A Bíblia é a Palavra de Deus?

A BÍBLIA É A PALAVRA DE DEUS?

por Cândido Carrusca

                                         I.            Introdução.

BíbliaRios de tinta têm corrido nas gráficas. Milhares de horas têm sido gastas em estudos e pesquisas, nas áreas da ciência mais remotas e desconhecidas. Vidas inteiras têm sido dedicadas, à contradição, à afirmação, à contestação. Inúmeros comentários têm sido proferidos por milhares de pessoas leigas ou estudiosas. Mas qual a razão de tanto alarido e alarmismo desde sempre?

De facto, constata-se que em toda a História da humanidade houve, há e haverá espaço para o contraditório no que diz respeito ao mais sublime dos compêndios literários. A Bíblia.

É acerca dela que este pequeno trabalho incidirá. Apresentarei provas inequívocas da sua autenticidade, expondo ideias dos mais famosos escritores da atualidade e não só. No entanto, no fim a decisão caberá a cada um deixar Deus operar na sua vida, através do Espírito Santo que atua na e pela Palavra de Deus.

 

                                      II.            O que a Bíblia diz de si mesma.

Devemos considerar a amplitude da escrita da Bíblia, para ver a importância que as menções proferidas na própria Bíblia têm. Quero com isto afirmar que os escritores do texto Sagrado fizeram afirmações posteriores, citando o próprio texto escrito muitos anos antes, como sendo inequivocamente sagrado.

Mencionaremos alguns escritores que atestam as características mais enfáticas que a Bíblia diz de si mesma. Porém, a característica maior e mais preponderante, encontra-se na vida dos que a aplicam ao seu viver. Desde Norman Geisler a William Nix, passando por Paul Little e Josh Mcdowell muitos apresentam factos impressionantes que fazem ressaltar a autenticidade da Bíblia, e deixam qualquer leitor sem margem para dúvidas de que a Bíblia só pode ter tido origem numa entidade superior ao ser humano. (A Bíblia afirma que essa entidade é Deus)[1]

A Bíblia faz inúmeras referências a ela mesma. O próprio Jesus, em várias ocasiões, aponta para o que nas Escrituras estava escrito a respeito Dele. Mateus 21:42 é uma alusão a vários textos no Antigo Testamento acerca de Jesus.[2]

Depois da ressurreição, (outro facto inquestionável da autenticidade da mensagem da Bíblia) Jesus faz uma descrição completa na viagem para Emaús acerca Dele mesmo, com referências ao que já estava escrito. Em Lucas 24:25-27 Ele não deixa dúvidas que a autenticidade da Sua proveniência estava bem fundamentada nas Escrituras.[3]

O mestre da Galileia declara, em cerca de 92 ocasiões, que o suporte das afirmações por Ele proferidas estavam assentes “nas Escrituras”.[4] Em todas essas ocasiões, fica bem frisado que o ministério do próprio Cristo, não estava suportado sobre uma qualquer ideologia ou filosofia da época, mas sobre o que sobre Ele já tinha sido escrito á anos atrás.

a.      A Bíblia e os outros livros “sagrados”.

Não existe dúvida da autoridade e procedência do livro Sagrado chamado Bíblia (como comprovaremos no decorrer deste trabalho). Essa autoridade é vista nas declarações proferidas nela e acerca dela. Mas só o facto, que a própria Bíblia afirma ser a palavra de Deus, não significaria por si só que o é. Porém, quando os Seus Escritos são confrontados com outros de índole teísta conhecidos, reconhecemos neles o cunho Divino. Eles manifestam, sem qualquer margem para equívocos, a autoridade e procedência deste maravilhoso livro; que é em si mesmo a Santa e Bendita Palavra de Quem o autorizou e mandou redigir, Deus.

Foram muitos os personagens que na Bíblia e por ela, apoiaram as suas declarações em circunstâncias adversas e obtiveram respostas. Mas o personagem mais expressivo contido no relato sagrado é o próprio Jesus.

A este ponto surge a pergunta. Será que é só na Bíblia que encontramos a resposta para a dúvida da humanidade, ou existem noutros registos “sagrados” a forma de chegar a Deus? (notar que a dúvida da humanidade reside no facto de saber como chegar a Deus)

Por incrível que possa parecer, a Bíblia não é o único livro a apontar na direção de Deus através de Jesus. Livros de índole religiosa, tidos como “sagrados”, tais como o Corão, livro sagrado dos islâmicos, atesta de certa forma a veracidade do que está explícito na Bíblia.

“Ó fiéis, quereis que vos indique uma troca que vos livre de um castigo doloroso?

É que creiais em Deus e em Seu Mensageiro, e que sacrifiqueis os vossos bens e pessoas pela Sua causa. Isso é o melhor, para vós, se quereis saber.”[5]

Devemos, no entanto, compreender que a perceção do que para os islâmicos representa Deus, é completamente diferente da mensagem que a Bíblia nos transmite. Também o destino eterno para os islâmicos, é completamente contrário ao apresentado na Bíblia. Se assim não fosse, poderíamos considerar o Corão como mais um dos livros de inspiração divina, o que não sucede. Todos os escritos de inspiração divina, levam-nos Ao Deus do amor total, Ao Deus da cruz, Ao Deus da restauração humana. Sabemos que nenhum destes factos se consegue perceber no Corão.

Por outro lado o alcorão não apresenta a descrição de nenhum facto milagroso, que tenha sido atestado por testemunhas oculares, e que seja autentificado pela ciência hoje; enquanto no tocante à Bíblia, o avançar da ciência em descobertas, testes e provas factuais, cada vez mais confirma os factos milagrosos descritos na Bíblia.

“Embora os mártires actuais do islamismo sejam certamente sinceros com relação ao islão, não têm provas miraculosas de testemunhas oculares de que o islão seja verdadeiro. Não são testemunhas oculares de qualquer coisa miraculosa.”[6]

A Bíblia, no evangelho, apresenta um único propósito para a vinda de Jesus.[7]Ela afirma sem qualquer sombra de dúvida a inequívoca exclusividade que reserva Jesus como O único meio de chegar a Deus. Outras crenças apontam em várias direções, tornando-se difusas nas suas conceções e tendem em ser “politicamente corretas” para não ferir mentalidades que achem nelas algum ponto discordante.

“O hinduísmo acredita em 300 000 deuses. A maioria dos devotos venera ou adora alguns favoritos, mas respeita todos. (…) O hinduísmo não se preocupa com contradições, por conseguinte há muitos caminhos contraditórios para a mesma realidade suprema. (…) Como as outras religiões orientais, o hinduísmo é melhor descrito como uma árvore com muitos ramos diferentes e contraditórios. Considerando que absorveu muitas ideias pagãs, não tem um corpo de doutrinas claramente definido.”[8]

A Bíblia não se preocupa em provocar uma reação agradável nos seus leitores, nem os que fizeram parte interveniente na história nela relatada, escapam à integridade e frontalidade com que o relato Bíblico é exposto. Se bem que o seu propósito é ser em alguns casos contundente nos assuntos abordados, não tendo em vista salvaguardar os personagens intervenientes; mas passar sempre para o lado do leitor, a vontade de Deus que a mandou redigir.

“A inerrância de autores finitos, decaídos e humanos deve ser entendida no contexto das doutrinas ortodoxas referentes a Deus, (…) a vida, o mover deles estava nas mãos do Senhor de todas as coisas, que tudo sabe. Nele depositavam o seu ser.”[9]

A Bíblia é um livro que transmite certezas. Devido à sua objetividade e clareza, sabemos o futuro do género humano. Assim como a História transmite factos reais e inequivocamente irrefutáveis, devido às inúmeras provas neles contidos; a Bíblia transmite certezas para aqueles que nela confiam a fundamentação da sua vida. É incrível ver como ao longo de toda a Bíblia, Deus inspira o relato que nos leva a saber o futuro que Ele tem reservado para nós, sobre a certeza inabalada que o passado pela História nos transmite.[10]

“No islamismo, a salvação vem pelo fazer a vontade de alá, o que está decifrado em “cinco pilares”. No dia do julgamento alguns serão consignados para o inferno e outros para um paraíso repleto de delícias sensuais. Os adoradores de outros deuses (que não sejam de alá) irão sem dúvida para o inferno; mas ninguém, nem mesmo um muçulmano dedicado, pode saber com certeza qual o seu destino eterno. A pessoa só pode esperar que no dia do julgamento o bem venha a exceder em valor ao mal.”[11]

Pela verdade Bíblica torna-se sabido que a salvação vem pelo crer na boa nova, de que Jesus morreu e ressuscitou.[12]Pela Bíblia, ficamos a saber sem sombra de dúvida como deveremos manter a nossa vida, de modo a preencher os requisitos de Deus, tendo assim a certeza da vida eterna com Ele. Pela Bíblia, já hoje podemos ter a certeza de como será a nossa eternidade.

b.      A afirmação inequívoca da veracidade Bíblica.

A certeza inequívoca da inspiração da Bíblia por Deus é um dado assente em pilares inquebráveis. Muitos foram ao longo da História as tentativas de destruir estes pilares e descredibilizar este compêndio divino.

“No ano de 303 A.D, Dioclécio ordenou que todos os exemplares da Bíblia fossem queimados. (…) Durante os dois séculos em que o papado teve poder absoluto na Europa Ocidental (1073-1294), os líderes nacionais começaram a colocar o credo acima da Bíblia. Essa não foi uma tentativa de destruir a Bíblia, mas apenas de rebaixá-la a uma importância menor, subjugando-a a um poder maior. (…) Um dos últimos grupos que desejam destruir a bíblia são os ateus. Através de Lenine, Stálin, Hitler, Mao Tsé Tung, Pol Pot e tantos outros, o ateísmo continua a perseguir a bíblia e os cristãos em vários países como a China, Vietname, Coreia do Norte, Cuba”[13]

No entanto, todas as tentativas de destruir a Bíblia goraram. De facto estas tentativas que visavam destruir a sua mensagem central, Cristo; foram vaporizadas pelo tempo e a inercia que a temporalidade de quem as proferiu lhes confere. Lembramo-nos por exemplo de Voltaire.

Quando o famoso francês Voltaire morreu, em 1778, predisse que no prazo de 100 anos a partir de sua época, o cristianismo estaria extinto. Ao invés disso, apenas vinte e cinco anos após sua morte, a Sociedade Bíblica Inglesa e Estrangeira foi fundada, e as mesmas impressoras que haviam imprimido a literatura infiel de Voltaire tem sido usadas desde então para imprimir a Bíblia.[14]

Mas a mensagem da Bíblia permanece, não só pela mensagem em si, mas também porque Quem proferiu essa mensagem, vive para a preservar.[15]

“A característica mais importante da Bíblia não é a sua estrutura e a sua forma, mas o facto de ter sido inspirada por Deus. Não se deve interpretar de modo errado a declaração da própria Bíblia a favor dessa inspiração.”[16]

A Bíblia é verdadeira. Não podemos ter receio de a confrontar com o que quer que seja. Toda a afirmação verdadeira é suportável por si mesma, daí quanto mais a Bíblia for confrontada com as dúvidas existentes, mais verdadeira e coerente se apresenta àquele que se debruça sobre ela. Contamos com os nossos sentidos para colocar à prova a veracidade da Bíblia.

“A afirmação verdadeira pode ser verificada empiricamente por meio de um ou mais dos cinco sentidos.”[17]

Com a legitimidade que a minha vida confere, afirmo com toda a força dos meus pulmões, para todos os que quiserem ouvir, que a prova máxima da autenticidade da Bíblia sou eu mesmo. É o testemunho que a minha vida projeta que autentifica o que nela é encontrado da Bíblia. A vida de cada leitor da Bíblia deve tornar-se em si, uma outra Bíblia, a qual todos podem ver e ler.

É por meio dos sentidos que tomamos conhecimento de Deus e da Sua Palavra, e é também por meio dos sentidos que atestamos a experiência pessoal com Ele; e isso nada nem ninguém nos pode tirar.

O cepticismo, à volta da veracidade da Bíblia, reside no facto de que pessoas que não pretendem deixar que a Palavra de Deus, e O Deus da Palavra, interaja com eles; se vejam confrontadas com o que para eles é desconhecido. O Desafio fica em jeito de orientação judicial; provem a Sua inexistência, visto que a existência está por demais provada. No entanto, a Bíblia está cheia de evidências que demonstram a sua autenticidade.

                                   III.            As evidências da Bíblia.

Quando se fala em evidências, seja da Bíblia ou de outra coisa qualquer, existe a necessidade de suportar com provas factuais essas mesmas evidências. Por outras palavras, o que a evidência faz é proclamar, empiricamente, as provas reveladas acerca do assunto sobre as quais as mesmas foram analisadas.

David Hume faz uma declaração inquietante ao concluir a sua obra Inquiry Concerning Human Understanding (inquérito sobre a compreensão humana) acerca da veracidade da Bíblia, que pode demonstrar como a sociedade olha e analisa este compêndio divino.

Se tivermos em nossa mão, qualquer um livro — de divindade ou metafísica, por exemplo, devemos perguntar: “ele contém algum raciocínio abstrato; relativo a quantidade ou números?”. Não. “Ele contém algum raciocínio experimental relativo à matéria e à existência?”. Não. Então, jogue-o no fogo, pois contém apenas sofismas e ilusões.”[18]

Acerca deste comentário do senhor Hume, que muitos têm usado como pretexto para “queimar” a Bíblia, podemos afirmar duas coisas:

1)      Quem afirma que a revelação acerca dos números na Bíblia é abstrata, deverá ter em consideração as imensas afirmações que a mesma faz usando números com firmeza e coerência.[19]

2)      No que diz respeito ao raciocínio experimental, é importante que nos fixemos no alvo primordial que a Bíblia revela para o género humano. A experiência com Deus. Tudo o que Deus quer dar aos que O aceitam como tal, seja nesta vida ou no porvir, é experiência de Quem Ele é.[20]

O que o senhor Hume especula, não deveria produzir nenhum tipo de inquietação na sociedade leiga nem na científica. Sabemos, pela Bíblia e não só, que O autor deste que é o Livro Sagrado por excelência é o criador do universo, e tudo o que ele contém, logo, quem honestamente se debruça sobre os factos verdadeiros, encontrará no fim Deus, visto Ele ser o criador de todas as coisas.

“Se Deus é o autor dos dados científicos e também da revelação comunicada pela Escritura Sagrada, não se pode falar em colocar a ciência verdadeira “acima” da Bíblia.”[21]

As evidências que encontramos, acerca da Bíblia, não estão confinadas a um espaço fechado e hermeticamente intocável, com o risco de se estragar alguma delas, ou de quem as vê não saber interpreta-las. É Deus quem nos manda colocar as Escrituras à prova,[22]e ver que seja dentro ou fora delas, encontramos provas mais que suficientes da Sua veracidade e autenticidade.

a.      Evidência interna.

Devemos, ter em consideração algumas particularidades, que atestam a singularidade da Bíblia, antes de passar às considerações dentro do próprio texto.

“ 1 – Escrito durante um período de mais de 1500 anos.

2 – Escrito durante mais de 40 gerações.

3 – Escrito por mais de 40 autores, envolvidos nas mais diferentes atividades, inclusive reis, camponeses, filósofos, pescadores, poetas, estadistas, estudiosos, etc.:

Moisés, um líder político, que estudou nas universidades do Egipto; Pedro, um pescador; Amós, um boiadeiro; Josué, um general; Neemias, um copeiro; Daniel, um primeiro-ministro; Lucas um médico; Salomão, um rei; Mateus, um coletor de impostos; Paulo, um rabino.

4 – Escrito em diferentes lugares: Moisés, no deserto; Jeremias, numa masmorra; Daniel, numa colina e num palácio; Paulo, dentro de uma prisão; Lucas enquanto viajava; João na ilha de Patmos; Outros nos rigores de uma campanha militar.

5 – Escrito em diferentes condições: Davi, em tempos de guerra; Salomão em tempos de paz.

6 – Escrito sob diferentes circunstâncias: Alguns escreveram enquanto experimentavam o auge da alegria, enquanto outros escreviam numa profunda tristeza e desespero.

7 – Escrito em três continentes: Ásia, Africa e Europa.

8 – Escrito em três idiomas: Hebraico, a língua do Antigo Testamento. Em II Reis 18:26-28 essa língua é chamada “judaica”. Em Isaías 19:18, de “ língua de Canaã”.

Aramaico: a “língua franca” do Oriente próximo até a época de Alexandre o Grande (Séc. VI a.C. – Séc. IV a.C.).

Grego: a língua do Novo Testamento. Foi o idioma de uso internacional à época de Cristo.

9 – A Bíblia trata de centenas de temas controversos. (…) Com harmonia e coerência de Génesis a Apocalipse. Há uma única História que se vai revelando: “A redenção do homem por parte de Deus””[23]

Estes são números que demonstram a realidade incrível como de dentro da própria Bíblia surgem provas estrondosas da sua autenticidade; poderiam servir de resposta ao senhor Hume, mas que aqui são apresentados no intuito de clarificar as evidências internas da autenticidade da Bíblia como relato Sagrado. Nenhum outro compêndio de livros poderia ser tão exatamente comprovado pela história, como a Bíblia.

Uma das evidências internas da veracidade da Bíblia é a falta de uma ciência da atualidade que está muito em voga; a “achologia”. Passo a explicar. Normalmente quando lemos outro tipo de literatura, é frequente encontrarmos a opinião de quem a redige, e palavras como “talvez, penso que, nesse sentido a minha opinião é que …” proliferam no texto, relatando assim pensamentos de quem o escreve com relação a determinado assunto.

No entanto, a Bíblia é isenta dessa “ciência” chamada “achologia”, porque nela não estão as opiniões de quem a escreveu, mas a certeza que o Seu autor é Deus e a verdade que Ele nos transmite através da mesma. A Bíblia faz afirmações com um nível de autoridade, que mais nenhum outro livro faz. A sua autoridade é inquestionável.

“As palavras das Escrituras não precisam ser defendidas; precisam apenas ser ouvidas, para que se saiba que são a palavra de Deus.”[24]

Mas do interior da Bíblia, não quero somente referir a sua autoridade como prova. Daí poderia resultar uma resposta cética, de que a prepotência e o autoritarismo, não poderiam provar, que a Bíblia é a Palavra de Deus. (se bem que na Bíblia não encontramos autoritarismo, nem prepotência, apesar de que alguns poderiam argumentar que sim).

O Espírito de Deus ativo na vida dos que a leem a Bíblia é por si só prova da sua autenticidade. Alguns poderão contestar dizendo que outros livros, de autoajuda ou de carater religioso, também “transformam” vidas. Contudo, a esse respeito observamos duas coisas: primeiro, as mudanças com base nesses meios, nunca são altruístas, ou seja não têm em vista as necessidades alheias; o que é uma grande diferença com o cristianismo verdadeiro promovido com a leitura da Bíblia, que transforma vidas, para que estas sejam usadas para transformar outras vidas. Segundo, as mudanças não aproximam o leitor da entidade alegadamente “divina” que inspira esses escritos. A Bíblia, é o único livro a fazê-lo com genuinidade. Quem lê a Bíblia, aproxima-se definitivamente do seu autor que é Deus.

“A palavra de Deus confirma-se perante os filhos de Deus pelo Espírito de Deus. O testemunho íntimo de Deus no coração do crente, à medida que este vai lendo a Bíblia, é evidência da origem divina da Bíblia. O Espírito Santo não só dá testemunho ao crente de que este é filho de Deus (Rm.8:16), mas também afirma que a Bíblia á a palavra de Deus (IIPd.1:20,21)”[25]

As mudanças que quem lê a Bíblia “sofre”, já eram temidas na antiguidade. Muitas vezes ouvi dizer que quem lê a Bíblia fica louco. O surpreendente desta afirmação é que ela é verdadeira, pois aos olhos da sociedade comum, somos tidos como loucos, tal é o poder transformador desta Bendita palavra.[26]

“A palavra de Deus tem o poder, o dinamismo transformador de Deus”[27]

Sem qualquer margem para dúvida, é por esse poder que Deus trabalha na vida dos que se dispõe a saber acerca de Deus lendo a Bíblia. Esta é a evidência interna mais marcante que o ser humano poderia experimentar. A verdadeira e genuína mudança de vida.

b.      Evidência Externa.

Os céticos poderiam afirmar que o tópico anterior, acerca da evidência da Bíblia ser a Palavra de Deus pela sua prova interna, é definitivamente insuficiente visto que um argumento pode estar logicamente correto, mas mesmo assim não ser verdadeiro em si mesmo, daí precisarmos de provas externas à veracidade da Bíblia.

“Em outras palavras, um argumento pode ser logicamente correto, mas ainda assim ser falso, porque as premissas do argumento não correspondem à realidade.”[28]

Como esta afirmação é verdadeira, a Bíblia “precisa” de estar assente em evidências externas a Ela mesma. De facto, o que não faltam são provas evidenciadas pela ciência de que a Bíblia é a Palavra de Deus.

Uma das evidências externas acerca da confiabilidade da Bíblia pode-se encontrar na arqueologia. Através da qual podemos ter a certeza de que o que a Bíblia afirma de si mesma, e não só (relatos de civilizações, culturas, pessoas acontecimentos, calamidades etc.) é verdade e está provado. Não estamos a apelar à fé para credibilizar a Bíblia, mas ao raciocínio.

“O Dr. W. F. Albrigth, um dos grandes arqueólogos do mundo disse: “Não restam dúvidas de que a arqueologia tem confirmado a substancial historicidade da tradição do velho testamento””[29]

Tida pela maioria como “a descoberta do Séc. XX” os achados do mar morto são uma das provas da arqueologia moderna sobre a autenticidade das Escrituras. Ali, naquelas cavernas nas encostas de Qumran perto do mar morto, Deus preservou intacta a sua palavra, para que hoje, em pleno “reinado” do ceticismo, pudessem haver provas palpáveis de que a Bíblia é de facto a Palavra Dele.

“Os Manuscritos e fragmentos de Manuscritos recuperados nos arredores de Qumran representam um corpo volumoso de documentos judeus, uma verdadeira ” biblioteca “, datando do terceiro século Antes de Cristo para 68 d.C. Sem questionamento, a ” biblioteca” que é o maior achado arqueológico do século vinte demonstra a atividade literária rica do período depois de Cristo.”[30]

Hoje a arqueologia pode satisfazer as mentes dos mais ceticos perguntadores acerca da veracidade da Bíblia. Esta ciência tem estado “ao serviço” da fundamentação lógica e provada da Bíblia.

A transmissão do texto bíblico pode ser rastreada com certa clareza a partir de fins do século II e início do III até os tempos modernos por meio dos grandes manuscritos.[31]

Os arqueólogos não só vieram confirmar a palavra escrita na Bíblia, como vieram trazer uma “nova luz” para que possamos compreender com fundamentos, muitas coisas que tínhamos como dados adquiridos e aceitávamos somente pela fé, mas que agora a ciência mostra que de facto existem provas que tal assim é.

“Graças à pá dos arqueólogos estamos começando a entender o pano de fundo de muita coisa que lemos na Bíblia.”[32]

Poderia encher este trabalho com trechos do que tenho encontrado de provas arqueológicas das evidências dos relatos Bíblicos, no entanto não é esse o meu objectivo, sendo que não nos podemos esquecer que o facto da arqueologia ainda não ter provado tudo o que na Bíblia se descreve como verdadeiro, não significa que de facto não o seja. Posso inferir, que as provas existentes chegam e sobram para fundamentar com firmeza o que a Palavra de Deus afirma.[33]

Também não nos podemos esquecer que todos os dias aparecem novos achados, e que em várias partes se fazem esforços para que esses mesmos achados venham à luz do dia. O que hoje é desconhecido, amanhã poderá sair debaixo do manto da ignorância humana, revelando um pouco mais da credibilidade Bíblica.

“… seria uma tolice congelar os pontos de conflito e concluir que a Bíblia está errada. A Bíblia não mudou em 2000 anos, enquanto que, somos somo obrigados a admitir, a ciência é um comboio em movimento. Se se tivesse reconciliado a Bíblia com os pontos de vista científicos em voga há um século, ela ter-se-ia tornado completamente obsoleta nos nossos dias! É muito melhor admitir um aparente conflito e aguardar que apareçam mais evidências.”[34]

É exatamente isto que o crente faz. Delicia-se com as provas existentes, e aplica a sua fé e confiança no que ainda falta aparecer, sabendo que se todas as provas da confiabilidade da Bíblia fossem conhecidas, não haveria lugar para a descrença ou para a fé.

                                   IV.            A objetividade da Bíblia

A Bíblia não tem como objetivo demonstrar a sua própria veracidade. Podemos até afirmar que, nós os que a lemos, é que temos necessidade de fazer a apologia da mesma, visto que, apesar nela se encontrar como vimos provas irrefutáveis da sua veracidade, a mesma não tem como objetivo, afirmar ou comprovar a sua veracidade.

Mas qual o objetivo da Bíblia?

Afinal, um compêndio sobre o qual se tem escrito tanto e que tem movido ao longo dos tempos tantas mentalidades e feito correr tanta tinta, deverá ter em si mesmo um objetivo bastante claro e forte.

A resposta para a pergunta acima formulada dá-se com uma única palavra. VIDAS. A Bíblia foi-nos entregue por Deus para mudarmos a nossa vida e sermos instrumentos nas mãos Dele para que com Ela e por Ela mudemos outras vidas.

Uma mudança de vida, sempre começa, seja em que circunstância for, com uma decisão. É isso que a Bíblia faz, leva o seu leitor a um ponto em que, com a revelação que o leitor alcança com a leitura da mesma, tenha que tomar uma decisão. Crer[35] ou não crer, é a grande questão.[36]

“Se a Bíblia é verdadeira, então Deus concedeu a cada um de nós a oportunidade de fazer uma escolha eterna no sentido de aceitá-lo ou rejeitá-lo. Com o objetivo de assegurar que a nossa escolha é totalmente livre, ele nos colocou num ambiente repleto de provas de sua existência, mas sem a sua presença direta.”[37]

a.      Jesus a evidência máxima da Bíblia.

Desde o livro de Génesis até ao enigmático livro de Apocalipse, a Bíblia apresenta uma figura central e preponderante a toda a Escritura. Jesus Cristo.

Polémico nas suas declarações,[38]Jesus colocou-se acima da lei,[39]Deu novos mandamentos,[40]no entanto, é em torno Dele que todo o texto foi escrito.

As incertezas que muitos querem ver no relato Sagrado, não clarificam, nem dignificam a fiabilidade da Bíblia. Esquecendo-se de todo o rol de evidências, (já mencionadas neste trabalho) colocam as questões meramente racionais e lógicas, sobre a autenticidade de todo o texto Bíblico, e da firmeza que o mesmo transmite ao colocar Jesus como centro de toda a declaração Sagrada.

“Muitos dizem que aceitariam de bom grado o que Jesus ensina sobre a Bíblia, se ao menos soubessem o que Ele de facto ensinou. Contudo, dizem que o acúmulo de erros de tradução, de distorções introduzidas pela tradição oral e pelos escribas não lhes permite saber com certeza o que Jesus realmente disse. Refugiando-se nessa crença, deixam de lidar com as provas oferecidas pelos evangelhos e sentem-se livres para construir a sua teologia dando um tratamento diferente às Escrituras daquele que a investigação Histórica tradicional acredita e ensina. No entanto, por mais que desprezem os detalhes dos registos evangélicos, recorrendo à crítica, só poderão distorcer tudo o que lhes foi apresentado, se rejeitarem praticamente todas as provas.”[41]

Não distorcendo as provas, Manuel Rainho afirma categoricamente a autoridade de Jesus ao colocar-se ao mesmo nível da lei, com o Seu novo discurso. No início do Seu ministério terreno, Jesus não deixa dúvidas acerca do que o movia, nem do que O fundamentava. Não se trata somente de a Bíblia apresentar Jesus que cumpre a própria Bíblia; mas o facto de que Ele contraria a tendência do mundo de então, apresentando uma lei superior aquela que já estava escrita. Notamos nesta “ousadia” de Jesus, a exposição da intenção pela qual a lei (Bíblia) foi dada aos que a leem. O próprio autor explica, revela melhor dizendo, a Sua intenção clarificada para que não possa haver, depois Dele, equívocos acerca da lei já escrita.

“O sermão vai assim mais longe e apresenta-nos uma ética nova, radical no seu pacifismo e contraria à forma natural do ser humano reagir. A lógica do mais forte, típica do mundo clássico, é invertida e os valores mais elevados passam a ser precisamente aqueles que os romanos mais desprezavam. (…) Jesus comete a ousadia de colocar a Sua palavra ao nível da Torah.”[42]

O que não foi compreendido na altura de Jesus, corre o risco de também não o ser nos dias de hoje. Devemos olhar para a lei do Antigo Testamento como a “maquete” que apresenta a “construção” final, com a sua plenitude nos evangelhos que expõe inequivocamente Quem é Jesus. Para acharmos a beleza de todo o compêndio a que chamamos Bíblia; devemos analisar com rigor a vida e mensagem do Seu Autor descrita nos evangelhos.

Jesus que não precisava das escrituras para fundamentar a Sua mensagem, visto que Ele é a mensagem em si mesmo. Não desvirtuando nenhuma característica contida na mesma; Ele coloca-se a si mesmo como “Aquele que é a Palavra”[43]

“… percebemos que o reino de Deus estava fundamentado acima de tudo, na mensagem de Jesus, mensagem que não carecia de qualquer suporte a não ser a autoridade do mensageiro…”[44]

Podemos afirmar com a autoridade que as evidências Históricas conferem, que O Jesus “problemático, controverso, enigmático, etc…”que mudou o rumo e a contagem da História; é em Si mesmo o que hoje é conhecido como a Bíblia. É Nele, que compreendemos a totalidade da essência do texto Sagrado. Podemos afirmar que a Bíblia é Jesus e Este é a Palavra revelada na sua plenitude.

b.      Reação humana à evidência chamada Bíblia.

Este trabalho poderia ter a amplitude e a dimensão de todas as obras literárias de qualquer biblioteca nacional, ou internacional; que diante do ceticismo do descrente, nunca passaria de uma montagem literária, ou especulação filosófica no tocante a este livro magnífico que chamamos Bíblia. Porém, a conclusão é por demais evidente para quem a quer ver. É ensurdecedoramente gritante, para quem a quer ouvir.

Algumas vezes, considerando acerca da defesa da Bíblia e mesmo da fé em Jesus Cristo, afirmo que Deus não se revela de tal forma à humanidade, que seja óbvio demais o facto da Sua existência e consequentemente da Sua aceitação. Mas por outro lado, também não se afasta de forma que não possamos razoavelmente saber que Ele existe, e que interage no nosso viver. Daí o equilíbrio resultante entre Deus e cada ser humano deste planeta, ao qual Deus se revela de forma a deixar “espaço” para uma fé verdadeira e pessoal Nele, e no Seu meio de revelação ao homem (Bíblia).

Para aqueles que olham para as Escrituras deixando esse “espaço”, a conclusão a que todos chegam é óbvia. A Bíblia de facto é a Palavra de Deus. Esta conclusão só é atingida, quando nesse “espaço”, concedido na vida de cada um, o Espírito Santo de Deus trabalha pelas Escrituras.

“Com base em tantas evidências, só se pode chegar a uma conclusão: a Escritura na sua totalidade, o que compreende tanto o Antigo, como o Novo Testamento, é produto divino, embora tenha contado com a mediação humana. É a palavra de Deus e, portanto, dispõe de autoridade total e amplamente funcional para todos os seus propósitos”[45]

Quando o trabalhar do Espírito de Deus começa a produzir os seus resultados na vida de quem lhe concedeu permissão para agir; gera-se, cada vez mais, uma vontade e um testemunho de tal forma evidente e inequívoco, que deixam de ser necessárias as evidências “externas” iniciais que começaram todo o processo.

Podemos assim concluir que o trabalho de qualquer fundamentação apologética, é como o motor de arranque de qualquer carro; uma vez a andar, não faz mais falta no mesmo. A não ser que este pare, e seja necessário, com o tal motor de arranque (apologética), fazê-lo colocar em movimento novamente.

“O testemunho interior não propõe nenhum argumento ou conteúdo novo à evidência encontrada objetivamente na escritura; contudo, opera de tal forma em nosso coração que nos impele a nos submeter àquilo que já se encontra lá”[46]

Este mesmo carro, até poderia fazer uns bons quilómetros só pela força do movimento provocado por esse pequeno motor de arranque. No entanto, o movimentar do carro só existiria enquanto houvesse bateria para alimentar o dito motor de arranque.

Vemos nas evidências, a energia exterior à Bíblia capaz de colocar em movimento, qualquer vida que se chegue a Deus. Contudo torna-se imperativo que o Espírito Santo inflame a Palavra de Deus (Bíblia) e que através Dela, a pessoa se chegue mais a Deus, com uma “energia” produzida dentro de si, através dessa mesma Palavra inflamada Pelo Espírito Santo.

“Há, pois, muitos fragmentos de evidência sobre os quais a pessoa pode basear razoavelmente a sua crença de que a bíblia é a Palavra de Deus. Embora estas evidências sejam úteis, o testemunho do Espírito Santo é que, em última análise, leva a pessoa a crer que a Bíblia é a Palavra de Deus.”[47]

Deus não nos deixou a Bíblia com um conjunto de pistas muito bem esclarecidas, para que não houvesse possibilidade de negação da mesma. Se assim fosse, estaria colocada em causa a capacidade que todo o ser humano tem de escolher Deus, ou não. Mesmo o próprio Deus tornar-se-ia num manipulador que não respeitaria a vontade individual de O aceitar ou não.

A Bíblia é a palavra de Deus. Não importa a forma como a veem, as criticas que fazem Dela, ou a subjetividade a que a mesma possa ser relegada. Antes de qualquer forma de vida neste planeta, já existia a Palavra.[48]

“A Bíblia é a Palavra de Deus, independentemente do que a pessoa pense acerca dela,”[49]

O que se torna importante, não é saber se a Bíblia em si é verdadeira, mas a forma como se reage a Ela, mediante a revelação que a mesma nos faz de Deus.

Conclusão.

Este é o fim que se expunha no princípio deste trabalho. E aqui, na conclusão como na introdução; as palavras são as mesmas. A decisão de aceitar a Bíblia como a inequívoca Palavra de Deus cabe a cada um que a lê. As evidências, internas ou externas; só o serão, se da parte do interlocutor, que se presta a saber o que está escrito na Santa e Bendita Palavra de Deus; se deixar trabalhar pela mesma. De outra forma este livro não terá virtude alguma.

Conheço pessoas que dormem com a Bíblia na mesa-de-cabeceira, para terem um bom sono, outras andam com Ela no carro, enquanto viajam, para não terem acidentes; no entanto desconhecem que este livro não é de forma alguma um amuleto, mas sim a Palavra de Deus. Não é somente para ser lido, mas acima de tudo é para ser vivido.

Na Bíblia está o poder de Deus que transforma vidas. Se houver predisposição a deixar Deus transformar a vida pelo poder contido na Sua Bendita Palavra; haverá sem Dúvidas ou incertezas a convicção de que este maravilhoso livro é a Palavra de Deus.

 

Bibliografia e Web-grafia

Alcorão. fonte, em pdf sem registo de editora nem autor.

Bíblia, Sagrada. Edição   Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009.

Bíblia, Sagrada. Edição   João Ferreira D’Almeida Nova Tradução Linguagem de Hoje E-Sword. Rick   Meyers. 2009.

Bíblia, Sagrada. Nova   Versão Internacional E-Sword. 2009.

E.Lutzer, Erwin.   Cristo Entre Outros deuses. São Paulo: Casa Publicadora das   Assembleias de Deus, 2000.

Eduard, Reese & Frank Klassen. Bíblia em ordem   cronológica. São Paulo: Editora Vida, 2003.

Geiseler,   Norman (organizador). A Inerrância da Bíblia. Traduzido por Antivan   Mendes. São Paulo: Editora Vida, 2007.

Little, Paul. Explicando   e Expondo a Fé Saiba porque crê & Saiba no que crê. Traduzido por   Eunice Machado. Wheaton Illinois, U.S.A.: Nucleo, 1980.

Macdowell,   Josh. Evidências que exigem um veredito. Traduzido por João MArques   Bentes. Vol. II. II vols. São Paulo: Editora Candeia, 1997.

Noman, Geiseler & Frank Turek. Não Tenho Fé   Sufuciente Para Ser Ateu. Traduzido por Emirson Justino. São Paulo:   Editora vida, 2010.

Norman, Geiseler & William Nix. Introdução Bíblica   Como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Editora Vida, 1997.

Rainho, Manuel. O   Misterioso Jesus. Lisboa: Grupo Bíblico Universitário (GBU), 2010.

http://blog.invsc.org.br/?p=205.   Acedido em 19-04-2012 ás 17:25

http://www.nbz.com.br/igrejavirtual/qumran/Site1/index.html

http://www.arqueologia.criacionismo.com.br/

http://www.christiananswers.net/portuguese/q-abr/abr-a008.html

http://pt.shvoong.com/humanities/487338-b%C3%ADblia-descobertas-arqueol%C3%B3gicas/



[1] João 1:1 Bíblia, Sagrada. Edição   João Ferreira D’Almeida Nova Tradução Linguagem de Hoje E-Sword. Rick   Meyers. 2009. “Antes de ser criado o   mundo, aquele que é a Palavra já existia. Ele estava com Deus e era Deus.”

Idem   João 14:23 “Jesus afirma ser a mensagem   que quando aceite e obedecida, levará o amor de Deus até aquele que assim   faz”

[2] Jesus cita: O Salmo 118:22 e Isaías 28:16

[3] Jesus cita: Génesis 3:15; Génesis 22:18; Génesis   26:4; Génesis 49:10; Deuteronómio 18:15; Salmo 132:11; Isaías 7:14; Isaías 40:10;   Jeremias 23:5; Jeremias 33:14; Ezequiel 24:33; Ezequiel   37:25; Miqueias 7:20 entre   muitas outras referências que poderiam ser citadas, estas de facto revelam   que Jesus citou a Escritura para falar de si mesmo. Atestando assim a   veracidade da mesma

[4]   Geisler, Noman, & Frank Turek. Não Tenho Fé   Sufuciente Para Ser Ateu. Traduzido por Emirson Justino. São Paulo:   Editora vida, 2010. P.366

[5] Alcorão. Surata 61   – 5156. P.267 (fonte em pdf)

[6] Geisler, Noman & Frank Turek. Não Tenho Fé   Sufuciente Para Ser Ateu. Traduzido por Emirson Justino. São Paulo:   Editora vida, 2010. P.302

[7] João 20:31 Bíblia, Sagrada. Edição   Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009. “Muitos outros sinais miraculosos realizou   ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste   livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias,   o Filho de Deus, e, acreditando, terdes a vida nele.”

[8]   E.   Lutzer, Erwin. Cristo Entre   Outros deuses. São Paulo: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2000.   P.52

[9] Geisler, Norman (organizador). A Inerrância da Bíblia. Traduzido   por Antivan Mendes. São Paulo: Editora Vida, 2007. P.271

[10] Mateus 24:37 Bíblia,   Sagrada. Edição Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009.

Idem   Lucas 17:26; II Pedro 2:5

[11]   E. Lutzer, Erwin. Cristo   Entre Outros deuses. São Paulo: Casa Publicadora das Assembleias de Deus,   2000. P.54

[12] Romanos 1:16 Bíblia, Sagrada. Edição   João Ferreira D’Almeida Nova Tradução Linguagem de Hoje E-Sword. Rick   Meyers. 2009.Eu não me envergonho do evangelho, pois ele é o poder de Deus   para salvar todos os que crêem, primeiro os judeus e também os não-judeus.

[13] http://blog.invsc.org.br/?p=205. Acedido em 19-04-2012 ás   17:25

[14]   http://blog.invsc.org.br/?p=205. Acedido em 19-04-2012 ás   17:25

[15] Marcos 13:31 Bíblia, Sagrada. Edição   João Ferreira D’Almeida Nova Tradução Linguagem de Hoje E-Sword. Rick   Meyers. 2009.”O céu e a terra   desaparecerão, mas as minhas palavras ficarão para sempre.”

[16] Geisler, Norman &   William Nix. Introdução Bíblica Como a Bíblia chegou até nós. São   Paulo: Editora Vida, 1997. P.9

[17] Geisler, Noman & Frank, Turek. Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu. Traduzido por Emirson   Justino. São Paulo: Editora vida, 2010. P.57

[18]   Geisler,   Noman & Frank, Turek, Não Tenho Fé Suficiente   Para Ser Ateu. Traduzido por Emirson Justino. São Paulo: Editora vida,   2010.

[19] Este espaço seria pequeno para   colocar só no livro de Números as cerca de 31 referências diretas à aplicação   de números, ou contagem direta de pessoas bens ou animais. No entanto ficam   aqui alguns exemplos.

Números   1:32, 34, 36, 38, 40, 42; 3:22, 28, 34, 40, 43; 14:34; 15:12; 23:10; 26:53;   29:18, 21, 24, 27, 30, 33, 37; 31:36 Bíblia, Sagrada. Edição Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009.   (Foi somente mencionado o livro que a Bíblia dedica aos números e contagens,   o que revela a importância que a mesma dá ao assunto)

[20] Romanos 12:2 Bíblia, Sagrada. Edição   Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009.

[21] Geisler, Norman (organizador). A Inerrância da Bíblia.   Traduzido por Antivan Mendes. São Paulo: Editora Vida, 2007. P.88

[22] Salmo 34:8 Bíblia, Sagrada. Edição   Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009. “Provai, e vede que o SENHOR é bom;   bem-aventurado o homem que nele confia”

[23] Macdowell, Josh. Evidências   que exigem um veredito. Traduzido por João Marques Bentes. Vol. II. II   vols. São Paulo: Editora Candeia, 1997. PP. 20,21 (foi tomada a liberdade de   organização do texto)

[24] Geisler, Norman & Nix,
William. Introdução Bíblica Como a Bíblia chegou até nós. São   Paulo: Editora Vida, 1997. P.54

[25] Romanos 8:16 e II Pedro 1:20,21Bíblia, Sagrada. Edição João Ferreira D’Almeida Nova   Tradução Linguagem de Hoje E-Sword.   Rick Meyers. 2009.

[26] ICo.1:18-25 Bíblia,   Sagrada. Edição Difusora Freis,   Capuchinhos “A linguagem da cruz é certamente loucura para os que se perdem   mas, para os que se salvam, para nós, é força de Deus. (…)Portanto, o que é   tido como loucura de Deus, é mais sábio que os homens, e o que é tido como   fraqueza de Deus, é mais forte que os homens.”

[27] Geisler, Norman & Nix,   William. Introdução Bíblica Como a Bíblia chegou até nós. São   Paulo: Editora Vida, 1997. P.54,55

[28] Geisler, Noman & Frank Turek. Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu. Traduzido por Emirson   Justino. São Paulo: Editora vida, 2010. P.63

[29] Little, Paul. Explicando e Expondo a Fé Saiba porque crê   & Saiba no que crê. Traduzido por Eunice Machado. Wheaton Illinois,   U.S.A.: Nucleo, 1980. P.180 (citado por Paul Little do livro de A. Rendle Short, Modern Discovery   and the Bíble (London: Inter-Varsity Chirstian Fellowship, 1949), P 39)

[31] Little, Paul. Explicando e Expondo a Fé Saiba porque crê   & Saiba no que crê. Traduzido por Eunice Machado. Wheaton Illinois,   U.S.A.: Nucleo, 1980. P.147

[32] Macdowell, Josh. Evidências que exigem um veredito.   Traduzido por João MArques Bentes. Vol. II. II vols. São Paulo: Editora   Candeia, 1997. P.455

[33] http://www.arqueologia.criacionismo.com.br/. “A descoberta do Palácio de Davi é fato. O jornal Folha de S. Paulo,   em sua edição de 06/08/05, traz a seguinte notícia: Uma arqueóloga israelense   diz ter descoberto em Jerusalém Oriental o lendário palácio do rei bíblico   Davi.” (acedido a 19-04-2012 ás 23:23)

http://www.christiananswers.net/portuguese/q-abr/abr-a008.html. “A descoberta do arquivo de Ebla no norte da Síria nos anos 70 tem   mostrado que os escritos bíblicos concernentes aos Patriarcas são de todo   viáveis.” (acedido a 19-04-2012 ás 23:23)

http://pt.shvoong.com/humanities/487338-b%C3%ADblia-descobertas-arqueol%C3%B3gicas/.“Várias foram as descobertas arqueológicas que proporcionaram o   melhor entendimento das Escrituras Sagradas.” (acedido a 19-04-2012 ás   23:23)

[34] Little, Paul. Explicando e Expondo a Fé Saiba porque crê   & Saiba no que crê. Traduzido por Eunice Machado. Wheaton Illinois,   U.S.A.: Nucleo, 1980. P.179

[35] João 21:30,31 Bíblia,   Sagrada. Edição Difusora Freis,   Capuchinhos. E-Sword. Rick Meyers. 2009. “Muitos outros sinais miraculosos realizou   ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste   livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias,   o Filho de Deus, e, acreditando, terdes a vida nele.

[36] Slide Nrº92 da disciplina de   Apologética Ano 2011/2012

[37] Noman, Geiseler & Frank   Turek. Não Tenho Fé Suficiente Para   Ser Ateu. Traduzido por Emirson Justino. São Paulo: Editora vida, 2010.   P.31

[38] Mateus 12:6 Bíblia, Sagrada. Edição   João Ferreira D’Almeida Nova Tradução Linguagem de Hoje E-Sword. Rick Meyers.   2009. “Eu afirmo a vocês que o que está   aqui é mais importante do que o Templo.”

[39] Mateus 5:28-44 Bíblia, Sagrada. Edição Difusora Freis, Capuchinhos E-Sword. Rick Meyers. 2009. “Eu, porém, digo-vos” (expressão   repetida 5 vezes nestes versículos)

[40] João 13:34 Bíblia, Sagrada. Edição   João Ferreira D’Almeida Nova Tradução Linguagem de Hoje E-Sword. Rick   Meyers. 2009. “Eu lhes dou este novo   mandamento: amem uns aos outros. Assim como eu os amei,…”

[41] Geisler, Norman (organizador). A Inerrância da Bíblia. Traduzido por Antivan Mendes. São Paulo:   Editora Vida, 2007. P.43

[42] Rainho, Manuel. O   Misterioso Jesus. Lisboa: Grupo Bíblico Universitário (GBU), 2010. P.165

[43] João 1:1 Bíblia, Sagrada. Nova Versão Internacional E-Sword.   2009.

[44] Rainho, Manuel. O Misterioso   Jesus. Lisboa: Grupo Bíblico Universitário (GBU), 2010. P.171

[45] Geisler, Norman (organizador). A Inerrância da Bíblia. Traduzido por Antivan Mendes. São Paulo:   Editora Vida, 2007. PP.509,510

[46] Idem. P. 408

[47] Little, Paul. Explicando e   Expondo a Fé Saiba porque crê & Saiba no que crê. Traduzido por   Eunice Machado. Wheaton Illinois, U.S.A.: Núcleo, 1980. P.89

[48] Eduard, Reese & Frank   Klassen. Bíblia em ordem   cronológica. São Paulo: Editora Vida, 2003. A referência a João 1:1   aparece antes do livro de Génesis, indicando assim a atemporalidade do que é   designado como a “A Palavra” que existia no princípio.

[49] Little, Paul. Explicando e   Expondo a Fé Saiba porque crê & Saiba no que crê. Traduzido por   Eunice Machado. Wheaton Illinois, U.S.A.: Núcleo, 1980. P.81

O Problema do Sofrimento

O PROBLEMA DO SOFRIMENTO

Ângela Paiva

 

INTRODUÇÃO

Sofrimento“Agora me regozijo no meio dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo, por amor do seu corpo, que é a igreja; da qual eu fui constituído ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, a fim de cumprir a palavra de Deus, o mistério que esteve oculto dos séculos, e das gerações; mas agora foi manifesto aos seus santos, a quem Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, admoestando a todo homem, e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para isso também trabalho, lutando segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente.” – Cl 1: 24-29

A Bíblia frequentemente descreve o sofrimento como um aspeto essencial da vida cristã. Portanto, este é um tema que também deveria estar presente com frequência no nosso pensamento e comunicação. Contudo, devido à riqueza e ao avanço tecnológico do século XXI, muita gente vê o conforto e a comodidade como direitos humanos essenciais. Assim, a mensagem bíblica sobre a essencialidade da cruz tem-se transformado em algo culturalmente incompatível com o modo de pensar de muitas pessoas nos dias de hoje.

A necessidade de uma reflexão mais profunda sobre esta questão tem-se tornado mais premente pelo facto de alguns líderes cristãos bastante populares pregarem que não é vontade de Deus que os cristãos sofram. Alguns dizem isso, afirmando que nós não devemos suportar mais este aspeto da “maldição”, isto é o sofrimento, pois Cristo já suportou a maldição no nosso lugar. Esta forma de pensar parece sugerir   que há alguma coisa errada nas nossas vidas, se estivermos a atravessar um período de sofrimento.

Com este trabalho pretendo assim demonstrar que a Bíblia não vê o sofrimento como algo negativo, mas pelo contrário, a atitude predominante da Bíblia em relação à dor e ao sofrimento na vida do cristão é positiva.

Partindo desta premissa, este trabalho será dividido em três pontos principais. O primeiro responderá à questão “Porque sofremos?”. No segundo ponto, mostrarei como é que as várias religiões veem o sofrimento. No terceiro e ´último ponto, falarei um pouco sobre a solução para o sofrimento.

 

I. PORQUE SOFREMOS?

            Esta é uma das mais prementes questões do nosso tempo. Mais importante que a questão dos milagres ou da ciência e da Bíblia, é o problema da razão porque sofrem as pessoas inocentes, porque é que os bebés nascem cegos ou porque é que uma vida promissora desaparece quando está em franca ascensão. Porque é que existem guerras em que milhares de pessoas inocentes morrem, crianças queimadas ao ponto de ficarem irreconhecíveis e muitos mutilados para toda a vida?[1]

Na apresentação clássica do problema, ou Deus é todo-poderoso mas não todo-bom, e por conseguinte, não elimina o mal, ou então é todo-bom, mas incapaz de acabar com o mal. E, neste caso, não é todo-poderoso. A tendência generalizada é culpar Deus pelo mal e sofrimento e atribuir-lhe (a Deus) toda a responsabilidade.[2]

Mas será mesmo assim? Penso que a melhor maneira de falar sobre este assunto é começar por entender o conceito de sofrimento.

 

   A. O conceito de sofrimento

            Segundo a Infopédia,[3] sofrimento é o ato ou efeito de sofrer, o qual se pode traduzir numa dor física ou moral, em mágoa, em tristeza, ou em infelicidade. O sofrimento pode resultar de uma experiência extremamente desagradável, de um grande mal, ou de uma desgraça. Segundo esta enciclopédia, o resultado do sofrimento pode ter duas vertentes: a paciência e a resignação.

 

   B. A origem do sofrimento

            Quando Deus criou o homem, criou-o perfeito. O homem não foi criado mau. Contudo, como ser humano, tinha a capacidade de obedecer ou desobedecer a Deus. Se o homem tivesse obedecido a Deus, nunca teria havido qualquer problema. Ele teria vivido uma vida sem fim de comunhão com Deus. No entanto, o homem foi desobediente e rebelou-se contra Deus, como diz em Rm 5: 12 “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram.” Portanto, o sofrimento é consequência do pecado, o qual por sua vez, é consequência da desobediência e rebeldia do homem.[4]

 

   C. As causas do sofrimento

            Sobre o problema do sofrimento, Paul Litte põe a hipótese deste ter como principais causas o seguinte:

  • Em primeiro lugar, o sofrimento é resultado da má escolha (livre arbítrio) do homem, ou seja, o homem quando escolheu desobedecer a Deus, rebelou-se contra Ele e pecou. O sofrimento é uma das consequências dessa má escolha.[5]
  • Em segundo lugar, o sofrimento é um castigo de Deus, e o resultado de uma anterior prática do mal (conceito de recompensa exata). Como exemplo desta situação, Little, apresenta a forma de pensar dos amigos de Jó. No entanto, este autor[6], diz também que pelo ensino do Velho e do Novo Testamento, torna-se claro que o sofrimento pode ser o julgamento de Deus, mas que há muitos casos em que não tem a menor relação com uma má conduta da pessoa, pelo que uma suposição automática da culpa e consequente castigo é absolutamente injustificada. Como exemplo, temos o cego de nascença de Jo 9: 1-3. É pois evidente, que nos precipitamos quando assumimos que a explicação de qualquer tragédia ou sofrimento resulta do castigo de Deus
  • Em terceiro lugar, o sofrimento é resultado de julgamento divino. No entanto, esse julgamento nunca acontece sem anteriormente serem feitas algumas advertências por parte de Deus. Por exemplo, através do Velho Testamento vemos os repetidos apelos de Deus e os avisos de julgamento. Só depois dos avisos terem sido aparentemente ignorados e rejeitados, é que vem o julgamento. Encontramos um exemplo desta situação em Ez 33: 11. O mesmo tema continua no Novo Testamento, como é o caso de Mt 23: 37 e 2 Pd 3: 9.[7]
  • Em quarto lugar, o sofrimento tem como causa a ação de satanás (Jó, e Mt 13: 25). A verdade é que satanás tem muito prazer em arruinar a criação de Deus e causar miséria e sofrimento. Deus permite-lhe um poder limitado, mas ele não pode tocar naquele que está em íntima comunhão com Deus (cf. Tg 4: 7).[8]
  • Em quinto lugar, o sofrimento tem como causa a negligência humana.[9]

 

   D. A finalidade do sofrimento

            Há coisas para as quais não temos explicação, nem sabemos porque têm que ser assim. Um exemplo disso é apresentar argumentos que justifiquem os propósitos que o mal e o sofrimento possam ter na vida de um individuo. No entanto, mesmo não conhecendo todos os bons propósitos que Deus tem para a dor e para o sofrimento, não significa que não haja bons propósitos.

Sobre este assunto, Norman Geisler e Peter Bocchino[10] dizem algo muito curioso. Segundo estes escritores, alguma dor física é necessária para o desenvolvimento do caracter. Por exemplo, a compaixão não se atinge sem a miséria, nem a paciência sem a tribulação. Não se adquire coragem sem o temor, e a persistência é provocada pela privação. Em resumo, algumas virtudes seriam totalmente ausentes sem o mal físico. Geisler e Bocchino chegam mesmo a citar Helen Keller, a qual sobre este assunto diz: “O caracter não pode ser desenvolvido na comodidade e na quietude. Somente através da provação e do sofrimento a lama pode ser fortalecida, a visão clareada, a ambição inspirada e o sucesso alcançado.”[11]

Geisler e Bocchino defendem também que um pouco de dor física é necessário para ensinar aos indivíduos que certos tipos de conduta são errados e têm consequências morais e físicas. A decisão habitual de preferir vícios, o orgulho, a ira, o ciúme, a avareza, a glutonaria, a luxúria, e a preguiça, são manifestações da recusa de dominar os impulsos físicos e psicológicos. Deixar de aprender a desenvolver e usar o domínio próprio resultará na redução do interesse pela virtude e desejo de cultivar uma boa personalidade.

Um pouco de dor também é necessário para nos advertir de um perigo maior e iminente.

Um pouco de dor também é necessário para nos ajudar a evitar um sofrimento maior. Por exemplo, quando alguém ignora as suas necessidades de saúde (descanso, dieta, exercício, etc.), é bom que o corpo reaja de maneira dolorida para que esse individuo saiba que algo está errado antes que a situação piore.

Por fim, um pouco de dor é usado por Deus para obter a nossa atenção moral. Da mesma forma que um pai ama o filho e a disciplina para o chamar à atenção, Deus também age dessa forma para connosco. Sobre este assunto, Geisler e Bocchino citam C. S. Lewis, o qual diz: “Deus cochicha connosco nos prazeres, fala-nos à consciência, mas grita connosco nas dores: a dor é o Seu megafone para acordar um mundo moralmente surdo (…) Enquanto o homem mau não encontra o mal inconfundivelmente presente na sua própria existência, na forma de dor, ele permanece enclausurado na ilusão (…) Sem dúvida, a dor como megafone de Deus é um instrumento terrível, pode levar a uma rebelião final e sem volta. Mas dá a única oportunidade que um homem mau pode ter para se emendar. Remove o véu, e planta a bandeira da verdade dentro da fortaleza de uma alma rebelde.”[12]

 

II. O QUE DIZEM AS VÁRIAS RELIGIÕES SOBRE O SOFRIMENTO?

   A. O Deísmo[13]

O Deísmo surge como um reflexo do iluminismo no campo religioso. Em síntese, e segundo esta conceção do século XVIII, Deus abandonou a Sua criação à sua própria sorte para servir de campo de treino para o caráter humano.

Para os que sofrem, pouco ou nenhum consolo encontrarão nos braços dos deístas, pois negam qualquer possibilidade de imanência de Deus, bem como a Trindade, a encarnação de Jesus, a autoridade divina da Bíblia, a expiação, os milagres, qualquer povo especificamente eleito como Israel, e qualquer ato redentor sobrenatural na história. Portanto, o Deísmo é a crença num Deus que fez o mundo, mas que nunca interrompe as operações deste, com eventos sobrenaturais.

Segundo esta conceção, Deus não interfere na Sua criação. Pelo contrário criou-a para ser independente dele mediante leis naturais imutáveis. O Deísmo clássico tenta afastar Deus do mal ao enfatizar que Deus não é imanente no mundo.

 

   B. O Hedonismo[14]

Do grego hçdonç que significa prazer, o Hedonismo consiste nas teorias éticas que identificam o alvo moral como a felicidade, e o prazer. O Hedonismo afirma ser o prazer, o supremo bem da vida humana. Os simpatizantes do Hedonismo procuram fundamentar-se numa conceção mais ampla de prazer, entendida como felicidade para o maior número de pessoas, entendendo que é a tendência moral que defende a maximização do prazer e a minimização do sofrimento na existência humana. A ideia básica que está por trás do Hedonismo formatada pelos epicureus, é que todas as ações podem ser medidas em relação ao prazer e à dor que produzem.

No formato epicureu, o Hedonismo é a filosofia mais popular do mundo hoje. Os hedonistas modernos pensam que a felicidade é o fim último da vida. Propagam que o homem foi criado para ser feliz e nada deve se interpor no caminho dessa felicidade.

Muitos crentes entram em crise quando pensam num cristão a passar por sofrimento. Muitos perguntam: por que é que um cristão sofre? Estará em pecado? Deus está a castigá-lo? Será que não tem fé? Será que é porque desconhece os seus direitos como filho de Deus?

Dificilmente alguém que esteja a enfrentar os piores dias da sua vida, encontra no Hedonismo alívio para a sua dor, pois esta conceção reduz a moralidade ao sentimento, omite os seus aspetos racionais, éticos e sociais, não fornece nenhum critério para distinguir os prazeres superiores e inferiores, dignos ou indignos, animais e espirituais ou de uma pessoa, e os de outra. Além disso, sendo que o prazer é altamente individualista, como alguém que está a sofrer pode encontrar alívio numa conceção que ridiculariza a dor?

Não há no Hedonismo lugar para o autossacrifício, para a abnegação ou para o dever. Quando a obrigação é absolvida no desejo, a moralidade desce à experiência, à procura daquilo que é mais confortável. Se a busca do prazer é constante, então há sempre uma insatisfação, uma procura de novos prazeres, e um certo desencanto perante os velhos prazeres.

O Hedonismo conduz-nos a um estado de egoísmo em que podemos perfeitamente sacrificar o outro se esse sacrifício implicar um novo prazer.

   C. O Estoicismo[15]

O Estoicismo deriva de uma seita de filósofos. Alguns desses filósofos disputaram com o apóstolo Paulo em Atenas, conforme a narrativa bíblica de At 17: 18. A seita teve como fundador um certo Zenom. A sua doutrina era essencialmente panteísta.

Segundo o Estoicismo, o sofrimento decorre de reações despertadas no ser humano por quatro classes de emoções: a dor, o medo, o desejo e o prazer. O ideal do estoico é alcançar a natural aceitação dos acontecimentos, uma atitude passiva diante da dor e do prazer, a abolição das reações emotivas, a ausência de paixões de qualquer natureza.

Uma atitude passiva diante do sofrimento como assevera o Estoicismo, em nada pode contribuir para superar a dor. A maneira como o Estoicismo lida com o sofrimento pode ser resumida em duas objeções:

  • Uma moral sem qualquer espécie de emoção é contrária à própria natureza humana. Viver segundo a natureza é também deixar-se guiar por emoções, visto que elas são muitas vezes a nossa mais humana forma de nos relacionar e apesar de causarem sofrimento também podem causar felicidade.
  • A virtude como sabedoria faz da moral estoica algo acessível às elites intelectuais não estando, portanto, ao alcance do homem comum, de uma escolaridade mínima. O alcance da virtude, a que só o sábio tem acesso, torna a moral elitista e, portanto, algo que não está ao alcance de todos. Contudo, o sofrimento é inerente a todos.

O Estoicismo grego entendia que o sofrimento fazia parte da “razão” ou da “lógica” do universo. A virtude, para os estoicos, consistia em descobrir a direção do destino (ou da natureza) e ajustar a vida com ela. Era importante não sentir paixões ou não se submeter às emoções, mas harmonizar-se com o fatalismo dos acontecimentos fora do controle do homem. Ter uma atitude de indiferença diante do sofrimento, era a melhor resposta que o filósofo Zeno e os seus seguidores ofereciam. Esta era a atitude correta no entendimento estoico de se lidar com o sofrimento e armar-se intimamente contra ele. Harmonizar-se com o fatalismo e ficar refém do sofrimento não ameniza a dor, antes conduz ao desespero. O Estoicismo em nada ajuda aquele que sofre.

 

   D. O Panteísmo[16]

Esta palavra vem do grego, pan e Theós, significa “tudo é Deus” e foi cunhada por John Toland em 1705, para se referir aos sistemas filosóficos que tendem a identificar Deus com o mundo. O Panteísmo apregoa que o finito e o infinito tornam-se uma e a mesma coisa, embora diferentes expressões de uma mesma coisa. O universo passa a ser autoexistente, sem começo, embora sujeito a modificações. De acordo com o Panteísmo, todos os seres e toda a existência de Deus, são concebidos como um todo.

Segundo Zacarias Aguiar, o panteísta diz “que tudo é Deus e nada é mau na sua essência, as coisas apenas parecem más ao nosso entendimento não iluminado.” Tratar o sofrimento como uma ilusão parece ser uma ilusão.

Do ponto de vista bíblico, o Panteísmo é deficiente em maior ou menor grau por causa de duas considerações. A primeira é que o Panteísmo geralmente nega a transcendência de Deus e defende a sua imanência radical. A Bíblia apresenta um equilíbrio. Deus está ativo na história e na sua criação, mas não é idêntico a elas, em menor ou maior grau. A segunda é que, por causa da tendência de identificar Deus com o mundo material, surge outra vez uma negação menor ou maior do caráter pessoal de Deus. Nas Escrituras, Deus não somente possui os atributos de uma pessoa, como também, na encarnação, Ele assume um corpo e torna-se O Deus-homem. Deus é retratado supremamente como uma pessoa. O Panteísmo afirma que Deus é idêntico ao universo criado. A máxima panteísta diz: “Deus é tudo e tudo é Deus.” O Panteísmo tem muitas vertentes e muitos tipos, no entanto, seja qual for a vertente, Deus não é pessoal. Nenhum movimento moderno assumiu tanto as premissas panteístas como a Nova Era. Shirley MacLaine, um arauto do movimento, declarou em Denver nos Estados Unidos “que ela e todas as outras pessoas formam Deus”.

Para o panteísta a história não existe ou é simplesmente relegada ao mundo das aparências, pois ela é cíclica e repete-se infinitamente. O objetivo da alma é abandonar o corpo e tornar-se um com Deus, nem que seja necessário um grande número de reencarnações para alcançar tal objetivo. Para o panteísta que diz: “eu sou Deus e Deus sou eu,” há sérias implicações, pois Deus é o absoluto Imutável, e o homem é um ser transitório e mutável. Como pode então o homem ser Deus se ele muda e Deus não muda? A dor para o panteísta é apenas um fragmento da sua imaginação.

O Panteísmo também não consegue responder ao problema do mal de uma forma adequada. Dizer que a dor e o sofrimento são uma ilusão pode até filosoficamente ser possível, mas é inaceitável para quem está a ser visitado pela dor. Acreditamos que até mesmo os panteístas gritam de dor quando um membro do corpo deles é amputado sem anestesia. O fato de que o bem e o mal são ilusórios e não se distinguem, também é inadequado. Por que é então que os criminosos vão para a prisão se o conceito de bem e mal não existe? Aqueles que estão a viver dias difíceis, não encontrarão consolo no berço dos panteístas, pois as suas dores estão longe de ser apenas uma ilusão.

   E. O Budismo[17]

Ao passo que o Hinduísmo é uma multiplicidade de religiões politeístas e filosofias panteístas, o Budismo é basicamente uma filosofia sem Deus. O Budismo surgiu na Índia cerca de quinhentos anos antes do nascimento de Cristo. Diferente do Hinduísmo, o Budismo pode ser identificado com um fundador específico: Siddhartha Gautama. Buda é um título que significa “iluminado”. Seu fundador desenvolveu a partir de um movimento de reforma dentro do Hinduísmo uma religião essencialmente ateísta. Segundo Norman Geisler, as crenças básicas do Budismo são resumidas em quatro verdades:

  • A vida é sofrimento
  • O sofrimento é causado pelo desejo de prazer e prosperidade
  • O sofrimento pode ser superado pela eliminação do desejo
  • O desejo pode ser eliminado pela Trilha Óctupla

Não há no Budismo esperança em Deus ou no céu, pois não há Deus no ensinamento Gautama. O que buscam é o nirvana, a eliminação de todo sofrimento, desejo e ilusão de autoexistência. Diz-se que, fundamental e inexoravelmente, viver é sofrer. Desse ponto de partida a filosofia budista começou a elaborar a solução do problema para o sofrimento.

Segundo o Budismo, o que dá poder para continuar no ciclo de renascimentos é o desejo, pois dos desejos provêm as ações e estas mantêm o ciclo enfadonho de nascimento e renascimento em que se colhem os seus frutos. Enquanto houver ações haverá o resultado delas, eis a lei do Karma. Esta assevera que é necessário renascer a fim de completar o excedente da recompensa ou do castigo. Para o budista estamos reféns do acaso, isto é, não há um comando divino.

O principal objetivo do Budismo é levar o homem a libertar-se desta vida, tornar-se um com o universo, e assim atingir o nirvana, o nada. Somente assim, disse Gautama, é que seremos livres das aflições desta vida. Há consolo numa filosofia religiosa que não crê que exista um Deus pessoal, que se interessa por nós e apregoa que viver é sofrer?

Para o budista todos os 84.000 ensinamentos de Buda visam unicamente isto: libertar do sofrimento. Buda ensinou a iluminação interior, não obstante, morreu a em busca de mais luz. Nunca afirmou: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.”[18]

 

   F. Hinduísmo[19]

Para o Hinduísmo, o seu ser supremo é indefinível, indiferente e impessoal. No Hinduísmo não há nenhum pecado contra um Deus santo. O mal pode ser superado pelo esforço humano. A única forma do hindu encontrar alívio para o sofrimento, é quando o indivíduo expande o seu ser e consciência a um nível infinito e percebe que o seu eu, é o mesmo que Brahman (o ser absoluto do qual toda a multiplicidade se origina).

O hindu mantém uma atitude semelhante à do budista, pois ele também, ao analisar o problema do sofrimento, estabelece uma prévia conceção de que o seu nascimento originou todos os sofrimentos e desigualdades. Os sofrimentos não provêm realmente do relacionamento rompido com Deus, nem de satanás, do meio ambiente degradado pelo homem, nem ainda dos nossos semelhantes, mas, diz ele, da nossa própria escolha, num nascimento prévio.

O hindu baseia o sofrimento em dois fatos: o renascimento, que explica as desigualdades e os sofrimentos desta vida, e o senso de separação do ser divino. No Hinduísmo, as pessoas sofredoras devem ser abandonadas ao estado de sofrimento, porque esse é o seu destino determinado pelo karma.

O Hinduísmo também apresenta uma possível explicação para o sofrimento e o mal no mundo. De acordo com o Hinduísmo, o sofrimento que qualquer um experimenta, seja enfermidade, fome ou um desastre, é devido às próprias ações maléficas que a pessoa realizou, normalmente em vidas passadas. A alma é a única coisa que importa, pois um dia será livre do ciclo da reencarnação e descansará.

Para os hinduístas e budistas está fora de qualquer questionamento a máxima: a vida sempre está ligada ao sofrimento. A própria condição passageira em si é sofrimento. O único alento para os que creem no Budismo e Hinduísmo quanto ao sofrimento, é que este pode ser visto como uma chance e como purificação de um karma infeliz.

 

   G. O Islamismo[20]

Maomé o fundador do Islamismo nasceu em 570 d.C. na cidade de Meca, na Arábia. O seu pai morreu antes do seu nascimento, e a sua mãe morreu quando ele tinha seis anos, sendo criado primeiramente pelo avô e depois pelo tio.

A palavra Islão é um substantivo formado a partir do verbo árabe que significa “submeter-se, resignar-se ou sujeitar-se”. Islão quer dizer submissão ou resignação, e a sua derivação traz a ideia de ação, e não a de uma simples imobilidade. O próprio ato da resignação obediente está no coração do Islão, mais do que uma aceitação e sujeição passivas à doutrina. Muçulmanos, outra forma substantivada do mesmo verbo, significa: “aquele que se submete”. O ensinamento de Maomé o fundador do Islamismo pode ser resumido em cinco doutrinas:

  • Alá é o único Deus
  • Alá enviou muitos profetas, inclusive Moisés e Jesus, porém Maomé, o último deles, é o maior
  • O Alcorão é o supremo livro religioso, tendo prioridade sobre a Lei, os Salmos e o Injil (Evangelhos) de Jesus
  • Existem muitos seres intermediários (anjos) entre Deus e nós, alguns deles sendo bons e outros maus
  • As obras de cada ser humano serão pesadas, a fim de se determinar quem irá para o céu ou para o inferno, na ressurreição

O Islamismo talvez seja a conceção religiosa mais simplória de ver o sofrimento. O muçulmano impressiona-se com a soberania de Deus. Tudo o que acontece é da Sua vontade. Ele predeterminou e predestinou tudo o que acontece. Tanto o bem como o mal que nos advêm são da Sua vontade. A atitude do fiel é submeter-se a ela.

Muitas crenças muçulmanas vêm da Bíblia, contudo, apesar da influência e semelhanças, as diferenças são notáveis. O Islamismo não crê num Deus pessoal e exclui completamente a Trindade, conforme esta é ensinada na Bíblia. No Islamismo, Deus está divorciado da Sua criação. A Sua transcendência impede-o de ser pessoal. No Islão, a pessoa e a obra de Cristo não têm significado nenhum em termos de fundamentos da fé, pois não acreditam que Cristo é o Filho de Deus, nem que ressuscitou dentre os mortos. No Islamismo o sofrimento não possui nenhum valor religioso.

Que acréscimo, uma religião que nega as principais balizas do cristianismo pode representar na hora da dor? A Trindade, a divindade de Cristo, a ressurreição, a natureza pecadora do homem, e a salvação pela Graça são negadas. É certo o que alguém já disse: “ o Islamismo foi criado por um profeta que morreu; o cristianismo, por um Salvador ressurreto”. A maior fonte de superação da dor vem daquele que o Islamismo nega, Jesus. O fiel ao Islamismo não pode ser consolado com essas palavras: “Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.”[21] Maomé falou que ele e as suas tribos eram os descendentes de Abraão através de Ismael, outro dos filhos de Abraão. Mas não declarou: “Antes que Abraão existisse eu sou.”[22]

H. O Judaísmo[23]

Não se pode considerar a Bíblia como revelação divina sem também reconhecer o lugar dado ao Judaísmo histórico. Enquanto o Cristianismo reconhece que a promessa de um salvador pessoal e espiritual é o ápice da revelação bíblica, o Judaísmo mesmo com as suas ramificações ortodoxas, conservadoras e reformadas tem-se confundido quanto ao seu conceito de messiado. Apesar de haver diferenças marcantes em muitas áreas da crença e da prática entre o Judaísmo e o Cristianismo, existe uma herança comum partilhada:

  • A crença num só Deus, nosso Pai;
  • É Deus que nos salva;
  • A ignorância sobre os Seus caminhos;
  • A humildade diante da Sua onipotência;
  • O conhecimento de que nós pertencemos a Ele, e Ele a nós;
  • O amor a reverência que lhe devemos;
  • A dúvida sobre a nossa fidelidade inconstante;
  • O paradoxo de que nós somos pó, mas ainda assim imagem de Deus;
  • A consciência de que Ele nos quer como companheiros na santificação do mundo;
  • A condenação do chauvinismo religioso arrogante;
  • A convicção de que o amor a Deus é inútil sem o amor ao próximo;

No que diz respeito ao sofrimento, o Judaísmo afirma que ele existe, não apenas por causa da submissão à vontade insondável de Deus, mas igualmente pela circunstância de que se acreditava que Deus era O causador soberano tanto do mal quando do bem. O sofrimento dos justos, e a felicidade dos ímpios tinham de ser percebidos como uma  tribulação para a fé judaica, porque ambos pareciam incompatíveis com a justiça de Deus.

Ainda, segundo Pannenberg, a conceção judaica sobre este assunto, defende que uma vez que Deus consideraria com graça o Seu povo, livrá-lo-ia de todas as suas tribulações, não permitiria chegar à tenda do justo nenhuma “enfermidade”, compensaria em dobro todas as suas perdas, e dar-lhe-ia abundância de dias e prosperidade. No entanto, com as constantes derrotas que culminaram com o cativeiro essa conceção teve que ser remetida para uma visão escatológica que se desenvolveu no judaísmo pós-exílio. Aqui estava outra conceção mais elevada, destruindo a crença superficial de que o justo prosperaria, teria vida longa e que seus olhos veriam somente as tribulações sobrevirem aos outros.

Diante do exposto, podemos perguntar: em qual conceção se encaixa melhor na convicção de que Deus se encontra presente e ativo em relação ao sofrimento no mundo? Temos sérias restrições quanto à complementaridade dessas conceções, visto que todas excluem a pessoa bendita de Jesus como resposta ao problema do sofrimento.

Quanto ao Cristianismo nas palavras de Gustaf Aulén, é bom que se diga que este não é uma religião que tem no bolso do colete, uma explicação imediata para tudo o que acontece. Pelo contrário, o Cristianismo recusa-se a propor uma cosmovisão racional ou, em outras palavras,  transformar a fé num sistema monista de pensamento capaz de resolver todos os enigmas.

O mesmo Gustaf ao explicar a relação da fé com o problema do mal, diz que “se o mal fosse invencível, a fé em Deus estaria morta”, pois segundo ele, “os olhos da fé veem não só o mal em toda a sua fidelidade, mas também, e acima de tudo, o Deus vitorioso”. É claro que essas cosmovisões acerca das causas do sofrimento sugeridas por variados segmentos religiosos, não satisfazem plenamente as indagações causadas pelas perdas e dores e diferentemente do que entende MacGrath pouco se complementam, antes, chocam-se.

 

III. A SOLUÇÃO PARA O SOFRIMENTO

   A. A eliminação do sofrimento

            Mesmo que nos pareça que este problema do sofrimento não tem solução, a verdade é que devemos ter em mente que Deus tem agido a nosso favor, a fim de livrar o mundo do sofrimento. O que nos deixa mais admirados é o facto d’Ele ter feito isso, passando Ele mesmo, pelo sofrimento.

Deus é o Pai que foi testemunha da tortura e da morte do Seu próprio Filho. O Deus, que ama o Seu Filho, permitiu que Ele sofresse, a fim de que nós pudéssemos ficar livres do sofrimento. Devido à paixão e morte de Cristo, aqueles que O têm aceitado como seu Salvador ficam livres do mais intenso sofrimento que se pode imaginar, ou seja, ficarem eternamente separados de Deus. É no próprio sofrimento de Deus que vemos o Seu grande amor.[24]

Deus tem um plano cujo alvo é a eliminação do sofrimento. Mas então porque é que não o faz? Se Deus erradicasse todo o mal que domina o nosso planeta, Ele também teria que erradicar todos os homens maus. E nesse caso, ninguém ficaria isento (cf. Rm 3: 23). Por isso, Deus prefere transformar os homens, em vez de os erradicar. Se Deus removesse todo o mal que existe no mundo, a essência (livre-arbítrio) da humanidade seria destruída, pelo que o homem tornar-se-ia um autómato sem sentimentos nem capacidade de amar. O amor está alicerçado sobre o direito que o individuo tem de escolher .[25]

Eliminar o mal e o sofrimento não é solução para o problema. Na verdade, é o amor de Deus pelo homem que O impede de remover o mal e o sofrimento que há no mundo, por meio de uma exibição do Seu poder. Por esta razão, o plano de Deus consiste na remoção do mal mediante a exibição do Seu amor, ou seja, o amor que Ele demonstrou no calvário. É no amor de Deus que encontramos a chave para a solução definitiva do problema do sofrimento.[26]

 

   B. Cristo, O supremo sofredor

Quando sofremos, olhamos para nós mesmos, para as nossas provações, para os nossos problemas? Vivemos sujeitos às circunstâncias externas, em vez de vivermos acima delas? Ou olhamos para Aquele que experimentou um sofrimento maior que aquele que somos capazes de conceber?[27]

Existem vários detalhes na vida de Jesus que revelam o Seu papel de Messias e de “Servo sofredor”. Por exemplo, a vida terrena de Cristo começou no meio de perseguições e perigos (matança dos inocentes decretada por Herodes). O Filho de Deus assumiu também um papel de profunda humilhação nascendo numa família pobre e adquirindo a nossa natureza humana, com todas as debilidades e fraquezas, bem como a capacidade de sofrer. Embora fosse o tão esperado Messias, Jesus foi desprezado e rejeitado pelo Seu próprio povo. A pessoa de Jesus esteve também constantemente exposta à violência, como no caso de Lc 4: 29. Jesus esteve também, constantemente debaixo de perseguição e conspiração por parte das autoridades político-religiosas judaicas, o que levou à Sua prisão, julgamento e condenação à morte por crucificação. Os sofrimentos de Jesus também incluíram ferozes tentações por parte do diabo (cf. Mt 4: 1).[28]

Jesus, O supremo sofredor, veio a este mundo com o objetivo de sofrer pelos nossos pecados. Como consequência dos Seus sofrimentos, a nossa redenção ficou assegurada. A única coisa que Ele requer de nós é a nossa fé, o nosso amor, o nosso louvor, os nossos corações e a consagração total das nossas vidas.[29]

Quando Cristo vem viver em nós, isso capacita-nos a viver acima das circunstâncias externas por mais dolorosas que elas sejam. Que possamos dizer como Paulo, lá em Rm 8: 35-37: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição. Ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas porem, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.”[30]

 

CONCLUSÃO

            Esta pesquisa permitiu-me chegar à conclusão que talvez o maior teste da fé para o cristão atual, seja o de crer que Deus é bom. Há muita coisa que considerada isoladamente sugere o contrário. É como um tecido vivo visto através duma lupa, o qual se apresenta nítido no meio e baço à volta. Embora não entendamos o que estamos a ver, sabemos que essa zona periférica é nítida pelo que vemos no meio. A vida é como um tecido vivo. Há muitas zonas que se apresentam enevoadas, muitos acontecimentos e circunstâncias que não compreendemos. Contudo, eles devem ser interpretados pela claridade que vemos no centro – a cruz de Cristo. Não precisamos de fazer suposições acerca da vontade de Deus a partir de dados isolados. Ele revelou claramente o Seu caracter e demonstrou-o de forma dramática na cruz (Rm 8: 32).

Deus não nos pede que entendamos tudo, mas que confiemos n´Ele da mesma maneira que pedimos a um filho nosso que confie no nosso amor.

Temos paz, quando reconhecemos conscientemente que por nós só conseguimos ver alguns fios do grande tapete da vida e da vontade de Deus, e não o quadro completo. Então podemos afirmar calma e alegremente, o que Paulo disse aos romanos em Rm 8: 25: “…que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus e daqueles que são chamados pelo seu decreto.”

Mais do que o sofrimento em si, é a nossa reação ao sofrimento, que determina se a experiência vai ser uma bênção ou uma maldição.

Quando, pela Graça de Deus, podemos ver toda a vida através da lente da fé no amor de Deus, podemos afirmar como Habacuque em Hc 3: 17, 18: “Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide, o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento, as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia eu me alegrarei no Senhor, e exultarei no Deus da minha salvação.”

 

BIBLIOGRAFIA

LITTLE, Paul. Explicando e expondo a fé. 1ª ed. Editora Núcleo, 1985

GEISLER, Norman & Peter Bocchino. Fundamentos inabaláveis. Editora Vida, 2003

GRIFFIN, William & Ruth Graham Dienert. O cristão fiel. 1ª ed. Editora proclamação, 1996

 

WEBGRAFIA

http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/sofrimento

http://tede.est.edu.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=228


[1] LITTLE, Paul. Explicando e expondo a fé. 1ª ed. Editora Núcleo, 1985, p. 135

[2] Ibidem, pp. 135, 136

[4] LITTLE, Paul. Explicando e expondo a fé. 1ª ed. Editora Núcleo, 1985, p. 136

[5] Idem

[6] Ibidem, p. 138

[7] Ibidem, pp. 140, 141

[8] Idem

[9] LITTLE, Paul. Explicando e expondo a fé. 1ª ed. Editora Núcleo, 1985, p. 141

[10] GEISLER, Norman & Peter Bocchino. Fundamentos inabaláveis. Editora Vida, 2003, pp. 256-258

[11] Ibidem, p. 256

[12] GEISLER, Norman & Peter Bocchino. Fundamentos inabaláveis. Editora Vida, 2003, p. 258

[18] Jo 8: 12

[21] Jo 16: 33

[22] Jo 8: 58

[24] GRIFFIN, William & Ruth Graham Dienert. O cristão fiel. 1ª ed. Editora proclamação, 1996, pp. 230, 231

[25]  Ibidem, pp. 230-232

[26] GRIFFIN, William & Ruth Graham Dienert. O cristão fiel. 1ª ed. Editora proclamação, 1996, pp. 230-232

[27] Ibidem, pp. 233, 234

[28] Ibidem, p. 234

[29] Idem

[30] GRIFFIN, William & Ruth Graham Dienert. O cristão fiel. 1ª ed. Editora proclamação, 1996, pp. 234, 235

Evidências da Divindade de Cristo

EVIDÊNCIAS DA DIVINDADE DE CRISTO

Daniel Camargo Moreira

INTRODUÇÃO

JesusNo âmbito da cadeira de Apologética, do 3º ano do curso de Teologia e Bíblia em regime presencial do Monte Esperança – Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, foi proposto aos alunos um trabalho cujo tema estivesse relacionado com os conteúdos da disciplina.

“As Evidencias da Divindade de Cristo” foi o tema escolhido para a monografia.

O desafio será apresentar como Deus veio na pessoa de Jesus entrar fisicamente no nosso mundo. Um Deus infinito veio viver num mundo finito. Aquele que sabia exactamente como as coisas deveriam ser, veio a um lugar em que as coisas obviamente não eram assim. Em Jesus Cristo foi, e para sempre será, totalmente Deus e totalmente homem em uma pessoa. E essa pessoa mudou o curso da história para sempre.

Jesus Cristo não foi apenas um grande professor e um bom homem. Ele era (e é) Deus encarnado em carne humana. A Palavra viva de Deus. Como um abordagem deste facto tremendo, devemos examinar brevemente Suas reivindicações únicas, de nascimento original, a vida única e exclusividade da sua morte, e a maior evidência da sua divindade que é a ressurreição. Vamos examiná-la sob várias categorias.

Serão usadas como pano de fundo para o trabalho, citações Bíblicas, para além de outros livros de literatura de referência.

“…porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Colossensses 2.9)

 

       I.            DEFINIÇÃO DE DIVINDADE

Divindade é, geralmente, uma referência a um ser que está no estado de ser Deus. Ao dizer que um ser é “divino”, está-se dizendo que este ser possui a natureza de Deus, ou está no estado de ser Deus. Na Bíblia, Theos, Deus, refere-se “ao ser supremo sobrenatural como criador e mantenedor do universo: Deus”.[1] A Bíblia se refere a Deus como aquele que “fez o mundo e tudo o que nele existe” (Actos 17:24). Palavras derivadas de theos, como theotes, se referem à “natureza ou estado de ser Deus”.[2] Ezequias Soares acrescenta que a dife­rença é que a palavra usada em Romanos 1.20 tem o sentido de atributo de Deus, sua natureza e propriedades divinas. E em Colossenses 2.9, a pala­vra indica a essência divina da Deidade, a personalidade de Deus, pois afirma com referência a Jesus “nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. O apóstolo diz que se trata de “toda a plenitude da divindade”, e não alguns lampejos, ou um raio de luz, ou mesmo uma iluminação acima de outros homens. A divindade de Jesus é plena e absoluta.[3]

   II.            AS REIVINDICAÇÕES DE CRISTO

Para todas as aparências humanas, o Senhor Jesus Cristo era apenas um pregador itinerante bastante obscuro, sem educação formal, ministrou apenas 3 anos e meio na pequena província Romana da Palestina, com um grupo heterogéneo de discípulos, e, finalmente, executado como um criminoso.[4]

Ele ainda fez declarações surpreendentes sobre si mesmo, reivindicações que, se não é verdade, teria marcado o rapidamente como sendo um louco ou um charlatão. Sua reivindicação de ser o Filho de Deus, de facto, levou à sua prisão e execução.

Surpreendentemente, no entanto, essas mesmas reivindicações provaram-se por mais de 2.000 anos para ser incrivelmente profecias cumpridas. Consideramos algumas destas implicações:

A.     Jesus afirmou ser o “Eu Sou”

O Evangelho de João tem várias feições especiais que fortalecem a apresentação do seu tema principal. As reivindicações de Jesus de sua deidade são realçadas por sete princípios “Eu Sou” no Evangelho de João. Jesus disse: “Eu Sou o pão da vida” (Jo 6.35, 41, 48 e 51), “Eu Sou A Luz do Mundo” (Jo 8.12, 9.5), “Eu Sou a Porta” (Jo 10.7,9), “Eu Sou o Bom Pastor” (Jo 10.11,14), “Eu Sou a Ressurreição e a Vida” (Jo 11.25), “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14.6), “Eu Sou a Videira Verdadeira” (Jo 15.1-5).

B.     Jesus afirmou a sua Pré-Existencia

“Antes de Abraão nascer, eu sou!” (Jo 8.58)

Talvez seja a reivindicação mais forte que Jesus tenha feito de ser Javé. Essa afirmação reivindica não só existência antes de Abraão, mas igualdade com o “Eu Sou” de Êxodo 3.14. Os judeus à sua volta entenderam claramente seu significado e pegaram pedras para matá-lo por blasfémia (v. Jo 8.58; 10.31-33). A mesma afirmação é feita em Marcos 14.62 e João 18.5,6.[5] Adrian Rogers sublinha:

O grande EU SOU: na sarça-ardente, quando Moisés perguntou a Deus qual era o seu nome, a fim de instruir o povo de Israel, Deus respondeu: “EU SOU QUEM SOU. E disse ainda: Você dirá o seguinte: EU SOU enviou-me a vocês.” (Êxodo 3:13,14). Este é o significado de Jeová, o nome santo de Deus, traduzido do hebraico. No passado, Deus era EU SOU. Hoje, ele é EU SOU. Amanhã, será EU SOU. Jesus estava dizendo aos discípulos: “O Deus Eterno, EU SOU, está com vocês. Não tenham medo.” “EU SOU” é uma declaração de poder, uma confirmação de presença, um anúncio de fartura. Jesus é o EU SOU no meio de sua tempestade. [6]

C.     Jesus afirmou que as Suas Palavras são Eternas

“Minhas palavras não passarão” (Mt 24:35).

Embora Cristo nunca ter escrito um livro ou mesmo um sermão, Seus ensinamentos e suas palavras são os mais lidos em toda a literatura do mundo, universalmente reconhecido como a maior, e mais memoráveis, palavras mais edificantes já faladas. Ele é universalmente reconhecido como o maior Mestre que já viveu.[7]

D.    Jesus afirmou atrair todos a Ele

“Se eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim” (Jo 12:32)

Sua morte como um criminoso condenado, levantou-se e empalado numa cruz, era horrível e brutal, mas a história deste facto, atraiu homens de todas as nações e idade à acreditar em Jesus como seu Salvador e Senhor expiatório. Sua cruz tem sido uma inspiração para todas as classes e tipos de homens, mulheres e crianças.[8]

E.      Jesus afirmou que a  Igreja é d’Ele

“As portas do inferno não prevalecerão contra (minha igreja) “ (Mt 16:18).

A “igreja” fundada por Cristo, as diversas congregações de todos os que crêem nEle como o Filho de Deus e Salvador redentor, tem sofrido intensa perseguição através dos tempos, e ainda continua a fazer conversões em todas as terras e em todos os tempos, mesmo apesar da apostasia eclesiástica entre os seus membros.[9]

F.      Jesus afirmou Sua Unidade e Harmonia com o Pai

“Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30-38)

Jesus afirma que Ele e o Pai são um, ou seja nele há unidade e harmonia com o Pai. Vemos que Deus Pai, Deus Filho e o Espírito Santo possuem personalidades próprias, tendo unidade de natureza, Grudem afirma que essa unidade é exactamente a pedra fundamental da doutrina da Trindade.[10] O Deus triúno possui uma só essência, mas três pessoas distintas. Contudo McDowell salienta que a submissão de Jesus não nega a sua igualdade com o Pai e o Espírito santo. O Filho de Deus deve ter a mesma natureza que seu Pai.[11]

G.    Jesus afirmou Possuir a Mesma Glória que o Pai

“Glorifica-me tu, ó Pai … com aquela glória que eu tinha contigo…” (Jo 17.5)

Jesus reivindica glória, além de declarar que já existia e que esta existência se dava junto ao Pai vemos isto em João 1.1. Isso implica em que, 1) Jesus é Deus, pois possui a mesma glória que o Pai; 2) Implica novamente na exposição da Trindade; 3) Demonstra um atributo divino na pessoa de Jesus: a eternidade. Portanto, ao contrário do que os críticos têm defendido, Jesus afirmou de maneira clara que é Deus. Isso demonstra que os críticos carecem de boa interpretação das claras e objectivas declarações de Jesus. Segundo Mcdowell e Stewart:

“Buda não reivindicou ser Deus; Moisés nunca disse ser Jeová; Maomé não se identificou como Alá; e em nenhum lugar encontramos Zoroastro reivindicando ser Ahura Mazda. Mas Jesus, o carpinteiro de Nazaré, disse que quem visse a Ele (Jesus) via o Pai (João 14.9) ”. [12]

H.    Jesus afirmou Seu Poder de erdoar pecados

“… Perdoados estão os teus pecados” (Mc 2.5-12)

Jesus perdoou os pecados daquele homem. Quem mais pode perdoar pecados senão Deus? Esta pergunta que ecoa de forma surpreendente foi a mesma que os escribas fizeram a Jesus (v. 7). Sem dúvidas, esta é uma das grandes declarações de Cristo quanto à sua divindade. E Ele foi além, pois perdoou os pecados (v.5), exortou os escribas (v. 8-10) e curou o homem de sua enfermidade (v. 11), o que foi motivo de grande glorificação (v. 12).

Lee Strobel, em um de seus livros, entrevistou Donald A. Carson, doutor em NT, especialista em diversas áreas teológicas, incluindo o estudo do Jesus histórico. Para Carson, uma das grandes evidências da divindade de Cristo é o perdão de pecados:

“De todas as coisas que Ele fez, a que mais me surpreende é o perdão de pecados (…). Se você faz alguma coisa contra mim, tenho o direito de perdoá-lo. Todavia, se você faz algo contra mim e aí vem uma pessoa e diz ‘eu lhe perdoo’, que ousadia é essa? A única pessoa capaz de pronunciar genuinamente essas palavras é Jesus, porque o pecado, mesmo se cometidas contra outras pessoas, é, antes de tudo e principalmente, um desafio a Deus e às suas leis (…). Aparece então Jesus e diz aos pecadores: ‘os seus pecados estão perdoados’. Os judeus imediatamente viram nisso uma blasfémia. Eles reagiram dizendo: ‘quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?’”[13]

Norman Geisler e Peter Bochino descreve que:

“Todos nós podemos entender que um homem perdoe as ofensas que recebe. Pisam em meu pé e eu perdoo, roubam meu dinheiro e eu perdoo. Mas o que pensaríamos de alguém que, não tendo sido roubado nem pisado, anunciasse que nos perdoa por termos pisado nos pés dos outros e roubado o dinheiro dos outros? O mínimo que poderíamos fazer seria chamar de petulância obtusa a conduta de quem assim procedesse. Entretanto, foi isso que Jesus fez.”[14]

I.       Jesus afirmou Seu Poder de ressuscitar os mortos

“Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer. Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão [...] e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados.” (Jo 5. 21, 25, 29).

Os judeus do tempo de Jesus (com excepção da pequena seita dos saduceus) acreditavam na ressurreição e na vida depois da morte. Por esta razão Marta pôde dizer a Jesus de seu falecido irmão Lázaro: “Eu sei… que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia” (João 11.24). Como todos os judeus, ela tinha aprendido esta doutrina desde a infância. Mas os judeus acreditavam que somente Deus podia ressuscitar os mortos. Nesta passagem, Jesus alega que Ele é quem ressuscita os mortos.[15]

III.            AS AFIRMAÇÕES DOS DISCÍPULOS

Os registos que os discípulos fizeram sobre as palavras, as obras e quem Cristo era, deixam muito claro que o Senhor é verdadeiramente o Deus Salvador. O contexto religioso em que os discípulos viviam poderia ser uma barreira aos mesmos, afinal, aceitar as palavras de um homem que afirmou ser Deus, na cultura e concepção de quem Deus é para os judeus, seria impossível, se Jesus realmente não fosse quem Ele disse ser.

Segundo Little, Jesus Fez da sua identidade o ponto fulcral do seu ensino. A grande e importante questão que punha aos que o seguiam era: “Vós, quem dizeis que eu sou?” Quando Pedro respondeu e disse, “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mt. 16.15,16), Ele não se mostrou chocado, não repreendeu Pedro. Pelo contrário, elogiou-o![16]  Em todo NT, podemos verificar as afirmações que os discípulos fizeram sobre Cristo:

  • João Batista – Eis o Cordeiro de Deus”! (Jo 1:29);
  • Natanael -“Tu és Rei de Israel!” (Jo 1:49).
  • João -“Ele é o Verbo de Deus!” (Ap 19:13); Primeiro e último: Ap 1.17; 2.8; 22.13, A verdadeira luz: Jo 1.19, Salvador do mundo: Jo 4.42, Esposo (Ap 21.2), Redentor (Ap 5.9)
  • Pedro - Rocha ou pedra (1 Pe 2.6-8), “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mt. 16.15,16), Supremo pastor (1 Pe 5.4), Perdoador de pecados (At 5.31)
  • Paulo – Rocha ou pedra (1 Co 10.4), Esposo: Ef 5.28-33, Redentor (Tt 2.13), Juiz dos vivos e mortos (2 Tm 4.1), Perdoador de pecados (Cl 3.13)
  • Os discípulos de Emaús“Jesus, o Nazareno – poderoso profeta em palavras e obras!” (Lc 24:19).
  • O escritor de Hebreus – Grande pastor (Hb 13.20)

Os discípulos chamaram Jesus de Deus: Tomé, ao ver as marcas de Jesus (Jo 20.28), Paulo afirma com toda veemencia “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divinda­de” (Cl 2.9), tambem afirma como grande Deus e Salvador (Tt 2.13), Cristo como Deus, antes da encarnação (Fp 2.5-8) e o autor de Hebreus (Hb 1.3,8), João, em sua afirmação quanto ao Verbo (Jo 1.1), Felipe, pregando ao Eunuco (At 8.35-38), Estevão, na sua grande defesa (At 7), Pedro e João nas epístolas (1 e 2 Pd; 1, 2 e 3 Jo), e Judas (Jd 4).

A declaração de Tomé quanto a quem é Jesus “Senhor meu, e Deus meu”! Demonstra com muita evidência que Jesus disse ser Deus e os Seus discípulos o confessaram, Ele foi prometido no AT, realizou actos divinos, possui títulos divinos e foi adorado como Deus. Segundo Norman Geisler:

“Todas essas pessoas adoraram a Jesus sem uma palavra de repreensão por parte Dele. Jesus não apenas aceitou essa adoração, como até mesmo elogiou aqueles que reconheceram sua divindade (Jo 20.29; Mt 16.17). Isso só poderia ser feito por uma pessoa que considerava seriamente ser Deus.”[17]

McDowell nos diz que:

“A maioria dos seguidores de Jesus eram judeus de profundas convicções religiosas, que acreditavam em apenas um Deus verdadeiro. Eram monoteístas até o fundo da alma, e, no entanto, reconheceram-no como o Deus encarnado. Devido à sua profunda formação rabínica, Paulo ainda teria menos probabilidade de atribuir divindade a Jesus, adorar um homem de Nazaré e chamá-lo Senhor. Mas foi exactamente o que ele fez. Reconheceu o cordeiro de Deus (Jesus) como sendo Deus.”[18]

Paul Little sublinha:

“Entre aqueles que reconhecem uma divindade faz uma grande diferença se o divino é representado meramente pelo conceito de Deus – o objecto da especulação filosófica – ou pelo Deus vivo ao qual os homens adoram em todos os actos de piedade que integram os rituais da religião.”[19]

Alister MacGrath em seu livro da teologia cristã escreve que Arthur Michael Ramsey, destacado escritor teológico inglês, defendeu a mesma teologia de Barth:

“A importância da confissão de que Jesus é o Senhor não está apenas no facto de que Jesus seja divino, mas também de que Deus seja semelhante a Cristo.”[20]

 IV.            OS ATRIBUTOS DA DIVINDADE EM CRISTO

A.     Jesus é Omnipotente

A Bíblia descreve Jesus como omnipotente: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18). Ele já tinha esse poder antes de vir ao mundo, basta uma lida em Filipenses 2.6-11 para se confirmar essa verdade. Veja ainda Apocalipse 1.8; 3.7. Isso também se diz do Espírito Santo: “não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos” (Zc 4.6), e ainda: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há-de nascer, será chamado Filho de Deus”.[21]

B.     Jesus é Omnisciente

A omnisciência é outro atributo que só Deus possui e, no entanto, Jesus revelou esta omnisciência durante o seu ministério. Em João 1.47,48, por exemplo, quando disse que viu Natanael debaixo da figueira. Sabia que no mar havia um peixe com uma moeda e que Pedro ao lançar o anzol o pescaria e com o dinheiro pagaria o imposto, tanto por ele como por Cristo (Mt 17.27). Em João 2.24,25 está escrito que não havia necessidade de ninguém falar algo sobre o que há no interior do homem, porque Jesus já sabe de tudo. A Bíblia diz que só Deus conhece o coração dos homens (1 Rs 8.39), então Jesus é não só omnisciente, mas também é Deus. Ele sabia que a mulher samaritana já havia possuído cinco maridos e que o actual não era o seu marido (João 4.17,18). Encontramos em João 16.30; 21.17, que Jesus sabe tudo, e Colossensses 2.2,3 nos diz que em Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência”. Não há nada no universo que Jesus não saiba, tudo porque Ele é omnisciente e é Deus.[22]

C.     Jesus é Omnipresente

O Filho também É omnipresente. Jesus é ilimitado pelo tempo e pelo espaço. Ele disse: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18.20), e mais: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mt 28.20). Essas duas passagens mostram que Jesus está presente em qualquer parte do globo terrestre porque ele é omnipresente. A Bíblia diz que o Espírito Santo está em toda a parte: “Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face?” (Sl 139.7).

D.    Jesus é Eterno

As Escrituras Sagradas ensinam que o Filho é eterno. A pré-existência de Cristo é eterna: “…e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5.2). Isto revela que o Filho já existia antes dos tempos dos séculos, antes de todas as coisas. O profeta Isaías anuncia o aparecimento do Messias dando-lhe cinco nomes a saber: “…e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6).[23]

E.      Jesus é Santo

O atributo da santidade está também presente em Jesus, e da mesma forma o atributo da justiça. Jesus é santo e justo: “Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homem homicida” (At 3.14); “Ministrando o evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espirito Santo” (Rm 15.16).[24]

    V.            O TRILEMA DA IDENTIDADE DE JESUS CRISTO

Quando Jesus foi levado a julgamento perante o Sinédrio, o sumo-sacerdote judeu perguntou: “Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?” Para essa pergunta Cristo respondeu simplesmente: “Eu sou” (Marcos 14:62). Tendo em vista a natureza exaltada de tal afirmação, e os seus resultados finais definitivos, não são apenas três pontos de vista possíveis pode-se entreter em referência à afirmação de Cristo de ser divindade: (1) Ele era um mentiroso e vigarista, (2) Ele era um louco, ou (3) Ele era exactamente quem ele disse que era.

Em seu livro, Evidência que Exige um Veredicto, José McDowell intitulou um capítulo: “o Trilema – Senhor, Mentiroso ou Lunático” Seu objectivo era destacar que, considerando a natureza grandiosa das reivindicações de Cristo, Ele era um mentiroso, um lunático, ou o Senhor. McDowell apresenta neste capítulo sobre a divindade de Cristo com uma citação do apologista britânico famoso da Universidade de Cambridge, CS Lewis, que escreveu:

Estou tentando aqui para impedir que alguém diga a grande tolice que muitas vezes as pessoas dizem sobre ele: “Estou pronto a aceitar Jesus como um grande mestre moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus.” Essa é a uma coisa que não devemos dizer. Um homem que era somente um homem e dissesse o tipo de coisas que Jesus disse não seria um grande professor de moral. Ele seria ou um lunático, no mesmo nível que o homem que diz que é um ovo cozido ou então ele seria o Diabo do Inferno. Você deve fazer a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou é um louco ou algo pior. Você pode calá-lo por um tolo, pode cuspir nele e matá-lo como um demónio, ou você pode cair a seus pés e chamá-lo Senhor e Deus. Mas não vamos vir com algum disparate sobre ele ser um grande mestre humano. Ele não deixou que se abrem para nós. Ele não tinha a intenção de.[25]

 VI.            O NASCIMENTO DE CRISTO

O nascimento de Jesus Cristo foi absolutamente único entre todos os nascimentos da história humana. O nascimento em si foi um nascimento humano normal, mas sua concepção foi por uma obra miraculosa do Espírito Santo, sem pai humano, como uma criação especial de Deus no ventre de uma virgem pura.[26] Como o corpo do primeiro Adão, vemos que “o último Adão…o Senhor do céu” (1 Co 15.45,47) foi directamente formado por Deus e plantado como uma única “Semente” divina no ventre de Maria, livre de uma inerente natureza pecaminosa e de quaisquer defeitos transmissíveis mutacionais”, “como de um cordeiro sem defeito e sem mácula” (1 Pe 1.19).Seu nascimento foi exclusivamente o foco de muitas profecias antigas, todas cumpridas Nele.[27]

  • Semente da mulher (Gn 3,15; Ap 12,1-17).
  • Coisa nova sobre a terra (Jr 31,22; Gl 4,4).
  • O corpo divinamente preparado (Sl 22,9; Ele 10,5).
  • Nascido de uma virgem (Is 7.14; Mt 1,22-23).
  • Reconciliação da linhagem de Davi (Jr 22,28-30; 23,5-6; 33,15-17).
  • Linhagem de Jeconias (Salomão) (legal) por intermédio de Joseph (Mt 1.6, 12-13).
  • Linhagem de Natã (biológico) por meio de Maria Lc 3. 3.23, 31).

Além das profecias, evidências de seu cumprimento no nascimento virginal são os registos históricos directos de Mateus e Lucas (Mt 1,20-25; Lc 1,30-35). Está implícito em outros livros (Mc 1,1; Jo 1,1-15; Gl 4,4).

VII.            A VIDA MILAGROSA DE CRISTO

A vida e os ensinamentos de Jesus Cristo têm influenciado o mundo mais do que os de qualquer outro homem que já viveu. Eles são inexplicáveis ​​se Ele era apenas um homem como os outros homens. Embora verdadeiramente humano, Deus tornou-se homem, ele também era Deus, o homem-Deus. Tim La Haye diz que:

“As opiniões populares sobre Jesus podem ser reduzidas a apenas duas: ou Ele foi Deus em forma humana ou foi simplesmente um homem bom. Uma delas não pode ser verdadeira. É impossível vê-lo como um homem bom, se Ele não for o Filho de Deus, pois foi isso precisamente que Ele alegou ser. Se Ele não era Deus, mas alegou ser, então não pode ser bom; Ele seria ou louco ou um grande mentiroso.” [28]

A.     Os Milagres de Cristo

Seu poder sobrenatural foi demonstrado frequentemente em milagres que só o Criador poderia fazer (por exemplo, transformar água em vinho, ressuscitar os mortos). Eles nunca foram milagres carnais ou caprichos (note Mt 12,39 e Lc 23,8-9, por exemplo), mas sempre foram utilizados para atender alguma necessidade imediata e específica do ser humano (Mt 4,24).

Seus milagres também foram usados ​​para autenticar suas reivindicações e para gerar fé (note Jo 2.11,23). No final de escrever o Evangelho, o apóstolo João seleccionou sete milagres que Cristo tinha realizado (por exemplo, alimentando uma multidão com apenas alguns pães e peixes), a fim de provar a seus leitores que “Jesus era o Cristo, o Filho de Deus” (Jo 20,31).Morris descreve que:

“Houve outros milagreiros ao longo da história, mas nenhum como Jesus Cristo.”[29]

Little atesta ainda que:

“Cristo demonstrou um poder sobre as forças naturais que só podia pertencer a Deus, o Autor dessas forças.”[30]

B.     Os Ensinamentos de Cristo

Da mesma forma, o mundo já conheceu muitos grandes mestres, mas nenhum cujos ensinamentos tiveram o impacto eterno que os de Cristo tiveram. Eles sempre foram dados com autoridade, sem qualquer dúvida ou reserva (Mt 7.28-29; Lc 4,32), mas são sempre gracioso na expressão (Lc 4,22; Jo 7,46), excepto quando a hipocrisia era tão flagrante a exigir a condenação judicial. William Craig nos diz que:

“Evidentemente, Jesus de nazaré não andou pela Palestina se apresentando como Deus. Os Evangelhos não o retractam de tal forma, nem é isso consistente com a doutrina cristã da encarnação, que declara que Jesus como Homem tinha uma consciência humana extraordinária, mesmo que ela era informada sobrenaturalmente. Em vez disso, a Auto-compreensão divina de Jesus se torna evidente explicitamente por meio do seu ensino e comportamento.”[31]

Seu equipamento aparente para o ensino era mínimo (ensino, pesquisa, viagens), mas suas palavras eram exactamente sempre apropriadas para a ocasião. Ninguém pode pensar como poderia ter sido melhor, e Ele nunca teve que se retractar ou se desculpar por nada do que Ele disse. Segudo Ajith Fernando:

“O que Jesus diz: deve ser levado a sério, pois quando ele fala, Deus fala. Suas palavras autenticam as suas reivindicações à divindade. O valor autenticador das palavras de Jesus acha-se em duas áreas. Primeiro: sua relevância e introspecção penetrante sugerem que quem está falando, não é uma pessoa comum, e que nela se acha a resposta de Deus aos problemas da vida. Existe atracção espantosa nos seus ensinos. Segundo: suas reivindicações a respeito de si mesmo nos deixam com a conclusão inescapável de que ele se considerava igual a Deus.[32]

Morris afirma que:

“A maioria dos homens, mesmo aqueles que rejeitam a Sua divindade, reconhece-o como o maior Mestre de todos os tempos.” [33]

VIII.            A IMPECABILIDADE DE CRISTO

Todos os homens – mesmo os grandes e os chamados homens santos – são pecadores (Rm 3.23), em algum grau, e admitem isso a menos que sejam loucos, para não o fazer. Mas o Senhor Jesus, único entre todos os homens que já viveu, nunca pecou, ​​seja por acção ou omissão, sempre fez exactamente o que era certo.

Isso foi reconhecido até mesmo por seus inimigos, os que traíram e O crucificaram (Mt 27.4; Lc 23.4). Geisler descreve que:

“Alguns dos inimigos de Cristo trouxeram falsas acusações contra ele, mas o veredicto de Pilatos foi o veredicto da história: “Não encontro motivo para acusar este homem” (Lc 23.4). Um soldado no Calvário concordou, dizendo: “Certamente este homem era justo” (Lc 23.47), e o ladrão na cruz ao lado de Jesus disse: “Mas este homem não cometeu nenhum mal” (Lc 23.41). Mas o verdadeiro teste e o que as pessoas mais próximas de Jesus disseram sobre seu carácter.”[34]

Seus amigos mais próximos, aqueles que o conheceram intimamente e observaram de perto suas acções, também reconheceram sua impecabilidade (At 10,38; 1 Pd 2.22; 1 Jo 2.2; 3.5). Geisler diz ainda que:

“Seus discípulos viveram e trabalharam bem próximos dele durante três anos, mas suas opiniões sobre ele não se tornaram negativas. Pedro chamou-o “cordeiro sem mancha e sem defeito” (l Pe 1.19) e acrescentou: “e nenhum engano foi encontrado em sua boca” (2.22). João chamou-o de “Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2.1; cf. 3.7). Paulo expressou a crença unanime da igreja primitiva de que Cristo “não tinha pecado” (2C0 5.21), e o autor de Hebreus diz que foi tentado como um homem, “porem sem pecado” (4.15).”[35]

Além disso, o próprio Cristo afirmou ser sem pecado (Lc 5,20-21, Jo 8,29, 46). Isso não era orgulho piedoso, mas simplesmente uma expressão da realidade. Ele exemplificou a pureza da vida (cf. Ef 5,1-4), o controlo perfeito de Suas palavras (Col 4,6), e o fruto do Espírito (Gálatas 5,22-23). Grudem sublinha que:

“Embora o NT afirme com clareza que Jesus era plenamente homem exactamente como nós somos, também afirma que ele era diferente em um aspecto importante: Jesus era sem pecado, e nunca pecou durante toda a sua vida.”[36]

Little nos diz que é também impressionante ver que João, Paulo e Pedro, todos ensinados desde a mais tenra infância a crerem na universalidade do pecado falaram sobre a inculpabilidade de Cristo: “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1 Pd. 2.22); “Nele não há pecado” (1 Jo 3.5); Jesus “não conheceu pecado” (2 Co 5.21).[37]

A união única do “Deus pleno” e homem perfeito em Jesus Cristo foi chamado por teólogos hipostática (união “substantiva”, o mistério é difícil de entender, excepto pela fé, mas os Seus milagres, os Seus ensinamentos, Sua vida, Sua morte, e Sua ressurreição são impossíveis de explicar de outra maneira.[38]

 IX.            A NOTÁVEL MORTE DE CRISTO

Todos os homens morrem, mas ninguém pode simplesmente volitivamente morrer e “entregar o espírito” (uma frase usada por todos os escritores dos quatro Evangelhos), como Jesus fez, quando todas as profecias bíblicas referentes Sua morte tinham sido finalmente cumprido (Jo 19,28-30), Sua cruz e sua morte foram intensamente cruel e hediondo, ainda que tenha sido incrivelmente magnético, atraindo homens e mulheres de todos os tempos, lugares e tipos para si mesmo, assim como Ele havia profetizado (Jo 12,32-33; Gl 6,14).[39]

O facto de Seu sepultamento também ter sido necessária uma forte autenticação, a fim de documentar que a sua morte foi uma morte física e Sua ressurreição fora uma ressurreição corporal. Preparações foram feitas de antemão por José de Arimateia e Nicodemos, com um sepulcro novo e jardim arranjado perto do local da crucificação, e com todas as roupas do enterro necessárias em mãos, para que Ele pudesse ser enterrado por mãos amorosas, logo que ele estava morto. Depois disso, as autoridades só controlava o acesso ao seu túmulo, enquanto Seu corpo estava lá. Consequentemente, ambos os Seus amigos e seus inimigos sabiam que Ele tinha de facto morrido e fora sepultado, para que pudessem mais tarde verificar sua ressurreição corporal.[40]

    X.            A RESSURREIÇÃO DE CRISTO

O nascimento, a morte e a ressurreição de Jesus foram os acontecimentos mais importantes da história da humanidade: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15.3,4). Tudo isso já estava previsto nas Escrituras pelos profetas. A morte de Jesus foi expiatória e seu sangue, Deus propôs para expiação de nossos pecados: “sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para a propiciação pela fé no seu sangue” (Rm 3.21,22). Isso significa que a morte de Jesus foi diferente, pois ele morreu em nosso lugar, pagando a nossa dívida para com Deus.[41] Little diz que:

“A suprema credencial de Jesus para autenticar a Sua pretensão à divindade foi o facto de ter ressuscitado dentre os mortos.”[42]

“Se a ressurreição aconteceu, não há dificuldade alguma com qualquer dos outros milagres.”[43]

Tim La Haye nos diz que:

Hoje, quase no vigésimo primeiro século da era cristã, nós temos uma decisão a tomar. A qual relato devemos dar crédito – ao das quinhentas testemunhas oculares que viveram naqueles dias, ou ao dos cépticos “eruditos” que viveram mil e setecentos anos depois dos acontecimentos? Se nossa decisão baseia-se na evidência e não meramente na aversão pelo sobrenatural, há somente uma escolha: Jesus de facto ressuscitou dentre os mortos[44].

Jesus mandou que na pregação do evangelho fosse anunciada a sua morte e ressurreição: “Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse e, ao terceiro dia, ressuscitasse dos mortos; e, em seu nome, se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24.46,47). Negar, pois, essa verdade é continuar no mesmo estado de pecado e miséria, e além disso, o Cristianismo não teria sentido: “E, se Cristo não ressuscitou é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos” (1 Co 15.17,18).[45]

Essa ressurreição é a vitória esmagadora sobre Satanás, o pecado, a morte e o inferno: “…fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1.18). Veja ainda 1 Coríntios 15.54-56. Ele ressuscitou para a nossa justificação, pois sem essa ressurreição não poderíamos ser justificados diante de Deus e assim estaríamos condenados: “o qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para a nossa justificação” (Rm 4.25). A ressurreição corporal de Jesus é um facto insofismável, foi o tema da pregação dos apóstolos e é a base da nossa salvação.[46]

 

CONCLUSÃO

Em conclusão vemos que Jesus não foi um mero líder revolucionário ou um simples fundador de uma nova religião. Ele não tinha nenhum treinamento formal rabínico (João 7:15). Ele possuía nenhuma riqueza material (Lucas 9:58, 2 Coríntios 8:9). No entanto, Jesus fez afirmações que só um Deus poderia dizer, seus discípulos afirmaram que Jesus era Deus. O nascimento de Jesus foi sem igual, seus milagres provaram a sua divindade. Por meio de seus ensinamentos, ele virou o mundo de cabeça para baixo (Actos 17:6). Claramente Jesus não cometeu pecado algum. Ele viveu e morreu, para redimir a humanidade caída. Ele deu a si mesmo em resgate (Mateus 20:28), como os documentos de prova, ele foi, e é, tanto o Filho do Homem e Filho de Deus. Ele é Deus, que antecede, e vai durar mais, o próprio tempo (Filipenses 2:5-11).

O resto do Novo Testamento retracta Jesus como divino. Ainda que a Bíblia ensine que Jesus era um ser humano, ela ensina que ele era muito mais do que isso. Ela atribui a ele a natureza essencial e carácter de divindade. Ela não ensina que ele deixou sua divindade quando veio à terra. Antes, ela ensina que Jesus tomou a natureza essencial de servidão; seu maior acto de serviço foi a dádiva de sua vida.

É isso que faz Jesus diferente, sua plena divindade. Nas demais religiões o que importa são os ensinos e não o mestre. No cristianismo o centro de tudo é a pessoa de Jesus Cristo.

A questão sobre a identidade de Jesus não terminará tão cedo. Questões recentes sobre Jesus têm renovado muito da discussão. Seja qual for a posição com que se termine, ela será aceite através de algum processo de “fé”. Isto é inevitável. A questão permanece, contudo, sobre qual “é” a mais razoável. Baseado em considerações bíblicas, históricas e outras, eu escolhi crer que Jesus foi, e ainda é, Deus. Ele nunca pode ser menos do que isso.

 

 

 

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[1] LOUW e NIDA. Greek-English Lexicon of the New Testament Based on Semantic Domains, p. 137

[2] Ibid, p. 140

[3] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, p. 91

[4] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2116

[5] GEISLER, Norman. Enciclopédia de apologética, p. 203

[6] ROGERS, Adrian. Creia em Milagres, mas Confie em Jesus, p. 124

[7] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2114

[8] Ibid, p. 2115

[9] Ibid, p. 2115

[10] GRUDEM, Wayne. Manual de Doutrinas Cristãs, pp. 109-110

[11] MCDOWELL e LARSON. JESUS: Uma defesa Bíblica da sua divindade, p. 64

[12] MCDOWELL e STEWART. Respostas àquelas perguntas, p.55

[13] STROBEL, Lee. Em defesa de Cristo, pp. 210-211

[14] GEISLER, Norman e BOCHINO, Peter. Fundamentos Inabaláveis, pp. 331,332

[15] LA HAYE, Tim. Um Homem Chamado Jesus, pp. 90-91

[16] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, p. 64

[17] GEISLER & TUREK. Não tenho fé suficiente para ser ateu, p. 354.

[18] MCDOWELL, Josh. Mais que um carpinteiro, p. 14.

[19] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, pp. 53,54

[20] MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica, p. 405

[21] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, pp. 73-77

[22] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, pp. 73-77

[23] Ibid, p. 73-77

[24] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, pp, 73-77

[25] MCDOWELL, Josh., Evidência que Exige um Veredicto, p. 131

[26] GRUDEM, Wayne. Manual de Doutrinas Cristã, p. 249

[27] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2116

[28] LA HAYE, Tim. Um Homem Chamado Jesus, p. 71

[29] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2116

[30] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, p. 68

[31] CRAIG, William Lane. Apologética contemporânea, p. 287

[32] FERNANDO, Ajith. A Supremacia de Cristo, p. 37

[33] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible. p. 2116

[34] GEISLER, Norman. Enciclopédia de apologética, p. 208

[35] Ibid, p. 208

[36] GRUDEM, Wayne. Manual de Doutrinas Cristãs, p. 252

[37] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, pp. 67,68

[38] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible, p. 2116

[39] MORRIS, Henry. The Henry Morris Study Bible, p. 2116

[40] Ibid, p. 2116

[41] SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, p. 92

[42] LITTLE, Paul. Explicando e Expondo a Fé, p. 69

[43] Ibid, p. 69

[44] LA HAYE, Tim. Um Homem Chamado Jesus, p. 295

[45]SOARES, Ezequias. Manual de Apologética Cristã, pp. 92-93

[46] Ibid, pp. 92-93

Provas da Ressurreição de Cristo

PROVAS DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

David Pinto

 

Introdução

RessurreiçãoNo âmbito da cadeira de Apologética, do 3º ano do curso em regime presencial do Monte Esperança – Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, foi proposto, aos alunos, um trabalho individual sobre um dos temas da disciplina.

O tema escolhido para esta monografia é “A ressurreição de Cristo”.

O desafio será explicar o conceito da ressurreição de Cristo; se esta, efectivamente, aconteceu; e quais as provas verosímeis de tal acontecimento. Serão expostas as teorias contra a ressurreição de Cristo e quais as implicações de crer ou não crer neste facto.

Serão usadas, como pano de fundo, citações bíblicas, assim como referências bibliográficas de livros de referência sobre a matéria.

A ressurreição de Jesus é o clímax das boas novas da salvação. É uma doutrina basilar do cristianismo. Todas as outras estão-lhe inseparavelmente ligadas.

Não existe outra doutrina que seja tão atacada e negada como a da ressurreição. E isso acontece por algum motivo. Sem Cristo vivo, não há cristianismo verdadeiro. Se Cristo, ainda hoje, estivesse no túmulo, o plano da redenção apresentado pelos cristãos não faria qualquer sentido.

O cristianismo é o único pensamento que se pode vangloriar de anunciar um autor vivo. Nenhuma religião consegue afirmar o mesmo.

 

“…se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é inútil e a vossa fé é inútil…”

I Coríntios 15.14, in “A Bíblia para todos”

 

I. As teorias contra a ressurreição

Ao longo dos séculos, foram várias as teorias que surgiram, para tentar desacreditar o acto da ressurreição de Cristo. Das mais rocambolescas às mais sérias, todas falham em algum ponto de argumentação. Abordaremos as mais relevantes e usadas, no decorrer da história.

 

Teoria do roubo

A mais antiga tentativa de descartar a ressurreição de Cristo afirmava que o corpo de Jesus fora roubado. Aliás, a própria Bíblia aborda essa teoria. Os líderes judeus subornaram os guardas romanos, para dizer que o corpo de Jesus fora levado pelos discípulos, enquanto os soldados dormiam (Mateus 28.11-15).

Ainda hoje, algumas pessoas defendem esta teoria, dividindo-a em duas hipóteses: ou os discípulos levavram o corpo, ou foram os inimigos de Cristo a fazê-lo.

Em relação à teoria de que foram os discípulos, o interessante é que a hipótese é tão incorrecta que a preocupação do relator do facto, na Bíblia (Mateus), em refutá-la é nula. Como Paul Little afirma: “que juiz lhe daria ouvidos se você dissesse que, enquanto dormia, o seu vizinho entrou em sua casa e roubou o seu aparelho de televisão? Quem sabe o que acontece enquanto se está dormindo? Um testemunho como esse seria ridicularizado em qualquer tribunal.”[1] Se os soldados estivessem, realmente, a dormir, não saberiam quem levou o corpo.

A propósito do sono dos soldados, este apresenta-se como outro contra desta teoria. O castigo para o facto de um soldado dormir, no cumprimento do dever, era a morte. Dormiriam então todos? Além disso, mesmo estando todos a dormir, não acordariam com o barulho da pedra a rolar?

Mais, a teoria do roubo faz dos discípulos mentirosos e um pouco ingénuos. Sofreriam e morreriam estes homens, dedicariam uma vida inteira, por algo que sabiam ser mentira? Craig ironiza[2], no seu livro “Em Guarda”, um possível delinear de plano dos discípulos, de todas as formas, ridículo:

Ok, eis o plano: roubamos o corpo e escondemo-lo num canto qualquer. Depois, voltamos e contamos uma história que, provavelmente, fará com que sejamos mortos. Quem alinha?

O plano teria sido tão brilhantemente orquestrado que os discípulos até inventaram aparições. Mas, como se explicam essas aparições, testemunhadas pelos discípulos, se o corpo foi roubado? Little afirma que custa mais aceitar que os discípulos eram “refinados mentirosos ou loucos iludidos”, do que crer na ressurreição[3].

Candler coloca a questão noutros termos. Se Jesus ficou morto, que motivação teriam os discípulos para empreender a missão que levaram a cabo nos anos subsequentes e que foi o alicerce da Igreja que hoje conhecemos? O autor pergunta: “Se os discípulos guardaram o corpo de Jesus até se decompor, como todos os outros, de onde teria surgido a fé (…) o valor que os animava? Como se explicaria o seu zelo? (…) Qual teria sido a fonte de poder que lhes permitiu estabelecer igrejas em Jerusalém, Antioquia, Corinto, Galácia, Macedónia (…) e Roma? Será que uma fraude consciente conseguiria dar ânimo e vigor aos discípulos, a ponto de as suas aptidões naturais se converterem em poderes quase infinitos[4]?

Craig afirma que a teoria do roubo (por parte dos discípulos, inventando que Jesus ressuscitou) é implausível, porque é vista através do espelho retrovisor da história cristã, em vez de ser vista através dos olhos de um judeu do primeiro século. Um judeu não tinha qualquer expectativa de um Messias que fosse vergonhosamente executado pelos gentios como um criminoso. Além disso, a ideia da ressurreição não fazia parte das concepção do Messias, até porque não se supunha que o Messias morresse. Mais, era impossível um discípulo orquestrar a ideia de uma ressurreição, porque a noção de ressurreição era inaceitável na época. O autor explica que, nos dias de Jesus, ressurreição não significava vida após a morte, de uma forma desencarnada, ou imortalidade da alma, numa outra dimensão. Ressurreição era a reversão da morte, a restauração do corpo para uma forma de imortalidade. Um corpo diferente, é certo, mas nunca uma alma ou um espírito. Muitos pagãos acreditavam na vida desencarnada depois da morte, mas consideravam a ressurreição impossível. Alguns judeus (não todos) esperavam a ressurreição dos justos no último dia, mas nunca antes disso[5].

Concluindo, um judeu do primeiro século que visse o seu Messias morto, tinha uma de duas hipóteses: ou ia para casa, envergonhado, ou escolhia outro Messias[6].

Outra hipótese era os próprios inimigos de Jesus terem levado o corpo. Sobre isso, Josh McDowell cita E. F. Kevan e afirma: “os inimigos de Jesus não tinham motivo para remover o corpo. Os amigos não tinham poder para fazê-lo. Seria vantajoso para as autoridades que o corpo permanecesse onde estava. A ideia de que os discípulos roubaram o corpo é impossível. O poder que removeu o corpo do Salvador da sepultura deve, portanto, ter sido divino”.

 

Teoria do desmaio

Esta teoria é de construção recente. Começou a ser enunciada no séc. XVIII, afirmando que Cristo realmente não morreu na cruz. Pareceu morto, mas apenas tinha desmaiado, em consequência da exaustão, dor e perda de sangue. Reviveu quando foi deixado na sepultura fresca. Depois de sair da sepultura, apareceu aos discipulos que erroneamente o julgaram ressuscitado dos mortos. Segundo Max Anders[7], todos os registos antigos são enfáticos acerca da morte de Jesus. Nenhum dos ataques antigos ao cristianismo duvidava do facto de Jesus ter sucumbido na cruz. A Bíblia afirma, até, que Jesus morreu antes de ser retirado da cruz. Ainda assim, para certificar-se melhor, um dos algozes enfiou-lhe uma lança no lado, de onde escorreu sangue e água, sinal claro de morte[8].

Mesmo que este algoz se tivesse enganado e Jesus tivesse sido sepultado vivo, que probabilidade teria, com todos os ferimentos a que foi sujeito (chicoteado, rasgado, espancado, pregado, com perda de sangue abundante), de suportar 36 horas numa sepultura fria, sem comer, nem beber, sem cuidados médicos, com lençóis mortuários de quase trinta quilos em cima do corpo? Como teria Ele força para se libertar dos lençóis, rolar a pedra, desfeitear soldados romanos especializados e ainda caminhar vários quilómetros? Seria mais fácil ressuscitar! David Strauss, o céptico que criou a teoria da alucinação, afirmou que era impossível a uma pessoa nestas condições afirmar ser o Príncipe da Vida.

Craig cita Josefo para afirmar que uma experiência foi feita, entre os romanos, para ver quanto tempo sobreviveria um homem crucificado, se retirado da cruz, antes de morrer. A maioria das cobaias morreu mal chegou aos braços de quem os tirou da cruz. Os restantes morreriam pouco tempo depois, mesmo com os melhores cuidados médicos possíveis da época[9].

 

Teoria da alucinação

Enunciada pelo céptico austríaco David Strauss, afirma que os discípulos sentiram tanto a falta do seu mestre, que começaram a imaginar tê-lo visto e ouvido. Ou seja, os discípulos experimentaram alucinações, visões ou ilusões, algo subjectivo, fruto das suas mentes perturbadas pela morte de Cristo.

Aceitar esta teoria seria aceitar uma alucinação colectiva de pessoas com personalidades, background e estatutos muito diferentes. Cristo apareceu a mais de 500 pessoas[10], muitas delas viveram no tempo do apóstolo Paulo e confirmaram esse facto. Como é que 500 pessoas tiveram, exactamente, a mesma alucinação?

Medicamente, as alucinações acontecem a pessoas de imaginação fértil e com problemas de nervos. Além disso, ocorrem tipicamente em momentos e lugares particulares, associados aos factos imaginados. No entanto, Cristo apareceu em lugares que nada diziam aos discípulos: Emaús, uma montanha na Galiléia, etc.

Além disso, Craig afirma que era impossível os discípulos alucinarem sobre conceitos que não tinham, porque a ressurreição não fazia parte da concepção judaica, mas sim o arrebatamento em vida[11].

John Stott, citado por Anders[12], afirma que as alucinações fariam sentido se os discípulos tivessem esperança de ver Jesus, mas nem isso acontecia. A descrença invadiu os seus corações, mesmo depois de ver Jesus ressuscitado.

Apesar de leigos, os discípulos seriam inteligentes o suficiente para não alicerçar a sua vida em alucinações, fábulas (II Pedro 1.16), mitos (I Timóteo 1.4), ou seja, algo que não fosse real e palpável, com o seu apogeu em Tomé[13]. Sobre este argumento, Candler pergunta: “Quando é que uma alucinação chega a estimular a fé, a elevar a virtude e a conquistar o mundo”?[14]

Paul Little vai mais longe, ao afirmar, em relação à teoria da alucinação, que a sua aceitação implica “ignorar-se por completo as evidências”[15] da ressurreição, o testemunho dos discípulos e as suas implicações.

 

Teoria da troca de túmulo

Existe ainda a teoria da troca de túmulo. O corpo de Jesus teria sido, inicialmente, colocado no sepulcro de José de Arimatéia, mas o nobre teria mudado de ideias e trocado o corpo de Jesus para uma vala comum. Os discipulos, não avisados do facto, ao ver o sepulcro vazio, inferiram a ressurreição do Mestre.

Craig afirma que, se tal aconteceu, porque é que ninguém corrigiu os discípulos quando estes começaram a anunciar publicamente que Jesus tinha ressuscitado? Além disso, a lei judaica não permitia a troca de sepulturas, exumação ou violação de sepulturas[16]. Esta teoria está intimamente ligada à do “Complô da Páscoa”. Segundo esta teoria, Jesus aspirava ser o Messias e arquitectou um plano para o ser. O vinho misturado com vinagre teria uma droga que adormeceu Jesus que, em conluio, com José de Arimatéia, fugiria do sepulcro[17]. No entanto, a história correu mal por causa da lança e José de Arimatéia, de iniciativa própria, retirou o corpo do sepulcro para encenar a ressurreição, com a ajuda de um anónimo que fingiu ser Jesus ressurrecto.

O filósofo agnóstico australiano Peter Slezak, citado por Craig, contrapõe esta teoria, afirmando que, se Jesus era Deus, para um Deus capaz de criar todo o universo, a ressurreição era uma coisa fácil. Não havia necessidade de orquestar um plano destes.

Para além destas teorias principais, existem ainda as teorias do túmulo errado (Jesus foi sepultado, por engano, noutro lugar ou os discípulos confundiram o túmulo); a teoria da lenda (a história da ressurreição é uma lenda, inventada anos mais tarde); e a da ressurreição espiritual (o corpo de Jesus decompôs e Ele apenas ressuscitou espiritualmente).

 

II. As evidências da ressurreição

William Lane Craig apresenta três evidências introdutórias para a ressurreição: o sepulcro vazio, as aparições (corpóreas e físicas) de Jesus e a convicção dos discípulos. Além disso, afirma que, ao contrário do que seria de esperar, esta não é uma posição conservadora ou evangélica, mas é um facto assumido pela maioria dos críticos neo-testamentários, que aceitam estas três provas, com naturalidade.[18] Estas três evidências interligam-se com os testemunhos da ressurreição, a saber, testemunho histórico, escrito e pessoal.

 

Testemunho histórico

Para começar, se o relato do sepultamento é preciso, as pessoas da época sabiam onde era o sepulcro e poderiam confirmar se as palavras dos discípulos, afirmando que Jesus ressuscitara, eram correctas ou não. O próprio facto de as autoridades preferirem perseguir os cristãos em vez de mostrar, pelo sepulcro, que Jesus estava morto, revela que o sepulcro estava vazio e que o corpo desaparecera.

O túmulo vazio, é segundo McDowell, um facto histórico documentado[19] e prova da ressurreição de Cristo. O autor afirma, ainda, que nunca encontrou algo com tantos testemunhos positivos históricos, literários e legais para sustentar a sua validade. Professores catedráticos, políticos, historiadores, juízes por todo o mundo reconhecem a validade histórica dos relatos bíblicos sobre a ressurreição.

Paul Little[20] cita o cónego Westcott para afirmar que “reunindo todas as provas, não é demais dizer que não há qualquer acontecimento histórico com melhor ou mais variado apoio do que a ressurreição de Cristo”. O autor afirma que “nada, a não ser a prévia admissão de que devia ser falsa (a ressurreição), poderia ter sugerido a ideia de insuficiência de provas que a atestam”.

 

Testemunho escrito

Seria uma saída fácil argumentar que a Bíblia não pode servir como testemunho escrito da ressurreição, por ser tendenciosa. A verdade, no entanto, é que os documentos do Novo Testamento são, de longe, os mais autênticos desde a antiguidade, no que diz respeito a números de exemplares existentes e a tempo decorrido entre as cópias mais antigas e os manuscritos originais. Max Anders, citando, Sir Frederic Kenyon, ex-director do Museu Britânico afirma que “tanto a autenticade, como a integridade, de modo geral, dos livros do Novo Testamento, podem ser consideradas definitivamente comprovadas”[21]. Josh McDowell, em “Evidência que exige um Veredicto”, era capaz de provar 14 mil manuscritos do Novo Testamento. Em “Evidências da Ressurreição de Cristo”, já era capaz de provar 24,633[22].

McDowell cita F.F.Bruce, que afirma: “a evidência dos textos do Novo Testamento é muito maior do que muitas obras de autores clássicos, cuja autenticidade ninguém sonha em questionar”. Além disso, o autor de comentários bíblicos diz que “se o Novo Testamento fosse uma colecção de escritos scculares, sua autenticidade de modo geral seria considerada fora de qualquer dúvida”.

Josh McDowell cita ainda Clark Pinnock: “Não existe outro documento no mundo antigo, assim autenticado por um grupo tão excelente de testemunhas textuais e históricas, apresentando uma colecção tão extraordinária de datas e factos, que nos permita tomar uma decisão inteligente. Uma pessoa honesta não pode recusar uma fonte desta natureza. O ceticismo, em relação às evidências históricas do cristianismo, está baseado num preconceito irracional”[23].

Sendo assim, a Bíblia afirma que havia provas suficientes para a ressurreição de Cristo. Em Atos 1.3, Lucas diz a Teófilo que Jesus se apresentou aos discípulos, com “provas incontestáveis”. De Haan afirma que esta é mais do que uma afirmação histórica. É um desafio a todos os críticos que haveriam, posteriormente, de negar o sentido literal da ressurreição corpórea de Jesus. Lucas, não um indivíduo qualquer, mas um médico culto, e conhecido por ser meticuloso, afirma que Jesus estava vivo, fora visto por um grande número de pessoas e que a ressurreição podia ser confirmada com provas incontestáveis. E Lucas di-lo, não muitos anos depois, mas quando essas mesmas testemunhas oculares ainda eram vivas e o poderiam contradizer. As palavras de Lucas não sofreram qualquer objecção entre a sociedade daquele tempo, porque ninguém conseguia negar o facto[24].

Pedro, perante os seus pares, numa grande multidão, afirmou que, ao Jesus que os judeus tinham morto, na cruz, “…Deus o ressuscitou”, sendo que ele e os demais discípulos eram “testemunhas” desse facto (Actos 2.32).

Craig afirma que, se o testemunho da ressurreição fosse uma invenção, não teriam os autores da Bíblia se preocupado em não colocar mulheres como testemunhas, visto o seu testemunho ser considerado nulo, pelas autoridades, devido ao status social das mulheres?[25]

Além disso, existem outros materiais históricos que dão apoio ao testemunho intrínseco das Escrituras. O exame cuidado da literatura criada na mesma época da Bíblia confirma a veracidade histórica das narrativas do Novo Testamento. Anders refere o testemunho do arqueólogo Sir William M. Ramsay de que “a história de Lucas é incomparável no que diz respeito à sua veracidade”. Anders também cita A.M. Sherwin-White, que afirmou sobre Actos que “qualquer tentativa de rejeitar a sua historicidade básica até mesmo em questões de detalhes deve agora parecer absurda”[26].

William Lane Craig afirma que existem fontes independentes que narram o sepultamento de Jesus, além da Bíblia[27]. O sepultamento de Jesus é um facto escrito consumado e que liga directamente à Sua ressurreição.

 

Testemunho pessoal

Frank Morrison, advogado britânico dos anos 30, considerava a ressurreição de Cristo uma fábula para criança. Decidido a desmascarar a lenda de um Jesus ressurrecto, começou a investigar. A sua investigação culminou na obra “Who Moved the Stone?”, um testemunho da sua própria conversão a Cristo, depois de chegar à conclusão que a Sua ressurreição era inegável.

Neste livro, Morrison usa[28] os exemplos de Pedro, Tiago (irmão de Jesus) e Paulo como testemunhas pessoais fundamentais acerca da ressurreição.

O autor pergunta como é que alguém a quem Jesus chamou Satanás, que o Mestre descobriu que o iria trair, um discípulo que fugiu na hora da verdade, poderia se ter tornado um dos líderes do movimento focado em Cristo, ao ponto de sofrer abundantemente por isso e inclusive, segundo a tradição, morrer executado por causa dessa fé? Teria de ser porque viu e experimentou o Cristo ressuscitado. E, mesmo aqueles que dizem que a sua personalidade intempestiva, que faz e fala antes de pensar, poderia explicar os seus actos que o levaram a sofrer por uma causa aparentemente inútil, têm de admitir que Pedro não passava de um pescador. Seria pouco inteligente, com pouca ou nenhuma capacidade de estratégia, de gestão de recursos humanos e, obviamente, nenhum poder de feitiçaria, medicina, ou algo semelhante, para realizar os sermões que realizava, operar os milagres que operou e gerir a igreja que geriu. Este Pedro, admitiu, no seu primeiro discurso, que Deus ressuscitou Jesus dos mortos e o fez Senhor e Cristo.

Quanto a Tiago, é o próprio Josefo que escreve que o irmão de Jesus foi morto à pedrada por defender a fé cristã. O mesmo Tiago que negou a divindade de Jesus, antes da Sua morte, rejeitou os Seus feitos e o ostracizou. Como é que este homem, frio e hostil perante Jesus, que parecia odeiar aquele que vinha da mesma mãe, se tornou conhecido por todos como o “irmão de Jesus”, uma das figuras principais da igreja em Jerusalém (Actos 15 e 21) e que sofreu, até à morte pela Sua causa?

Craig, citando Hans Grass, feroz crítico do Novo Testamento, afirma que a conversão de Tiago é uma das provas mais irrefutáveis da ressurreição de Cristo[29].

Diz-se que os cristãos escreveram, no seu túmulo, “este foi uma verdadeira testemunha, tanto para judeus como para gregos, que Jesus é o Cristo”. Testemunho mais imparcial do que este, só um, o de Paulo. Como é que um fanático pela religião judaica, que moveu tudo o que podia e que com todas as suas forças lutou para que a recém-criada seita cristã fosse aniquilada, ao ponto de mandar matar, sem apelo nem agravo, se tornou no maior arauto, defensor e continuador da causa do carpinteiro nazareno?

 

III. Argumentos da ressurreição

Para este ponto, usaremos os sete argumentos de De Haan a favor da ressurreição[30]: lógica, coerência, psicologia, filosofia, história, experiência, autoridade.

No primeiro, Haan afirma que a vida de Jesus (irrepreensível e exemplar) e o Seu legado mostram, logicamente, de forma conclusiva, que a morte não marcou o seu fim.

O argumento seguinte mostra que era absolutamente incoerente aceitar relatos históricos de fontes menos confiáveis e não aceitar os testemunhos oculares da ressurreição de Cristo. Além disso, se os divulgadores da informação da ressurreição de Cristo foram fidedignos no que toca a relatos de outros assuntos, sendo exactos em todos os aspectos, porque abrir uma excepção no caso da ressurreição? Provas arqueológicas mostram que os autores bíblicos foram precisos no que toca a localizações geográficas, informações históricas e aspectos culturais. Logicamente, não mentiriam no que toca a Jesus ter permanecido morto. Se admitirmos que tudo não passou de um plano maquiavélico, então necessitamos admitir que toda a História pode estar errada, caso historiadores e relatadores tomassem a mesma atitude.

Mais do que isso, o argumento psicológico, de que a verdade da ressurreição mudou vidas de milhões de pessoas, ao longo dos séculos, deve pesar e muito. Basta começar pela postura dos discípulos antes e depois de Jesus morrer. Os medrosos, incrédulos e desconfiados doze, quando Jesus estava lá, tornaram-se intrépidos, corajosos e convictos apóstolos, depois de Jesus morrer. Paulo e os irmãos de Jesus são outros exemplos da transformação operada pela verdade da ressurreição.

O argumento histórico aborda o que se passou ao longo dos seguintes 2000 anos, com o mundo, com a igreja, com as pessoas, e a influência de Jesus em todas as coisas. De Haan afirma que “seria difícil um morto” ou “um louco” ter esta influência. Mas um vivo não. Já o argumento da experiência mostra que, quem experimenta o Cristo ressuscitado, sabe que Ele ressuscitou. Paul Little aborda o mesmo assunto, apelidando-o de “prova contemporânea e pessoal da ressurreição”.

Finalmente, o argumento da autoridade. De Haan afirma que, se a Bíblia, a palavra de Deus, que Deus guardou ao longo de milhares de anos, afirma que Jesus ressuscitou, a autoridade bíblica não deve ser desprezada.

 

IV. As implicações da ressurreição

É fundamental afirmar a importância da ressurreição em todo o pensamento cristão. Ela é o clímax do cristianismo. Sem ela, o cristianismo seria mais um religião. Sem ela, o cristianismo não teria chegado aos nossos dias. Anísio Batista Dantas afirma que uma fé cristã não firmada na ressurreição de Cristo não pode ser chamada fé e muito menos cristã[31].

É no inter-relacionamento entre morte, ressurreição e segunda vinda que se manifesta a esperança do crente salvo.

Além disso, há promessas de Deus ricas para o crente que só são válidas por causa da ressurreição. A ressurreição não encerrou as promessas referentes a Cristo e aos seus. A derradeira delas é fazer dos crentes participantes dessa mesma ressurreição, no fim dos tempos. Dantas afirma que o crente espera ressuscitar e ascender aos céus, tal como Cristo fez[32].

A ressurreição de Cristo dá significado a toda a história da redenção, a todo o plano de Deus, a toda a Bíblia. Sem ressurreição, o nascimento de Cristo não teria significado, os seus esforços teriam sido inutéis, a sua morte teria sido uma derrota, uma tragédia infrutífera.

De Haan afirma que o símbolo do cristianismo não deveria ser uma cruz, mas um túmulo vazio[33], tal a importância da ressurreição no plano redentor de Deus. A morte vicária de Cristo é, aliás, apenas uma parte do plano. De Haan afirma que “a cruz, sozinha, não pode salvar ninguém”[34]. O clímax do Evangelho reside no facto de que Jesus não apenas morreu, mas ressuscitou, provando a eficação do seu sacrifício. A ressurreição é a prova que todos os pecados foram expiados na cruz. Ressuscitando, Jesus provou que a obra de Deus para salvação do Homem ficou completa e que o ser humano tinha um caminho aberto (o próprio Jesus, mediador) para se reconciliar com o seu Criador. A morte de Cristo apenas serviria para nos livrar do inferno, mas não nos levava para o Céu. É a ressurreição que possibilita a comunhão com Deus.

A origem do cristianismo, segundo Craig, depende da crença dos primeiros discípulos de que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos. Essa ressurreição reverteu a catásfrofe da crucificação e fez de Jesus o Messias profetizado nos escritos antigos, capaz de salvar e reinar.

Candler cita Bushnell para dizer que “o mundo está mudado e já não é como era, não voltou a ser o mesmo que era, desde que Jesus” subiu ao céu. “O ambiente está impregnado de aroma celestial e em suas brisas se percebe algo de outros mundos”[35].

 

Conclusão

A ressurreição de Cristo é um facto inegável da história do mundo, decisor para o futuro da humanidade, e transformador para o dia-a-dia.

Torna-se claro que os discipulos não roubaram (não arriscaram a morte por um vivo, quanto mais por um morto),  os inimigos não levaram (interessava que Jesus estivesse sepultado) e os animais não comeram (os soldados morreriam se deixassem) o corpo. A alucinação não existiu e os testemunhos são verdadeiros. Ele, de facto, morreu e ressuscitou. E a história não terminou aí.

Jesus nunca escreveu um livro. No entanto, o acervo de todos os livros por Ele inspirados, referentes à sua vida, morte e ressurreição, é maior do que todos os outros juntos. Jesus nunca fundou uma escola. No entanto, tem sido de inspiração de conquista em todos os níveis de conhecimento e na civilização. A Sua influência fez com que as nações se desenvolvessem. Jesus nunca escreveu uma canção. Mas, milhões de seres humanos criam e cantam as mais belas canções em homenagem a Ele[36].

A mensagem do cristianismo é a mensagem de um Salvador ressurrecto. Este ponto faz do cristianismo único, algo não incluído entre as religiões do mundo. O cristianismo não é uma religião, mas uma pessoa viva: Cristo.

Não somos capazes de avaliar, na totalidade, os efeitos da ressureição de Jesus, mas sabemos que a via da prova da sua ressurreição, pela experiência, está aberta a qualquer pessoa. Se Jesus ressuscitou, está vivo hoje, pronto a encher e transformar aqueles que o convidam a entrar nas suas vidas.

Em suma, a importância da ressurreição resume-se a isso mesmo. Duas palavras apenas: vidas transformadas.

“Se, com a tua boca, confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.

Romanos 10.9

 

Bibliografia

 

ANDERS, Max. Jesus em 12 lições. Editora Vida. São Paulo, 1990.

CANDLER, Warren A. Verdade ou Mito – Evidências do Cristianismo. Comissão Central de Literatura. Teresópolis, 1961.

CRAIG, William Lane. Em Guarda. Vida Nova. São Paulo, 2011.

DANTAS, Anísio Batista. A Ressurreição de Jesus Cristo. CPAD. Rio de Janeiro, 1992.

DE HAAN, M.R. O Túmulo Vazio. Imprensa Batista Regular. São Paulo, 1992.

LITTLE, Paul E. Saiba o que você crê. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 1991.

MCDOWELL, Josh. As Evidências da Ressurreição de Cristo. Editora Candeia. São Paulo, 1994.

MCDOWELL, Josh. Evidência que exige um veredicto. Editora Candeia. São Paulo, 1989.

MORRISON, Frank. Who moved the stone? Faber Editions. Londres, 1965.


[1] LITTLE, p. 73.

[2] CRAIG, p. 273.

[3] LITTLE, p. 73.

[4] CANDLER, p. 98.

[5] CRAIG, p. 244.

[6] CRAIG, p. 274.

[7] ANDERS, p. 189.

[8] João 19.33-34.

[9] CRAIG, p. 279.

[10] I Coríntios 15.6.

[11] CRAIG, p. 283.

[12] ANDERS, p. 190.

[13] “Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei”. – João 20.

[14] CANDLER, p. 99.

[15] LITTLE, p. 78.

[16] CRAIG, p. 281.

[17] MCDOWELL, p. 112.

[18] CRAIG, p. 269.

[19] MCDOWELL, p. 120.

[20] LITTLE, p. 79.

[21] ANDERS, p. 192.

[22] MCDOWELL, p. 44.

[23] MCDOWELL, p. 23.

[24] DE HAAN, p. 14.

[25] CRAIG, p. 252.

[26] ANDERS, p. 193.

[27] CRAIG, p. 246.

[28] MORRISON, p. 117.

[29] CRAIG, p. 260.

[30] DE HAAN, p. 18.

[31] DANTAS, p. 146.

[32] DANTAS, p. 148.

[33] DE HAAN, p. 8.

[34] DE HAAN, p.10.

[35] CANDLER, p. 99.

[36] DANTAS, p. 150.

O Evangelho do “coitadinho” não é o Evangelho de Jesus Cristo

O EVANGELHO DO “COITADINHO” NÃO É O EVANGELHO DE JESUS CRISTO 

ADbenfica cruz         Alguém que se confronta hoje consigo mesmo na evidência da necessidade profunda de conhecer Jesus Cristo, busca na sua Igreja a fonte para as respostas as suas múltiplas perguntas e procura ali perceber como acudir a esse premente anelo. Encara porém com uma pregação que apela à satisfação da necessidade imediata, do socorro pela angústia do tempo de hoje, sem o mais pequeno vislumbre da eternidade.

Ouvimos pregar um pobre evangelho que faz apelo à necessidade de saúde física, em Jesus encontrará a cura; um evangelho que faz apelo à necessidade material, em Jesus encontrará ajuda para receber emprego ou a resolução “mais ou menos mágica” para os seus problemas financeiros; ouvimos até um evangelho que faz apelo à necessidade de libertação das drogas ou de outro vício, em Jesus encontrará a libertação dessa prisão.

A Igreja ouve o Cristo que clama “Vinde a mim todos vós que estais cansados e oprimidos” e a esse prega, mas não ouve, e parece mesmo não conhecer, o Cristo que grita “arrependei-vos”. Não se prega mais o arrependimento e o perdão de pecados. Não se prega mais a miséria da condição espiritual do homem. Não se prega mais que o inferno é o destino real das vidas sem Cristo.

A Cruz de Cristo parece confundir até a própria Igreja: vê na cruz o Cristo de braços abertos, mas parece não reparar que esses braços estão presos à cruz por trespassantes pregos. O Cristo da cruz está sacrificado, não está abraçando. O Cristo da cruz está pagando, não está recebendo.

O pior de tudo é que a pregação do “evangelho do coitadinho” produz muitos crentes, mas infelizmente não produz discípulos. Esses só nascem da pregação do Evangelho de Jesus, o evangelho que chama ao arrependimento, à percepção de que o mal maior da humanidade é a realidade do pecado, da desobediência, do afastamento propositado de Deus.

Este fenómeno revela uma Igreja rendida aos pés do hedonismo, secularizada, onde a necessidade humana, tantas vezes a simples necessidade, mais até do que o prazer, emana com gritante veemência, pulsando como porta evidente para a pregação do Evangelho. Porém de porta a Igreja tem tornado, essa mesma necessidade, na essência do Evangelho. Surpreende alguém que hoje em dia cada vez menos crentes saibam porque crêem em Deus e porque necessitam de salvação?!

Embora seja uma expressão triste e que realmente me incomoda um pouco, porque ao afirmá-la muitos lerão que se faz uma defesa do regresso a uma cultura antiga e desadequada – para além de profundamente não bíblica – de Igreja, a verdade é que a Igreja necessita voltar aos fundamentos antigos do Evangelho pregado pela primitiva Ecclesia.

A comunidade cristã vivia em comunhão, em união, percebendo a sua perseguição e rejeição, entenderam que só sobreviveriam em conjunto, daí o insistente ensino de Jesus, comparando os filhos de Deus a ovelhas, um animal de rebanho, porque só se consegue manter no Caminho quem faz parte do rebanho. Essa mesma primitiva Igreja não acenava ao mundo com a promessa de curas, de realizações financeiras, de conquistas impressionantes. Pobres cristãos primitivos nas mãos das novas teologias e deste novo evangelho do “coitadinho”: eram pobres, perseguidos, mortos e torturados pela sua crença, pela sua fé, pela sua confiança. Seriam cristãos “pequeninos”! A sua pregação soaria a ridícula se eles dissessem pelas ruas que em Jesus, o povo, e cada um, encontraria a solução dos seus problemas; se aclamassem pelas cidades, vilas e aldeias que se alguém fosse a Jesus teria cura e a resolução de problemas pessoais, de família, etc., quando depois pelas ruas bem se sabia das perseguições e atentados contra a vida dos crentes. Qual seria então a pregação da Igreja primitiva, que tantas pessoas alcançou, que a tantos atraiu, apesar das perseguições e das dificuldades que trazia o facto de alguém se tornar cristão? A Igreja pregava o arrependimento, clamava:

Arrependei-vos, crede em Jesus, aquele que foi morto mas ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, buscai o Espírito Santo, vivei em amor e segui a santificação.

E esta é a essência do evangelho: o homem é culpado, cada um de nós é culpado de destronar Deus do centro das nossas vidas e de nos termos colocado a nós mesmos aí. Assim sendo essa culpa nos afasta irremediavelmente de Deus. Por muita bondade que de nós emane, que muita doçura escorra das nossas palavras e por muito bálsamo refrescante que sejam os nossos gestos, a realidade é que sempre estamos no centro das motivações do que de nós se levanta. Por isso, até aquilo que parece belo, perante Deus – que é puro e santo -, isso mesmo é sujo, é como um imundo e porco trapo. Nada nos resta, estamos mortos, separados da Vida.

Mas a ressurreição é possível, pelo arrependimento percebemos que estamos errados e nesse momento despimo-nos de nós mesmos, chutamos o eu para fora do trono da nossa vida e celebramos a entronização de um novo Rei em nós: Jesus Cristo, o Filho de Deus. E a vida ressurge, a ressurreição acontece.

Arrependimento, seguido de Fé em Jesus, entregando a vida, deixando-se e tomando a sua cruz, aí o homem encontra a salvação, encontra Deus, e este é o verdadeiro evangelho.

 

Sérgio Bernardo

Criacionismo Bíblico

CRIACIONISMO BÍBLICO

Súmula dos Principais Fundamentos Teológicos e Científicos

Jónatas E. M. Machado·

No princípio criou Deus os céus e a Terra.

Génesis 1:1

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus e Ele mesmo era Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem Ele nada do que foi feito se fez.

João 1:1-3

INTRODUÇÃO

A opinião largamente dominante sobre o Criacionismo Bíblico (CB) é a de que se trata de uma concepção pré-moderna totalmente ultrapassada, própria de um reduto de fundamentalistas cristãos que interpretam a Bíblia literalmente. Ninguém que pretenda ser culto e intelectualmente sofisticado acredita nisso! Nem os maiores teólogos da actualidade! Por ser largamente aceite, este entendimento é socialmente muito mais confortável, pelo que quem tiver na opinião da maioria o seu critério último de verdade já sabe o que tem que pensar. Para esses, o presente artigo acaba aqui.

O problema é que semelhante entendimento assenta numa visão caricatural do CB, que nada tem que ver com a realidade dos factos. Por vezes certas “realidades” afiguram-se de tal maneira indiscutíveis que, ou por medo do ridículo e da pressão dos pares, ou por força de uma espécie de hipnose colectiva, a discussão crítico-racional passa a ser impossível e torna-se muito difícil ver e dizer que “o rei vai nu!”. A visão caricatural do CB, radicada no imaginário da comunidade científica e da generalidade da opinião pública[1], conduz a que muitos cientistas de hoje nem sequer queiram ouvir e discutir os argumentos criacionistas.

O objectivo fundamental deste artigo consiste na desconstrução crítica do mito da modernidade, segundo o qual uma explicação racional do Universo e da vida é necessariamente uma explicação naturalista e materialista. Diferentemente, pretende-se demonstrar que, em última análise, a própria ideia de explicação racional só faz sentido se se estiver perante pessoas racionais, vivendo num Universo racional, criado por um Ser racional. Não tendo o autor formação teológica ou científica, mas apenas jurídica, não pode este artigo ter outro objectivo senão o de fornecer, em termos expositivos, mas tão rigorosos quanto possível, uma visão sinóptica de alguns dos principais argumentos criacionistas que têm sido avançados por especialistas de várias matérias, acompanhada de algumas referências bibliográficas, recolhidas para a sustentação e o controlo das premissas, das considerações e das conclusões do texto.

CIÊNCIA E FÉ NO DEBATE SOBRE CRIAÇÃO E EVOLUÇÃO

Acaso se ensinará ciência a Deus, a ele que julga os excelsos?

Jó 21:22

Esqueces o Senhor, que te criou, que estendeu os céus e alicerçou a Terra.

Isaías 51:13

Numa recente entrevista na revista Scientist, de Novembro de 2003, Ernst Mayr[2], um dos mais proeminentes biólogos evolucionistas da actualidade, então com 99 anos de idade, afirmou que todas as épocas têm sido marcadas por grandes pensadores. Assim como Lutero e Calvino marcaram a Reforma e Locke, Leibniz e Voltaire o iluminismo, em seu entender, a modernidade foi marcada pelo génio de Charles Darwin, um jovem formado em teologia com gosto pela biologia. Para Ernst Mayr, professor de Harvard, Darwin forneceu as respostas às questões básicas da vida, prescindindo completamente de Deus. A publicação de A Origem das Espécies[3], com a sua teoria da evolução das espécies baseada na selecção natural, veio pôr em causa o argumento de design na natureza, que desde sempre dominou o pensamento judaico-cristão, e que havia sido elaborado na célebre obra de William Paley sobre teologia natural[4]. Ao contestar abertamente os argumentos de design na natureza, Darwin veio dar um forte impulso ao positivismo, ao naturalismo e ao materialismo que têm vindo a influenciar o pensamento moderno pós-iluminista.

Desde a sua obra, e graças ao contributo de nomes como Hutton, Lyell, Spencer, Huxley, Haeckel,  Simpson, Mayr,  Lewontin, Gould e Dawkins, a teoria da evolução (TE) adquiriu um estatuto de cientificidade inatacável, ao passo que o relato bíblico da criação foi totalmente desacreditado e remetido para o estatuto de mito. Abriu-se assim as portas ao entendimento dicotómico que domina e condiciona a abordagem da questão das origens, nos termos do qual a Bíblia é, na melhor das hipóteses, importante do ponto de vista da fé subjectiva e da moral individual, ao passo que a ciência é que fornece a chave de compreensão da realidade objectiva. Para esta visão das coisas, a ciência é inerentemente naturalista, na medida em que visa encontrar explicações naturais para os fenómenos. Falar na possibilidade de criação divina é, por definição, uma questão de fé, e não um problema científico[5]. Ernst Mayr é particularmente claro quanto a este ponto. Para ele, a ciência fornece um quadro objectivo muito diferente do relato do Génesis. Em seu entender[6], podemos conservar e apreciar estas histórias da criação como parte da nossa herança cultural, mas voltamo-nos para a ciência quando queremos aprender a verdade real sobre a história do mundo.

A teologia cristã procurou adaptar-se a esta nova realidade. Traumatizada pela herança inquisitorial e pelo célebre episódio de Galileu – que desafiou a cosmologia aristotélico-ptolemaica (não bíblica!) acolhida pela Igreja do seu tempo –, influenciada pelo espírito racionalista e naturalista da modernidade e esmagada pela força aparente das evidências a favor da TE, muitos teólogos, inicialmente de matriz protestante, procuraram, ao longo do século XIX, encontrar um compromisso entre a Bíblia e a ciência, a fé e a razão. No entanto, essa procura assentou na aceitação tácita a priori dos postulados naturalistas, racionalistas e evolucionistas, dados por muitos como indiscutíveis. De acordo com estes postulados, a religião era vista, em si mesma, como uma fase de um processo evolutivo que começa com o mito e tem como ponto de chegada um estado de emancipação e maturidade racional. Do mesmo modo, os escritos bíblicos eram interpretados em termos histórico-dialéticos, materialistas ou idealistas, ou como documentos forjados no contexto de conflitos políticos, económicos e sociais entre grupos, classes e correntes religiosas, ou, em termos hegelianos, como parte do processo de auto-manifestação do Espírito Absoluto.

Está hoje demonstrado que o preconceito anti-semita levou muitos racionalistas e nacionalistas alemães do século XVIII e XIX a exaltar a Razão e a Nação e a desvalorizar os escritos hebraicos como sendo manifestações de atavismo e primitivismo. Este entendimento integrava-se num contexto espiritual e intelectual marcado pela crítica racionalista do Antigo Testamento, pela afirmação da “morte de Deus”[7] e pela questão judaica, não sendo descabido ver aqui muita da lenha da horrenda fogueira que viria a ser o Holocausto[8]. Nem a teologia cristã mais bem intencionada escapou a estas influências. Sob a inspiração da abordagem crítica,  racionalista e evolucionista de estudiosos da Bíblia como Julius Wellhausen, o teólogo Rudolf Bultmann veio apelar à desmitificação de todo o relato bíblico[9], ao passo que a escola neo-ortodoxa, de Karl Barth e Emil Brunner, enfatizou a dimensão subjectiva e existencialista da fé[10]. Para estes teólogos, a Bíblia fala com autoridade apenas em questões de fé, não tendo qualquer autoridade em questões históricas e científicas. Esta maneira de ver, tipicamente naturalista e materialista, domina ainda grande parte da teologia cristã contemporânea[11]. A sua influência detecta-se facilmente em muitos estudos cristológicos, para não falar das teses anacrónicas e hoje largamente desacreditadas do conhecido movimento hipercrítico “Jesus Seminar”[12]. Em muitos círculos teológicos discuti-la é uma heresia.

Mesmo nas denominações cristãs mais conservadoras predomina, ao menos de forma difusa, a ideia de que a Bíblia não é autoridade em questões científicas, considerando-se que sustentar o contrário é sinal de um irracional fundamentalismo anti-intelectual e anti-científico. Adoptam-se assim teses de compromisso entre a Bíblia e a ciência, como o evolucionismo teísta, o criacionismo progressivo, a hipótese-quadro, a teoria do hiato, a teoria do dia-era, etc. Em muitos círculos cristãos o CB é anatemizado como um escândalo para o homem moderno, que só prejudicará a reputação do cristianismo, dividirá os crentes e afastará definitivamente as pessoas da mensagem cristã.  Se mesmo uma boa parte do cristianismo capitulou perante a TE, deve concordar-se com Ernst Mayr quando diz que Charles Darwin marcou profundamente a modernidade. O que não deixa de ser perturbador, do ponto de vista teológico, na medida em que a autoridade da Palavra de Deus é preterida em favor das ideias de uma mente em última análise doente e desequilibrada[13].

Mas será que Charles Darwin respondeu efectivamente às questões fundamentais da existência? Será verdade que o Universo e a vida podem ser cabalmente explicados sem o recurso a uma inteligência suprema e à doutrina bíblica da criação? Em nosso entender, isso está longe de ter sido demonstrado pelas correntes evolucionistas. Pelo contrário, os factos científicos em si mesmos, longe de provarem a evolução das espécies, corroboram amplamente o relato bíblico da criação. Na verdade, é a TE, e não o CB, que vai contra as leis científicas da termodinâmica, da biogénese e da causalidade, bem como contra as teorias das probabilidades, da informação e do design. O CB apenas entra em colisão com uma visão naturalista e materialista do mundo. O grande obstáculo à aceitação ao CB não é a ciência, mas sim a filosofia naturalista que actualmente vive de forma parasitária à custa dela. Porém, o objectivo deste artigo não consiste em fazer a demonstração desta afirmação, por muitos considerada absurda e incompreensível. Mais modestamente, ele consiste em ir além dos preconceitos e das caricaturas e dar ao leitor de mente aberta a possibilidade de conhecer melhor o CB, tal como existe actualmente, e de examinar livre e autonomamente os seus argumentos teológicos e científicos.

UMA DICOTOMIA ENGANADORA

Onde estavas tu quando eu criei a Terra? Diz-me,  se tens entendimento!

Jó, 38:4

Os céus e a Terra passarão, mas as minhas palavras  não hão de passar.           

Marcos 13: 31

O pensamento moderno sublinha a dicotomia epistemológica entre a Bíblia – do domínio da subjectividade, da fé e da moralidade – e a ciência – com autoridade no plano da realidade objectiva. Para este entendimento, a ciência preocupa-se, acima de tudo, com os factos, ao passo que a fé releva no domínio simbólico da interpretação subjectiva desses factos. Por outras palavras, a ciência seria o domínio por excelência das afirmações de facto, ao passo que a fé seria um campo reservado à interpretação e à formulação de juízos de valor. Repare-se que esta divisão de tarefas é manifestamente assimétrica, na medida em que remete para a ciência a definição do que seja o conhecimento daquilo que objectivamente existe, deixando para a religião uma função meramente especulativa e interpretativa, subjectiva, em torno do significado das coisas.

A ciência tem assim uma natural preponderância sobre a religião.  Aquela é objectiva e sólida, ao passo que esta é subjectiva e precária. A primeira preocupa-se com a realidade e a segunda com sentimentos e crenças. No mundo real elas nunca se encontram, porque estão em esferas diferentes. De acordo com este entendimento, todos teriam racionalmente que aceitar os dados objectivos da ciência, ficando a religião reservada às mentes mais débeis e carentes ou mais dadas a emoções subjectivas[14]. Assim, todos teriam que acreditar na evolução (facto científico objectivo obrigatório), mas os crentes sempre poderiam dizer, à margem de qualquer evidência empírica, que Deus conduziu o processo de evolução, ou até que Deus é a evolução (crença religiosa subjectiva facultativa). 

O CB rejeita liminarmente esta divisão epistémica de tarefas entre a ciência e a fé por ser manifestamente improcedente e falaciosa, particularmente no que toca à questão das origens[15]. Ela dá como demonstrado o que é preciso demonstrar. Com efeito, longe de se esgotar na produção de afirmações de facto, a ciência assenta largamente na interpretação e na especulação (v.g. tudo começou com um Big Bang; a vida surgiu por acaso de uma sopa pré-biótica; as aves evoluíram de dinossauros ou de pequenos répteis). Por sua vez, a religião também pretende fazer afirmações de facto (v.g. Deus é o autor da vida; Deus criou plantas, animais e o ser humano, praticamente ao mesmo tempo e segundo a sua espécie; o dilúvio do Génesis foi real e global) [16]. Vejamos mais de perto esta questão, pensando especificamente no cristianismo e no darwinismo.

Quanto ao primeiro, a Bíblia, desde o Génesis ao Apocalipse, afirma que é a Palavra de Deus verbalmente inspirada, tendo sido sempre considerada como tal pelos judeus (quanto ao Velho Testamento) e pelos cristãos [17]. Jesus afirmou que as suas palavras são mais sólidas e duradouras do que os próprios céus e a Terra. A palavra do Criador é digna de toda a confiança. Porque assim é, a Bíblia nunca se coloca no domínio da pura interpretação subjectiva de factos[18]. Bem pelo contrário,  a validade das mais importantes doutrinas bíblicas apoia-se em factos objectivos (criação; queda; dilúvio global; dispersão; aliança; êxodo; nascimento, morte e ressurreição de Jesus) cuja explicação só pode ser encontrada, não na regularidade das leis naturais, mas na acção extraordinária de Deus, o qual também criou essas leis. Na Bíblia os factos são importantes porque mostram a acção providencial de Deus na história humana e as doutrinas são dignas de crédito precisamente porque se apoiam em factos objectivos e não em mitos ou “fábulas engenhosas”[19].

Na Bíblia é claro que os milagres de Jesus são autênticos e testemunham da Sua qualidade de Criador. A ressurreição física de Cristo é igualmente um facto histórico concreto, sem o qual a fé não tem sentido. Tentar desmitificar ou encontrar explicações científicas para estes e outros milagres que a Bíblia relata é passar totalmente ao lado da verdade fundamental que a Bíblia visa transmitir:  o Universo foi criado por um Deus pessoal que intervém activamente na história do Homem – criado à Sua imagem e semelhança – que, por causa do pecado da humanidade, encarnou na pessoa de Jesus Cristo para redimir o mundo através da Sua morte e ressurreição![20] Se os factos mencionados pelo relato bíblico não são verdadeiros,  a história da salvação deixa de ter sentido. Isto mesmo sustentou o Apóstolo Paulo: “se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé”[21]

Por sua vez, o darwinismo, longe de se apoiar numa análise neutra e objectiva dos factos, é fundamentalmente interpretação[22]. Os registos históricos mais antigos que se conhecem têm cerca de quatro mil e quinhentos anos. São dessa era as civilizações mais antigas. Para além desse limite, a reconstituição historiográfica dos acontecimentos é feita com base em extrapolações, alicerçadas em pressupostos e modelos teóricos pré-concebidos, hoje predominantemente de matriz evolucionista. Sucede que nunca ninguém viu a sopa pré-biótica, nem tão pouco um dinossauro a transformar-se em ave há cerca de 100 milhões de anos atrás. Do mesmo modo, nem os fósseis nem as rochas sedimentares trazem inscrita a sua idade, sendo datados com base nas premissas (evolucionistas) adoptadas à partida. Ora, não existe uma máquina que nos permita viajar no tempo e assim confirmar de forma absolutamente correcta as conclusões que aqui e agora tiramos acerca do passado distante. Mesmo as tentativas de observar o passado a partir das investigações astronómicas supõem a aceitação de premissas sobre a velocidade da luz[23].

Do mesmo modo, as “provas” da evolução deduzidas pela TE da homologia genética ou estrutural e funcional que se observa entre as diferentes espécies de animais, não passam de uma interpretação, sendo certo que o CB utiliza os mesmos factos  para corroborar a sua crença num Criador comum. Aliás, o próprio Ernst Mayr reconheceu expressamente, na entrevista acima mencionada, o amplo lastro interpretativo e especulativo que permeia todo o seu trabalho. Muitos dos “factos” a que a darwinismo faz referência não passam de construções intelectuais feitas a partir de modelos, ou resultantes da assunção de premissas, pré-concebidos. Uma coisa é certa: os factos com que os evolucionistas e os criacionistas se defrontam são exactamente os mesmos. A interpretação desses factos é que difere, em função das premissas e dos modelos explicativos e preditivos de que ambos partem.

Assim, a ideia de que a religião e a ciência constituem dois “magistérios não sobreponíveis” (Stephen Jay Gold)[24], na sua aparente plausibilidade, peca, numa avaliação condescendente, por ser demasiado ingénua e simplista. Em rigor, como veremos adiante, a mesma está longe de ser inocente. Acresce que a referida dicotomia epistémica, além de ser má para a religião, tem também efeitos nefastos para a própria ciência. Com efeito, ao remeter para a religião o exclusivo da reflexão em torno da origem sobrenatural do Universo, aquela delimitação de tarefas vincula a ciência, de forma inexorável, a premissas teóricas e metodológicas de base estritamente naturalista e materialista, as quais se têm vindo a revelar insuficientes para explicar o mundo tal como existe. Se o Universo tiver sido o resultado de um desígnio inteligente, hipótese que a ciência não pode descartar a priori, então uma metodologia estritamente naturalista, no pior sentido da palavra, estará impedida de explicar todas as suas características.

A ciência das origens não pretende responder apenas à questão de saber “como é que o Universo surgiu por acaso?”, mas sim “como é que o Universo surgiu?”. Diante desta questão o acaso é apenas uma das respostas teorética e cientificamente possíveis. A necessidade e o design inteligente são outras. Não há qualquer razão para excluir a priori qualquer destas respostas. Se isso acontecer, a evolução aleatória será estabelecida como verdade estipulativa, por definição, tornando-se imune a qualquer crítica. A TE e o CB pretendem responder à mesma questão a partir da análise dos mesmos factos, mas com base em postulados diferentes. O que está em causa, em última análise, não é um conflito entre ciência e fé, mas sim entre duas religiões ou visões do mundo substancialmente diferentes: a visão naturalista e a visão bíblica[25]. Como veremos, esta última fornece um quadro explicativo e preditivo muito mais consistente com os dados empíricos observáveis.

A FÉ DO CRIACIONISMO E DO EVOLUCIONISMO

Pela fé compreendemos que o mundo foi criado pela Palavra de Deus, de modo que aquilo que se vê veio do que se não vê.

Hebreus 11: 2

Quem confia na sua inteligência não aceita aquilo que vem do Espírito de Deus. Para esse são coisas sem sentido.

I Coríntios 2:14

Na base de qualquer paradigma científico encontram-se invariavelmente algumas premissas insusceptíveis de prova, nem sempre suficientemente explicitadas e sujeitas a exame crítico. Na verdade, todo o pensamento teorético tem como ponto de partida pressupostos fundacionais indemonstráveis, designados como axiomas, modelos, paradigmas, matrizes discursivas, epistemas, mundividências, crenças, ideologias, etc.[26] Tanto o CB como a TE assentam os seus modelos de interpretação e explicação dos factos em pressupostos fundacionais[27]. A repetição acrítica do slogan de que “a criação é religião e a evolução é ciência”, tem impedido muitos evolucionistas de analisar objectivamente as premissas que eles mesmos aceitam pela fé[28]. Os criacionistas conhecem bem as premissas de que partem. As mesmas assentam na crença na existência de Deus e na fidedignidade da Sua revelação, escrita por mais de 40 autores ao longo de mais de 3500 anos. Para os criacionistas, a doutrina da criação é a primeira e a fundacional doutrina bíblica, servindo de base às subsequentes doutrinas da queda, da corrupção, da aliança, da salvação e da restauração de todas as coisas. Se a doutrina da criação é verdadeira, então não se pode construir qualquer ramo do saber à margem dela. Não se pode edificar as diferentes disciplinas científicas sobre bases epistemológicas naturalistas, materialistas, uniformitaristas e acidentalistas.

Os criacionistas reconhecem que a Bíblia não é um livro técnico-científico, como muitas vezes se ouve dizer. Isso não é um mal em si, na medida em que, de um modo geral, os livros científicos têm erros e ficam rapidamente desactualizados. Acresce que isso não quer dizer que a Bíblia seja cientificamente incorrecta. Mesmo um livro não técnico, dirigido ao público infantil, pode ser cientificamente correcto. Do mesmo modo, quando alguém vai à médica de família, não espera que esta o esmague com os dados científicos da Anatomia de Gray ou da Medicina Interna de Harrison, mas apenas que, em linguagem simples e acessível – mas rigorosa – lhe diagnostique a sua doença e prescreva a medicação em conformidade. O CB parte do princípio de que quando se lê a Bíblia obtém-se, em linguagem simples, um relato rigoroso da criação. Um Deus Criador que se apresenta como o Verbo (Palavra; Razão) é capaz de comunicar, de forma simples, clara e correcta, sobre a origem do Universo. Se Ele não é capaz, quem é?

Para o CB – por mais que chocante que isso possa ser para a inteligência secularizada – a maior autoridade em matéria de Criação é o próprio Criador, a única testemunha ocular desse processo. As Suas palavras valem mais do que toda a especulação humana, por mais “científica” que pretenda ser. O CB admite abertamente, sem quaisquer complexos epistémicos, a aceitação destas premissas pela fé. Embora a Bíblia não seja um livro científico, ela, enquanto Palavra de Deus, contém os axiomas e os postulados a partir dos quais devem ser estruturados os teoremas, as teorias e os modelos científicos. Não sendo um livro científico, a Bíblia é essencial ao conhecimento científico. O reconhecimento de Deus é o princípio de todo o conhecimento.

Porém, contrariamente ao que se pode pensar à primeira vista, as premissas dos evolucionistas também assentam numa base puramente fideísta, em tudo análoga, em termos estruturais-funcionais, à crença religiosa. Há muito que os criacionistas vinham apontando para esta realidade, negada durante décadas por muitos evolucionistas[29]. No entanto, nos últimos anos tem vindo a aumentar o número de evolucionistas que vêm dar a mão à palmatória e a reconhecer a religiosidade intrínseca das suas crenças [30]. Mais uma vez o caso de Ernst Mayr é paradigmático. Na entrevista acima mencionada ele reconhece: ‘todos os ateus que eu conheço são altamente religiosos; isso não significa apenas acreditar na Bíblia ou em Deus. A Religião é o sistema de crenças básicas da pessoa. A humanidade quer respostas para todas as perguntas irrespondíveis”.  Ou seja, em última análise todos têm um sistema de crenças intrinsecamente religioso. Não é por acaso que o Supremo Tribunal norte-americano, no caso Torcaso v. Watkins [367 U.S., 488, (1961)], considerou o humanismo secular como uma religião sem Deus.

O sistema de crenças básicas do evolucionismo naturalista assenta em determinadas proposições de fé, entre as quais  podemos destacar as seguintes [31]:  1) o princípio evolucionista é universalmente válido. Ele observa-se não apenas na biologia mas em todos os outros domínios. 2) A ciência não pode apoiar-se na existência de um Criador, devendo adoptar uma metodologia e uma epistemologia naturalista, recusando liminarmente qualquer causalidade sobrenatural. 3) A matéria é um dado adquirido, na medida em que, dada a lei da conservação da energia e da equivalência entre matéria e energia, nem o Big Bang pode ser considerado uma teoria da criação. 4) A evolução aumenta aleatoriamente a organização dos sistemas, da não vida para a vida, da vida simples para a vida complexa, sem qualquer plano nem propósito. 5) O presente é a chave do passado. A partir do que vemos hoje podemos fazer extrapolações e tirar conclusões seguras sobre o que aconteceu no passado. Nisto se consubstancia o pressuposto do uniformitarismo. 6) A Bíblia deve ser entendida em termos exclusivamente naturalistas, racionalistas e materialistas. Longe de ser Palavra de Deus inspirada e inerrante, ela foi escrita por homens e para homens, no respectivo contexto político, económico, social e cultural.  Ela pode ter sido inspirada pela crença em Deus, no quadro geralmente aceite da evolução do pensamento humano, mas nunca inspirada pelo próprio Deus, cuja existência se questiona.

É esta fé que leva a TE a excluir a priori, qualquer explicação não estritamente materialista para o Universo e a vida. Uma vez pré-programadas as diferentes disciplinas com base nela, não admira que as mesmas conduzam, invariavelmente, a resultados naturalistas e evolucionistas. Como poderia ser de outro modo? Mas, sublinhe-se, também isto é função de um compromisso de fé. O fundamentalismo evolucionista é bem patente nas palavras de Richard Dawkins[32], quando, depois de tecer considerações ridículas e absurdas sobre o Génesis, afirma: “se eu estou correcto, isso significa que mesmo que não exista qualquer prova factual para a teoria de Darwin, é certamente justificável aceitá-la acima de todas as outras teorias.” (o itálico é nosso). Como iremos ver, não existe qualquer prova factual! Embora os evolucionistas mais inflamados sejam geralmente bem sucedidos na estigmatização como pré-modernos, anti-científicos e anti-intelectuais de todos quantos não aceitem aquelas proposições de fé naturalista, a verdade é que nenhuma delas pode ser cientificamente comprovada, nem é indispensável ao conhecimento científico.

É certo que a crença na doutrina da criação também não pode ser experimentalmente comprovada, na medida em que os eventos da criação já aconteceram e não se encontram disponíveis para repetição em laboratório. Assim, a TE e o CB encontram-se à partida em condições epistemológicas semelhantes. A grande diferença entre ambos não está, como vimos, nos factos de que evolucionistas e criacionistas têm conhecimento, ou no grau de conhecimento científico de uns e outros. O que diverge são  as premissas e os modelos de que uns e outros partem para interpretar esses factos. No entanto, não existe uma completa equidistância da TE e do CB relativamente aos factos. Algumas premissas do evolucionismo não são sequer sustentáveis em face dos dados da ciência. Na verdade, o CB refuta todas as afirmações fundamentais da TE sem ter que mobilizar qualquer texto bíblico e recorrendo frequentemente aos escritos dos próprios evolucionistas.

Os factos, em si mesmos, desmentem pura e simplesmente a TE, como tem vindo a ser reconhecido com crescente intensidade, mesmo em círculos não criacionistas. O CB permite uma melhor explicação dos factos, para além de fornecer um quadro muito mais plausível para o sentido da existência e da história humana. Todavia, em virtude de postulados naturalistas, o método científico está viciado, na medida em que, perante um exame cuidadoso dos mesmos factos, só são admitidas como científicas as “explicações” que apontem para a origem acidental de tudo o que existe. As perspectivas criacionistas são rejeitadas liminarmente como não científicas, transformando a evolução na única verdade científica possível, independentemente dos factos. A TE apresenta-se, assim, como dogma imune perante qualquer alternativa, já que qualquer alternativa é, por definição, não científica. Essa afirmação em termos dogmáticos não deixa de ser curiosa, para uma teoria que pretende ser científica. É como se um juiz só considerasse juridicamente admissíveis as provas e as inferências que apontassem para uma explicação meramente casual de um determinado evento e excluísse, como não jurídicas, todas as provas e inferências que sugerissem que o mesmo foi premeditado. Seria esse um procedimento objectivo e imparcial?

O REGRESSO DO CRIACIONISMO BÍBLICO

Obrigo os sábios a recuar, e mostro que o seu saber é estupidez.

Isaías 44: 25

Onde estão os sábios? Onde estão os doutores? Onde estão os entendidos nas coisas deste mundo? Não mostrou Deus que a sabedoria deste mundo não passa de loucura?

I Coríntios 1:20

As premissas evolucionistas tiveram um grande impacto em todos os domínios da vida política, jurídica, económica, social e cultural[33], embora nos preocupemos fundamentalmente com a ciência e a teologia cristã. Esta última foi operando as necessárias transformações e adaptações hermenêuticas e conceptuais em ordem a acompanhar as exigências da modernidade, como que temendo ser apanhada pela lógica inelutável da “sobrevivência do mais apto”. As velhas certezas tiveram que ser repensadas e reavaliadas, num processo extremamente doloroso. A autoridade da Bíblia, e a visão comum da criação que nela se baseava, surgia cada vez mais enfraquecida, levando muitos a abandonar a sua fé e a confiar no novo mundo prometido pela ciência. Alguns viam nisso um sinal de progresso, ao passo que outros procuravam resistir pela fé, ancorados a uma visão das coisas que se afigurava insustentável diante das novas evidências. No entanto, deve dizer-se que o darwinismo foi contestado desde a sua origem pelos próprios cientistas.

Merece especial relevo o nome de Louis Agassiz (1807-1873), um cientista e professor na Universidade de Harvard, que desde logo afirmou que teria todo o gosto em abraçar o evolucionismo, se não fosse a total falta de evidências de evolução no registo fóssil. No entanto, Agassiz não era adepto do CB, considerando ridículas as histórias bíblicas da criação em seis dias, de Adão e Eva e do dilúvio global, preferindo ao invés compreender a Terra como o resultado  de catástrofes e recriações divinas sucessivas. Louis Agassiz era a excepção à regra, juntamente com alguns nomes isolados. O darwinismo propagava-se por toda a parte, de forma avassaladora, tendo conseguido uma importante vitória nos Estados Unidos na sequência do célebre caso judicial “Monkey Trial”, em Dayton, Tenn., em 1925. Paralelamente, à falta de defesas consistentes do CB, a teologia cristã viveu os séculos XIX e XX fazendo um esforço no sentido de harmonizar o relato bíblico com os dados científicos, operando as necessárias mutações de sentido dos textos e seleccionando, de acordo com as suas pré-compreensões, as verdades de entre os mitos.

Este estado de coisas começa a alterar-se substancialmente com a publicação, em 1961, da influente obra sobre o dilúvio global, The Genesis Flood, de John C. Withcomb e Henry M. Morris. A influência deste trabalho deve ser assinalada, na medida em que, pela primeira vez, veio demonstrar a possibilidade de defender o relato bíblico com base em evidências geológicas sólidas[34]. Como premissa fundamental do seu trabalho estava a ideia, totalmente contra a corrente, nos termos da qual a ciência humana falível devia submeter-se ao relato bíblico divinamente inspirado e infalível. Em seu entender, esta premissa, além de ser teologicamente consistente, rejeita liminarmente o naturalismo e o materialismo que estruturam a priori o cientismo moderno, tendo ainda o mérito de permitir elaborar um modelo explicativo e preditivo dos factos científicos muito mais eficaz do que o modelo da TE. Deste modo se lançaram as bases para o crescimento exponencial que o CB tem vindo a conhecer nas últimas décadas. Entre as muitas organizações que se dedicam ao tema salientamos apenas o Institute for Creation Research[35], nos Estados Unidos, fundado em 1970 por Henry M. Morris, e a organização Answers in Genesis[36], na Austrália, onde sobressaem nomes como Ken Ham, Carl Wieland e Jonathan Sarfati. Estas organizações utilizam intensamente a internet para divulgarem os seus materiais. Actualmente o interesse no CB manifesta-se em dezenas de países em todo o mundo. Nos países de língua portuguesa, o CB tem conhecido um assinalável crescimento no Brasil[37].

Refira-se que mesmo fora do CB aumenta a frustração em torno do darwinismo. Um dos principais sintomas disso mesmo é a emergência do “Intelligent Design Movement” (IDM), um movimento científico que tem adquirido grande proeminência nos Estados Unidos[38]. Particularmente relevantes, neste contexto são as obras Darwin on Trial, de Phillip Johnson, The Design Inference, de William B. Dembski, Darwin’s Black Box, de Michael Behe, e Icons of Evolution, de Jonathan Wells. A principal premissa de que se parte é a de que, actualmente, graças aos avanços nas teorias da complexidade, do design, das probabilidades e da informação, é possível demonstrar, para além de qualquer dúvida razoável, a existência de “design inteligente” no Universo, sendo impossível explicar a complexidade da vida com base no mecanismo das mutações aleatórias e da selecção natural. A concepção inteligente do Universo deixou agora de ser uma mera questão especulativa a discutir por teólogos e filósofos, passando a ser uma questão científica a discutir por cientistas, mas com grandes implicações para as relações entre a ciência e a religião[39].

CRIACIONISMO BIBLICO E CIÊNCIA

A tua palavra é a verdade desde o princípio.                                                                  

                                                                                              Salmos 119:160

Porque o Senhor é quem dá sabedoria e dele procedem o saber e o conhecimento.

           Provérbios 2: 6

Um dos preconceitos mais enraizados sobre o CB é a ideia de que este movimento é anti-intelectual, não levando em consideração os dados da ciência. Nada mais absurdo! A desconstrução crítica deste preconceito remete para algumas considerações.

Em primeiro lugar, como se viu, o CB não é hostil ao conhecimento e ao método científicos. Pelo contrário, a visão bíblica do Universo é a mais científica possível, na medida em que nos propõe um Universo ordenado e cientificamente inteligível (porque criado por um Ser inteligente), distinto do Criador (podendo por isso ser objecto de investigação e experimentação, ainda que com limites éticos). Na verdade, se tudo começou com uma grande explosão e tem evoluído de forma aleatória, em que se fundamenta a expectativa científica de inteligibilidade do Cosmos? Do mesmo modo, como podemos estar certos de que as nossas teorias não passam de uma mera ilusão óptica imposta pelos nossos genes egoístas, apenas por imperativos reprodutivos?[40] Tanto a inteligibilidade do Cosmos como a possibilidade de conhecimento fidedigno do mesmo decorrem naturalmente das premissas do CB, mas não dos postulados materialistas, acidentalistas e irracionalistas e da TE.

Deve notar-se que foi justamente onde mais intensamente se assistiu à redescoberta da Bíblia, no Renascimento e na Reforma, que mais cedo floresceu a moderna revolução científica e tecnológica[41]. Não é por acaso que algumas das mais prestigiadas universidades do mundo (Oxford, Cambridge, Harvard, Princeton, Yale, etc.) começaram por ser centros teológicos para o ensino da Bíblia. Os pais fundadores dos principais ramos da ciência moderna eram, na sua maioria, criacionistas (vg. Newton; Maxwell; Pasteur; Lister). Do mesmo modo, o ensino generalizado do criacionismo nas escolas norte-americanas não impediu a ida à Lua, sendo que o director do Programa Apolo, Werner von Braun, era criacionista. Por sua vez, o fundador da famosa revista Scientific American, agora convertida ao evolucionismo, era também ele um fervoroso criacionista. Mesmo que uma ampla maioria de cientistas negue hoje o CB, não se pode legitimamente afirmar que o CB alguma vez tenha constituído um entrave ao progresso da ciência[42].

Em segundo lugar, o CB distingue entre ciência operacional e experimental, por um lado, e ciência das origens, por outro. Na primeira categoria encontramos toda a investigação científica que procura compreender o Universo e a vida (v.g. astronomia, física,  medicina) observando factos repetitivos. É com base na ciência operacional que se curam doenças ou se constróem foguetões, satélites, aviões, automóveis, pontes, computadores ou telemóveis. A ela se deve a grande reputação de que a ciência goza nos nossos dias. Relativamente à ciência operacional não existe qualquer querela entre evolucionistas e criacionistas, sendo certo que nenhuma das observações aí feitas permite demonstrar a macro-evolução. As divergências que possam surgir nesta matéria não têm, em princípio, nada a ver com a posição que se possa tomar no debate entre o CB e a TE. Em todo o caso, os evolucionistas procuram capitalizar a seu favor o sucesso tecnológico da ciência operacional para reforçarem a cientificidade da TE, dando origem a uma espécie de “free rider problem” neste domínio. Os evolucionistas gostam de “viajar sem pagar” à custa dos bons resultados obtidos pela ciência operacional esquecendo, porém, que os sucessos tecnológicos conseguidos, se devem, não ao acaso, mas à aplicação intensiva de inteligência e informação, por sinal dois ingredientes centrais na cosmovisão do CB. Na verdade, não se vê em que é que as premissas acidentalistas e aleatórias da evolução podem influenciar positivamente a investigação científica operacional. Assim, a ligação entre a TE e a ciência operacional está longe de ser natural. Ou seja, não se pode incorrer na falácia da transferência, como muitos evolucionistas fazem, e pensar que o prestígio de que goza a ciência operacional pode aplicar-se, sem mais, à TE.

Com efeito, o CB e a TE, ocupando-se do problema das origens, pertencem ao domínio da reconstrução histórica, na medida em que pretendem formular conclusões sobre o passado inobservável com base nas observações feitas no presente por cientistas do presente. Para isso, a adopção à partida de certos postulados indemonstráveis sobre o mundo na sua totalidade é inevitável, por mais rigorosas que sejam as observações, as análises e as extrapolações empreendidas. Os factos observados serão sempre interpretados à luz de premissas e axiomas aceites a priori. Isso distingue, decisivamente, a ciência das origens da ciência operacional. Na verdade, a criação, tal como referida na Bíblia, não pode ser objecto de reprodução laboratorial e experimentação, na medida em que a mesma resultou de forças e processos que não se encontram em operação actualmente. Para o CB, as leis naturais nada nos dizem sobre a criação, na medida em que elas foram um dos produtos da criação. Por seu turno, a evolução, pretendendo ser um processo aleatório e gradual lentíssimo, de muitos milhões de anos, não pode, por definição, ser objecto de investigação experimental. Mesmo que Miller-Urey tivessem conseguido sintetizar a vida a partir da não vida (e não se tivessem ficado por uns poucos aminoácidos!), isso nunca seria prova da evolução, mas sim de que a vida necessita da verificação e controlo de condições altamente complexas e especificadas para surgir.

Não podendo ser demonstrados por via experimental, o CB e a TE encontram-se em condições de igualdade como modelos explicativos dos factos que hoje podem ser observados. Os criacionistas não recusam a ciência operacional, podendo ser tão bons nesse trabalho como os outros, como o mostra o percurso científico de Werner Gitt, uma das maiores autoridades mundiais em teoria da informação, ou de Raymond Damadian, um dos cientistas envolvidos no desenvolvimento da imagiologia por ressonância magnética nuclear que recentemente se queixou por, alegadamente, ter sido preterido na atribuição do prémio Nobel da Medicina apenas por ser criacionista, facto que suscitou protestos mesmo nos sectores evolucionistas [43]. A ciência operacional é vista pelo CB como uma forma de “pensar dos pensamentos de Deus, depois de Deus” (Newton), ou seja, como uma espécie de reverse engineering, orientada para a descoberta dos princípios que governam a concepção, estrutura e funcionamento do Universo e de todos os seus mecanismos.

Em terceiro lugar, e este é outro preconceito que importa afastar, não é verdade  que o CB explique tudo com um simples “Deus criou!” e dessa forma trave o progresso da ciência. Muitos criacionistas são professores universitários e não aceitam dos seus alunos um simples “Deus criou!” como resposta nos exames! O CB é adepto da expansão do conhecimento, não da sua retracção. O Deus da Bíblia não é apenas um “tapa buracos” para explicar o que a ciência ainda não conseguiu entender. Ele é o Criador de todas as coisas, tanto das visíveis como das invisíveis, das que se entendem e das que não se entendem. Manifestando o Seu poder e a Sua glória na criação, Deus quer um maior conhecimento desta. Nas palavras do Salmista, “os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” [44]. E a verdade é que alguns trabalhos neocriacionistas recentes sublinham precisamente que a Terra parece ter sido colocada no melhor local possível para observar e conhecer o Universo[45]. Ou seja, os próprios dados  científicos corroboram a ideia bíblica de que o Criador deseja a expansão do nosso conhecimento da Sua criação.

A premissa de que o Universo foi criado por um Ser inteligente, longe de atrasar o conhecimento científico, pode acelerar esse conhecimento. Por exemplo, um dos grandes saltos qualitativos da medicina foi dado por Galeno, no século II, o qual, pela primeira vez, baseou o seu trabalho na noção de que o corpo humano é um sistema, em que as partes estão todas precisamente ajustadas umas às outras, tendo funções claramente definidas e interdependentes. A noção de que o corpo humano é um sistema estruturado de forma complexa e especificada é tipicamente criacionista, na medida em que é precisamente isso que seria de esperar como resultado da acção criadora de um Ser dotado de uma inteligência suprema. Longe de travar o progresso da ciência, a mesma pode acelerar esse progresso. Isso mesmo pode ver-se, hoje, a propósito do debate em torno dos órgãos vestigiais e do chamado “junk-DNA”.

A existência de órgãos vestigiais, considerados inúteis porque meros vestígios da evolução humana, foi durante muito tempo apresentada como um dos principais argumentos a favor da evolução. Ainda hoje esse argumento se encontra nalguns livros de biologia, mais preocupados em pregar a fé do evolucionismo do que em transmitir uma visão cientificamente correcta dos factos. No século XIX o número dos órgãos vestigiais chegou a ser quantificado em cerca de 180. A crença no carácter vestigial e não funcional desses órgãos esteve na base de muitos erros médicos e atrasou substancialmente a investigação acerca da função desses órgãos no corpo humano. Ainda assim, o progresso das ciências médicas veio a demonstrar que todos os órgãos aparentemente vestigiais têm afinal uma função bem definida[46]. Os últimos órgãos a abandonarem o seu estatuto vestigial foram o apêndice e o cóccix[47]. Aí está mais um resultado plenamente consistente com o CB, mas que a TE tem dificuldade em compreender. Se se tivesse partido do princípio de que os órgãos humanos tinham uma função, porque resultado de design inteligente, a compreensão dessa função teria certamente sido mais rápida. A uma conclusão semelhante se tem vindo a chegar a propósito do impropriamente designado por “junk-DNA”[48].

Assim, longe de ter órgãos vestigiais de fases recuadas da evolução, o corpo humano é, na sua totalidade, um dos mais notáveis vestígios de um Criador inteligente[49]. Assim como o arqueólogo é estimulado na sua investigação quando encontra vestígios de presença inteligente, a consciência de que Deus criou, longe de travar o avanço da ciência, deve ser um incentivo acrescido à sua progressão, embora alerte sempre para a existência de limites éticos e morais que devem ser respeitados. Assim, o CB está longe de ser anti-científico. Ele apenas não vê nenhuma razão científica que conduza necessariamente à aceitação das premissas naturalistas e materialistas subjacentes ao evolucionismo.

ORIGEM E SINTONIA DO UNIVERSO

A quem podereis comparar-me? Quem seria igual a mim? – pergunta o Deus Santo. Levantem os olhos para o céu e vejam! Quem é que criou as estrelas? Foi aquele que as pôs em movimento, como se fosse um exército bem ordenado. A todas, ele chama pelo seu nome.

Isaías 40-25,26

Eu, o Senhor, é que criei tudo; sozinho estendi os céus. Quando firmei a Terra, quem estava comigo?

Isaías 44:24

A TE, com a sua premissa da universalidade do princípio evolutivo, edifica a sua cosmologia a partir do modelo do “Big Bang”, a teoria mais aceite acerca da origem do Universo. A mesma afirma que tudo se desenvolveu a partir de uma nuvem densa de partículas subatómicas e radiação que explodiu, formando hidrogénio (e algum hélio). Tudo se reduz a um grande acidente! Curiosamente, um astrofísico norte-americano veio recentemente afirmar que só um milagre poderia ter estado na origem do Big Bang. De acordo com esta teoria, o Universo surgiu do nada mediante um estado de flutuação quântica até uma partícula infinitesimal de espaço/tempo que explodiu e “insuflou” o Universo[50]. Sucede porém, que, tomado em si mesmo, o Big Bang consegue gerar mais interrogações do que respostas [51].

Os criacionistas perguntam, a propósito, de onde veio a partícula infinitesimal, ou “ovo cósmico”, que esteve na origem do Big Bang? Será razoável pensar que a mesma surgiu do nada? Quanto tempo é que ela existiu antes do Big Bang? O que é que terá provocado a grande explosão? Sendo a generalidade das explosões destrutivas, será razoável aceitar que uma explosão seja responsável por um Universo ordenado e pleno de mecanismos que nem a totalidade dos cientistas pode compreender? Se uma causa tem que ser maior do que o seu efeito; se tudo o que tem um princípio tem uma causa; se o Big Bang é o princípio do Universo; qual é, então, a causa do Big Bang? Na verdade, o Big Bang vive numa “bolha especulativa” que desafia tudo o que sabemos em termos de causalidade, probabilidades, conservação da energia, entropia e mesmo senso comum[52]. Sintomáticas são, a este propósito, as palavras de Brad Lemly: “não imagines o espaço exterior sem matéria dentro dele. Imagina nenhum espaço e nenhuma matéria. Boa sorte! Para a pessoa normal, deve ser óbvio que nada pode acontecer a partir de nada. Mas para o físico quântico, o nada é, de facto, qualquer coisa”[53]. Não querendo acreditar que Deus criou o Universo, a TE é levada a acreditar que ele “evoluiu” do nada[54]. O problema é que as provas desta intrigante conclusão tardam em surgir[55].

Note-se que está demonstrado que bastaria uma ínfima variação na velocidade de expansão do Universo, para que o mesmo se autodestruisse. Além disso, a probabilidade de uma explosão como a do Big Bang dar origem à vida tal como a conhecemos é tão ínfima, que se torna mais do que razoável duvidar de que esse resultado tenha sido conseguido por acaso. De resto, como conciliar o Big Bang e toda a evolução cósmica com as duas leis da termodinâmica, da conservação da energia e da entropia, que militam justamente em sentido contrário?[56] Os evolucionistas consolam-se com a afirmação de que o estudo das leis naturais impõe uma interpretação naturalista do Universo à qual ninguém racional e inteligente pode fugir. Porém, é sintomático que o Big Bang seja descrito, pelos cientistas, não como uma conclusão óbvia imposta pelo estudo sistemático das leis da física, mas sim como uma violação de todas essas leis, ou seja, como um milagre[57].

Na verdade, a análise das leis naturais da conservação da energia e da entropia aponta claramente para um momento inicial em que uma fonte sobrenatural introduziu energia e ordem no Universo, tal como a Bíblia ensina. A actividade do nosso Universo depende da existência de determinados princípios, exactamente como um computador depende de software. Será razoável pensar que tudo isso surgiu por acaso? Mas o mais surpreendente é a hiper-sintonia do Universo. Na verdade, hoje sabemos que as condições necessárias para a vida dependem de uma cuidadosa e precisa sintonia do Universo [58]. A existência de centenas de coincidências antrópicas continua a intrigar a comunidade científica, mesmo quando a hipótese da criação é liminarmente posta de parte[59].

Quando se vai para além da imagem mítica popular do Big Bang e das muitas dezenas de imaginativas hipóteses explicativas e dos mais ou menos esotéricos modelos matemáticos, astrofísicos e computacionais que esta teoria tem suscitado (todos impossíveis de testar experimentalmente!) e se procura indagar sobre o que os cientistas realmente sabem sobre a origem do Universo, o resultado é bastante decepcionante para quem espera da ciência uma resposta às questões últimas da existência. Na verdade, a própria velocidade da luz continua a intrigar os cientistas que promovem o modelo do Big Bang, como demonstra o interesse e a paixão suscitados na comunidade científica pela obra do português João Magueijo[60]. Para alguns autores, mesmo a utilização frequente de expressões como “anti-matéria”, “matéria negra” e “energia negra”[61], não passa de confissões envergonhadas de ignorância[62].

Do mesmo modo, verifica-se que a origem e a localização das galáxias permanece um mistério, o mesmo sucedendo com a origem das estrelas, da Via Láctea e do nosso sistema solar[63]. Até a origem da Lua continua envolta em acesa discussão[64]. Embora alguns teólogos e cientistas cristãos tenham procurado harmonizar o Big Bang com o relato do Génesis, o CB tem recusado esse modelo, por razões teológicas e científicas. A verdade é que o Big Bang está longe de ser a única cosmologia cientificamente plausível, mesmo dando como bons os dados da teoria einsteiniana da relatividade, também eles objecto de contestação recente[65]. Mais, cientificamente ele conhece hoje uma trepidação cada vez maior[66]. É sintomático que o maior astrofísico inglês, Sir Fred Hoyle, tenha sido, até à sua morte, um dos maiores adversários da teoria do Big Bang[67].

De um modo geral, as pessoas pensam que existem vários métodos independentes para estimar a idade do Cosmos. No entanto, uma análise cuidadosa da questão veio revelar que também aqui se está perante um castelo de hipóteses edificadas sobre premissas indemonstráveis. Os métodos utilizados para proceder à datação do Universo dependem, em última análise, das mesmas premissas evolucionistas e uniformitaristas utilizadas para a datação da Terra. Na verdade, a TE serve de base ao cálculo da idade da Terra, como veremos adiante, verificando-se que é a partir da idade da Terra assim obtida que se vai proceder, sucessivamente, ao cálculo das idades da Lua, de Marte, do Sol, do sistema solar e do Universo [68]. Ou seja, longe de assentar em métodos cronométricos fidedignos,  o “jogo das datações” nada mais é do que a tentativa de encontrar tempo suficiente no Universo para que a TE tenha alguma plausibilidade racional.  Ainda assim, surgem frequentes anomalias neste “jogo”. Por exemplo, embora a idade estimada para o sistema solar seja de cerca de 4,5 a 5 billiões de anos, os modelos evolucionistas existentes sugerem que os planetas Urano e Neptuno não deveriam existir[69], já que precisariam, para a sua formação naturalista, de pelo menos 10 biliões de anos[70]. Isto, para além de que a teoria das probabilidades mostra que se trata ali de uma tentativa falhada.

O estado de coisas acima descrito tem conduzido alguns cientistas criacionistas, inspirados por declarações bíblicas acerca da expansão do Universo e utilizando o instrumentário conceptual da teoria da relatividade geral,  a propor cosmologias que, sendo inteiramente compatíveis com a realidade dos muitos milhões de anos luz que nos separam das galáxias mais longínquas, também se mostram adequadas a uma criação recente do Universo, tendo como ponto de referência  o tempo do planeta Terra. Um dos mais influentes autores neste domínio é o físico e matemático norte-americano Russell Humphreys, do Sandia Laboratório Nacional de Albuquerque, no Novo México, com a sua teoria dos “buracos brancos”[71]. A sua perspectiva sugere que diante de um Deus para quem “mil anos são como um dia”[72], a pergunta a fazer não é tanto a de saber há quanto tempo existe o Universo, mas sim quanto tempo existe nas diferentes partes do Universo. Além disso, baseado na análise da cor mais ou menos avermelhada da luz irradiada pelas galáxias (redshifts), e com base na Lei de Hubble, Russell Humphreys sustenta a tese de que as várias galáxias se encontram posicionadas em círculos concêntricos ideais, precisamente ordenados, e que a nossa galáxia está no centro do Universo[73]. Estes resultados põem em causa as teorias que, com base no princípio cosmológico ou coperniciano, têm procurado convencer-nos de que o nosso sistema solar e o nosso planeta são vulgares entre milhões de milhões de sistemas e planetas idênticos, num Universo sem pontos de referência.

Tais resultados, a par de outras cosmologias neo-criacionistas, têm vindo a ressuscitar o interesse na consideração da Terra como planeta único e privilegiado, mas agora em moldes pós-copernicianos. Mas não se pense, de forma precipitada, que só os criacionistas têm explorado estas novas cosmologias. O desconforto que um  número crescente de cientistas não criacionistas vem sentindo com a teoria do Big Bang, está na origem do acolhimento de princípios idênticos aos propostos por Russel Humphreys num dos mais recentes números da prestigiada revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences[74], por sinal um dos principais bastiões do evolucionismo[75]. A generalização da crença de que tudo foi criado por uma grande explosão diz mais acerca da condição existencial da sociedade que sustenta essa crença, do que da criação propriamente dita. Os criacionistas chamam a atenção para o facto de que o naturalismo evolucionista, desprovido de qualquer explicação convincente para a origem do Universo, tem que ser aceite pela fé.

A TERRA COMO PLANETA PRIVILEGIADO

Deus estendeu a abóbada celeste sobre o vazio, e suspendeu a Terra sobre o nada.

Jó 26:7

Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a Terra, que a fez e a estabeleceu, não a criando para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o Senhor e não há outro.

Isaías 45:18

Tornou-se um lugar comum, edificando sobre Copérnico, propagar a ideia de que a Terra é apenas um planeta entre milhões e milhões de planetas idênticos, perdidos num Universo sem qualquer sentido e propósito. Este mantra é repetido a uma só voz da forma mais sonante. Tomemos como exemplos alguns dos mais conhecidos defensores da cosmologia evolucionista da actualidade. Stephen W. Hawking e George F. R. Ellis[76] sustentam a ideia de que, desde o tempo de Copérnico fomos relegados ao estatuto de um planeta de tamanho médio, rodando à volta de uma estrela média, no bordo exterior de uma galáxia mediana, que não passa de um num grupo local de galáxias. Na verdade – dizem ainda os autores – somos agora tão democráticos que não pretendemos que a nossa posição no espaço seja de alguma forma especial. Por seu lado, Carl Sagan[77] afirma que o nosso planeta é um grão de areia solitário na escuridão cósmica envolvente. Na nossa obscuridade, nesta vastidão – diz ele – não existe um indício de que qualquer ajuda possa vir de qualquer lado para nos salvar de nós próprios.

Muitos outros exemplos poderiam ser apresentados, embora nos pareça que estes são suficientes para mostrar o que está em causa. Existe apenas um pequeno problema com o entendimento destes autores. É que está por encontrar no espaço um planeta que reuna, como a Terra, as condições necessárias para a vida. As probabilidades de isso vir a acontecer foram matematicamente avaliadas como sendo uma em triliões de triliões de triliões de triliões de triliões, etc. Mesmo nos sectores não criacionistas assiste-se hoje a uma recuperação, em termos  pós-copernicianos, do interesse pela singularidade do planeta Terra[78]. A este propósito os cientistas chamam a atenção para o facto de que a Terra dá mostras de ter sido  precisamente configurada para ter condições necessárias à vida, como por exemplo, água em estado líquido. Exactamente como seria de esperar se a vida tivesse sido intencionalmente desejada e criada. Um pouco mais próxima do Sol, a água evaporaria. Um pouco mais distante, a água gelaria[79]. A Terra tem cerca de 500 milhões de quilómetros cúbicos de água – esse solvente universal – não existindo nem mais uma gota no resto do sistema solar[80].

Isto não exclui liminarmente a existência de água em estado não líquido em Marte, ou noutras partes do Universo, tanto mais quanto é certo que nos primeiros versículos de Génesis se diz que a água desempenhou um importante papel na criação de todas as coisas e que Deus fez desde logo separação entre águas debaixo do firmamento e águas por cima do firmamento[81]. Na verdade, água, na forma de gelo, pode ser encontrada em cometas, anéis planetários, nos pólos da Lua,  provavelmente em Vénus, em luas de grandes planetas, asteróides, etc. Na cosmologia de “buracos brancos” do criacionista Russell Humphreys, acima mencionada, a água desempenha um papel central na explicação da origem do Universo. Porém, dizer que a existência de água é evidência de vida faz tanto sentido como dizer que a existência de metal é evidência da presença de um Airbus A 380.

O importante é notar, por um lado, que o fosso entre H20 e a molécula de DNA – com a espantosa quantidade e diversidade de informação nela armazenada – é abissal, seja na Terra, em Marte ou em qualquer parte do Universo, e, por outro lado, que, muito para além da água, a vida em si mesma necessita de uma sintonia precisa de múltiplas variáveis para subsistir. E se fossem outras as propriedades atómicas da matéria? E se o Sol fosse um pouco menor ou maior? E se estivesse um pouco mais próximo ou mais distante da Terra? E se não existisse a atmosfera com a camada de ozono para filtrar os raios ultravioleta e permitir a entrada da luz solar? E se a luz solar fosse ligeiramente mais avermelhada ou azulada? E se a luz solar entrasse, mas não existisse esse complexo mecanismo, que é a fotosíntese, para converter a luz em energia aproveitável? E se fosse outra a inclinação do eixo de rotação da Terra? Está hoje demonstrado que qualquer pequena alteração destas variáveis colocaria seriamente em causa a vida no planeta Terra. Todas estas perguntas – entre um muitas outras possíveis – mostram que a Terra é realmente um planeta privilegiado, exactamente como seria de esperar à luz da revelação bíblica que afirma que o ser humano é um filho querido e desejado pelo Criador – que preparou a Terra para o receber – e não um acidente cósmico desprovido de sentido e propósito.

Um destaque especial merece a Lua, cuja origem permanece um mistério para a ciência[82]. Ela estabiliza o eixo da Terra, ao mesmo tempo que influencia as marés, impede a estagnação das águas, influencia as estações do ano e assegura alguma luminosidade de noite.  E se houvesse duas luas? E se não houvesse nenhuma? Em qualquer destas hipóteses os efeitos sobre a vida na Terra seriam devastadores. Por seu lado, a interacção gravitacional entre o nosso planeta e a Lua é fundamental para a conservação da vida. Do mesmo modo, a rotação e a translação da Terra asseguram um aquecimento moderado e equilibrado do planeta, fundamental para a vida e para as estações do ano. Refira-se ainda que o Sol é 400 vezes  maior do que a Lua e se encontra a uma distância da Terra também 400 vezes maior que a mesma, facto que dá lugar aos eclipses mais belos e cientificamente mais produtivos que se conhecem[83].

Hoje alguns cientistas não criacionistas vão ao ponto de falar na existência de uma “zona galáctica habitável”, chamando a atenção para o facto de que a hiper-sintonia se estende a todo o Universo. De acordo com este entendimento, a Terra encontra-se numa zona particularmente propícia à sustentação da vida, como não há outras na Via Láctea. Dizer isto não é aderir a uma concepção pré-coperniciana, mas sim pós-coperniciana, baseada numa séria e honesta apreciação das evidências. A ciência naturalista fala a propósito desta precisa sintonia do planeta Terra para a Vida de um altamente improvável “princípio antrópico”[84]. Diferentemente, o CB interpreta os mesmos factos à luz de uma altamente provável criação especial ex nihilo. Os evolucionistas gostam de afirmar que, só por si, as coincidências antrópicas não provam a criação. A verdade, porém, é que em matéria de coincidências antrópicas as probabilidades corroboram o CB e não a TE.   

A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA VIDA

Que a Terra produza toda a espécie de seres vivos… conforme as suas diferentes espécies.

Génesis 1:24

Nem toda carne é uma mesma carne; mas uma é a carne dos homens, outra a carne dos animais, outra a das aves e outra a dos peixes.

I Coríntios 15:39

A teoria evolucionista defende a teoria da abiogénese, isto é, do surgimento da vida a partir de não-vida, contra a lei biológica da biogénese. Fala-se frequentemente de uma “sopa pré-biótica”, da qual a vida teria necessariamente de resultar. Tudo por mero acaso, claro! Na verdade, a que outra conclusão se poderia chegar partindo de premissas exclusivamente naturalistas, que recusam a possibilidade de um Criador a priori? Uma vez removida a hipótese da criação especial, a única hipótese que resta, no domínio da fé darwinista, é a geração espontânea, por mero acidente [85]. Outra coisa é saber se existe realmente evidência científica nesse sentido. Também aqui, quando se vai além da adivinhação inspirada e da imaginação criativa dos cientistas, esbarra-se com  uma profunda dose de ignorância especulativa, que, embora seja expressamente reconhecida por muitos evolucionistas[86], escapa à generalidade das pessoas. Existem vários problemas sérios com a TE neste âmbito.

O primeiro tem que ver com a questão das probabilidades. Na verdade, a probabilidade de um sistema simples de replicação se formar por ele mesmo é tão baixa, que deve ser considerada praticamente igual a zero[87]. Ela é muito menor do que uma num número igual a todas as partículas do tamanho de um electrão que caberiam em todo o Universo. Existem muitas formulações deste problema, mesmo em sectores não criacionistas. Por exemplo, Duane Gish mostra que a probabilidade de surgir por acaso um hipotético organismo funcional constituído por 200 nucleótidos ordenados seria a de um em um bilião de triliões, mesmo dando como demonstrada uma idade para a Terra de 4,5 biliões de anos. Do mesmo modo, Fred Hoyle[88], afirmava que, mesmo depois de descontar a necessidade de garantir o concurso simultâneo de um número elevadíssimo de outras variáveis cósmicas, a probabilidade da formação da vida a partir de matéria inanimada é uma num número com 40 000 zeros depois dele. Nas suas palavras, isso é mais do que suficiente para enterrar Darwin e toda a TE.  É sintomático que Fred Hoyle tenha acabado por acreditar na criação.

A probabilidade de uma hipotética proteína funcional com 100 aminoácidos precisamente sequenciados surgir por acaso é de 1×10127, ou seja, 1 em 10 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 [89]. As probabilidades infinitesimais envolvidas na TE transcendem tudo o que a mente humana pode compreender. Talvez ajude se se disser que está calculado ser mais provável uma mesma pessoa ganhar a lotaria nacional todos os dias do século XXI, do que uma “simples” célula surgir por acaso[90]. É que no caso da célula – e no corpo humano existem cerca de 75 triliões! – as probabilidades de geração casual (i.e. de não ter sido criada) foram estimadas em menos de 1 em 10 57800, um número simplesmente incompreensível para a mente humana, particularmente se considerarmos que 1080 é “apenas” o número estimado de átomos existentes no Universo[91].

Se um qualquer dirigente desportivo da nossa praça justificasse a sua fortuna dizendo que tem ganho a lotaria todas as semanas nos últimos dez meses, será que os poderes públicos deveriam aceitar essa justificação como razoável? Ou deviam desconfiar e investigar outras causas muito mais prováveis? Poder-se-á argumentar que sempre que alguém ganha a lotaria isso é altamente improvável do ponto de vista de quem ganha. É verdade. No entanto, também é verdade que numa lotaria é sempre muito provável que alguém tenha o bilhete premiado. Muito mais difícil é acreditar que a mesma pessoa possa ter adquirido a sua fortuna ganhando a lotaria todos os dias ou semanas de um único século por mero acaso. Do mesmo modo, embora seja sempre provável, em abstracto, a ocorrência aleatória de uma qualquer combinação entre muitas combinações possíveis de elementos químicos, já é infinitamente improvável que uma sucessão de combinações aleatórias tenha conduzido à formação da molécula de DNA, de múltiplos aminoácidos, de proteínas funcionais, máquinas e motores moleculares, células e seres vivos,  cuja complexidade estrutural e funcional mesmo a totalidade dos cientistas do mundo está muito longe de conseguir compreender[92].

Para fugir ao problema das probabilidades infinitesimais, a resposta dos evolucionistas tem sido a de ficcionar a existência de múltiplos universos, anteriores ou paralelos, tentando dessa forma aumentar as probabilidades do surgimento da vida por acaso [93]. De acordo com este entendimento, se postularmos a existência de um número extremamente elevado, as probabilidades de nalgum deles existirem condições para a vida aumentam significativamente. Trata-se, porém, de pura especulação, cujo objectivo consiste em evitar, a todo o custo, como disse o conhecido evolucionista Richard Lewontin, a entrada de um “pé divino na porta”[94] da sua ciência materialista. Para além de tornar ainda mais difícil a questão das origens – já extremamente complicada apenas com um Universo – esta estratégia não prova nada, a não ser o facto de que a fé dos evolucionistas é manifestamente irrazoável, embora seja admirável a sua capacidade para acreditar em coisas altamente improváveis. Em todo o caso, esta estratégia só confirma o que os criacionistas vêm dizendo: este Universo tem condições favoráveis para a vida altamente improváveis. Na verdade,  muitos evolucionistas admitem hoje abertamente que a TE, no sentido amplo do termo, só é viável se se acreditar piamente em entidades misteriosas e milagres matemático-probabilísticos – o que não deixa de ser irónico, tendo em conta os seus constantes esforços para desacreditar ou explicar racionalmente os milagres descritos na Bíblia. Para o CB, se a probabilidade de a TE estar correcta quanto à origem acidental da célula é inferior a 1 em 10 57800,é legítimo afirmar, sem qualquer sacrifício do intelecto, que a criação ex nihilo é infinitamente mais provável do que a  evolução.

Um segundo problema tem que ver com a total inexistência de evidências da teoria da abiogénese. O biólogo australiano Michael Denton[95], afirma que, tendo em conta o modo como a sopa pré-biótica é referida em tantas discussões sobre a origem da vida como uma realidade estabelecida, torna-se um choque perceber que não existe absolutamente qualquer evidência positiva da sua existência! No mesmo sentido, Noam Lahav, observa que um número significativo de cientistas tem colocado em questão o conceito de sopa pré-biótica, referindo que, mesmo que tenha existido, a concentração de blocos orgânicos de construção da vida teria sido demasiado pequena para ser significativa para a evolução pré-biótica. Mesmo as teses do “mundo RNA” ou da “vida a partir das rochas” continuam sem resolver o problema da origem da vida. Na verdade, são cada vez mais os autores a notar, como Klaus Dose[96], que mais de trinta anos de experimentação sobre a origem da vida nos campos da evolução química e molecular conduziram a uma melhor percepção da imensidade do problema da origem da vida na Terra, em vez de fornecerem a sua solução.

Nos anos cinquenta do século XX, as famosas experiências Miller-Urey[97], que conseguiram sintetizar uns quantos aminoácidos em condições precárias e extremamente controladas, levaram muitos a prever para breve a resolução do problema da origem espontânea da vida. No entanto, também aqui os resultados não têm sido mais do que uma confissão de ignorância, desde então sem quaisquer progressos significativos, como concluem os especialistas na área [98]. O conhecido cientista Paul Davies, por sinal um agnóstico, considera que os cientistas não estão hoje mais perto do que estavam há quarenta anos atrás de resolver a questão da origem da vida[99]. Coloca-se assim uma questão fundamental: por que razão se sustenta ser intelectualmente imperioso aceitar a TE, de matriz naturalista e materialista, se ela não consegue responder, de forma minimamente satisfatória, à questão primeira e fundacional da evolução que é a da própria origem da vida?  Não é por acaso que muitos evolucionistas, chegados a este beco sem saída, optam por uma retirada estratégica e tentam dissociar a TE da questão da origem da vida.

Um terceiro problema prende-se com a impossibilidade da evolução em face da segunda lei da termodinâmica[100]. Esta afirma que, com o tempo, todos os sistemas, abertos e fechados, tendem naturalmente da ordem para a desordem, do complexo para o simples, da informação para o “ruído”. Quando confrontam a evolução da vida, os evolucionistas sustentam que o oposto aconteceu, isto é, que o tempo mais o acaso criaram ordem e complexidade. Na base do seu argumento está a ideia de que a referida lei só se aplica a sistemas fechados ou isolados, o que não acontece com a Terra, na medida em que obtém energia do Sol, por exemplo. No entanto, um número cada vez maior de cientistas tem notado que a lei se aplica a todos os sistemas, abertos e fechados, e ao Universo no seu todo. Aliás, mesmo os seres humanos, que são sistemas abertos, tendem a deteriorar-se. De resto, não basta a existência de uma fonte de energia para que qualquer coisa possa acontecer num sistema aberto.  A resposta dos evolucionistas é, invariavelmente, de que o Universo no seu todo caminha para a desordem, pelo que a existência de ordem pontual não contraria a segunda lei da termodinâmica. No entanto, está ainda por encontrar e explicar a força cósmica que permite à evolução contrariar, de forma sistemática, a segunda lei da termodinâmica. Nalguns casos, a pretensa solução deste problema apoia-se em noções vagas como as de “evolução cósmica”, “fractais”, ou “estruturas dissipativas”[101].

No entanto, esta orientação não explica como se formou toda a ordem do Universo, nem diz quanta ordem localizada é compatível com a desordem globalizada. Além disso, a mesma peca por confundir ordem (v.g. cristais; flocos de neve) com complexidade especificada e irredutível (v.g. cillium, flagellum bacterianum)[102]. Serão o caos e o acaso os responsáveis pelo cérebro humano e os seus triliões de ligações, por muitos considerado o mecanismo mais complexo que se conhece no Universo? O biólogo não criacionista Michael Denton responde a esta interrogação com um rotundo: não![103] O que se verifica é que sempre que os sistemas “evoluem” de uma estrutura simples para uma mais complexa, é necessária a verificação de condições muito especiais, incluindo, pelo menos, duas coisas: um código com informação pré-estabelecida (v.g. DNA) e um sistema preciso de conversão de energia (v.g. fotosíntese).

Um quarto problema prende-se com a existência, na biologia, de numerosos exemplos de máquinas moleculares irredutivelmente complexas, inexplicáveis com base na operação gradualista de mutações aleatórias e selecção natural. Um dos mais carismáticos expositores da TE, Richard Dawkins[104],   explica que este mecanismo cego, inconsciente e automático é o responsável pela evolução das formas mais básicas e simples de vida para as mais elevadas e complexas, até se chegar a essa maravilha natural que é o cérebro humano. Porém, qualquer leitor atento não deixará de notar os obstáculos insuperáveis com que este entendimento se defronta.

a) Em primeiro lugar, ele é puramente especulativo, já que ninguém alguma vez viu o surgimento de uma característica completamente nova numa espécie existente através daquele processo. As mutações, sendo raras, raramente são benéficas, e quando são benéficas para um indivíduo, raramente são benéficas para uma população[105]. Elas são geralmente responsáveis por deficiências graves e doenças letais. Os criacionistas não negam as mutações, limitando-se a salientar a sua natureza patológica, na origem de defeitos genéticos, doenças e outras formas de variação negativa dentro das espécies. As mesmas tendem a deteriorar a informação genética do genoma, não a aumentá-la.

Do ponto de vista do CB, as mutações remetem naturalmente para o relato bíblico de uma criação perfeita, seguida da queda no pecado e da corrupção resultante. Além disso, as mesmas não criam informação genética nova, que codifique novas estruturas e funções, limitando-se a seleccionar, eliminar, duplicar, trocar ou recombinar informação genética pré-existente, como foi recentemente demonstrado pelo biofísico Lee Spetner, depois de estudar mutações durante várias décadas [106]. Acresce que a selecção natural, como o próprio nome indica, é conservatória e eliminatória, não criando nova informação genética. Isto, não falando no problema das probabilidades infinitesimais envolvidas, que tornam a evolução por mutações aleatórias virtualmente impossível[107]. Pequenas variações em função do meio (microevolução), não podem ser utilizadas como “prova” da evolução (macroevolução)[108], já que as mesmas se apoiam em informação genética pré-existente. Deduzir a macro-evolução da micro-evolução é uma fantasia invertida destituída de sentido!

De nada vale brandir as variações nas dimensões dos bicos dos tentilhões, que Darwin observou nos Galápagos, nem argumentar com o desenvolvimento da resistência dos vírus aos antibióticos[109]. Do ponto de vista do CB, semelhantes variações, além de não criarem informação genética nova, são, na generalidade dos casos,  exactamente o que seria de esperar da criação da vida por um Ser inteligente, dotada de capacidade de adaptação a alterações do meio, tal como os engenheiros que conceberam as sondas espaciais procuraram criar condições para que as mesmas se possam adaptar às irregularidades de Marte.

Mesmo os exemplos de “criação de novas espécies” por cruzamento reprodutivo, tantas vezes apregoados como evidências da evolução, nada mais são do que a recombinação de informação genética pré-existente.  O CB não nega, nem as mutações aleatórias, nem a selecção natural. Do mesmo modo, não nega a existência de exemplos de “especiação”, como seja, por exemplo, o surgimento de 400 variedades de caninos dentro do “género” Canis familiaris[110]. Apenas afirma que nada disso tem que ver com a evolução propriamente dita, na medida em que nada disso implica ou explica a geração da imensa quantidade de informação genética nova, necessária ao processo ascendente de transformação gradual de partículas em plantas, animais e pessoas. As novas espécies assim criadas têm menos informação genética do que as anteriores, pelo o que só dá razão aos criacionistas quando os mesmos afirmam que toda a informação tem que existir no princípio[111].

b) Em segundo lugar, e contrariamente ao que sugere Richard Dawkins, não existe vida simples. Uma “simples” célula é mais complexa do que o mais complexo mecanismo criado pelo homem, além de ser uma maravilha inigualável de miniaturização tecnológica. Os autores que têm estudado enzimas e bactérias ficam maravilhados com a sua complexidade especificada, irredutível às suas partes componentes independentes [112]. Contrariamente ao que pensava Charles Darwin, para quem as células não passavam de protoplasma indiferenciado, a generalidade das estruturas moleculares apresenta-se irredutivelmente complexa, necessitando as suas estruturas do concurso simultâneo de milhões de nucleótidos precisamente sequenciados e ajustados para poderem funcionar, o que não se explica, nem com base em mutações graduais aleatórias, ao longo de milhões de anos, nem com base em episódios pontuais de “evolução por saltos”[113]. O mesmo vale para determinadas estruturas e funções. Por exemplo, para funcionar o joelho necessita da verificação simultânea de 16 características críticas, codificadas através de milhares de instruções precisas no DNA[114]. Quanto forneceu a sua “explicação” sobre a evolução do olho humano – que os menos informados ainda levam a sério – Charles Darwin não fazia a mais pequena ideia, por exemplo, da existência de 400 000 foto-receptores por ml2 da retina.O darwinismo, com a sua ênfase nas mutações aleatórias desprovidas de qualquer propósito ou objectivo sistémico, consegue explicar a complexidade cumulativa, mas não consegue explicar a complexidade irredutível de máquinas moleculares dotadas de múltiplas partes funcionalmente integradas e precisamente coordenadas.

c) Em terceiro lugar, o registo fóssil insiste em não assinalar evidências plausíveis de uma evolução gradual das espécies, como tem sido reconhecido mesmo pelos mais proeminentes evolucionistas[115]. Stephen Jay Gould, o recentemente falecido professor de Harvard, um dos mais empenhados e destacados defensores da evolução, admitiu que “a falta de espécies intermédias no registo fóssil é o segredo profissional dos paleontologistas”. Para este autor, nem sequer se consegue imaginar a existência de elos intermédios plenamente funcionais entre as diferentes espécies [116]. Ora, o processo evolutivo gradual de milhões de anos, tal como imaginado pelo neodarwinismo, deveria ter deixado milhões de fósseis intermédios, e não apenas a mão cheia de exemplos altamente controversos actualmente existente, tanto mais que existem biliões de fósseis de espécies claramente definidas. Os museus de história natural deveriam estar cheios de fósseis intermédios, o que não sucede[117].

Como notou Stephen Jay Gould, o registo fóssil, longe de demonstrar a evolução gradual das espécies, caracteriza-se pela aparição abrupta de uma ampla diversidade de espécies plenamente formadas e pela sua permanência. De resto, também o já mencionado Ernst Mayr concede este mesmo ponto[118]. Os problemas daqui resultantes para a TE são insuperáveis. O próprio Charles Darwin admitiu que a falta de evidência das formas intermédias significaria a refutação da sua tese. Ponderando as vias de solução para esta questão, Niles Eldredge, um conhecido paleontologista evolucionista, sustentou que existem fundamentalmente duas alternativas para os evolucionistas: ou se conserva a teoria neodarwinista tradicional, a despeito da inexistência de evidências, ou se adopta um modelo de evolução através de grandes saltos, a despeito de este assentar em proposições biológicas muito dúbias.

Perante esta encruzilhada, Richard Dawkins manteve-se fiel ao gradualismo neodarwinista, apesar da inexistência de qualquer evidência fóssil nesse sentido, por considerar que a evolução por saltos é biologicamente impossível. Em sentido contrário, o paleontologista Stephen Jay Gould sustentou a evolução por saltos, apesar da inexistência de qualquer fundamento biológico, por considerar que não existe qualquer evidência fóssil de gradualismo[119]. Quanto a esta questão, o CB concorda com Stephen Jay Gould, ao defender a inexistência de qualquer evidência paleontológica séria de evolução gradual, concorda com Richard Dawkins, quando este afirma que a evolução por saltos é biologicamente impossível, mas discorda de Niles Eldredge quando este afirma que o gradualismo e o saltacionismo são as duas únicas alternativas, já que ambas não têm qualquer base empírica. Para o CB, a criação especial é a única via cientificamente plausível.

Um quinto problema diz respeito à impossibilidade, já anteriormente referida, de demonstrar empiricamente a TE. Muitos outros evolucionistas têm admitido a existência aqui de um problema sério. Por exemplo, Keith Stewart Thompson afirma que um dos mais óbvios desafios da TE consiste em provar empiricamente a evolução. Nas suas palavras, existem entre dois a dez milhões de espécies sobre a Terra. Ora, o registo fóssil mostra (na cronologia evolucionista) que as espécies sobrevivem entre três a cinco milhões de anos. Assim sendo, para Thompson deveríamos poder observar um pequeno mas significativo número de novas espécies e extinções em cada década[120]. Sucede que, na avaliação do autor, não existe evidência, nos últimos 10 000 anos, do surgimento de qualquer espécie inteiramente nova. Isto, naturalmente, sem prejuízo da ocorrência de múltiplos fenómenos de especiação a partir de informação genética pré-existente. Este fenómeno é totalmente consistente  com o CB, que postula a dispersão dos casais de animais que sobreviveram ao dilúvio, seguida de uma rápida especiação a partir deles. Em todos estes casos, porém, a informação genética vai sucessivamente diminuindo, e não aumentando.

Como se vê, nada é mais absurdo do que a acusação de que o CB não atende aos dados da ciência. Pelo contrário, a TE é que enfrenta as maiores dificuldades na sua adequação aos factos. Ela apoia-se, não nos factos observáveis, mas na interpretação daquilo que não se pode observar, de acordo com premissas naturalistas indemonstráveis. Como dissemos, o problema da CB não é com a ciência, mas sim, e apenas, com o naturalismo nela pretende abusivamente “viajar sem pagar bilhete”. Pelo contrário, o naturalismo é que tem um problema muito sério com a ciência: se a abiogénese é impossível, o naturalismo também é impossível! As considerações expendidas demonstram que a explicação mais racional dos factos é a que aponta para a criação especial do Universo e da vida por Deus. A TE, com todas as suas pretensões de cientificidade, não explica a origem da vida, não identifica o ancestral comum, não dispõe dos elos intermédios da cadeia evolutiva nem tão pouco conseguiu precisar e especificar o mecanismo de evolução. Mais, a maior parte dos principais argumentos a favor da evolução (v.g. experiência Miller-Urey, homens-macacos, embriões de Haeckel, tentilhões dos Galápagos, Archaeopterix, homologias, fósseis de cavalos), tem sido refutada pela literatura especializada, não criacionista, mais recente[121].

O CB e a TE não se encontram numa posição de equidistância relativamente aos factos. Com efeito, pelo menos quatro coisas são empiricamente observáveis, e todas elas corroboram inteiramente o CB: 1) A vida surge da vida (minor vita ex vita), de acordo com a lei da biogénese. O contrário nunca foi observado por quem quer que seja. 2) As várias formas de vida reproduzem-se de acordo com a sua espécie, com pequenas variações. 3) Não há vida simples. Mesmo a mais simples célula é mais complexa do que o mais complexo dos mecanismos criados pelo homem. 4) Uma multiplicidade de diferentes formas de vida coexiste nos mesmos eco-sistemas. Como se disse, todos estes dados empíricos decorrem naturalmente do modelo CB, sendo previstos por ele, embora não sejam previstos pela TE e necessitem de uma explicação. Neste sentido, também os criacionistas podem dizer que o presente é a chave do passado! Quem diz que a Bíblia não é correcta do ponto de vista científico devia ter em conta o facto de que a biologia bíblica se adequa plenamente a estes dados empíricos, na medida em que postula a criação quase simultânea das várias espécies. Em vez de um ancestral comum, ela parte do princípio da existência de um Criador comum.

UNIFORMITARISMO, CATASTROFISMO  E DILÚVIO GLOBAL

Cobriste-a com o mar profundo, como se fosse um manto, e as águas taparam as montanhas. Mas tu repreendeste-as e elas fugiram. Estremeceram ao ouvir a tua voz de trovão. Subiram montanhas, desceram vales, até ao lugar que lhes determinaste, até aos limites que lhes proibiste ultrapassar, para que o mar não volte a cobrir a Terra.

     Salmos 104 6-9

Não poupou ao mundo antigo, embora preservasse a Noé, pregador da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios.

    II Pedro 2:5

O CB não se limita a afirmar a veracidade do relato do Génesis no mundo da subjectividade e da fé. Ele afirma a sua veracidade em todos os domínios do mundo real. Daí que também no campo da geologia o CB faça afirmações que colidem frontalmente com aquelas teorias científicas que assentam em premissas naturalistas. Importa salientar, antes de mais, que os dados geológicos e o registo fóssil são os mesmos, tanto para evolucionistas como para criacionistas. No entanto, a interpretação geocronológica e biológica que deles é feita por uns e outros é substancialmente diferente, sendo que, também aqui, a interpretação do CB é aquela que melhor permite explicar os dados empíricos. Uma área extremamente interessante é a que diz respeito aos vários métodos através dos quais se tem procurado datar a idade da Terra. O CB tem procedido à análise meticulosa de todos eles. No entanto, não é possível dar conta disso neste momento. Nas linhas subsequentes iremos apenas tecer algumas breves considerações sobre dois temas intimamente relacionados entre si: a coluna geológica e o registo fóssil na sua relação com a evolução das espécies. Finalizaremos com algumas considerações sobre o dilúvio global descrito no livro de Génesis o qual, de acordo com o CB, explica melhor a realidade geológica e o registo fóssil.

A geologia moderna, tem vindo a interpretar as diferentes formações rochosas com base nos postulados naturalistas do uniformitarismo do Lyell e do evolucionismo de Darwin[122]. Para Lyell, um jurista de formação, os processos geológicos observáveis no presente são a chave para a compreensão dos processos ocorridos no passado. São estes postulados que estão na base do modelo da coluna geológica, que vai desde a era pré-Cambriana até ao Pleistoceno, utilizada pela TE para demonstrar a extrema antiguidade da Terra e a existência de um processo de evolução das espécies, desde uma partícula até ao ser humano. Ambas as coisas estão intimamente relacionadas, na medida em que a TE necessita de uma Terra suficientemente antiga para a evolução ter alguma plausibilidade. Na verdade, a despeito de toda a sofisticação intelectual apregoada, a relação da TE com o tempo é espantosamente simplista. Para a TE, o tempo é uma espécie de alcatifa para baixo da qual são varridas todas as dificuldades colocadas pelo mecanismo de mutações aleatórias e selecção natural. Para a TE, desde que haja tempo suficiente, tudo é possível, mesmo um chimpanzé escrever os planos de construção de um Airbus A 380. Para a TE, o tempo é o verdadeiro criador de todas as coisas. Por outras palavras, Deus não tem poder para criar o Universo a partir do nada; só o tempo tem esse poder. Isto, note-se, apesar de a evolução aleatória das espécies ser um milagre matemático-probabilístico, mesmo para uma suposta idade da Terra de 4,5 biliões de anos. O criacionismo em geral é compatível com qualquer idade da Terra, embora o CB postule uma idade recentíssima (cerca de 6 a 7 000 anos).

As rochas sedimentares são o resultado de materiais sólidos transportados pela água e pelo vento e compactados por camadas de depósitos que a elas se sobrepõem. Para calcular a idade das rochas sedimentares, os geólogos não se baseiam, em ultima análise, na respectiva aparência, nos seus conteúdos minerais, nas suas características físicas estruturais, na sobreposição vertical ou na idade das rochas adjacentes[123]. É certo que, num primeiro momento, esses e outros elementos são reconduzidos a um mapa geológico através do qual as rochas são avaliadas nas suas relações de campo[124].

Do mesmo modo, os geólogos medem a espessura das camadas de sedimentos e calculam o tempo que elas teriam levado a formar-se com base nos ritmos de sedimentação actualmente verificados. É uma regra de três simples. Se a formação de uma camada de um centímetro de sedimento demora y, a formação de um metro de sedimento demora 100 x y. Subjacente a este método está a premissa do uniformitarismo[125]. No entanto, esta premissa é falível, já que uma grande espessura tanto pode ser o resultado de pouca água ao longo de muito tempo, como de muita água em pouco tempo. Com efeito, algumas catástrofes naturais têm demonstrado a possibilidade de depósito rápido de várias camadas de rochas sedimentares em espaços de tempo muito reduzidos. Numa única tarde, a erupção do Monte de Santa Helena produziu sete metros de camadas de rochas sedimentares precisamente sobrepostas. Do mesmo modo, o Burlingame Canyon, próximo de Walla Walla, Washington, é uma réplica em ponto pequeno do Grand Canyon, tendo a sua formação sido observada em menos de 6 dias. O mesmo tem 450 metros de comprimento e 35 de profundidade[126]. Daí que, em última análise, os geólogos confiem, para a datação destas rochas, nos chamados fósseis de idade, considerados indicadores seguros de uma dada era geológica. No entanto, estes fósseis não trazem em si mesmos inscrita a sua idade. Eles têm que ser datados pelos geólogos, operação que necessariamente depende das premissas de que se parte[127].

A TE parte da premissa de que os fósseis traduzem um diferente estágio no processo de evolução das espécies. Essa premissa tem sido incorporada pela geologia moderna, desde Lyell. Assim, se 1) a datação das rochas sedimentares é feita com base na idade dos fósseis de idade, e se 2) a datação dos fósseis é feita com base na premissa de que houve evolução, segue-se que 3) a datação das rochas sedimentares é feita com base na premissa de que houve evolução. Ou seja, a idade da Terra tem sido deduzida a partir de métodos que, longe de provarem a sua extrema antiguidade e a existência de evolução, assumem-nas como premissas, dando dessa forma por demonstrado o que é necessário demonstrar. O CB tem chamado a atenção para o que de falacioso e tautológico existe neste raciocínio, sublinhando que não existe realmente aqui qualquer prova da escala temporal evolucionista.  Todavia, os problemas não acabam aqui, já que a continuação das investigações neste domínio tem conduzido à proliferação de fósseis poliestráticos, isto é, presentes num número cada vez maior de estratos de rochas sedimentares[128] e mesmo dos chamados fósseis vivos[129]. Isto, já não falando dos múltiplos exemplo em que rochas alegadamente mais antigas surgem por cima de outras muito mais recentes ou da descoberta de fósseis extremamente complexos nas rochas mais antigas[130]. Todos estes factos encaixam perfeitamente no modelo do CB. No entanto, para a TE o problema é tão sério a ponto de pôr em dúvida a própria existência da coluna geológica[131].

Mas a circularidade continua quando se trata dos métodos de datação por decaimento radioactivo utilizados para datar rochas vulcânicas[132]. É o caso, entre outros, dos métodos potássio/argon, rubídio/estrôncio e urânio/hélio/chumbo. No essencial, estes métodos são relativamente fáceis de compreender. Por exemplo, conhecendo-se o tempo de decaimento de urânio (pai) para chumbo (filho), medido de acordo com a sua “meia-vida”, é possível calcular a idade de uma rocha a partir da quantidade do elemento filho nela encontrada. Muitos utilizam estes métodos como prova da falsidade do relato bíblico da criação sustentando, com base neles, a extrema antiguidade da Terra. Todavia, estes argumentos não colhem. Desde logo, estes métodos de datação assentam em premissas uniformitaristas, insusceptíveis de demonstração. São elas, de um modo geral, as de que 1) o sistema permaneceu sempre fechado; 2) o sistema não continha inicialmente nenhuma quantidade do elemento filho ou continha uma quantidade precisamente determinada (v.g. chumbo); 3) a taxa do processo de decaimento manteve-se sempre constante.

O problema com estas premissas é simplesmente o de que não existem na natureza sistemas fechados, para além de que é impossível saber quais os componentes iniciais de um sistema em tempos pré-históricos. Por outro lado, sabe-se que na natureza nenhum processo se mantém constante [133]. Se existe alguma evidência empírica, ela demonstra que nenhuma das premissas mencionadas pode ser sustentada com segurança. De resto, tem sido observado que sempre que a datação obtida por via do registo fóssil (que pressupõe a evolução), difere da datação radiométrica (que pressupõe o uniformitarismo), os geólogos optam, em última análise pela primeira, sendo que não existe qualquer meio de datação geocronológica independente da prévia adesão fideísta a premissas evolucionistas e uniformitaristas.

Para além do problema das premissas, os próprios geólogos evolucionistas reconhecem que estes métodos podem conduzir a resultados muito díspares entre si, procurando resolver os problemas por via interpretativa. Por exemplo, um pedaço de madeira foi datado como tendo cerca de 100 000 anos, usando o método de Carbono 14, ao passo que a rocha dentro da qual ele se encontrava alojado foi datada, com base no método potássio/argon, como tendo 20 milhões de anos[134]. Além disso, tem havido casos, como os da datação das rochas originadas pelo vulcão do Monte de Santa Helena (Wa.), de 1980, em que rochas com uma idade conhecida, de cerca de 20 anos, foram datadas como tendo alguns milhões de anos[135]. Ora, se os métodos de datação têm dado resultados totalmente desadequados quando utilizados para datar rochas cuja idade é conhecida, como podemos confiar neles quando se utilizam para datar rochas de idade desconhecida?

De resto, foi recentemente demonstrado que nem mesmo as premissas uniformitaristas conseguem salvar estes métodos. No caso do método de decaimento urânio/hélio/chumbo, por exemplo, observou-se muito recentemente que, ao mesmo tempo que o chumbo (206) presente nas rochas graníticas aponta para uma idade de 1,5 biliões de anos, consistente com premissas uniformitaristas, já o hélio encontrado nos zircões, pequenos cristais radioactivos de rochas graníticas, sugere uma idade apenas de cerca de 6 000 anos![136] Estes e outros resultados apontam claramente para a ocorrência, no passado, de decaímento radioactivo acelerado[137].  Os evolucionistas confundem apressadamente a quantidade de isótopos nas rochas com a idade dessas rochas, embora sejam coisas diferentes!

No que diz respeito ao registo fóssil e à teoria da evolução das espécies, é interessante notar que logo quando formulou a sua teoria, Darwin reconheceu que a ausência de fósseis intermédios constituía uma séria objecção à sua teoria da evolução das espécies. Charles Darwin estava convencido que achados posteriores iriam permitir localizar os fósseis intermédios em falta. Como vimos anteriormente, isso não aconteceu. Pelo contrário. Mesmo os fósseis considerados mais antigos, apresentam uma espantosa diversidade, tendo surgido abruptamente, totalmente formados, plenamente funcionais e referenciando formas de vida tão complexas como as que existem actualmente.

Os evolucionistas falam com perplexidade da chamada “explosão cambriana”, alertando para o facto de que aí os fósseis encontrados mostram organismos inteiramente formados e funcionais, sem quaisquer antecedentes evolutivos[138]. Ou seja, depois de não se conseguir apoiar numa teoria da abiogénese claramente fundamentada, a teoria da evolução também não consegue explicar a origem súbita de múltiplas espécies no registo fóssil, por sinal dotadas já de características extremamente sofisticadas, como é o caso, entre outros, dos olhos das trilobitas[139]. Do mesmo modo, quando um fóssil aparece em várias camadas de rochas sedimentares, verifica-se que as suas características permanecem praticamente inalteradas. Já vimos que isto mesmo tem sido amplamente reconhecido pelos evolucionistas. O caso da suposta evolução das aves é paradigmático. Os milhões de elos intermédios que deveríamos poder encontrar deste processo simplesmente não existem[140]. Todavia, embora não tenham qualquer margem de manobra quanto aos factos, ainda assim insistem nas suas “fábulas engenhosas”, as quais, embora denotando uma grande imaginação, não podem confundir-se com os dados empíricos em si mesmos.

Em face do exposto, a geologia moderna não nos diz necessariamente a idade das rochas, mas apenas a idade que as mesmas teriam se fosse correcto o modelo interpretativo uniformitarista e adoptado pela TE. Só que esse modelo é incorrecto. A geologia moderna interpreta os dados geológicos e o registo fóssil como evidências da evolução. Isto, apesar do carácter falacioso da datação das rochas e do facto de o registo fóssil não apresentar quaisquer evidências da evolução das espécies e de o próprio processo de fossilização em larga escala sugerir a ocorrência de eventos catastróficos. Quando morrem, os animais normalmente não se fossilizam, antes se decompõem por acção microbiana ou são devorados por outros. Mas então,  pergunta-se: de que falam os dados da geologia? Qual é a sua mensagem?

Para o CB a resposta é clara. Longe de ter a extrema antiguidade sugerida pela geologia uniformitarista, a Terra é bem mais recente. De resto, nesse sentido apontam evidências significativas, como a detecção de hemoglobina em ossos de dinossauro não fossilizados (!), o efluxo de gases para atmosfera, a reduzida quantidade de hélio na atmosfera, a presença de hélio em zircões, a escassa erosão continental, o influxo de materiais para o oceano, o efluxo de materiais do manto para a crosta da Terra, a quantidade de sal nos oceanos, o decaimento do campo magnético da Terra, a velocidade de recessão da Lua, etc., etc.[141] Igualmente significativo é um estudo recente, levado a cabo por geólogos japoneses, corroborando a tese sustentada pelos criacionistas sobre a possibilidade de rápida petrificação da madeira em condições químicas adequadas, refutando a noção uniformitarista de que também este fenómeno precisaria de milhões de anos para poder ocorrer[142]. Isto, para além de outras evidências, como sejam a recente emergência das civilizações mais antigas, as estatísticas demográficas, etc.[143]

Mas se existem essas evidências de que a Terra é recente e se os fósseis desmentem a TE, como compreender então os dados geológicos e o registo fóssil? A esta interrogação o CB responde com a afirmação de que dados geológicos, com a sua configuração claramente catastrofista e registando a presença de milhões de fósseis de espécies inteiramente formadas, com o esmagador predomínio de invertebrados marinhos, constitui um testemunho eloquente, não da extrema antiguidade da Terra, como sustenta a TE, mas da ocorrência de um dilúvio global, incomparável com qualquer evento geológico anterior ou posterior, acompanhado de numerosas catástrofes locais subsequentes[144]. Não é por acaso que mesmo na geologia não criacionista tem vindo a ganhar expressão o neo-catastrofismo, colocando as maiores dúvidas sobre toda a geo- e biocronologia assente em postulados uniformitaristas.

Para o CB, os factos atestam que o dilúvio de Noé teve um forte impacto geológico, deslocando continentes, criando rochas, erodindo e redepositando sedimentos, elevando montanhas e inundando vales. É significativo o facto de que 75% da superfície terrestre se encontra coberta de água e que nos cumes das montanhas mais elevadas, incluindo o Evereste, se encontram sedimentos das profundezas do mar e fósseis de moluscos. Igualmente significativa é a recente descoberta de fósseis de dinossauros no Alasca e na Antártida, evidenciando alterações climáticas catastróficas.

Os vastos depósitos de sedimentos e fósseis, espalhados por toda a face da Terra, desprovidos de qualquer evidência da evolução das espécies, constituem exactamente o que seria de esperar de um dilúvio global. Na verdade, o que é razoavelmente se esperaria de um dilúvio global? Certamente biliões de espécies animais sepultados em camadas de rochas sedimentares em todo o mundo. É precisamente isso – e não evidencias de evolução! – que se encontra no registo fóssil. Mas para além disso, o dilúvio global tem muito a dizer sobre outros problemas que a geologia moderna ainda não conseguiu resolver cabalmente, como a deriva dos continentes, a tectónica de placas ou a Idade do Gelo[145]. O mesmo sucede com as reservas de carvão e petróleo, que têm a sua origem na subducção de grandes quantidades de matéria orgânica, onde é possível encontrar ainda restos semi-decompostos de plantas e Carbono 14 [146]. Alguns dos mais influentes criacionistas vão ao ponto de sustentar empiricamente uma dimensão cósmica para o dilúvio[147]. A aceitação do dilúvio é uma inferência racional com  base na melhor explicação.

Não deixa de ser significativo o facto de que as mais antigas civilizações conhecidas surgiram cerca de trezentos anos após o dilúvio de Noé, não parecendo muito plausível a explicação evolucionista de que o homo sapiens já existe há cerca de 150 000 anos e que só por mera coincidência é que as primeiras civilizações surgiram cronologicamente tão próximas desse suposto dilúvio e logo,  também por coincidência, com uma toponímia e toponomástica baseada nos nomes dos filhos e netos de Noé[148]. Igualmente digno de nota é o facto de nas mais variadas culturas, em todos os continentes, existirem tradições que aludem à ocorrência de um dilúvio global, com paralelismos espantosos entre si, tendo sido documentadas mais de 250, em contextos culturais tão diferentes como os da Babilónia, Pérsia, Síria, Turquia, Grécia, Roma, Rússia, China, Índia, América do Norte, Centro e Sul, Ilhas Fiji, Havai, Aborígnes na Austrália, etc.

Por sua vez, o relato bíblico aponta de forma inequívoca para um dilúvio global e só assim tem sentido nos seus pormenores (v.g. construção, ao longo de quase 100 anos, de uma embarcação com cerca de 150 metros de comprimento e condições óptimas de estabilidade; inclusão das aves na arca; imobilização da arca nas montanhas de Ararat e não no Golfo Pérsico). A TE rejeita não apenas o relato bíblico mas os demais testemunhos da antiguidade. Todavia, a única razão pela qual muitos rejeitam o dilúvio não é por falta de evidências empíricas, mas apenas pela sua adesão a priori aos postulados da geologia uniformitarista, mesmo contra as evidências. Mais uma vez, não é o CB que ignora os factos. De resto, não é por acaso que um conjunto crescente de autores não criacionistas, inspirado pelas mais recentes descobertas da arqueologia subaquática, vem chamando a atenção para o facto de que a história humana tem sido mal contada pela historiografia dominante, havendo evidências crescentes de que algo de excepcionalmente catastrófico aconteceu há alguns milénios atrás[149].

CRIAÇÃO E NATUREZA HUMANA

Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

Génesis 1:27

Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a Lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites? Contudo, pouco abaixo de Deus o fizeste; de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés.

Salmos 8:4-6

A TE tem um profundo impacto na imagem do ser humano, na medida em que, compreendendo a sua existência com base num processo materialista aleatório, cego e sem propósito, retira-lhe qualquer valor e sentido[150]. A racionalidade humana está posta em causa se o ser humano não passa de animal mais elevado, um agregado acidental de genes egoístas. A moralidade não faz sentido se Hitler e Madre Teresa são apenas o produto de reacções químicas aleatórias estruturalmente idênticas. As implicações éticas e jurídicas do evolucionismo foram bem compreendidas por Oliver Wendell Holmes, um dos mais importantes juristas norte-americanos do princípio do século XX – representativo do positivismo cientista e realista – que afirmou abertamente: “[I] see no reason for attributing to man a significance different in kind from that which belongs to a baboon or a grain of sand”[151].

Para uma nova geração de evolucionistas, o ser humano não passa de um “computador de carne”[152] (comparação que não deixa de ser argumentativamente intrigante, de um ponto de vista criacionista, já que os computadores, longe de terem surgido e evoluído por acaso, são das mais sofisticadas criações da inteligência humana e funcionam com base em informação!). Tendo começado com a  identificação do homem um  entre muitos animais, a separação do homem do seu Criador aprofunda-se agora com a sua consideração como uma entre muitas outras máquinas[153].

Em última análise, lançam-se assim as bases de um radical pessimismo nihilista  e de um pragmatismo amoral, uma agenda que não deixa de ser curiosa para uma teoria que se afirma exclusivamente preocupada com questões científicas[154]. Ora, também aqui há mais filosofia do que ciência. Na verdade, todas as afirmações da TE sobre a natureza humana baseiam-se, não em resultados científicos, mas em pontos de partida naturalistas, materialistas e evolucionistas. Para a TE, o estudo das origens é, acima de tudo, a arte de extrair conclusões suficientes de evidências insuficientes. Em sentido diametralmente oposto, o CB sustenta que o ser humano foi criado intencional e directamente por Deus, tal como a Bíblia relata. E todos os factos científicos, longe de refutarem essa afirmação, corroboram-na inteiramente. Quando se analisam mais de perto as evidências empíricas de que os evolucionistas dispõem para  fundamentar a evolução do homem, a única conclusão legítima é a de que eles têm muita imaginação e conseguem contratar bons artistas para lhes fazerem os desenhos dos hipotéticos homens-macaco. Na verdade, para o CB um exame sério das evidências dos primatas alegadamente ancestrais do homem tem permitido concluir que se está, alternativamente, perante situações de 1) fraude, 2) erro, 3) verdadeiros homens, 4) verdadeiros macacos[155].

Como exemplo da situação 1) encontramos, desde logo, o famoso Homem de Piltdown, que subsistiu entre 1912 e 1950. Impressionados pelo carácter aparentemente esmagador das evidências apresentadas, muitos cristãos de boa fé foram induzidos a adoptar posições de compromisso com o evolucionismo. Há cerca de 50 anos a fraude foi detectada e denunciada. Um outro exemplo de fraude 1) é o do homem de Minnesota[156]. Na categoria de erro 2), encontramos os exemplos do Homem de Nebraska, “criado” com base no dente de um porco,  do Ramapithecos, que afinal não passava de um orangotango, e do Homem de Orce, que era apenas o crânio de um burro. Como exemplo de macaco 4) encontramos, com toda a certeza, o Australopithecus. Este foi estudado durante quinze anos por Lord Solly Zuckerman, um dos mais competentes anatomistas da Inglaterra, juntamente com a sua equipa, tendo-se concluído que se estava perante um verdadeiro macaco. O seu discípulo Charles Oxnard, Professor de Anatomia nos Estados Unidos e na Austrália confirmou que não se está perante um ancestral do ser humano. Do mesmo modo, tudo indica que o Homem de Java e o Homem de  Pequim são verdadeiros macacos [157]. Por outro lado, do Homo Erectus pode dizer-se que é um verdadeiro homem[158]. Acresce que actualmente o debate em torno do Homem de Neandertal prende-se com saber se se trata de um verdadeiro homem (3), ou de um verdadeiro macaco (4), sem qualquer relação genética com o homem. A generalidade dos criacionistas, secundados por muitos evolucionistas, propende para o entendimento de que se trata de um verdadeiro ser humano – como sucede com os Pigmeus, os Zulus ou os Aborígenes – sofrendo de artrite e falta de vitamina D, em virtude das alterações climáticas resultantes da idade do gelo pós-diluviana[159]. Os criacionistas podem apresentar muitos outros exemplos que conduzem aos mesmos resultados.

Interessantes, neste contexto, são também os dados das estatísticas demográficas. Para obtermos o crescimento da população actual desde o dilúvio, necessitamos apenas de um acréscimo populacional médio de 0,45% ao ano, duplicando a população mundial cada 155 anos. Um número perfeitamente normal e aceitável, curiosamente semelhante ao crescimento do povo judeu desde o dilúvio até às vésperas do Holocausto, que foi de 0,44% ao ano. Absolutamente implausíveis são as estatísticas demográficas da TE. Se, como afirmam os evolucionistas, o primeiro Homo erectus  realmente surgiu há cerca de 1 milhão de anos atrás, mesmo as estimativas mais conservadoras, supondo um crescimento populacional médio de apenas 0,01% ao ano, dizem que a Terra deveria ter actualmente biliões de biliões de indivíduos, mais precisamente, 1043. Do mesmo modo, como a TE se compraz em especular, se realmente existiu uma Idade da Pedra de pelo menos 100 000 anos (ou, para alguns, 1 milhão de anos) em que os homens enterravam os seus mortos, então deveriam ter sido enterrados dezenas de biliões de cadáveres, juntamente com os seus artefactos. Ainda que aqueles se decompusessem, estes permaneceriam. Mas, onde é que eles estão?[160]

Também por aqui não se percebe por que é que são encontrados tão poucos elos intermédios da cadeia evolutiva. Nesta, como nas outras matérias, a explicação mais racional dos factos é dada pelo CB. Um recente artigo na revista Nature, baseado em estudos feitos por especialistas de matemática da Universidade de Yale e do MIT, na área da estatística populacional, apoiado na utilização de supercomputadores, veio demonstrar que o ancestral comum de todos os seres humanos vivos terá existido apenas há poucos milhares de anos atrás[161], também isso em plena consonância com as previsões do CB, que afirmam que Noé é o nosso ancestral comum. Este resultado foi considerado surpreendente pelos autores do estudo, embora só possa surpreender os evolucionistas. Mais uma vez se vê que quando se desce do plano das especulações antiteístas para o domínio dos factos propriamente ditos o CB tem vantagem sobre a TE.

De resto, outros factos parecem corroborar inteiramente o CB, embora algumas questões permaneçam em aberto e as conclusões não devam ser precipitadas. As investigações em torno do DNA mitocondrial, herdado preponderantemente da mãe (mtDNA), parecem sugerir que todos os seres humanos descendem de uma única mulher. A partir de “relógios moleculares” operando com base em premissas uniformitaristas e evolucionistas sobre as taxas de mutação, os cientistas vêm situando essa mulher num tempo algures entre 55 000 e 425 000 anos atrás[162], embora os métodos que se limitam a observar a taxa das mutações deste tipo de DNA, que é muito mais elevada do que o normal, juntamente com a atenção crescente às suas possibilidades de recombinação, apontem para uma datação muito mais recente, de há cerca de 6000 anos atrás, de longe mais de acordo com as previsões do CB[163]. O mesmo parece valer, com as devidas adaptações, para as investigações feitas em torno do Cromossoma Y, que demonstram que todos os seres humanos descendem de um mesmo homem, exactamente como previsto pelo CB[164]. É interessante que estudos específicos sobre o Cromossoma Y de Judeus e Árabes confirmam o ensino do Génesis sobre Abraão, na medida em que atestam que uns e outros descendem de um mesmo homem[165].

E que dizer da homologia que se verifica no DNA, na anatomia e na fisiologia dos seres humanos e dos chimpanzés, não falando agora dos outros animais? A mesma é utilizada frequentemente como evidência de um ancestral comum[166]. Na verdade, pode dizer-se que este é um do mais importantes argumentos actualmente mobilizados a favor da evolução. Isto, apesar de a evidência não ser sequer conclusiva[167]. Tautologicamente, explica-se a homologia a partir de um ancestral comum e este a partir da homologia. Ou seja, dá-se como demonstrado o que é preciso demonstrar. Para o CB a homologia anatómico-fisiológica entre as diferentes espécies não prova, por si só, a evolução. Desde logo, a mesma nem sempre resulta de processos de desenvolvimento biológico semelhantes, não existindo uma relação biunívoca entre homologias e semelhanças genéticas[168]. Na verdade, são frequentes os casos em que os evolucionistas, desafiando todas as probabilidades, têm que postular uma “evolução paralela” de estruturas totalmente diferentes entre si, mas dotadas de uma mesma função (v.g. olhos).

Além disso, as homologias são o resultado que seria naturalmente de esperar da existência de um Criador comum, o qual – à semelhança do que todos os dias fazem os engenheiros – usou os princípios, materiais e estruturas similares em diferentes criaturas. Na verdade, se não existisse qualquer continuidade genética entre os diferentes animais e plantas poderíamos ser levados a concluir pela existência de diferentes criadores em vez de um só[169], além de que não seria possível a assimilação, pelos animais, de nutrientes a partir da natureza. Os criacionistas não negam as semelhanças genéticas, apenas as interpretam como evidências de um criador comum, ao mesmo tempo que sublinham que as diferenças são mais relevantes do que as semelhanças. Na verdade, mesmo uma diferença genética de 5% entre os homens e os chimpanzés corresponde a 150,000,000 de pares de bases de DNA entre eles. Esta diferença, além de ser impossível de explicar com base nos “relógios moleculares” normais, faz toda a diferença na distinção dos seres humanos de todos os animais.

Para o CB, uma coisa é estudar as diferenças e as semelhanças genéticas entre as várias espécies. Aí, no domínio dos factos, não existe qualquer divisão entre a TE e o CB. Outra coisa é interpretar essas diferenças e semelhanças para tentar “provar” a evolução a partir de um ancestral comum. O problema é que o estudo das homologias não explica, por si só, como surgiu a informação genética necessária para a existência das diferentes espécies, nem permite preencher as lacunas no registo fóssil. Para o CB, é especialmente significativo o facto de que todos os seres humanos terem sequências de DNA extremamente semelhantes, ao ponto os evolucionistas terem de concluir pela origem única recente dos humanos modernos, também por aqui aproximando os factos do relato bíblico [170]. Em matéria de homologias, o CB e a TE têm diferentes interpretações para os mesmos factos.

Os evolucionistas gostam de comparar a inteligência dos chimpanzés com a do homem para daí retirarem ilações sobre a respectiva proximidade evolutiva, ficando obviamente confusos com descobertas como as que revelam que mesmo os corvos evidenciam uma maior capacidade de manipulação de ferramentas do que a dos chimpanzés[171]. Todavia, como se disse, a homologia, só por si, não demonstra a existência de um ancestral comum, tanto mais que as diferenças que distinguem o ser humano dos outros animais são mais significativas do que a homologia. Pense-se na capacidade humana de pensamento abstracto e de criação, no seu interesse pela ciência, tecnologia, arquitectura, literatura, pintura, música, etc. Um chimpanzé não conseguiria ler e compreender uma única frase deste artigo, mesmo que a conseguisse dactilografar por mero acaso. O pensamento abstracto é indissociável da competência linguística humana, que consiste num importante mecanismo de produção, armazenamento e transmissão de informação.

A origem e a evolução da linguagem humana permanece um mistério para a TE[172]. Não existe qualquer vestígio de evolução da fala a partir de grunhidos ou latidos animais. Existem numerosos mecanismos através dos quais os animais comunicam informação mas nenhum deles constitui um antecedente evolutivo da linguagem. Esta supõe a convergência simultânea de um conjunto irredutivelmente complexo de elementos de software (pensamento abstracto; informação) e hardware anatómico e fisiológico[173]. Isto, para além da sua ligação aos demais sentidos. Para além de puras especulações, a TE nada tem a dizer sobre este tema para além da  constatação incontornável de que só os seres humanos é que adquiriram essa capacidade adaptativa única, de origem biologicamente indefinida[174].

Confrontado com a unicidade da linguagem humana, Steven Pinker, ex-Director do Centro de Neurociências Cognitivas do MIT[175] e agora a trabalhar em Harvard, refere-se ao fenómeno como uma “maravilha da natureza”, um “milagre”, com um “design” completamente diferente do das outras formas de comunicação animal. Um criacionista não diria melhor! Mesmo o ateu convicto Noam Chomski reconhece que não existe nada, em nenhuma espécie animal, que se aproxime remotamente da linguagem humana[176]. Apesar de os factos desmentirem a TE também neste domínio, estes autores continuam a achar racional e intelectualmente sofisticado sustentar esta teoria contra as evidências.

A origem e a unicidade da linguagem humana não é um mistério para o CB, que aceita a premissa de que o Homem foi criado à imagem e semelhança de um Deus que se apresenta a si mesmo como Verbo Eterno[177]. Quando Deus criou o Homem falou imediatamente com ele e deu-lhe a possibilidade de entender e de usar a fala[178]. Por sua vez, a origem de múltiplas línguas constitui um mistério acrescido para a TE, na medida em que não existe qualquer explicação evolucionista plausível. A coisa complica-se, para a TE, se se pensar que as línguas da antiguidade (v.g. Sânscrito; Latim; Grego) eram estruturalmente muito mais complexas do que as línguas actuais[179]. Há muito que os evolucionistas se defrontam com a extrema complexidade mesmo das línguas “primitivas”, a despeito do “snobismo cronológico” (C.S. Lewis) com que a modernidade tende a encarar as antigas culturas [180].

Para o CB, esta questão não pode ser entendida a não ser por referência ao episódio de Babel, de dispersão das populações através da multiplicação das línguas [181]. Longe de ser fantasia, também isso é corroborado pelos factos, já que a evidência mostra que todas as línguas e dialectos actualmente existentes constituem subespécies de cerca de vinte línguas básicas, desprovidas de uma língua ancestral comum[182]. Isto, note-se, ao mesmo tempo que a genética corrobora a origem recente e comum da espécie humana, refutando as concepções multi-regionalistas da evolução[183]. Ou seja, só um evento extraordinário como Babel pode explicar como é que de um tronco comum podem surgir cerca de vinte línguas básicas sem qualquer relação umas com as outras. Para o CB, foi Deus, o Verbo Eterno, o originador da “gramática universal” (Noam Chomski) comum a todas as línguas e incorporada na informação genética constitutiva do cérebro humano[184].

Quem pense que as dúvidas sobre a evolução do homem são exclusivas do CB tem apenas que ponderar o trabalho recente dos arqueólogos norte-americanos Michael Cremo e Richard Thompson, que, deixando a comunidade científica em estado de choque, veio sustentar a tese de que a tentativa de impor o darwinismo como ortodoxia indiscutível, em termos quase inquisitoriais, tem levado à alteração, eliminação e manipulação de provas que demonstram, contrariamente ao que defende a TE, que um número muito significativo de vestígios e artefactos humanos foram encontrados em rochas pré-cambrianas (2,8 biliões de anos!) e em sedimentos do Plioceno e Mioceno, muito “anteriores” ao Pleistoceno, e que o ser humano coexistiu durante milhões de anos com espécies animais  geralmente consideradas muito mais antigas e até suas ancestrais. A tese destes autores é a de que o ser humano existe há mais de 30 milhões de anos, e que o macaco “(d)evoluiu” do homem[185].

Note-se que, longe de ser um impostor, Michael Cremo é membro, entre outras organizações, do Congresso Mundial de Arqueólogos e da Associação Europeia de Arqueólogos. Embora também venha chamando a atenção para algumas das evidências referidas, o CB discorda radicalmente desta posição, que peca por aceitar a coluna geológica uniformitarista e desconsiderar a existência de um dilúvio global. Para o CB,  não é o homem que é tão antigo como afirma Michael Cremo, mas sim a Terra que é muito mais recente do que ele pensa, tendo sido fustigada, há cerca de 4700 anos, por uma catástrofe global, sem qualquer paralelo na história, tal como relatado no Génesis. Em todo o caso, torna-se patente que, mesmo em círculos não criacionistas, a interpretação que se faz das mesmas evidências pode conduzir a conclusões diametralmente opostas, o que só atesta a manifesta insuficiência e precaridade dessas evidências.

Para o CB, o homem foi criado imediatamente à imagem e semelhança de Deus, dotado de grande inteligência. O facto de o cérebro humano ter uma complexidade assombrosa, longe de ser apenas mais um dos muitos milagres matemático-probabilísticos da fé evolucionista, constitui o testemunho mais eloquente do lugar central que o Homem ocupa na Criação de Deus, tal como a Bíblia diz [186]. Também aqui os dados empíricos desmentem a evolução e apoiam este entendimento[187]. Com efeito, o CB não tem dificuldade em compreender que o homem antigo tivesse conhecimentos matemáticos, arquitectónicos, tecnológicos e astronómicos hoje considerados espantosos, que lhe permitissem erguer pedras com 20 000 toneladas, construir pirâmides majestosas, elaborar mapas precisos ou navegar em alto mar[188]. Algumas destas capacidades faltam ao homem do século XXI, havendo muitos exemplos, ao longo da história, coexistência de comunidades com graus de desenvolvimento tecnológico muito diverso e mesmo de perda de tecnologias[189].

Estes factos, que atestam a inteligência do homem antigo, só são um mistério para a historiografia evolucionista, na medida em que muitas destas capacidades “surgem abruptamente”, sem qualquer antecedente evolutivo [190]. Não podendo avançar uma explicação plausível para esse facto, alguns evolucionistas vão ao ponto de sugerir que as pirâmides foram edificadas por, ou com a ajuda de, extraterrestres![191] O CB não tem que recorrer a explicações fantasiosas, limitando-se a sublinhar que o desenvolvimento tecnológico do homem moderno não atesta a sua maior inteligência relativamente ao homem da antiguidade, mas apenas do facto de que o mesmo beneficia hoje da capacidade humana inteligente de aquisição, acumulação e transmissão de conhecimentos. As diferenças tecnológicas que nos separam da antiguidade não são distintas das que ainda hoje separam as diversas sociedades. Mesmo hoje verificamos que os seres humanos (“homo sapiens”) do século XXI tanto podem ser encontrados em sociedades tecnologicamente avançadas, como vivendo em florestas tropicais ou em cavernas de regiões montanhosas numa situação de total estagnação científica e técnica. A evolução do conhecimento, apenas atesta a inteligência do homem e a sua capacidade de criação, acumulação e transmissão de informação, num dado contexto cultural e social, nada tendo a ver com o problema da evolução das espécies.

NO PRINCÍPIO ERA A INFORMAÇÃO

Deus fez tudo muito bem e na altura própria. Até colocou a eternidade no coração dos homens, mesmo se eles não conseguem compreender a obra que Deus fez, desde o princípio até ao fim.

Eclesiastes 3:13

Eis que eu sou o Senhor, o Deus de toda a carne; acaso há alguma coisa demasiado difícil para mim?

Jeremias 32:27

Um número cada vez maior de cientistas tem vindo a chamar a atenção, para o facto de que, para além da matéria e da energia, existe um outro elemento sem o qual as características do Universo não são susceptíveis de intelecção, a saber, a informação. Como afirmou Norbert Wiener, “a informação não é matéria nem energia. A informação é informação!”. As implicações que a teoria da informação (TI) tem tido no debate sobre as origens são enormes. Como refere o físico germânico Werner Gitt, os trabalhos de James Watson e Francis Crick puseram em evidência que o problema da origem da vida é indissociável do problema da origem da informação armazenada nas células, pelo que quem quiser explicar a primeira tem forçosamente que explicar a segunda[192].

A informação contida numa dada estrutura (v.g. avião de papel; nave espacial) corresponde ao número de instruções necessárias para especificar todos os seus aspectos de constituição, organização e funcionamento. É com base na presença de informação que conseguimos distinguir entre produtos do acaso e produtos da inteligência, operação que todos os dias somos chamados a realizar nos mais variados domínios (v.g. medicina legal, arqueologia, criptografia, criminologia forense, tutela da propriedade intelectual, investigação de sinistros por seguradoras, projecto SETI, etc.).

A TI foi desenvolvida por Claude Shannon e outros engenheiros nos Bell Telephone Laboratories, nos anos 1940, consistindo na ciência que estuda a transmissão de mensagens[193]. De acordo com aquela teoria, uma ordem exacta de símbolos pretende registar informação e isso aplica-se tanto a uma proteína como a um texto genético ou a uma linguagem humana, pelo que o seu tratamento é matematicamente idêntico. Os princípios da TI aplicam-se às linguagens humanas, ao código Morse e mesmo ao DNA. Na verdade, são muitos os autores, incluindo neodarwinistas, que afirmam a existência de uma identidade estrutural e matemática entre as línguas humanas e o DNA[194]. Assim, a questão da origem da vida é, acima de tudo, a questão da origem da informação contida no DNA[195]. Para a sua resolução torna-se importante perguntar: como pode haver um aumento da informação genética que conduza à evolução de um simples organismo até um homem?

Antes de mais, deve notar-se que a TI constitui um elemento central do anteriormente referido IDM, onde pontificam o conceito de informação desenvolvido por William Dembski e o seu filtro explanatório para a detecção de design inteligente[196].  Para este autor, a informação traduz a existência de complexidade, compreendendo múltiplas alternativas, igualmente prováveis, e especificação, que se manifesta na ocorrência de instruções precisas para a produção de um determinado resultado. Este conceito permite distinguir entre estruturas altamente organizadas e estruturas altamente complexas. Alguns escritos evolucionistas denotam uma confusão entre estes dois conceitos, verificando-se que só recentemente esta confusão tem sido exposta[197]. Ora, uma estrutura altamente organizada pode resultar da simples repetição de uma ou algumas instruções (v.g. cristal; floco de neve). Nesse caso, estamos em presença de especificação, mas não existe complexidade. Por sua vez, uma estrutura altamente complexa (v.g. Airbus A 380) requer uma grande quantidade de instruções para a sua especificação, necessitando de uma grande quantidade de informação. Vejamos mais de perto este último exemplo.

Num projecto para construir um Airbus A 380, com todos os seus componentes, ligações, sistemas e estruturas, cada letra e cada algarismo são importantes. Mesmo um pequeno erro na especificação de um parafuso pode significar a queda do avião. Quando se pretende atingir um determinado resultado extremamente complexo, nada pode ser deixado ao acaso. Diferentemente, numa situação aleatória a probabilidade de surgir uma qualquer letra, frase ou palavra é exactamente igual. Só que uma mera sequência complexa de letras não é informação, na medida em que não tem adstrito um significado especial, de acordo com um código ou uma tabela de correspondências. Assim, mesmo que um chimpanzé conseguisse, por acaso, dactilografar os planos de um Airbus A 380 (a avaliar pelo seu famoso exemplo ‘ME THINKS IT IS LIKE A WEASEL’ Richard Dawkins parece acreditar nisso!)[198], isso não teria qualquer significado do ponto de vista da teoria da informação, sendo, quando muito, uma pura curiosidade estatística.

O texto dactilografado só conduziria à construção de um Airbus A 380 se existisse um código externo que permitisse, a um ser inteligente ou a um mecanismo inteligentemente programado para o efeito, identificar o texto como sendo um projecto para a construção de um Airbus A 380. Depois seriam necessários os materiais, em quantidade e qualidade necessárias, as tecnologias, as fábricas, os laboratórios, as linhas de montagem e o pessoal especializado. Ainda assim, tudo isso seria insuficiente se não fosse observada uma sequência de operações rigorosamente definida e sincronizada e se as partes não fossem compatíveis entre si e devidamente configuradas. As probabilidades infinitesimais aqui envolvidas mostram que a informação que conduz à construção de uma estrutura extremamente complexa e especificada sempre pressupõe inteligência.

Para William Dembski, a detecção e medida da inteligência são hoje questões empíricas e científicas, que não meramente especulativas. Para além da nossa intuição, é hoje cientificamente mensurável, em termos comparativos, a informação envolvida na produção de um bimotor ou de um Airbus A 380. Apenas convém lembrar que uma “simples” célula é extremamente mais complexa do que um Airbus A 380 e que este último seria impossível sem o concurso, directo ou indirecto, do conhecimento acumulado, da investigação, do design e da capacidade técnica de milhares, senão mesmo de milhões de pessoas. Assim sendo, como surgiu uma célula?

Para responder a esta questão importa atentar para o contributo da teoria da informação proposta por Werner Gitt, já que a abordagem de autores como Claude Schannon e mesmo William Dembsky se afigura incompleta, na medida em que se preocupa, em primeira linha, com os aspectos quantitativos, estatísticos e sintácticos da informação. Igualmente insuficientes, por nem sequer passarem da dimensão estatística da informação, são as teorias daqueles que, deslumbrados com a complexidade especificada do DNA, se limitam a justificá-la com base em noções, não demonstradas empiricamente, de auto-organização causada por factores internos e externos[199]. Para Werner Gitt, além dos aspectos estatísticos e sintácticos a informação compreende ainda as dimensões semântica, pragmática e apobética (apobeim=resultado) [200]. Werner Gitt vai mais além do conceito quantitativo de informação proposto por Shannon, chamando a atenção para as suas dimensões qualitativas. Podemos, assim, considerar conjuntamente os cinco elementos que, de acordo com Werner Gitt, caracterizam e definem quantitativa e qualitativamente a informação.

Em primeiro lugar vem a estatística, que diz respeito à frequência da ocorrência dos diferentes símbolos numa dada sequência. Em segundo lugar, a sintaxe supõe a existência de um código, de uma gramática ou de uma tabela de correspondências. Em terceiro lugar, a semântica concerne ao significado convencionalmente assumido por um símbolo ou sequência de símbolos. Em quarto lugar, a pragmática diz respeito à acção que a leitura e tradução da informação pretende desencadear. Em quinto lugar, a apobética tem em vista a prossecução de um objectivo final.

Em face destes elementos, é claro que, como sublinha Werner Gitt, a informação é uma realidade essencialmente imaterial, produto da actividade intelectual, a qual, embora possa ser transmitida mediante vários códigos (vg. inglês, português, BASIC, FORTRAN, COBOL, notação musical) e formas (oralidade; escrita, canto), bem como vertida e armazenada em vários suportes (v.g. barro; papiro; papel; informática; DNA), não se confunde com qualquer desses códigos, formas ou suportes, nem pode a sua origem ser explicada por referência a eles. Para Werner Gitt, é cientificamente correcto dizer que não existe informação sem código, nem sem emissor, nem sem uma origem mental (imaterial) e volitiva. Ou seja, por definição, a informação não pode ser, nem material, nem aleatória [201]. Estes resultados refutam a possibilidade de evolução aleatória do Universo e da vida e corroboram inteiramente o CB. Muitas das características do Universo e da vida só são realmente explicáveis por referência a essa grandeza imaterial que é a informação. Assim, a informação existente no Cosmos tem a sua origem num Ser inteligente e volitivo, sendo condição sine qua non da respectiva inteligibilidade. Ao mesmo tempo que clarifica muitos dos aspectos mais misteriosos da natureza, a teoria da informação aponta claramente para a existência de uma inteligência imaterial. Tanto basta para refutar a plausibilidade científica de uma visão do mundo estritamente materialista, acidentalista e evolucionista.

Apesar das objecções dirigidas pelos evolucionistas à aplicação do conceito de informação à biologia molecular, baseadas na sua mundividência naturalista, o certo é que os cinco elementos que, de acordo com Werner Gitt, conotam de forma quantitativa e qualitativa o conceito de informação estão inegavelmente presentes no código genético contido no DNA. Este é, em si mesmo, um suporte de informação altamente eficaz que os cientistas pretendem utilizar para guardar outros tipos de informação[202]. De resto, muitos evolucionistas acabam por conceder este ponto[203]. Com efeito, a sequência de nucleótidos no DNA (ou de aminoácidos numa proteína) não é uma ordem repetitiva, como a presente num cristal ou num floco de neve. Ela é uma sequência altamente complexa e especificada, dotada de uma estrutura e de uma função idênticas à de uma mensagem escrita.

O DNA tem parágrafos, frases, palavras e letras (ACGT). Isto não resulta de um raciocínio por analogia, antes é literalmente assim. Existe uma identidade estrutural entre as linguagens humanas e o DNA. Além disso, essas sequências têm um significado, o qual não lhes pode ser interno, sendo que mesmo nas línguas humanas uma mesma sequência de letras pode ter significados diferentes (v.g. “embaraçada” no Português e no Espanhol; “gift” em Inglês e Alemão). Do mesmo modo, essas sequências pretendem desencadear operações altamente precisas nas células, que visam atingir objectivos concretos, como seja, por exemplo, a formação de um corpo humano. A reprodução de uma célula requer DNA (informação) e RNA (mecanismo de cópia), ambos tremendamente complexos. O DNA comunica informação à célula, cujo significado depende de um código, ou seja, de uma convenção simbólica com um significado preciso (sintaxe; semântica).

Assim como não existe uma relação necessária entre uma determinada mensagem e as moléculas da tinta que se utiliza para a escrever, também a informação contida no código genético é completamente independente da estrutura química do DNA. As funções desenvolvidas pelas células são minuciosamente controladas por instruções do DNA, tendo em vista a produção de acções orientadas para objectivos bem definidos. O grau de complexidade assim obtido é assombroso. O mais simples organismo vivo tem 482 genes codificadores de proteínas, com um total de 580 000 “letras” de DNA[204]. Mesmo os autores evolucionistas utilizam, a este propósito, expressões como código, programa, padrão, lei, sequência, transcrição, tradução, linguagem, livro, selecção, etc., todas utilizadas para designar operações da inteligência.

O próprio Richard Dawkins nota que cada célula tem uma quantidade de informação várias vezes superior à Enciclopédia Britânica, argumento também ele intrigante, quando vindo de um naturalista empenhado, visto que uma enciclopédia – repositório por excelência da informação mais complexa gerada pela inteligência humana – não se escreve a ela própria[205]. A informação contida numa enciclopédia foi introduzida a partir de fora, sendo uma realidade mental imaterial. Ao comparar o DNA com uma enciclopédia, Richard Dawkins não deixa de estar a reconhecer implicitamente que o mesmo tem as características típicas de um produto da inteligência. A diferença é que aquilo que Richard Dawkins admite implicitamente, o CB afirma expressamente! Também aqui o CB está em sintonia  com as evidências empíricas. De resto, as observações de Bill Gates sobre o DNA são particularmente sugestivas. Em seu entender, “o DNA é como um programa de computador, mas muito, muito mais avançado do que qualquer software que alguma vez criámos”[206]. Ora, se o DNA é estrutural, matemática e informativo-teoreticamente idêntico à linguagem humana, é razoável inferir que a informação codificada no DNA é um produto de uma inteligência. Werner Gitt, vai mais longe e afirma categoricamente que só pode ser o produto de uma inteligência!  Para os evolucionistas nada disso é evidência suficiente da existência de Deus. Provavelmente só acreditarão quando Ele criar o seu próprio “site” na Internet!

CRIAÇÃO ATRAVÉS DA EVOLUÇÃO?

   Desde a antiguidade anunciei as coisas que haviam de ser; da minha boca é que saíram, e eu as fiz ouvir; de repente as pus por obra, e elas aconteceram.

Isaías 48:3

Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo sopro da sua boca. Ele ajunta as águas do mar como num montão; põe em tesouros os abismos. Tema ao Senhor a terra toda; temam-no todos os moradores do mundo. Pois ele falou, e tudo se fez; ele mandou, e logo tudo apareceu.

Salmos 33:6-9

Uma boa parte dos teólogos cristãos da ala “liberal” tem sustentado o carácter simbólico do relato bíblico da criação, avançando a ideia de que o mesmo tem por objectivo afirmar que Deus criou, cabendo à ciência, em seu entender,  explicar como Deus criou. Nessa base, procuram harmonizar o relato bíblico com a TE através de várias estratégias, todas desadequadas, como o “criacionismo progressivo”, o “evolucionismo teísta”, a “hipótese quadro”, a “teoria do hiato” (nas versões hard e soft), etc. Muitos cristãos, quando interrogados sobre esta matéria, inclinam-se para este tipo de soluções de compromisso. As mesmas afiguram-se como uma forma razoável e moderna de articular a ciência com a fé. Além do mais, elas adequam-se à “autonomia da ciência”, apregoada por cientistas e teólogos.

Contudo, já vimos que os “dados científicos” da TE são inseparáveis de premissas materialistas e uniformitaristas que negam a priori  o relato bíblico. Além disso, os mesmos estão longe de provar a evolução. Na verdade, não existe nenhum facto científico que, por si só, e à margem das referidas premissas, corrobore a evolução das espécies. Pelo contrário. No entanto, existem outros problemas com que o cristão se defronta quando pretende operar a redução simbólica do relato do Génesis[207].

Em primeiro lugar, basta ler Génesis 1 e 2 para notar que se pretende, não apenas afirmar que Deus criou, mas também narrar como Ele criou[208]. Tem sido observado que o relato do Génesis, sendo incomparável com qualquer outra cosmogonia humana, descreve importantes eventos físicos de forma simples e didáctica[209]. Em segundo lugar, essa redução simbólica significaria que o Criador, apresentado ao longo da Bíblia como o Verbo Eterno, não teria sido capaz de verbalizar correctamente o relato da criação, posição biblicamente insustentável. Além disso, isso significaria que alguém colocou na boca de Deus palavras que Ele realmente não proferiu, sobre factos que realmente não se ocorreram, prática que, como lemos na Bíblia, Deus sempre condenou de forma consistente como falsa profecia[210]. Sucede que a Bíblia, em toda a sua extensão, sempre toma o relato do Génesis como histórico. No Novo Testamento, Jesus e os seus discípulos reafirmaram-no repetidamente[211].

Nem se diga que o objectivo do Génesis foi tão somente o de falar numa linguagem que as pessoas da época pudessem compreender, na medida em que a presença ininterrupta de concepções evolucionistas, nas mais diversas culturas, desde a antiga Suméria até aos nossos dias, constitui evidência mais do que suficiente de que nunca foi difícil ao ser humano compreender a ideia de evolução naturalista. Pelo contrário, parece ser muito mais difícil entender a noção de criação ex nihilo, levada a cabo por um Deus pessoal que intervém na história. Na verdade, não se encontra na Bíblia qualquer indício de evolução. Só no primeiro capítulo do Génesis repete-se dez vezes (como que antecipando dúvidas nesta matéria!) a ideia de que Deus criou as plantas e os animais “conforme a sua espécie”, expressão utilizada por referência aos diferentes “potenciais genómicos”, dotada por isso de um sentido mais amplo do que a moderna concepção de espécie biológica[212]. Do mesmo modo, quando muito mais tarde o Apóstolo Paulo, em Atenas, discutiu com os epicuristas, filósofos naturalistas defensores do evolucionismo, ele reafirmou a doutrina da Criação, sem aceitar qualquer solução de compromisso[213]. Então, como agora, uns aceitaram e outros – escarnecendo – não.

Acresce que uma tentativa de harmonizar a TE com o relato do Génesis, para além de ir contra os elementos literal, gramatical, histórico e sistemático de interpretação, sempre teria que explicar por que é que um Deus bom, omnisciente e todo-poderoso teria escolhido o método mais cruel, irracional e ineficiente que se pode imaginar para criar o Universo e as várias espécies de vida, qualificando-o em seguida de bom e mesmo, referindo-se especificamente ao Homem, de muito bom[214]! A incompatibilidade teológica entre o Deus da Bíblia e a TE tem sido apontada, não apenas pelo CB, mas mesmo por autores ateus como Jaques Monod[215] e Bertrand Russell[216], que se deleitavam em confrontar os teólogos liberais com esta contradição. Quem acreditar nas escrituras e no poder de Deus, compreende que não faz qualquer sentido a ideia de que, existindo um propósito divino claro e definido na criação da natureza e do Homem, Deus iria desperdiçar quantidades infindas de tempo com uma criação essencialmente incompleta [217]. Além disso, a TE, implicando morte, mutações, doenças, sofrimento e crueldade predatória milhões de anos antes do surgimento do homem, retira qualquer significado ao facto de que, desde o Génesis ao Apocalipse, a morte, a crueldade, a doença e o sofrimento – que os evolucionistas erroneamente utilizam como evidência de “mau design” – são sempre tratados como consequências da queda do homem e da subsequente maldição que Deus fez impender sobre toda a natureza[218].

Nas palavras do Apóstolo Paulo, “o salário do pecado é a morte”[219]. É neste pressuposto que assenta e faz sentido a mensagem do Evangelho. Para salvar a humanidade da morte, Jesus Cristo assumiu sobre si o castigo do pecado, ressuscitou com um corpo glorioso – vencendo a morte, o “último inimigo”[220] – e prometeu a criação de novos céus e nova Terra, onde habitará a justiça, onde não haverá mais morte nem maldição[221]. Nesta promessa de recriação de todas as coisas está claramente explicito que a morte, o sofrimento e a crueldade não são, nem nunca foram, aceites como bons pelo Criador. De resto, ao longo de toda a Bíblia eles são colocados nos antípodas do carácter de Deus e da missão do Seu Filho Jesus Cristo que veio para nos dar “vida, e vida com abundância”[222].

Do mesmo modo, está claramente explícito que a queda no pecado não teve apenas consequências espirituais, mas também físicas, afectando toda a natureza criada, nos céus e na Terra[223]. É interessante que a restauração de todas as coisas é descrita como um cenário desprovido de luta predatória pela sobrevivência, já que aí “o leão e o cordeiro pastarão juntos”[224]. Se a morte e o sofrimento são apenas o método que Deus utilizou para criar todas as coisas, incluindo o Homem, então não fazem qualquer sentido as afirmações bíblicas de que a morte é o último inimigo e o salário do pecado. Pelo que também a mensagem do arrependimento, do
perdão e da morte e ressurreição de Jesus não faz sentido. A realidade da criação e da queda é o pressuposto essencial que dá sentido a todo o Evangelho. É por terem começado por duvidar da verdade do relato do Génesis, que muitos acabaram por pôr em causa a verdade de todo o Evangelho.

À margem das encruzilhadas e dos becos sem saída com que se defronta a inteligência secularizada, uma coisa é certa: a fé cristã não é cega nem irracional, antes é uma fé objectivamente fundada em “muitas provas infalíveis”[225], sobre as quais é possível discorrer lógica, empírica e racionalmente. Nas palavras do Apóstolo Paulo, “os atributos invisíveis, o Seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas”[226]. O CB não tem que apoiar-se em probabilidades infinitesimais, desafiar a causalidade e a primeira e segunda leis da termodinâmica, imaginar elos intermédios inexistentes e ignorar a esmagadora aparência de design inteligente na natureza. As evidências da geologia, da paleontologia, da biologia, da antropologia, da arqueologia, da física, da astrofísica, da astronomia, quando despidas de preconceitos naturalistas e uniformitaristas, corroboram inteiramente o relato bíblico nos seus aspectos fundamentais. Paradoxalmente, e para escândalo do homem moderno, a fé cristã biblicamente alicerçada consegue uma melhor prestação em matéria de racionalidade científica do que a TE, radicada em premissas naturalistas indemonstráveis, estruturalmente irracionalistas, acidentalistas e desprovidas de fundamento empírico suficiente.

É certamente por isso que nos círculos evolucionistas ideologicamente mais empenhados e fechados se manifesta uma atitude de clara hostilidade defensiva nas suas relações com o CB. Começando a perceber que perdem com o CB mesmo no confronto directo com os dados empíricos, onde sempre reclamaram uma posição de vantagem metodológica, resta-lhes apenas, em desespero de causa, tentar perpetuar os mitos secularizados nos termos dos quais a ciência e a religião são domínios separados, com perguntas, métodos e respostas diferentes, e “a criação é religião e a evolução é ciência”.

Em vez de confrontarem o CB num encontro livre e aberto no mercado livre das ideias, na boa tradição liberal [227], esses evolucionistas preferem insistir na repartição de mercados, distinguindo entre a verdade religiosa (do foro subjectivo) e a verdade científica (do foro objectivo) e reclamando para si direitos exclusivos sobre esta última, uma técnica proteccionista clássica utilizada por quem teme a concorrência. É com base nesta dicotomia entre ciência e religião, e não com base nos factos em si mesmos, que muitos evolucionistas se comprazem em apregoar em alta voz o total descrédito científico do CB, ao mesmo tempo que propagam livremente a sua ideologia naturalista sob o nome de ciência[228]. Em abono da verdade, deve dizer-se que eles contam com o inadvertido apoio de algumas correntes teológicas cristãs que, começando por tentar harmonizar de diferentes modos o relato bíblico (previamente desacreditado na sua historicidade) com as “provas científicas” da evolução, acabam por sustentar que a fé em Deus é tanto mais louvável quanto mais distante estiver dos factos objectivos do mundo material, dando mostras de um indisfarçável gnosticismo. Trata-se de dois tipos de irracionalismo que o CB rejeita liminarmente. Ambos pretendem distanciar o seu sistema de crenças dos factos objectivamente observáveis.

A adesão generalizada, tanto por cientistas como por muitos teólogos, a uma divisão de tarefas entre ciência e religião, em última análise assente em premissas naturalistas, permite compreender, entre outras coisas, a recusa por parte de muitos evolucionistas em debater com criacionistas, a total ausência da perspectiva criacionista dos currículos escolares e universitários[229], bem como a interdição das publicações científicas a escritos criacionistas (incluindo em muitos casos o mais elementar e equitativo direito de resposta). O CB é descartado a priori por ser uma religião, pelo que a evolução, em si mesma, adquire uma completa imunidade à crítica. É simples: se toda a contestação à evolução tem uma base criacionista e se todo o criacionismo tem uma base religiosa, logo toda a contestação à evolução tem uma base religiosa, pelo que não pode ser admitida nos círculos académicos e científicos. De onde se segue que a evolução, em si mesma, não pode ser criticada e refutada cientificamente de uma forma que ponha em causa a sua subsistência!! O que não deixa der ser curioso, do ponto de vista da filosofia da ciência, na medida em que a imunidade à crítica científica pode pôr em causa a própria cientificidade da TE.

O problema desta estratégia – de considerar religiosa toda a contestação a uma dada teoria científica – é que um número cada vez maior de pessoas, em todo o mundo, começa a perceber que o que tem mantido a TE imune à crítica dos seus fundamentos conceptuais – a despeito da manifesta insuficiência da sustentação empírica – é apenas uma barreira intelectual, artificial e precária, de separação entre a ciência e a religião, erigida no advento da modernidade no contexto de acesas polémicas políticas e ideológicas. Diferentemente, o CB não teme a concorrência, nem necessita, como a TE, de demarcar um território intelectualmente autónomo e impermeável para obter refúgio e garantir a sua subsistência. Ainda assim, o proteccionismo epistémico da TE não a tem protegido das críticas certeiras e contundentes que lhe são dirigidas pelo CB.

DEUS CRIADOR, SUSTENTADOR E REDENTOR

Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual existem todas as coisas, e por ele nós também.

I Coríntios 8:6

O Filho liberta-nos e perdoa-nos os pecados. Ele é a imagem do Deus invisível: nascido do Pai antes da criação do mundo. Foi por Ele que Deus criou tudo o que existe no céu e na Terra, o que se vê e o que não se vê, as forças, os domínios, as autoridades e os poderes. Foi por Ele e para Ele que Deus criou tudo.

Colossenses 1:14-16

Quem se aventura para além das frases feitas, do folclore e dos mitos secularizados que sustentam a TE e procura investigar aquilo que realmente se sabe (e não sabe) sobre a origem e a natureza do Universo e da vida, depara com uma inesperada pobreza das evidências e das inferências nelas baseadas. Da TE pode dizer-se com propriedade: “nunca tantos acreditaram tanto em tão poucas evidências”! Em última análise, a TE é aceite pela fé, ou talvez melhor, por uma “fé-negra” ou “anti-fé”, assente na rejeição a priori da possibilidade de uma criação especial ex nihilo por um Ser Supremo, inescrutavelmente localizado para além do espaço, do tempo, da matéria, da energia e da informação, permanecendo oculto por detrás de um insondável horizonte de acontecimentos, subtraído a qualquer investigação empírica e causal. Na verdade, o reconhecimento da falência da TE deixaria o homem moderno diante da única alternativa logicamente possível: a criação especial ex nihilo. Esta, por sua vez, confrontá-lo-ia,  olhos nos olhos, com o Criador e com a sua Palavra. Não é necessário pensar muito para perceber o alcance devastador das implicações filosóficas, científicas, morais, sociais e culturais daqui resultantes: nada mais, nada menos, do que um insuportável “estragar da festa” tradicionalista, naturalista e relativista em que se transformaram, respectivamente, a pré-modernidade, a modernidade e a pós-modernidade.

Tanto a TE como o CB têm inescapáveis implicações de largo alcance, sendo que ambos não podem ser igualmente verdadeiros.  Ou ocorreu uma evolução ao longo de milhões de anos, explicável com base nas leis naturais, ou ocorreu uma criação instantânea sobrenatural, nos termos expostos no relato bíblico. Em causa está um problema fundamental da existência cuja resposta tem importantes implicações sobre a nossa real identidade. A questão consiste em saber qual das duas respostas possíveis é que consegue adequar-se melhor aos dados empíricos observáveis. Cientificamente, a única diferença que existe entre evolucionistas e criacionistas consiste no facto de os primeiros insistirem em defender a TE, apesar da ausência de qualquer evidência científica conclusiva nesse sentido[230]. Na verdade, se se descarta à partida a hipótese de criação especial ex nihilo, apesar das evidências, a única alternativa é insistir na defesa da TE, a despeito da completa falta de evidências.

Daqui resulta que para alegadamente fugir ao dogma da criação os evolucionistas respondem com a criação do dogma. Para o cientismo naturalista, a evolução é colocada num pedestal incontestável. Quem a discute é necessariamente criacionista e, por isso, não é cientista. Quem é cientista simplesmente não discute a evolução. O resultado é que, no plano científico, a evolução tem que ser obrigatoriamente aceite e não pode ser de forma alguma contestada e refutada. Por vezes, em desespero de causa, os evolucionistas pretendem mesmo recorrer à jurisdição constitucional para que a mesma declare a constitucionalidade da TE, com força obrigatória geral, e julgue inconstitucionais todas as objecções à mesma, por violadoras do princípio da separação das confissões religiosas do Estado! O tal juiz, de que falávamos anteriormente, parece querer começar mesmo a tomar partido a favor de um dos lados da questão.

Isto, esquecendo totalmente que, como se não bastasse não ter conseguido explicar a origem da matéria e da energia primordiais, das galáxias, das estrelas, do sistema solar, do Sol, da Terra, da Lua, dos oceanos, demonstrar a abiogénese, identificar o ancestral comum, demonstrar biológica e paleontologicamente a evolução de uma espécie para a outra, precisar o mecanismo de evolução, explicar a origem dos sexos, das “raças”, da consciência, das línguas, etc., a TE desafia tudo o que se sabe em matéria de termodinâmica, causalidade e probabilidades. Será que estas leis científicas também devem ser declaradas inconstitucionais por violarem o princípio da separação das confissões religiosas do Estado?

Os evolucionistas gostam de afirmar que são naturalistas por obrigação, isto é, porque essa é a única atitude intelectual adequada às características do Universo. Mas, pelos vistos, essa afirmação é sistematicamente desmentida pelos factos, em todas as disciplinas científicas. O amor que os naturalistas têm pela ciência está longe de ser devidamente correspondido. Uma resposta naturalista e evolucionista às questões fundamentais do Universo e da Vida simplesmente ainda não existe. A crença numa futura resposta naturalista é isso mesmo, uma crença. Assim, deve concordar-se com David Walsh quando este alerta para o facto de que o que mantém viva a TE é, acima de tudo, a sua função ideológica anti-teológica e não as evidências científicas propriamente ditas [231]. Nem o naturalismo pode reclamar qualquer fundamento empírico, nem o mundo se mostra adequado a uma compreensão cabal a partir dos seus axiomas.

Rejeitando tanto as premissas naturalistas, acidentalistas e irracionalistas da TE, como um certo fideísmo irracionalista que se instalou nalguma teologia cristã, o CB apoia-se na noção, empiricamente demonstrada, nos termos da qual uma causa tem que ser quantitativa e qualitativamente superior ao seu efeito. Assim, para o CB faz todo o sentido, do ponto de vista racional, a conclusão de que a Causa Primeira da vastidão incontida de tempo, espaço, energia, sintonia e complexidade existente no Universo é um Deus infinito, eterno, omnipresente e omnisciente. Do mesmo modo, a Causa Primeira da vida é um Deus vivo; a Causa Primeira dos valores humanos de moralidade, responsabilidade, integridade e amor é um Deus moral, espiritual, volitivo, verdadeiro e amoroso[232]. É precisamente isso que a Bíblia afirma.

Mas então, o que é, ou quem é, essa Causa Primeira? Esta pergunta não faz qualquer sentido para a TE, o que não é um mal em si mesmo, porque a TE também não faz qualquer sentido do ponto de vista teológico e científico.  Por seu lado, o IDM prefere permanecer agnóstico quanto a esta questão, limitando-se a assinalar a existência de informação e design inteligente no Universo, nada dizendo sobre a questão da criação. Nesse sentido, o IDM é compatível com qualquer religião e mesmo com o pensamento New Age.  O mesmo limita-se a medir a informação existente na natureza e a detectar indícios de design inteligente, embora se fique pela identificação do designer, em termos abstractos e difusos, com um deus desconhecido, adorando-o sem o conhecer. Em sentido divergente,  o CB, partindo da crença na Bíblia como Palavra de Deus inspirada – distinta de qualquer obra literária humana – assenta na premissa de que Jesus Cristo, o Verbo Eterno, a Palavra da Vida, é o Criador, Sustentador e Redentor do Universo e da humanidade. Como afirmava o Apóstolo Paulo aos atenienses, esse deus desconhecido tem uma identidade bem clara e definida. Ele “é o Deus que fez o mundo e tudo o que nele se encontra e é o Senhor dos céus e da terra. Não vive em templos feitos pelos homens, nem precisa que os homens lhe façam coisa nenhuma, pois ele mesmo é quem dá a vida, a respiração e tudo o mais”[233].

À luz desta perspectiva, a promessa, a encarnação, a vida, a obra, os milagres, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo têm todo o sentido, testemunhando, no seu conjunto, do amor profundo e insondável do Criador pelo ser humano criado à Sua imagem e semelhança, mas moral e espiritualmente alienado de Deus por causa da sua queda no pecado. Depois de criar o Homem à Sua imagem e semelhança espiritual, Deus assume a imagem e semelhança do Homem no mundo criado. Jesus é Deus connosco, Emanuel. Na sua pessoa o Criador e Sustentador do Universo tornou-se no nosso Redentor. Também assim se compreende o impacto sem paralelo que a vida de Jesus Cristo teve na história universal –  empiricamente inquestionável – podendo observar-se que a uma maior proximidade da Sua pessoa e do Seu ensino, nomeadamente sobre a especial dignidade de todos os seres humanos e da criação, sempre correspondeu, historicamente, um significativo progresso em todos domínios da vida política, económica, social e cultural, acompanhado de importantes iniciativas humanitárias e movimentos de libertação. Mas mais importante é ter em conta que só Jesus Cristo tem “as palavras da Vida Eterna”[234] e é com elas que pretende livrar o ser humano da morte física e  espiritual e assim ir ao encontro dos sentimentos humanos de vazio, alienação, desespero e angústia existencial, impressivamente diagnosticados pela filosofia contemporânea.

Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo; sendo ele o resplendor da sua glória e a expressa imagem do seu Ser, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo ele mesmo feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas.

Hebreus 1:1-3

O CB não deixa de ser racional por se basear na fé, nem deixa de se basear na fé por ser racional. Fé e razão interpenetram-se no mundo real – que não em mundos separados – na medida em que apontam para a Suprema Razão que criou e redimiu esse mundo real, marcando presença na história humana através da pessoa singular e incontornável de Jesus Cristo. Em todo o caso, a razão humana subordina-se à Razão Divina, expressa na Palavra de Deus, nisso se consubstanciando, em boa medida, a “renovação do entendimento” e o “culto racional” de que falava o Apóstolo Paulo[235]. A mesma assume uma função ministerial, abandonando as suas pretensões magisteriais[236].

Esta subordinação à Palavra de Deus, longe de ser uma fraqueza, permite ao CB fazer afirmações empiricamente controláveis sobre a realidade objectiva, tendo assim uma relevância que vai muito para além da convicção subjectiva. De resto, não existe qualquer conflito entre a Bíblia e os factos observáveis em si mesmos, mas apenas entre ela e as interpretações naturalistas e evolucionistas desses factos. O CB e a TE apoiam-se nos mesmos factos e conhecimentos científicos, mas assentam em visões do mundo diametralmente opostas. Em momento algum o CB desconsidera os factos.

Existem certamente questões científicas para as quais o CB não encontrou ainda resposta. Do mesmo modo, existem interrogações teológicas fundamentais que escapam ao CB (v.g. o mistério da existência de Deus; a Sua omnisciência e presciência; a Sua acção providencial na história), na medida em a Bíblia remete o seu conhecimento para mais tarde[237]. Nalguns casos, a lógica pode ser clarificadora. Por exemplo, quanto ao porquê da criação do Homem, pode dizer-se que Deus tinha basicamente quatro possibilidades: 1) criar o homem com livre arbítrio; 2) criar o homem sem livre arbítrio; 3) criar o mundo sem o homem; 4) não criar o mundo. A Bíblia apenas diz que Deus, sendo pessoal e amoroso, optou por criar o homem com livre arbítrio [238]. Sobre os motivos de Deus na criação não diz mais nada. Em todo o caso, embora não responda a todas as questões, a Bíblia oferece uma compreensão do Universo, da Terra, da Vida e do Homem muito mais radical e fantástica do que a mais radical e fantástica cosmogonia humana e muito mais adequada às nossas observações empíricas. Além disso, ela fala às nossas mais profundas questões existenciais sobre a origem, o sentido e o destino das nossas vidas. Com base nela pode afirmar-se com confiança que qualquer teoria científica que pretenda explicar a existência, o sentido e o destino do mundo e da vida sem ter em conta a Palavra e o poder de Deus irá, em última análise, fracassar, não apenas do ponto de vista teológico, mas também no plano estritamente científico.

Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas.

Apocalipse 4:11

Mas, como está escrito: As coisas que olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.

I Coríntios 2:9


  • · Professor Auxiliar da Faculdade de Direito de Coimbra.

[1] “The Editors, Bad science and false facts”, Scientific American, 287(1):3, 2002.

[2] Bahls, C., ‘Ernst Mayr, Darwin’s Disciple,’ The Scientist 17(22), November 2003.

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[6] Ernst Mayr, What Evolution Is, Basic Books, New   York, 2001, 5.

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[9] Rudolph Bultmann, Jesus, UTB, Stuttgart, 1988; Das Urchristentum, Patmos, 2000.

[10] Anfänge der dialektischen Theologie, Teil I – Karl Barth – Heinrich Barth – Emil Brunner, 5ª ed., 1985; Emil Brunner, Christlicher Existenzialismus, Zwingli-Verl. 1956; Offenbarung und Vernunft, Zwingli-Verl., 1961; Hans Urs von Balthasar, Karl Barth. Darstellung und Deutung seiner Theologie Johannes-Vlg., Freib, 1976.

[11] Dave Breese, Seven Men Who Rule the World from the Grave, Moody Press, Chicago, 1990, 89 ss.

[12] John Meier, A Marginal Jew: Rethinking the Historical Jesus, Vol. I, New York: Doubleday, 1991; Marcus Borg, Meeting Jesus Again for the First Time, San Francisco: Harper, 1995; John Dominic Crossan, Jesus: A Revolutionary Biography, San Francisco, Harper, 1995; Michael J. Wilkins and James P. Moreland, editors, Jesus Under Fire: Modern Scholarship Reinvents the Historical Jesus, Grand Rapids, Michigan, Zondervan Publishing House, 1996; Douglas Groothuis, Searching for the Real Jesus in an Age of Controversy, Harvest House, 1996.

[13] Ralph Colp, Jr. To Be an Invalid: The Illness of Charles Darwin. Chicago, IL: University of Chicago, 1977; W. B. Bean, “The Illness of Charles Darwin.” The American Journal of Medicine 65(4): 1978. 572-574; Thomas Barloon, Russell Noyes, Jr.. “Charles Darwin and Panic Disorder.” JAMA, 277 (2): 1997, 138 ss.

[14] Johnson, Objections Sustained…, cit., 67 ss.

[15] Jonathan Sarfati, Refuting Evolution, 15ª Reimp.Master Books, 2003, 15 ss.

[16] Henry Morris, The Genesis Record, Baker Book House, Grand Rapids, Michigan, 1976, 22 ss.

[17] Charles C. Ryrie, A Survey of Bible Doctrine, Chicago, Moody, 1972, 38; Henry Morris, Biblical Creationism, What Each Book of the Bible Teaches About Creation and the Flood, Master Books, 2000, 3 ss.

[18] Jonathan Sarfati, Refuting Compromise, Masterbooks, 2004, 35 ss.

[19] II Pedro 1:16.

[20] João 3:16.

[21] I Coríntios 15:14.

[22] Duane T. Gish, Evolution: The Fossils Still Say No!, ICR, 1995, 1 ss.

[23] Sarfati, Refuting Compromise…, cit., 65 ss.

[24] Stephen Jay Gould, Rocks of Ages: Science and Religion in the Fullness of Life, Ballantine, 1999, 49 ss.

[25] Isto mesmo é reconhecido pelo filósofo evolucionista Michael Ruse, The Evolution-Creation Struggle, Cambridge, Harvard University Press, 2005, 287, afirmando: “My area of expertise is the clash between evolutionists and creationists, and my analysis is that we have no simple clash between science and religion but rather between two religions.”

[26] Thomas S. Kuhn, The Structure of Scientific Revolutions, 3ª ed., Chicago, 1996.

[27] Seth Holtzman, “Science and religion: The categorial conflict”, International Journal for Philosophy of Religion, 54 (2): October 2003, 77 ss.

[28] Mikael Stenmark, Scientism, Science, Ethics and Religion, BurlingtonVT, 2001,  1 ss.

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[30] Rob Wipond, “The World is Round (and Other Mythologies of Modern Science)” The Humanist, vol. 58, March/April 1998, 11; Michael Shermer, “The Shamans of Scientism” Scientific American, June 2002, 35.

[31] Werner Gitt, Did God Use Evolution?,Bielefeld, 2ª ed., 2001, 13 ss.

[32] Richard Dawkins, The Blind Watchmaker, New York, 1986, 337.

[33] Daniel C. Dennett, Darwin‘s Dangerous Idea, Evolution and the Meanings of Life, Touchstone Books, 1996, 61 ss.

[34] Henry M. Morris, A History of Modern Creationism, Spring Arbor Distributors, 1984.

[35] www.icr.org

[36] www.answersingenesis.org

[37] Galileu, nº143, Junho de 2003, 18 ss.

[38] Robert T. Pennock (ed.), Intelligent Design Creationism and Its Critics: Philosophical, Theological, and Scientific Perspectives, MIT Press, 2001.

[39] Thomas Woodward, Doubts About Darwin: A History of Intelligent Design, Baker Book House, 2003; William A. Dembski, The Design Revolution: Answering the Toughest Questions about Intelligent Design, InterVarsity Press, 2004.

[40] Michael Ruse, Edward O. Wilson, “Evolution and Ethics”, New Scientist, 208, Oct., 1985, 51 ss.; James Beilby, “Is evolutionary naturalism self-defeating?”, International Journal for Philosophy of Religion, 42 (2), October 1997, 69 ss.

[41] Sarfati, Refuting Evolution…, cit., 24 ss.

[42] Sarfati, Refuting Evolution…, cit., 7 ss.

[43] Notícia no jornal Público, 11/12/2003; Michael Ruse, “The Nobel Prize in Medicine – Was there a Religious Factor in this Year’s (Non) Selection?”, Metanexus Institute, March, 18, 2004.

[44] Salmos 19:1.

[45] Guillermo Gonzalez, Jay Wesley Richards, The Privileged Planet: How Our Place in the Cosmos Is Designed for Discovery, Regnery Publishing, 2004.

[46] J. Bergman, G., Howe,. “Vestigial Organs” are Fully Functional, Creation Research Society Books, Terre Haute, IN, USA. 1990.

[47] J. Warwick Glover, “The Human Vermiform Appendix—a General Surgeon’s Reflections”, Creation Ex Nihilo Technical Journal, 3: 1988, 31 ss.

[48] Don Batten”‘Junk’ DNA (again)”, Creation Ex Nihilo Technical Journal, 12(1),1998, 5.

[49] Geoffrey Simmons, What Darwin Didn’t Know, Harvest House Publishers, 2004.

[50] Rocky Kolb, “Planting Primordial Seeds” Astronomy, vol. 26, February 1998, 42;

[51] Sarfati, Refuting Compromise…, cit., 147 ss.

[52] John Horgan, “The Big Bang Theory of Science Books,” New York Times Book Review. December 1997, 39; Roy C. Martin, Jr., Astronomy on Trial, A Devastating and Complete Repudiation of the Big Bang Fiasco, Landham, Md., University Press of America, 1999, p. xv e 14 ss.; na revista New Scientist, de 22 de Maio de 2004, um grupo de cientistas subscreveu uma carta aberta insurgindo-se contra o modo como a teoria do Big Bang é defendida em termos dogmáticos pelo establishment académico, apesar da consciência crescente dos problemas com que este modelo se defronta.

[53] Brad Lemley, “Guth’s Grand Guess,” Discover, vol. 23, April 2002, 35.

[54] Mais honestamente, Joseph Silk The Big Bang, 2001, xv., reconhece, a propósito do “Big Bang”: “[I]t is only fair to say that we still have a theory without a beginning.”

[55] Sten Odenwald, The Astronomy Café, 1998,  120, onde se lê a sugestiva afirmação: “I was happy to announce that astronomers have not the slightest evidence for the supposed quantum production of the universe out of a primordial nothingness.”

[56] John Ross, Chemical and Engineering News, July 27, 1980,40;

Neil Broom How Blind Is the Watchmaker, 2001, 80.

[57] Paul Davies, The Edge of Infinity, Simon & Schuster, 1982, sustentando que, “[The big bang] represents the instantaneous suspension of physical laws, the sudden abrupt flash of lawlessness that allowed something to come out of nothing. It represents a true miracle…”

[58] A.K. Dewdney, A Mathematical Mystery Tour – Discovering the Truth and Beauty of the Cosmos, John Wiley & Sons, 1999.

[59] Victor J. Stenger, “Anthropic Design: Does the Cosmos Show Evidence of Purpose?” Skeptical Inquirer, vol. 23, July/August 1999, 40, 42.

[60] João Magueijo, Faster Than the Speed of Light, Cambridge, Massachusetts: Perseus Publishing, 2003, 6 ss.

[61] Ron Cowen, “A Dark Force in the Universe,” Science News, vol. 159, April 7, 2001, 218; Jeremiah P. Ostriker, Paul J. Steinhart, “The Quintessential Universe,” Scientific American, vol. 284, January 2001, 50.

[62] David B. Cline, “The Search for Dark Matter,” Scientific American, vol. 288. March 2003, 52.

[63] J. Trefil, The Dark Side of the Universe, New York: Macmillan Publishing Company, 1988, 3 ss. e 55; Linda Rowan and Robert Coontz, “Great Balls of Fire,” Science, vol. 295, January 4, 2002, 63; Cristina Chiappini, “The Formation and Evolution of the Milky Way,” American Scientist, vol. 89, Nov./Dec. 2001, 506

[64] Jack J. Lissauer, “It’s Not Easy to Make the Moon,” Nature, vol. 389, Sept. 25, 1997, 327; Shigeru Ida, Robin Canup, Glen Stewart, “Lunar Accretion from an Impact-Generated Disk,” Nature, vol. 389, Sept. 25, 1997, 353.

[65] David Harris, “After Einstein,” New Scientist, vol. 177, Feb. 8, 2003, 29.

[66] Lynn Margulis, Dorion Sagan, Slanted Truths: Essays on Gaia, Symbiosis, and Evolution, New York, Springer-Verlag, 1997, 265; Peter Coles, “The End of the Old Model Universe,” Nature, vol. 393, June 25, 1998, 743; James Ganz, “Which Way to the Big Bang?” Science, vol. 284, May 28, 1999,1448.

[67] Geoffrey Burbridge, Fred Hoyle, Jayant V. Marlikar, “A Different Approach to Cosmology,” Physics Today, vol. 52, April 1999, 39; Robert Matthews, “Sir Fred Returns to Give Big Bang Another Kicking.” Sunday London Telegraph: Cosmology Column, Feb 13, 2000.

[68] Jonathan F. Henry, “An Old Age for the Earth Is the Heart of Evolution”, Creation Research Society Quarterly, 40, 3, Dec. 2003,  167 ss.

[69] R.N., “Birth of Uranus and Neptune”, Astronomy 28(4):30, 2000.

[70] J.R Dormand, M.M. Woolfson, The Origin of the solar system: the capture theory, Ellis Horwood Ltd, W. Sussex, 1989, 39.

[71] Russell Humphreys, Starlight and Time, Green   Forest, Arkansas, Master Books, 1994.

[72] Salmos 90:4; II Pedro 3:8.

[73] Russell Humphreys, Technical Journal, 2002, afirmando: “Astronomers have confirmed that numerical values of galaxy redshifts are ‘quantized’, tending to fall into distinct groups. …That would mean the galaxies tend to be grouped into (conceptual) spherical shells concentric around our home galaxy.”

[74] Joel Smoller, Blake Temple, “Shock-wave cosmology inside a black hole”, Proceedings of the National Academy of  Sciences 100, (20):11216-11218, September 30, 2003

[75] Science and Creationism: A View From the National Academy of Sciences, 1984.

[76] Stephen W. Hawking, George F. R. Ellis, The Large Scale Structure of Space-Time, Cambridge, 1973, 134

[77] Carl Sagan, Pale Blue Dot, New York, 1994, 9.

[78] Peter Douglas Ward, Donald Brownlee, Rare Earth: Why Complex Life is Uncommon in the Universe, Copernicus Books, 2000;  Russell Humphreys, “Our galaxy is the centre of the universe, ‘quantized’ red shifts show”, 16, Technical Journal, 2, 2002, 95 ss.; Guillermo Gonzalez, The Privileged Planet: How Our Place in the Cosmos Is Designed for Discovery, Regnery Publishing, 2004.

[79] Guillermo Gonzalez, “Home Alone in the Universe”, 103, First Things, 2000; “Alien Intelligences?: Think Again”, Space.com, 2000

[80] Os criacionistas estabelecem uma conexão imediata e natural da quantidade de água dos oceanos com a ocorrência de um dilúvio global, como a Bíblia ensina. Por seu lado, os evolucionistas não têm qualquer resposta cientificamente plausível para a quantidade de água em estado líquido existente na Terra. As recentes descobertas sobre a quantidade de deutério nos oceanos e nos cometas põem em causa a tradicional teoria da “chuva de cometas”.

[81] Génesis 1:2, 6-10; Salmos 148:4; II Pedro 3:5.

[82] A. Snyder Ruzicka, L. A. Taylor, “Giant Impact and Fission Hypotheses for the origin of the moon: a critical review of some geochemical evidence”, International Geology Review, 1998, 851, onde se lê: “The origin of the moon is still unresolved.”

[83] Danny R. Faulkner, “The Angular Size of the Moon and Other Planetary Satellites: An Argument for Design”, Creation Research Society Quarterly, 35 (1) June 1998.

[84] J.D. Barrow, F. I. Tipler, The Antropic Principle, OxfordUniversity Press, 1986.

[85] Charles Thaxton, Walter Bradley, Roger Olsen, The Mystery of Life’s Origin, Lewis and Stanley, 1992.

[86] B.D. Dyer, R.A. Obar, Tracing the History of Eukaryotic Cells, ColumbiaUniversity Press, 1994, 2,3.

[87] Robert Gange, Origins and Destiny, 1986, 77, onde se lê: “The likelihood of life having occurred through a chemical accident is, for all intents and purposes, zero. ”

[88] Fred Hoyle, “Hoyle on Evolution,” Nature, Vol. 294, No. 5837, November 12, 148.

[89] Duane T. Gish, The Amazing Story of Creation From Science and the Bible, El Cajon, CA, 1990, 33.

[90] Frank Sherwin, “The Ultimate Gamble”, Acts and Facts, 33, 1, 2004.

[91] Don Baten, “Cheating with Chance”, Creation Ex Nihilo, 17(2), March–May 1995, 14 ss.

[92] James Perloff, Tornado in a Junkyard: The Relentless Myth of Darwinism, Refuge Books, 1999, 63 ss.; Francis Crick, Life Itself: Its Origin and Nature, 1981, 51 ss., afirmando, ““If a particular amino acid sequence was selected by chance, how rare an event would this be?… The great majority of sequences can never have been synthesized at all, at any time.”

[93] Leonard Susskind: “A Universe Like No Other”, New Scientist, Volume 180, No. 2419, November 1, 2003, 34 ss; Cosmic Landscape: String Theory and the Illusion of Intelligent Design, Little, Brown, 2005, 3 ss.

[94] Richard Lewontin, “Billions and Billions of Demons”, New York Review of Books, Jan 8, 1997, 28.

[95] Michael Denton, Evolution: A Theory in Crisis, London: Burnett Books, Ltd., 1985, 261.

[96] Klaus Dose, “The Origin of Life: More Questions Than Answers,” Interdisciplinary Science Reviews, Vol. 13, No. 4, 1988, 348.

[97] Stanley L. Miller, “A Production of Amino Acids under Possible Primitive Earth Conditions,” Science 117 (1953), 528-29; “Production of Some Organic Compounds under Possible Primitive Earth Conditions,” Journal of the American Chemical Society 77 (1955): 2351-61.

[98] Antonio Lazcano, “The Never-Ending Story,” American Scientist, vol. 91, no. 5, 2003

[99] Paul Davies, The Fifth Miracle: The Search for the Origin and Meaning of Life, New York: Simon & Schuster, 1999, 17.

[100] Carl Wieland, “Evolution, Creation, and Thermodynamics”, Creation Ex Nihilo 3 (2):9–11, May 1980, 9 ss.

[101] Eric J. Chaisson, Cosmic Evolution, Cambridge, Massachusetts: HarvardUniversity Press, 2001, 47.

[102] Michael Behe, Darwin‘s Black Box: The Biochemical Challenge to Evolution, Free Press, 1996.

[103] Denton, Evolution: A Theory in Crisis…, cit., 330 ss.

[104] Dawkins, The Blind Watchmaker, …, cit., 5 ss.

[105] H. J. Muller, “How Radiation Changes the Genetic Constitution”, Bulletin of the Atomic Scientists, Vol. 11, No. 9, November 1955, 331.

[106] Lee M. Spetner, Not by Chance, Shattering the Modern Theory of Evolution, Judaica Pr,1998.

[107] I.L. Cohen, Darwin Was Wrong: A Study in Probabilities, New York: New Research Publications, Inc.,1984, 81

[108] Richard B. Goldschmidt, The Material Basis of Evolution, New Haven Conn., Yale University Press, 1940, 8; George Gaylord Simpson, Tempo and Mode in Evolution, Columbia University Press, New York, 1944, 97; S. Lovtrup, Darwinism: The Refutation of a Myth, London: Croom Helm, 1987, 422. R. Wesson Beyond Natural Selection, MIT Press, Cambridge, MA, 1991, 206.

[109] Sarfati, Refuting Evolution…, cit., 39 ss.

[110] Sarfati, Refuting Evolution…, cit., 34 ss.

[111] Werner Gitt, In the Beginning was Information, 1997, 3 ss. 99, afirmando: “Since the findings of James D. Watson and Francis H. C. Crick, it was increasingly realized by contemporary researchers that the information residing in the cells is of crucial importance for the existence of life. Anybody who wants to make meaningful statements about the origin of life, would be forced to explain how the information originated. All evolutionary views are fundamentally unable to answer this crucial question.”

[112] R. Macnab, “Bacterial Mobility and Chemotaxis: The Molecular Biology of a Behavioral System”, CRC Critical Reviews in Biochemistry, vol. 5, 4, Dec., (1978), 291 ss.

[113] I.L. Cohen, Darwin Was Wrong: A Study in Probabilities, New   York: NW Research Publications, Inc.,1984, 209; John Woodmorappe, “Irreducible complexity: some candid admissions by evolutionists”, TJ, 17(2): 2003, 56 ss.

[114] Stuart Burgess, “Critical characteristics and the irreducible knee joint”, TJ, 13(2), 1999, 112 ss.

[115] Simpson, Tempo and Mode in Evolution…, cit., 105, 107; Stephen Jay Gould, S.J., “Evolution’s Erratic Pace”, Natural History, vol. 86, May, 1977.  N. Eldredge, I. Tattersall, The Myths of Human Evolution, Columbia University Press, 1982, 59; Niles Eldredge,  The Monkey Business: A Scientist Looks at Creationism, Washington Square Press, 1982, 65 ss.; Macro-Evolutionary Dynamics: Species, Niches, and Adaptive Peaks, McGraw-Hill Publishing Company, New York, 1989, 22; Reinventing Darwin, Wiley, New York, 1995, 95; R. Wesson, Beyond Natural Selection, MIT Press, Cambridge, MA, 1991,  206; Ernst Mayr, One Long Argument: Charles Darwin and the Genesis of Modern Evolutionary Thought, Harvard University Press, Cambridge, 1991, 138.

[116] Stephen Jay Gould, “Is a new and general theory of evolution emerging?”, Evolution Now: A Century After Darwin, Maynard Smith, J. (editor), W. H. Freeman and Co. in association with Nature, 1982, 14.

[117] Gish, Evolution: The Fossils Still Say No!…,  cit., 53 ss.; Sarfati, Refuting Evolution…, cit., 47 ss.

[118] Mayr, What Evolution Is…, cit., 20: “Given the fact of evolution, one would expect the fossils to document a gradual steady change from ancestral forms to the descendants. But this is not what the paleontologist finds. Instead, he or she finds gaps in just about every phyletic series.”

[119] S. J. Gould, “Evolution’s Erratic Pace”, Natural History, vol. 86, May, 1977.

[120] Keith Stewart Thompson, “Natural Selection and Evolution’s Smoking Gun,” American Scientist, vol. 85, Nov/Dec 1997, 516.

[121] Wells, Icons of Evolution…, cit., 9 ss.

[122] Sarfati, Refuting Compromise…, cit., 243 ss.

[123] Henry M. Morris, Scientific Creationism, 2º ed., Master Books, 1985,131 ss.

[124] Tas Walker, “The way it really is: little-known facts about radiometric dating”, Creation, 24(4), September 2002, 20 ss.

[125] Perloff, Tornado in a Junkyard: The Relentless Myth of Darwinism…, cit., 131 ss. e 151 ss.

[126] John Morris, “A canyon in six days!”, Creation 24(4), September 2002, 54 ss.

[127] John Woodmorappe, Mythology of Modern Dating Methods, ICR, 1999.

[128] T. R. Waller, L., Marincovich, “New species of Camptochlamys and Chlamys (Mollusca: Bivalvia: Pectinidae) from near the Cretaceous/ Tertiary boundary at Ocean Point, North   Slope, Alaska”, Journal of Paleontology, 66 (2),1992. 215 ss.; King, G.M. and Jenkins, I., “The dicynodont Lystrosaurus from the Upper Permian of Zambia: evolutionary and stratigraphical implications”, Palaeontology, 40(1), 1997, 149 ss.;  P. Kenrick, C-S.Li, , “An early, non-calcified, dasycladalean alga from the Lower Devonian of Yunnan Province, China”, Review of Palaeobotany and Palynology 100, 1998, 73 ss.; Vega, F.J. and Perrilliat, M. C., “Molluscan survivors of the K/T event in Paleocene strata at La Popa Basin, northeastern Mexico”, Geological Society of America Abstracts with Programs 31(1):A-36, 1999.

[129] L. Dicks, “The creatures time forgot”, New Scientist, 164(2209), 1999, 36 ss.

[130] New Scientist, 11 January 2003, 13

[131] John Woodmorappe “The fossil record: becoming more random all the time”, Technical Journal 14(1),  December 1999–February 2000,110 ss.

[132] John Woodmorappe, The Mythology of Modern Dating Methods, El Cajon, CA: Institute for Creation Research, 1999.

[133] Morris, Scientific Creationism.., cit.,  137 ss.

[134] Hansruedi Stutz, “Dating in conflict”, Creation, 19(2), March–May 1997, 42 ss.

[135] D.A. Swanson, R.T. Holcomb, “Regularities in growth of the Mount St Helens dacite dome, 1980–1986”, Lava Flows and Domes, J. Fink (ed.), Springer-Verlag, Heidelberg, Vol. 2, 1990, 3 ss.

[136] V. Gentry, G. J. Glish, E. H. McBay, “Differential helium retention in zircons: implications for nuclear waste management,” Geophysical Research Letters 9(10), October 1982, 1129-1130; D. R. Humphreys, S. A. Austin, J. R. Baumgardner, A. A. Snelling, “Helium diffusion rates support accelerated nuclear decay,” Proceedings of the Fifth International Conference on Creationism, Pittsburgh, PA: Creation Science Fellowship, 2003, 175 ss; D. R. Humphreys, “Accelerated nuclear decay: A viable hypothesis?”, Radioisotopes and the Age of the Earth: A Young-Earth Creationist Research Initiative, (L. Vardiman, A. Snelling, and E. Chaffin, editors), San Diego, CA, Institute for Creation Research, Creation Research Society, 2000, 348.

[137] Don DeYoung, Millions…not Billions, Master Books, 2005.

[138] Ariel Roth,Origins,1998, 184, reconhecendo que

“[t]he Cambrian explosion is not just a case of all the major animal phyla appearing at about the same place in the geologic column. It is also a situation of no ancestors to suggest how they might have evolved.”

[139] Gal, J., G. Horvath, E.N.K. Clarkson, O. Haiman, “Image formation by bifocal lenses in a trilobite eye?” Vision Research, 2000, 40:843–853; Acenolaza, G., M.F. Tortello, I. Rabano, “The eyes of the early Tremadoc Olenid trilobite” Jujuyaspis keideli Kobayashi 1936. Journal of Paleontology, 2001, 75(2):346–350.

[140] Stuart Burgess, Hallmarks of Design,2002, 47, onde se lê:

“Birds are so different from other creatures that there would have been hundreds of thousands of intermediate forms between birds and land animals if birds had evolved.”

[141] J.D. Morris, , The Young Earth, Master Books, Arizona, 1994.

[142] Andrew Snelling, “Instant” petrified wood, Creation, vol. 17, no. 4, 1995, 38-40; H. Akahane, T. Furuno, H. Miyajima, T. Yoshikawa, S. Yamamoto, “Rapid wood silicification in hot spring water: An explanation of silicification of wood during the Earth’s history”, Sedimentary Geology, vol. 169, 2004, 219-228.

[143] Sarfati, Refuting Evolution…, cit., 103 ss.

[144] John C. Withcomb, Henry M. Morris, The Genesis Flood: The Biblical Record and Its Scientific Implications, P & R Press; 1989; John Woodmorappe, Noah’s Ark: A Feasibility Study, ICR,1996; Studies in Flood Geology a Compilation of Research Studies Supporting, ICR, 2000; Sarfati, Refuting Compromise…, cit., 195 ss.

[145] Avid Alt, Glacial Lake Missoula and its humongous floods, Mountain Press Publishing Company, Missoula, MT, 2001, 180 afirmando: “Although theories abound, no one really knows what causes ice ages”; Ken Ham, Jonathan Sarfati, Carl Wieland, The Revised and Expanded Answers Book, Master Books, (1990) 2002, 159 ss.

[146] Andrew Snelling, “Coal Beds and Noah’s Flood”, Creation ex nihilo, 8(3), June 1986, 20 ss.; Tas Walker, “Coal: memorial to the Flood”, Creation ex nihilo, 23(2), March 2001, 22 ss.

[147] Austin, Baumgardner, et al., ‘Catastrophic Plate Tectonics: A Global Flood Model of Earth History’, 3rd ICC, 1994, 609 ss.

[148] Harold Hunt, Russell Grigg, “The sixteen Grandsons of Noah”,  Creation Ex Nihilo, 20(4), Sept.–Nov., 1998, 22 ss.

[149] Graham Hancock, Underworld: The Mysterious Origins of Civilization, Crown, 2002.

[150] George Gaylord Simpson, The Meaning of Evolution. New Haven, CT: Yale University Press, 1970, 345; Gregg. Easterbrook, “Of Genes and Meaninglessness.” Science, 277: August 15. 1997, 892.

[151] Apud Albert W. Alschuler, “A Century of Skepticism ”, Christian Perspectives on Legal Thought, (ed. Michael W. McConnell, Robert F. Cochran, Jr., A. Carmella), New Haven, Conn., 2001, 95.

[152] Chet Raymo, Skeptics and True Believers, New York, NY, Walker, 1998, 187 ss.

[153] George B. Dyson, Darwin Among the Machines: The Evolution of Global Intelligence, Perseus Publishing, 1998; Ray Kurzweil, The Age of Spiritual Machines: When Computer Exceed Human Intelligence, Penguin USA, 2000; The Age of Spiritual Machines, Texere Publishing, 2001; Hans P. Moravec, Robot: Mere Machine to Transcendent Mind, OxfordUniversity Press, 2000, 91 ss. e 163 ss.

[154] Richard Rorty, Truth and Progress, Cambridge, 1998; Phillip Johnson, Darwin on Trial, Washington, D.C., Regnery Gateway, 1991, 118.

[155] Gish, Evolution: The Fossils Still Say No!…, cit., 209 ss., Sarfati, Refuting Compromise…, cit., 308 ss.

[156] Russell Grigg, “The Minesota Iceman Hoax”, Creation, 20(1), December 1997, 18 ss.

[157] Gish, The Amazing Story of Creation From Science and the Bible,…, cit., 82 ss.

[158] F. Spoor, et al., “Implications of early hominid labyrinthine morphology for evolution of human bipedal locomotion”, Nature 369(6482):645–648, 23 June 1994.

[159] John Reader, Missing Links, Book Club Associates, London, 1981, 36; Michael Oard, Beverly Oard, Life in the Great Ice Age, Creation-Life Publishers, Inc., California, 1993; A. J. Tyrrell, A.T. Chamberlain, “Non–metric trait evidence for modern human affinities and the distinctiveness of Neanderthals”, Journal of Human Evolution 34, 1998, 549 ss.; M. Lubenow, “Recovery of Neandertal mtDNA: An Evaluation”, TJ(12)1, 1998, 87 ss.

[160] Ton Batten, “Where are all the people?”, Creation Ex Nihilo, 23(3), June–August 2001, 52 ss.

[161] Joseph T. Chang, Douglas L.T. Rhode, Steve Olson, “Human evolution: Pedigrees for all humanity”, Nature 431: (September 30, 2004), 518.

[162] Rebecca Cann, Mark Stoneking, Allan C. Wilson, “Mitochondrial DNA and Human Evolution”; Nature, January 1, 1987; A. Gibbons, “Mitochondrial Eve refuses to die”, Science, 259 (5099) 1993, 1249 ss.

[163] Ann Gibbons, “Calibrating the Mitochondrial Clock”, Science, January 2, 1998,  279:28-29, onde se lê: “Regardless of the cause, evolutionists are most concerned about the effect of a faster mutation rate.  For example, researchers have calculated that “mitochondrial Eve”—the woman whose mtDNA was ancestral to that in all living people—lived 100,000 to 200,000 years ago in Africa.  Using the new clock, she would be a mere 6,000 years old”.

[164] D. Batten, “Y-Chromosome Adam?”, TJ 9(2) August 1995, 139 ss.

[165] M.F. Hammer, et al., “Jewish and Middle Eastern non-Jewish populations share a common pool of Y-chromosome biallelic haplotypes”, Proceedings of the National Academy of Sciences (early ed.) 2000, 1 ss.

[166] R.J.  Britten ‘Divergence between samples of chimpanzee and human DNA sequences is 5% counting indels’, Proceedings National Academy Science, 99, 2002. 13633 ss.

[167] New Scientist, 15 March 2003, 26.

[168] Wells, Icons of Evolution…, cit., 59 ss.

[169] Sarfati, Refuting Evolution…, cit., 82 ss.

[170] A. Knight, M.A. Batzer,  M. Stoneking, H.K. Tiwari, W.D. Scheer, R.J. Herrera, P.L. Deninger,  ‘DNA sequences of Alu elements indicate a recent replacement of the human autosomal genetic complement.’ Proceedings of the National Academy of Sciences USA (1996) 93:4360-4364.

[171] New Scientist, 15 March 2003, 15.

[172] Jonathan Sarfati, Refuting Evolution, 2ª ed., II, Master Books, 2003, 192 ss.

[173] Werner Gitt, The Wonder of Man, Christliche Literatur-Verbreitung E.V., Bielefeld, Germany, 1999, 101.

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[175] Steven, Pinker, The Language Instinct: The New Science of Language and Mind, Penguin, London, 1997, 1395.

[176] Noam Chomsky, Language and the Mind, Harcourt, Brace, Jovanovich, New York,1972, 67-68,

[177] João 1:1 ss.; E. Lyons, B. Thompson, “In the ‘Image and Likeness of God’, Reason & Revelation [ I, II], 22, 2002, 17-23 e 25-31.

[178] Génesis 1:28-30; 2:15-17.

[179]S.H., Elgin, What is Linguistics? Prentice Hall, Englewood Cliffs, NJ, 1973, 44.

[180] George Gaylord Simpson, “The biological nature of Man”, Science 152, 1966, 477.

[181] Génesis 11:1-9.

[182] Carl Wieland, “Towering change”, Creation 22(1), 1999, 22.

[183] L. Loewe, S. Scherer,Mitochondrial Eve: the plot thickens.’ Trends in Ecology and Evolution, 12(11), November 1997, 422 ss.; A. Gibbons, ‘Calibrating the Mitochondrial Clock’. Science 279(5347), January 2, 1998, 28 ss.

[184] John Rendle-Short, “Man in the Image of God”, Creation Ex Nihilo, 4(1), March 1981, 21 ss.

[185] Michael A. Cremo, Richard L. Thomson, Forbidden Archaeology: The Hidden History of the Human Race, Torchlight Publishing, 1998.

[186] Génesis 1:31.

[187] New Scientist, 22 February 2003, 24; Science, 14 February 2003, 1029 ss. e 1054 ss.

[188] Kurt Mendelssohn, ‘A Scientist Looks at the Pyramids’, American Scientist, March–April, 1971, 210 ss.

[189] Sarfati, Refuting Compromise…, cit., 287 ss.

[190] Graham Hancock, Fingerprints of the Gods, New York, 1995. 135 ss.

[191] Rene Noorbergen, Secrets of the Lost Races: New Discoveries of Advanced Technology in Ancient Civilizations, Norcom Pub. Co, TN 1977; Donald Chittick, The Puzzle of Ancient Man, Creation Compass, 1997.

[192] Gitt, In the Beginning was Information…cit., 99 ss.

[193] Claude E. Shannon, Warren Weaver, The Mathematical Theory of Communication, Urbana: University of Illinois Press,1964.

[194] J. D. Watson, F.H.C. Crick, “The Structure of DNA,” Cold Spring Harbor Symposium Quantitative Biology 18: 1953, 123.

[195] Philip Johnson, The Wedge of Truth, Spliting the Foundations of Naturalism, Intervarsity Press, 2000, 38 ss.

[196] William A. Dembski, The Design Inference: Eliminating Chance Through Small Probabilities, Cambridge, Oxford University Press, 1998; “Science and Design”First Things, 86, October 1998, 21 ss. No Free Lunch: Why Specified Complexity Cannot Be Purchased Without Intelligence, Rowman & Littlefield, 2001;

[197] H. Yockey, “A Calculation of the Probability of Spontaneous Biogenesis by Information Theory,” Journal of Theoretical Biology, 67, 1977, 377.

[198] Werner Gitt, Carl Wieland, “Weasel Words, Refuting a common ploy to persuade people that evolution has been ‘proven by computer’”, Creation Ex Nihilo 20(4):20–21, September–November 1998, 20 ss.

[199] S. W. Fox , K. Dose, Molecular Evolution and the Origin of Life, San Francisco: W. H. Freeman,1972; G. Nicolis and I. Prigogine, Self-Organization in Nonequilibrium Systems, New York: Wiley Interscience,1977.; M. Eigen, W. Gardiner, P. Schuster, R. Winkler-Oswatitsch, “The Origin of Genetic Information,” Scientific American, 244(4), 1981, 88.

[200] Werner Gitt, “Information, science and biology” TJ 10(2):181–187,August 1996; In the Beginning Was Information, Bielefeld, 1997; Time and Eternity, Loizeaux, Neptune, 2001, 49.

[201] Gitt, Did God use Evolution?…, cit., 72.

[202] Gitt, Did God use Evolution?…, cit., 78 ss.

[203] Veja-se, por exemplo, James P. Ferris, “Mineral Catalysis and Prebiotic Synthesis: Montmorillonite-Catalyzed Formation of RNA,” Elements (vol. 1, June 2005), 146., onde se lê: “Biochemistry is too complicated to replicate from generation to generation without a reliable mechanism to pass on genetic information. In all known life forms, that mechanism depends on the double-stranded molecule DNA and its close relative, the single-stranded RNA, or ribonucleic acid. But there’s a catch: You need DNA to make proteins, but you need proteins to make DNA. Which came first?” (o itálico é nosso).

[204] C.M. Fraser, et al., “The minimal gene complement of Mycoplasma genitalium”, A., Goffeau, “Life With 482 Genes”, Science, 270 (5235), 1995, respectivamente 397 ss. e 445 ss.

[205] Dawkins, The Blind Watchmaker…, cit., 115.

[206] Apud, Canadian Christianity, 8, May, 2004.

[207] Sarfati, Refuting Compromise…, cit., 67 ss.

[208] Charles V. Taylor, The Oldest Science Book in the World, Assembly Press, Queensland, 1984, 21 ss., 73 e 121.

[209] Russell Grigg, “Should Genesis be taken literally?”, Creation 16(1),
December 1993, 38 ss.; Gorman Gray, The Age of the Universe: What Are the Biblical Limits?, Morningstar Publications, Washougal, Washington, 1997.

[210] Deutoronómio 18-18; Provérbios 8:7-8; Jeremias 23:30, 33-40.

[211] Mateus 19:3-6; Marcos 10:2-9; Lucas 17:26-27; 34:27; João 1:17; John W. Wenham, Christ and the Bible, Eagle, Guildford, Surrey, UK, 3rd ed. 1993, passim.

[212] Sarfati, Refuting Compromise…, cit., 225 ss.

[213] Actos 17:16 ss.

[214] Génesis 1:31. Ken Ham”, The god of an old Earth”, Creation Ex Nihilo 21(4), Sept-Nov 1999, 42 ss.

[215] Jacques Monod, “The Secret of Life”, entrevista com Laurie John, Australian Brodcasting Co, Junho 1970. Citado em Henry Morris, The Long War Against God, The History and Impact of the Creation/Evolution Conflict, Master Books, 2000, 58.

[216] Bertrand Russell, Religion and Science, OxfordUniversity Press, 1961, 73.

[217] Morris, Scientific Creationism…, cit., 136.

[218] Génesis 3:17 ss.

[219] Romanos 6:23

[220] I Coríntios 15:26

[221] Apocalipse 22:3

[222] João 10:10

[223] Génesis 3:17; 4:10-12; Oséias 4:1-3; Romanos 8:20-22.

[224] Isaías 11:6; Apocalipse 21.

[225] Actos 1:3.

[226] Romanos 1:20.

[227] John Milton, Areopagitica, A Speech for Liberty of Unlicensed Printing  London, 1644 (1994); John Stuart Mill, On Liberty and Other Essays, Oxford, 1991.

[228] Hee-Joo Park, “The Politics of Anti-Creationism: The Committees of Correspondence”, Journal of the History of Biology, 33 (2), 2000, 349 ss.

[229] Robert T. Pennock, “Should Creationism be Taught in the Public Schools?”, Science and Education, 11 (2), March 2002, 111 ss.

[230] Pierre-Paul Grasse,  Evolution of Living Organisms, Academic Press, New York, N.Y., 1977, 8; Wolfgang Smith, Teilhardism and the New Religion: A Thorough Analysis of The Teachings of Pierre Teilhard de Chardin, Rockford, Illinois: Tan Books & Publishers Inc., 1988, 2.

[231] David Walsh, The Third Millennium: Reflections on Faith and Reason, GeorgetownUniversity Press, 1999.

[232] Henry M. Morris, Scientific Creationism, 2º ed., Master Books, 1985, 19 ss.

[233] Actos 17:24-25.

[234] João 3:16; 5:24; 6:40, 68; Romanos 5:21; 6:22; Gálatas 6:8; I. Timóteo 6:12; Tito 1:2; I João 2:25; 5:11,13, 20.

[235] Romanos 12:1-2.

[236] Sarfati, Refuting Compromise…, cit., 49 ss.

[237] I Coríntios 13:12

[238] Steven J. Brams, Biblical Games,  Game Theory and the Hebrew Bible, MIT Press, Cambridge, Mass., 2003, 13.

Resposta Paulina ao Gnosticismo em Colossensses

Gnosticismo

Simbolo do Gnosticismo

INTRODUÇÃO
O Gnosticismo foi um grande problema no passado para a igreja primitiva e ainda que não se fala muito disso hoje, o gnosticismo tem enredado muita gente com seus ensinos. Para perceber isto vamos abordar qual o  significado do gnosticismo, procurando saber a sua origem  e qual a sua importância. Procurando entender o problema gnóstico em Colossos, com base  na refutação de Paulo e também perceber de que forma o gnosticismo actua hoje em dia nas nossas igrejas.

I. DEFINIÇÃO DE GNOSTICISMO

Gnosticismo vem da palavra grega gnosis que significa “conhecimento” – muitos helenistas vangloriavam-se de possuir uma sabedoria muito mais profunda do que a revelada nas Escrituras e era privilégio de poucos. Eles consideravam a matéria má em si, razão por que um Deus santo não a poderia ter criado. Os anjos diziam eles, eram os criadores da matéria. Um Deus puro não se comunicava directamente com o homem pecador, mas por meio de uma cadeia de anjos intermediários, que formavam uma espécie de escada.” Segundo Champlin os Pais da Igreja chamavam o gnosticismo de “sabedoria grega”. Macarthur descreve que os gnósticos ofereciam uma miscelânea sinistra de ideias, mitos e superstições; os quais eram emprestados das religiões pagãs de mistério e das filosofias humanas. E sublinha ainda que todas as formas de gnosticismo começaram com a noção de que a verdade é secreta, conhecida apenas por um grupo selecto de mentes elevadas e iluminadas.

II. AS ORIGENS DO GNOSTICISMO

Pouco sabemos sobre as origens do gnosticismo. O movimento não teve fundador, apesar de o nome de Simão, o Mago como podemos ver em Actos 8, ser muitas vezes associado nas tradições da igreja com o surgimento do gnosticismo. O gnosticismo não tem texto do qual parte, nem é possível identificar uma data específica para o começo do movimento. Algumas ideias do gnosticismo já eram conhecidas no tempo do NT. Apesar de o assunto ser debatido, porém, não há evidências de que o gnosticismo existiu antes do cristianismo.

III. A IMPORTÂNCIA DO GNOSTICISMO

O gnosticismo obviamente é importante para a compreensão da história da igreja e também em termos teológicos. Nós também temos de lidar com o problema do mal. Muitos erros do gnosticismo ainda representam um perigo hoje em dia. Alguns tendem a rejeitar o mundo criado por Deus e a considerar o corpo mau, ou a achar que Cristo não foi plenamente humano. Ou, como o famoso gnóstico Marcião, muitos se vêem tentados a rejeitar a autoridade do AT.

IV. O PROBLEMA GNÓSTICO EM COLOSSOS

Segundo Carson os Colossenses eram cristãos neófitos. Não fazia muito tempo que haviam deixado o paganismo ou o judaísmo, e era fácil para eles retornarem às práticas e maneiras de pensar às quais tinham estado acostumados antes de sua conversão, as quais ainda encontravam e cuja atracção lhes era impossível negar.
Shedd nos diz que os gnósticos propuseram a solução da separação, quase infinita em distância, do Deus bom, de um lado; e do mundo material, de outro. O homem, pelo conhecimento (gnosis, isto é, conhecimento esotérico) e acertada adoração, poderia influenciar os poderes angelicais e demoníacos que dominavam o espaço entre Deus e o mundo. E Champlin afirma que os gnósticos tinham reduzido Cristo a mera emanação, como se ele fosse um mediador entre muitos. Para os gnósticos, Cristo era apenas o deus deste mundo e não de toda a criação. Os gnósticos separavam de Deus dos homens por tão grande número de sombrios “aeons”, que o contacto de Deus com os seres humanos se tornava virtualmente impossível.
Os gnósticos não achavam necessário negar o poder de Cristo para salvar os homens do pecado, mas criam que o sofrimento e a morte de Jesus mostravam inconfundivelmente que ele mesmo fora vítima do azar, condenado a sofrer um caprichoso fatalismo do mundo material. E no que se refere ao cristianismo, o gnosticismo consistia, essencialmente, na tentativa de fundir as revelações dadas por meio de Cristo e seus apóstolos com os padrões de pensamento já existentes, o cristianismo tornar-se-ia apenas mais outro culto misterioso greco-romano.

V. A REFUTAÇÃO DE PAULO CONTRA O GNOSTICISMO

O gnosticismo não era uma seita única e exclusiva, O pensamento gnóstico oferecia possibilidades para os “inventores” de religiões, por meio das quais cada falso mestre poderia inventar sua própria seita, Por essa razão, o gnosticismo, como um sistema, não era fácil de ser refutado; e não é fácil descrevê-lo.
Shedd destaca que Paulo como advertência emprega quatro métodos em sua luta contra o gnosticismo, (1) advertência “cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs subtilezas…” (Cl 2.8), (2) usa o Termos-chaves dos hereges, dentre os quais Ryrie destaca: “O Homem Perfeito” (Cl 1.28), “Mistério de Deus, Cristo (Cl 2.2), Sabedoria e Conhecimento” (Cl 2.3), “Rudimentos do Mundo” (Cl 2.8) e “Cabeça” (Cl 2.10). (3) Dá à história o seu devido lugar, (4) Exalta Cristo, o Filho de Deus.
Patzia descreve como refutação que Paulo enfatiza que os Colossenses não necessitavam de uma fonte adicional de revelação, ou; autoridade para sua vida espiritual. Cristo não é simplesmente mais uma força espiritual, dentre outras que compõem a totalidade, ou plenitude (pleroma) do universo (Cl 1.19). Ele é superior a todos os poderes, visto que ele, e só ele, é o Deus encarnado; a plenitude de Deus encontra-se em Cristo.
Shedd sublinha que Paulo combateu estas heresias reconfirmando as principais verdades históricas e teológicas do evangelho: 1) Cristo incorpora toda a realidade divina, 2) Ele é superior a todo poder real ou inventado (Cl 2.10,15), 3) A perfeição se alcança unicamente em união vital com ele (v.10), 4) por intermédio da fé e do enxerto em Cristo, simbolizado no baptismo, todos os benefícios da morte e ressurreição dele são compartilhados e 5) não estando mais morto e alienado de Deus pelo pecado, o cristão vive totalmente liberto da culpa e em tranquilidade diante de qualquer obrigação religiosa, por intermédio da vitória de Jesus na morte e ressurreição.

VI. O GNOSTICISMO HOJE

MacArthur destaca que o gnosticismo, na realidade, nunca morreu. Traços de influência gnóstica têm infectado a igreja através de sua história. Actualmente, uma tendência neognóstica de se buscar conhecimento oculto vem ganhando uma nova influência e trazendo consigo resultados desanimadores.
Em ambientes onde são toleradas a doutrina imprecisa e uma negligente exegese bíblica, onde definham tanto o discernimento quanto a sabedoria bíblica, as pessoas tendem a procurar algo mais que a simples suficiência que Deus providenciou em Cristo. Hoje, como nunca antes, a igreja tem-se tornado negligente e atordoada quanto à verdade bíblica, e isso tem conduzido a uma busca sem precedentes pelo conhecimento oculto. Isso é neognosticismo, e três de seus traços principais, presentes hoje na igreja, indicam que ele está ganhando ímpeto: a psicologia, o pragmatismo e o misticismo.

CONCLUSÃO

Para concluir, vimos o significado da palavra gnosticismo que vem do grego gnósis e que quer dizer conhecimento, também investigamos que o gnosticismo é de origem incerta e a sua importância é para a compreensão da história da igreja e também em termos teológicos. A igreja dos Colossenses enfrentara graves conceitos e influências da heresia gnóstica, que negava a divindade de Cristo e misturavam o sincretismo religioso com a filosofia humana. Contudo Paulo refuta o gnosticismo advertindo os Colossenses quanto a estes perigos. Sobretudo para que eles não ficassem enredados com suas filosofias e vãs subtilezas. Mas que “em Cristo habitou corporalmente toda a plenitude da divindade”. Portanto isto se aplica hoje também, devemos ter o cuidado para detectarmos estas heresias gnósticas em nossas igrejas para podermos refutar à luz da palavra de Deus para que os crentes não sejam confundidos e venham estar presos a filosofias humanas. Que Deus nos ajude!

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SHEDD, Russel P. e MULHOLAND, Dewey M. Epístolas da Prisão: uma análise de Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon. São Paulo: Vida Nova, 2005.

Bem Vindo!

Juntos podemos fazer grandes coisas!

Juntos Venceremos!

Juntos Venceremos!

“Depende de nós criar o futuro. Por isso, devemos, primeiro, defender o que temos construído até hoje! A seguir, precisamos deixar as futuras gerações colocarem-se em cima dos nossos ombros, para que possam chegar ainda mais longe!” Escravo de Cristo