“A CULPA É DAS ESTRELAS”

A culpa é das estrelas _ apologetica_peqEscolher um filme é muitas vezes uma caixinha de surpresas. Procuro sempre ter algumas razões que justifiquem a escolha, mas algumas vezes fico com um sentido de frustração e outras vezes dou por bem empregue o dinheiro do bilhete. Neste caso não tinha nenhuma indicação prévia. A escolha foi um pouco arbitrária e o título sugeria algo de diferente. Mesmo depois de ter visto o filme ainda fiquei à volta sobre qual teria sido a razão da sua escolha, embora hoje o marketing e a publicidade tenham razões que a razão desconhece. A cultura presente está prenhe de múltiplas superstições, entre as quais a do destino escrito e determinado pelas estrelas. Outra das situações que é muito comum a todos os seres humanos é sempre procurar um culpado por detrás de cada acidente no percurso da vida. Mas voltemos ao filme.
A trama desenvolve-se em torno de dois adolescentes que enfrentam uma situação de cancro em fase mais ou menos terminal e que acabam por encontrar-se num grupo de ajuda que se reúne num templo ligado à Igreja Episcopal. O ambiente do grupo é um pouco “ridículo”, sendo que o “coração de Jesus” resume-se a uma tapeçaria tecida pelo líder do grupo que também enfrenta uma situação oncológica. Um terceiro jovem, Isaac, está no processo de perder a única vista que lhe resta, e perante a iminência a namorada rompe com ele, provocando momentos de revolta que são passados na destruição de alguns dos troféus do amigo Augustus.
Os dois jovens, Hazel e Augustus Water, acabam por apaixonar-se e no processo começam por trocar sugestões de leitura de livros. O livro sugerido pela Hazel é de um escritor que vive em Amesterdão e que ela daria tudo para contactar e visitar com algumas perguntas suscitadas no fim da obra. Acaba por ser o Augustus a conseguir o contacto primeiro por email e depois os meios financeiros para que possam visitá-lo. A visita acaba por ser em parte uma grande deceção, sendo que o célebre autor torna-se bastante rude numa abordagem ateísta evolucionista, declarando numa agressividade repulsiva que eles são apenas uma mutação errada da natureza que é paga pelos impostos de todos os cidadãos. A entrevista acaba abruptamente sendo que a secretária vem ao encontro deles já na rua para pedir-lhes desculpa pela brutalidade do escritor, e sugerindo-lhes, em compensação, uma visita à casa de Anne Frank. A dificuldade da menina em subir toda a escadaria da casa que não tem elevador, à medida em que se vão ouvindo em fundo algumas das frases da obra da jovem que morreu num campo de concentração nazi, termina em apoteose no último andar, depois de uma íngreme escada, num beijo apaixonado de celebração do amor e da vida que prevalece perante o sofrimento e a adversidade. Uma metáfora muito bem conseguida em termos cinematográficos, no meu entender. O argumento não consegue fugir à ditadura cultural de uma relação sexual na cidade conhecida pela devassidão moral.
O filme é rico em imagens e figuras como a do cigarro que o rapaz teima em alguns momentos trazer na boca sem nunca o acender, explicando perante a estupefação e indignação da menina que sofre de doença pulmonar, tratar-se de uma metáfora de ter na boca a morte sem dar-lhe o poder de o matar.
É na cidade de Amesterdão que o Augustus acaba por revelar à Hazel que a doença subitamente se agravou. Já de regresso aos Estados Unidos o jovem combina e marca num templo vazio a simulação de um elogio fúnebre, no desejo de presenciar o seu próprio funeral. No meu entender outra metáfora extremamente sugestiva de que importa não guardar para o dia do funeral dos amigos o que em vida lhes podemos dizer.
A situação de saúde do Augustos vai-se degradando cada vez mais até que acaba por falecer. No cemitério ouve-se o ministro a ler o Salmo 23. Entretanto e subitamente aparece no funeral, junto da Hazel o escritor que da profunda admiração nutrida, passou a detestar profundamente. A jovem é convidada a apresentar algumas palavras e acaba por não ler o discurso que preparara e que antes já tinha lido de viva voz ao falecido, porque, segundo confessa posteriormente, no funeral não se fala para os mortos mas para os vivos. Terminada a cerimónia o escritor tenta uma abordagem e uma conversa com ela num confronto muito agressivo, em que ela acaba por expulsá-lo do carro sem que antes ele lhe entregue um papel. Fica a saber-se que toda a amargura e rudeza do autor são devidas à morte de uma filha aos oito anos. Uma das frases que me ficou deste diálogo aceso foi “a vida vem da vida”.
O Isaac, já cego, acaba por contar à Hazel que foi o próprio Augustos que tentou convencer o escritor a visitá-la e a entregar-lhe o elogio fúnebre que ele mesmo escrevera para ela e não tinha tido oportunidade de lho ler e entregar. E o filme termina com ela a ler deitada sobre a relva com as estrelas a pontilharem o firmamento.
Outro dos aspetos que considero muito sugestivos no filme é a maneira como cada uma das famílias vive a realidade da doença, do sofrimento e da morte. Existem partes muito tocantes de confissões mútuas sendo que numa delas a Hazel acaba por dizer aos pais que espera que eles não morram para a vida com a morte dela, e que a mãe não deixe de o ser só porque ela morreu (uma expressão menos feliz dita num momento de crise em que ela quase morreu).
É um filme que suscita questões a que o evangelho de Jesus Cristo responde. A presença de Deus sente-se, mas é muito ténue. Mesmo assim é um filme que nos coloca perante a fragilidade da vida e perante a presença da morte na vida de pessoas muito jovens. Como fazem falta ali, as palavras de Jesus às irmãs de Lázaro quando este faleceu: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá, eternamente.” (João 25,26) Na realidade só Jesus pode consolidar em nós a certeza da vida eterna, a começar desde logo aqui no meio de todas as nossas vicissitudes e fragilidades. O apóstolo Paulo explode com toda esta fulgurante certeza no capítulo quinze da primeira epístola aos Coríntios, o grande capítulo da ressurreição: “E quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.” (54-57).
As questões do sentido da vida, da existência de Deus, de quem Deus é, do relacionamento entre as pessoas, do valor da família, do amor, da vida e da morte, do tempo e da eternidade, do corpo e da alma, da dimensão e natureza espiritual do homem, continuam presentes no coração e na mente dos homens, das famílias, entre os jovens e adolescentes, em cada pessoa. Eis a oportunidade de mostrar e evidenciar a diferença que Jesus é e faz. De facto só Ele é capaz de nos mostrar a essência da vida e trazer-nos de volta ao propósito de Deus. A pluralidade religiosa e filosófica em que nos movemos apresenta uma multiplicidade de sugestões alternativas, mas só Jesus nos indica como podemos viver verdadeiramente vivos e morrer na certeza da vida eterna. Jesus morreu e ressuscitou. Jesus lidou com os vivos nas suas múltiplas situações de fragilidade, de dor, de insatisfação e frustração, de incerteza e desorientação. O homem está espiritualmente morto sem Deus. Jesus veio vivificar o homem através da Sua morte e ressurreição. Jesus veio mostrar-nos que a vida é mais do que existir e sobreviver, mas é Deus em nós. Jesus não veio para dar-nos vida… Ele é a própria vida de que carecemos e sem a qual permanecemos mortos. Jesus veio para libertar-nos da culpa, tornando-se culpado em nosso lugar, assumindo a nossa culpa, carregando a nossa desobediência e morte, e para dar-nos o perdão e a liberdade de uma nova vida.

Samuel R. Pinheiro
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JUDEUS, ÁRABES E HITLER (ABOU ALI)

JTP4

© João Tomaz Parreira

A crise – para usar um termo inócuo – entre árabes e judeus, é um problema com origem numa semente apressada, não obstante os oitenta e seis anos de Abrão.
A falha começou no patriarca, ao dar ouvidos a Sarai, e colocaria em dificuldades o futuro povo de Israel. Abrão –antes ainda de ser Abraão- foi investido numa missão divina, mas ele não era a missão e ao confundir a sua humanidade com a plenitude divina,  fez nascer um problema chamado Ismael, o qual, como tudo o filho que nasce, não tem culpa nem do passado nem do presente nem do futuro.
No entanto, a misericórdia de Deus em compor estragos e restaurar vasos quebrados, manifestou-se em Hagar. “Eis que concebeste e terás um filho (…) porquanto o Senhor ouviu a tua aflição” (Gn 16,11)
As mimetizações dos planos divinos nunca se traduzem em melhores sucessos na vida do Homem ou da Igreja. Tentar copiar Deus na sua intervenção sobre a História conduz a maus resultados. “Ismael (…) será homem bravo, e a sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele” (16,12)
No que concerne a Ismael e aos seus descendentes, os ismaelitas ( não confundir com ismaelismo, doutrina religiosa),  a promessa cumpriu-se para desespero de Israel. Causas que não se extinguem, trazem efeitos imorredoiros. É assim a relação entre judeus e árabes, entre o actual Estado de Israel e a sua vizinhança palestiniana e árabe, no sentido geral e, sobretudo, no religioso.
Consultando  a “wikipédia” antes de rebuscarmos a história em papel, lemos sobre os ismaelitas a sinopse da sua postura religiosa, que não anda afastada de todo do Velho Testamento:
“À semelhança dos outros muçulmanos, os ismaelitas acreditam num único deus e no profeta Maomé como mensageiro divino. O pensamento ismaelita apresenta igualmente uma visão cíclica, desenrolando-se a história ao longo de sete eras. Cada uma destas eras é iniciada por um profeta, que traz consigo uma escritura sagrada. Cada profeta é acompanhado por um companheiro silencioso, que revela os aspectos esotéricos da escritura. Os seis primeiros ciclos estiveram associados aos profetas Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus e Maomé. O companheiro silencioso de Maomé foi Ismael, que regressará no futuro para ser o profeta do sétimo ciclo.”
Mas para desespero da humanidade e dos judeus em particular, outro “profeta” se adiantou e está registado na História Contemporânea como Adolfo Hitler.
O ABU ALI DA HISTÓRIA DO SÉCULO XX
Quando Hitler tomou o poder, apesar de tudo democraticamente, em 1933, telegramas de felicitações foram despachados das capitais árabes. Em 1937, a sinistra figura quase aristocrática da propaganda nazi, Joseph Goebbels, louvava “a racial consciência” dos árabes, fazendo notar de um modo absurdamente poético que “bandeiras nazis ondulavam na Palestina e adornavam as suas casas com a cruz suástica e retratos de Hitler”.
As águas da História, seja do que for, têm a vantagem de mostrar a sujidade das acções, apesar de todas as tentativas de branqueamento  e, não poucas  vezes,  o bebé é deitado fora com a água do banho.
Um exemplo?  A mistura “da cruz suástica  e da cruz cristã”, dos Deutsche Christen, evangélicos, anti-semitas e apoiantes do Partido Nazi, um desses casos das águas sujas do banho que podemos ler na História, e nas obras de Dietrich Bonhoeffer e Karl Barth; este pregando vigorosamente pela “Igreja Confessante”, pela pureza da Igreja Evangélica; aquele, como membro fundador da mesma Igreja “Bekennende Kirch”, é condenado à morte pela forca no Campo de Concentração de Flossenburg em 1945.
A verdade é que Hitler soube aproveitar-se do reposicionamento dos pensamentos cristãos, divididos entre servir a Cristo mesmo sob a pressão nazi e servir o regime para obter benesses. Chegou-se ao absurdo de os Deutsche Christen se apresentarem como os “SA (Tropas de Assalto) de Jesus Cristo na luta pela destruição dos males físicos, sociais e espirituais”, daí à ajuda no extermínio dos judeus e na prisão dos cristãos evangélicos fiéis à Palavra de Deus, foi o passo que se conhece na tragédia do nazismo.
Portanto, Hitler vogava bem em duas águas: a dos favores dos “cristãos alemães” e a da glorificação do mundo árabe; apesar do próprio Hitler considerar os árabes como raça também inferior.
Abu – Pai em árabe-, seguido de Ali,  no contexto histórico, era o sobrenome islamizado atribuído a Hitler, fundamentalmente pela sua liderança que se presumia mundial e pelo seu programa de dizimação dos judeus. Era um endeusamento. Uma canção popular da década de 30, nas ruas de Damasco, dizia: “Não mais Monsieur, não mais Mister. No Céu Allah, na Terra Hitler”.
Abu Ali e a sua obra fundacional, o “Mein Kampf” com as suas teorias do nacionalismo, da ditadura, da raça superior e do anti-semitismo, desde 1930 que impressionaram os estados árabes.   A primeira tentativa para traduzir a obra para o idioma arábico iniciou-se cedo, por volta daquele ano, quando começaram a aparecer excertos do livro nos jornais árabes. A tradução surgiu definitivamente no Cairo em 1937, com a significante aprovação da Alemanha Nazi.
Na Palestina, por outro lado, a literatura hebraica entre 1940 e 1944 trazia a público cerca de vinte mil volumes de poesia, romance, ensaios, que afirmavam em hebreu a existência de um povo,  enquanto na Europa Abu Ali se preparava para concluir a Solução Final, o holocausto de milhões de judeus.
Desse tempo, os anos da II Guerra e do Holocausto, a poesia de Uri Zevi Greenberg (1896-1981), para entendermos a relação ancestral do hebreu com o seu Deus : A minha boca é uma ferida aberta / Por isso, todo nu, disse ao meu Deus: duramente / Tens trabalhado sobre mim / Agora, eis aqui a noite: Tréguas! Repousemos os dois.(Versão minha)

“EM DEFESA DA FÉ”

2013-2014 MEIBAD turma apologética“EM DEFESA DA FÉ”

A tentativa de articular cinco monografias em uma monografia de turma na disciplina de APOLOGÉTICA, no ano letivo 2013/2014, do Monte Esperança Instituto Bíblico da Convenção das Assembleias de Deus em Portugal. O título é da responsabilidade do professor. Samuel R. Pinheiro

André Simões, Eliezer Correia, Filipe Fontes, Mauro Nascimento e Nuno Ferreira (da direita para a esquerda na foto)

ÍNDICE

                      

Introdução……………………………………………………………………………………………………… 3

PARTE I……………………………………………………………………………………………………………… 4

DEUS EXISTE? DEUS DÁ-SE A CONHECER AO HOMEM………………………………………….. 4

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………… 4

Revelação Geral – Se existe, que se pode fazer dela? E é possível construir uma teologia, um conhecimento de Deus a partir da natureza?……………………………………………………………………………….. 6

Revelação pela Natureza…………………………………………………………………………………. 6

Revelação pela natureza Humana……………………………………………………………………… 8

Revelação pela História da Humanidade……………………………………………………………… 9

Revelação Especial – Como podemos conhecer a Deus pessoalmente?………………. 10

Meios da Revelação Especial…………………………………………………………………………… 11

Autoridade e Inspiração das Escrituras………………………………………………………………. 13

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 15

PARTE II…………………………………………………………………………………………………………… 16

HAVERÁ LUGAR PARA O CRISTIANISMO NA ACTUALIDADE? A VERDADE NUMA CULTURA RELATIVISTA    16

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………. 16

Na cultura pós-moderna não há verdades absolutas!………………………………………… 17

Os cristãos não têm bases para crer em verdades absolutas!…………………………….. 19

O Cristianismo é igual às outras religiões!……………………………………………………….. 20

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 23

PARTE III………………………………………………………………………………………………………….. 25

QUEM CRIOU O QUÊ? O MUNDO QUE FOI CRIADO SERÁ O QUE NÓS CONHECEMOS? EVOLUÇÃO SOCIAL E NÃO RELACIONAL……………………………………………………………………………………………………. 25

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………. 25

A inteligência humana…………………………………………………………………………………… 25

Quem criou?…………………………………………………………………………………………………. 27

Macro e Micro evolução………………………………………………………………………………… 28

Teísmo evolucionista……………………………………………………………………………………… 30

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 32

PARTE IV…………………………………………………………………………………………………………. 33

QUEM É DEUS? A REVELAÇÃO PLENA DE DEUS NA PESSOA DE JESUS CRISTO…….. 33

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………. 33

Quem é Deus e como podemos conhece-lo?…………………………………………………….. 33

O Jesus de Nazaré da História…………………………………………………………………………. 34

Evidências da morte e ressurreição de Cristo…………………………………………………… 36

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 39

PARTE V………………………………………………………………………………………………………….. 40

NA PERSPECTIVA DA EXISTÊNCIA DE UM DEUS, COMO DEVE O HOMEM VIVER PERANTE ELE? O NOVO NASCIMENTO E O NOVO PADRÃO MORAL……………………………………………………….. 40

Considerações Preliminares……………………………………………………………………………. 40

A Experiência Cristã………………………………………………………………………………………. 40

O começo da experiência Cristã é marcado pelo Novo Nascimento.……………………….. 41

O bem e o mal………………………………………………………………………………………………. 44

A fonte do problema do Mal – O Pecado // A consciência do Mal…………………………… 44

A ampliação do Problema – Natureza Pecaminosa // tendência ou inclinação para o Mal47

Considerações Finais……………………………………………………………………………………… 50

CONCLUSÃO……………………………………………………………………………………………………. 51

BIBLIOGRAFIA………………………………………………………………………………………………….. 53

 

 

Introdução

A Apologética é a defesa racional da fé cristã. O exercício desta área da teologia aplicada baseia-se em textos bíblicos, como por exemplo I Pedro 3.15b – “estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós”- e Judas 3b – “tive por necessidade escrever-vos e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”.

O nosso propósito neste trabalho é abordar alguns dos temas essenciais da Apologética: a existência de Deus, a existência de verdades absolutas, o criacionismo, a revelação de Deus através de Jesus e a moralidade cristã. Não os tratamos em toda a sua amplitude, claro está. Pelo contrário,  a nossa abordagem introdutória e, consequentemente, mais geral, pretende sensibilizar os leitores para a importância desta área do saber. Por um lado, ela é uma ciência, e como tal deve ser estudada e aprendida. Por outro, é uma arte, e por isso exige dedicação.

A lógica que subjaz a este trabalho é a de responder a algumas das objeções que por norma são apresentadas para desacreditar o Cristianismo. Veremos que, em muitos casos, elas são aceites sem uma análise crítica. Tal é lamentável, pois muitas dessas objeções carecem de fundamentos, e outras demonstram que quem as apresenta desconhece o Cristianismo.

Cientes disto, procuramos responder, com mansidão e temor, aos que sinceramente levantam objeções à fé cristã.

 

 

PARTE I

DEUS EXISTE? DEUS DÁ-SE A CONHECER AO HOMEM

Eliezer Correia

 

 Considerações Preliminares

Revelação – Se Deus é real, como se dá a conhecer ao Homem?

            A teologia, na sua tentativa de conhecer a Deus e de torna-lo conhecido, parte do princípio de que o conhecimento a respeito do Supremo Ser já tenha sido revelado. Esta revelação é o ponto de partida para todas as afirmações e pronunciamentos teológicos. O que não foi revelado, não se pode saber[1].

O termo “revelação” tem como significado básico a exposição do que era até então desconhecido. De forma aberta, aplica-se a qualquer modo pelo qual Deus se comunica ou comunica algo sobre Si. No sentido mais restrito, é a auto-revelação de Deus a criaturas para o benefício delas, especialmente no que diz respeito à sua transformação redentora[2]. Embora a revelação ocorra em todas as áreas da vida, o termo acha-se especialmente associado à religião. As questões da fé centralizam-se no fato de que Deus fez-se conhecido aos seres humanos. O cristianismo é a religião baseada na revelação que Deus fez de si mesmo[3].

A Bíblia emprega vários termos em grego e hebraico para expressar o conceito da revelação. O verbo hebraico gãlãh significa revelar por meio do ato de descobrir ou de arrancar alguma coisa que cobre[4]. Quase sempre é usado de forma a tratar a revelação que Deus faz de si às pessoas: “Certamente, o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Am 3.7). A palavra grega apokalupsis (revelação) está associada a esta ideia: tornar conhecido o Evangelho. Paulo afirmou que não recebeu o Evangelho mediante instrução humana, mas “pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.12)[5].

As escrituras dizem: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1). O poeta Davi em seu poema revela que o próprio Deus que cria, também revela-se por intermédio da sua criação[6]. Davi ficava maravilhado e absorto, reconhecendo que a glória de Deus é vista na criação. Podemos também nas Escrituras encontrar outro texto: “A ira de Deus se revela do céu contra toda a impiedade e perversão dos homens que detém a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesta entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1.18-20). Neste texto percebemos que o eterno poder de Deus e a sua própria divindade estão estampadas na criação desde que há mundo. Sendo os seres humanos finitos, e Deus infinito, não podemos conhecer a Deus, a menos que ele se manifeste aos humanos de tal forma que estes possam conhecê-lo e ter comunhão com ele[7]. Na revelação de Deus à humanidade há duas classificações básicas de revelação. Por um lado a revelação geral, é Deus que se comunica a todas as pessoas de todos os tempos e de todos os lugares. Pelo outro lado temos a revelação especial, que abrange comunicações particulares e manifestações, a que hoje só existe acesso pela consulta a certos escritos sagrados.

            Partindo do pressuposto que Deus é transcendente e o homem é limitado, é impossível conhecer Deus, sem que Ele se revele. Se Deus não se relevasse, por causa de sua natureza infinita e majestosa jamais poderíamos ter conhecimento dele. Ainda assim, a revelação divina é uma verdade evidente por si mesma e dispensa qualquer tipo de comprovação. Trata-se de um conceito confirmado pela experiência e coerente com a razão e lógica humana. Para que o homem viesse assim a entender essa revelação, Deus concedeu-lhe um conhecimento: 1) que está impresso na sua própria constituição natural, como também 2) o conhecimento que vem através das obras da criação e da condução divina da história, e ainda 3) o conhecimento derivado da revelação especial, as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento.

            Olson adverte que isto não se trata de algo exclusivamente pessoal, pois se assim fosse seria impossível saber algo objetivo a respeito de Deus. A revelação pressupõe uma ato interpretado de Deus que tem como propósito principal comunicar a doutrina correta aos homens, para que pensem e saibam o que é certo sobre Deus[8].

 

Revelação Geral – Se existe, que se pode fazer dela? E é possível construir uma teologia, um conhecimento de Deus a partir da natureza?

A revelação geral refere-se à Auto manifestação de Deus por meio da natureza (Sl 19.1-6; Rm 1.18), da história (At 17.26-27) e da personalidade do homem (Rm 2.14-15), ao contrário da sua revelação pelas Escrituras. Em cada caso, Deus revelou algo especifico sobre si mesmo e sobre a relação que mantém com a sua criação[9]. Este conhecimento é geral em dois aspetos: sua disponibilidade universal (é acessível a todas as pessoas em todos os tempos) e o conteúdo da mensagem (é menos particularizado e detalhado que o da revelação especial)[10]. É preciso levantar alguns problemas no que diz respeito à genuinidade da revelação.

 

Revelação pela Natureza

            Deus também se revela através da natureza e do Universo. A criação, com a sua infinita variedade, beleza e ordem, reflete um Deus infinitamente sábio e poderoso. A lua e as estrelas incontáveis, nos céus, são obra dos dedos do Senhor; seu nome é majestoso em toda a terra que por Ele foi criada (Sl 8). Na natureza, os atributos invisíveis, a eternidade, a divindade, o poder, a sabedoria e a glória de Deus são revelados (Sl 29.4; Rm 1.22)[11].

            Os propagandistas do novo ateísmo dizem que o avanço científico e o progresso irão aniquilar a possibilidade na crença de um Deus, mas os fatos desmentem essas afirmações. No ano de 1998 ocorreu um debate entre William Lane Craig e o então ateu Anthony Flew. O filósofo Craig desenvolveu a seguinte linha de argumentação[12]:

 

            Premissa maior: Tudo o que começa a existir tem uma causa

            Premissa menor: O universo começou a existir

            Conclusão: Portanto, o universo tem uma causa

 

            Esta premissa menor é tão importante ou mais importante que a premissa maior, ela constitui um argumento filosófico plausível, para estabelecer como premissa para a investigação científica. Tudo o que tem um inicio, tem uma causa, logo qual a causa do universo e mundo em que existimos. Após este debate, Flew veio a abandonar o ateísmo, não sabemos se veio a tornar-se um cristão devoto, mas sabemos que antes da sua morte assumiu a existência de um Deus criador que sustém o universo[13].

            Na comunidade científica é cada vez mais notório a percepção para um universo que veio a existir e ser dotado de uma sintonia fina para que vida fosse possível.

            Diversos estudos científicos recentes dão destaque ao significado de algumas constantes cosmológicas fundamentais, cujos valores, se modificados ainda que ligeiramente, teriam implicações gravíssimas para o surgimento da existência humana. A existência da vida baseada no carbono depende de um delicado equilíbrio de forças físicas e cosmológicas, bem como de determinados parâmetros. Se estas quantidades fossem ligeiramente alteradas, a vida humana jamais teria sido possível.

            O terceiro capítulo de Eclesiastes consiste em uma longa meditação sobre nosso lugar no tempo. Ao criar a humanidade, Deus colocou “no coração humano até o sentido do tempo” ou “a percepção em sua mente de passado e futuro” (Ec 3.11). Em outras traduções é traduzido por “colocou a eternidade no coração do homem”, temos o sentido da brevidade da vida humana, bem como a intuição profunda de que a realidade é mais do que uma breve fatia de tempo e de espaço que nos foi concedida. A nossa existência efêmera neste mundo indica a possibilidade de algo maior e melhor além dele. Esta ideia de eternidade e de desejo de viver para todo o sempre foi implantado pelo próprio Deus no coração do homem[14]. O desejo de eternidade é tanto em nossa sociedade, que desenvolvemos diversos mecanismos de modo a nos eternizarmos. Nos tempos monárquicos, todos os reis queriam ter uma pintura sua, de modo a não serem esquecidos pelo tempo, mais tarde vieram as máquinas fotográficas, e hoje é tudo “praticamente” eterno. O desejo de eternidade nos nossos dias fomenta o desenvolvimento de todo um mercado de cosmética e operações para reduzir os indícios de envelhecimento, todos queremos parecer jovens e viçosos. Fomos criados para a eternidade, Deus concebeu-nos para um relacionamento eterno e duradouro, uma verdadeira pista para aqueles que desejam e querem mais da vida.

            Tudo o que nos rodeia mostra como Deus está presente e dá-se a conhecer a partir daquilo que está à nossa volta e que ele concebeu, Paulo no discurso aos atenienses no Areópago (At 17), apela aquilo que já lhes fora descoberto mediante a revelação geral – Deus é Criador e soberano sobre a sua criação. Ele é auto-suficiente, a origem de toda a vida e de tudo o mais que a raça humana necessite. Paulo, de modo bem relevante, explica a razão da auto revelação divina na natureza. Deus fez assim “para que buscassem ao Senhor, se, porventura tateando, o pudessem achar” (At 17.27), este é o alvo da revelação geral[15].

            Romanos 1.8-21 tem sido chamado do clássico trecho da revelação de Deus na natureza. A revelação geral através da natureza é universalmente outorgada e universalmente recebida, assim as qualidades invisíveis de Deus “tanto seu eterno poder como a sua divindade” tornam-se visíveis. Contudo, a fala de Deus na natureza não deve ser confundida com a noção de um cosmo falante. A Bíblia nos ensina “Ouça a Deus” e não “Escute a natureza”. Infelizmente sempre quem está longe de Deus, tenta conjeturar novas ideologias, para assim fazer calar uma revelação palpitante a respeito de Deus.

 

Revelação pela natureza Humana

            O segundo meio da revelação geral é a suprema criação terrena de Deus, ou seja o próprio homem[16]. A humanidade foi criada à imagem de Deus (Gn 1.26-27), mas a Queda levou ao rompimento na comunhão entre Deus e o homem. Não obstante, o pecado não conseguiu extinguir de todo a imagem divina nos seres humanos. Às vezes, a revelação geral de Deus é vista na estrutura física e na capacidade mental dos homens. É porém, em suas qualidades morais e espirituais que se percebe melhor o caráter de Deus[17]. Os humanos fazem julgamentos morais, ou seja, julgamentos sobre o que é certo ou errado. Isso envolve mais do que nossa preferência pessoal – gostar ou não gostar – e mais do que mero utilitarismo. É uma capacidade que revela que temos um padrão de norma e conduta, intrinsecamente temos leis gravadas no nosso coração. Valores de justiça e injustiça não são variáveis em todo o nosso mundo e diferentes culturas, ninguém gosta de estar na fila da caixa do supermercado para pagar e ser ultrapassado por um usurpador. Todo o ser humano vai sentir que foi lesado moralmente e pessoalmente[18], até um ateu se sentiria injustiçado. É evidente que o argumento da moral pode ser usado de maneira eficaz para reforçar a afirmação básica de que a fé cristã explica as coisas, ampliando as estratégias referidas anteriormente[19]. Mas ainda assim, talvez a abordagem ateísta tenha algo mais a apresentar, pode o ateísmo defender a ideia de verdades morais? O que podemos esperar de uma sociedade moral, onde não existe um identidade que define os comportamentos e as ações humanas?

            A revelação geral também é encontrada na natureza religiosa da raça humana. Em todas as culturas, tempos e lugares, os homens vêm crendo na existência de uma realidade superior de si mesmos, e até em algo superior à raça humana como um todo. A natureza exata da crença e as práticas até podem variar, mas a tendência para a adoração de algo que seja metafísico ou até físico do nosso mundo, trás à evidência uma percepção interna da deidade, a qual, embora talvez desfigurada e distorcida, ainda está presente e ativa na experiência humana[20].

             

Revelação pela História da Humanidade

            Na história, o amor, a sabedoria e a justiça de Deus são revelados (At 14.17)[21]. Deus se revelou através de sua direção providencial na história da humanidade. Ele atua na sua criação, supervisionando-a e dirigindo-a. Guia os assuntos da humanidade em direção ao cumprimento de seus propósitos, e em favor do seu povo[22]. Um exemplo muito citado de revelação de Deus na história é a preservação do povo de Israel. Essa pequena nação vem sobrevivendo ao longo de séculos, em ambientes basicamente hostis, muitas vezes em face de severa oposição[23]. O povo judeu no tempo de Davi, deleitava-se em recitar os poderosos “atos de Deus” no decurso de sua história (Sl 136). Ele é o Deus que estabelece e derruba os reis (Dn 2.21)[24].

            O estudioso da história encontra traços da atuação divina nas interações que se verificam entre as diversas nações, povos e tribos. A história tem o carácter teológico, a totalidade dela leva os sinais da atividade divina. Toda a história desdobra-se sob o propósito soberano de Deus; Ele a controla, orienta e age pessoalmente nela.

 

            Mediante uma compreensão que atinge todos os homens, individualmente cada pessoa pode claramente perceber a existência, o poder e a justiça de Deus. Entretanto, nenhuma delas louva e serve a Deus por causa do pecado que reina no coração humano. Tal como podemos observar existe um “terreno comum” que é partilhado por crentes e não crentes, todos têm em parte conhecimento de Deus. Este conhecimento, deve ser utilizado como ponte para um diálogo que leva os cristãos a partilharem a sua fé. Esta revelação transversal a todos não é suficiente para salvar porque não revela o evangelho. Mas é suficiente para condenar justamente todos os homens. É verdade que a revelação é perceptível a todos, mas por causa do pecado, que deturpa a nossa visão e entendimento, o ser humano sempre faz uma interpretação errada da revelação geral[25]. Assim a insuficiência da revelação geral, carece de uma outra forma de revelação de Deus, a revelação especial que colmata as lacunas da revelação geral.

 

Revelação Especial – Como podemos conhecer a Deus pessoalmente?

O facto que a revelação geral, não apresenta um plano divino da redenção, leva à situação de carência de uma teologia revelada mediante uma revelação especial de Deus[26]. Normas, mandamentos e proibições morais foram estabelecidas a Adão, pela revelação especial, e não geral. Mesmo antes da Queda, a revelação especial é primariamente entendida em termos de “propósito redentor”. A revelação especial é o complemento completo aquilo no qual Deus se apresenta na revelação geral, mas também é mais específico naquilo que deve ser precedido por um encontro e conhecimento de Deus. Originalmente a revelação especial pode ter sido dada oralmente ou de alguma outra maneira, mas foi mais tarde escrita e agora é encontrada apenas na palavra escrita de Deus, a Bíblia[27][28]. A Bíblia é a única fonte da revelação de Deus como Redentor, bem como de seu plano de salvação, as Escrituras são normativas.

O objetivo da revelação especial está no campo do relacionamento, este objetivo não é apenas aumentar o conhecimento superficial, mas antes ser cirúrgico no que trata ao homem se religar com Deus[29]. Por exemplo a Bíblia, não trata nada sobre a aparência de Jesus, suas características ou interesses, este conhecimento é desnecessário.

É comum pensar-se que a revelação especial é um fenómeno posterior à queda, e que foi exigido pelo pecado humano. Mas a verdade é que não podemos conhecer a qualidade do relacionamento entre Deus e a humanidade antes da queda. Adão e Eva tinham uma consciência límpida diante de Deus quando se encontravam com Ele, estavam constantemente apercebidos dele em toda a parte e tinham a compreensão da sua obra criativa em toda a criação, na sua revelação geral. Além deste facto, as instruções dadas aos homens (Gn 1.28) acerca da posição e da atividade deles na criação insinuam uma comunicação especial do Criador e da criatura, o que apresenta antes da queda a existência de uma revelação especial.

Com a entrada do pecado no mundo, a necessidade de uma revelação especial ficou mais intensa, pois a presença direta de Deus havia-se perdido. Além disso agora era necessário falar de assuntos que antes não eram de interesse, tratar os problemas do pecado, da culpa e da depravação; era preciso providenciar meios de expiação, de redenção e de reconciliação[30]. Agora também o homem não estava tão disponível para ouvir, nem atento para a revelação geral. A revelação especial tratou tanto o conhecimento humano como o relacionamento com Deus.

Normalmente defende-se que a revelação geral é inferior à revelação especial, tanto na clareza do tratamento como na amplitude dos assuntos considerados. A revelação geral exige a revelação específica, contudo, a revelação específica por conseguinte exige a revelação geral. Sem a revelação geral, não teríamos os conceitos a respeito de Deus que nos permitem conhecer e compreender o Deus da revelação específica. A relação entre elas é idêntica à que Immanuel Kant descobriu entre a categoria do entendimento e da percepção dos sentidos: “Pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas”.

 

Meios da Revelação Especial

            Pessoal[31] – O meio mais eficaz e completo da revelação é a encarnação. A vida e ministério de Jesus eram uma revelação especial de Deus[32]. Através do Cristo revelado nas Escrituras inspiradas, o homem chega a conhecer a Deus pessoalmente num relacionamento de redenção. Começando com o conhecimento de Deus (sua existência, perfeição e exigências morais), o homem adquire conhecimentos práticos do próprio Deus por intermédio da comunhão pessoal[33]. Os milagres, sua morte e a ressurreição são a história da redenção em sua forma mais condensada e concentrada. Pedro, após a pesca maravilhosa, caiu de joelhos e disse: “Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador” (Lc 5.8). Estas pessoas encontraram em Jesus uma revelação do Pai.

            Compreensível – Na revelação especial das Escrituras, Deus se revelou na forma antropomórfica, ou seja, segundo as características da linguagem humana daqueles tempos, e usou categorias humanas de pensamento e de ação[34]. Quando a Bíblia usa palavras como “amar”, “dar”, obedecer, ou confiar, significam elas para nós a mesma coisa que, basicamente, significam para Deus, embora seja o seu amor muito maior do que o nosso.

            Históricos – A Bíblia apresenta toda uma série de acontecimentos divinos pelos quais Deus se faz conhecer. Da perspetiva do povo de Israel, um evento histórico e marcante foi Abraão, foi deste homem que Deus levantou um povo para por intermédio dele se apresentar aos povos da sua geração. O livramento do Egito, a conquista da terra prometida, o primeiro Rei Saul, e tantos outros momentos históricos marcantes apresentam e revelam a natureza de Deus[35].

            Transmitida – A Bíblia ao manter de forma perene a revelação especial de Deus, é tanto o registro de Deus e dos seus caminhos, quanto a intérprete dela própria. A revelação escrita é confinada aos 66 livros do Antigo e do Novo Testamento. A totalidade de sua revelação que ele quis preservar, encontra-se armazenada na sua totalidade, na Bíblia. A revelação divina não é um vislumbre fugaz, mas um desvendamento permanente. Ele nos convida a voltarmos repetidas vezes às Escrituras para aí, aprendermos a respeito dEle. A Bíblia não somente é a revelação divina, como também a torna conhecida hoje. A Palavra divina é lavrada de forma permanente nas Escrituras, que são o veículo durável da revelação especial, e fornecem o arcabouço conceptual no qual nos encontramos, com Deus. O que Deus disse aos outros no passado, diz-nos agora através das Escrituras[36].

 

Autoridade e Inspiração das Escrituras

            Será a Bíblia a Palavra de Deus? Este é uma pergunta essencial e merece a nossa reflexão e opinião formada, de modo a não termos duvida quanto à credibilidade da revelação especial. Muitos cristãos pensam que têm de provar a veracidade da Bíblia, antes de terem de testemunhar. Contudo, esta não é a questão essencial na salvação, mas sim ter uma relação pessoal com o salvador, não a sua opinião acerca da Bíblia. Não é o facto de achar a Bíblia que é inspirada que leva a uma convicção para a salvação, mas sim obter a salvação dá-me a garantia da inspiração.

            Tudo o que precisamos fazer para confrontar qualquer pessoa com as afirmações de Cristo, é mostrar-lhes que os Evangelhos são documentos históricos fidedignos.

            Em 2ª Timóteo 3.16 lemos: “Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”. O termo “inspirada” não corresponde a uma inspiração artística, mas no termo original da língua vernácula, corresponde a ter sido “respirada por Deus”, refere-se não aos escritores, mas aquilo que foi escrito. Os escritores bíblicos não eram meras máquinas, nem entravam numa espécie de transe e nem receberam o que deviam escrever por um sussurro aos seus ouvidos. Cada escritor tinha o seu estilo próprio, Deus guiou e controlou de tal modo os homens que eles escreveram, exatamente o que Ele queria que escrevessem[37].

            Jesus durante o seu ministério utilizou diversas vezes os textos Escritos do Antigo Testamento, muitas das profecias e promessas de Deus aos homens vieram-se cumprir através de Jesus[38], Ele certa vez disse: “Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5.18).

            É legítimo procurar a origem e o caráter de uma obra escrita por meio do exame de seu conteúdo. A Bíblia fornece um testemunho interno convincente de sua autoridade incomparável como a mensagem da parte de Deus. A Bíblia revela unidade e consistência espantosas quanto ao seu conteúdo, levando-se em conta a grande diversidade havida na sua compreensão. Foi escrita durante quinze séculos por cerca de quarenta autores de classes sociais diferentes (políticos, agricultores, soldados, médicos), o lugar onde também escreveram foi muito diversificado (palácio, prisão, exílio)[39]. Os gêneros literários variam entre a alegoria, biografia e correspondência pessoal, alguns dos autores escreveram história, outros leis e poesia. Escreveram em continentes diferentes, em cerca de três idiomas e trataram centenas de temas. Ainda assim, os seus escritos combinam-se entre si para formar um todo consistente que desdobra, de modo belo a história de um relacionamento entre Deus e a humanidade.

            As profecias que falam de eventos futuros permeiam as Escrituras. A exatidão dessas predições, conforme o demonstra seus respetivos cumprimentos é realmente notável. Dezenas de profecias dizem respeito a Israel e às nações sem seu redor. Por exemplo: Jerusalém e o seu templo seriam reedificados (Is 44.28), e Judá embora tenha sido salva de cair nas mãos dos assírios, cairia nas mãos de Babilónia (Is 39.6; Jr 25.9-12)[40].

            A Bíblia também recebe um apoio externo que atesta a sua autenticidade. Há mais dum século, os críticos questionavam muitas afirmações históricas do Velho Testamento. Contudo, ainda durante todo o século passado, fizeram-se grandes descobertas que têm confirmado o registo Bíblico[41]. A vida e época de Abraão constituem um bom exemplo da ajuda que a arqueologia pode dar. Muitos críticos do séc. XIX, levantavam dúvidas quanto à historicidade de Abraão, pensavam que era um nómada muito ignorante e primitivo. Achavam que era impossível que soubesse ler ou fazer contas matemáticas e conhecer a Lei. Acreditavam que a sua mudança de Ur para Harã, fora simplesmente uma migração nómada. Sir Leonard Wooley nas suas escavações em Ur dos caldeus, demonstrou que estas ideias eram totalmente erradas. Descobriram que a cidade de Ur, na época de Abraão era altamente desenvolvida. Arqueológos desenterraram residências de tipo avançado e muitas placas de barro equivalentes a livros. Algumas delas eram recibos de transações comerciais, outras eram hinos de templos, e outras eram tabelas de matemática com fórmulas para o cálculo da raiz quadrada e cúbica. Nos armazéns dos templos encontraram-se recibos de inúmeros objetos, ovelhas, queijo, lã, minério de cobre, óleo, listas de salários de operárias, tudo muito prático e relativamente moderno.

            Tornou-se assim claro que Abraão era produto de uma cultura brilhante e altamente desenvolvida e que deve ter significado muito para ele, ter partido em fé para terras desconhecidas.

            A contribuição da arqueologia para o estudo da Bíblia tem servido para trazer mais compreensão e credibilidade à narrativa bíblica[42].

            Através de todos estes exemplos que apresentamos, a veracidade Bíblica é atestada e apontada. Desta forma a revelação específica ganha força no seu conteúdo e na sua importância, este é o meio pelo qual Deus se apresenta, não só o seu plano de salvação mas também a forma como devemos andar e viver. É verdade que Deus pode comunicar pessoalmente de outras formas, mas também é verdade que todas as outras formas têm de passar pelo crivo Bíblico.

 

Considerações Finais

 

A Bíblia é essencial para conhecer Deus e toda a sua revelação redentora para o homem, é essencial para o pensamento teológico cristão. É o único Livro infalível que temos, fala com autoridade inerrante sobre todo o assunto que aborda, quer espiritual, como científico, celestial ou terreno. Mas a Bíblia não é a única revelação de Deus há humanidade, Deus falou no mundo como na Palavra. A nossa tarefa corresponde a conjugar ambos e formar a cosmovisão que inclua a interpretação teocêntrica da ciência, da história e da arte. No entanto, sem a revelação de Deus (tanto geral como especifica) como base, essa tarefa é tão impossível quanto mover o mundo sem um ponto de apoio[43].

Na teologia, a interação entre disciplinas bíblicas e outras disciplinas deve ser sempre uma via dupla. Nenhuma delas faz monólogo para as outras, todas participam no diálogo contínuo. Apesar de a Bíblia ser infalível em tudo o que aborda, ela não fala sobre todos os assuntos. E ainda que a Bíblia seja infalível, nossas interpretações dela não são. Logo as pessoas que estudam a Bíblia devem atentar bem para outras disciplinas e dialogar com elas, para que uma visão sistemática completa e correta possa ser construída.

 

PARTE II

HAVERÁ LUGAR PARA O CRISTIANISMO NA ACTUALIDADE? A VERDADE NUMA CULTURA RELATIVISTA

Filipe Fontes

 

Considerações Preliminares

“Perguntou-lhe (a Jesus) Pilatos: Que é a verdade?”[44]. Esta pergunta, feita originalmente num contexto próprio, reflete uma postura intemporal, adotada por várias pessoas que duvidam da existência de verdades absolutas. Apesar da sua intemporalidade, devemos notar que esta é a postura mais presente na pós-modernidade. Por essa razão, a pergunta a partir do qual este capítulo é escrito baseia-se nesta postura.

Em oposição à postura pós-moderna está a postura do Cristianismo. De facto, “o teísmo cristão considera a verdade como absoluta”[45]. Cientes disto, o primeiro tópico visa combater a ideia de que “Na cultura pós-moderna não há verdades absolutas!” De seguida, voltamos o foco para a relação entre o Cristianismo e as verdades absolutas. Pretendemos mostrar a falsidade da proposição “Os cristãos não têm bases para crer em verdades absolutas!” Para finalizar, diferenciamos o Cristianismo de outras religiões, refutando a afirmação infundada de que “O Cristianismo é igual às outras religiões!”

Note-se que não queremos ser mal entendidos. O nosso objetivo final não é ter razão, nem revelar bons argumentos, mas sim mostrar a Verdade. Queremos partilhá-la, tal como a partilharam connosco. Em consonância com D.T. Niles, de Ceilão, afirmamos que “Evangelização é simplesmente um pedinte a dizer a outro pedinte onde pode encontrar alimento”[46].

Nesta atitude, esperamos que este capítulo seja proveitoso na jornada de pessoas que procuram verdades absolutas pelas quais possam nortear a sua vida. Sabemos queO Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se[47]. Esperamos que este capítulo seja lido com disponibilidade intelectual e emocional, estando cientes de que “Não é Deus quem marginaliza as pessoas; são as pessoas que marginalizam Deus”[48].

 

Na cultura pós-moderna não há verdades absolutas!

A grande maioria dos pensadores contemporâneos é unânime em afirmar que vivemos numa cultura pós-moderna. No entanto, antes de analisarmos o pós-modernismo, importa refletirmos sobre o modernismo e sobre o pré-modernismo, por duas razões. Em primeiro lugar, porque mesmo quando classificamos uma cultura não podemos ser absolutos, julgando que essa classificação explica todos os fenómenos culturais. Pelo contrário, estamos cientes de que a cultura é complexa, e que, por essa razão, mesmo numa cultura pós-moderna verificam-se manifestações modernas e pré-modernas. Em segundo lugar, porque uma boa análise da atualidade requer a adoção de uma perspetiva histórica: “Só nos será possível compreender as tendências atuais do mundo do pensamento, se visualizarmos a situação segundo sua origem histórica e, ao mesmo tempo, atentarmos minuciosamente para o desenvolvimento das formas de pensamento filosófico”[49].

Assim sendo, importa caracterizarmos o modernismo e o pré-modernismo. Os valores deste são: “tradição, família, respeito à moral, à autoridade”[50]. No que modernismo concerne, podemos afirma que nele se verifica “a tendência humanística do pensamento religioso, cujo intuito é suplementar ou suplantar antigos credos e dogmas teológicos mediante uma nova erudição científica e filosófica (…) Dessa forma, a palavra é usada como o oposto de Fundamentalismo[51].

O pós-modernismo, por sua vez, é uma cultura que “rejeita a verdade, em favor da experiência”[52]. Esta breve definição leva-nos a perguntas importantes: como pode o Cristianismo, que advoga deter verdades absolutas, sobreviver numa cultura que nega o conceito de verdade absoluta? Mais: como pode o Cristianismo possuir a verdade, quando o pós-modernismo nega a possibilidade de a conhecer? Afinal, “o conceito de verdade acessível, conhecível, objetiva, é a antítese à epistemologia pós-moderna padrão”[53].

Sintetizando, podemos afirmar que o pós-modernismo traz novas questões ao Cristianismo. Numa cultura pré-moderna, a verdade conhece-se pela tradição, enquanto numa cultura moderna essa verdade é conhecida pelo uso da Razão. No entanto, o pós-modernismo nega a existência de verdades absolutas. Aliás, vai ainda mais longe pois numa cultura pós-moderna, mesmo que existam verdades, a possibilidade de as conhecer é negada.

Para responder a este aparente impasse, vejamos uma afirmação de Craig[54]: “Ninguém é pós-moderno quando o assunto é ler a bula de um remédio em contraste com a bula de um veneno de rato. Se você está com dor de cabeça, é melhor acreditar que textos têm significado objetivo! As pessoas não são relativistas quando se trata de questões de ciência, engenharia e tecnologia; mas são relativistas e pluralistas quando se trata de questões de religião e ética. Mas isso não é pós-modernismo; isso é modernismo! Isso vem do velho positivismo e verificacionismo, que defendiam que qualquer coisa que não se pode experimentar com os cinco sentidos é simplesmente uma questão de gosto e expressão emotiva pessoal. Vivemos num ambiente cultural que continua sendo profundamente modernista.”

Esta afirmação revela, em sintonia com o que já referimos anteriormente, que rotular a cultura atual de pós-modernista é demasiado simplista e redutor. É impossível alguém adotar uma postura pós-modernista em todas as esferas da sua vida, o que demonstra que se verificam manifestações pré-modernas e modernas na cultura atual. Por essa razão, não fazemos deste capítulo um debate epistemológico sobre a existência e cognoscibilidade de verdades absolutas. Quem as negar está a ser incoerente, pois ninguém baseia a sua vida no pressuposto de que estas verdades não existem.

Ao invés, a questão na qual nos devemos debruçar é: o Cristianismo realmente advoga a posse de verdades absolutas? A resposta a esta questão colocará o nosso raciocínio numa das duas opções: ou no âmbito de verdades relativas, o que fará esta reflexão enveredar pelas preferências pessoais, e não como pelo campo ético do certo e do errado; ou no âmbito de verdades absolutas, o que fará esta reflexão enveredar pela aceitação ou rejeição das mesmas, logo pelo certo e pelo errado. Como isto em mente, abordaremos a pergunta supracitada no tópico seguinte.

 

Os cristãos não têm bases para crer em verdades absolutas!

Jesus disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”[55]. Se os cristãos são seguidores de Jesus Cristo, e se Ele afirmou ser a verdade absoluta por excelência, decorre necessariamente que eles têm de advogar crer em verdades absolutas. Esta crença é uma necessidade lógica para que o Cristianismo seja coerente. Além disso, o livro sagrado desta religião – a Bíblia – apresenta-se como o transmissor das verdades divinas absolutas: “O facto de que a Bíblia reivindica o monopólio da verdade é evidente do começo ao fim das suas páginas”[56].

Alguém pode, claro está, argumentar que não acredita que Jesus Cristo é quem o Cristianismo afirma que é, e que não reconhece a Bíblia como um livro inspirado. No entanto, essa é uma posição redutora. Importa lembrar que “Por definição, a verdade é exclusiva (…) Negar a natureza exclusiva da verdade é fazer uma afirmação que reivindica a verdade”[57]. Desta forma, a proposição segundo a qual os cristãos não têm base para crer em verdades absolutas é uma verdade absoluta, razão pela qual não pode ser sustentada por aqueles que negam verdades absolutas. Se, por outro lado, não há a negação de verdades absolutas, então não se pode rejeitar trivialmente a pessoa de Jesus Cristo e a Bíblia como fontes epistemológicas de verdades absolutas. Afinal, a noção de posse destas verdades são tão fortes nas suas palavras que o exame das mesmas deve ser sóbrio. No entanto, não queremos enveredar por esta linha de argumentação. O que pretendemos realçar é que rejeitar o Cristianismo mediante o argumento que conclui que as bases desta religião não se definem como possuidores de verdades absolutas é uma atitude de alguém desinformado.

Pelo contrário, tanto Jesus Cristo como a Bíblia são a base mediante a qual os cristãos creem em verdades absolutas. Neste sentido, estes têm, por necessidade lógica, de viver e defender a sua fé como verdade absoluta. Afinal, “as diferentes e conflituantes perspetivas sobre o significado da vida não podem estar todas simultaneamente corretas. A procura pela verdade inevitavelmente exclui outras opções”[58]. Uma vez mais, a própria natureza da verdade confirma esta perspetiva: “A verdade, pela sua própria natureza, é intolerante em relação ao erro”[59]. Desta forma, a afirmação que deu nome a este tópico está totalmente afastada da realidade do Cristianismo. Afinal, o oposto é que está em consonância com as bases do Cristianismo: só é cristão quem crê em verdades absolutas.

Na nossa perspetiva, o que dificulta a compreensão desta proposição é o facto de ao pluralismo religioso estar associada uma visão normativa. Em sentido denotativo, ele descreve a “situação caracterizada pela existência de diversas opções religiosas e perspetivas sobre religião”[60]. Efetivamente, esta é uma descrição correta da realidade contemporânea. No entanto, o sentido denotativo tem sido substituído pelo normativo: “para alguns, o termo pluralismo é tomado em sentido normativo, que implica a aceitação dessa pluralidade e a recusa de julgar uma religião mais verdadeira ou, de alguma forma, superior a outras religiões”[61]. Esta substituição tem moldado a cultura pós-moderna, levando as pessoas a defenderem que o Cristianismo não tem bases para sustentar a posse de verdades absolutas. Todavia, esta posição é que, na verdade, não tem bases, pois apoia-se numa visão normativa de um termo que é, por definição, descritivo. Por essa razão, essa posição deve ser abandonada, pois não tem bases nas quais se pode sustentar.

Podemos finalizar este tópico reforçando a sua ideia central: os cristãos têm bases para crer em verdades absolutas. Notámos que o pluralismo religioso não põe em causa este facto. Não obstante, podemos perguntar: e o que dizer das outras religiões? Não são as verdades do Cristianismo semelhantes às de outras religiões? Não possuem, todas elas, verdades absolutas? Com estas perguntas em mente, abordaremos de seguida as diferenças entre o Cristianismo em as outras religiões.

 

O Cristianismo é igual às outras religiões!

O Cristianismo não rejeita todas as proposições das outras religiões por exclusividade. Pelo contrário, “Nós (os cristãos) podemos cooperar com outra (religião) em alguns assuntos morais e sociais importantes, mesmo não partilhando as mesmas perspetivas teológicas”[62]. Porém, esta concordância pontual não abre espaço para o ecumenismo, pois a cooperação em causa é pontual e situacional, e não geral e abrangente. O Cristianismo alega que as outras religiões estão certas em alguns princípios que postulam, mas também que elas estão erradas enquanto sistemas de verdades. Isto é, o seu corpo teológico não é verdadeiro em si, razão pela qual o Cristianismo se define como uma religião exclusiva, o que nega desde logo a sua igualdade em relação às demais.

Estamos cientes de que alguns afirmarão: não aceito uma religião que seja exclusiva. Ora, esta afirmação é algo apressada, pois uma análise atenta demonstra que todas as religiões são exclusivas: “é importante perceber que o Cristianismo não é a única religião que reivindica exclusividade (da verdade). Por exemplo, os muçulmanos reivindicam, radicalmente, exclusividade – não apenas teologicamente, mas também linguisticamente”[63]. De facto, a comparação entre as religiões mostra que o Cristianismo é daquelas cuja exclusividade em nada prejudica a sociedade, pois ela não se manifesta em atos violentos[64].

Aliás, podemos ir ainda mais longe, notando que o próprio conceito de religião implica exclusividade. Se esta é “um sistema qualquer de ideias, de fé e de culto”[65], então aderir a um determinado sistema implica necessariamente rejeitar os demais. Aceitar uma concepção das relações entre o mundo natural e o metafísico inevitavelmente conduz à negação de todas as outras concepções. Uma evidência de que todas as religiões são exclusivas é a Fé Baha’I: “Mesmo o Bahaismo, que afirma ser um abraço cósmico de todas as religiões, acaba excluindo os exclusivistas”[66].

Fica assim demonstrado que a exclusividade é um facto inerente ao conceito de religião. Não obstante, seria limitado aplicar este facto às religiões. Pelo contrário, ele abrange todas as concepções religiões, o que inclui o agnosticismo e o ateísmo. Este é uma posição “filosófica que nega a realidade do Deus do TEÍSMO ou de outros seres divinos”[67]. Por sua vez, o agnosticismo “tem uma conotação até mais embaraçosa (do que o ateísmo). O alpha é a negativa, e ginosko é “saber”, “conhecer”, do grego. Agnóstico é aquele que não sabe, não conhece”[68]. Ao contrário do que é socialmente apresentado, estas duas concepções são também exclusivas. O ateísmo exclui aqueles que creem na existência de seres divinos, enquanto o agnosticismo é exclusivista em relação aos que afirmam conhecer. Pelo contrário, esta concepção religiosa prefere uma condição de ignorância.

À luz do supracitado, concluímos que todas as pessoas têm de, ou juntar-se a uma religião exclusiva, ou adotar uma concepção religiosa exclusiva. Isto é, todos somos exclusivos, de uma forma ou de outra. A própria indiferença também o é, pois está exclui aqueles que creem que uma escolha religiosa é importante.

Então, em que aspetos é que o Cristianismo se diferencia das outras religiões e concepções religiosas? Devido aos objetivos do presente capítulo, não nos podemos debruçar sobre estas concepções. Por isso, exploramos somente as diferenças em relação a outras religiões. O pressuposto que importa termos em mente é que “Crer nalguma coisa não a torna verdadeira, como também não crer na verdade não faz com que ela deixe de ser verdade. Factos são factos, independentemente das atitudes das atitudes das pessoas para com eles”[69]. A verdade deriva dos factos, e não das crenças. Isto é importante, pois as diferenças que apresentamos de seguida são factos. Estes comprovam a verdade, à qual devemos responder com fé.

Comecemos por ver as diferenças entre o Cristianismo e as outras religiões em relação aos seus ensinos. Nesta área, destacamos o facto de que “o Cristianismo é o único que oferece certeza da salvação”[70]. É verdade que o conceito de salvação difere de religião para religião. No entanto, todas elas têm um conceito de bem futuro, que corresponde à salvação cristã. No entanto, não queremos focar os conceitos de salvação, mas sim o conhecimento que se pode ter sobre o alcance desse bem futuro. Neste âmbito, as religiões não apresentam certezas futuras aos seus crentes. Estes vivem, no presente, num misto de esperança e medo, pois não sabem se alcançaram o bem futuro que a sua religião promete. Ao invés, o Cristianismo apresenta inequivocamente o modo como alguém pode ser salvo, de forma que é possível qualquer pessoa saber, à luz da Bíblia, qual vai ser o seu futuro.

Um outro ensino que estabelece uma grande diferença entre o Cristianismo e as outras religiões é que aquela apresenta um Deus que quer ajudar a Humanidade a chegar a Ele. Ao invés, estas ensinam aos seus seguidores formas e métodos para conseguir chegar a Deus. De facto, “Cristo oferece-nos o Seu poder para vivermos como devemos (…) Qualquer outro sistema religioso, todavia, é essencialmente uma proposição de «Faça Você mesmo»”[71].

Para terminar a abordagem aos ensinos, queremos ainda notar que o livro sagrado em que se baseiam os ensinos cristãos – a Bíblia – também difere, em termos de confiabilidade histórica, dos demais apresentados por outras religiões, pois “o Novo Testamento é, escancaradamente, o documento mais bem atestado da antiguidade”[72].

Seria um erro pensar que o Cristianismo só difere das outras religiões nos ensinos. Pelo contrário, podemos também notar dissemelhanças se analisarmos os fundadores das diferentes religiões. Ao fazê-lo, vemos que o fundador do Cristianismo é o único que se apresenta como Deus: “Dos grandes líderes religiosos deste mundo, só Cristo reivindica a divindade”[73]. Mas Jesus Cristo não se destaca somente pelo que disse. Aliás, cada pessoa pode afirmar o que deseja. No entanto, a questão é perceber até que ponto às ações corroboram a ousada reivindicação da divindade. Nesta perspetiva, Jesus continua a diferenciar-se dos outros fundadores de religiões, pois “Todo homem pode fazer o que Maomé fez, pois ele não fez milagre nem foi predito. Nenhum homem pode fazer o que Jesus Cristo fez”[74].

 

Considerações Finais

Apesar dos vários argumentos apresentamos neste capítulo, a nossa convicção é que o leitor não os aceitará se os analisar apenas intelectualmente. Afinal, a função dos argumentos apresentados é simplesmente conduzir à fé. Eles são o caminho, e não fim.

Esta perspetiva não desvaloriza a relevância dos argumentos. Pelo contrário, eles são importantes, e por isso nos dedicámos a eles. Acreditamos que “é importante uma apresentação do evangelho acompanhada por uma argumentação clara – não como um substituto racional para a fé, mas como uma base para a fé; não como um substituto para a obra do Espírito, mas como um meio pelo qual a verdade objetiva da Palavra de Deus se pode tornar mais clara, a fim de que os homens a considerem como o veículo do Espírito, que convence o mundo através da sua mensagem”[75].

No entanto, relembramos que o nosso apelo introdutório foi para que a disponibilidade do leitor seja, não só intelectual, mas também emocional. Segundo Pascal, “É o coração que sente Deus e não a razão”[76]. Estamos certos de que os leitores disponíveis intelectual e emocionalmente perceberão a relevância e necessidade do Cristianismo na atualidade.

O facto de a cosmovisão atual ser diametralmente oposta à cristã concorrerá para que tal ocorra. A luz produzida por uma lanterna é mais notada quando estamos num lugar mais escuro. De igual forma, a verdade absoluta do Cristianismo brilha intensamente no ambiente relativista atual: “É contra o pano de fundo desta cultura que chama o mau de “bem” e o bem de “mal” – onde o pecado é celebrado e a justiça ridicularizada – que o Cristo da Verdade brilha de modo mais resplandecente”[77].

Queremos terminar como começámos: apelando a que reflita no que leu, não só com a mente, mas também com o coração. As dúvidas fazem, muitas vezes, parte do trajeto daqueles que sinceramente procuram saber se Deus existe; se Jesus Cristo é Deus; se o Cristianismo possui a verdade absoluta; se o Cristianismo se distingue das outras religiões. Se esse é o seu caso, temos boas notícias: aqueles que buscam sinceramente a Deus encontrá-lo-ão. A esse respeito, ouça as palavras de Jesus: “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus”[78].

 

 

PARTE III

QUEM CRIOU O QUÊ? O MUNDO QUE FOI CRIADO SERÁ O QUE NÓS CONHECEMOS? EVOLUÇÃO SOCIAL E NÃO RELACIONAL

Mauro Nascimento

 

Considerações Preliminares

Muitas perguntas surgem no âmbito do ser humano e da criação do universo. Quem somos? Como é possível o corpo humano funcionar tão perfeitamente? Quem criou o que vemos? O que é a macro e a micro evolução? Devo aceitar a macro evolução? O que é o Teísmo evolucionista?

Vou, através destas perguntas e algumas outras tentar responder, não impondo a visão cristã mas, procurando demonstrar científica e pela lógica do raciocínio humano, que tudo o que a Bíblia diz é verdade. Se a teoria do Big Bang, por exemplo, fosse verdade como se explicaria a sustentabilidade do universo, sua rotação que provoca as mudanças de clima, as luas que mudam as marés? Explodiu e ficou logo sustentado, e funcionando do nada? Se a ciência provou que o cérebro humano tem vindo a regredir ao longo do tempo, como pode ser que tenhamos vindo do macaco, e tornamo-nos inteligentes?   

 

A inteligência humana

Todas as evidências mostram que não há nenhuma razão científica para aceitar alguma forma de modelo macro evolutivo. Isto nos leva ao inteligente e alternativo macro evolutivo. Isto leva-nos ao inteligente e alternativo modelo de projeto das origens.

“’Quem sou eu?’ A penetrante pergunta da autoidentificação precisa ser respondida individualmente. Nossa resposta, quer a percebamos quer não, tem uma enorme influência sobre o nosso modo de pensar e agir, nosso ponto de vista e nosso modo de viver. Nunca foi tão importante como hoje em dia para o cristão entender o que a Bíblia diz sobre o homem, para assim ter uma âncora no mar das especulações humanas.”[79]

A primeira pergunta a ser respondida é a da origem do homem. De onde veio? “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1), diz a Bíblia, e “também disse Deus. Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (vs. 26 e 27).

 As Escrituras ensinam firmemente que nem o universo nem o próprio homem são produtos de um acaso cego. O homem, especialmente, é o resultado da deliberação cuidadosa e proposital da parte dos membros da Divindade triuna.

Adão, o primeiro homem, foi criado à imagem de Deus. Adão é um nome próprio, o termo hebraico do qual se origina também tem o significado de “humanidade”. No Velho Testamento foi frequentemente usado nesse sentido. Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só” e para completá-lo fez uma mulher para ser ajudadora de Adão (Gn 2.18,22). “Pela fé entendemos que foi formado o universo pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb 11.3). Noutras palavras, Deus criou a matéria ex nihilo (do nada). Então, Ele deu forma à matéria, criando os objetos inanimados, as plantas e também animais e o homem.

Desde Sócrates, que no quarto século já dizia: “Conhece-te a ti mesmo”, inúmeros outros luminares da cultura humana têm-se debruçado sobre o problema da sua própria existência, e não poucos se têm enganado e trazido enormes prejuízos à humanidade. Para Platão, o homem é um animal que anda sobre dois pés e não tem asas, conceito também defendido por Voltaire em Cândido, onde usa a expressão “bípede sem asas”. Para Aristóteles, somos apenas um animal sociável. Para Sófocles, o homem nada mais é do que um sopro e uma sombra. Para Homero, entre as coisas que respiram e andam na terra nenhuma é mais lamentável do que o homem. Para Horácio, somos pó e sombras. Para Edward Young, a menor parte do nada. Para Molieri, não passamos de um animal vicioso. Para Otávio Augusto, somos uma ponte caída entre as margens do abismo. Para Dante Alighieri, o ser humano é um animal ridículo. E para o psicólogo Thorndike, somos uma simples máquina de reflexos. Todos esses conceitos, lamentavelmente, tem uma boa dose de verdade, pois refletem, com algumas exceções, o rosário de decepções, fracassos e frustrações da trajetória humana através dos séculos.

A Bíblia, referindo-se às outras obras da criação, afirma: “E viu Deus que isso era bom”. Mas Adão pecou, e, por causa do pecado, a criação ficou sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus (Gn 1.25; Rm 8.20,21). Nas palavras de John Stott, “o homem pode comportar-se como Deus, em cuja imagem foi feito, e ao mesmo tempo como os animais referente aos quais está chamado a ser distinto. Em um momento pode elevar-se às alturas do heroísmo e no momento seguinte submergir nas profundidades do egoísmo e da crueldade. É o inventor dos templos e universidades, hospitais e orfanatos, monumentos e museus, mas é também o inventor de bombas de hidrogénio, câmaras de tortura e campos de concentração. Que estranho paradoxo!”[80]

 

Quem criou?

Claro que o racionalista acha que o conceito de uma criação especial é insuportavelmente bisonho, e até “incrível”, ou seja, algo em que não é possível crer. Tal veredicto, porém, só tem base se a pessoa negar categoricamente a existência de um Deus onipotente. Muitas religiões antigas atribuem qualidades sobrenaturais às forças e aos corpos naturais. Algumas, por exemplo, atribuem a criação da terra ao sol, frequentemente chamado de Deus Supremo. De modo geral, as religiões antigas viam o sol como fonte sobrenatural e mantenedora da vida. A Bíblia também não contradiz as evidências científicas. Ela também rejeita a ideia de um deus-sol sobrenatural. A Bíblia reconhece a lei, a ordem e a interdependência no universo. Mas vai além da ciência e declara a fonte da lei, da ordem e da interdependência no universo.

Podemos buscar na Bíblia uma descrição clara do Criador do universo, e a maneira pela qual Ele criou todas as coisas. A Escritura não é especialmente um texto científico, mas, antes, a revelação de Deus à humanidade. Cremos que ela não erra em termos científicos. Além disso, a criação do universo é um dos poderosos atos de Deus e assim é mencionada em diversas passagens das Escrituras. O apóstolo Paulo descreveu o Criador como “o Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens. Nem tampouco é servido por mãos de homens, como necessitando de alguma coisa, porque ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração, e todas as coisas” (At 17.24-25). É assim que o Criador se descreve: “Eu sou o Senhor que faço todas as coisas, que estendo os céus, e espraio a terra por mim mesmo” (Is 44.24).

“Gênesis 1 rejeita a ideia de que o universo é eterno. Os céus e a terra (o universo) não são eternos. Eles “começaram a ser”, ou foram criados. Se alguém examinar um requesito da ciência (“a matéria não pode ser criada nem destruída”), talvez imagine falsamente que o universo é eterno.”[81]      

 

Macro e Micro evolução

“A macroevolução é uma teoria ou modelo das origens que sustenta a ideia de que todas as variedades de formas de vida provêm de uma simples célula ou ‘ancestral comum’”.[82]

A concepção macro evolucionista mais comummente sustentada é conhecida como gradualismo. Seguindo Darwin, dois famosos cientistas que sustentam essa posição, que é o entendimento clássico do darwinismo, são Stephen Hawking e Richard Dawkins. O gradualismo afirma que são necessários períodos muito longos de tempo para se completar o que é conhecido por formas de vida transicionais ou intermediárias. A macroevolução defende uma mutação de extrema complexidade, levando-a a ponto de provar que o homem veio do macaco por exemplo. Demonstram esta evolução através de uma tabela evolutiva conhecida como; árvore filogenética, onde o ancestral comum é o começo da espécie que evolui para dezenas de outras espécies de extrema diferença. Até os próprios macro evolucionistas vieram recentemente ridicularizar esta teoria, pois a árvore filogenética não é nada mais que galhos filhos (microevolução) e folhas.

As evidências observáveis confirmam que há limitações naturais à mudança genética que dá suporte à microevolução, mas não há nenhuma evidência (científica, paleontológica nem nenhuma outra) que dê suporte à declaração de que a microevolução possa ser extrapolada para o nível da macroevolução.[83] A paleontologia confirma que o aparecimento abrupto das primeiras formas de vida – os cinco mil tipos genéticos da vida marinha e anima – se deveu a uma extraordinariamente curta e rápida explosão global da vida. O macro evolucionista Stephen Gould Jay admite que: A maioria das espécies não exibe nenhuma mudança direcional durante o período delas na terra. Mostram-se no registo fóssil muito parecidas com o que eram quando desapareceram; a alteração morfológica é geralmente limitada e sem direção. Em qualquer área local, uma espécie não aparece gradualmente por transformação constante de seus ancestrais, aparece uma vez e “plenamente formada”.

Todas as evidências mostram que não há nenhuma razão científica por que devamos aceitar alguma forma de modelo macro evolutivo.

Gostaria ainda de analisar a posição teísta da macroevolução. Do ponto de vista comprobatório, não há diferença entre a macroevolução ateísta ou naturalista e a macroevolução teísta. Os teístas macros evolucionistas creem que Deus é a causa por detrás da vida e finalmente a raça humana. Essa teoria inclui Deus e foi desenvolvida por teístas que acreditavam que a macroevolução tinha algum mérito académico. Os teístas macros evolucionistas em geral se esforçam e se dedicam a alguns dos problemas mais graves associados a macroevolução inserindo o trabalho de Deus onde a evidência está gravemente ausente. Os teístas macro evolucionistas enfrentam a mesma dificuldade que os macro evolucionistas ateus ou naturalistas, isto é, a falta de evidências paleontológicas.

Adaptação, ou microevolução, refere-se a mudanças que ocorrem quando uma espécie passa por uma transformação e prospera no seu meio ambiente. Macroevolução é uma teoria que sustenta que a microevolução acontece em maior escala, fazendo com que uma espécie se transforme em um tipo inteiramente novo. A comunidade científica reconhece os dois conceitos; no entanto, cada um deles é marcado por diferenças sobre que provas podem ser observadas na prática, os materiais essenciais exigidos para que isso aconteça, o resultado final das mutações que levam a mudanças aleatórias e a liberdade com a qual isso pode ser ensinado nas escolas.[84]  

A grande diferença entre micro e a macro evolução é que, a primeira pode ser observada enquanto a segunda é apenas teórica.

Os cosmólogos e cosmógonos da escola evolucionista reconhecem o seguinte: “O posicionamento simplista sugere que o universo veio repentinamente à existência e encontrou um sistema completo de leis físicas esperando para serem obedecidas.”[85] 

Para justificar a sua tese, o criacionista utiliza a lei científica de causa-e-efeito. Esta lei que é universalmente aceita e seguida em todos os campos da ciência, relaciona todo o fenômeno como efeito de uma causa. Nenhum efeito é quantitativamente “maior”, nem qualitativamente “superior” à sua causa. O efeito pode ser inferior à sua causa, mas nunca superior. Usando um raciocínio causal, o criacionista teísta nota que:

A Causa Primeira do Espaço limitado precisa ser infinita.

A Causa Primeira do Tempo Infinito precisa ser eterna.

A Causa Primeira da Energia Ilimitada precisa ser onipotente.

A Causa Primeira das Inter-relações universais precisa ser onipresente.

A Causa Primeira da Complexidade Infinita precisa ser omnisciente.

A Causa Primeira dos Valores Morais precisa ser Moral.

A Causa primeira dos Valores Espirituais precisa ser espiritual.

A Causa primeira da Responsabilidade Humana precisa ser volitiva.

A Causa Primeira da Integridade Humana precisa ser veraz.

A Causa Primeira do Amor Humano precisa ser amorosa.

A Causa Primeira da vida precisa ser viva.[86]

 

Concluímos, com base na lei da causa-e-efeito, que a Causa Primeira de todas as coisas precisa ser um Ser infinito, eterno, onipotente, onipresente, onisciente, moral, espiritual, volitivo, veraz, amoroso e vivo! Será que estes adjetivos descrevem a Matéria?

 

Teísmo evolucionista

A evolução Teísta ou Religiosa constitui um verdadeiro problema para alguns. O raciocínio de tais pessoas é este: “já que tantos creem na evolução, para que fazer tanto barulho a esse respeito?” Elas julgam que podemos aceitar alguns princípios básicos da evolução e continuar, ao mesmo tempo, acreditando na existência de Deus e da criação; pensam que talvez Deus fez simplesmente uso da evolução como meio de colocar o homem na terra. Não somente alguns membros da Igreja pensam assim, como também alguns pregadores do Evangelho sente-se inclinado a transigir, acreditando que as evidências são esmagadoras.

Em primeiro lugar vem a criação instantânea. Deus ordena e as coisas são criadas no mesmo instante – este é o ponto de vista mantido pelos defensores da Bíblia, baseados nos relatos de Gênesis 1 e 2; uma segunda alternativa sobre a origem do mundo é crer na evolução ateísta que defenda um mundo que surgiu do nada há milhões de anos atrás; ou melhor surgiu de uma explosão cósmica que deu origem à vida. Esta teoria acredita na evolução progressiva de milhões de anos.

Outra das teorias que surgiria seria, adaptações do evolucionismo que para se adaptar às opiniões religiosas, chegaram mesmo a conceber a existência de homens e mulheres anteriores a Adão – os pré-adamistas – e a sugerir que Gênesis só se referia aos antepassados dos hebreus.[87]

Diziam também que Adão teria beneficiado de uma intervenção divina para emergir desta «pré-humanidade».

Um dos modismos teológicos que mais crescem em seminários, publicações, igrejas e púlpitos em nossos dias atende pelo nome de Teísmo Aberto.

“O Teísmo Aberto é um falso ensino que está ganhando seguidores no Brasil e no mundo de forma sutil. Isso porque se apresenta de tal forma e com argumentos sentimentais que enredam o cristão simples com facilidade. Não são poucos os que já aderiram ao Teísmo Aberto e nem notaram ainda. Alguns nem sabem aquilo em que acreditam chama-se Teísmo Aberto.”[88]

O Teísmo Aberto surgiu em meio ao debate entre duas correntes teológicas: o arminianismo e o calvinismo. Na ânsia de defender o arminianismo, alguns teólogos, líderes e pensadores evangélicos descambaram para essa teologia liberal, que não honra a Deus nem a Bíblia, e têm influenciado muitos com seu discurso. “O Teólogo liberal canadiano Clark Pinnock é o nome mais expressivo do movimento teológico denominado Openness of God (sinceridade – ou abertura – de Deus) ou Open Theism (Teísmo Aberto). No Brasil, esse pensamento é denominado Teologia da Abertura de Deus ou Teologia Relacional. Trata-se de uma vertente da Teologia Liberal. Anos atrás, Clark Pinnock era conhecido como teólogo conservador de linha calvinista, até que teve sua visão mudada, aderindo ao arminianismo. Até ai tudo bem. Alguém pode ser arminiano ou calvinista e ser coerente biblicamente, apesar das diferenças entre duas correntes na interpretação de determinadas verdades bíblicas. Do arminianismo, Pinnock partiu para o pluralismo religioso, ou seja a crença de que budistas, islâmicos e religiosos de outras vertentes podem ser salvos sem aceitar Cristo. Em seguida abraçou o universalismo, a doutrina de que no final todas as pessoas do mundo em todas as épocas serão salvas. Mais recentemente, apoiou a “bênção de Toronto”, movimento neopentecostal canadiano que teve repercussão internacional no início dos anos 90. Aquele em que as pessoas caíam no chão emitindo sons de animais e rebolam no chão tomado por uma tal “unção do riso”.

 Teísmo Aberto é uma invenção teológica subcristã que declara que o maior objetivo de Deus é entrar num relacionamento recíproco com o homem, onde o criador é afetado pelas escolhas dos homens; e Deus não conhece o futuro plenamente, nem as escolhas livres que suas criaturas ainda farão. Ou seja, nega a Onipresença, a Onisciência e a Onipotência de Deus. Seus defensores apresentam outra definição onde afirmam pretender uma reavaliação do conceito da onisciência de Deus, na qual se afirma que Deus não conhece o futuro completamente, e pode mudar de ideia conforme as circunstâncias. Afirmam também, alguns defensores, que o termo “Todo-poderoso” não pode ser extraído do contexto bíblico pois, segundo eles, a tradução original da palavra do qual é traduzida tal expressão se havia perdido ao longo dos séculos.

 

Considerações Finais 

Deus é tudo em tudo, o que significa que sem Ele nada subsiste. Parece não haver maneira possível de se evitar a conclusão de que, se afinal de contas a Bíblia e o Cristianismo são verdadeiros, as eras geológicas precisam ser completamente rejeitadas. “O grande complexo de movimentos ateístas gerados pelo poderoso e penetrante sistema de uniformitarismo evolucionista só pode voltar atrás se o seu alicerce for destruído.”[89] Claro que isto requer o estabelecimento do modelo de criação especial, com base bíblica e científica, com o verdadeiro alicerce para o conhecimento e a prática em todos os campos. Espero que este capítulo tenha proporcionado as informações necessárias para que deixa suas dúvidas de lado.

 

 

PARTE IV

QUEM É DEUS? A REVELAÇÃO PLENA DE DEUS NA PESSOA DE JESUS CRISTO

André Simões

 

 

Considerações Preliminares

Afinal quem é Deus? Ele existe mesmo? Como é que posso conhece-lo e ter a certeza de que Ele existe?

Neste capítulo procuraremos responder a estas questões, sendo que, a razão base, pela qual sabemos que Deus existe, é porque Ele se revelou de forma plena através da pessoa de Jesus Cristo. Jesus Cristo é o Deus que se tornou homem[90]. Este é o assunto principal que abordamos nas seguintes linhas.

 

Quem é Deus e como podemos conhecê-lo?

Quando nos referimos a Deus, claramente pensamos em alguém que é o criador e sustentador de todo o universo cósmico. Algumas das formas de conhecermos Deus é através da Sua revelação escrita – a Bíblia Sagrada; e através da Sua encarnação – Jesus Cristo. Nesta capítulo é feita uma abordagem apologética da revelação de Deus na pessoa de Jesus, uma vez que a revelação de Deus através da Palavra já foi desenvolvida anteriormente no capítulo I.

Mas quem é Deus? Deus é um Deus pessoal e infinito que criou os céus, a terra, e o homem à Sua própria imagem.[91] Deus contou à humanidade sobre quem Ele é, como Ele é e qual o Seu plano para o planeta Terra. Na Bíblia podemos descobrir quem Ele é efetivamente.

Como podemos conhecê-lo? A única forma de o conhecermos realmente, é através do Seu Filho, Jesus Cristo. “Se alguém quer saber quem Deus é e como Ele é, basta olhar para Jesus Cristo”[92]. Jesus afirmou: “Quem me vê a mim vê o Pai (Deus).”[93] Podemos conhecer Deus através da pessoa de Jesus Cristo. Nos próximos tópicos deste capítulo abordamos a pessoa de Jesus Cristo.

 

O Jesus de Nazaré da História    

Alguns dos documentos históricos mais importantes e de referência que relatam a vida de Jesus de Nazaré, são os evangelhos escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas como podemos confiar na veracidade destes escritos? Mateus e João foram testemunhas oculares da vida de Jesus, ao passo que Marcos terá escrito o evangelho segundo os relatos do apóstolo Pedro, e Lucas terá feito uma pesquisa junto das testemunhas oculares.[94] Além da Bíblia, existem outras fontes bem documentadas que confirmam a pessoa histórica de Jesus. O historiador judeu, Flávio Josefo (nascido em 37 d.C.) fala acerca de Jesus.[95] Muitos outros homens e documentos escritos da história universal, dão testemunho da historicidade de Jesus. Devemos ter como certo que este Jesus que a Bíblia fala não é um mito. É impossível não acreditar na historicidade da pessoa de Jesus. Como diz Augusto Cury “A personalidade de Cristo é ‘inconstrutível’ pela imaginação humana.”[96] Não seria possível inventar toda a pessoa e obra de Jesus Cristo, porque está para além do imaginável do ser humano.

Este Jesus histórico que nasceu em Belém, é o fundador do cristianismo. As ideias e crenças do cristianismo, têm a sua origem naquilo que Jesus disse e fez. Paul Little afirma que tudo o que diz respeito ao Cristianismo é determinado pela pessoa e pela obra de Jesus Cristo.[97] “O Cristianismo é Cristo do princípio ao fim.”[98] Se retirarmos Cristo do Cristianismo, é impossível este subsistir. Mas quem é este homem e o que é que ele fez de tão especial?

Josh McDowell no seu livro “Evidência que exige um veredicto”, usa a seguinte expressão acerca de Jesus: “Se Jesus não era Deus, então merecia o prêmio de melhor ator”[99]. Josh apresenta a pessoa de Jesus Cristo, e fala do Trilema, isto é, existem três hipóteses diante da Sua afirmação que era Deus: 1) Ou era um mentiroso; 2) um lunático; 3) ou então estava a falar a verdade e é realmente o Senhor.[100] Mas analisemos estas hipóteses mais pormenorizadamente.

Se Jesus era um mentiroso consciente, quando Ele ensinava as pessoas a serem honestas, Ele próprio estava a ser hipócrita porque não praticava aquilo que ensinava. Se Ele mentia ao dizer que era Deus, então era um demônio porque levava as pessoas a confiarem Nele. Jesus também seria um tolo, pois a Sua afirmação, foi o que O levou à morte[101]. É impossível que Jesus tenha sido um mentiroso compulsivo diante da pureza e dignidade moral do Seu ensino, obras e estilo de vida.[102] Ninguém está disposto a morrer por defender uma mentira consciente, a não ser que seja louco. O homem só está disposto a morrer por aquilo que acredita ser verdadeiro.

Outra hipótese do Trilema, é que Jesus podia ser um lunático, alguém fora do seu perfeito juízo, um louco. Mas é difícil aceitar que Jesus era um lunático diante dos Seus ensinos teológicos. Em todos os relatos dos evangelhos, nunca vemos alguma atitude de fanatismo ou loucura por parte de Jesus. Não vemos alucinações em Jesus. Há uma clareza e limpeza de pensamento e raciocínio que refutam esta hipótese. O retrato que os evangelhos nos dão, é o de um Jesus que estava sempre seguro de si próprio. Quando foi provocado e perseguido, sempre demonstrou autocontrolo, tranquilidade e equilíbrio mental.[103]

Por último, temos a alternativa mais óbvia e sábia que é aceitar que Jesus ao afirmar ser Deus, estava a dizer a verdade e isso faz Dele Senhor e Deus. Se formos honestos e procurarmos descortinar todas as evidências, aceitaremos como certo esta hipótese, porque é impossível que alguém que viveu, ensinou e morreu como Jesus, tenha sido um mentiroso ou lunático.

Se considerarmos que Jesus é uma personagem histórica e que as Suas alegações são verdadeiras, e é de facto Senhor e Deus, podemos então passar ao próximo passo: considerar como verdadeiro tudo aquilo que Ele disse e fez.

Já referimos anteriormente que Jesus afirmou ser o Filho de Deus. São inúmeras as passagens Bíblicas que registam este facto incontornável. Como Filho de Deus, Jesus nunca pecou, nunca houve na Sua vida qualquer falha moral. Através de vários milagres e sinais realizados por Ele, que temos conhecimento através dos evangelhos, vemos a Sua autoridade e o Seu poder sobre as forças naturais e sobre as enfermidades daqueles a quem curou. Somente o Filho de Deus teria poder para operar estes sinais, e Jesus foi, e é esse Deus feito homem.[104]

O maior milagre que atesta a divindade de Jesus é a Sua ressurreição de entre os mortos. No próximo tópico procuramos provar a morte e a ressurreição de Cristo.

 

Evidências da morte e ressurreição de Cristo

Cristo profetizou a própria morte e ressurreição ao terceiro dia[105]. Mas existem evidências históricas que comprovam estes factos?

A ressurreição de Cristo é a base genuína para a autenticidade do cristianismo.[106] O apóstolo Paulo declarou que se Cristo não ressuscitou, então o cristianismo não vale nada.[107] Podemos dizer que o cristianismo sem a ressurreição de Cristo, não permanece de pé. Uma coisa não existe sem a outra. É a ressurreição que torna evidente que Jesus era o Filho de Deus.[108] Portanto, se conseguirmos provar que Jesus não ressuscitou dos mortos, então anulamos o cristianismo. Mas, se pelo contrário, houver evidências dessa ressurreição, então o evangelho tem toda a veracidade.

A ressurreição é em si um milagre, a intervenção do sobrenatural. Se uma pessoa rejeita a ação do sobrenatural na esfera humana, então fica difícil levar alguém a crer neste veredicto. Mas precisamos fazer um exame das evidências.

A ressurreição de Cristo não pode ser provada cientificamente, porque a ciência produz um conhecimento a partir da observação contínua de testes de hipóteses e experiências.[109] Isto significa que o método científico é limitado e ineficaz. A ciência não consegue provar os factos relacionados com a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, porque estes foram um ato único.

Analisar algo que possa ter acontecido há mais de dois mil anos atrás, só pode ser feito tendo em consideração os argumentos históricos. É preciso então fazer uma pesquisa histórica.

Os relatos que temos acerca da ressurreição de Jesus, foram escritos pelos Seus seguidores. Estes sabiam distinguir os factos, de fábulas e mitos. Vários textos[110] provam que eles não eram ingênuos nem ignorantes. No primeiro século eles podiam não ter muitos conhecimentos de ciência, mas sabiam que os cegos, coxos e paralíticos, normalmente ficariam assim até morrer. Por essa razão ficaram admirados com as curas e milagres que Jesus fazia.[111] Os discípulos creram em milagres porque viram eles acontecerem.

O evangelho de João[112] relata a dúvida que dominava o coração do discípulo Tomé. Alguém que tinha andado com Jesus, que tinha visto Ele a operar milagres, estava incrédulo acerca da Sua ressurreição. Tomé apenas acreditaria se tocasse nas feridas de Jesus. Assim, a sua dúvida foi desfeita quando Jesus se revelou a ele.[113]

Precisamos examinar a ressurreição de Cristo sob o critério histórico porque esta é uma questão histórica. Como já vimos no exemplo anterior, a fé dos discípulos estava baseada em experiências de factos reais. Outra afirmação é aquela que Lucas escreve: “Aos quais também, depois de haver padecido, se apresentou vivo, com muitas provas infalíveis, aparecendo-lhes por espaço de quarenta dias, e lhes falando das coisas concernentes ao reino de Deus.”[114] Lucas era um médico e historiador que procurou evidências junto das testemunhas oculares. Lucas usa a expressão “muitas provas infalíveis” dando ênfase à questão da veracidade dos seus registos. Assim o Novo Testamento constitui a principal fonte de informação histórica da ressurreição, e as descobertas arqueológicas confirmaram a exatidão destes manuscritos.[115] Vários estudos provam que estes documentos do Novo Testamento foram escritos antes do ano 64 d.C., conferindo grande autenticidade aos seus relatos, isto porque o tempo que ocorreu entre os eventos da vida de Jesus e o registo deles, não foi o suficiente para afetar a sua exatidão. A segunda razão para confiar na integridade do Novo Testamento é que foi escrito por testemunhas que tiveram uma grande proximidade não apenas temporal, mas também geográfica dos eventos, são relatos de testemunhas oculares e não boatos que passaram de boca em boca. É mais provável que Jesus ressuscitou, do que todas as testemunhas oculares tenham cometido o mesmo erro de identificar o Cristo ressuscitado.

Outro dado a considerar é a igreja cristã ter surgido e o facto dela se referir constantemente à ressurreição de Jesus como base do Seu ensino, pregação, vida e morte. Também os primeiros cristãos, antes judeus, alteraram o dia de culto, Sabbath judaico, para o domingo, o dia em que Jesus ressuscitou, a fim de celebrarem esse acontecimento.[116]

Ao pensar na ressurreição de Cristo devemos nos focar e tentar explicar como é que o túmulo apareceu vazio no domingo de manhã. Existem várias teorias que podemos considerar, como os discípulos terem roubado o corpo de Jesus, ou o corpo ter sido escondido pelas autoridades, etc. O espanto dos discípulos ao verem o túmulo vazio prende-se com o facto dos panos de sepultamento não estarem desarrumados, mas estavam exatamente como haviam sido enrolados em volta do corpo de Jesus, apenas estavam murchos.[117] Isso só poderia acontecer de forma sobrenatural. O túmulo de Jesus também estava selado com o selo do imperador romano, e ninguém teria a ousadia de quebrar esse selo. Tambe﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽sadia de quebrar esse selo. r romano, e ninguem  sido enrolados em volta do corpo de Jesus, apenas estavam murchos.”ém os guardas romanos dificilmente deixariam de guardar o túmulo de qualquer maneira, uma vez que isso significava negligência e por consequência a morte. Certamente que algo sobrenatural fez aqueles guardas fugirem.

Mas além do túmulo vazio temos as aparições de Jesus depois da ressurreição, que não foi a um grupo restrito. Paulo escreveu que mais de 500 pessoas viram Jesus ressuscitado e que a maior parte delas ainda estavam vivas.[118] Será que 500 pessoas podiam ter tido a mesma alucinação? Ou será que 500 pessoas teriam confundido a pessoa de Jesus Cristo com outra pessoa qualquer? Não me parece razoável considerar tais teorias, pois a probabilidade disso ter acontecido é muito menor do que Deus ter ressuscitado Jesus. Por outras palavras, é mais fácil crer na ressurreição.

 

Considerações Finais

A história comprova que Cristo não é um mito, Ele é histórico. Pelos relatos que existem, não apenas religiosos, mas também seculares da sua época, percebemos que Ele não era um homem qualquer, mas o Filho de Deus. Cristo é a revelação plena de Deus à humanidade.

Ao nos debruçarmos sobre as questões relacionadas com a Sua morte e ressurreição, não temos escolha a não ser realmente negar ou aceitar aquilo que Jesus oferece. É impossível ficar na dúvida ou céptico de alguma forma, em virtude de tantas provas irrefutáveis, mas é possível optar pela aceitação ou negação porque Deus não interfere no livre-arbítrio do homem. 

Olhar para a história, e ouvir o testemunho de vidas que foram transformadas ao aceitarem Cristo como o Filho de Deus, é um fenômeno que só é possível porque Ele é realmente Deus.

 

 

PARTE V

NA PERSPECTIVA DA EXISTÊNCIA DE UM DEUS, COMO DEVE O HOMEM VIVER PERANTE ELE? O NOVO NASCIMENTO E O NOVO PADRÃO MORAL

Nuno Ferreira

 

Considerações Preliminares

O que a Bíblia diz é que Cristo: sua vida, morte e ressurreição tem que ser central na nossa fé. Se acreditarmos apenas que ele existiu, viveu e morreu como homem, não ressuscitou como Filho de Deus, que venceu a morte então a nossa a fé não passa duma fraude porque nunca vamos chegar “à medida da estatura da plenitude de Cristo.” Se ele não está vivo, como vai ser formado em nós?

Não há maior questão do que esta – da sua resposta depende toda a vida dos homens, terrena e eterna.

Então a mensagem da ressurreição é central! Trata-se um apelo é formação espiritual. Ele vive em nós! Ele dá-se a conhecer através de nós! E para isso precisa de ser formado em nós! Rejeitando a verdade sobra a morte – o salário do pecado é a morte (não a aniquilação, mas uma vida sem a Vida).

 

 A Experiência Cristã 

A experiência cristã resume-se nisto: Crer em Jesus Cristo. Sendo que essa crença envolve total entrega e confiança à verdade que Jesus reivindicou no seu ministério. Vamos analisar esta realidade na base de dois textos bíblicos:

 

“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. E para onde eu vou vós conheceis o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto. Disse-lhe Felipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. Respondeu-lhe Jesus: Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheces, Felipe? Quem me viu a mim, viu o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” João 14.1-9.

Poucas horas antes de ser crucificado Jesus começa a preparar os seus discípulos para a dolorosa separação. Mas nenhum deles estava preparado e todos ficaram em choque com estas declarações.

Percebemos pelas palavras de Tomé, que havia um clima de tensão no ar. A falta de uma resposta ‘compreensível’ estava deixá-los ansiosos e confusos.

Mas no meio da dúvida, do medo e da indefinição de Tomé, Jesus assumiu-se como o caminho para chegar a Deus. E é na medida que caminhamos em Cristo e com Cristo que vamos nos tornando pessoas mais resolvidas no que diz respeito à fé, convictas e conscientes de quem é Deus!

A resposta dada a Filipe é outra confidência: “Quem me viu a mim. Viu o Pai”. O próprio Jesus assume-se como a revelação plena de Deus.

O que adiantaria saber que Deus existe senão fosse possível ter a certeza de quem Ele é, como é, com quem é parecido, de que modo somos ou não semelhantes a Ele?

“A missão de Jesus foi a de vir a um mundo que estava em completa discordância com Deus, a fim de demonstrar como é realmente o Pai, como Ele sempre foi e sempre será. O melhor meio de conhecer a Deus é conhecer a Jesus. A vida e a morte de Cristo apresentam o mais nítido retrato da natureza de Deus.”[119]

 

Portanto, Tomé poderia estar confiante na medida em que não parasse de caminhar! O destino: O Pai, estava garantido, porque tinha sido revelado em Jesus.

Isto leva-nos a concluir que quando as pessoas não têm fé, mas querem chegar até Deus, Jesus revela-se como o caminho a seguir!

 

O começo da experiência Cristã é marcado pelo Novo Nascimento.

 

“Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” João 3.1-3

Já vimos que é a caminhada que nos transforma porque é durante esse percurso que chegamos a Deus e somos moldados à imagem de Cristo. Mas essa experiência começa com um acontecimento que a Bíblia chama de Novo Nascimento.

Um conceito que foi introduzido a Nicodemos e revolucionou o entendimento dele acerca de Jesus.

Nicodemos era alguém importante entre a classe religiosa dos Fariseus. Era também alguém importante no Sinédrio (assembleia político-religiosa dos Judeus).[120]

Para os Judeus a forma correta de viver diante de Deus era através do cumprimento rigoroso dos rituais previstos na Lei. A fé deles estava colocada nesses rituais.

 

Os rituais estavam programados “para ensinar os israelitas os princípios da santidade divina, da pecaminosidade humana, da necessidade de arrependimento e da morte expiatória como resposta à transgressão humana.”[121] Os ensinamentos de Jesus acerca da Lei estão dentro deste alinhamento. (cf. Mateus 5.17-48) O foco era a obediência motivada por um desejo profundo de agradar a Deus. Mas o que era observado inicialmente com boas intenções acabou por se perverter. O papel da Lei no seio da comunidade foi invertido porque o orgulho acabou por corromper os seus corações. O cumprimento da Lei tornou-se uma obsessão com único fim de atingir a “santidade” por mérito próprio.

Com isto percebemos que uma lei perfeita sem expiação levaria o homem à neurose.

Portanto, se Jesus Cristo fosse apenas o Mestre e o Modelo no cumprimento da Lei, a nossa situação seria insuportável mas Ele é Salvador. O Novo Nascimento é estar aberto para compreender esta dimensão do ministério de Jesus. Nicodemos foi desafiado a deixar os velhos paradigmas da interpretação humana da Lei e basear a sua fé nesta verdade.

Quando Jesus fala com Nicodemos usa como estratégia a referência “de cima”. Nicodemos reconheceu que Jesus vinha da parte de Deus, do Altíssimo, e Jesus desafiou-o a ‘nascer de novo’ ou seja, ‘nascer de cima’. Jesus referia-se há mudança no interior do homem provocada por Deus – “ mudança que vem de cima”. Significa dar espaço a uma transformação espiritual que vai fazer a pessoa largar os velhos paradigmas e basear a sua fé na verdade.

 

No decorrer do diálogo, Jesus confrontou-o com a realidade de uma Fé PESSOAL. “Quem não nascer da água e do Espírito”… Não pode ver o reino de Deus, disse-lhe Jesus. No fundo, apelou a uma decisão que seria determinante para a sua vida! A fé já não corresponde a uma expectativa coletiva na mudança na esfera política (na qual finalmente o reino de Israel seria restaurado) mas corresponde a uma dimensão pessoal que exigia uma mudança interior. Parafraseando a mensagem de Jesus: “ o reino de Deus não começa quando os Romanos forem expulsos de Israel, mas quando tu expulsares o pecado do teu coração”!

Por isso o Novo Nascimento é uma evidência insubstituível na experiência cristã.

Nicodemos como um bom conhecedor das Escrituras sabia ao que é que Jesus se estava a referir: “Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias, e de todos os vossos ídolos, vos purificarei. Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis.” Ezequiel 36.25-27

 

Este texto relembra os homens que Deus não pode ser confinado a um sistema religioso que escraviza o homem à Lei. Sempre que o homem encara a verdade de Deus na perspetiva humana perde a liberdade e a alegria da comunhão com Deus. Por isso é que a religião tende a produzir pessoas frias, duras e intolerantes. Quando o evangelho de Jesus ensina primeiro a compaixão, depois aceitação e por último, mas mais importante, a verdade.

 

O bem e o mal

A discussão do bem vs mal é muito vasta nos temas que abrange. Vamos nos focar nos dois pontos apresentados:

A fonte do problema do Mal – O Pecado // A consciência do Mal

“Primeiro, como diz J. B. Phillips: O mal é inerente ao arriscado dom do livre arbítrio. Deus podia ter-nos feito máquinas, mas para isso ter-nos-ia privado da nossa preciosa liberdade de escolha e deixaríamos de ser humanos. O exercício da livre escolha da direção do mal, no que nós denominamos por ‘queda’ do homem é a razão básica do mal e sofrimento no mundo. É responsabilidade do homem, não de Deus. Ele podia acabar com o mal, mas se o fizesse destruir-nos-ia a todos. Vale a pena notar ‘que o ponto fulcral do verdadeiro Cristianismo não está em interferir com a capacidade humana de escolher, mas em produzir uma disposição voluntária para escolher o bem em vez de o mal.”[122]

A citação feita a J. B. Phillips leva-nos a constatar que a partir do momento em que o homem desobedece a Deus e se torna conhecedor do “bem e do mal” a sua condição espiritual muda. O relacionamento com Deus é prejudicado. A “Queda” do homem introduziu-o a uma luta interior entre o bem e o mal. O homem que desconhecia o pecado, agora tem que “lutar” contra ele.

Esta realidade não é reconhecida exclusivamente pelo cristianismo, considerando que decorreu em certo sentido do Judaísmo.

Mesmo antes de Israel existir como ‘povo escolhido’ de Deus já o homem tinha consciência do transcendente e já procurava por intermédio dos sacrifícios de animais uma relação com a divindade ou pelo menos buscava o favor de Deus em detrimento da ira divina sobre o pecado (tudo aquilo que desagrada a Deus). Pearlman afirma “Uma das crenças mais profunda e firmes da antiguidade era que a imolação de uma vítima afastaria a ira divina e asseguraria o favor de Deus.”[123]

É neste contexto cultural que mais tarde Deus vai projetar o modelo de adoração genuína e da integridade moral do homem – por intermédio da Lei.

Vemos que apesar da profunda alienação espiritual do homem, Deus não se conformou com o estado de separação que havia entre Ele e a Humanidade e estabeleceu uma Aliança (Adão, Noé, Abraão, Isaque e Jacob… Israel… Humanidade) com o propósito de se revelar e reconciliar o homem consigo. Os sacrifícios carimbavam este propósito.

Neste sentido a Bíblia revela que o ato de sacrificar estava totalmente imbuído da consciência de culpa e o animal representava o objeto da ira de Deus pelos pecados do ofertante. Por isso o ritual não era de maneira nenhuma desprovido de intenção, pelo contrário, era acompanhado de uma reflexão profunda sobre o pecado, que separa o homem de Deus. O sacrifício representava também a tentativa humana de chegar ao coração de Deus. Era a forma do homem ter comunhão com Deus.

 

Então, em linha com o que encontramos antes de Cristo com a lei e os sacrifícios propiciatórios, o sacrifício surge como o meio pelo qual Deus consciencializa o homem do seu pecado e da necessidade de EXPIAÇÃO.

Cada um dos cordeiros oferecidos antes de Cristo para EXPIAÇÃO do pecado do povo prefigurava a plenitude da Salvação que se consumou em Cristo. É Ele o nosso sacrifício expiatório.

As escrituras apresentam Jesus como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29). Esta abordagem à obra de Jesus na Cruz incide diretamente no conceito que já vimos em que o cordeiro era oferecido como objeto da ira divina por causa do pecado do povo. Desta forma, quando as escrituras dizem que Cristo foi feito pecado por nós (2 Coríntios 5.21), significa que através morte substitutiva de Cristo a ira de Deus em relação ao nosso pecado é desviada para Jesus (Romanos 5.8,9).

No livro de Isaías está escrito: Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos. (Isaías 53.10 ARA)

 

Ao focarmos somente na ira de Deus corremos o risco de interpretar erradamente a justiça divina. Não podemos esquecer que ao entregar o seu próprio filho, Deus estava-se a dar a si mesmo. Há maior prova de amor que esta? Se vemos na propiciação um pretexto para idealizar Deus como um ser irado à procura de vingança, perdemos a verdade do Sacrifício de Jesus.

Segundo John Stott “é o próprio Deus que, em ira santa, necessita ser propiciado, o próprio Deus que, em santo amor, resolveu fazer a propiciação, e o próprio Deus que, na pessoa do seu Filho, morreu pela propiciação dos nossos pecados. Assim, Deus tomou a iniciativa amorosa de apaziguar sua própria ira justa levando-a em seu próprio ser no seu próprio Filho ao tomar o nosso lugar e morrer por nós. Não há nenhuma grosseria aqui que evoque o nosso ridículo sentido de justiça, apenas a profundeza do santo amor que evoca a nossa adoração.”[124]

 

Portanto quando um ateu pergunta: “Se realmente existe um Deus teísta que é completamente bom e todo-poderoso, então por que ele permite a existência do mal?”

Primeiro ele está a cair em contradição e segundo ele não está a ir à raiz do problema.

Como podemos saber o que é o Mal se não soubemos o que é o Bem? E como poderemos saber o que é o Bem se não tivermos consciência de um padrão objetivo do Bem que esteja além da nossa própria concepção? Por outras palavras, a reclamação do ateu quanto à existência do mal não põe em causa a existência de Deus, pelo contrário, o ateu mesmo sem perceber parte do pressuposto que Deus existe, o que é uma contradição ideológica. A única coisa que a pergunta sugere é que o diabo existe, mas não pode provar que Deus não existe.[125]

 

Em seguida, vemos claramente a bondade de Deus, presente em toda a iniciativa de Divina de Salvar o homem da condição em que ele mesmo se colocou. A existência do Mal na terra é responsabilidade do homem.

Deus não tinha qualquer obrigação/dever de trazer a Salvação ao Homem. Mas no evangelho de João 3:16 (“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”) percebemos que o princípio da Salvação é o amor obstinado de Deus pela humanidade. Caso contrário Ele teria eliminado o problema simplesmente destruindo toda humanidade, porque a fonte do mal foi e continua a ser o “livre arbítrio”.

“ Se Deus fosse eliminar todo mal, então teria de eliminar o nosso livre arbítrio. E se ele eliminasse o nosso livre arbítrio, não teríamos mais a capacidade de amar ou de fazer o bem. Este não seria mais um mundo moral.”[126]

 

Em Cristo Deus resolveu o problema da salvação do homem sem retirar a liberdade de escolha. E ao mostrar a nobreza do Seu amor deu-nos a possibilidade de viver uma vida nova, não mais escravizados pelo pecado.

“Para a liberdade Cristo nos libertou; permanecei, pois, firmes e não vos dobreis novamente a um jogo de escravidão. (…) Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da liberdade para dar ocasião à carne, antes pelo amor servi-vos uns aos outros. (…) Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça da carne. Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis. (…) Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia, a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as fações, as dissensões, os partidos, as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a estas, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade. A mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.” (Gálatas 5:1-26)

 

 A ampliação do Problema – Natureza Pecaminosa // tendência ou inclinação para o Mal

 

Tal como vimos anteriormente, o pecado não é apenas um problema espiritual mas um mal moral. Suportamos esta afirmação com base nesta constatação: A natureza pecaminosa do homem foi gerada pela condição pecaminosa em que Adão e Eva se encontravam depois de terem desobedecido.

 

A inclinação (ou tendência) do homem para o mal não vem pelo simples facto do homem ter a opção de pecar mas do pecado se tornar efetivamente um hábito diário e constante. A natureza pecaminosa surge quando o mal se torna mais do que uma opção, torna-se uma prática diária contínua e consciente. E esta é de responsabilidade individual e não imputada por Adão.

 

Portanto, a natureza pecaminosa é o resultado progressivo da condição do Homem pós-queda e a não um estado automaticamente adquirido através pecado de Adão.[127] Porém, a escolha que Adão fez no Éden sujeitou a humanidade à influência do mal sobre as nossas decisões do dia-a-dia, o que corrompeu toda a estrutura moral do homem.[128]

 

A natureza pecaminosa resume-se ao domínio que o pecado tem sobre o homem e a influência que exerce sobre o seu intelecto, emoções e vontade, o que provoca a corrupção do seu coração. Isso explica as “inclinações da nossa carne”. Quer isto dizer que os nossos desejos, motivações e intenções estão infetados ou contaminados com o “vírus” do pecado (Efésios  2.1-3). O pecado é portanto um mal moral![129]

 

Se Cristo ao morrer em nosso lugar levou sobre Ele toda a culpa, a qual já mais poderá nos ser imputada, uma vez que as Escrituras declaram que a morte de Cristo é o sacrifício designado por Deus para justificação dos nossos pecados (Romanos 3.25). Então é por meio da Fé no Sacrifício de Cristo que achamos o perdão dos nossos pecados. A fé n’Ele é o antídoto para o vírus do pecado!

 

Com isto a nossa tendência para o mal é contrariada: Cristo deve ser formado em nós, no nosso interior. O apóstolo Paulo disse em Gálatas 2.20 “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.”

 

O que Paulo diz é que Cristo: sua vida, morte e ressurreição tem que ser central na nossa fé. Se acreditarmos apenas que ele existiu, viveu e morreu como homem, não ressuscitou como Filho de Deus, que venceu a morte então a nossa a fé não passa duma fraude porque nunca vamos chegar “à medida da estatura da plenitude de Cristo.” (Efésios 4.10-13)

Se ele não está vivo, como vai ser formado em nós?

 

Então a mensagem do evangelho é um apelo á formação espiritual. “Ele vive em nós! Ele dá-se a conhecer através de nós! E Para isso precisa de ser formado em nós! E é aqui que a Fé na ressurreição de Jesus exerce um papel preponderante.

A sociedade está a despertar para tudo o que envolve “espiritualidade”. Basta considerar quantidade de seitas que nasceram nos últimos anos, os mestres curandeiros que se multiplicam nas sociedades ocidentais, o enorme interesse nas revistas de horóscopos, etc. Existe um despertar para o que é espiritual, mas sem a centralidade e a suficiência de Cristo e sem a verdade da sua ressurreição. Isto é a degeneração da fé!

O que acontece hoje é que, se a pessoa se sente bem com a sua fé não importa no que acredita. Se tem validade ou não. O que interessa é a pessoa estar confortável com o conceito de Deus que é pacífico ou transversal a todas as religiões.

Há um sentido relativista que anula a suficiência de Cristo.

 

A Fé em Cristo é a única que dá importância à formação espiritual. Está longe das fantasias esotéricas que muitos procuram. Deixa de ser um “mistério” e passa a ser real através da mudança de coração e na disposição dos hábitos de comportamento.

No fundo, se a “ressurreição” não fizer parte da equação da “espiritualidade”, o que vai acontecer é que essa “espiritualidade” vai ser moldada aos olhos de cada um e de manipulada acordo com os interesses de cada um.

Mas a ressurreição de Cristo não é algo possível de controlar, manipular, ou “aperfeiçoar” em favor do nosso sistema de crenças. A ressurreição não é um conceito de marketing que o homem pode trabalhar, é uma verdade que nunca vai mudar! E é a ressurreição que abre o caminho para o homem novo.

 

Nas palavras de Pascal “O cristianismo é estranho. Ordena ao homem que reconheça ser vil e abominável e determina que queira ser semelhante a Deus. Sem tal contrapeso, essa elevação o tornaria horrivelmente vão, ou esse rebaixamento o tornaria terrivelmente desprezível.”[130]

 

Considerações Finais

Concluímos que o começo, o meio e o fim de toda a experiência Cristã é crêr em Jesus Cristo! Ele marcou a história ao tornar-se humano, fez-se à nossa imagem e semelhança, sem deixar de ser Deus. Ele é Deus por nós e Deus em nós. Ele é Deus entre nós na dimensão que podemos tocar! 100% Deus – 100% Homem!

As evidências do impacto histórico da vinda de Jesus são inegáveis. O homem não teria capacidade para imaginar e materializar tal enredo, se fosse mera ficção.

 

Portanto, mesmo 2000 anos depois, resta ao homem ponderar a existência de Deus, através da sua revelação em Cristo. JESUS CRISTO é a chave hermenêutica da Bíblia! Ela é cristocêntrica. Tirar Jesus à Bíblia é ficar sem a Bíblia.

Uma vez que o homem não tem domínio total sobre a realidade que o envolve, ninguém que esteja sóbrio e que faça uso de coerência em seus raciocínios pode afirmar ser ateu. O homem não está em posição de negar o que não domina. Então se Deus existe não é lógico e coerente acreditar na única forma de o conhecer é ler a respeito do que Ele diz sobre si mesmo? Tudo o resto é conjeturas desvirtuadas pela pobreza da perspetiva humana sobre um Deus que é Divino.

 

 

CONCLUSÃO

 

Ficou claro no início do nosso trabalho que o cristianismo é uma religião baseada na revelação que Deus fez de si mesmo (através da Bíblia e da sua Criação) e não em meras experiências subjetivas do homem em busca do transcendente. Na verdade, o homem não tinha capacidade para inventar a essência de Deus revelada nos escritos sagrados do Cristianismo.

Pelo fato do homem carregar dentro de si um imperativo da revelação divina e um desejo do conhecimento pela verdade de Deus, não nos parece intelectualmente honesto desconsiderar a revelação de Deus nas Escrituras Sagradas. O poder e a influência da Bíblia são notórios mesmo para um incrédulo. É impossível negar a grandeza do seu impacto na civilização humana nos últimos 2000 anos. Regra geral, as pessoas não sabem muito acerca da Bíblia (do seu conteúdo) mas isso não as impede de reconhecer o seu alcance histórico, valor literário e importância para a sociedade ao longo dos séculos. Mesmo como obra literária, nunca nenhum outro livro assumiu tanta preponderância na vida do homem como a Bíblia. Queremos demonstrar ao leitor que a Bíblia é sem dúvida um livro singular, incomparável, inimitável e inigualável e esperamos que este trabalho o desafie a considerar a autoria Divina da Bíblia. Trata-se de uma verdade “confirmada” pela experiência do homem ao longo de séculos. Milhões de pessoas viveram o fenómeno da “Alegoria da caverna” de Platão, ao serem libertas da “cegueira espiritual” que os aprisionava através da luz da verdade da Palavra de Deus.

E neste contexto queremos ainda desafiar o leitor a analisar sem preconceitos o que a Bíblia diz acerca de Jesus. Com toda a certeza irá descobrir que há apenas um caminho para a Salvação. As afirmações de Jesus, que vimos anteriormente, não expressam meras ideias ou possibilidades. Ele afirma ser o único Caminho para chegar a Deus e Ele mesmo é a verdade, como Pessoa (vida e obra). Este exclusivismo pode ser encarado com suspeita ou desconfiança mas como diria o grande poeta Luís de Camões: “O melhor de tudo é crer em Cristo”.

O Evangelho de Jesus não pode ser moldado às exigências ou expectativas de uma sociedade, em parte pós-moderna, em que tudo é relativo. É verdade que a Graça e o Amor de Deus vai muito para além do que podemos pensar ou imaginar mas não podemos negar a grande verdade das Escrituras: Jesus é a revelação plena de Deus, do qual depende unicamente a Salvação do mundo. E todo o homem será julgado mediante o nível de revelação que tiver de Deus. Seja através da percepção interior de um Deus criador de tudo (que no inicio da história da humanidade estava bem mais apurada que nos dias de hoje) – Romanos 1.20 – seja pelas obras da lei – Romanos 2.12 – ou pelas obras da fé – Apocalipse 20.12.

A razão deste julgamento também é abordada no trabalho. Existe pecado no coração do homem e apesar das várias definições de pecado e das diferentes abordagens que foram feitas pelo homem ao longo da histórica, o pecado é tudo o que vai contra a vontade de Deus, quer esteja explicitamente ou implicitamente manifesta ao homem. De capa a capa a ideia de que o pecado é a falta de conformidade com a vontade de Deus está embutida nas escrituras. Compreender o que é o pecado e a sua relação negativa com a vontade de Deus ajuda o leitor a escapar dos efeitos do seu domínio, começando por abraçar o sacrifício que Jesus fez na Cruz por cada um de nós.

É desta forma que gostaríamos de terminar, relembrando que Deus que executou de forma progressiva um plano perfeito para livrar a humanidade da condição degredada que foi transmitida por Adão. Cabe a si decidir se quer aceitar ou rejeitar a verdade.

  

 

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[1] Horton. Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 65

[2] Junior, Jair de Almeida. (n/d). A Revelação Geral em Calvino. Pág. 6

[3] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática.  Pág. 65

[4] Isaías 47.3

[5] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 66

[6] Junior, Jair de Almeida. (n/d). A Revelação Geral em Calvino. Pág. 3

[7] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 41

[8] Junior, Jair de Almeida. (n/d). A Revelação Geral em Calvino. Pág. 7

[9] Geisler. Norman. (2002). Enciclopédia de Apologética. Pág. 782

[10] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 42

[11] Myatt, Alan. (2002). Teologia Sistemática. Pág. 25

[12] McGrath, Alister. (2013) Apologética pura e simples. Pág. 97

[13] McGrath, Alister. (2013) Apologética pura e simples, Pág. 98

[14] McGrath, Alister. (2013) Apologética pura e simples, Pág. 122

[15] Horton. Stanley (1997). Teologia Sistemática. Pág. 43

[16]Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 42

[17] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 43

[18] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 43

[19] McGrath, Alister. (2013). Apologética pura e simples. Pág. 110

[20] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 43

[21] Myatt, Alan. (2002). Teologia Sistemática.  Pág. 25

[22] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 73

[23] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 36

[24] Myatt, Alan. (2002). Teologia Sistemática. Pág. 25

[25] Myatt, Alan. (2002). Teologia Sistemática. Pág. 23

[26] Horton. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 80

[27] 2ª Timóteo  3.16,17

[28] Geisler. Norman. (2002). Enciclopédia de Apologética. Pág. 782

[29] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 56

[30] Idem, Pág. 56

[31] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 80

[32] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 62

[33] Horton. Stanley. (1997). Teologia Sistemática.  Pág. 81

[34] Idem, Pág. 81

[35] Erickson, Millard. (1992). Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 60

[36] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 85

[37] Little, Paul. (1985). Saiba porque crê & saiba no que crê. Pág. 82

[38] Nelson, P. C. (1991). Doutrinas Bíblicas. Pág. 16

[39] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 89

[40] Horton, Stanley. (1997). Teologia Sistemática. Pág. 90

[41] Little, Paul. (1985). Saiba porque crê & saiba no que crê. Pág. 103

[42] Little, Paul. (1985). Saiba porque crê & saiba no que crê. Pág. 103

[43] Geisler. Norman. (2002). Enciclopédia de Apologética. Pág. 786

[44] João 18.38.

[45]Baucham Jr., V. (2007). A Verdade e a Supremacia de Cristo em um Mund Pós-Moderno: p.55.

[46]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p.147.

[47] 2 Pedro 3.9. Grifo nosso.

[48]The Case for Christ Study Bible:  p.446.

[49]Schaeffer, F. (1974). A Morte da Razão: p.6.

[50]Leite Filho, T. G. (1997). Descubra Agora a Sedução do Novo Ocultismo: p.19.

[51]Champlin, R., & Bentes, J. (1997). Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia (volume 4): p.330.

[52]Baucham Jr., V. (2007). A Verdade e a Supremacia de Cristo em um Mund Pós-Moderno: p.56.

[53]Baucham Jr., V. (2007). A Verdade e a Supremacia de Cristo em um Mundo Pós-Moderno: p.54.

[54]Craig, W. L. (2012). Apologética Contemporânea: a Veracidade da Fé Cristã: p.18.

[55] João 14.6. Grifo nosso.

[56]The Case for Christ Study Bible: p.1716.

[57]The Case for Christ Study Bible: p.1745.

[58]The Case for Christ Study Bible: p.1716.

[59]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p.153.

[60]Evans, C. (2004). Dicionário de Apologética e Filosofia da Religião: p.109.

[61]Evans, C. (2004). Dicionário de Apologética e Filosofia da Religião: p.109.

[62]The Case for Christ Study Bible: p.446.

[63]The Case for Christ Study Bible: p.1745.

[64] É verdade que a História relata momentos em que isso aconteceu – por exemplo, as Cruzadas. No entanto, nesses casos pessoas simplesmente usaram-se da nomenclatura cristãos. Não vemos no livro Sagrado do Cristianismo – a Bíblia – apelos a que exclusividade se manifeste na violência, como sucede em escritos de outras religiões.

[65]Champlin, R., & Bentes, J. (1997). Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia: p.638.

[66]The Case for Christ Study Bible: p.1745.

[67]Evans, C. (2004). Dicionário de Apologética e Filosofia da Religião: p.19.

[68]Zacharias, R. (1997). Pode o Homem Viver sem Deus?: p.243.

[69]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: pp.147-148.

[70]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p.149.

[71]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p. 148.

[72]Bíblia Apologética de Estudo: p. 1413.

[73]Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p.152.

[74]Pascal, B. (2002). Pensamentos: p. 154.

[75]Montgomery in Little, P. (1985). Explicando e Expondo a Fé: p. 46.

[76]Pascal, B. (2002). Pensamentos: pp. 50-51.

[77]Baucham Jr., V. (2007). A Verdade e a Supremacia de Cristo em um Mund Pós-Moderno: pp.53-54.

[78] João 8.47a.

[79] LITLLE, Paul E. Saiba o que você crê. São Paulo: Mundo Cristão, 1970.pg.67

[80] ALMEIDA, Abraão de. Evidências de um Criador. Rio de Janeiro: CPAD, 1986.pg.117

[81] McDOWELL, Josh. Responde. São Paulo: Candeia, 2001. Pg.146

[82] GEISLER, Norman. Fundamentos Inabaláveis. São Paulo: Vida, 2003. Pg.145

[83] GEISLER, Norman. Fundamentos Inabaláveis. São Paulo: Vida, 2003. Pg.177

[84] http://www.ehow.com.br/diferenca-entre-macro-micro-evolucao-info_53421/

[85] MORRIS, Henry M. O Enigma das origens a resposta. San Diego: Origens, 1974. Pg.18

[86] MORRIS, Henry M. O Enigma das origens a resposta. San Diego: Origens, 1974. Pg.20

[87] LEPELTIER, Thomas. A Heresia de Darwin. Alfragide: Texto Editores, 2009.pg.127

[88] DANIEL, Silas. A Sedução das Novas Teologias. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. Pg.154

[89] MORRIS, Henry M. O Enigma das origens a resposta. San Diego: Origens, 1974. Pg.255

[90] João 1.14

[91] Gênesis 1

[92] McDOWELL, Josh; STEWART, Don, Resposta Àquelas Perguntas, p. 84.

[93] João 14.9.

[94] I João 1.1-3;Lucas 1.1-3;Atos 1.1-3 (“o primeiro livro” será uma referência ao Evangelho de Lucas.)

[95]“Nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio, se todavia devemos considerá-lo simplesmente como um homem, tanto suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Era o Cristo. Os mais ilustres da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome.” (Flávio Josefo, p. 418.)

[96] Augusto Cury, Análise da Inteligência de Cristo, p. 30 e 31.

[97] LITTLE, Paul E., Saiba o que você crê, p. 37.

[98] LITTLE, Paul E., Saiba o que você crê, p. 51.

[99] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 101.

[100] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 132.

[101] João 19.7 “Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.” ARC

[102] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 134.

[103] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 134 a 136.

[104] LITTLE, Paul E., Saiba Porque Crê e Saiba no que Crê, p. 67 a 70.

[105]“É preciso que o Filho do Homem sofra muito e seja rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos doutores da lei, para ser morto e ao terceiro dia ressuscitar.” Lucas 9.22 BPT

[106] McDOWELL, Josh, As Evidências da Ressurreição de Cristo, p. 29.

[107]E se Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação é inútil e a vossa fé é inútil também.” I Coríntios 15.14 BPT

[108]Esta boa nova já Deus a tinha prometido na Sagrada Escritura por meio dos seus profetas. Ela diz respeito ao seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Pelo nascimento, ele era descendente de David, mas pelo Espírito que santifica foi manifestado como Filho de Deus com poder, pela ressurreição dos mortos.” Romanos 1.2-4 BPT

[109] McDOWELL, Josh, As Evidências da Ressurreição de Cristo, p. 38 e 39.

[110] II Pedro 1.16; I Timóteo 1.4.

[111]Desde que o mundo é mundo, nunca se ouviu dizer que alguém desse a vista a um cego de nascença.” João 9.32 BPT

[112]Os outros discípulos contaram-lhe: «Vimos o Senhor!» Mas Tomé respondeu-lhes: «Se eu não vir a ferida dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo no lugar dos pregos e a minha mão na ferida do peito, não acredito.»” João 20.25 BPT

[113] João 20.24-29

[114] Atos 1.3; O texto de Atos 1.1-3 e Lucas 1.1-3 dão força a este argumento histórico.

[115] McDOWELL, Josh, As Evidências da Ressurreição de Cristo, p. 42 e 43.

[116] LITTLE, Paul E., Saiba Porque Crê e Saiba no que Crê, p. 72 e 73.

[117] McDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredito, p. 279.

[118] I Coríntios 15.6.

[119] Josh McDowell e Norman Geisler – Como Conhecer a Deus, p. 9

[120] Para o devido enquadramento: os fariseus nasceram de um grupo de homens piedosos, determinados em fazer recuar a influência da cultura helenista na palestina. Não queriam que o povo se ‘contaminasse’ com a cultura grega e com o paganismo. Eram conhecedores das escrituras sagradas e extremamente zelosos no cumprimento da Lei.

[121] Hiil, Andrew & Walton, John – Panorama do Antigo Testamento – Editora Vida, SP, 2007 p.122

[122]Saiba Porque Crê & Saiba o que Crê, Paul Little, Núcleo, pp. 142,143.

[123] PEARLMAN, Myer – Conhecendo as Doutrinas da Bíblia – Editora Vida, 2006, p.150

[124] Stott, John – A Cruz de Cristo – São Paulo: Editora Vida, 2006. p. 76.

[125] Não tenho Fé suficiente para ser ateu, p. 286.

[126] Idem, p. 286.

[127] Segundo Strong, a expressão “por natureza” encontrada em Efésios 2.3 é traduzida da palavra “Phusis” que significa “growth (by germination or expansion), that is (by implication) natural roduction. -Stong’s Hebrew and Greek Dictionaries

[128] Não tenho fé suficiente para ser ateu pág.286

[129] Gonçalves, António – Sebenta de Antropologia/Hamartiologia – Ano lectivo 2012/2013

[130]Pensamentos de Pascal, AbbaPress, p. 167

 

“Não há vida no frio, na escuridão. Aqui no vazio, só a morte.”

RicardoRosaRicardo Rosa

A ausência de vida é todo o caos existente. Em si mesma, esta ideia pode parecer contraditória, mas assenta na premissa da ausência de vida. Não existe vida no frio, não palpita o coração no ambiente gélido e glaciar do vazio. Quando a vida está ausente, existe apenas a morte; aquilo que para uns é um final de linha declarado, mas para outros é meramente um estado de transição para uma etapa seguinte.

O vazio é dominado pela morte, não existe argumento que o detenha. Cheio de escuridão e frio, remete para o pensamento atroz da máxima pena de isolamento e solidão. Uma solidão eterna, um isolamento pleno de temor e completamente ressequido de bondade.

Quando Moisés relata todo o processo da criação divina, nos capítulos 1 e 2 de Génesis, aponta que a terra era sem forma e vazia, um nada existencial completamente desordenado e sem vida. Este é o caos primordial que se reflecte numa vida sem Deus. Uma total ausência de fôlego, um ponto na contínua recta da inação…

UMA LUZ QUE DIVIDE O ESPAÇO

Mas eis que existe então uma alteração! Perante um abismo negro que devora o homem que para ele olhe (seguindo a máxima de Nietzsche), eis que surge a luz criada a partir da ordem divina. É a voz divina que humaniza o processo da Criação. Deus, que cria e sustenta todas as coisas, ordena a criação da luz que separa da escuridão. Deus começa a criar vida com a criação da luz, usando esta passagem para a dimensão escatológica da Criação. Um dia a luz criada extinguir-se-á (Isaías 60:19) e a presença física de Deus no meio do Seu povo servirá de luminar. Mais do que a Shekinah no Templo, é Deus que se manifesta em glória eterna e em cuidado com os Seus filhos.

A luz que aquece e nutre a vegetação, que ilumina de dia e de noite é fonte de vida. Com o processo da Criação, inverte-se a tendência da morte no vazio, o próprio vazio começa lentamente a ser eliminado, povoado e delimitado. A ausência de vida esbate-se perante as palavras de um Deus que cria, que ama, que faz do melhor da Sua Criação (o ser humano) um elemento sinérgico consigo mesmo. O bara’ de Deus é apenas e só d’Ele. É o criar ex nihilo que só alguém Todo Poderoso poderia fazer. Não é uma espécie de criação darwiniana e vaga, sem interligação entre pedaços de tempo e história. É uma criação total e absoluta, formada a partir do negativo, Deus inverte as tendências da Física naquele momento e cria algo a partir do nada. Um Deus que é eterno, define um elemento vital sem o qual hoje não vivemos, mas que virá a ser substituído pela Sua presença.

Jesus é a Luz mais brilhante da Menorah da criação divina, a luz que divide espaço e tempo, fazendo-os rebentar a partir do nada. A fala de Deus é um discurso que gera, que faz crescer, que faz aparecer. Dá vida com as Suas palavras, cria com o Seu mandamento.

É Ele mesmo que forma o Homem do pó, que insufla nesse molde o espírito da vida, condenando à partida a inexistência. Deus cria o Homem à Sua imagem e semelhança, espiritual e moral, dialogante e comunitário, harmonioso e perfeito. Toda a antítese de vida cai por terra, a mesma da qual Adão foi feito, a mesma que se encontra densamente representada na química do corpo humano. Deus chama Adão para dar nome aos animais, para em conjunto com ela crescer e frutificar, multiplicando-se e dominando sobre tudo o que Deus havia criado.

Cessa a presença de um vazio profundamente (e ironicamente) cheio de morte. Brota a vida em torrente, prova-se a abastança de existência onde outrora existia frio e feiura. Um espaço desfigurado e inestético, é tornado agora habitação do Homem e local de encontro com Deus. Mais do que uma pré-figuração do Paraíso, o Éden é a antítese da Mordor de Sauron. Não existe um vazio existencial, não existe escuridão punitiva, não existe morte.

ANTÍTESE DA MORTE

Toda a obra criativa de Deus dá origem à vida, porque Deus não é uma figura morta. Não é um demiurgo impotente, um ídolo vazio, distante ou adormecido tal como Baal, que é ridicularizado por Elias no monte Carmelo (1º Reis 18:25-29) . Aos racionalistas e pós-modernistas que rapidamente secundam a ideia da morte de Deus (proclamada por Nietzsche em “Gaia Ciência”), a resposta de Deus é vida com abundância por meio de Cristo Jesus (João 10:10).

Passados vários anos da morte do filósofo alemão, o que lemos nesta declaração pode ser dividido em duas partes: Nietzsche decretou que Deus havia morrido para ele, afastando-se consequentemente para o seu abismo de morte e frio; a outra conclusão é mais simples, basta olharmos em volta e perceber que o mesmo Deus que sustenta a Sua Igreja contra o Inferno, está vido, dá vida e é vida.

A derrota da morte eterna, do vazio existência, do desespero frio e feio na escuridão é firmada por Jesus no Calvário. O Senhor da Paz esmagará ainda a oposição que se lhe afronte debaixo dos pés daqueles que foram retirados da morte para a vida (Romanos 16:20).

Poderá parecer uma ideia contraditória, a de alguém morrer para derrotar a morte e os seus dardos. A isso Cristo responde-nos claramente dizendo que dá a Sua vida para tornar a tomá-la e ser o símbolo máximo entre nós, de que existe mais do que o abismo da negação divina (João 10:17-18).Um abismo frio e penetrante, que outrora nos separava de Deus, é agora cheio de um amor mais excelente e que torna esse abismo numa planície, onde podemos correr com confiança para o Pai e ser recebidos numa morada eterna (João 14:1-3, Filipenses 3:12-14).

ABYSSOS FINITUS

De facto, onde o Sol não brilha é assumido que não exista vida. Mas Cristo sai do sepulcro e mostra-nos que ainda que o Sol não brilhe, é no abraçar divino a cada um de nós que encontramos vida. A promessa profética do apocalipse joanino (Apocalipse 21:4) é a de que Ele mesmo enxugará dos nossos olhos todas as lágrimas, não havendo mais tempo ou espaço para a morte, para o lamento, para a dor e para o choro. Maior do que o Sol Invictus é o Christus Rex, cuja existência não depende dos factores externos naturais, mas cuja vida como a conhecemos depende d’Ele para subsistir.

O frio e o vazio da ausência de ligação a Deus estão destruídos. Em Cristo temos o restabelecimento da ligação outrora amputada, da relação danificada no Éden. A morte e todo o desespero são lançados num abismo profundo, onde as geladas ondas de tristeza e solidão são também enterradas.

Existe vida na Luz de Cristo, no afecto amoroso do Pai. Aí, na Sua presença que nos inunda e preenche, temos vida. E vida em abundância…

UMA VIAGEM PARA RECORDAR

Amilcar Ribeiro

Dr. Amílcar D. Ribeiro

O comboio Alfa Pendular apareceu vindo do norte parecendo que não iria parar, mas o ruído da travagem foi sinal de que cumpria o horário para receber mais passageiros. A paragem era breve, pelo que apressadamente procuravam identificar e subir para a carruagem que lhes estava assinalada. Entrei também e acomodei-me no lugar que correspondia ao meu título de transporte. Reiniciou a sua marcha. Olhei em volta e observei os meus companheiros de viagem, entre eles jovens, aparentemente estudantes de regresso a casa nas férias da Páscoa, num ruido de conversação que se misturava com o deslizar compassado do comboio pelos carris.

Reparei que, num lugar à minha frente na fila oposta, estava uma figura feminina junto à janela, recostada de tal forma que não lhe via o rosto. Na mesa articulada pousava um caderno em que escrevia a breves espaços e na mão esquerda segurava um livro aberto que lia e que lhe suscitava a escrita. A cena prendeu-me a atenção. Apenas via duas mãos, a esquerda segurando o livro, que folheava por vezes, e a direita que escrevia. Entre a leitura e a escrita estava uma mente invisível que processava o que lia  e que dava ordens à mão que escrevia, com uma fluidez suave, elegante e decidida, o que durou todo o tempo da minha viagem. Estaria a realizar algum trabalho? Apenas a ler e a tomar notas sobre a leitura? Nunca o saberei, mas também não era o que me interessava.

Contemplando aquele cenário, dei comigo a pensar como é possível alguém acreditar que o universo e todos os astros e seres que nele existem, tenham aparecido de forma espontânea, resultando de biliões de acasos até chegarem à perfeição que eu observava.   Pessoas que assim pensam argumentam com o tempo do universo. Mais milhão menos milhão de anos, sempre será possível admitir teoricamente as tais combinações ideais de que resultaria a diversidade, a sobrevivência e o aperfeiçoamento das espécies. O que eu observava não era fruto do acaso, mas um projecto coerente, num modelo idealizado por uma mente perfeita, de infinita sapiência, arte e meios para o concretizar. Ali estava o produto acabado e harmónico de um ser espiritual, moral e físico dotado de inteligência e de autonomia para se afirmar como único, diferenciável, insubstituível na comunidade dos seus iguais, de algum modo espelhando a semelhança do seu Criador. Deus declara por intermédio do profeta Isaías: “Eu é que fiz a terra e nela criei o homem; as minhas mãos estenderam os céus e a todo o seu exército dei as minhas ordens.” (Is. 45:12 ) e o apóstolo Paulo faz eco desta declaração: ” E de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra.” ( Ac. 17:26 ). Por que razão terá Deus criado o ser humano, de alguma forma sendo um reflexo da Sua própria natureza? Ele mesmo o diz, também pelo profeta Isaías: ” a todos os que são chamados pelo meu nome e os que criei para minha glória, eu os formei, sim, eu os fiz.” (Is. 43:7 ). Identifica-se aqui um propósito, um fim: os que criou para Sua glória.

O ser humano não é insignificante, descartável, indiferente, mas foi criado para um fim nobre e elevado. Cada um é único na sua identidade e no seu valor. Pode ser débil, carecer de protecção, de valorização, de promoção dentro da comunidade, mas para o  Criador tem sempre a singularidade do seu imenso valor individual : “para minha glória o criei”. Se desvalorizarmos o nosso semelhante, estamos a  faltar ao reconhecimento da glória de quem o criou. Concretizando, o apóstolo Paulo escreve aos cristãos em Roma dizendo: ” amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.”, ideia que só no âmbito do evangelho é possível afirmar, por que socialmente impraticável.

Desde o alvor da civilização se mostrou necessário que a sociedade se estruturasse no sentido do reconhecimento comunitário de um mínimo ético de protecção da pessoa humana nas suas dimensões moral e física, o que levou muitos séculos de apuramento.

Entre nós, essa protecção está inscrita na lei das leis, a constituição da república portuguesa, no capítulo dos direitos, liberdades e garantias pessoais, designadamente quando estatui que a vida humana é inviolável e que em caso algum haverá pena de morte (art.º 24.º ) e que a integridade moral e física das pessoas é, também, inviolável (art.º 25.º, n.º 1). Estes são valores ou bens jurídicos com tal importância, que é a própria constituição a dar-lhes protecção, e que as leis comuns especificam no que respeita ao direito à vida, à integridade física, ao bom nome e reputação, à reserva da intimidade da vida privada, à protecção da vida intra-uterina, entre outros, utilizando a tutela máxima do direito penal. A ofensa daqueles valores pode resultar numa censura penal que afecte o património ou a própria liberdade do autor da ofensa e lhe impõe um sofrimento ou pena, pelo que toda a dimensão moral e física do ser humano nos deve merecer, pelo padrão mínimo, o respeito que a lei nos impõe, e pelo máximo, a que o Evangelho nos ensina.

NOVO NASCIMENTO

Dantas JúniorNovo Nascimento

Valdino Júnior

INDÍCE

INTRODUÇÃO.. 2

I. ANALISANDO AS PALAVRAS DE JESUS. 3

II. ANALISANDO ONDE JESUS QUERIA LEVAR NICODEMOS. 3

III. MOSTRANDO NAS ESCRITURAS. 6

IV. USANDO LIÇÕES OBJECTOS E FORMAS PRÁTICAS. 11

CONCLUSÃO.. 14

BIBLIOGRAFIA.. 15

 

INTRODUÇÃO

Neste trabalho, quero poder levar-vos a olhar de perto o quadro do diálogo de Jesus com Nicodemos. Perceber em qual nível Jesus estava a falar com Nicodemos.

Jesus veio ao mundo para apresentar o reino de Deus, para trazer salvação e fazer-nos entender como alcança-la.

Para além disso, Jesus veio nos ensinar tudo que estava escrito nas Escrituras. Elas nos leva ao Novo Concerto, a Nova Aliança. Tudo que estava escrito no Antigo Testamento era apenas uma sombra do que viria. A lei era apenas um tutor (aio), os sacrifícios eram provisórios e apontavam para o sacrifício perfeito que viria através do próprio Jesus.

 

 I. ANALISANDO AS PALAVRAS DE JESUS

João 3:3 “Em resposta, Jesus declarou: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo”. (Nova Versão Internacional)

“João 3:5.Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.”[1]

João 3:5, “Respondeu Jesus: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito.” “. (Nova Versão Internacional)

João 3:3 “Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus.” (Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

João 3:5,Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. ” (Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

Depois da leitura destes dois versículos isolados vou enquadrá-los no contexto de João 3:1-21. De seguida vou, propositadamente, levar-vos à uma visão dos mesmos com óculos especialmente voltados para as Escrituras, ou seja, em tudo que vem escrito como “sombra” da obra que Cristo veio fazer.

 

II. ANALISANDO ONDE JESUS QUERIA LEVAR NICODEMOS

“João, ao escrever o seu evangelho, assegurou-se de que soubessemos que Nicodemos era um fariseu e um dos principais dos judeus. Os fariseus eram os religiosos mais rigorosos de todos os grupos de judeus e foi com um deles que Jesus, naquele momento falou”.[2] “João 3:3 “Em resposta, Jesus declarou: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo”. (Nova Versão Internacional).” Pois Jesus sabendo quem era e qual o seu entendimento da Escritura, falou em uma linguagem que ele entenderia. Jesus não precisava mostrar mais religiosidade a Nicodemos pois ele sendo fariseu já era religioso o suficiente. Jesus teria que mostrar nas Escrituras o que tinha escrito sobre o novo nascimento, pois Nicodemos precisava nascer de novo. Nicodemos precisava de vida e Jesus fala com ele dentro do que ele conhecia. Nicodemos tinha a obrigação de saber o que era o novo nascimento, pois estava nas escrituras. Ele teria de tê-la interpretado da melhor maneira uma vez que essa era a sua função. Era mestre, alguém responsável pela leitura, interpretação e ensino.

Vejamos que em altura Jesus faz a seguinte pergunta: “(V.10) Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?” “Jesus estava supostamente a dizer para Nicodemos: isto está no Antigo Testamento!”[3] Ele tem a obrigação de saber! Como tu, sendo mestre, não sabes? É interessante o fato de que Jesus, a maior parte das vezes em que se vê confrontado com um fariseu usava as Escrituras, muitas das vezes com a pergunta: “ não leste nas Escrituras?” Como já vimos, Nicodemos era um mestre judeu, religioso e, por ser preso a religiosidade, respondeu da forma que ele entendia, isso vemos no (v.4). Nicodemos estava com uma visão terrestre da situação. “Os judeus criam que pelo fato de serem filhos de Abraão, isto é, da Aliança, e pelo fato de pertencerem àquela organização religiosa que era reputada como de origem divina, já haviam cumprido quaisquer exigências de natureza religiosa que lhes fosse solicitada quanto às questões espirituais. A teologia rabínica tinha um conceito extremamente superficial da regeneração, e o confinava essencialmente a uma modificação da posição social externa, de um gentio para um prosélito do judaísmo. Assim sendo, podemos entender a ignorância de Nicodemos sobre o ponto. No entanto, a igreja cristã de hoje ainda tem no seu meio elementos fortemente representativos dessa posição institucional. Para muitos, ser filho de Deus é a mesma coisa que pertencer a certa denominação, ou ser baptizado com o seu baptismo. Quer tenha havido ou não contacto com qualquer presença ou princípio divino, e quer tenha havido ou não qualquer transformação espiritual verdadeira no indivíduo.”[4] Jesus conhecendo que os fariseus usavam seus próprios óculos, ou seja, liam e tentavam compreender baseados no seu próprio ponto de vista. Jesus porém confrontava-os com a verdadeira interpretação das escrituras. Vou destacar alguns momentos.

Jesus vinha ensinar estas coisas, ele foi bem claro quando disse que “não veio ab-rogar a lei mais veio cumpri-la”. Jesus veio para que todos fossem salvos (Jo3:17), Jesus fez isso por amor, (Jo3.16).

Jesus não veio para complicar a Palavra, pelo contrario, ele veio esclarecer o que as pessoas não entendiam. Partes das Escrituras que estavam a ser mal interpretadas Jesus esclarecia (Marcos 12:24; Lucas 2:46-47; Mateus 22:29). O Sumo Mestre ensinava corretamente e quase todas as suas questões ou confrontos com os fariseus e doutores da lei, ele fazia questão de responder usando as Escrituras. Jesus, como um bom judeu que, cumpriu a lei de Moisés pois ela ainda estava em vigor naquela época. Isto foi-lhe ensinado desde a sua infância. Foi apresentado ao oitavo dia, sacrificaram um par de rolas e dois pombinhos, (Lucas 2:21-24; Levítico 12:3-6). Ele cumpriu a Lei que Deus deu a Moisés. Praticava-a e ensinava-a. Em nenhum momento Jesus veio revoga-la (Mateus 5:17-18). Jesus veio para simplificar as escrituras, colocar e aplicar de uma forma em que o povo entendesse, desde o mais sábio ao mais leigo. Ele confrontava os sábios e os religiosos com as Escrituras, sempre que era questionado ou ensinava alguém era baseado nas Escrituras.

No caminho de Emaús (Lucas 24:13-35) Jesus explicou-os tudo o que continha na Escritura a seu respeito, começando por Moisés e decorrendo pelos Profetas assim, Jesus ensinava, usava sempre tudo o que estava nas Escrituras ao seu respeito e toda a obra que ele iria fazer. Do mesmo modo procedeu com Nicodemos. Jesus explicava usando tudo o que se referia à sua pessoa nas Escrituras. Outras formas de Jesus ensinar é através dos confrontos com os doutores da Lei. Jesus usa sempre as Escrituras para responder as questões. Fazendo uma boa exegese e interpretação dos textos, trazendo à luz verdades que sempre estiveram lá porém os mestres, sozinhos, não se aperceberam. Jesus respondia suas questões e dúvidas sempre com as Escrituras. Muitas das vezes Jesus “virava o bico ao prego”, desta forma, ao invés de responder as questões, levava-os ao raciocínio, muitas vezes com interrogações: “não lestes e ou não tendes lido?” Pois quase toda vez que isto acontecia Jesus citava o texto da Escritura correspondente ao assunto a ser tratado. (Mateus 12:1-8; 12:9-21) Jesus cumpriu o que estava escrito em Isaías (Isaías 42:1-4); Mateus 19:3-10; 21:14-17, 33-46; 22:23-33; Marcos 2:23-28; 12:1-12,26; Lucas 6:1-5). Repare bem de perto a abordagem de Jesus em (Mateus 19: 4-5) Jesus pergunta-os antes de responder a pergunta, “ não tendes lido”? 

“Tratando-se do novo nascimento, Jesus ao usar este termo (João 3:5), “nascer de novo” que em grego “novo” termo que pode significar aqui uma dentre duas coisas, a saber: 1. Novamente, isto é, nascer «novamente», nascer do alto. Ambas são traduções possíveis, e ambas têm sido defendidas pelos eruditos. Tais significados, como «do alto» (quando se refere a questões espaciais), se encontram no vs. 31 deste mesmo capítulo, onde se lê: «Quem vem das alturas certamente está acima de todos…,(Ver também os trechos de João 19:11; Tia. 1:17 e 3:15,17). Espacialmente falando, pode significar do topo, conforme vemos nas passagens de Mat. 27:51; Mare. 15:38 e João 19:23, Contudo, também pode significar «do principio», conforme vemos em Luc. 1:3 e Atos 26:5. Novamente, pois, é tradução definidamente correta, no trecho de Gál. 4:9. Essencialmente, nesta passagem, os sentidos podem ser estreitados a apenas dois: 1. «novamente»; 2. «do alto».”[5]

Pela tradição, os fariseus havia lido com certeza as Escrituras, porém não deveriam ter compreendido ou feito a correcta interpretação. Olhando desta forma, fica fácil perceber onde Jesus estava levando Nicodemos. Na dimensão em que ele falava não será difícil perceber que Jesus estava falando e apontando para a Escritura. Algo que ele deveria saber pois conhecia ao ponto de ensinar, Nicodemos era mestre.  

 Logo iremos ver que Jesus estava  a falar com Nicodemos, dentro de uma forma que ele entenderia. Jesus não queria fazer uma charada para que Nicodemos ficasse perdido, pelo contrário, Jesus falou dentro do conhecimento que ele tinha. Fê-lo caminhar por caminhos que sempre andou. Fez aplicações a partir de lições objeto com base naquilo que Nicodemos conhecia e poderia perceber rapidamente.

 

III. MOSTRANDO NAS ESCRITURAS

“Já vimos que Jesus estava trazendo Nicodemos para um ponto no qual ele conhecia, então o que Jesus queria mostrar a Nicodemos que ele não conseguia perceber? “ tu és mestre em Israel e não compreende estas coisas?” (João 3:10).

Sem entrar muito em pormenores, pois o intuito é mostrar o que Jesus queria explicar a Nicodemos, vemos porque (João3:5), não se tratava de água do baptismo. “Milhões de pessoas têm recebido o ensino de que o seu batismo faz com que elas nasçam de novo. Se esse ensino sobre o baptismo não é verdade, ele é uma tragédia enorme e mundial. Não creio que seja verdade. Então, o que Jesus quis dizer com as palavras: “Quem não nascer da água e do Espírito”? Há várias razoes pelas quais penso que a referência à água, neste versículo, não diz respeito ao baptismo cristão.

Em primeiro lugar, se fosse uma referência ao baptismo cristão e se fosse tão essencial ao novo nascimento, como alguns o dizem, pareceria estranha a sua ausência no restante do capítulo, quando Jesus nos ensina como ter a vida eterna: “Para que todo o que nele crê tenha a vida eterna” (v. 15); “Para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (v. 16); “Quem nele crê não é julgado” (v. 18). Se o baptismo fosse tão essencial, seria estranho não ser mencionado juntamente com a fé no restante do capítulo.

Em segundo, a analogia do vento, no versículo 8, pareceria estranha se o novo nascimento estivesse tão firmemente ligado ao baptismo com água. Jesus disse: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito”. Isso parece dizer-nos que, ao produzir a Regeneração, Deus é tão livre quanto o vento. Mas, se isso acontecesse toda vez que um bebe tivesse a cabeça molhada, essa liberdade não existiria. Nesse caso, o vento seria limitado pelo sacramento. Esse texto não transmite a ideia de que Jesus estava pensando em termos de sacramento ou baptismo.”[6]

Então onde Jesus queria realmente chegar? (v.10) “tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas?” Jesus estava falando de Regeneração. Esta acção é atribuída a Deus (João1:13). “Ele, que não foi gerado nem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus.”[7] “Isto é proveniente do alto, (João 3:3,7), efectuada pelo Espírito Santo (João 3:,8). Há outras referências que deixam subentendidas essas verdades, como (Efésios 2:4,5; 1 João 2:29 e 4:7; Tito3:5). A passagem de (João3:8) adverte-nos de que há muitos elementos inescrutáveis nesse assunto, pelo menos para nosso estado presente de conhecimento.

Podemos definir a regeneração como uma actuação drástica do Espírito Santo, sobre a natureza humana caída no pecado, que conduz o indivíduo, não somente à uma nova perspectiva e à uma nova natureza psicológica, mas, finalmente, à santidade perfeita, à participação na natureza divina, conforme Cristo participa dessa natureza. O regenerado, final e perfeitamente, nasce de novo nos lugares celestiais e recebe assim a natureza metafísica real de Cristo e dessa maneira um filho é conduzido à glória, totalmente transformado em um novo tipo de ser, extremamente exaltado.

John Gill (in loc.) diz: «…nascido de novo, regenerado ou revivificado pelo Espírito de Deus; renovado no espírito de sua mente; tem Cristo formado no seu coração; tornar-se participante da natureza divina. Em tudo foi feito uma nova criatura; foi dotado de outro coração, em princípio na prática e na sua conduta, nascida do alto (conforme a palavra é traduzida no vs. 31), isto é, mediante um poder sobrenatural, tendo sido impresso com a imagem celestial; e tendo sido chamado com a vocação celestial, com a alta chamada de Deus, em Cristo Jesus».

Adam Clarke (in loc): «O novo nascimento, que é aqui referido, compreende não somente aquilo que se chama de justificação ou perdão, mas também aquilo que se chama de santificação e consagração. Portanto, o pecado deve ter sido perdoado, e a impureza desse coração deve ter sido lavada, antes que a alma possa entrar no reino de Deus. Posto que o novo nascimento subentende a renovação da alma inteira, em retidão e santidade autêntica, não se trata de uma questão que possamos desprezar facilmente: o céu é um lugar de santidade, e nada que lhe seja diferente poderá jamais entrar ali»”[8].

Jesus mostra esta santidade durante o tempo em que anda pregando e ensinando. Ele mostra muito mais quando foi ao Calvário. É esta santidade, é esta Regeneração que Ele quer mostrar a Nicodemos, a Regeneração do coração do homem e na vida daqueles a quem Ele salva. Isso acontece no mundo diante dos olhos dos gentios, que podem ver a transformação que ocorre na vida dos crentes, como também ocorria na vida dos judeus que entendiam o real sentido do nascer de novo. Este conceito de novo nascimento, estava explicito nas Escrituras. A Regeneração estava o tempo todo presente. O que Jesus fez foi traze-la para o contexto e aplica-la a Nicodemos. Textos como (Ezequiel 36:22-32) falam deste assunto no Antigo Testamento.O versículo v.24: “Vou levá-lo de entre os pagãos” queria dizer que “O instrumento que leva o povo de Deus dentre as nações é o Evangelho, que torna crentes pessoas de toda tribo, povo, nação e língua. Este mesmo versículo faz menção de que o povo de Israel seria levado novamente à sua terra. Esta é a terra de que Jesus ao falar com Nicodemos disse que é necessário nascer de novo para entrar nela (Mt 24:31).

O versículo 25 diz o seguinte: “Então aspergirei Água Pura sobre Vos, e ficareis purificados; de Todas como vossas imundícias, e de Todos os Vossos ídolos, vos purificarei.” Estes versículos estão relacionados com as palavras do Senhor a Nicodemos em João 3:3-8. É uma passagem que ele deveria saber. Desta forma entendeu o significado das palavras do Senhor para ele (João 3:10). Explica o significado da água em João 3:5. Aqueles que acreditam nas doutrinas pagãs de regeneração baptismal não têm sido lentos para explorar a passagem dos Evangelhos em favor do seu ensino. Nem sempre vimos como interpretar a água em João 3:5. Tivemos a estranha teoria de que ele se refere ao parto natural, água parada para o sémen, enquanto o Espírito refere-se à regeneração, ou ao nascimento espiritual. Tal ideia é tensa, absurda, fora de harmonia com o contexto e não é obtida comparando Escritura com Escritura pois é completamente ausente de João 3:5.”[9]

A água é um símbolo da acção do Espírito Santo que viria fazer a mudança, sendo assim ela pode alcançar vasta interpretação simbólica, desde o batismo de João, o rito judaico ao baptismo de hoje, incluindo a Palavra ( as Escrituras). O mais importante é que quando Jesus falou com Nicodemos falou de algo que Nicodemos poderia entender como ação regeneradora, algo que se encontrava nas Escrituras. Desta forma faz sentido o que Jesus falou depois. Isto levou Nicodemos a rever tudo o que estava escrito com outros óculos (Números 8:6-7; Êxodo 19:10; Salmos 51:2,7). “A água é apresentada com frequência na literatura joanina, cerca de vinte vezes no Evangelho. Duas vezes na sua primeira Epístola e dezassete vezes em Apocalipse. Nesta passagem poderá salientar a acção directa da Palavra de Deus na vida do homem. Tal como a água, a Palavra é um agente purificador e libertador da vida humana. A água é vital para a existência do homem (Ex 23.25). É através dela que o sacerdote do Antigo Testamento efectuava o rito da limpeza das mãos e dos pés (Ex 30.17-21). Foi através dela que Jesus deixou um exemplo de humildade e de purificação (Jo 13.1-20)”[10].Embora tenha citados estes textos e outros que fazem referência a água e o Espírito, Jesus estava apontando para o texto que se referia uma Nova Aliança. Não a Abraâmica ou a do Monte Sinai, mas sim a Aliança feita no seu próprio sangue a qual viria pela crucificação e expiação que seria feita por Ele. Isto pode ser percebido após a apresentação de Jesus (João 3:14).

“O texto que mais exemplifica é (Ezequiel 36:22-32), creio ser esta a passagem que dá origem às palavras de Jesus: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus”. Para quem Deus falou: “Vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus” (v. 28)? Resposta: para aqueles aos quais Ele disse: “Aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei” (v. 25). bem como para aqueles aos quais Ele disse: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo (v. 26). Em outras palavras, entrarão no reino aqueles que têm uma novidade que envolve a purificação do velho e a criação do novo.

Assim, o modo correto de pensar sobre o seu novo coração, novo espírito e nova natureza é que eles ainda são você e precisam ser perdoados e purificados este é o objectivo da referência à água. Minha culpa precisa ser lavada. A purificação com água é uma figura disso. Jeremias 33.8 afirma-o nestes termos: “Purificá-los-ei de toda a sua iniquidade com que pecaram contra mim; e perdoarei todas as suas iniquidades com que pecaram e transgrediram contra mim”. Portanto, a pessoa que somos continua a existir, ela apenas necessita de ser perdoada, e lavada da sua culpa”[11]

“E assim que entendo esses versículos: (Ex 36,26-27). O coração de pedra significa o coração morto que era insensível e indiferente à realidade espiritual o coração que você tinha antes do novo nascimento. Ele podia reagir com paixão e desejo a muitas coisas, mas estava endurecido em relação à verdade espiritual, à beleza de Jesus Cristo, à glória de Deus e ao caminho da santidade. E isso que precisa ser mudado para que vejamos o reino de Deus.

No novo nascimento, Deus remove o coração de pedra e dá-nos um coração de carne. A palavra carne não significa “meramente humano” como em (João 3:6 “O que é nascido da carne é carne). Significa vivo, correspondente e sensível, ao invés de uma pedra inanimada. No novo nascimento, o tédio inerte e inflexível que sentimos para com Cristo é substituído por um coração que sente o valor d’Ele.

Quando Ezequiel disse: “Porei dentro de vós espírito novo, porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos” (vv. 26-27), penso que ele pretendia dizer que no novo nascimento Deus coloca no nosso coração uma vida ativa, sobrenatural e espiritual. Esta é a nova vida, este é o novo espírito. Uma obra do próprio Espírito Santo, dando forma e carácter ao nosso novo coração”[12].

“O espírito é o impulso que o dirige e regula seus desejos, seus pensamentos, e sua conduta. Os dois serão substituídos e renovados; o coração que é teimoso, rebelde e insensível (o coração de pedra) por um que é macio, impressionável e responsivo {coração de carne). Nada há na palavra hebraica para “carne” que sugira a tendência corrompedora do Grego sarx, conforme é usado no Novo Testamento e especialmente pelo apóstolo Paulo em Romanos 8. O resultado deste transplante psicológico é que Israel passará por uma verdadeira mudança de sentimentos e se tomará, pela iniciativa graciosa de Deus, o tipo de povo que, no passado, deixara de ser de modo tão marcante. A implantação do Espírito de Deus dentro deles transformará seus motivos e lhes capacitará a viver de acordo com os estatutos e os juízos de Deus (27). Jeremias, em passagem semelhante da sua profecia, sobre a qual Ezequiel parece estar baseado (Jr 31:31-34), não faz referência ao dom do Espírito, mas a sua referência é a de que Deus vai imprimir “as suas leis” na nossa mente, inscrevê-las “no coração” claramente produz os mesmos resultados. O revestimento do Espírito era um sinal da era Messiânica (cf. Is 42:1; 44:3; 59:21; Jl 2:28-29). Ezequiel tinha consciência disto e o mencionou em ocasiões posteriores (37:14; 39:29). Para ele, portanto, a restauração de Israel era o início dos últimos dias, a era do Messias. Em harmonia com aquela ideia, o relacionamento da Aliança entre Deus e Israel seria renovado (vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus, 28), e além da purificação das imundícias do passado, haveria a perspectiva de uma Canaã com superabundância de prosperidade natural (29)”[13].

 

IV. USANDO LIÇÕES OBJECTOS E FORMAS PRÁTICAS

Jesus, a partir de (João 3:10-21): “Começando pelo (v.11) torna-se um monólogo entre Jesus e Nicodemos onde Jesus toma a frente e evolui de maneira quase imperceptível.”[14]

“Nicodemos acreditava que o Messias, na sua vinda, seria “levantado” ou exaltado num trono para salvar Israel da total derrota política. Jesus, no entanto, ensinou que em primeiro lugar, o Messias teria que ser levantado de modo bem diferente: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” O Messias teria de ser levantado numa Cruz para salvar a nação do perecimento espiritual.

Qual a conexão entre a crucificação do Filho do homem e a regeneração dos filhos dos homens? Quando Deus criou o homem e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, transmitiu a este não somente a vida mental e física, como também o Espírito Santo. Adão foi criado perfeito, e certamente deve ter recebido o Espírito Santo, pois sem ele a personalidade humana é incompleta diante de Deus. Quando os nossos primeiros pais pecaram, iniciou-se a morte espiritual e deixou de habitar neles o Espírito Santo. Quando, portanto, veio o Redentor, a sua missão era restaurar à humanidade a presença do Espírito. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro. Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito” (Gl 3.13,14). Cristo morreu na cruz a fim de remover o obstáculo que não permitia que a vida humana recebesse a presença de Deus. Este obstáculo era o pecado.”[15]

Em (João 3:13) Jesus faz uma referência ao título de Filho do Homem pois este é a grande designação para pessoa de Jesus. Este é o único que Jesus aplica a si mesmo, é uma expressão hebraica, o que quer dizer, “ben Adam”. Esta expressão é judaica mais os Pagãos usavam. Repare na expressão que foi usada quando Sadraque e seus amigos foram jogados na fornalha: um pagão diz que ver um filho dos deuses o paganismo já tinham um conceito do Filho do Homem.

O Velho Testamento trata a ideia de um Filho do Homem Escatológico bem lá a frente porém, Jesus vem no sinóptico dizendo que é agora (Lucas 4:18). Estêvão, quando vê Jesus vê Jesus de Daniel 7:13. Quando nós tentamos encontrar o Deus que não existe não encontramos o que existe. A designação de Filho do Homem não fazia muito sentido se Jesus tivesse aparecido como Filho do Homem quando apareceu terreno. Uma vez que eles aguardavam pelo Filho do Homem de Daniel 7:13, uma figura escatológica que viria restaurar o Reino. O que estava em frente deles era o Filho do Homem de Isaías 53, o Servo Sofredor. Existia a ideia de que o Filho do Homem seria o Segundo Adão e resolveria o problema do Primeiro. Quando Jesus fala com Nicodemos ele está com a ideia de Daniel 7:13. Isso percebe-se no diálogo de João 3:2 com a ideia do Filho do Homem que vem nas nuvens. Mas Jesus trá-lo para a realidade de Isaías 53 e explica isso com uma lição objecto a partir de João 3:14 onde mostra exatamente como seria nascer de novo através da Nova Aliança eterna que se concretizava na expiação. “No vs.14 encontramos uma ilustração simbólica desse ‘levantar’ de Cristo na narrativa de Moisés e da serpente de metal (ver Núm. 21:9). Os israelitas, uma vez mordidos pelas serpentes, eram curados mediante a obediência à ordem de olharem para a serpente de metal, que havia sido pendurada num poste. Assim também, a vida, a vida eterna, nos vem mediante a contemplação (no sentido de aceitação), ou fé no Filho do homem, na sua morte expiatória e na sua subsequente ressurreição.

O tema que Nicodemos viera debater com Jesus era o reino de Deus, o que o mesmo significa e como alguém pode tornar-se participante do mesmo. Mas Jesus apontou para o reino celestial, mostrando como Nicodemos e todos os homens podem ser admitidos nesse reino, tornando-se participantes dele. Jesus esclareceu, portanto que o novo nascimento é essencial; e aqui ele dá início à explicação sobre como o novo nascimento ocorre, bem e como sobre quais princípios espirituais tem ele o seu alicerce. Uma das grandes pedras fundamentais do novo nascimento é a cruz de Cristo. A fé em Cristo e no que ele fez na cruz, avança para o primeiro plano. É necessária a cura da alma, tão certamente como os israelitas precisavam da cura do corpo devido às mordidas das serpentes venenosas. Usualmente, a serpente serve de símbolo do mal, representando o próprio Satanás. Essa circunstância se torna bom símbolo da condição de perdição dos homens, cujas almas, por estarem alienadas de Deus, estão enfermas até à morte. As mordidas da serpente permeiam, como seu veneno, o arcabouço inteiro de suas vítimas, e outro tanto sucede no caso do pecado, que entremeia a personalidade humana.

No tempo de Moisés, a serpente de metal foi dependurada em um poste a fim de mostrar aos israelitas que, embora o pecado houvesse atraído o julgamento, todavia lhes era oferecida a cura, cura essa verdadeiramente eficaz. Na cruz, embora não houvesse iniquidade alguma em Cristo, Jesus se fez pecado por nós e, no madeiro, foi ele que derrotou o inimigo e fez dele um espetáculo público pelo que lemos no trecho de Col 2:14,15.”[16]

No monólogo, Jesus explica detalhadamente o que acontece quando se entende a Expiação. É através dela que é dado o novo nascimento. Durante todo o diálogo de Jesus com Nicodemos estava baseado nas Escrituras, tudo o que havia escrito sobre Ele nas Escrituras e como iria acontecer a Nova Aliança, qual seria o papel de Jesus, e como Nicodemos faria para fazer parte do reino.

 

 CONCLUSÃO

O novo nascimento é fundamental na vida de um ser humano, o tempo todo o Antigo Testamento, nos dá sombra sobre tudo que iria vir acontecer, percebemos com o diálogo de Nicodemos e Jesus, que tudo o qual Jesus estava a falar com Nicodemos já vinham sendo apresentado como sombra no Antigo Testamento, através do Pentateuco e dos Profetas.

Jesus traz a luz tudo que estava escrito e acontecendo, no qual o que Ele era, (João 8:12) o cordeiro de Deus que foi morto desde a fundação do mundo, o que ele é (Apocalipse 13:8) o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e o que há de vir (João 1:29;Apocalipse 5: 6,8,12) o cordeiro em apocalipse.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      

Através deste diálogo de Jesus e Nicodemos, nos faz ver a real necessidade de Cristo para nascer de novo, pois se não nascermos não veremos o reino de Deus.

Cristo, nos mostra claramente que somente a teologia não salva. Mesmo sendo o maior teólogo ou sábio do mundo, não conseguiria chegar lá com sua sapiência. Somente através de Cristo pois Nicodemos sabia tudo que estava escrito porém não conseguia compreender, pois ele teria que ter fé, por quanto a causa e a porta para o reino estava diante dele.

Não basta só conhecer Jesus e saber quem ele é, não basta só crer em Jesus, pois os demónios crêem e temem, não basta só ter fé nós temos que ter e aceitar a obra redentora de Cristo na cruz e tudo isto, pois o nascer de novo é viver em conformidade com saber quem ele é, crer, ter fé, aceitar a obra redentora e viver dia após dia de acordo com isto, buscando a santificação.

“William MacDonald descreve em seu livro, que o episódio da conversa com Jesus e Nicodemos desde (João 3:1-16) esta nos mostrando a forma que Jesus empregou esse episódio para mostrar a Nicodemos que Cristo teria de ser levantado (crucificado) para conceder vida eterna a quem olhasse para ele pela fé.”[17]. Este é um ponto alto da explicação de Cristo, pois ele o tempo todo estava a falar com Nicodemos através das escrituras.

 

BIBLIOGRAFIA

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MACDONALD, William (2011). Comentário Bíblico Popular Antigo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão.



[1]BEERS, Ronald A. (Editor Geral) (2003). Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, Revista e Corrigida. Pág. 1420.

[2]PIPER, John. Finalmente Vivos – O que acontece quando nascemos de novo? Pág. 29.

[3]PIPER, John. Finalmente Vivos – O que acontece quando nascemos de novo?Pág. 39.

[4]CHAMPLIN, Norman. R. (1997). Enciclopédia De Biblia Teologia e Filosofia(3ª Edição., Vol. 4). Pág. 527.

[5]CHAMPLIN, Norman. R.. O Novo Testamento Interpletado Versículo Por Versículo. Pág. 304.

[6]PIPER, John. Finalmente Vivos – O que acontece quando nascemos de novo? Pág. 38.

[7]GIRAUDO, Tiago (Direção editorial) (1973). A Biblia de Jerusalém.. Pág. 1986.

[8]CHAMPLIN, Norman. R. (1997). Enciclopédia De Biblia Teologia e Filosofia,3ª Edição., Vol. 4. Pág. 529.

[9]ATKINSON, Basil F. C., M.A, Ph.D.. The Atkinson Commentary of the Bible. Pág. 99.

[10]FIGUEIREDO, Pedro. A Questão do Aóyoç e os Discursos de Jesus no Evangelho de S. João. Pág. 96.

[11]PIPER, John. Finalmente Vivos – O que acontece quando nascemos de novo? Pág. 40.

[12]PIPER, John. Finalmente Vivos – O que acontece quando nascemos de novo? Pág. 41.

[13]TAYLOR, John B., M.A. Ezequiel Introdução e comentário. Pág. 208.

[14]BRUCE, F. F..João introdução e comentário. Pág. 83.

[15]PEARLMAN, Myer. João o Evangelho do Filho de Deus. Pág. 45.

[16]CHAMPLIN, Norman. R. O Novo Testamento Interpletado Versículo Por Versículo. Pág. 310.

[17]MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular Antigo Testamento. Pág. 125.

 

A MORTE VOLUNTÁRIA

A MORTE VOLUNTÁRIA

“Então, Saul tomou a espada e se lançou sobre ela.” I Samuel,31:4.

SJTP3aul não foi um herói paradigmático, embora trágico, por isso a sua morte é sem louvor bíblico. Embora David tenha feito uma elegia para o Livro dos Justos, mas essa morte entra no acto deplorável e não recomendável do suicídio. E um suicídio levou a outro.

Algumas culturas muito posteriores iriam ver este acto de Saul e do seu escudeiro como uma maneira honrosa de escapar a uma situação de derrota e de vergonha.

Em todo o caso, a Bíblia Sagrada, sem julgar moralmente os suicidas, refere apenas quatro declarados actos de aplicação da morte a si próprio, sendo três de personagens marcantes: Saul, Aitofel e Judas Iscariotes.

O vocábulo não é remoto, embora no latim se dissesse sui caedere. O termo foi criado ou usado pela primeira vez em 1737 por um historiador e jornalista, o abade francês Pierre Desfontaines, contemporâneo e antagonista de Voltaire, e baseia-se na junção das palavras sui (si mesmo) e caederes (acção de matar).

Remoto é, contudo, o acto em si. E no Velho Testamento o suicídio de Aitofel, apesar de antigo, dir-se-ia que já possui em si mesmo os contornos de um suicídio moderno.

Aitofel chega a casa, pondera sobre as impossibilidades de Absalão sair vencedor, arruma os seus papéis, guarda a sua componente de traição a David e enforca-se. Deixou uma nota de suicídio? Desconhece-se, embora as razões do seu acto limite estejam divulgadas em pormenor no livro bíblico de Samuel (II, 17,23).

 

UM TERMO SOCIAL QUE NÃO SE DESVINCULA DA FILOSOFIA

 

Se há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio.Julgar se a vida merece ou não ser vivida”  -escreveu Albert Camus, in “O Mito de Sísifo”

 O suicídio é sempre um atentado contra o Ser. O filósofo Nietzsche chamou-lhe “morte voluntária”.  Com um significado de desespero e como uma linha de fronteira, entre o ser e a sua essência.

Certo poeta e dramaturgo marselhês, do século XX, recomendou mais a si próprio do que aos outros: «antes de me suicidar exijo que me assegurem a respeito do ser, eu gostaria de estar seguro a respeito da morte»  Esse escritor surrealista, Antonin Artaud, teve a coragem de escrever um livro invulgar em que acusa a sociedade de ter “suicidado” Van Gogh. Mesmo este, ao suicidar-se com 37 anos, escreveu uma mensagem (nota de suicídio) em que dizia: «A tristeza nunca vai embora».

Afigura-se sempre, do lado do observador social, que o suicida é aquele que procura uma saída. O primeiro rei israelita procurou-a. Tal foi também o caso-estudo da história da Literatura anglo-saxónica, no âmbito dos poetas-depressivos, com o suicídio de Sylvia Plath aos 30 anos, em 1963.

 

“Morrer

É uma arte, como outra coisa qualquer.

E eu executo-a excepcionalmente bem.”

(Sylvia Plath, no poema “Lady Lazarus”)

 

O grande mártir da teologia protestante Dietrich Bonhoeffer escreveu no seu livro «Tentação» que o «suicídio é o último acto do drama da tristeza» e apontou o «pecado da tristeza» como um desespero/ desesperatio.

 

 

SEM SAÍDA OU O “HUIS CLOS” DE SARTRE

Em qualquer caso de suicídio, que implique sempre a tomada de consciência do acto na linha de fronteira do desespero, que é «o desejo de nos desembaraçarmos do nosso eu», uma espécie de anseio por um repouso sem conflito, existe sempre a ideia de que se está a fugir da existência, salvo nos casos de suicidas com gravíssimas patologias mentais.

Tanto pensadores cristãos como Paul Tillich ou ateus como Jean-Paul Sartre falam da impossibilidade de fuga a nós próprios ou fugir de algo ou de «um quarto» sem saída. Deste último a conhecida peça «Huis Clos»( «Portas Fechadas»), agnóstica e existencialista, trata do sentimento do ser humano fechado com a sua culpa e a dos outros, numa espécie de quarto que é o «inferno» de Sartre, sem saída. As três personagens estão «mortas» e têm que suportar a convivência e a sua culpa, concluindo para si que o inferno são os outros. É uma peça literária da desesperança. No momento em que uma das personagens tenta matar a outra, é-lhe dito:«O que estás tu a fazer? Tu sabes muito bem que estamos mortas. Nada nos poderá voltar a matar, facas, veneno, cordas. Estamos mortas para sempre.» Naquele mundo / inferno fechado nem o suicídio seria possível.

 

O CONFLITO COM O PRÓPRIO SER, SEGUNDO TILLICH

Num acto suicida estão implícitas questões como: vida x morte, presença x ausência, e elas fazem do acto perpetrado um enigma. A morte natural, mesmo a por doença, não pode ser considerada um enigma, face à causa bíblica e ontológica da morte (o Pecado), ainda que se possa pensar que se morre sempre demasiado cedo ou demasiado tarde.

Mas o suicídio é uma pretensa fuga. Como uma forma de o homem se livrar de si mesmo, considera o teólogo protestante Paul Tillich, de resto como uma total impossibilidade. Porque é também uma auto-negação da vida. De acordo com Tillich é a Fé que dá coragem para existir apesar das aflições, problemas e tragédias que se abatam sobre o Ser, a coragem é essencial ao Ser.

Por isso mesmo o atentado do ser humano à sua existência entra na dimensão teológica e bíblica. Com esta perspectiva, as reacções ao suicídio, ao longo dos séculos, têm variado de cultura para cultura. Em muitas religiões, o acto é considerado pecado. Tratando-se de uma interpretação correcta, não é de estranhar que Agostinho de Hipona tenha hiperbolizado a exegese ao afirmar que os cristãos não podem cometer suicídio, pois este está também compreendido no mandamento «Não matarás» (Ex 20,13).

Porém, tal disputa em torno do suicídio é quase sempre relegada para o terreno do social e das patologias mentais.

Mas se a previsibilidade social deste atentado nem sempre está patente, existem hoje, sobretudo hoje numa sociedade mergulhada em depressões e falta de esperança, alegadamente sem saídas, alguns indicadores de risco:

Tentativa anterior ou fantasias de suicídio. Disponibilidade de meios para o suicídio. Ideia de suicídio abertamente falada. Preparação de um testamento. Luto pela perda de alguém próximo. História de suicídio na família. Pessimismo ou falta de esperança. Jovens suicidas.

E, sobretudo, é preciso que se atente para um fenómeno cada vez mais pressionante do homem e da mulher modernos, o que os especialistas consideram como Borderline. A Perturbação de Personalidade Limite (PPL) que produz um equívoco perigoso, a instabilidade estável, que leva a estados de auto-mutilação diversos que podem culminar com a concretização máxima do suicídio.

Normalmente é apresentada no humor, nos relacionamentos com os outros, na imagem que se tem de si mesmo, nos comportamentos mais diversos na vida familiar e profissional.

Apesar de uma Associação Internacional de Prevenção do Suicídio, que estuda e previne o mesmo, os números no mundo continuam assustadores – mais de 3000 por dia -, e, com certeza, desconhecidos os números daqueles que praticam a «deliberate self harm»( o que designa a intenção de suicídio, ou auto-lesão intencionada).

Dramaticamente entre os jovens ( dos 15 aos 24 anos) o suicídio é a terceira causa de morte, atrás dos acidentes, homicídios ou mesmo guerras. Segundo o INE, que há quase uma década já mostrava números preocupantes, 910 casos.

Face a estes e outros números que as estatísticas hoje evidenciem, finalmente, a tautologia da enfermidade humana: desespero desesperado pela incapacidade de ser, tem no Evangelho de Jesus Cristo o antídoto – o Amor de Deus pelo homem.

Mesmo no desespero contínua hoje válido o que afirmou Kierkegaard: «Quem desespera não pode morrer», isto é, desenvencilhar-se do Eu, mas levá-lo aos pés do Salvador Jesus Cristo.

                                                                                      

 © João Tomaz Parreira

UMA CERTA PARÁBOLA SOCIAL, TEOLÓGICA, COM ESCATOLOGIA

JTP2UMA CERTA PARÁBOLA SOCIAL, TEOLÓGICA, COM ESCATOLOGIA

“Ora, havia certo homem rico, (…) Havia também certo mendigo”  

Evangelho de Lucas

A parábola do “Rico e Lázaro” tem uma linguagem figurativa e, também, sobre uma dolorosa realidade social.

Uma leitura que resolva apenas circunscrever-se à letra, pode induzir-nos mesmo a pensar num princípio de luta de classes. Não é o espírito da parábola, mas, do ponto de vista humano, também não anda longe, porque o que o Senhor Jesus Cristo quis sublinhar e repreender foi a cobiça dos homens e a indiferença dos ricos pelo sofrimento dos pobres.

Usando duas personagens, nomeando uma e deixando incógnita outra (para não ferir identidades conhecidas?), a parábola resolve várias questões do pensamento humano social, teológico e, já agora, da própria escatologia que a parábola contém. E quando Jesus sobre a morte de Lázaro usa a expressão “ser levado pelos anjos”, revestiu poeticamente de beleza a indigência de Lázaro, os seus vestidos rôtos, o seu corpo, coberto na morte pelas mãos dos anjos, como o não foi em vida pelos homens.

No plano social

Na primeira parte da diégese (Lc 16:19-21), o essencial foi a ênfase que Cristo deu ao aspecto social, às relações humanas.

Lucas ao “transcrever”, na narrativa que surge depois de outra sobre assunto totalmente diverso, mas ainda assim no âmbito das críticas aos fariseus, usa uma literariedade para organizar a linguagem da diferença social entre um homem que vivia opulentamente e um pobre, coberto de chagas, que vivia à sua porta, no desprezo do lado de fora da escala social.

A profundidade da acusação de Cristo contra esse rico, e que Lucas deixa nas entrelinhas, é que o auxílio que essa mansão rica concedia ao pobre Lázaro seria apenas a impessoalidade das migalhas, migalhas sem rosto, mais nada. “E desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico”. A caridade sem face.

O nosso conhecimento dos fariseus, permite-nos situá-los como grupo ou seita que floresceu a partir do século II a.C., no tempo dos Macabeus. Muitos séculos antes, a Torah já regulamentava as boas relações humanas, a protecção para os fracos, o que os fariseus deveriam conhecer. Eram tão importantes as boas práticas sociais que até entre os primitivos cristãos a Didaqué (Instrução)  prescrevia: “Não serás cobiçoso nem rapace, nem hipócrita, nem soberbo.” (2,6)

O próprio evangelista Lucas, escreveu que os fariseus “eram avarentos” (16:14)

No plano teológico e escatológico

Jesus Cristo sabia que esta parábola faria silêncios profundos, ainda que não admitidos pelos ouvintes. Mesmo com linguagem figurativa, a teologia não deixaria de abalar os fariseus. Confrontou-os com o devido amor ao próximo, independentemente da sua condição social, agora confrontá-los-ia com Abraão, com o seio de Abraão e com o inferno.

Ora, qualquer fariseu dizia-se descendente de Abraão, reivindicava uma relação de mais de um milénio que, apesar do tempo, autorizava qualquer fariseu a chamar pai ao homem de Ur da Caldeia, o homem a quem Deus chamou Amigo ( Isaías, 41:8).

Colocar o rico no Hades é teologia pura, no que concerne aos resultados do Pecado e da relação do homem com Deus, até na pessoa do próximo, seja-se rico ou pobre. Jesus Cristo afirmou, deitando borda fora toda a pretensa caridadezinha social, com o seu ranço institucional: “Amarás o próximo como a ti mesmo” (Mt 22:39)

Num simples volume de teologia sistemática, como o antigo de Myer Pearlman e.g., a morte é uma consequência estudada no capítulo dos Acontecimentos Finais, e o inferno como lugar de extremo sofrimento, de recordações, remorsos e desejos insatisfeitos. De tudo isso, falou Jesus Cristo nesta parábola, usando a narrativa e a dialogia.

É do conhecimento geral do leitor estudioso da Bíblia, que Lucas tinha cultura linguística e apetência literária no modo como narrava, a estrutura da sua linguagem era composta de elementos literários. Na enunciação do que Jesus Cristo disse, o estilo do discurso relatado – como se chama em linguística-, a situação dos protagonistas é emotiva. A chamada dialogia é perfeita e emocional na parte do diálogo com que Jesus Cristo traz ao temporal o conflito meta-histórico, que ocorre na eternidade, entre o rico e Abraão.

Com efeito, a parábola do Rico e Lázaro é das mais profundamente didácticas e poéticas, no sentido da beleza trágica, que possuímos no Novo Testamento.

Por alguma profunda razão da sensibilidade estética de Lucas, esta parábola só a encontramos no seu evangelho.

Esta belíssima parábola é um compêndio de didáctica, é um quadro, é um poema, que em meia dúzia de linhas expressionistas, embeleza o pobre Lázaro. Aquele que tinha o corpo coberto de chagas, mas foi levado pelas mãos dos anjos.

                                                                                         © João Tomaz Parreira

A EXPIAÇÃO

SamuelPiresA Expiação

 

Samuel David de Jesus Pires

MONTE ESPERANÇA INSTITUTO BÍBLICO
Convenção das Assembleias de Deus em Portugal

 

Trabalho para a disciplina de

Metodologia do Trabalho Científico

do Professor Arq. Samuel Pinheiro

FANHÕES

2013

 

           

ÍNDICE

INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………………………………………. 2

I. A EXPIAÇÃO, SEU SIGNIFICADO………………………………………………………………………. 3

1. O sentido linguístico do termo…………………………………………………………………….. 3

2. O sentido etimológico do termo………………………………………………………………….. 3

3. O sentido teológico do termo……………………………………………………………………… 3

II.  NECESSIDADE DE EXPIAÇÃO…………………………………………………………………………. 5

1. A pecabilidade do homem………………………………………………………………………….. 5

2. A santidade de Deus………………………………………………………………………………….. 6

III.  a causa da expiação…………………………………………………………………………………. 8

1. A justiça de Deus………………………………………………………………………………………. 8

2. O amor de Deus………………………………………………………………………………………… 9

IV. A EXPIAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO……………………………………………………… 10

1. O efeito substitutivo dos sacrifícios do Antigo Testamento…………………………… 10

2. A expiação ao longo do Antigo Testamento………………………………………………… 11

V. A EXPIAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO…………………………………………………………… 16

1. Cristo como substituto……………………………………………………………………………… 16

2. A obediência de Cristo…………………………………………………………………………….. 17

3. O poder da cruz………………………………………………………………………………………. 17

VI. RESULTADO DA EXPIAÇÃO………………………………………………………………………….. 20

1. Propiciação……………………………………………………………………………………………… 20

2. Substituição…………………………………………………………………………………………….. 21

3. Redenção……………………………………………………………………………………………….. 21

4. Reconciliação………………………………………………………………………………………….. 21

CONCLUSÃO…………………………………………………………………………………………………………. 23

BIBLIOGRAFIA……………………………………………………………………………………………………… 24

ABREVIATURAS…………………………………………………………………………………………………… 25

 

INTRODUÇÃO

Esta monografia surge no âmbito da disciplina de Metodologia do Trabalho Cientifico,  lecionada pelo professor Arq. Samuel Pinheiro, tendo sido proposto aos discente Samuel Pires que fosse feita uma análise á doutrina da Expiação.

A expiação é uma das doutrinas transversais da Bíblia, ela estende-se desde o Génesis ao Apocalipse. A expiação é a doutrina em que assenta toda a Escrituras, Deus, em sua eterna misericórdia, estabeleceu um plano que expiasse o pecado da Humanidade.

A expiação surge como resposta de Deus à condição espiritual em que o Homem se encontra. Deus delineia o plano e por toda a Bíblia, Ele demonstra como esse plano se desenvolve, até concluir com o sacrifício de Cristo na cruz. Este trabalho procurará ver esses passos para a expiação do Homem.

Neste trabalho irá ser analisado o que significa a expiação, e como ela se desenvolve desde no Velho Testamento. Será efetuada uma investigação de como o conceito de expiação surge em outras culturas ou religiões. Outro aspeto a investigar é a expiação da Humanidade através do sangue de Cristo. Será analisado ainda, os resultados da expiação, tais como a propiciação, redenção, regeneração, justificação, reconciliação e santificação.

A metodologia utilizada será uma metodologia centrada na Bíblia, aplicando-se o método sistemático. Procurar-se-á analisar os textos chave acerca da expiação e como estes têm sido interpretados e aplicados.

O âmbito da investigação será com base em enciclopédias, dicionários, comentários bíblicos, teologias sistemáticas, onde se analisará a forma como cada autor explica, analisa e valoriza a obra da expiação.

I. A EXPIAÇÃO, SEU SIGNIFICADO

            1. O sentido linguístico do termo

Em termos da língua portuguesa, o Dicionário da Língua Portuguesa define expiação como sendo um “s. f. acto ou efeito de expiar; cumprimento de pena ou castigo; penitência; pl. preces para aplacar a cólera celete.”[1].

            2. O sentido etimológico do termo

Em termos etimológicos, a Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, refere que Expiação “vem do latim, ex (completamente) + piare, significando, aplacar. “[2] A Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã indica que “‘expiação’ interpreta corretamente a ação do verbo heb. ﬧפּﬤ, a raiz significando ‘cobrir’”[3]. O Novo Dicionário da Bíblia indica que a “palavra ocorre no AT para traduzir palavras do grupo kpr, e é encontrada uma vez no NT para traduzir o vocábulo katallage (vocábulo este, que é mais apropriadamente traduzido por ‘reconciliação’)”[4].

            3. O sentido teológico do termo

A expiação, segundo o Novo Dicionário da Bíblia, “é empregado em teologia para denotar a obra de Cristo ao tratar do problema do pecado apresentado pelo pecado humano, levando os pecadores à relação correta com Deus”[5]. A Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã refere que Expiação refere que:

A palavra expiação significa um relacionamento harmonioso ou aquilo que promove tal relacionamento harmonioso ou aquilo que promove tal relacionamento, isto é, a reconciliação. É usada principalmente em referencia à reconciliação entre Deus e o homem efetuada pela obra de Cristo. A necessidade desta reconciliação entre é a brecha no relacionamento original entre o Criador e a criatura, ocasionada pela rebelião pecaminosa do homem.[6]

 

Grudem define expiação como “a obra que Cristo realizou em sua vida e morte para obter nossa salvação”[7]. Pearlman define o ato de expiar o pecado como “ocultar o pecado de Deus de modo que o pecador perca o seu poder de provocar a ira divina”[8].  Expiação é a “tradução da palavra hebraica Kippur, uma forma intensiva que significa ‘cobrir com um preço’”[9].

Podemos concluir que expiação se refere ao sacrifício perfeito de Cristo na cruz, o qual aplacou a ira de Deus, resultante do pecado da humanidade, sendo que o Seu sangue cobriu as transgressões do homem permitindo agora à humanidade, por meio de Cristo, ser reconciliada com Deus.

 

 

                       

II.  NECESSIDADE DE EXPIAÇÃO

A expiação é necessária devido a “dois fatos: santidade de Deus e a pecabilidade do homem”[10].

            1. A pecabilidade do homem

O pecado do homem, colocou-o numa posição de separação e inimizade para com Deus. O homem não consegue fazer nada por si mesmo para conseguir alterar esta situação. A expiação, como veremos de seguida, é necessária devido a três espetos: “a universalidade do pecado, a seriedade do pecado, e a incapacidade do homem resolver o problema do pecado”[11].

 

            a) A universalidade do pecado

Deus criou Adão, coloca-o no jardim e dá-lhe uma simples ordem “da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás” (Génesis 2:17 ARC). Myer Pearlman expica que Deus ao permitir-lhe escolher estava a:

(…) prover um teste pelo qual o homem pudesse, amorosa e livremente, escolher servir a Deus e dessa maneira desenvolver o seu caráter. Sem vontade própria o homem teria sido meramente uma máquina.[12]

 

Deus queria que o homem livremente o amasse e servisse. No entanto, Adão desobedece (Génesis 3), e conforme Deus lhe tinha dito antes, ele ficou condenado à morte (Génesis 2.17).

A desobediência de Adão não tem apenas como consequência a sua expulsão do jardim do Éden ou a sua própria morte, mas a sua desobediência altera a condição de toda a humanidade perante Deus, pois “quando Adão pecou, Deus considerou todos os que descenderiam de Adão pecadores”[13].

Paulo explica que, por um só homem, Adão, e pela sua transgressão, toda a humanidade está sujeita ao pecado (Romanos 5:12-21 ), pois “Deus entendeu que todos nós pecamos quando Adão desobedeceu”[14]. Deste modo, fica claro que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23 ARC).

 

            b) A seriedade do pecado

O pecado não é algo que devemos considerar de uma forma leviana, pelo contrário, ele é demasiado grave para Deus, que qualquer desobediência a Deus é abominável aos seus olhos, pois Deus é tão puro, que não pode ver o mal (Habacuque 1:13), que pelo nosso pecado, antes de termos sido reconciliados com Deus, éramos seus inimigos (Colossenses 1:21). A condição de pecador do homem fá-lo esperar um juízo de Deus para com os seus adversários (Hebreus 10:27).

           

            c) Incapacidade do homem de resolver o problema do pecado

O homem não consegue em momento algum purificar-se a si mesmo  (Salmos 20:9), “nenhuma obra da lei será capaz de tornar o homem justificável idóneo para com Deus (Rm 3.20; Cl 2.16). Se tiver de depender se si mesmo, o homem nunca será salvo”[15].

 

            2. A santidade de Deus

Deus é santo, logo Ele é “justo em caráter e conduta”[16]. No âmbito da sua relação com o homem, Ele estabeleceu leis que “são a transcrição da natureza divina”[17], e que “unem o homem ao seu Criador pelos laços de relação pessoal e constituem a base da responsabilidade humana”[18].

A relação de intimidade que existia entre Deus e homem “foi perturbada pelo pecado que é um distúrbio da relação pessoal entre Deus e o homem”[19]. O pecado impede que Deus e o homem possam relacionar-se, pois é “um ataque contra a honra e santidade de Deus”[20].

Como vimos, o pecado é uma afronta direta a Deus. Deus não o suporta, como é claro em Isaías 59:2. A santidade de Deus e o pecado do homem são incompatíveis. A sua santidade está estritamente ligada à sua justiça. A afronta à santidade de Deus exige a sua justiça. Myer Pearlman refere que:

(…) se Deus permitisse que sua honra fosse atacada então ele deixaria de ser Deus. Sua honra pede a destruição daquele que lhe resiste; sua justiça exige a satisfação da lei violada; e sua santidade reage contra o pecado sendo essa reação reconhecida como manifestação da ira.[21]

 

Segundo a Enciclopédia Bíblia Cultura Cristã, “o pecado é rebelião contra Deus, e ele inevitavelmente deve reagir com ira. o pecado de fato cria uma terrível responsabilidade e a inexorável exigência da justiça divina deve ser satisfeita”[22]. Paulo escreve que “do céu se manifesta a ira de Deus sobre a impiedade e injustiça dos homens (Romanos 1:18 ARC).

A Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, relativamente à ira de Deus, refere que:

(…) não foi castigo que Cristo sofreu na cruz, e sim a ira. A punição é algo contra o ofensor; mas a ira que foi descarregada contra Cristo foi contra a ofensa, o pecado. Cristo suportou aquela ira que o ser e a natureza de Deus sempre e eternamente sentirão contra o pecado. o pecador não pode aproximar-se de Deus, mas deve morrer, deve perecer em sua presença santa – não porque Deus lhe vote ódio, mas porque Deus é santo. Por essa razão essa razão é que Cristo morreu – e foi abandonado à ira de Deus, porque tomou sobre si mesmo os nossos pecados, sobre seu próprio corpo no madeiro.[23]

 

 

 

 

III.  a causa da expiação

A expiação era necessária pois, como vimos anteriormente, o homem estava em pecado e o seu pecado é incompatível com a santidade de Deus, impossibilitando o relacionamento entre Deus e o homem.

Wayne Grudem refere que “o amor e a justiça, foram a causa última da expiação”. Nem uma, nem a outra são mais importantes, porque sem amor Deus não teria tomado a decisão de nos resgatar e sem a sua justiça, a exigência que existia no pagamento da pena pelo pecado, e que só poderia ser cumprida em Cristo, nunca teria acontecido[24].

 

            1. A justiça de Deus

A justiça de Deus “clamou pelo castigo pelo pecador, mas sua graça proveu um plano para o perdão. Ao mesmo tempo ele faz justiça a seu caráter como Deus Justo e reto”[25].

A justiça de Deus “requeria que Deus encontrasse o meio para que a penalidade que nos era devida por causa de nossos pecados fosse paga”[26]. Romanos 3:25 refere que Deus, o Pai, “propôs [a Jesus] para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados” (ARC).

Paulo escreve em 2 Coríntios 5:21 que “aquele [Jesus] que não conheceu pecado, [Deus] o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (ARC). A Enciclopédia Bíblica Cultura Cristã refere, relativamente a este texto que:

(…) Cristo não foi feito pecador no sentido de ser poluído interiormente. Em vez disso foi considerado pecador; o pecado do homem lhe foi imputado, assim como sua justiça foi imputada aos homens. Ele levou sobre si a condenação do pecado, de maneira que agora não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus (Rm.8:1). Ele foi feito “maldição por nós”, a fim de que nele fôssemos feitos justiça de Deus (Gl 3.13).[27]

Com esta ação Deus, não abdicou nem da sua santidade, nem da sua justiça, pelo contrário, demonstra-as, assim como ao seu imenso amor, deste modo “o castigo do pecado foi pago no Cálvário, e a lei divina foi honrada; dessa maneira Deus pôde ser benévolo sem ser injusto, e justo sem ser inclemente”[28].

 

            2. O amor de Deus

A expiação é a maior expressão de amor alguma vez feita. Deus “amou o mundo de tal maneira deu seu Filho unigénito, para que todo aquele que crê não pereça mas tenha a vida eterna” (João 3:16 ARC). A Enciclopédia Bíblica Cultura Cristã explica que:

(…) a expiação encontra sua explicação definitiva num desejo insondável de Deus em relação às suas criaturas pecaminosas e alienadas. ele se agradou, por razões que só ele conhece, em demosntrar seu amor àqueles que são indignos. O Senhor amou os homens com amor eterno (Jr 31.3), e no tempo devido demonstrou este amor no fato de que Cristo morreu por eles quando ainda eram pecadores (Rm 5.8). Essa, é a razão final para a expiação.[29]

 

Na obra da expiação é que compreendemos o amor de Deus, mesmo nós não amando a Deus, Deus envia seu Filho para que por ele fosse feita propiciação pelos nossos pecados (1 João 4:10). Nunca ninguém vai descobrir nela própria “nenhum valor ou dignidade que justifique o amor divino, ainda assim Deus as ama porque ele é amor”[30].

IV. A EXPIAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

O uso de sacrifícios existem em várias culturas desde os séculos, pois “apesar de serem perversões do modelo original, os sacrifícios pagãos baseiam-se em duas ideias fundamentais: adoração e expiação”[31]. O modelo original é o que é explicado por todo o Antigo Testamento, o qual passaremos a explicar.

No Antigo Testamento, os sacrifícios, segundo a Enciclopédia Bíblica Cultura Cristã:

(…) dão testemunho da rutura na comunhão entre Deus e o homem pecador, reconhecem a justiça de juízo divino sobre o homem como pecador e, finalmente, constituem a provisão para o pecador e, finalmente, constituem a provisão para o perdão do homem e a sua reconciliação com Deus, o que foi divinamente apontado.[32]

 

Millard Erickson refere que “antes da morte sacrificial de Cristo, era necessário oferecer sacrifícios regularmente, para compensar os pecados cometidos”[33]. Os sacrifícios do Antigo Testamento “tiveram o seu cumprimento na morte de Cristo”[34].

 

            1. O efeito substitutivo dos sacrifícios do Antigo Testamento

Os sacrifícios tinham efeito substitutivo, pois a vitima estava em lugar do pecador, conforme indica Millard Erickson, estes: “foram livrados da punição pela imposição de algo entre o pecado deles e Deus. Deus, portanto via o sacrifício expiatório em lugar do pecado.[35]” Para poder verificar-se este efeito substitutivo, era ainda precisos que fossem cumpridos outros requisitos.[36] A vitima a sacrificar “sempre tinha que ser sem defeito, o que indica a necessidade de perfeição”[37]. A vítima a sacrificar “não era barata, pois o pecado nunca deve ser considerado coisa banal”[38].

A vitima em si, não tinha valor expiatório, pois, conforme indica o Novo Dicionário Bíblico, “a expiação era obtida não por qualquer valor inerente na própria vitima oferecida, mas sim porque o sacrifício é o meio divinamente apontado para fazer explanação.”[39]

Estando estes aspetos cumpridos, Millard Erikson refere que:

(…) a pessoa por quem a expiação estava sendo feita devia apresentar o animal e colocar as mãos sobre ele (Lv 1.3,4). A imposição de mãos sobre o animal simbolizava uma transferência da culpa do pecador para a vítima. Depois, a oferta ou sacrifício era aceite pelo sacerdote.[40]

 

Em todo este processo de expiação a “morte da vitima era a parte mais importante”[41] pois era nesse momento que, a vitima, através do derramamento de sangue espiava os pecados do pecador.

Apesar de ser necessário que sangue fosse derramando para cobrir os pecados o seu efeito só aconteceria se o pecador se aproximasse de Deus com fé e arrependimento, situação que fica clara em Hebreus 11, pois todos os heróis descritos, foram justificados pela fé. Todos os que são descritos com maior pormenor, são todos aqueles que viveram no período anterior à lei.

Davi no Salmo 51, quando arrependido do seu pecado, refere nos versículos 16 a 18 que:

(…) te não comprazes em sacrifícios, senão os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus… Então te agradarás de sacrifícios de justiça dos holocaustos e das ofertas queimadas; então, se oferecerão novilhos sobre o teu altar.[42]

 

Davi compreendeu o significado dos sacrifícios, pois, como refere F. B. Meyer relativo a este Salmo:

Não há sacrifício mais agradável a Deus do que um coração contrito, nem oferta mais preciosa que um espírito quebrantado.[43]

 

 

            2. A expiação ao longo do Antigo Testamento

 Veremos de seguida como a expiação é surge em todo o Antigo Testamento.

 

            a) A expiação no Éden

No Jardim do Éden, após a queda de Adão, Deus “ofereceu um vislumbre da solução que viria por meio de seu único Filho (cf. Gn 3.15)”[44].  O Novo Comentário Bíblico AT, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos, refere que:

Gênesis 3.15 é chamado por muitos teólogos de proto evangelho, porque neste texto Deus promete o vindouro Salvador, o nosso Senhor Jesus Cristo, que destruiria Satanás de seu poder e desfaria sua má obra, assim como um homem ao esmagar a cabeça de uma serpente debaixo de seus pés. o Senhor estava mostrando misericórdia mesmo quando Ele julgava (Gn 4.15).[45]

 

Deus cobriu Adão e Eva de vestes feitas de peles de animais (Génesis 3:20). Deus veste-os pois com a sua queda, pois, como refere Myer Pearlman:

(…) se tornaram conscientes da nudez física – o que era uma indicação exterior da nudez da consciência. Seus esforços em se cobrirem exteriormente com folhas e interiormente com desculpas foram em vão.[46]

 

Franklin Ferreira indica que “o princípio de se ter sacrifícios para apagar os efeitos do pecado é estabelecido logo em seguida pela morte de animais, com o intuito de providenciar a vestimenta do primeiro casal (Gn 3:21).[47]

 

Segundo o Novo Comentário Bíblico AT, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos, Génesis 3:21:

(…) é a primeira vez que é mencionada na Bíblia a matança de animais para o uso humano. O derramamento de sangue destes animais foi, de certa forma, percursor do sistema de sacrifícios de inúmeros animais, conforme a Lei revelada no Sinai a Moisés. e todos os sacrifícios que aparecem no Antigo Testamento já apontavam para o fato de que um dia haveria o maior sacrifício de todos: a morte vicária de Jesus, para o perdão de todos os nossos pecados e a nossa libertação do jugo de Satanás.[48]

 

Como podemos concluir, o primeiro sacrifício é instituído por Deus, e executado por Ele, mas o último e derradeiro é o Seu próprio Filho a ser sacrificado por toda a humanidade, trazendo expiação aos pecados de todo o homem.

 

            b) Os sacrifícios nos patriarcas

Após a instituição dos sacrifício pelo próprio Deus no Éden, essa prática é verificável em todo o Génesis, até à sua regulamentação quando Deus dá a lei a Moisés.

O sacrifício que Abel apresentou a Deus, descrito em Génesis 4:4, foi aceite por Deus. O sacrifício de animais apresentado foi aceite, porque esse tinha sido o método indicado por Deus.

Algumas linhas de interpretação indicam que o referido sacrifício, apenas foi um sacrifício de adoração[49]. No entanto, Hebreus 11:4, o capítulo que explica a justificação pela fé, refere que “Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo que alcançou testemunho de que era justo” (ARC). F. B. Meyer esclarece que:

Abel, profundamente consciente de pecado, sentia que era necessário um sacrifício; portanto, sua fé o salvou; por ela, ele se acha ligados a todos os que crêem. (Ver Hebreus 11.4).[50]

 

Outro grande exemplo de sacrifício, verificamos em Génesis 22:1-19, quando Deus pediu a Abraão para sacrificar Isaac, o filho da promessa. Este foi um sacrifício estranho, pedir a um homem para sacrificar o seu filho, mas em ato de fé e obediência, Abraão estava disposto a fazê-lo, e isso era apenas o que Deus queria que ele fizesse.

Deus nunca quis que Abraão sacrificasse seu filho, pois para Deus retirar a vida a alguém é algo para Deus abominável. Deus demonstra em Génesis 4:8-16 quão terrível é a condenação por homicídio, quando ao questionar Caim da morte do seu irmão, castigou-o, e determina que aqueles que o matasse seriam ainda mais severamente castigados. Também outros textos, revelam que Deus abomina o sacrifício humano, tais como Levítico 18:21, Levítico 20:2, Deuterenómio 12:31 e Salmos 106:35-38.

Deus nunca aceitaria sacrifício humano, pois este nunca, como vimos antes, seria impuro, imperfeito. Dai sempre era necessário um substituto. Os comentários da Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal referem para termos atenção ao:

(…) paralelo entre o sacrifício oferecido no altar, como substituto de Isaque, e Cristo oferecido na cruz como nosso substituto. Embora Deus tenha impedido Abraão de sacrificar o seu filho, Ele não poupou seu próprio Filho, Jesus, da morte de cruz. Se Jesus não tivesse vivido, toda a humanidade morreria. Deus enviou seu único Filho para morrer por nós a fim de que pudéssemos ser poupados da morte eterna merecida e ganhar a vida eterna (Jo 3.16).[51]

 

Outro episódio importante para a compreensão dos sacrifícios, e que é descrito em Éxodo 12, é a instituição da primeira Páscoa. Os hebreus estavam oprimidos no Egito, e Deus envia Moisés para os libertar.

Deus ordena ao povo para sacrificar um cordeiro ou cabrito sem mácula, e espargir as ombreiras das portas, e assim quando o anjo da morte passasse, eles fossem salvos. Os comentários da Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal indicam que:

Ao mataram o cordeiro, os israelitas estariam derramando sangue inocente, e o animal sacrificado servia de substituto do primogénito que seria morto naquela casa. Desse ponto em diante, o povo hebreu entenderia com clareza que, para ser poupado da morte, uma vida inocente deveria ser sacrificada em seu lugar.[52]

 

            b) Os sacrifícios na lei

O capítulo 16 de Levítico explica como tinham que ser efetuados os sacrifícios expiatórios. Percebemos neste capítulo que, não bastava apenas efetuar um sacrifício pelos pecados, era necessário fazer confissão dos mesmos.

A Enciclopédia Bíblica Cultura Cristã explica da seguinte forma como se desenrolava o Dia da Expiação:

A cerimónia envolvia muitos detalhes, alguns dos quais não são bem compreendidos, embora fique totalmente claro que naquele dia havia o mais elevado exercício da função mediadora do sumo sacerdote. Sendo ele próprio um pecador e representante de um povo pecaminoso, despia suas vestes sacerdotais, banhava-se e se vestia com roupas destituídas de qualquer tipo de ornamento, apropriadas para alguém que suplicava por perdão. Essa roupa era totalmente branca, simbolizando a pureza requerida daqueles que entrariam na presença do Santo de Israel. Assim preparado e vestido, o sumo sacerdote oferecia os sacrifícios que eram o climax de todo o sistema de purificação de Levítico. por meio desses sacrifícios, que envolviam a confissão do pecado (o sacerdote impunha suas mãos sobre a cabeça do bode expiatório, confessava as transgressões de Israel, colocando-as sobre a cabeça do bode, Lv 16.21), e a aspersão do sangue sete vezes no propiciatório, onde habitava a presença de Deus, o sacerdote fazia a expiação dos pecados do povo. Assim, por meio de um ato cerimonial no santuário central, a paz e a comunhão com o Deus da aliança eram restauradas. Simbolicamente, operava-se a total remoção da causa da alienação de Deus, pela entrega da vida de um animal e pelo envio de outro animal para o deserto.[53]

 

Estes sacrifícios envolviam sempre sangue, pois segundo Levítico 17:11, era por meio de sangue que se fazia expiação de pecados. F. B. Meyer explica que “quando o sangue produz expiação, aprendemos que ele assim opera porque representa a vida do animal imolado. Uma vida dada por outra vida, uma alma dada por outra.”[54]

 

            b) A Expiação nos Profetas

O capítulo 53 de Isaías, é em termos do Antigo Testamento, o capítulo chave acerca da expiação. Este capítulo refere que o Messias iria tomar sobre si as nossas transgressões, que Ele seria ferido e quebrantado pelas nossas transgressões, pois Ele estava assumindo sobre Ele o castigo que nos daria a reconciliação com Deus.

Uma expressão difícil de entender surge no versículo 10. “… ao SENHOR agradou o moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação…” (ARC). Este versículo demonstra claramente, a forma como a ira  de Deus contra o pecado da humanidade tinha que ser satisfeita. Earl Radmacher explica da seguinte forma este versículo:

Ao pai agradou que o Filho morresse, porque esse ato encobrirá os pecados de muitos e os reconciliará com Deus (v. 11) a expiação e representada na oferta de expiação, o sacrifício de um cordeiro para garantir o perdão divino (Lv 5.6,7,15; 7.1; 14.12; 19.21). Aqui o profeta Isaías descreve o Servo do Senhor como uma oferta de expiação.[55]

 

Este texto demonstra como seria a obra do Messias prometido, e da sua entrega expiatória pelos pecados, tendo-se cumprido na sua integridade com o sacrifício de Cristo na cruz.

V. A EXPIAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO

Todo o Antigo Testamento estava a preparar o caminho para a chegada do Messias, o Ungido tão esperado. No entanto, os planos de Deus eram muito diferentes dos estabelecidos pelos judeus para o Messias prometido.

Deus tinha estabelecido que o Messias viria para fazer expiação pelos pecados, não apenas fazer sacrifícios, mas antes, ser Ele próprio o sacrifício.

Hebreus 10:5-18 é sem dúvida o texto chave da expiação. Este texto demonstra que nenhum sacrifício de animais era suficiente para Deus. Estes nunca poderiam tirar os pecados. Deus esperava o maior de todos os sacrifícios, o qual tinha sido preparado desde sempre. O sacrifício de Cristo foi o sacrifício perfeito. Matthew Henry explica desta forma este texto:

Com base na prontidão e disposição que Cristo manifestou para se engajar nessa obra, quando nenhum outro sacrifício seria aceito (vv. 7-9). Quando nenhum sacrifício menor seria apropriado a justiça de Deus do que o do próprio Cristo, então Cristo voluntariamente veio: “Eis aqui venho, para fazer, o Deus, a tua vontade. Que a tua maldição caia sobre mim, mas deixa que estes sigam o seu caminho. Pai, deleito-me em cumprir os teus planos, e minha aliança contigo por eles; deleito-me em realizar todas as tuas promessas, em cumprir todas as tuas profecias.[56]

 

 

            1. Cristo como substituto

No Antigo Testamento eram usados animais como substitutos em lugar do homem. Jesus Cristo surge como substituto de toda a humanidade, pois tal como disse João Batista, Ele é o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29 ARC). Myer Pearlman explica que “Cristo, na cruz, fez por nós o que não podíamos fazer por nós mesmos, e qualquer que seja a nossa necessidade, somos aceitos ‘por sua causa’”[57].

Cristo ocupou o lugar do homem na cruz, pois só alguém perfeito poderia ocupar essa posição de substituto. Wayne Grudem, ao definir expiação refere que esta “é a obra que Cristo realizou em sua vida e morte para obter nossa salvação”[58]. A ação substitutiva de Cristo só é possível pois toda a sua vida foi perfeita. Se Cristo alguma vez tivesse pecado, ele estaria a morrer pelos seus próprios pecados, e desse modo a sua morte não possuiria qualquer ação expiatória.

 

            2. A obediência de Cristo

Cristo em tudo demonstrou obediência ao Pai. Mesmo sendo Deus, pela obediência ao Pai, abandona a glória em prol da humanidade que antes tinha desobedecido a Deus. Jesus, humilha-se, assumindo a forma da criatura, a humanidade, para obedecer ao Pai, morrendo por ela.

A humanidade procura ser igual a Deus, elevando-se em soberba, desobedece a Deus e caí. Jesus, vem em humilhação, obedece ao Pai, sofrendo a maior de todas as humilhações, padecendo na cruz, mas por suas obras gloriosas, o Pai o exalta acima de todas as coisas, e Nele são levantados todos os que estavam caídos (Filipenses 2:5-8). F. B. Meyer explica que neste texto o apóstolo Paulo:

(…) nos pede para avaliar a dimensão da descida do Filho de Deus quando veio até nós para socorrer-nos. Observemos os sete degraus: ele tinha a forma de Deus, isto é, na mesma medida em que foi servo, ele era Deus; “subsistindo em forma de Deus… assumindo a forma de servo”. Com toda a certeza ele era servo e igualmente Deus. Mas não tentou agarrar-se á sua condição divina, porque essa já lhe pertencia. Ele se esvaziou, isto é, recusou-se a tirar proveito dos seus atributos divinos, para que pudesse ensinar-nos o significado de sermos totalmente dependentes do Pai. Como servo, ele obedeceu às leis que ele próprio tinha criado. Ele se tornou homem – um homem humilde, que morreu na cruz. E foi sepultado. Mas os significado de sua descida foi o de sua ascensão, e, a todos os seus nome ilustres, está agora acrescentado o de “Jesus-Salvador”.[59]

 

 

            3. O poder da cruz

Em 1 Coríntios 1:8 refere que “a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” Todos os que não crêem em Deus não compreendem o poder transformador da cruz.

A cruz era o destino de Cristo desde a fundação do mundo. Jesus, desde o início do seu ministério aqui na terra, até ao momento da sua crucificação, sempre ensinou, que a sua vinda só tinha um objetivo, a cruz (cf. Mateus 16:21; 20:17-18; Marcos 8:31; 9:31; Lucas 9:22).

Todo o processo depois da última ceia até à crucificação é muito doloroso. Jesus é sujeito a violência extrema, e a escárnio e rejeição constante.

O momento que marca o início da caminhada final para a cruz, é quando Jesus ora no Getsemani. A dor de Jesus é tão agonizante que soa gotas de sangue. O sofrimento é tanto que pede “Pai, se queres, passa de mim este cálice” (Lucas 22:42 ARC).

O cálice que Jesus se refere, não tem haver com qualquer medo de morrer, mas sim algo pior que isso, algo que ele nunca havia experimentado em toda a eternidade, “a separação total do Pai, que o Filho teria de experimentar, ao tomar sobre si na cruz os pecados da humanidade”[60]. Jesus iria experimentar o sabor amargo e venenoso do pecado, algo que, sendo Ele perfeito, nunca conheceu, mas que, para resgate da humanidade, teve que conhecer, ao assumir sobre si o pecado de todos os homens.

Quando Jesus é pregado à cruz, naqueles momentos de desespero, Ele clama ao Pai: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46 ARC). A separação entre Deus, o Pai e Deus, o Filho, nunca tinha antes acontecido. Uma eternidade de comunhão entre ambas as pessoas da trindade, tinha sido interrompida nesse momento. Essa separação acontece porque Jesus estava a sentir toda a ira de Deus pelo pecado, “a agonia física era terrível, mas pior era o período de separação espiritual de Deus. Jesus sofreu tanto para que nunca tivéssemos de experimentar a separação eterna de Deus”[61].

Quando Jesus está prestes a expirar, Ele declara “Está consumado” (João 19:30 ARC). Com esta expressão Jesus está a cumprir “toda a vontade do Pai e toda profecia das Escrituras, Jesus morreu voluntariamente. Seu brado não foi de exaustão, mas de missão cumprida. Jesus fez o que tinha que fazer.”[62] Tudo estava cumprido, a salvação estava agora disponível a toda a humanidade.

No momento da sua morte, como é descrito em Marcos 15:38, o véu do Templo rasga-se de alto abaixo. Os comentários da Bíblia de Estudo de Aplicação Pessoal esclarecem que:

No Tempo, uma pesada cortina separava o Lugar Santo do Lugar Santíssimo, reservado para o próprio Deus. Simbolicamente, essa cortina separava o deus santo do povo pecador. Esse lugar só podia ser visitado uma vez por ano, no Dia da Expiação, quando o sumo sacerdote oferecia sacrifícios para obter o perdão dos pecados de todo o povo. Quando Jesus Morreu, a cortina se rasgou ao meio, de a baixo, para indicar que a morte expiatória de Jesus abriu o caminho para nos aproximarmos de nosso Deus santo. A cortina completamente rasgada mostra que Deus mesmo foi quem abriu esse caminho de acesso direto a Ele.[63]

 

Com a morte de Cristo, todos os sacrifícios de animais deixaram de ser necessários, pois o sacrifício de Jesus é agora mais que suficiente para expiar os pecados de toda a humanidade (Hebreus 9:23-28).

Tudo o que é referido, em termos do Antigo Testamento, relativamente à expiação é cumprido com o sacrifício de Cristo na cruz. Ele é o sacrifício que foi imolado na cruz. O seu sangue derramado substitui o sangue dos animais, que antes eram sacrificados. O seu sangue foi derramado para propiciação (Hebreus 10:5-8).

O sangue de Cristo derramado na cruz torna-se o preço que foi pago para resgate de toda a humanidade (1 Pedro 1:18-19), pois “Deus nos resgatou da tirania do pecado, não com dinheiro mas com o precioso sangue de seu próprio Filho”[64].

 

           

 

VI. RESULTADO DA EXPIAÇÃO

A obra da cruz é poderosa para salvar todo o que crê (1 Coríntios 1:18), pois “para os que se curvam humildemente com fé, ela se torna o poder capaz de arrebatá-los da morte e dar-lhes a vida eterna”[65].

Wayne Grudem, relativamente aos efeitos que a expiação tem, ele refere que

(…) a morte de Cristo satisfez quatro necessidades que temos como pecadores:

  1. Nós merecemos morrer como penalidade pelo pecado.

  2. Nós merecemos suportar a ira de Deus contra o pecado.

  3. Nós estamos separados de Deus por causa dos nossos pecados.

  4. Nós éramos em escravos do pecado e do reino de Satanás.[66]

 

Vamos analisar de seguida, as necessidades que a expiação satisfez no homem, para tal vamos analisar a doutrina da propiciação, substituição, redenção e reconciliação.

 

            1. Propiciação

Propiciação, segundo Myer Pearlman, pode ser definida como “juntar, tornar favorável ou efetuar reconciliação”[67].

O mesmo autor refere que “um sacrifício de propiciação traz o homem para perto de Deus, reconcilia-o com Deus, fazendo expiação por suas transgressões, ganhando graça e o favor divinos.” Myer Pearlman explica ainda que “propiciar é aplacar a ira de Deus santo pela oferenda dum sacrifício expiatório. Cristo é descrito como sendo essa propiciação.”[68]

Compreendemos que já não estamos debaixo da ira, mas agora somos abrangidos pelo amor de Deus (Efésios 2:3-5).

A propiciação é explicada nas sagradas Escrituras em 1 João 2:4 e 4:10, assim como em Romanos 3:25.

 

 

 

            2. Substituição

Como vimos antes, o sacrifício de Cristo foi substituto, Ele ocupou o lugar que nos era destinado. Millard Erickson refere que “Jesus levou os nossos pecados -os pecados foram colocados sobre ele ou transferidos de nós para ele.”[69]

Esta doutrina é explicada em João 1:29; 1 Pedro 2:24.

 

            3. Redenção

Redimir tem o seguinte significado “tornar a comprar por um preço”[70]. Como expõe Wayne Grudem, “como pecadores estamos em escravidão ao pecado e a Satanás, necessitamos de alguém para proporcionar redenção”[71].

Relativamente à redenção, surge a questão de a quem seria pago esse resgate, o referido autor desenvolve o assunto da seguinte forma:

Embora estivéssemos em escravidão ao pecado e a Satanás, não havia nenhum “resgate” pago seja ao “pecado” seja ao próprio Satanás, porque eles não têm poder de exigir tal pagamento, tampouco Satanás teve sua santidade ofendida pelo pecado e exigiu a penalidade a ser paga pelo pecado. (…) a penalidade foi paga por Cristo e aceite por Deus.[72]

 

O homem pelo sacrifício de Cristo encontra-se agora livre da escravidão do pecado em que ser encontrava.

Esta doutrina surge explicada nas Escrituras em 1 Pedro 1:18-19, Romanos 3:24-25.

 

            4. Reconciliação

Deus, Ele que era quem foi ofendido pela desobediência do homem. O pecado do homem tornou-o inimigo de Deus, mas é o próprio de Deus que prepara o caminho para a reconciliação através da obra expiatória de Jesus Cristo na cruz (2 Coríntios 5:18-19). Myer Pearlman refere que:

Através das Escritura vemos que é Deus, a parte ofendida, quem toma a iniciativa em prover expiação pelo homem. (…) Esse ato de reconciliação é uma obra consumada; é uma obra realizada em beneficio dos homens, de maneira que, à vista de Deus, o mundo inteiro está reconciliado. Resta somente que o evangelista a proclame e que o indivíduo a receba. a  morte de Cristo tornou possível a reconciliação de todo o gênero humano com Deus; cada indivíduo deve torná-la real.[73]

 

Podemos ver esta doutrina explicada na Bíblia em Colossenses 1: 20-21.

 

           

 

CONCLUSÃO

Com a análise à doutrina da expiação efetuada nesta monografia, podemos compreender quanto o homem estava longe de Deus, e como era necessário expiação pelos seus pecados para poder ter novamente relacionamento com Deus.

Podemos, nesta monografia, compreender como a expiação referida no Antigo Testamento era uma sombra da obra que Jesus viria a fazer na cruz em resgate da humanidade.

Procurou-se abrangir todos os objetivos inicialmente propostos para a análise à doutrina da expiação.

No entanto, devido à limitada extensão da monografia, não foi efetuado inquérito acerca do conhecimento do termo da expiação, quer por cristãos evangélicos, quer por pessoas de outras crenças. Também, pelas mesmas limitações, possibilidade de analisar as diferentes correntes teológicas acerca da doutrina da expiação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

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BEERS, Ronald A. (Editor) (2003). Biblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD.

 

ABREVIATURAS

ARC – João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida

s.f. – Sujeito feminino.

v. . Versículo.

vv. – Versículos.

cf. – Conferir.

Pág. – Página.

Gn – Génesis.

Lv – Levítico.

Jr – Jeremias.

Jo – João.

Rm – Romanos.

Gl – Gálatas.

Cl – Colossences.

 


[1] COSTA, J. Almeida & MELO, A. Sampaio e Melo (Editores). Dicionário da Língua Portuguesa. Pág. 794.

[2] CHAMPLIN, R. N., Ph.D. (Editor). Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Volume 3. Pág.  683.

[3] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 705.

[4] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481.

[5] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481.

[6] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 709.

[7] GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Pág. 271.

[8] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 132.

[9] MENZIES, William W. & HORTON, Stanley M.. Doutrinas Bíblicas: Uma Perspectiva Pentecostal. Pág. 103.

[10] PEARLMAN, Myer, Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 130.

[11] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481.

[12] PEARLMAN, Myer, Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 87.

[13] GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Pág. 231.

[14] Idem. Pág. 231.

[15] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481.

[16] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 130.

[17] ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 328.

[18] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 130.

[19] Idem. Pág. 130.

[20] Ibidem. Pág. 130.

[21] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 130.

[22] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 712.

[23] CHAMPLIN, R. N., Ph.D. (Editor). Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Volume 3. Pág.  683.

[24] GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Pág. 272.

[25] Idem. Pág. 272.

[26] Ibidem. Pág. 272.

[27] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 712.

[28] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 132.

[29] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 711.

[30] Idem. Pág. 711.

[31] PEARLMAN, Myer Pearlman. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 124.

[32] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 709.

[33] ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 328.

[34] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 709.

[35] ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 330.

[36] Idem. Pág. 330.

[37] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481.

[38] Idem. Pág. 481.

[39] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481.

[40] ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 330.

[41] DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 482.

[42] Salmos 51:16-17,19 (ARC).

[43] MEYER, F. B.. Comentário Bíblico Devocional, Velho Testamento. Pág. 288.

[44] FERREIRA, Franklin & MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto actual. Pág. 596.

[45] RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores). Novo Comentário Bíblico AntigoTestamento, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos. Pág. 18.

[46] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 124.

[47] FERREIRA, Franklin & MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto actual. Pág. 596.

[48] RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores). Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos. Pág. 20.

[49] RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores). Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos. Pág. 22.

[50] MEYER, F. B.. Comentário Bíblico Devocional, Velho Testamento. Pág. 15.

[51] BEERS, Ronald A. (Editor). Biblia de Estudo Aplicação Pessoal (Comentários). Pág. 38.

[52] Idem. Pág. 99.

[53] TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 710.

[54] MEYER, F. B.. Comentário Bíblico Devocional, Novo Testamento. Pág. 216.

[55] RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores). Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos. Pág. 1093.

[56] HENRY, Mattew. Comentário Bíblico Matthew Henry, Novo Testamento, Atos a Apocalipse. Pág. 793.

[57] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 134.

[58] GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Pág. 271.

[59] MEYER, F. B.. Comentário Bíblico Devocional, Novo Testamento. Pág. 216.

[60] BEERS, Ronald A. (Editor). Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal (Comentários). Pág. 1400.

[61] Idem. Pág. 1281.

[62] RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores). Novo Comentário Bíblico Novo Testamento, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos. Pág. 278.

[63] BEERS, Ronald A. (Editor). Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal (Comentários). Pág. 1333.

[64] Idem. Pág. 1765.

[65] RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. & HOUSE, H. Wayne (Editores). Novo Comentário Bíblico Novo Testamento, com recursos adicionais – a Palavra de Deus ao alcance de todos. Pág. 412.

[66] GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Pág. 279.

[67] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 123.

[68] Idem. Pág. 123.

[69] ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. Pág. 330.

[70] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 135.

[71] GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Pág. 279.

[72] Idem. Pág. 279.

[73] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Pág. 136.

ABA PAI

SamuelPinheiroABA PAI  

“E, porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.” (Gálatas 4:6)

                O Deus cristão, o Deus da Bíblia é Pai, Filho e Espírito Santo. Três pessoas distintas e um só Deus. A triunidade contém um valor relacional marcante na própria essência da divindade e que Jesus Cristo manifesta de forma indelével. Pai e Espírito Santo estão presentes de um modo permanente e absolutos na Sua existência terrena. Apenas no momento dramático da cruz Jesus exclama: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46), para logo mais, em alta voz, depositar nas mãos do Pai o seu espírito: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.” (João 23:46) A relação das três pessoas divinas da trindade é igualmente trazida para o seio da humanidade no sentido de que seja vivida na comunhão de todos os santos, remidos pelo sangue de Jesus. Jesus morre para trazer-nos de volta à relação pessoal com Deus, e a um relacionamento fraternal uns com os outros na igreja – corpo de Cristo. Esta fraternidade deriva da filiação divina. Filhos de Deus e irmãos uns dos outros. Este é um novo patamar da relação entre Deus e os homens. De criaturas que todos somos de Deus, para a situação de filhos que apenas é possível através de Jesus Cristo. Todos somos criaturas, mas filhos apenas são os que recebem a Jesus como Salvador e Senhor. O Filho ao morrer deu-nos a possibilidade de sermos feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu nome. De Deus como Criador para Deus enquanto Pai. Por Jesus vamos ao Pai.

                Jesus, o Filho de Deus, veio até nós tomando a nossa própria constituição, para nos dar a conhecer pessoalmente o Pai sendo que o Espírito Santo domina toda a sua vida. A ideia de um Deus longínquo, de costas voltadas para o homem e com o qual não possível ter intimidade e conhecer pessoalmente, é totalmente arrasado pela pessoa de Jesus Cristo.

                Em primeiro lugar na vida de Jesus Cristo, como Filho de Deus entre nós, fica patente a relação de absoluta intimidade com o Pai. Uma relação de total dependência e radical confiança. Muitas e variadas são as declarações de Jesus que atestam este relacionamento ímpar, que é totalmente demonstrado pela Sua vida. Será preferível dizer que a vida de Jesus é traduzida por palavras que apenas afirmam o que é vivido intensa e genuinamente. Quando Jesus ressuscita a Lázaro dá a entender que as palavras apenas são necessárias para que as pessoas à sua volta se apercebam do que para Ele é um fato, a realidade permanente que atravessa toda a eternidade e que o tempo não enfraqueceu: “Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu me enviaste.” (João 11:41,42).

                Inúmeras são as passagens que traduzem esta singular relação que nos orienta para a arquitetura espiritual que se move do Deus Criador a toda a criação, que o pecado destruiu mas que Jesus veio repor. Eis algumas citações que no evangelho por João a exprimem:

“Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz. Porque o Pai ama ao Filho e lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis. Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer. E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo o julgamento, a fim de que todos honrem o Filho, do modo por que honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão. Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do homem.” (João 5:19-27)

“Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.” (João 5:18)

“Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim. Não que alguém tenha visto ao Pai, salvo aquele que vem de Deus; este o tem visto. Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê, tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. (…) Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai; também quem de mim se alimenta, por mim viverá.” (João 6:45-48,57)

“Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida. (…) Eu testifico de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também testifica de mim. Então eles lhe perguntaram: Onde está teu Pai? Respondeu Jesus: Não me conheceis a mim nem a meu Pai; se conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai.” (João 8:12,18,19)

“Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então haverá um rebanho e um pastor. Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai.” (João 10:14-18)

                “Eu e o Pai somos um.” (João 10:30)

                A oração de Jesus Cristo inscrita no capítulo dezassete deste evangelho é uma inigualável demonstração da Sua relação pessoal com o Pai, e termina na enunciação do fim da História da salvação em que a unidade do Pai com o Filho é o modelo da unidade de Jesus com os Seus discípulos: “Não rogo apenas por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste, e os amaste como também amaste a mim. Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo o mundo não te conheceu; eu, porém, te conheci, e também estes compreenderam, que tu me enviaste. Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles esteja.” (João 17:20-26)

                Como carecemos hoje em dia de conhecer a Deus como o nosso Pai. A relação que podemos apreciar na pessoa de Jesus com o Pai e com o Espírito Santo, é a mesma que temos à nossa disposição. Para enfrentarmos os dias difíceis que temos pela frente, é imprescindível ter a certeza do cuidado do Pai para com todos os Seus filhos, e pelo Espírito Santo, segundo a eterna e infalível Palavra de Deus, em Jesus Cristo ermos a certeza inequívoca e inabalável de que somos filhos.

                É incontornável neste tema a parábola das parábolas de Jesus conhecida como do filho pródigo (Lucas 15:11-32), mas que acaba por falar de dois filhos, um que sai de casa e outro que continua nela, mas em que nenhum deles conhece efetivamente o pai. E no fim da história é o que abandonou a casa e desperdiçou a herança exigida e recebida sem qualquer direito, que no esterco de uma vida miserável se lembra do lar e dos criados que têm uma qualidade de vida que ele perdeu, e toma a resolução de voltar. “Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou.” (20) História multiplicada em milhões de seres humanos que arrependidos voltaram aos braços do Pai por Jesus o Salvador.

                Para mim é extraordinário que não podendo escolher os nossos pais naturais, e creio que alguns teriam alguma dificuldade em escolhê-los por diversas razões, Deus não se impõe como Pai a quem quer que seja, mas se dá a escolher como Pai a todos os que recebem a Jesus Cristo. E todos os restantes que como eu tiveram a felicidade de terem uns pais amorosos, ainda mais os apreciam tendo a Deus como Pai. Ainda é extraordinário que sendo filhos de Deus e vivendo tendo Deus como Pai, aprendemos a ser melhores pais, e a confiarmos no Pai celestial em todas as situações, e sei por experiência própria que são mesmo muitas, em que só Ele pode fazer o que nós não podemos e desfazer o que erradamente fizemos e já não conseguimos alterar.

                Não há melhor maneira de vivermos do que nos braços do Pai, mesmo quando Ele nos corrige e nos disciplina para nosso próprio bem. “Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita a todo o filho a quem recebe.” (Hebreus 12:5,6 – ler todo o texto de 4 a 13). Num tempo em que toda a correção cheira a maus tratos, é difícil de aceitar um texto escrito nestes termos, mas na realidade infelizes são os que não conhecem o amor na dimensão da correção que nada tem a ver com a violência física ou emocional. O escritor neste texto está a fazer alusão à perseguição resultante de seguir a Jesus como Senhor, sendo que Ele mesmo se tornou num modelo de perseverança, dependência e confiança.

 

Samuel R. Pinheiro