia,   Sagrada. Edição Difusora Freis,   Capuchinhos “A linguagem da cruz é certamente loucura para os que se perdem   mas, para os que se salvam, para nós, é força de Deus. (…)Portanto, o que é   tido como loucura de Deus, é mais sábio que os homens, e o que é tido como   fraqueza de Deus, é mais forte que os homens.”

[27] Geisler, Norman & Nix,   William. Introdução Bíblica Como a Bíblia chegou até nós. São   Paulo: Editora Vida, 1997. P.54,55

[28] Geisler, Noman & Frank Turek. Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu. Traduzido por Emirson   Justino. São Paulo: Editora vida, 2010. P.63

[29] Little, Paul. Explicando e Expondo a Fé Saiba porque crê   & Saiba no que crê. Traduzido por Eunice Machado. Wheaton Illinois,   U.S.A.: Nucleo, 1980. P.180 (citado por Paul Little do livro de A. Rendle Short, Modern Discovery   and the Bíble (London: Inter-Varsity Chirstian Fellowship, 1949), P 39)

[31] Little, Paul. Explicando e Expondo a Fé Saiba porque crê   & Saiba no que crê. Traduzido por Eunice Machado. Wheaton Illinois,   U.S.A.: Nucleo, 1980. P.147

[32] Macdowell, Josh. Evidências que exigem um veredito.   Traduzido por João MArques Bentes. Vol. II. II vols. São Paulo: Editora   Candeia, 1997. P.455

[33] http://www.arqueologia.criacionismo.com.br/. “A descoberta do Palácio de Davi é fato. O jornal Folha de S. Paulo,   em sua edição de 06/08/05, traz a seguinte notícia: Uma arqueóloga israelense   diz ter descoberto em Jerusalém Oriental o lendário palácio do rei bíblico   Davi.” (acedido a 19-04-2012 ás 23:23)

http://www.christiananswers.net/portuguese/q-abr/abr-a008.html. “A descoberta do arquivo de Ebla no norte da Síria nos anos 70 tem   mostrado que os escritos bíblicos concernentes aos Patriarcas são de todo   viáveis.” (acedido a 19-04-2012 ás 23:23)

http://pt.shvoong.com/humanities/487338-b%C3%ADblia-descobertas-arqueol%C3%B3gicas/.“Várias foram as descobertas arqueológicas que proporcionaram o   melhor entendimento das Escrituras Sagradas.” (acedido a 19-04-2012 ás   23:23)

[34] Little, Paul. Explicando e Expondo a Fé Saiba porque crê   & Saiba no que crê. Traduzido por Eunice Machado. Wheaton Illinois,   U.S.A.: Nucleo, 1980. P.179

[35] João 21:30,31 Bíblia,   Sagrada. Edição Difusora Freis,   Capuchinhos. E-Sword. Rick Meyers. 2009. “Muitos outros sinais miraculosos realizou   ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste   livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias,   o Filho de Deus, e, acreditando, terdes a vida nele.

[36] Slide Nrº92 da disciplina de   Apologética Ano 2011/2012

[37] Noman, Geiseler & Frank   Turek. Não Tenho Fé Suficiente Para   Ser Ateu. Traduzido por Emirson Justino. São Paulo: Editora vida, 2010.   P.31

[38] Mateus 12:6 Bíblia, Sagrada. Edição   João Ferreira D’Almeida Nova Tradução Linguagem de Hoje E-Sword. Rick Meyers.   2009. “Eu afirmo a vocês que o que está   aqui é mais importante do que o Templo.”

[39] Mateus 5:28-44 Bíblia, Sagrada. Edição Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009. “Eu, porém, digo-vos” (expressão   repetida 5 vezes nestes versículos)

[40] João 13:34 Bíblia, Sagrada. Edição   João Ferreira D’Almeida Nova Tradução Linguagem de Hoje E-Sword. Rick   Meyers. 2009. “Eu lhes dou este novo   mandamento: amem uns aos outros. Assim como eu os amei,…”

[41] Geisler, Norman (organizador). A Inerrância da Bíblia. Traduzido por Antivan Mendes. São Paulo:   Editora Vida, 2007. P.43

[42] Rainho, Manuel. O   Misterioso Jesus. Lisboa: Grupo Bíblico Universitário (GBU), 2010. P.165

[43] João 1:1 Bíblia, Sagrada. Nova Versão Internacional E-Sword.   2009.

[44] Rainho, Manuel. O Misterioso   Jesus. Lisboa: Grupo Bíblico Universitário (GBU), 2010. P.171

[45] Geisler, Norman (organizador). A Inerrância da Bíblia. Traduzido por Antivan Mendes. São Paulo:   Editora Vida, 2007. PP.509,510

[46] Idem. P. 408

[47] Little, Paul. Explicando e   Expondo a Fé Saiba porque crê & Saiba no que crê. Traduzido por   Eunice Machado. Wheaton Illinois, U.S.A.: Núcleo, 1980. P.89

[48] Eduard, Reese & Frank   Klassen. Bíblia em ordem   cronológica. São Paulo: Editora Vida, 2003. A referência a João 1:1   aparece antes do livro de Génesis, indicando assim a atemporalidade do que é   designado como a “A Palavra” que existia no princípio.

[49] Little, Paul. Explicando e   Expondo a Fé Saiba porque crê & Saiba no que crê. Traduzido por   Eunice Machado. Wheaton Illinois, U.S.A.: Núcleo, 1980. P.81

O Problema do Sofrimento

O PROBLEMA DO SOFRIMENTO

Ângela Paiva

 

INTRODUÇÃO

Sofrimento“Agora me regozijo no meio dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo, por amor do seu corpo, que é a igreja; da qual eu fui constituído ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, a fim de cumprir a palavra de Deus, o mistério que esteve oculto dos séculos, e das gerações; mas agora foi manifesto aos seus santos, a quem Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, admoestando a todo homem, e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para isso também trabalho, lutando segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente.” – Cl 1: 24-29

A Bíblia frequentemente descreve o sofrimento como um aspeto essencial da vida cristã. Portanto, este é um tema que também deveria estar presente com frequência no nosso pensamento e comunicação. Contudo, devido à riqueza e ao avanço tecnológico do século XXI, muita gente vê o conforto e a comodidade como direitos humanos essenciais. Assim, a mensagem bíblica sobre a essencialidade da cruz tem-se transformado em algo culturalmente incompatível com o modo de pensar de muitas pessoas nos dias de hoje.

A necessidade de uma reflexão mais profunda sobre esta questão tem-se tornado mais premente pelo facto de alguns líderes cristãos bastante populares pregarem que não é vontade de Deus que os cristãos sofram. Alguns dizem isso, afirmando que nós não devemos suportar mais este aspeto da “maldição”, isto é o sofrimento, pois Cristo já suportou a maldição no nosso lugar. Esta forma de pensar parece sugerir   que há alguma coisa errada nas nossas vidas, se estivermos a atravessar um período de sofrimento.

Com este trabalho pretendo assim demonstrar que a Bíblia não vê o sofrimento como algo negativo, mas pelo contrário, a atitude predominante da Bíblia em relação à dor e ao sofrimento na vida do cristão é positiva.

Partindo desta premissa, este trabalho será dividido em três pontos principais. O primeiro responderá à questão “Porque sofremos?”. No segundo ponto, mostrarei como é que as várias religiões veem o sofrimento. No terceiro e ´último ponto, falarei um pouco sobre a solução para o sofrimento.

 

I. PORQUE SOFREMOS?

            Esta é uma das mais prementes questões do nosso tempo. Mais importante que a questão dos milagres ou da ciência e da Bíblia, é o problema da razão porque sofrem as pessoas inocentes, porque é que os bebés nascem cegos ou porque é que uma vida promissora desaparece quando está em franca ascensão. Porque é que existem guerras em que milhares de pessoas inocentes morrem, crianças queimadas ao ponto de ficarem irreconhecíveis e muitos mutilados para toda a vida?[1]

Na apresentação clássica do problema, ou Deus é todo-poderoso mas não todo-bom, e por conseguinte, não elimina o mal, ou então é todo-bom, mas incapaz de acabar com o mal. E, neste caso, não é todo-poderoso. A tendência generalizada é culpar Deus pelo mal e sofrimento e atribuir-lhe (a Deus) toda a responsabilidade.[2]

Mas será mesmo assim? Penso que a melhor maneira de falar sobre este assunto é começar por entender o conceito de sofrimento.

 

   A. O conceito de sofrimento

            Segundo a Infopédia,[3] sofrimento é o ato ou efeito de sofrer, o qual se pode traduzir numa dor física ou moral, em mágoa, em tristeza, ou em infelicidade. O sofrimento pode resultar de uma experiência extremamente desagradável, de um grande mal, ou de uma desgraça. Segundo esta enciclopédia, o resultado do sofrimento pode ter duas vertentes: a paciência e a resignação.

 

   B. A origem do sofrimento

            Quando Deus criou o homem, criou-o perfeito. O homem não foi criado mau. Contudo, como ser humano, tinha a capacidade de obedecer ou desobedecer a Deus. Se o homem tivesse obedecido a Deus, nunca teria havido qualquer problema. Ele teria vivido uma vida sem fim de comunhão com Deus. No entanto, o homem foi desobediente e rebelou-se contra Deus, como diz em Rm 5: 12 “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram.” Portanto, o sofrimento é consequência do pecado, o qual por sua vez, é consequência da desobediência e rebeldia do homem.[4]

 

   C. As causas do sofrimento

            Sobre o problema do sofrimento, Paul Litte põe a hipótese deste ter como principais causas o seguinte:

  • Em primeiro lugar, o sofrimento é resultado da má escolha (livre arbítrio) do homem, ou seja, o homem quando escolheu desobedecer a Deus, rebelou-se contra Ele e pecou. O sofrimento é uma das consequências dessa má escolha.[5]
  • Em segundo lugar, o sofrimento é um castigo de Deus, e o resultado de uma anterior prática do mal (conceito de recompensa exata). Como exemplo desta situação, Little, apresenta a forma de pensar dos amigos de Jó. No entanto, este autor[6], diz também que pelo ensino do Velho e do Novo Testamento, torna-se claro que o sofrimento pode ser o julgamento de Deus, mas que há muitos casos em que não tem a menor relação com uma má conduta da pessoa, pelo que uma suposição automática da culpa e consequente castigo é absolutamente injustificada. Como exemplo, temos o cego de nascença de Jo 9: 1-3. É pois evidente, que nos precipitamos quando assumimos que a explicação de qualquer tragédia ou sofrimento resulta do castigo de Deus
  • Em terceiro lugar, o sofrimento é resultado de julgamento divino. No entanto, esse julgamento nunca acontece sem anteriormente serem feitas algumas advertências por parte de Deus. Por exemplo, através do Velho Testamento vemos os repetidos apelos de Deus e os avisos de julgamento. Só depois dos avisos terem sido aparentemente ignorados e rejeitados, é que vem o julgamento. Encontramos um exemplo desta situação em Ez 33: 11. O mesmo tema continua no Novo Testamento, como é o caso de Mt 23: 37 e 2 Pd 3: 9.[7]
  • Em quarto lugar, o sofrimento tem como causa a ação de satanás (Jó, e Mt 13: 25). A verdade é que satanás tem muito prazer em arruinar a criação de Deus e causar miséria e sofrimento. Deus permite-lhe um poder limitado, mas ele não pode tocar naquele que está em íntima comunhão com Deus (cf. Tg 4: 7).[8]
  • Em quinto lugar, o sofrimento tem como causa a negligência humana.[9]

 

   D. A finalidade do sofrimento

            Há coisas para as quais não temos explicação, nem sabemos porque têm que ser assim. Um exemplo disso é apresentar argumentos que justifiquem os propósitos que o mal e o sofrimento possam ter na vida de um individuo. No entanto, mesmo não conhecendo todos os bons propósitos que Deus tem para a dor e para o sofrimento, não significa que não haja bons propósitos.

Sobre este assunto, Norman Geisler e Peter Bocchino[10] dizem algo muito curioso. Segundo estes escritores, alguma dor física é necessária para o desenvolvimento do caracter. Por exemplo, a compaixão não se atinge sem a miséria, nem a paciência sem a tribulação. Não se adquire coragem sem o temor, e a persistência é provocada pela privação. Em resumo, algumas virtudes seriam totalmente ausentes sem o mal físico. Geisler e Bocchino chegam mesmo a citar Helen Keller, a qual sobre este assunto diz: “O caracter não pode ser desenvolvido na comodidade e na quietude. Somente através da provação e do sofrimento a lama pode ser fortalecida, a visão clareada, a ambição inspirada e o sucesso alcançado.”[11]

Geisler e Bocchino defendem também que um pouco de dor física é necessário para ensinar aos indivíduos que certos tipos de conduta são errados e têm consequências morais e físicas. A decisão habitual de preferir vícios, o orgulho, a ira, o ciúme, a avareza, a glutonaria, a luxúria, e a preguiça, são manifestações da recusa de dominar os impulsos físicos e psicológicos. Deixar de aprender a desenvolver e usar o domínio próprio resultará na redução do interesse pela virtude e desejo de cultivar uma boa personalidade.

Um pouco de dor também é necessário para nos advertir de um perigo maior e iminente.

Um pouco de dor também é necessário para nos ajudar a evitar um sofrimento maior. Por exemplo, quando alguém ignora as suas necessidades de saúde (descanso, dieta, exercício, etc.), é bom que o corpo reaja de maneira dolorida para que esse individuo saiba que algo está errado antes que a situação piore.

Por fim, um pouco de dor é usado por Deus para obter a nossa atenção moral. Da mesma forma que um pai ama o filho e a disciplina para o chamar à atenção, Deus também age dessa forma para connosco. Sobre este assunto, Geisler e Bocchino citam C. S. Lewis, o qual diz: “Deus cochicha connosco nos prazeres, fala-nos à consciência, mas grita connosco nas dores: a dor é o Seu megafone para acordar um mundo moralmente surdo (…) Enquanto o homem mau não encontra o mal inconfundivelmente presente na sua própria existência, na forma de dor, ele permanece enclausurado na ilusão (…) Sem dúvida, a dor como megafone de Deus é um instrumento terrível, pode levar a uma rebelião final e sem volta. Mas dá a única oportunidade que um homem mau pode ter para se emendar. Remove o véu, e planta a bandeira da verdade dentro da fortaleza de uma alma rebelde.”[12]

 

II. O QUE DIZEM AS VÁRIAS RELIGIÕES SOBRE O SOFRIMENTO?

   A. O Deísmo[13]

O Deísmo surge como um reflexo do iluminismo no campo religioso. Em síntese, e segundo esta conceção do século XVIII, Deus abandonou a Sua criação à sua própria sorte para servir de campo de treino para o caráter humano.

Para os que sofrem, pouco ou nenhum consolo encontrarão nos braços dos deístas, pois negam qualquer possibilidade de imanência de Deus, bem como a Trindade, a encarnação de Jesus, a autoridade divina da Bíblia, a expiação, os milagres, qualquer povo especificamente eleito como Israel, e qualquer ato redentor sobrenatural na história. Portanto, o Deísmo é a crença num Deus que fez o mundo, mas que nunca interrompe as operações deste, com eventos sobrenaturais.

Segundo esta conceção, Deus não interfere na Sua criação. Pelo contrário criou-a para ser independente dele mediante leis naturais imutáveis. O Deísmo clássico tenta afastar Deus do mal ao enfatizar que Deus não é imanente no mundo.

 

   B. O Hedonismo[14]

Do grego hçdonç que significa prazer, o Hedonismo consiste nas teorias éticas que identificam o alvo moral como a felicidade, e o prazer. O Hedonismo afirma ser o prazer, o supremo bem da vida humana. Os simpatizantes do Hedonismo procuram fundamentar-se numa conceção mais ampla de prazer, entendida como felicidade para o maior número de pessoas, entendendo que é a tendência moral que defende a maximização do prazer e a minimização do sofrimento na existência humana. A ideia básica que está por trás do Hedonismo formatada pelos epicureus, é que todas as ações podem ser medidas em relação ao prazer e à dor que produzem.

No formato epicureu, o Hedonismo é a filosofia mais popular do mundo hoje. Os hedonistas modernos pensam que a felicidade é o fim último da vida. Propagam que o homem foi criado para ser feliz e nada deve se interpor no caminho dessa felicidade.

Muitos crentes entram em crise quando pensam num cristão a passar por sofrimento. Muitos perguntam: por que é que um cristão sofre? Estará em pecado? Deus está a castigá-lo? Será que não tem fé? Será que é porque desconhece os seus direitos como filho de Deus?

Dificilmente alguém que esteja a enfrentar os piores dias da sua vida, encontra no Hedonismo alívio para a sua dor, pois esta conceção reduz a moralidade ao sentimento, omite os seus aspetos racionais, éticos e sociais, não fornece nenhum critério para distinguir os prazeres superiores e inferiores, dignos ou indignos, animais e espirituais ou de uma pessoa, e os de outra. Além disso, sendo que o prazer é altamente individualista, como alguém que está a sofrer pode encontrar alívio numa conceção que ridiculariza a dor?

Não há no Hedonismo lugar para o autossacrifício, para a abnegação ou para o dever. Quando a obrigação é absolvida no desejo, a moralidade desce à experiência, à procura daquilo que é mais confortável. Se a busca do prazer é constante, então há sempre uma insatisfação, uma procura de novos prazeres, e um certo desencanto perante os velhos prazeres.

O Hedonismo conduz-nos a um estado de egoísmo em que podemos perfeitamente sacrificar o outro se esse sacrifício implicar um novo prazer.

   C. O Estoicismo[15]

O Estoicismo deriva de uma seita de filósofos. Alguns desses filósofos disputaram com o apóstolo Paulo em Atenas, conforme a narrativa bíblica de At 17: 18. A seita teve como fundador um certo Zenom. A sua doutrina era essencialmente panteísta.

Segundo o Estoicismo, o sofrimento decorre de reações despertadas no ser humano por quatro classes de emoções: a dor, o medo, o desejo e o prazer. O ideal do estoico é alcançar a natural aceitação dos acontecimentos, uma atitude passiva diante da dor e do prazer, a abolição das reações emotivas, a ausência de paixões de qualquer natureza.

Uma atitude passiva diante do sofrimento como assevera o Estoicismo, em nada pode contribuir para superar a dor. A maneira como o Estoicismo lida com o sofrimento pode ser resumida em duas objeções:

  • Uma moral sem qualquer espécie de emoção é contrária à própria natureza humana. Viver segundo a natureza é também deixar-se guiar por emoções, visto que elas são muitas vezes a nossa mais humana forma de nos relacionar e apesar de causarem sofrimento também podem causar felicidade.
  • A virtude como sabedoria faz da moral estoica algo acessível às elites intelectuais não estando, portanto, ao alcance do homem comum, de uma escolaridade mínima. O alcance da virtude, a que só o sábio tem acesso, torna a moral elitista e, portanto, algo que não está ao alcance de todos. Contudo, o sofrimento é inerente a todos.

O Estoicismo grego entendia que o sofrimento fazia parte da “razão” ou da “lógica” do universo. A virtude, para os estoicos, consistia em descobrir a direção do destino (ou da natureza) e ajustar a vida com ela. Era importante não sentir paixões ou não se submeter às emoções, mas harmonizar-se com o fatalismo dos acontecimentos fora do controle do homem. Ter uma atitude de indiferença diante do sofrimento, era a melhor resposta que o filósofo Zeno e os seus seguidores ofereciam. Esta era a atitude correta no entendimento estoico de se lidar com o sofrimento e armar-se intimamente contra ele. Harmonizar-se com o fatalismo e ficar refém do sofrimento não ameniza a dor, antes conduz ao desespero. O Estoicismo em nada ajuda aquele que sofre.

 

   D. O Panteísmo[16]

Esta palavra vem do grego, pan e Theós, significa “tudo é Deus” e foi cunhada por John Toland em 1705, para se referir aos sistemas filosóficos que tendem a identificar Deus com o mundo. O Panteísmo apregoa que o finito e o infinito tornam-se uma e a mesma coisa, embora diferentes expressões de uma mesma coisa. O universo passa a ser autoexistente, sem começo, embora sujeito a modificações. De acordo com o Panteísmo, todos os seres e toda a existência de Deus, são concebidos como um todo.

Segundo Zacarias Aguiar, o panteísta diz “que tudo é Deus e nada é mau na sua essência, as coisas apenas parecem más ao nosso entendimento não iluminado.” Tratar o sofrimento como uma ilusão parece ser uma ilusão.

Do ponto de vista bíblico, o Panteísmo é deficiente em maior ou menor grau por causa de duas considerações. A primeira é que o Panteísmo geralmente nega a transcendência de Deus e defende a sua imanência radical. A Bíblia apresenta um equilíbrio. Deus está ativo na história e na sua criação, mas não é idêntico a elas, em menor ou maior grau. A segunda é que, por causa da tendência de identificar Deus com o mundo material, surge outra vez uma negação menor ou maior do caráter pessoal de Deus. Nas Escrituras, Deus não somente possui os atributos de uma pessoa, como também, na encarnação, Ele assume um corpo e torna-se O Deus-homem. Deus é retratado supremamente como uma pessoa. O Panteísmo afirma que Deus é idêntico ao universo criado. A máxima panteísta diz: “Deus é tudo e tudo é Deus.” O Panteísmo tem muitas vertentes e muitos tipos, no entanto, seja qual for a vertente, Deus não é pessoal. Nenhum movimento moderno assumiu tanto as premissas panteístas como a Nova Era. Shirley MacLaine, um arauto do movimento, declarou em Denver nos Estados Unidos “que ela e todas as outras pessoas formam Deus”.

Para o panteísta a história não existe ou é simplesmente relegada ao mundo das aparências, pois ela é cíclica e repete-se infinitamente. O objetivo da alma é abandonar o corpo e tornar-se um com Deus, nem que seja necessário um grande número de reencarnações para alcançar tal objetivo. Para o panteísta que diz: “eu sou Deus e Deus sou eu,” há sérias implicações, pois Deus é o absoluto Imutável, e o homem é um ser transitório e mutável. Como pode então o homem ser Deus se ele muda e Deus não muda? A dor para o panteísta é apenas um fragmento da sua imaginação.

O Panteísmo também não consegue responder ao problema do mal de uma forma adequada. Dizer que a dor e o sofrimento são uma ilusão pode até filosoficamente ser possível, mas é inaceitável para quem está a ser visitado pela dor. Acreditamos que até mesmo os panteístas gritam de dor quando um membro do corpo deles é amputado sem anestesia. O fato de que o bem e o mal são ilusórios e não se distinguem, também é inadequado. Por que é então que os criminosos vão para a prisão se o conceito de bem e mal não existe? Aqueles que estão a viver dias difíceis, não encontrarão consolo no berço dos panteístas, pois as suas dores estão longe de ser apenas uma ilusão.

   E. O Budismo[17]

Ao passo que o Hinduísmo é uma multiplicidade de religiões politeístas e filosofias panteístas, o Budismo é basicamente uma filosofia sem Deus. O Budismo surgiu na Índia cerca de quinhentos anos antes do nascimento de Cristo. Diferente do Hinduísmo, o Budismo pode ser identificado com um fundador específico: Siddhartha Gautama. Buda é um título que significa “iluminado”. Seu fundador desenvolveu a partir de um movimento de reforma dentro do Hinduísmo uma religião essencialmente ateísta. Segundo Norman Geisler, as crenças básicas do Budismo são resumidas em quatro verdades:

  • A vida é sofrimento
  • O sofrimento é causado pelo desejo de prazer e prosperidade
  • O sofrimento pode ser superado pela eliminação do desejo
  • O desejo pode ser eliminado pela Trilha Óctupla

Não há no Budismo esperança em Deus ou no céu, pois não há Deus no ensinamento Gautama. O que buscam é o nirvana, a eliminação de todo sofrimento, desejo e ilusão de autoexistência. Diz-se que, fundamental e inexoravelmente, viver é sofrer. Desse ponto de partida a filosofia budista começou a elaborar a solução do problema para o sofrimento.

Segundo o Budismo, o que dá poder para continuar no ciclo de renascimentos é o desejo, pois dos desejos provêm as ações e estas mantêm o ciclo enfadonho de nascimento e renascimento em que se colhem os seus frutos. Enquanto houver ações haverá o resultado delas, eis a lei do Karma. Esta assevera que é necessário renascer a fim de completar o excedente da recompensa ou do castigo. Para o budista estamos reféns do acaso, isto é, não há um comando divino.

O principal objetivo do Budismo é levar o homem a libertar-se desta vida, tornar-se um com o universo, e assim atingir o nirvana, o nada. Somente assim, disse Gautama, é que seremos livres das aflições desta vida. Há consolo numa filosofia religiosa que não crê que exista um Deus pessoal, que se interessa por nós e apregoa que viver é sofrer?

Para o budista todos os 84.000 ensinamentos de Buda visam unicamente isto: libertar do sofrimento. Buda ensinou a iluminação interior, não obstante, morreu a em busca de mais luz. Nunca afirmou: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.”[18]

 

   F. Hinduísmo[19]

Para o Hinduísmo, o seu ser supremo é indefinível, indiferente e impessoal. No Hinduísmo não há nenhum pecado contra um Deus santo. O mal pode ser superado pelo esforço humano. A única forma do hindu encontrar alívio para o sofrimento, é quando o indivíduo expande o seu ser e consciência a um nível infinito e percebe que o seu eu, é o mesmo que Brahman (o ser absoluto do qual toda a multiplicidade se origina).

O hindu mantém uma atitude semelhante à do budista, pois ele também, ao analisar o problema do sofrimento, estabelece uma prévia conceção de que o seu nascimento originou todos os sofrimentos e desigualdades. Os sofrimentos não provêm realmente do relacionamento rompido com Deus, nem de satanás, do meio ambiente degradado pelo homem, nem ainda dos nossos semelhantes, mas, diz ele, da nossa própria escolha, num nascimento prévio.

O hindu baseia o sofrimento em dois fatos: o renascimento, que explica as desigualdades e os sofrimentos desta vida, e o senso de separação do ser divino. No Hinduísmo, as pessoas sofredoras devem ser abandonadas ao estado de sofrimento, porque esse é o seu destino determinado pelo karma.

O Hinduísmo também apresenta uma possível explicação para o sofrimento e o mal no mundo. De acordo com o Hinduísmo, o sofrimento que qualquer um experimenta, seja enfermidade, fome ou um desastre, é devido às próprias ações maléficas que a pessoa realizou, normalmente em vidas passadas. A alma é a única coisa que importa, pois um dia será livre do ciclo da reencarnação e descansará.

Para os hinduístas e budistas está fora de qualquer questionamento a máxima: a vida sempre está ligada ao sofrimento. A própria condição passageira em si é sofrimento. O único alento para os que creem no Budismo e Hinduísmo quanto ao sofrimento, é que este pode ser visto como uma chance e como purificação de um karma infeliz.

 

   G. O Islamismo[20]

Maomé o fundador do Islamismo nasceu em 570 d.C. na cidade de Meca, na Arábia. O seu pai morreu antes do seu nascimento, e a sua mãe morreu quando ele tinha seis anos, sendo criado primeiramente pelo avô e depois pelo tio.

A palavra Islão é um substantivo formado a partir do verbo árabe que significa “submeter-se, resignar-se ou sujeitar-se”. Islão quer dizer submissão ou resignação, e a sua derivação traz a ideia de ação, e não a de uma simples imobilidade. O próprio ato da resignação obediente está no coração do Islão, mais do que uma aceitação e sujeição passivas à doutrina. Muçulmanos, outra forma substantivada do mesmo verbo, significa: “aquele que se submete”. O ensinamento de Maomé o fundador do Islamismo pode ser resumido em cinco doutrinas:

  • Alá é o único Deus
  • Alá enviou muitos profetas, inclusive Moisés e Jesus, porém Maomé, o último deles, é o maior
  • O Alcorão é o supremo livro religioso, tendo prioridade sobre a Lei, os Salmos e o Injil (Evangelhos) de Jesus
  • Existem muitos seres intermediários (anjos) entre Deus e nós, alguns deles sendo bons e outros maus
  • As obras de cada ser humano serão pesadas, a fim de se determinar quem irá para o céu ou para o inferno, na ressurreição

O Islamismo talvez seja a conceção religiosa mais simplória de ver o sofrimento. O muçulmano impressiona-se com a soberania de Deus. Tudo o que acontece é da Sua vontade. Ele predeterminou e predestinou tudo o que acontece. Tanto o bem como o mal que nos advêm são da Sua vontade. A atitude do fiel é submeter-se a ela.

Muitas crenças muçulmanas vêm da Bíblia, contudo, apesar da influência e semelhanças, as diferenças são notáveis. O Islamismo não crê num Deus pessoal e exclui completamente a Trindade, conforme esta é ensinada na Bíblia. No Islamismo, Deus está divorciado da Sua criação. A Sua transcendência impede-o de ser pessoal. No Islão, a pessoa e a obra de Cristo não têm significado nenhum em termos de fundamentos da fé, pois não acreditam que Cristo é o Filho de Deus, nem que ressuscitou dentre os mortos. No Islamismo o sofrimento não possui nenhum valor religioso.

Que acréscimo, uma religião que nega as principais balizas do cristianismo pode representar na hora da dor? A Trindade, a divindade de Cristo, a ressurreição, a natureza pecadora do homem, e a salvação pela Graça são negadas. É certo o que alguém já disse: “ o Islamismo foi criado por um profeta que morreu; o cristianismo, por um Salvador ressurreto”. A maior fonte de superação da dor vem daquele que o Islamismo nega, Jesus. O fiel ao Islamismo não pode ser consolado com essas palavras: “Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.”[21] Maomé falou que ele e as suas tribos eram os descendentes de Abraão através de Ismael, outro dos filhos de Abraão. Mas não declarou: “Antes que Abraão existisse eu sou.”[22]

H. O Judaísmo[23]

Não se pode considerar a Bíblia como revelação divina sem também reconhecer o lugar dado ao Judaísmo histórico. Enquanto o Cristianismo reconhece que a promessa de um salvador pessoal e espiritual é o ápice da revelação bíblica, o Judaísmo mesmo com as suas ramificações ortodoxas, conservadoras e reformadas tem-se confundido quanto ao seu conceito de messiado. Apesar de haver diferenças marcantes em muitas áreas da crença e da prática entre o Judaísmo e o Cristianismo, existe uma herança comum partilhada:

  • A crença num só Deus, nosso Pai;
  • É Deus que nos salva;
  • A ignorância sobre os Seus caminhos;
  • A humildade diante da Sua onipotência;
  • O conhecimento de que nós pertencemos a Ele, e Ele a nós;
  • O amor a reverência que lhe devemos;
  • A dúvida sobre a nossa fidelidade inconstante;
  • O paradoxo de que nós somos pó, mas ainda assim imagem de Deus;
  • A consciência de que Ele nos quer como companheiros na santificação do mundo;
  • A condenação do chauvinismo religioso arrogante;
  • A convicção de que o amor a Deus é inútil sem o amor ao próximo;

No que diz respeito ao sofrimento, o Judaísmo afirma que ele existe, não apenas por causa da submissão à vontade insondável de Deus, mas igualmente pela circunstância de que se acreditava que Deus era O causador soberano tanto do mal quando do bem. O sofrimento dos justos, e a felicidade dos ímpios tinham de ser percebidos como uma  tribulação para a fé judaica, porque ambos pareciam incompatíveis com a justiça de Deus.

Ainda, segundo Pannenberg, a conceção judaica sobre este assunto, defende que uma vez que Deus consideraria com graça o Seu povo, livrá-lo-ia de todas as suas tribulações, não permitiria chegar à tenda do justo nenhuma “enfermidade”, compensaria em dobro todas as suas perdas, e dar-lhe-ia abundância de dias e prosperidade. No entanto, com as constantes derrotas que culminaram com o cativeiro essa conceção teve que ser remetida para uma visão escatológica que se desenvolveu no judaísmo pós-exílio. Aqui estava outra conceção mais elevada, destruindo a crença superficial de que o justo prosperaria, teria vida longa e que seus olhos veriam somente as tribulações sobrevirem aos outros.

Diante do exposto, podemos perguntar: em qual conceção se encaixa melhor na convicção de que Deus se encontra presente e ativo em relação ao sofrimento no mundo? Temos sérias restrições quanto à complementaridade dessas conceções, visto que todas excluem a pessoa bendita de Jesus como resposta ao problema do sofrimento.

Quanto ao Cristianismo nas palavras de Gustaf Aulén, é bom que se diga que este não é uma religião que tem no bolso do colete, uma explicação imediata para tudo o que acontece. Pelo contrário, o Cristianismo recusa-se a propor uma cosmovisão racional ou, em outras palavras,  transformar a fé num sistema monista de pensamento capaz de resolver todos os enigmas.

O mesmo Gustaf ao explicar a relação da fé com o problema do mal, diz que “se o mal fosse invencível, a fé em Deus estaria morta”, pois segundo ele, “os olhos da fé veem não só o mal em toda a sua fidelidade, mas também, e acima de tudo, o Deus vitorioso”. É claro que essas cosmovisões acerca das causas do sofrimento sugeridas por variados segmentos religiosos, não satisfazem plenamente as indagações causadas pelas perdas e dores e diferentemente do que entende MacGrath pouco se complementam, antes, chocam-se.

 

III. A SOLUÇÃO PARA O SOFRIMENTO

   A. A eliminação do sofrimento

            Mesmo que nos pareça que este problema do sofrimento não tem solução, a verdade é que devemos ter em mente que Deus tem agido a nosso favor, a fim de livrar o mundo do sofrimento. O que nos deixa mais admirados é o facto d’Ele ter feito isso, passando Ele mesmo, pelo sofrimento.

Deus é o Pai que foi testemunha da tortura e da morte do Seu próprio Filho. O Deus, que ama o Seu Filho, permitiu que Ele sofresse, a fim de que nós pudéssemos ficar livres do sofrimento. Devido à paixão e morte de Cristo, aqueles que O têm aceitado como seu Salvador ficam livres do mais intenso sofrimento que se pode imaginar, ou seja, ficarem eternamente separados de Deus. É no próprio sofrimento de Deus que vemos o Seu grande amor.[24]

Deus tem um plano cujo alvo é a eliminação do sofrimento. Mas então porque é que não o faz? Se Deus erradicasse todo o mal que domina o nosso planeta, Ele também teria que erradicar todos os homens maus. E nesse caso, ninguém ficaria isento (cf. Rm 3: 23). Por isso, Deus prefere transformar os homens, em vez de os erradicar. Se Deus removesse todo o mal que existe no mundo, a essência (livre-arbítrio) da humanidade seria destruída, pelo que o homem tornar-se-ia um autómato sem sentimentos nem capacidade de amar. O amor está alicerçado sobre o direito que o individuo tem de escolher .[25]

Eliminar o mal e o sofrimento não é solução para o problema. Na verdade, é o amor de Deus pelo homem que O impede de remover o mal e o sofrimento que há no mundo, por meio de uma exibição do Seu poder. Por esta razão, o plano de Deus consiste na remoção do mal mediante a exibição do Seu amor, ou seja, o amor que Ele demonstrou no calvário. É no amor de Deus que encontramos a chave para a solução definitiva do problema do sofrimento.[26]

 

   B. Cristo, O supremo sofredor

Quando sofremos, olhamos para nós mesmos, para as nossas provações, para os nossos problemas? Vivemos sujeitos às circunstâncias externas, em vez de vivermos acima delas? Ou olhamos para Aquele que experimentou um sofrimento maior que aquele que somos capazes de conceber?[27]

Existem vários detalhes na vida de Jesus que revelam o Seu papel de Messias e de “Servo sofredor”. Por exemplo, a vida terrena de Cristo começou no meio de perseguições e perigos (matança dos inocentes decretada por Herodes). O Filho de Deus assumiu também um papel de profunda humilhação nascendo numa família pobre e adquirindo a nossa natureza humana, com todas as debilidades e fraquezas, bem como a capacidade de sofrer. Embora fosse o tão esperado Messias, Jesus foi desprezado e rejeitado pelo Seu próprio povo. A pessoa de Jesus esteve também constantemente exposta à violência, como no caso de Lc 4: 29. Jesus esteve também, constantemente debaixo de perseguição e conspiração por parte das autoridades político-religiosas judaicas, o que levou à Sua prisão, julgamento e condenação à morte por crucificação. Os sofrimentos de Jesus também incluíram ferozes tentações por parte do diabo (cf. Mt 4: 1).[28]

Jesus, O supremo sofredor, veio a este mundo com o objetivo de sofrer pelos nossos pecados. Como consequência dos Seus sofrimentos, a nossa redenção ficou assegurada. A única coisa que Ele requer de nós é a nossa fé, o nosso amor, o nosso louvor, os nossos corações e a consagração total das nossas vidas.[29]

Quando Cristo vem viver em nós, isso capacita-nos a viver acima das circunstâncias externas por mais dolorosas que elas sejam. Que possamos dizer como Paulo, lá em Rm 8: 35-37: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição. Ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas porem, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.”[30]

 

CONCLUSÃO

            Esta pesquisa permitiu-me chegar à conclusão que talvez o maior teste da fé para o cristão atual, seja o de crer que Deus é bom. Há muita coisa que considerada isoladamente sugere o contrário. É como um tecido vivo visto através duma lupa, o qual se apresenta nítido no meio e baço à volta. Embora não entendamos o que estamos a ver, sabemos que essa zona periférica é nítida pelo que vemos no meio. A vida é como um tecido vivo. Há muitas zonas que se apresentam enevoadas, muitos acontecimentos e circunstâncias que não compreendemos. Contudo, eles devem ser interpretados pela claridade que vemos no centro – a cruz de Cristo. Não precisamos de fazer suposições acerca da vontade de Deus a partir de dados isolados. Ele revelou claramente o Seu caracter e demonstrou-o de forma dramática na cruz (Rm 8: 32).

Deus não nos pede que entendamos tudo, mas que confiemos n´Ele da mesma maneira que pedimos a um filho nosso que confie no nosso amor.

Temos paz, quando reconhecemos conscientemente que por nós só conseguimos ver alguns fios do grande tapete da vida e da vontade de Deus, e não o quadro completo. Então podemos afirmar calma e alegremente, o que Paulo disse aos romanos em Rm 8: 25: “…que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus e daqueles que são chamados pelo seu decreto.”

Mais do que o sofrimento em si, é a nossa reação ao sofrimento, que determina se a experiência vai ser uma bênção ou uma maldição.

Quando, pela Graça de Deus, podemos ver toda a vida através da lente da fé no amor de Deus, podemos afirmar como Habacuque em Hc 3: 17, 18: “Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide, o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento, as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia eu me alegrarei no Senhor, e exultarei no Deus da minha salvação.”

 

BIBLIOGRAFIA

LITTLE, Paul. Explicando e expondo a fé. 1ª ed. Editora Núcleo, 1985

GEISLER, Norman & Peter Bocchino. Fundamentos inabaláveis. Editora Vida, 2003

GRIFFIN, William & Ruth Graham Dienert. O cristão fiel. 1ª ed. Editora proclamação, 1996

 

WEBGRAFIA

http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/sofrimento

http://tede.est.edu.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=228


[1] LITTLE, Paul. Explicando e expondo a fé. 1ª ed. Editora Núcleo, 1985, p. 135

[2] Ibidem, pp. 135, 136

[4] LITTLE, Paul. Explicando e expondo a fé. 1ª ed. Editora Núcleo, 1985, p. 136

[5] Idem

[6] Ibidem, p. 138

[7] Ibidem, pp. 140, 141

[8] Idem

[9] LITTLE, Paul. Explicando e expondo a fé. 1ª ed. Editora Núcleo, 1985, p. 141

[10] GEISLER, Norman & Peter Bocchino. Fundamentos inabaláveis. Editora Vida, 2003, pp. 256-258

[11] Ibidem, p. 256

[12] GEISLER, Norman & Peter Bocchino. Fundamentos inabaláveis. Editora Vida, 2003, p. 258

[18] Jo 8: 12

[21] Jo 16: 33

[22] Jo 8: 58

[24] GRIFFIN, William & Ruth Graham Dienert. O cristão fiel. 1ª ed. Editora proclamação, 1996, pp. 230, 231

[25]  Ibidem, pp. 230-232

[26] GRIFFIN, William & Ruth Graham Dienert. O cristão fiel. 1ª ed. Editora proclamação, 1996, pp. 230-232

[27] Ibidem, pp. 233, 234

[28] Ibidem, p. 234

[29] Idem

[30] GRIFFIN, William & Ruth Graham Dienert. O cristão fiel. 1ª ed. Editora proclamação, 1996, pp. 234, 235

Evidências da Divindade de Cristo

EVIDÊNCIAS DA DIVINDADE DE CRISTO

Daniel Camargo Moreira

INTRODUÇÃO

JesusNo âmbito da cadeira de Apologética, do 3º ano do curso de Teologia e Bíblia em regime presencial do Monte Esperança – Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, foi proposto aos alunos um trabalho cujo tema estivesse relacionado com os conteúdos da disciplina.

“As Evidencias da Divindade de Cristo” foi o tema escolhido para a monografia.

O desafio será apresentar como Deus veio na pessoa de Jesus entrar fisicamente no nosso mundo. Um Deus infinito veio viver num mundo finito. Aquele que sabia exactamente como as coisas deveriam ser, veio a um lugar em que as coisas obviamente não eram assim. Em Jesus Cristo foi, e para sempre será, totalmente Deus e totalmente homem em uma pessoa. E essa pessoa mudou o curso da história para sempre.

Jesus Cristo não foi apenas um grande professor e um bom homem. Ele era (e é) Deus encarnado em carne humana. A Palavra viva de Deus. Como um abordagem deste facto tremendo, devemos examinar brevemente Suas reivindicações únicas, de nascimento original, a vida única e exclusividade da sua morte, e a maior evidência da sua divindade que é a ressurreição. Vamos examiná-la sob várias categorias.

Serão usadas como pano de fundo para o trabalho, citações Bíblicas, para além de outros livros de literatura de referência.

“…porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Colossensses 2.9)

 

       I.            DEFINIÇÃO DE DIVINDADE

Divindade é, geralmente, uma referência a um ser que está no estado de ser Deus. Ao dizer que um ser é “divino”, está-se dizendo que este ser possui a natureza de Deus, ou está no estado de ser Deus. Na Bíblia, Theos, Deus, refere-se “ao ser supremo sobrenatural como criador e mantenedor do universo: Deus”.[1] A Bíblia se refere a Deus como aquele que “fez o mundo e tudo o que nele existe” (Actos 17:24). Palavras derivadas de theos, como theotes, se referem à “natureza ou estado de ser Deus”.[2] Ezequias Soares acrescenta que a dife­rença é que a palavra usada em Romanos 1.20 tem o sentido de atributo de Deus, sua natureza e propriedades divinas. E em Colossenses 2.9, a pala­vra indica a essência divina da Deidade, a personalidade de Deus, pois afirma com referência a Jesus “nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. O apóstolo diz que se trata de “toda a plenitude da divindade”, e não alguns lampejos, ou um raio de luz, ou mesmo uma iluminação acima de outros homens. A divindade de Jesus é plena e absoluta.[3]

   II.            AS REIVINDICAÇÕES DE CRISTO

Para todas as aparências humanas, o Senhor Jesus Cristo era apenas um pregador itinerante bastante obscuro, sem educação formal, ministrou apenas 3 anos e meio na pequena província Romana da Palestina, com um grupo heterogéneo de discípulos, e, finalmente, executado como um criminoso.[4]

Ele ainda fez declarações surpreendentes sobre si mesmo, reivindicações que, se não é verdade, teria marcado o rapidamente como sendo um louco ou um charlatão. Sua reivindicação de ser o Filho de Deus, de facto, levou à sua prisão e execução.

Surpreendentemente, no entanto, essas mesmas reivindicações provaram-se por mais de 2.000 anos para ser incrivelmente profecias cumpridas. Consideramos algumas destas implicações:

A.     Jesus afirmou ser o “Eu Sou”

O Evangelho de João tem várias feições especiais que fortalecem a apresentação do seu tema principal. As reivindicações de Jesus de sua deidade são realçadas por sete princípios “Eu Sou” no Evangelho de João. Jesus disse: “Eu Sou o pão da vida” (Jo 6.35, 41, 48 e 51), “Eu Sou A Luz do Mundo” (Jo 8.12, 9.5), “Eu Sou a Porta” (Jo 10.7,9), “Eu Sou o Bom Pastor” (Jo 10.11,14), “Eu Sou a Ressurreição e a Vida” (Jo 11.25), “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14.6), “Eu Sou a Videira Verdadeira” (Jo 15.1-5).

B.     Jesus afirmou a sua Pré-Existencia

“Antes de Abraão nascer, eu sou!” (Jo 8.58)

Talvez seja a reivindicação mais forte que Jesus tenha feito de ser Javé. Essa afirmação reivindica não só existência antes de Abraão, mas igualdade com o “Eu Sou” de Êxodo 3.14. Os judeus à sua volta entenderam claramente seu significado e pegaram pedras para matá-lo por blasfémia (v. Jo 8.58; 10.31-33). A mesma afirmação é feita em Marcos 14.62 e João 18.5,6.[5] Adrian Rogers sublinha:

O grande EU SOU: na sarça-ardente, quando Moisés perguntou a Deus qual era o seu nome, a fim de instruir o povo de Israel, Deus respondeu: “EU SOU QUEM SOU. E disse ainda: Você dirá o seguinte: EU SOU enviou-me a vocês.” (Êxodo 3:13,14). Este é o significado de Jeová, o nome santo de Deus, traduzido do hebraico. No passado, Deus era EU SOU. Hoje, ele é EU SOU. Amanhã, será EU SOU. Jesus estava dizendo aos discípulos: “O Deus Eterno, EU SOU, está com vocês. Não tenham medo.” “EU SOU” é uma declaração de poder, uma confirmação de presença, um anúncio de fartura. Jesus é o EU SOU no meio de sua tempestade. [6]

C.     Jesus afirmou que as Suas Palavras são Eternas

“Minhas palavras não passarão” (Mt 24:35).

Embora Cristo nunca ter escrito um livro ou mesmo um sermão, Seus ensinamentos e suas palavras são os mais lidos em toda a literatura do mundo, universalmente reconhecido como a maior, e mais memoráveis, palavras mais edificantes já faladas. Ele é universalmente reconhecido como o maior Mestre que já viveu.[7]

D.    Jesus afirmou atrair todos a Ele

“Se eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim” (Jo 12:32)

Sua morte como um criminoso condenado, levantou-se e empalado numa cruz, era horrível e brutal, mas a história deste facto, atraiu homens de todas as nações e idade à acreditar em Jesus como seu Salvador e Senhor expiatório. Sua cruz tem sido uma inspiração para todas as classes e tipos de homens, mulheres e crianças.[8]

E.      Jesus afirmou que a  Igreja é d’Ele

“As portas do inferno não prevalecerão contra (minha igreja) “ (Mt 16:18).

A “igreja” fundada por Cristo, as diversas congregações de todos os que crêem nEle como o Filho de Deus e Salvador redentor, tem sofrido intensa perseguição através dos tempos, e ainda continua a fazer conversões em todas as terras e em todos os tempos, mesmo apesar da apostasia eclesiástica entre os seus membros.[9]

F.      Jesus afirmou Sua Unidade e Harmonia com o Pai

“Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30-38)

Jesus afirma que Ele e o Pai são um, ou seja nele há unidade e harmonia com o Pai. Vemos que Deus Pai, Deus Filho e o Espírito Santo possuem personalidades próprias, tendo unidade de natureza, Grudem afirma que essa unidade é exactamente a pedra fundamental da doutrina da Trindade.[10] O Deus triúno possui uma só essência, mas três pessoas distintas. Contudo McDowell salienta que a submissão de Jesus não nega a sua igualdade com o Pai e o Espírito santo. O Filho de Deus deve ter a mesma natureza que seu Pai.[11]

G.    Jesus afirmou Possuir a Mesma Glória que o Pai

“Glorifica-me tu, ó Pai … com aquela glória que eu tinha contigo…” (Jo 17.5)

Jesus reivindica glória, além de declarar que já existia e que esta existência se dava junto ao Pai vemos isto em João 1.1. Isso implica em que, 1) Jesus é Deus, pois possui a mesma glória que o Pai; 2) Implica novamente na exposição da Trindade; 3) Demonstra um atributo divino na pessoa de Jesus: a eternidade. Portanto, ao contrário do que os críticos têm defendido, Jesus afirmou de maneira clara que é Deus. Isso demonstra que os críticos carecem de boa interpretação das claras e objectivas declarações de Jesus. Segundo Mcdowell e Stewart:

“Buda não reivindicou ser Deus; Moisés nunca disse ser Jeová; Maomé não se identificou como Alá; e em nenhum lugar encontramos Zoroastro reivindicando ser Ahura Mazda. Mas Jesus, o carpinteiro de Nazaré, disse que quem visse a Ele (Jesus) via o Pai (João 14.9) ”. [12]

H.    Jesus afirmou Seu Poder de erdoar pecados

“… Perdoados estão os teus pecados” (Mc 2.5-12)

Jesus perdoou os pecados daquele homem. Quem mais pode perdoar pecados senão Deus? Esta pergunta que ecoa de forma surpreendente foi a mesma que os escribas fizeram a Jesus (v. 7). Sem dúvidas, esta é uma das grandes declarações de Cristo quanto à sua divindade. E Ele foi além, pois perdoou os pecados (v.5), exortou os escribas (v. 8-10) e curou o homem de sua enfermidade (v. 11), o que foi motivo de grande glorificação (v. 12).

Lee Strobel, em um de seus livros, entrevistou Donald A. Carson, doutor em NT, especialista em diversas áreas teológicas, incluindo o estudo do Jesus histórico. Para Carson, uma das grandes evidências da divindade de Cristo é o perdão de pecados:

“De todas as coisas que Ele fez, a que mais me surpreende é o perdão de pecados (…). Se você faz alguma coisa contra mim, tenho o direito de perdoá-lo. Todavia, se você faz algo contra mim e aí vem uma pessoa e diz ‘eu lhe perdoo’, que ousadia é essa? A única pessoa capaz de pronunciar genuinamente essas palavras é Jesus, porque o pecado, mesmo se cometidas contra outras pessoas, é, antes de tudo e principalmente, um desafio a Deus e às suas leis (…). Aparece então Jesus e diz aos pecadores: ‘os seus pecados estão perdoados’. Os judeus imediatamente viram nisso uma blasfémia. Eles reagiram dizendo: ‘quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?’”[13]

Norman Geisler e Peter Bochino descreve que:

“Todos nós podemos entender que um homem perdoe as ofensas que recebe. Pisam em meu pé e eu perdoo, roubam meu dinheiro e eu perdoo. Mas o que pensaríamos de alguém que, não tendo sido roubado nem pisado, anunciasse que nos perdoa por termos pisado nos pés dos outros e roubado o dinheiro dos outros? O mínimo que poderíamos fazer seria chamar de petulância obtusa a conduta de quem assim procedesse. Entretanto, foi isso que Jesus fez.”[14]

I.       Jesus afirmou Seu Poder de ressuscitar os mortos

“Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer. Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão [...] e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados.” (Jo 5. 21, 25, 29).

Os judeus do tempo de Jesus (com excepção da pequena seita dos saduceus) acreditavam na ressurreição e na vida depois da morte. Por esta razão Marta pôde dizer a Jesus de seu falecido irmão Lázaro: “Eu sei… que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia” (João 11.24). Como todos os judeus, ela tinha aprendido esta doutrina desde a infância. Mas os judeus acreditavam que somente Deus podia ressuscitar os mortos. Nesta passagem, Jesus alega que Ele é quem ressuscita os mortos.[15]

III.            AS AFIRMAÇÕES DOS DISCÍPULOS

Os registos que os discípulos fizeram sobre as palavras, as obras e quem Cristo era, deixam muito claro que o Senhor é verdadeiramente o Deus Salvador. O contexto religioso em que os discípulos viviam poderia ser uma barreira aos mesmos, afinal, aceitar as palavras de um homem que afirmou ser Deus, na cultura e concepção de quem Deus é para os judeus, seria impossível, se Jesus realmente não fosse quem Ele disse ser.

Segundo Little, Jesus Fez da sua identidade o ponto fulcral do seu ensino. A grande e importante questão que punha aos que o seguiam era: “Vós, quem dizeis que eu sou?” Quando Pedro respondeu e disse, “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mt. 16.15,16), Ele não se mostrou chocado, não repreendeu Pedro. Pelo contrário, elogiou-o![16]  Em todo NT, podemos verificar as afirmações que os discípulos fizeram sobre Cristo:

  • João Batista – Eis o Cordeiro de Deus”! (Jo 1:29);
  • Natanael -“Tu és Rei de Israel!” (Jo 1:49).
  • João -“Ele é o Verbo de Deus!” (Ap 19:13); Primeiro e último: Ap 1.17; 2.8; 22.13, A verdadeira luz: Jo 1.19, Salvador do mundo: Jo 4.42, Esposo (Ap 21.2), Redentor (Ap 5.9)
  • Pedro - Rocha ou pedra (1 Pe 2.6-8), “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mt. 16.15,16), Supremo pastor (1 Pe 5.4), Perdoador de pecados (At 5.31)
  • Paulo – Rocha ou pedra (1 Co 10.4), Esposo: Ef 5.28-33, Redentor (Tt 2.13), Juiz dos vivos e mortos (2 Tm 4.1), Perdoador de pecados (Cl 3.13)
  • Os discípulos de Emaús“Jesus, o Nazareno – poderoso profeta em palavras e obras!” (Lc 24:19).
  • O escritor de Hebreus – Grande pastor (Hb 13.20)

Os discípulos chamaram Jesus de Deus: Tomé, ao ver as marcas de Jesus (Jo 20.28), Paulo afirma com toda veemencia “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divinda­de” (Cl 2.9), tambem afirma como grande Deus e Salvador (Tt 2.13), Cristo como Deus, antes da encarnação (Fp 2.5-8) e o autor de Hebreus (Hb 1.3,8), João, em sua afirmação quanto ao Verbo (Jo 1.1), Felipe, pregando ao Eunuco (At 8.35-38), Estevão, na sua grande defesa (At 7), Pedro e João nas epístolas (1 e 2 Pd; 1, 2 e 3 Jo), e Judas (Jd 4).

A declaração de Tomé quanto a quem é Jesus “Senhor meu, e Deus meu”! Demonstra com muita evidência que Jesus disse ser Deus e os Seus discípulos o confessaram, Ele foi prometido no AT, realizou actos divinos, possui títulos divinos e foi adorado como Deus. Segundo Norman Geisler:

“Todas essas pessoas adoraram a Jesus sem uma palavra de repreensão por parte Dele. Jesus não apenas aceitou essa adoração, como até mesmo elogiou aqueles que reconheceram sua divindade (Jo 20.29; Mt 16.17). Isso só poderia ser feito por uma pessoa que considerava seriamente ser Deus.”[17]

McDowell nos diz que:

“A maioria dos seguidores de Jesus eram judeus de profundas convicções religiosas, que acreditavam em apenas um Deus verdadeiro. Eram monoteístas até o fundo da alma, e, no entanto, reconheceram-no como o Deus encarnado. Devido à sua profunda formação rabínica, Paulo ainda teria menos probabilidade de atribuir divindade a Jesus, adorar um homem de Nazaré e chamá-lo Senhor. Mas foi exactamente o que ele fez. Reconheceu o cordeiro de Deus (Jesus) como sendo Deus.”[18]

Paul Little sublinha:

“Entre aqueles que reconhecem uma divindade faz uma grande diferença se o divino é representado meramente pelo conceito de Deus – o objecto da especulação filosófica – ou pelo Deus vivo ao qual os homens adoram em todos os actos de piedade que integram os rituais da religião.”[19]

Alister MacGrath em seu livro da teologia cristã escreve que Arthur Michael Ramsey, destacado escritor teológico inglês, defendeu a mesma teologia de Barth:

“A importância da confissão de que Jesus é o Senhor não está apenas no facto de que Jesus seja divino, mas também de que Deus seja semelhante a Cristo.”[20]

 IV.            OS ATRIBUTOS DA DIVINDADE EM CRISTO

A.     Jesus é Omnipotente

A Bíblia descreve Jesus como omnipotente: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18). Ele já tinha esse poder antes de vir ao mundo, basta uma lida em Filipenses 2.6-11 para se confirmar essa verdade. Veja ainda Apocalipse 1.8; 3.7. Isso também se diz do Espírito Santo: “não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos” (Zc 4.6), e ainda: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há-de nascer, será chamado Filho de Deus”.[21]

B.     Jesus é Omnisciente

A omnisciência é outro atributo que só Deus possui e, no entanto, Jesus revelou esta omnisciência durante o seu ministério. Em João 1.47,48, por exemplo, quando disse que viu Natanael debaixo da figueira. Sabia que no mar havia um peixe com uma moeda e que Pedro ao lançar o anzol o pescaria e com o dinheiro pagaria o imposto, tanto por ele como por Cristo (Mt 17.27). Em João 2.24,25 está escrito que não havia necessidade de ninguém falar algo sobre o que há no interior do homem, porque Jesus já sabe de tudo. A Bíblia diz que só Deus conhece o coração dos homens (1 Rs 8.39), então Jesus é não só omnisciente, mas também é Deus. Ele sabia que a mulher samaritana já havia possuído cinco maridos e que o actual não era o seu marido (João 4.17,18). Encontramos em João 16.30; 21.17, que Jesus sabe tudo, e Colossensses 2.2,3 nos diz que em Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência”. Não há nada no universo que Jesus não saiba, tudo porque Ele é omnisciente e é Deus.[22]

C.     Jesus é Omnipresente

O Filho também É omnipresente. Jesus é ilimitado pelo tempo e pelo espaço. Ele disse: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18.20), e mais: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mt 28.20). Essas duas passagens mostram que Jesus está presente em qualquer parte do globo terrestre porque ele é omnipresente. A Bíblia diz que o Espírito Santo está em toda a parte: “Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face?” (Sl 139.7).

D.    Jesus é Eterno

As Escrituras Sagradas ensinam que o Filho é eterno. A pré-existência de Cristo é eterna: “…e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5.2). Isto revela que o Filho já existia antes dos tempos dos séculos, antes de todas as coisas. O profeta Isaías anuncia o aparecimento do Messias dando-lhe cinco nomes a saber: “…e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6).[23]

E.      Jesus é Santo

O atributo da santidade está também presente em Jesus, e da mesma forma o atributo da justiça. Jesus é santo e justo: “Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homem homicida” (At 3.14); “Ministrando o evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espirito Santo” (Rm 15.16).[24]

    V.            O TRILEMA DA IDENTIDADE DE JESUS CRISTO

Quando Jesus foi levado a julgamento perante o Sinédrio, o sumo-sacerdote judeu perguntou: “Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?” Para essa pergunta Cristo respondeu simplesmente: “Eu sou” (Marcos 14:62). Tendo em vista a natureza exaltada de tal afirmação, e os seus resultados finais definitivos, não são apenas três pontos de vista possíveis pode-se entreter em referência à afirmação de Cristo de ser divindade: (1) Ele era um mentiroso e vigarista, (2) Ele era um louco, ou (3) Ele era exactamente quem ele disse que era.

Em seu livro, Evidência que Exige um Veredicto, José McDowell intitulou um capítulo: “o Trilema – Senhor, Mentiroso ou Lunático” Seu objectivo era destacar que, considerando a natureza grandiosa das reivindicações de Cristo, Ele era um mentiroso, um lunático, ou o Senhor. McDowell apresenta neste capítulo sobre a divindade de Cristo com uma citação do apologista britânico famoso da Universidade de Cambridge, CS Lewis, que escreveu:

Estou tentando aqui para impedir que alguém diga a grande tolice que muitas vezes as pessoas dizem sobre ele: “Estou pronto a aceitar Jesus como um grande mestre moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus.” Essa é a uma coisa que não devemos dizer. Um homem que era somente um homem e dissesse o tipo de coisas que Jesus disse não seria um grande professor de moral. Ele seria ou um lunático, no mesmo nível que o homem que diz que é um ovo cozido ou então ele seria o Diabo do Inferno. Você deve fazer a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou é um louco ou algo pior. Você pode calá-lo por um tolo, pode cuspir nele e matá-lo como um demónio, ou você pode cair a seus pés e chamá-lo Senhor e Deus. Mas não vamos vir com algum disparate sobre ele ser um grande mestre humano. Ele não deixou que se abrem para nós. Ele não tinha a intenção de.[25]

 VI.            O NASCIMENTO DE CRISTO

O nascimento de Jesus Cristo foi absolutamente único entre todos os nascimentos da história humana. O nascimento em si foi um nascimento humano normal, mas sua concepção foi por uma obra miraculosa do Espírito Santo, sem pai humano, como uma criação especial de Deus no ventre de uma virgem pura.[26] Como o corpo do primeiro Adão, vemos que “o último Adão…o Senhor do céu” (1 Co 15.45,47) foi directamente formado por Deus e plantado como uma única “Semente” divina no ventre de Maria, livre de uma inerente natureza pecaminosa e de quaisquer defeitos transmissíveis mutacionais”, “como de um cordeiro sem defeito e sem mácula” (1 Pe 1.19).Seu nascimento foi exclusivamente o foco de muitas profecias antigas, todas cumpridas Nele.[27]

  • Semente da mulher (Gn 3,15; Ap 12,1-17).
  • Coisa nova sobre a terra (Jr 31,22; Gl 4,4).
  • O corpo divinamente preparado (Sl 22,9; Ele 10,5).
  • Nascido de uma virgem (Is 7.14; Mt 1,22-23).
  • Reconciliação da linhagem de Davi (Jr 22,28-30; 23,5-6; 33,15-17).
  • Linhagem de Jeconias (Salomão) (legal) por intermédio de Joseph (Mt 1.6, 12-13).
  • Linhagem de Natã (biológico) por meio de Maria Lc 3. 3.23, 31).

Além das profecias, evidências de seu cumprimento no nascimento virginal são os registos históricos directos de Mateus e Lucas (Mt 1,20-25; Lc 1,30-35). Está implícito em outros livros (Mc 1,1; Jo 1,1-15; Gl 4,4).

VII.            A VIDA MILAGROSA DE CRISTO

A vida e os ensinamentos de Jesus Cristo têm influenciado o mundo mais do que os de qualquer outro homem que já viveu. Eles são inexplicáveis ​​se Ele era apenas um homem como os outros homens. Embora verdadeiramente humano, Deus tornou-se homem, ele também era Deus, o homem-Deus. Tim La Haye diz que:

“As opiniões populares sobre Jesus podem ser reduzidas a apenas duas: ou Ele foi Deus em forma humana ou foi simplesmente um homem bom. Uma delas não pode ser verdadeira. É impossível vê-lo como um homem bom, se Ele não for o Filho de Deus, pois foi isso precisamente que Ele alegou ser. Se Ele não era Deus, mas alegou ser, então não pode ser bom; Ele seria ou louco ou um grande mentiroso.” [28]

A.     Os Milagres de Cristo

Seu poder sobrenatural foi demonstrado frequentemente em milagres que só o Criador poderia fazer (por exemplo, transformar água em vinho, ressuscitar os mortos). Eles nunca foram milagres carnais ou caprichos (note Mt 12,39 e Lc 23,8-9, por exemplo), mas sempre foram utilizados para atender alguma necessidade imediata e específica do ser humano (Mt 4,24).

Seus milagres também foram usados ​​para autenticar suas reivindicações e para gerar fé (note Jo 2.11,23). No final de escrever o Evangelho, o apóstolo João seleccionou sete milagres que Cristo tinha realizado (por exemplo, alimentando uma multidão com apenas alguns pães e peixes), a fim de provar a seus leitores que “Jesus era o Cristo, o Filho de Deus” (Jo 20,31).Morris descreve que:

“Houve outros milagreiros ao longo da história, mas nenhum como Jesus Cristo.”[29]

Little atesta ainda que:

“Cristo demonstrou um poder sobre as forças naturais que só podia pertencer a Deus, o Autor dessas forças.”[30]

B.     Os Ensinamentos de Cristo

Da mesma forma, o mundo já conheceu muitos grandes mestres, mas nenhum cujos ensinamentos tiveram o impacto eterno que os de Cristo tiveram. Eles sempre foram dados com autoridade, sem qualquer dúvida ou reserva (Mt 7.28-29; Lc 4,32), mas são sempre gracioso na expressão (Lc 4,22; Jo 7,46), excepto quando a hipocrisia era tão flagrante a exigir a condenação judicial. William Craig nos diz que:

“Evidentemente, Jesus de nazaré não andou pela Palestina se apresentando como Deus. Os Evangelhos não o retractam de tal forma, nem é isso consistente com a doutrina cristã da encarnação, que declara que Jesus como Homem tinha uma consciência humana extraordinária, mesmo que ela era informada sobrenaturalmente. Em vez disso, a Auto-compreensão divina de Jesus se torna evidente explicitamente por meio do seu ensino e comportamento.”[31]

Seu equipamento aparente para o ensino era mínimo (ensino, pesquisa, viagens), mas suas palavras eram exactamente sempre apropriadas para a ocasião. Ninguém pode pensar como poderia ter sido melhor, e Ele nunca teve que se retractar ou se desculpar por nada do que Ele disse. Segudo Ajith Fernando:

“O que Jesus diz: deve ser levado a sério, pois quando ele fala, Deus fala. Suas palavras autenticam as suas reivindicações à divindade. O valor autenticador das palavras de Jesus acha-se em duas áreas. Primeiro: sua relevância e introspecção penetrante sugerem que quem está falando, não é uma pessoa comum, e que nela se acha a resposta de Deus aos problemas da vida. Existe atracção espantosa nos seus ensinos. Segundo: suas reivindicações a respeito de si mesmo nos deixam com a conclusão inescapável de que ele se considerava igual a Deus.[32]

Morris afirma que:

“A maioria dos homens, mesmo aqueles que rejeitam a Sua divindade, reconhece-o como o maior Mestre de todos os tempos.” [33]

VIII.            A IMPECABILIDADE DE CRISTO

Todos os homens – mesmo os grandes e os chamados homens santos – são pecadores (Rm 3.23), em algum grau, e admitem isso a menos que sejam loucos, para não o fazer. Mas o Senhor Jesus, único entre todos os homens que já viveu, nunca pecou, ​​seja por acção ou omissão, sempre fez exactamente o que era certo.

Isso foi reconhecido até mesmo por seus inimigos, os que traíram e O crucificaram (Mt 27.4; Lc 23.4). Geisler descreve que:

“Alguns dos inimigos de Cristo trouxeram falsas acusações contra ele, mas o veredicto de Pilatos foi o veredicto da história: “Não encontro motivo para acusar este homem” (Lc 23.4). Um soldado no Calvário concordou, dizendo: “Certamente este homem era justo” (Lc 23.47), e o ladrão na cruz ao lado de Jesus disse: “Mas este homem não cometeu nenhum mal” (Lc 23.41). Mas o verdadeiro teste e o que as pessoas mais próximas de Jesus disseram sobre seu carácter.”[34]

Seus amigos mais próximos, aqueles que o conheceram intimamente e observaram de perto suas acções, também reconheceram sua impecabilidade (At 10,38; 1 Pd 2.22; 1 Jo 2.2; 3.5). Geisler diz ainda que:

“Seus discípulos viveram e trabalharam bem próximos dele durante três anos, mas suas opiniões sobre ele não se tornaram negativas. Pedro chamou-o “cordeiro sem mancha e sem defeito” (l Pe 1.19) e acrescentou: “e nenhum engano foi encontrado em sua boca” (2.22). João chamou-o de “Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2.1; cf. 3.7). Paulo expressou a crença unanime da igreja primitiva de que Cristo “não tinha pecado” (2C0 5.21), e o autor de Hebreus diz que foi tentado como um homem, “porem sem pecado” (4.15).”[35]

Além disso, o próprio Cristo afirmou ser sem pecado (Lc 5,20-21, Jo 8,29, 46). Isso não era orgulho piedoso, mas simplesmente uma expressão da realidade. Ele exemplificou a pureza da vida (cf. Ef 5,1-4), o controlo perfeito de Suas palavras (Col 4,6), e o fruto do Espírito (Gálatas 5,22-23). Grudem sublinha que:

“Embora o NT afirme com clareza que Jesus era plenamente homem exactamente como nós somos, também afirma que ele era diferente em um aspecto importante: Jesus era sem pecado, e nunca pecou durante toda a sua vida.”[36]

Little nos diz que é também impressionante ver que João, Paulo e Pedro, todos ensinados desde a mais tenra infância a crerem na universalidade do pecado falaram sobre a inculpabilidade de Cristo: “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1 Pd. 2.22); “Nele não há pecado” (1 Jo 3.5); Jesus “não conheceu pecado” (2 Co 5.21).[37]

A união única do “Deus pleno” e homem perfeito em Jesus Cristo foi chamado por teólogos hipostática (união “substantiva”, o mistério é difícil de entender, excepto pela fé, mas os Seus milagres, os Seus ensinamentos, Sua vida, Sua morte, e Sua ressurreição são impossíveis de explicar de outra maneira.[38]

 IX.            A NOTÁVEL MORTE DE CRISTO

Todos os homens morrem, mas ninguém pode simplesmente volitivamente morrer e “entregar o espírito” (uma frase usada por todos os escritores dos quatro Evangelhos), como Jesus fez, quando todas as profecias bíblicas referentes Sua morte tinham sido finalmente cumprido (Jo 19,28-30), Sua cruz e sua morte foram intensamente cruel e hediondo, ainda que tenha sido incrivelmente magnético, atraindo homens e mulheres de todos os tempos, lugares e tipos para si mesmo, assim como Ele havia profetizado (Jo 12,32-33; Gl 6,14).[39]

O facto de Seu sepultamento também ter sido necessária uma forte autenticação, a fim de documentar que a sua morte foi uma morte física e Sua ressurreição fora uma ressurreição corporal. Preparações foram feitas de antemão por José de Arimateia e Nicodemos, com um sepulcro novo e jardim arranjado perto do local da crucificação, e com todas as roupas do enterro necessárias em mãos, para que Ele pudesse ser enterrado por mãos amorosas, logo que ele estava morto. Depois disso, as autoridades só controlava o acesso ao seu túmulo, enquanto Seu corpo estava lá. Consequentemente, ambos os Seus amigos e seus inimigos sabiam que Ele tinha de facto morrido e fora sepultado, para que pudessem mais tarde verificar sua ressurreição corporal.[40]

    X.            A RESSURREIÇÃO DE CRISTO

O nascimento, a morte e a ressurreição de Jesus foram os acontecimentos mais importantes da história da humanidade: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15.3,4). Tudo isso já estava previsto nas Escrituras pelos profetas. A morte de Jesus foi expiatória e seu sangue, Deus propôs para expiação de nossos pecados: “sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para a propiciação pela fé no seu sangue” (Rm 3.21,22). Isso significa que a morte de Jesus foi diferente, pois ele morreu em nosso lugar, pagando a nossa dívida para com Deus.[41] Little diz que:

“A suprema credencial de Jesus para autenticar a Sua pretensão à divindade foi o facto de ter ressuscitado dentre os mortos.”[42]

“Se a ressurreição aconteceu, não há dificuldade alguma com qualquer dos outros milagres.”[43]

Tim La Haye nos diz que:

Hoje, quase no vigésimo primeiro século da era cristã, nós temos uma decisão a tomar. A qual relato devemos dar crédito – ao das quinhentas testemunhas oculares que viveram naqueles dias, ou ao dos cépticos “eruditos” que viveram mil e setecentos anos depois dos acontecimentos? Se nossa decisão baseia-se na evidência e não meramente na aversão pelo sobrenatural, há somente uma escolha: Jesus de facto ressuscitou dentre os mortos[44].

Jesus mandou que na pregação do evangelho fosse anunciada a sua morte e ressurreição: “Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse e, ao terceiro dia, ressuscitasse dos mortos; e, em seu nome, se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24.46,47). Negar, pois, essa verdade é continuar no mesmo estado de pecado e miséria, e além disso, o Cristianismo não teria sentido: “E, se Cristo não ressuscitou é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos” (1 Co 15.17,18).[45]

Essa ressurreição é a vitória esmagadora sobre Satanás, o pecado, a morte e o inferno: “…fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1.18). Veja ainda 1 Coríntios 15.54-56. Ele ressuscitou para a nossa justificação, pois sem essa ressurreição não poderíamos ser justificados diante de Deus e assim estaríamos condenados: “o qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para a nossa justificação” (Rm 4.25). A ressurreição corporal de Jesus é um facto insofismável, foi o tema da pregação dos apóstolos e é a base da nossa salvação.[46]

 

CONCLUSÃO

Em conclusão vemos que Jesus não foi um mero líder revolucionário ou um simples fundador de uma nova religião. Ele não tinha nenhum treinamento formal rabínico (João 7:15). Ele possuía nenhuma riqueza material (Lucas 9:58, 2 Coríntios 8:9). No entanto, Jesus fez afirmações que só um Deus poderia dizer, seus discípulos afirmaram que Jesus era Deus. O nascimento de Jesus foi sem igual, seus milagres provaram a sua divindade. Por meio de seus ensinamentos, ele virou o mundo de cabeça para baixo (Actos 17:6). Claramente Jesus não cometeu pecado algum. Ele viveu e morreu, para redimir a humanidade caída. Ele deu a si mesmo em resgate (Mateus 20:28), como os documentos de prova, ele foi, e é, tanto o Filho do Homem e Filho de Deus. Ele é Deus, que antecede, e vai durar mais, o próprio tempo (Filipenses 2:5-11).

O resto do Novo Testamento retracta Jesus como divino. Ainda que a Bíblia ensine que Jesus era um ser humano, ela ensina que ele era muito mais do que isso. Ela atribui a ele a natureza essencial e carácter de divindade. Ela não ensina que ele deixou sua divindade quando veio à terra. Antes, ela ensina que Jesus tomou a natureza essencial de servidão; seu maior acto de serviço foi a dádiva de sua vida.

É isso que faz Jesus diferente, sua plena divindade. Nas demais religiões o que importa são os ensinos e não o mestre. No cristianismo o centro de tudo é a pessoa de Jesus Cristo.

A questão sobre a identidade de Jesus não terminará tão cedo. Questões recentes sobre Jesus têm renovado muito da discussão. Seja qual for a posição com que se termine, ela será aceite através de algum processo de “fé”. Isto é inevitável. A questão permanece, contudo, sobre qual “é” a mais razoável. Baseado em considerações bíblicas, históricas e outras, eu escolhi crer que Jesus foi, e ainda é, Deus. Ele nunca pode ser menos do que isso.

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

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STROBEL, Lee. Em   defesa de Cristo.Traduzido por Antivan Guimarães Mendes & Hans Udo   Fuchs. São Paulo: Vida, 2001.

 



[1] LOUW e NIDA. Greek-English Lexicon of the New Testament Based on Semantic Domains, p. 137

[2] Ibid, p. 140

[3] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, p. 91

[4] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2116

[5] GEISLER, Norman. Enciclopédia de apologética, p. 203

[6] ROGERS, Adrian. Creia em Milagres, mas Confie em Jesus, p. 124

[7] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2114

[8] Ibid, p. 2115

[9] Ibid, p. 2115

[10] GRUDEM, Wayne. Manual de Doutrinas Cristãs, pp. 109-110

[11] MCDOWELL e LARSON. JESUS: Uma defesa Bíblica da sua divindade, p. 64

[12] MCDOWELL e STEWART. Respostas àquelas perguntas, p.55

[13] STROBEL, Lee. Em defesa de Cristo, pp. 210-211

[14] GEISLER, Norman e BOCHINO, Peter. Fundamentos Inabaláveis, pp. 331,332

[15] LA HAYE, Tim. Um Homem Chamado Jesus, pp. 90-91

[16] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, p. 64

[17] GEISLER & TUREK. Não tenho fé suficiente para ser ateu, p. 354.

[18] MCDOWELL, Josh. Mais que um carpinteiro, p. 14.

[19] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, pp. 53,54

[20] MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica, p. 405

[21] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, pp. 73-77

[22] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, pp. 73-77

[23] Ibid, p. 73-77

[24] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, pp, 73-77

[25] MCDOWELL, Josh., Evidência que Exige um Veredicto, p. 131

[26] GRUDEM, Wayne. Manual de Doutrinas Cristã, p. 249

[27] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2116

[28] LA HAYE, Tim. Um Homem Chamado Jesus, p. 71

[29] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2116

[30] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, p. 68

[31] CRAIG, William Lane. Apologética contemporânea, p. 287

[32] FERNANDO, Ajith. A Supremacia de Cristo, p. 37

[33] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2116

[34] GEISLER, Norman. Enciclopédia de apologética, p. 208

[35] Ibid, p. 208

[36] GRUDEM, Wayne. Manual de Doutrinas Cristãs, p. 252

[37] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, pp. 67,68

[38] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible, p. 2116

[39] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible, p. 2116

[40] Ibid, p. 2116

[41] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, p. 92

[42] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, p. 69

[43] Ibid, p. 69

[44] LA HAYE, Tim. Um Homem Chamado Jesus, p. 295

[45]SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, pp. 92-93

[46] Ibid, pp. 92-93

Provas da Ressurreição de Cristo

PROVAS DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

David Pinto

 

Introdução

RessurreiçãoNo âmbito da cadeira de Apologética, do 3º ano do curso em regime presencial do Monte Esperança – Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, foi proposto, aos alunos, um trabalho individual sobre um dos temas da disciplina.

O tema escolhido para esta monografia é “A ressurreição de Cristo”.

O desafio será explicar o conceito da ressurreição de Cristo; se esta, efectivamente, aconteceu; e quais as provas verosímeis de tal acontecimento. Serão expostas as teorias contra a ressurreição de Cristo e quais as implicações de crer ou não crer neste facto.

Serão usadas, como pano de fundo, citações bíblicas, assim como referências bibliográficas de livros de referência sobre a matéria.

A ressurreição de Jesus é o clímax das boas novas da salvação. É uma doutrina basilar do cristianismo. Todas as outras estão-lhe inseparavelmente ligadas.

Não existe outra doutrina que seja tão atacada e negada como a da ressurreição. E isso acontece por algum motivo. Sem Cristo vivo, não há cristianismo verdadeiro. Se Cristo, ainda hoje, estivesse no túmulo, o plano da redenção apresentado pelos cristãos não faria qualquer sentido.

O cristianismo é o único pensamento que se pode vangloriar de anunciar um autor vivo. Nenhuma religião consegue afirmar o mesmo.

 

“…se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é inútil e a vossa fé é inútil…”

I Coríntios 15.14, in “A Bíblia para todos”

 

I. As teorias contra a ressurreição

Ao longo dos séculos, foram várias as teorias que surgiram, para tentar desacreditar o acto da ressurreição de Cristo. Das mais rocambolescas às mais sérias, todas falham em algum ponto de argumentação. Abordaremos as mais relevantes e usadas, no decorrer da história.

 

Teoria do roubo

A mais antiga tentativa de descartar a ressurreição de Cristo afirmava que o corpo de Jesus fora roubado. Aliás, a própria Bíblia aborda essa teoria. Os líderes judeus subornaram os guardas romanos, para dizer que o corpo de Jesus fora levado pelos discípulos, enquanto os soldados dormiam (Mateus 28.11-15).

Ainda hoje, algumas pessoas defendem esta teoria, dividindo-a em duas hipóteses: ou os discípulos levavram o corpo, ou foram os inimigos de Cristo a fazê-lo.

Em relação à teoria de que foram os discípulos, o interessante é que a hipótese é tão incorrecta que a preocupação do relator do facto, na Bíblia (Mateus), em refutá-la é nula. Como Paul Little afirma: “que juiz lhe daria ouvidos se você dissesse que, enquanto dormia, o seu vizinho entrou em sua casa e roubou o seu aparelho de televisão? Quem sabe o que acontece enquanto se está dormindo? Um testemunho como esse seria ridicularizado em qualquer tribunal.”[1] Se os soldados estivessem, realmente, a dormir, não saberiam quem levou o corpo.

A propósito do sono dos soldados, este apresenta-se como outro contra desta teoria. O castigo para o facto de um soldado dormir, no cumprimento do dever, era a morte. Dormiriam então todos? Além disso, mesmo estando todos a dormir, não acordariam com o barulho da pedra a rolar?

Mais, a teoria do roubo faz dos discípulos mentirosos e um pouco ingénuos. Sofreriam e morreriam estes homens, dedicariam uma vida inteira, por algo que sabiam ser mentira? Craig ironiza[2], no seu livro “Em Guarda”, um possível delinear de plano dos discípulos, de todas as formas, ridículo:

Ok, eis o plano: roubamos o corpo e escondemo-lo num canto qualquer. Depois, voltamos e contamos uma história que, provavelmente, fará com que sejamos mortos. Quem alinha?

O plano teria sido tão brilhantemente orquestrado que os discípulos até inventaram aparições. Mas, como se explicam essas aparições, testemunhadas pelos discípulos, se o corpo foi roubado? Little afirma que custa mais aceitar que os discípulos eram “refinados mentirosos ou loucos iludidos”, do que crer na ressurreição[3].

Candler coloca a questão noutros termos. Se Jesus ficou morto, que motivação teriam os discípulos para empreender a missão que levaram a cabo nos anos subsequentes e que foi o alicerce da Igreja que hoje conhecemos? O autor pergunta: “Se os discípulos guardaram o corpo de Jesus até se decompor, como todos os outros, de onde teria surgido a fé (…) o valor que os animava? Como se explicaria o seu zelo? (…) Qual teria sido a fonte de poder que lhes permitiu estabelecer igrejas em Jerusalém, Antioquia, Corinto, Galácia, Macedónia (…) e Roma? Será que uma fraude consciente conseguiria dar ânimo e vigor aos discípulos, a ponto de as suas aptidões naturais se converterem em poderes quase infinitos[4]?

Craig afirma que a teoria do roubo (por parte dos discípulos, inventando que Jesus ressuscitou) é implausível, porque é vista através do espelho retrovisor da história cristã, em vez de ser vista através dos olhos de um judeu do primeiro século. Um judeu não tinha qualquer expectativa de um Messias que fosse vergonhosamente executado pelos gentios como um criminoso. Além disso, a ideia da ressurreição não fazia parte das concepção do Messias, até porque não se supunha que o Messias morresse. Mais, era impossível um discípulo orquestrar a ideia de uma ressurreição, porque a noção de ressurreição era inaceitável na época. O autor explica que, nos dias de Jesus, ressurreição não significava vida após a morte, de uma forma desencarnada, ou imortalidade da alma, numa outra dimensão. Ressurreição era a reversão da morte, a restauração do corpo para uma forma de imortalidade. Um corpo diferente, é certo, mas nunca uma alma ou um espírito. Muitos pagãos acreditavam na vida desencarnada depois da morte, mas consideravam a ressurreição impossível. Alguns judeus (não todos) esperavam a ressurreição dos justos no último dia, mas nunca antes disso[5].

Concluindo, um judeu do primeiro século que visse o seu Messias morto, tinha uma de duas hipóteses: ou ia para casa, envergonhado, ou escolhia outro Messias[6].

Outra hipótese era os próprios inimigos de Jesus terem levado o corpo. Sobre isso, Josh McDowell cita E. F. Kevan e afirma: “os inimigos de Jesus não tinham motivo para remover o corpo. Os amigos não tinham poder para fazê-lo. Seria vantajoso para as autoridades que o corpo permanecesse onde estava. A ideia de que os discípulos roubaram o corpo é impossível. O poder que removeu o corpo do Salvador da sepultura deve, portanto, ter sido divino”.

 

Teoria do desmaio

Esta teoria é de construção recente. Começou a ser enunciada no séc. XVIII, afirmando que Cristo realmente não morreu na cruz. Pareceu morto, mas apenas tinha desmaiado, em consequência da exaustão, dor e perda de sangue. Reviveu quando foi deixado na sepultura fresca. Depois de sair da sepultura, apareceu aos discipulos que erroneamente o julgaram ressuscitado dos mortos. Segundo Max Anders[7], todos os registos antigos são enfáticos acerca da morte de Jesus. Nenhum dos ataques antigos ao cristianismo duvidava do facto de Jesus ter sucumbido na cruz. A Bíblia afirma, até, que Jesus morreu antes de ser retirado da cruz. Ainda assim, para certificar-se melhor, um dos algozes enfiou-lhe uma lança no lado, de onde escorreu sangue e água, sinal claro de morte[8].

Mesmo que este algoz se tivesse enganado e Jesus tivesse sido sepultado vivo, que probabilidade teria, com todos os ferimentos a que foi sujeito (chicoteado, rasgado, espancado, pregado, com perda de sangue abundante), de suportar 36 horas numa sepultura fria, sem comer, nem beber, sem cuidados médicos, com lençóis mortuários de quase trinta quilos em cima do corpo? Como teria Ele força para se libertar dos lençóis, rolar a pedra, desfeitear soldados romanos especializados e ainda caminhar vários quilómetros? Seria mais fácil ressuscitar! David Strauss, o céptico que criou a teoria da alucinação, afirmou que era impossível a uma pessoa nestas condições afirmar ser o Príncipe da Vida.

Craig cita Josefo para afirmar que uma experiência foi feita, entre os romanos, para ver quanto tempo sobreviveria um homem crucificado, se retirado da cruz, antes de morrer. A maioria das cobaias morreu mal chegou aos braços de quem os tirou da cruz. Os restantes morreriam pouco tempo depois, mesmo com os melhores cuidados médicos possíveis da época[9].

 

Teoria da alucinação

Enunciada pelo céptico austríaco David Strauss, afirma que os discípulos sentiram tanto a falta do seu mestre, que começaram a imaginar tê-lo visto e ouvido. Ou seja, os discípulos experimentaram alucinações, visões ou ilusões, algo subjectivo, fruto das suas mentes perturbadas pela morte de Cristo.

Aceitar esta teoria seria aceitar uma alucinação colectiva de pessoas com personalidades, background e estatutos muito diferentes. Cristo apareceu a mais de 500 pessoas[10], muitas delas viveram no tempo do apóstolo Paulo e confirmaram esse facto. Como é que 500 pessoas tiveram, exactamente, a mesma alucinação?

Medicamente, as alucinações acontecem a pessoas de imaginação fértil e com problemas de nervos. Além disso, ocorrem tipicamente em momentos e lugares particulares, associados aos factos imaginados. No entanto, Cristo apareceu em lugares que nada diziam aos discípulos: Emaús, uma montanha na Galiléia, etc.

Além disso, Craig afirma que era impossível os discípulos alucinarem sobre conceitos que não tinham, porque a ressurreição não fazia parte da concepção judaica, mas sim o arrebatamento em vida[11].

John Stott, citado por Anders[12], afirma que as alucinações fariam sentido se os discípulos tivessem esperança de ver Jesus, mas nem isso acontecia. A descrença invadiu os seus corações, mesmo depois de ver Jesus ressuscitado.

Apesar de leigos, os discípulos seriam inteligentes o suficiente para não alicerçar a sua vida em alucinações, fábulas (II Pedro 1.16), mitos (I Timóteo 1.4), ou seja, algo que não fosse real e palpável, com o seu apogeu em Tomé[13]. Sobre este argumento, Candler pergunta: “Quando é que uma alucinação chega a estimular a fé, a elevar a virtude e a conquistar o mundo”?[14]

Paul Little vai mais longe, ao afirmar, em relação à teoria da alucinação, que a sua aceitação implica “ignorar-se por completo as evidências”[15] da ressurreição, o testemunho dos discípulos e as suas implicações.

 

Teoria da troca de túmulo

Existe ainda a teoria da troca de túmulo. O corpo de Jesus teria sido, inicialmente, colocado no sepulcro de José de Arimatéia, mas o nobre teria mudado de ideias e trocado o corpo de Jesus para uma vala comum. Os discipulos, não avisados do facto, ao ver o sepulcro vazio, inferiram a ressurreição do Mestre.

Craig afirma que, se tal aconteceu, porque é que ninguém corrigiu os discípulos quando estes começaram a anunciar publicamente que Jesus tinha ressuscitado? Além disso, a lei judaica não permitia a troca de sepulturas, exumação ou violação de sepulturas[16]. Esta teoria está intimamente ligada à do “Complô da Páscoa”. Segundo esta teoria, Jesus aspirava ser o Messias e arquitectou um plano para o ser. O vinho misturado com vinagre teria uma droga que adormeceu Jesus que, em conluio, com José de Arimatéia, fugiria do sepulcro[17]. No entanto, a história correu mal por causa da lança e José de Arimatéia, de iniciativa própria, retirou o corpo do sepulcro para encenar a ressurreição, com a ajuda de um anónimo que fingiu ser Jesus ressurrecto.

O filósofo agnóstico australiano Peter Slezak, citado por Craig, contrapõe esta teoria, afirmando que, se Jesus era Deus, para um Deus capaz de criar todo o universo, a ressurreição era uma coisa fácil. Não havia necessidade de orquestar um plano destes.

Para além destas teorias principais, existem ainda as teorias do túmulo errado (Jesus foi sepultado, por engano, noutro lugar ou os discípulos confundiram o túmulo); a teoria da lenda (a história da ressurreição é uma lenda, inventada anos mais tarde); e a da ressurreição espiritual (o corpo de Jesus decompôs e Ele apenas ressuscitou espiritualmente).

 

II. As evidências da ressurreição

William Lane Craig apresenta três evidências introdutórias para a ressurreição: o sepulcro vazio, as aparições (corpóreas e físicas) de Jesus e a convicção dos discípulos. Além disso, afirma que, ao contrário do que seria de esperar, esta não é uma posição conservadora ou evangélica, mas é um facto assumido pela maioria dos críticos neo-testamentários, que aceitam estas três provas, com naturalidade.[18] Estas três evidências interligam-se com os testemunhos da ressurreição, a saber, testemunho histórico, escrito e pessoal.

 

Testemunho histórico

Para começar, se o relato do sepultamento é preciso, as pessoas da época sabiam onde era o sepulcro e poderiam confirmar se as palavras dos discípulos, afirmando que Jesus ressuscitara, eram correctas ou não. O próprio facto de as autoridades preferirem perseguir os cristãos em vez de mostrar, pelo sepulcro, que Jesus estava morto, revela que o sepulcro estava vazio e que o corpo desaparecera.

O túmulo vazio, é segundo McDowell, um facto histórico documentado[19] e prova da ressurreição de Cristo. O autor afirma, ainda, que nunca encontrou algo com tantos testemunhos positivos históricos, literários e legais para sustentar a sua validade. Professores catedráticos, políticos, historiadores, juízes por todo o mundo reconhecem a validade histórica dos relatos bíblicos sobre a ressurreição.

Paul Little[20] cita o cónego Westcott para afirmar que “reunindo todas as provas, não é demais dizer que não há qualquer acontecimento histórico com melhor ou mais variado apoio do que a ressurreição de Cristo”. O autor afirma que “nada, a não ser a prévia admissão de que devia ser falsa (a ressurreição), poderia ter sugerido a ideia de insuficiência de provas que a atestam”.

 

Testemunho escrito

Seria uma saída fácil argumentar que a Bíblia não pode servir como testemunho escrito da ressurreição, por ser tendenciosa. A verdade, no entanto, é que os documentos do Novo Testamento são, de longe, os mais autênticos desde a antiguidade, no que diz respeito a números de exemplares existentes e a tempo decorrido entre as cópias mais antigas e os manuscritos originais. Max Anders, citando, Sir Frederic Kenyon, ex-director do Museu Britânico afirma que “tanto a autenticade, como a integridade, de modo geral, dos livros do Novo Testamento, podem ser consideradas definitivamente comprovadas”[21]. Josh McDowell, em “Evidência que exige um Veredicto”, era capaz de provar 14 mil manuscritos do Novo Testamento. Em “Evidências da Ressurreição de Cristo”, já era capaz de provar 24,633[22].

McDowell cita F.F.Bruce, que afirma: “a evidência dos textos do Novo Testamento é muito maior do que muitas obras de autores clássicos, cuja autenticidade ninguém sonha em questionar”. Além disso, o autor de comentários bíblicos diz que “se o Novo Testamento fosse uma colecção de escritos scculares, sua autenticidade de modo geral seria considerada fora de qualquer dúvida”.

Josh McDowell cita ainda Clark Pinnock: “Não existe outro documento no mundo antigo, assim autenticado por um grupo tão excelente de testemunhas textuais e históricas, apresentando uma colecção tão extraordinária de datas e factos, que nos permita tomar uma decisão inteligente. Uma pessoa honesta não pode recusar uma fonte desta natureza. O ceticismo, em relação às evidências históricas do cristianismo, está baseado num preconceito irracional”[23].

Sendo assim, a Bíblia afirma que havia provas suficientes para a ressurreição de Cristo. Em Atos 1.3, Lucas diz a Teófilo que Jesus se apresentou aos discípulos, com “provas incontestáveis”. De Haan afirma que esta é mais do que uma afirmação histórica. É um desafio a todos os críticos que haveriam, posteriormente, de negar o sentido literal da ressurreição corpórea de Jesus. Lucas, não um indivíduo qualquer, mas um médico culto, e conhecido por ser meticuloso, afirma que Jesus estava vivo, fora visto por um grande número de pessoas e que a ressurreição podia ser confirmada com provas incontestáveis. E Lucas di-lo, não muitos anos depois, mas quando essas mesmas testemunhas oculares ainda eram vivas e o poderiam contradizer. As palavras de Lucas não sofreram qualquer objecção entre a sociedade daquele tempo, porque ninguém conseguia negar o facto[24].

Pedro, perante os seus pares, numa grande multidão, afirmou que, ao Jesus que os judeus tinham morto, na cruz, “…Deus o ressuscitou”, sendo que ele e os demais discípulos eram “testemunhas” desse facto (Actos 2.32).

Craig afirma que, se o testemunho da ressurreição fosse uma invenção, não teriam os autores da Bíblia se preocupado em não colocar mulheres como testemunhas, visto o seu testemunho ser considerado nulo, pelas autoridades, devido ao status social das mulheres?[25]

Além disso, existem outros materiais históricos que dão apoio ao testemunho intrínseco das Escrituras. O exame cuidado da literatura criada na mesma época da Bíblia confirma a veracidade histórica das narrativas do Novo Testamento. Anders refere o testemunho do arqueólogo Sir William M. Ramsay de que “a história de Lucas é incomparável no que diz respeito à sua veracidade”. Anders também cita A.M. Sherwin-White, que afirmou sobre Actos que “qualquer tentativa de rejeitar a sua historicidade básica até mesmo em questões de detalhes deve agora parecer absurda”[26].

William Lane Craig afirma que existem fontes independentes que narram o sepultamento de Jesus, além da Bíblia[27]. O sepultamento de Jesus é um facto escrito consumado e que liga directamente à Sua ressurreição.

 

Testemunho pessoal

Frank Morrison, advogado britânico dos anos 30, considerava a ressurreição de Cristo uma fábula para criança. Decidido a desmascarar a lenda de um Jesus ressurrecto, começou a investigar. A sua investigação culminou na obra “Who Moved the Stone?”, um testemunho da sua própria conversão a Cristo, depois de chegar à conclusão que a Sua ressurreição era inegável.

Neste livro, Morrison usa[28] os exemplos de Pedro, Tiago (irmão de Jesus) e Paulo como testemunhas pessoais fundamentais acerca da ressurreição.

O autor pergunta como é que alguém a quem Jesus chamou Satanás, que o Mestre descobriu que o iria trair, um discípulo que fugiu na hora da verdade, poderia se ter tornado um dos líderes do movimento focado em Cristo, ao ponto de sofrer abundantemente por isso e inclusive, segundo a tradição, morrer executado por causa dessa fé? Teria de ser porque viu e experimentou o Cristo ressuscitado. E, mesmo aqueles que dizem que a sua personalidade intempestiva, que faz e fala antes de pensar, poderia explicar os seus actos que o levaram a sofrer por uma causa aparentemente inútil, têm de admitir que Pedro não passava de um pescador. Seria pouco inteligente, com pouca ou nenhuma capacidade de estratégia, de gestão de recursos humanos e, obviamente, nenhum poder de feitiçaria, medicina, ou algo semelhante, para realizar os sermões que realizava, operar os milagres que operou e gerir a igreja que geriu. Este Pedro, admitiu, no seu primeiro discurso, que Deus ressuscitou Jesus dos mortos e o fez Senhor e Cristo.

Quanto a Tiago, é o próprio Josefo que escreve que o irmão de Jesus foi morto à pedrada por defender a fé cristã. O mesmo Tiago que negou a divindade de Jesus, antes da Sua morte, rejeitou os Seus feitos e o ostracizou. Como é que este homem, frio e hostil perante Jesus, que parecia odeiar aquele que vinha da mesma mãe, se tornou conhecido por todos como o “irmão de Jesus”, uma das figuras principais da igreja em Jerusalém (Actos 15 e 21) e que sofreu, até à morte pela Sua causa?

Craig, citando Hans Grass, feroz crítico do Novo Testamento, afirma que a conversão de Tiago é uma das provas mais irrefutáveis da ressurreição de Cristo[29].

Diz-se que os cristãos escreveram, no seu túmulo, “este foi uma verdadeira testemunha, tanto para judeus como para gregos, que Jesus é o Cristo”. Testemunho mais imparcial do que este, só um, o de Paulo. Como é que um fanático pela religião judaica, que moveu tudo o que podia e que com todas as suas forças lutou para que a recém-criada seita cristã fosse aniquilada, ao ponto de mandar matar, sem apelo nem agravo, se tornou no maior arauto, defensor e continuador da causa do carpinteiro nazareno?

 

III. Argumentos da ressurreição

Para este ponto, usaremos os sete argumentos de De Haan a favor da ressurreição[30]: lógica, coerência, psicologia, filosofia, história, experiência, autoridade.

No primeiro, Haan afirma que a vida de Jesus (irrepreensível e exemplar) e o Seu legado mostram, logicamente, de forma conclusiva, que a morte não marcou o seu fim.

O argumento seguinte mostra que era absolutamente incoerente aceitar relatos históricos de fontes menos confiáveis e não aceitar os testemunhos oculares da ressurreição de Cristo. Além disso, se os divulgadores da informação da ressurreição de Cristo foram fidedignos no que toca a relatos de outros assuntos, sendo exactos em todos os aspectos, porque abrir uma excepção no caso da ressurreição? Provas arqueológicas mostram que os autores bíblicos foram precisos no que toca a localizações geográficas, informações históricas e aspectos culturais. Logicamente, não mentiriam no que toca a Jesus ter permanecido morto. Se admitirmos que tudo não passou de um plano maquiavélico, então necessitamos admitir que toda a História pode estar errada, caso historiadores e relatadores tomassem a mesma atitude.

Mais do que isso, o argumento psicológico, de que a verdade da ressurreição mudou vidas de milhões de pessoas, ao longo dos séculos, deve pesar e muito. Basta começar pela postura dos discípulos antes e depois de Jesus morrer. Os medrosos, incrédulos e desconfiados doze, quando Jesus estava lá, tornaram-se intrépidos, corajosos e convictos apóstolos, depois de Jesus morrer. Paulo e os irmãos de Jesus são outros exemplos da transformação operada pela verdade da ressurreição.

O argumento histórico aborda o que se passou ao longo dos seguintes 2000 anos, com o mundo, com a igreja, com as pessoas, e a influência de Jesus em todas as coisas. De Haan afirma que “seria difícil um morto” ou “um louco” ter esta influência. Mas um vivo não. Já o argumento da experiência mostra que, quem experimenta o Cristo ressuscitado, sabe que Ele ressuscitou. Paul Little aborda o mesmo assunto, apelidando-o de “prova contemporânea e pessoal da ressurreição”.

Finalmente, o argumento da autoridade. De Haan afirma que, se a Bíblia, a palavra de Deus, que Deus guardou ao longo de milhares de anos, afirma que Jesus ressuscitou, a autoridade bíblica não deve ser desprezada.

 

IV. As implicações da ressurreição

É fundamental afirmar a importância da ressurreição em todo o pensamento cristão. Ela é o clímax do cristianismo. Sem ela, o cristianismo seria mais um religião. Sem ela, o cristianismo não teria chegado aos nossos dias. Anísio Batista Dantas afirma que uma fé cristã não firmada na ressurreição de Cristo não pode ser chamada fé e muito menos cristã[31].

É no inter-relacionamento entre morte, ressurreição e segunda vinda que se manifesta a esperança do crente salvo.

Além disso, há promessas de Deus ricas para o crente que só são válidas por causa da ressurreição. A ressurreição não encerrou as promessas referentes a Cristo e aos seus. A derradeira delas é fazer dos crentes participantes dessa mesma ressurreição, no fim dos tempos. Dantas afirma que o crente espera ressuscitar e ascender aos céus, tal como Cristo fez[32].

A ressurreição de Cristo dá significado a toda a história da redenção, a todo o plano de Deus, a toda a Bíblia. Sem ressurreição, o nascimento de Cristo não teria significado, os seus esforços teriam sido inutéis, a sua morte teria sido uma derrota, uma tragédia infrutífera.

De Haan afirma que o símbolo do cristianismo não deveria ser uma cruz, mas um túmulo vazio[33], tal a importância da ressurreição no plano redentor de Deus. A morte vicária de Cristo é, aliás, apenas uma parte do plano. De Haan afirma que “a cruz, sozinha, não pode salvar ninguém”[34]. O clímax do Evangelho reside no facto de que Jesus não apenas morreu, mas ressuscitou, provando a eficação do seu sacrifício. A ressurreição é a prova que todos os pecados foram expiados na cruz. Ressuscitando, Jesus provou que a obra de Deus para salvação do Homem ficou completa e que o ser humano tinha um caminho aberto (o próprio Jesus, mediador) para se reconciliar com o seu Criador. A morte de Cristo apenas serviria para nos livrar do inferno, mas não nos levava para o Céu. É a ressurreição que possibilita a comunhão com Deus.

A origem do cristianismo, segundo Craig, depende da crença dos primeiros discípulos de que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos. Essa ressurreição reverteu a catásfrofe da crucificação e fez de Jesus o Messias profetizado nos escritos antigos, capaz de salvar e reinar.

Candler cita Bushnell para dizer que “o mundo está mudado e já não é como era, não voltou a ser o mesmo que era, desde que Jesus” subiu ao céu. “O ambiente está impregnado de aroma celestial e em suas brisas se percebe algo de outros mundos”[35].

 

Conclusão

A ressurreição de Cristo é um facto inegável da história do mundo, decisor para o futuro da humanidade, e transformador para o dia-a-dia.

Torna-se claro que os discipulos não roubaram (não arriscaram a morte por um vivo, quanto mais por um morto),  os inimigos não levaram (interessava que Jesus estivesse sepultado) e os animais não comeram (os soldados morreriam se deixassem) o corpo. A alucinação não existiu e os testemunhos são verdadeiros. Ele, de facto, morreu e ressuscitou. E a história não terminou aí.

Jesus nunca escreveu um livro. No entanto, o acervo de todos os livros por Ele inspirados, referentes à sua vida, morte e ressurreição, é maior do que todos os outros juntos. Jesus nunca fundou uma escola. No entanto, tem sido de inspiração de conquista em todos os níveis de conhecimento e na civilização. A Sua influência fez com que as nações se desenvolvessem. Jesus nunca escreveu uma canção. Mas, milhões de seres humanos criam e cantam as mais belas canções em homenagem a Ele[36].

A mensagem do cristianismo é a mensagem de um Salvador ressurrecto. Este ponto faz do cristianismo único, algo não incluído entre as religiões do mundo. O cristianismo não é uma religião, mas uma pessoa viva: Cristo.

Não somos capazes de avaliar, na totalidade, os efeitos da ressureição de Jesus, mas sabemos que a via da prova da sua ressurreição, pela experiência, está aberta a qualquer pessoa. Se Jesus ressuscitou, está vivo hoje, pronto a encher e transformar aqueles que o convidam a entrar nas suas vidas.

Em suma, a importância da ressurreição resume-se a isso mesmo. Duas palavras apenas: vidas transformadas.

“Se, com a tua boca, confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.

Romanos 10.9

 

Bibliografia

 

ANDERS, Max. Jesus em 12 lições. Editora Vida. São Paulo, 1990.

CANDLER, Warren A. Verdade ou Mito – Evidências do Cristianismo. Comissão Central de Literatura. Teresópolis, 1961.

CRAIG, William Lane. Em Guarda. Vida Nova. São Paulo, 2011.

DANTAS, Anísio Batista. A Ressurreição de Jesus Cristo. CPAD. Rio de Janeiro, 1992.

DE HAAN, M.R. O Túmulo Vazio. Imprensa Batista Regular. São Paulo, 1992.

LITTLE, Paul E. Saiba o que você crê. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 1991.

MCDOWELL, Josh. As Evidências da Ressurreição de Cristo. Editora Candeia. São Paulo, 1994.

MCDOWELL, Josh. Evidência que exige um veredicto. Editora Candeia. São Paulo, 1989.

MORRISON, Frank. Who moved the stone? Faber Editions. Londres, 1965.


[1] LITTLE, p. 73.

[2] CRAIG, p. 273.

[3] LITTLE, p. 73.

[4] CANDLER, p. 98.

[5] CRAIG, p. 244.

[6] CRAIG, p. 274.

[7] ANDERS, p. 189.

[8] João 19.33-34.

[9] CRAIG, p. 279.

[10] I Coríntios 15.6.

[11] CRAIG, p. 283.

[12] ANDERS, p. 190.

[13] “Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei”. – João 20.

[14] CANDLER, p. 99.

[15] LITTLE, p. 78.

[16] CRAIG, p. 281.

[17] MCDOWELL, p. 112.

[18] CRAIG, p. 269.

[19] MCDOWELL, p. 120.

[20] LITTLE, p. 79.

[21] ANDERS, p. 192.

[22] MCDOWELL, p. 44.

[23] MCDOWELL, p. 23.

[24] DE HAAN, p. 14.

[25] CRAIG, p. 252.

[26] ANDERS, p. 193.

[27] CRAIG, p. 246.

[28] MORRISON, p. 117.

[29] CRAIG, p. 260.

[30] DE HAAN, p. 18.

[31] DANTAS, p. 146.

[32] DANTAS, p. 148.

[33] DE HAAN, p. 8.

[34] DE HAAN, p.10.

[35] CANDLER, p. 99.

[36] DANTAS, p. 150.